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quinta-feira, 17 de julho de 2025

DANTE NOS ESTADOS UNIDOS: E então saímos para ver as estrelas e as listas (Parte 4/4)

As imagens são de Sandow Birk, extraídas de Dante, Inferno, San Francisco, Chronicle Books. Imagem do inferno dantesco, detalhe | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 05 - 2006

E então saímos para ver as estrelas e as listas

O interesse por Dante nos Estados Unidos, explicado por uma docente da James Madison University da Virgínia.

de Giuliana Fazzion

O século XX

No século XX, Dante “is still alive and well”. A “Dante Society”, a partir de 1954, transformou-se na sociedade por ações “Dante Society of America Inc.”, e seu Annual Report já era um dos mais importantes instrumentos de consulta: lá se comenta a bibliografia dos estudos dantescos, lá se publicam ensaios, notas, conferências muitas vezes de notável interesse. A Sociedade tem uma rica biblioteca de literatura dantesca na Harvard University, que, na América, só fica atrás da que a Cornell University veio a herdar do estudioso e bibliófilo Daniel Willard Fiske. A sociedade desenvolve também atividades promocionais, e gerencia um “Dante Prize” destinado a teses de graduação e pesquisas sobre temas dantescos.

O estudo americano de Dante já chegou a dar contribuições extremamente notáveis. Por exemplo, o número de poetas do século XX influenciados por Dante é relevante. Há alguns anos, saiu um livro intitulado The Poets’ Dante, uma coletânea de ensaios escritos por famosos poetas do século XX. Os organizadores, Peter Hawkins (professor de Estudos Religiosos na Universidade de Boston) e Rachel Jacoff (professora de Literatura Comparada e de Estudos Italianos no Wellesley College), contam na introdução que, como a maior parte dos leitores de Dante, eles entraram em contato com o poeta florentino por intermédio de Ezra Pound e Thomas S. Eliot. Em seus estudos em nível de mestrado na faculdade de Inglês, o italiano se tornou a língua a ser aprendida para estudar Dante. Para eles, Dante era realmente “o altíssimo poeta”, e justamente por isso liam em particular James Merrill, Gjertrud Schnackenberg, Charles Wright, Seamus Heaney, poetas que tinham uma afinidade com Dante e para com o qual se sentiam endividados, pela inspiração que dele haviam recebido. Daqui surgiu a ideia de reunir ensaios escritos por poetas contemporâneos que contam como “encontraram” Dante pela primeira vez, o que os atraiu para ele, o que os manteve à distância do poeta, e se os escritos dele tiveram uma influência direta sobre seus trabalhos. Há ensaios de Ezra Pound, Thomas S. Eliot, Osip Mandelstam, Robert Duncan, Howard Nemerov, Seamus Heaney, Jacqueline Osherow, Robert Pinsky, Rosanna Warren, Daniel Halpern, Mark Doty, o belíssimo ensaio de Jorge Luis Borges, entre outros.

Traduções americanas da Divina Comédia

Atualmente existem mais traduções de Dante em inglês que em qualquer outra língua, e os Estados Unidos produzem mais traduções de Dante que qualquer outro país. O poeta Eliot, em 1929, disse que Dante e Shakespeare dividem o mundo moderno entre si: a parte do mundo que “pertence” a Dante aumenta a cada ano. Em 1989, cerca de sessenta anos depois de Eliot, o escritor Stuart McDougal disse que o impacto de Dante sobre os maiores escritores do mundo moderno superou grandemente o de Shakespeare. De fato, Dante virou o jogo. “Migrou” do campo literário, cultural e acadêmico para o mundo externo e teve um impacto tanto sobre o público instruído quanto sobre o não instruído.

O século XX é o período das grandes traduções. E por isso começou no século XX um debate que em certo sentido continua ainda hoje: tradução em prosa ou poesia? Alguns são contrários à tradução inglesa usando o terceto, e estas são as razões: 1) o inglês é pobre em rimas; 2) esse “uso do terceto” não se presta à língua; 3) o verso em inglês não se adapta à formação constante da rima.

Traduttore traditore. Todo tradutor de Dante sabe o quanto isso é verdade. Dizendo isso se reconhece com humildade a extrema dificuldade de fazer justiça a Dante, considerado por Byron “o mais intraduzível dos poetas”. De fato, qualquer tradutor reconhece que, procurando conservar certos aspectos da poesia, outros são perdidos na tradução. E muitos desses tradutores concordam com Dorothy Sayers, segundo a qual o maior elogio que sua tradução possa receber é que seja um impulso, um estímulo aos leitores a que leiam Dante na língua original.

O que se espera de uma tradução? Que comunique o sentimento e o sentido do trabalho original. No caso da Divina Comédia, a opinião está dividida entre aqueles que afirmam que o espírito e o sentido dessa obra se comunica melhor ao leitor por meio de uma tradução em verso e aqueles que preferem uma tradução em prosa. Muitos críticos concordam, de qualquer forma, que tanto a tradução em prosa quanto a tradução em verso apresentam suas vantagens. A tradução em prosa comunica melhor o sentido literal, ao passo que a tradução em verso pode comunicar o sentido do movimento e do ritmo da poesia de Dante. No ensino da obra-prima de Dante nos Estados Unidos são usadas edições bilíngues, nas quais o texto original se encontra na página à esquerda e a tradução na da direita. O poeta Thomas S. Eliot e outros afirmaram ter aprendido a ler italiano com essas edições.

As traduções mais usadas nas universidades americanas

John D. Sinclair (prosa, edição bilíngüe). Esta é ainda a edição mais popular. Sinclair escolheu a prosa para alcançar seu objetivo, que era combinar uma tradução literal, ou quase, do texto italiano a uma boa forma da língua inglesa.

Essa tradução é renomada por ser cuidadosa e expressa num inglês elegante. Notas explicativas, consideradas por muitos professores “uma pequena jóia”, se encontram no final de cada canto. Elas contêm o resumo do canto, no qual o tradutor trata do aspecto histórico, das qualidades estéticas e fornece elementos de crítica. Ainda no final de cada canto há breves notas numeradas que chamam a atenção para alguns termos do texto.

Charles S. Singleton (prosa, edição bilíngüe). É uma tradução clara e acurada. Cada cantiga é publicada em dois volumes; um contém o texto e a tradução e o outro os comentários de teologia e mitologia, análises linguística, histórica e biográfica. Faltam os resumos dos cantos.

John Ciardi (poesia). Popular, mas tem suscitado também controvérsias. Ciardi usou o dummy, ou “terceto defeituoso”, para empregar um inglês idiomático e ao mesmo tempo para comunicar as sensações do poema. A crítica contesta seu uso de algumas “licenças poéticas” não necessárias.

Mark Musa (Inferno, poesia). Sua versão é muito usada nos college. Escolheu uma forma poética sem rima para obter uma tradução acurada.

A Universidade de Harvard usa a tradução de Jean e Robert Hollander para o ensino do Inferno e do Purgatório, e a de Mandelbaum para o Paraíso.

Conclusão

No verão de 1999, a seção “Bookend” do New York Times foi inteiramente dedicada ao criador de histórias em quadrinhos Seymour Chwast, que escolheu para essa edição o mundo da Divina Comédia. A página foi intitulada: A Divina Comédia de Dante: O Diagrama. Essa divertida representação dos três reinos ofereceu ao leitor dominical da seção dedicada à resenha de livros uma visão esquemática da Comédia dantesca. Uma pergunta que se pode fazer é: por que os quadrinhos apareceram lá, sem explicações particulares, num dos jornais mais famosos e talvez mais vendidos do mundo? E por que o New York presumia que um leitor normal conhecesse o poema?

O fato é que Dante é conhecido não apenas por aqueles que leram o poema ao menos uma vez, mas também por um número ainda maior de pessoas que nunca leram sequer uma página dele. Dante é uma figura popular da cultura contemporânea americana. Por exemplo, diversos filmes americanos - O Balconista (Clerks, 1994), Seven (1995), O Inferno de Dante (Dante’s Peak, 1997) - fazem alusões ao poema ou o tomam como ponto de partida. Existe até um conjunto de rock que adotou o nome “Divine Comedy” com a intenção de ser facilmente lembrado. Os Estados Unidos têm muitos restaurantes e bares chamados “Dante’s Inferno”. Esta última expressão é comumente usada por jornalistas para descrever situações sociais e políticas particularmente críticas.

Como se viu, a fortuna de Dante nunca declinou em setecentos anos, e nunca declinará, pois sua mensagem é universal e sempre atual.

Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF