"O bispo de Hipona dizia que seria um verdadeiro
cristão quem reconhece o fato de ser estrangeiro também na sua casa e na sua
pátria. A nossa pátria é lá no alto, porque lá não mais seremos hóspedes. O
fato é que cada um de nós é hospede nesta terra também em sua própria casa.
Sendo hóspede a pessoa irá embora algum dia deste mundo, de modo que vive a
condição de hóspede. Se o deseja ou não, o fato é que a pessoa é um hóspede
"
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)
Santo Agostinho viveu no Norte da África e atuou como Bispo
de Hipona de 396 a 430. Foram mais de trinta anos na direção da Igreja de sua
Diocese e também em toda a região, juntamente com outros bispos, sacerdotes e
povo de Deus. Foi um dos grandes bispos na vida eclesial e social deixando para
a Tradição uma série de obras muitos importantes, de muito valor seja para a
Filosofia, seja para a Teologia. Vejamos a seguir o exemplo dele em relação à
hospitalidade na qual acolheu com amor muitas pessoas em sua Diocese e casas de
formação.
As pessoas que pedem alguma coisa
Santo Agostinho fez uma descrição das pessoas que pedem aos
outros, coisas para melhor viver a sua vida. Quem são as pessoas que pedem? São
seres humanos, pessoas frágeis, são pobres, iguais a nós. Eles são pessoas
iguais daquelas que tem mais condições de vida que eles. Neles está presente o
Senhor Jesus que se fez igual a nós em tudo, menos o pecado (cfr. Hb 4,15).
As pessoas não levarão nada consigo de riquezas de modo que só a superação do
orgulho contra o pobre e a caridade como dons, permanecem para sempre[1].
Estrangeiros neste mundo
Santo Agostinho afirmou que todas as pessoas neste mundo são
estrangeiras as quais passam de uma forma rápida. É preciso reconhecer o valor
da hospitalidade, graças a este caminho que leva as pessoas a alcançar a Deus.
É fundamental acolher um hóspede do qual a pessoa é também companheiro de
viagem ao longo do caminho pelo fato de que neste mundo todos são estrangeiros
(cfr. 1 Pd 2,11)[2].
Verdadeiro cristão
O bispo de Hipona dizia que seria um verdadeiro
cristão quem reconhece o fato de ser estrangeiro também na sua casa e na sua
pátria. A nossa pátria é lá no alto, porque lá não mais seremos hóspedes. O
fato é que cada um de nós é hospede nesta terra também em sua própria casa.
Sendo hóspede a pessoa irá embora algum dia deste mundo, de modo que vive a
condição de hóspede. Se o deseja ou não, o fato é que a pessoa é um hóspede[3].
A esperança de ver Cristo nas pessoas
Santo Agostinho afirmou a importância de ver Cristo
Jesus nas pessoas. Ele teve presente os dois discípulos de Emaús que tinham
perdido a esperança em Cristo porque o tinham visto morto(cfr. Lc 24,13-24).
Desta forma Ele teve que abrir para eles na suas mentes, o sentido das
Escrituras para que Ele fosse reconhecido como o eterno vivente mas Ele deveria
passar pela morte. Assim Ele teve que explicar desde Moisés, os profetas a
afirmação que era necessário que Ele passasse na morte para Ele entrar na sua
glória (cfr. Lc 24,26)[4].
Ao partir do pão
Jesus ressuscitado falou para os dois discípulos a respeito
das Escrituras mas Ele ainda não tinha sido reconhecido no caminho, senão, no
partir do pão. Desta forma é importante acolher os hóspedes, pois nestes
acolhe-se Cristo Jesus. Será que não se acolhe Jesus nestas pessoas? É o
próprio Senhor que diz: “Eu era estrangeiro e me acolheste” (Mt 25,35).
Os justos dirão ao Senhor naquele momento quando é que eles o acolheram, o
hospedaram? Ele, o Filho do Homem dirá: “Todas as vezes que fizestes a um
destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,38-40).
O bispo de Hipona afirmou também que quando um cristão acolhe outro cristão,
uma outra pessoa, acolhe-se a Cristo Jesus[5].
Nesta terra alimenta-se Jesus
Para Santo Agostinho o fato de alimentar alguma pessoa mais
necessitada que a pessoa que tem mais condições, diz respeito a Jesus mesmo. A
pessoa alimenta nesta terra Jesus. É também quando a pessoa dá de beber a Ele,
o veste, quando está nu, o acolhe quando está estrangeiro, Ele é visitado
quando está doente[6].
Desta forma percebemos nesta viagem Cristo Jesus na necessidade. Enquanto nós
estivermos neste mundo, haverá os necessitados, e nestes, Ele chama a si todos
os necessitados. Na outra vida não terá mais fome, sede, nudez, nem doença, nem
migração, nem sofrimento[7].
O valor da misericórdia
Santo Agostinho falou do valor da misericórdia na vida do
seguidor e da seguidora de Jesus Cristo e de sua Igreja. O que é a
misericórdia? O bispo de Hipona disse que não é outra virtude senão que diz
respeito à parte do coração tocada pela miséria. Ela é dita misericórdia por
motivo do sofrimento provado diante de uma pessoa em estado de dificuldade, de
miséria: ambos gritam a miséria e o coração. O fato é que quando a miséria dos
outros toca o nosso coração, se fala de misericórdia[8].
As boas obras
Santo Agostinho afirmava que todas as boas obras feitas
neste mundo diziam respeito com a misericórdia. Quando por exemplo a pessoa
ajuda com um pão ao faminto; ela ofereceu com amor aquele gesto, porque era um
ser humano semelhante a pessoa. Quando a pessoa faz este gesto de oferecer o
pão, a pessoa sofre com quem tem fome; se a pessoa der água, sofre com quem tem
sede; se a pessoa ajuda com a roupa, vestido, sofre com quem é nu; se a pessoa
acolhe um hóspede, sofre com o estrangeiro; se a pessoa visita o doente, sofre
com ele; se a pessoa sepulta um morto, a pessoa chora sobre ele; se a pessoa
reconduz à paz quem ama os conflitos, a pessoa sofre com quem é conflituoso.
Estas obras se realizam pelo fato de que nós somos chamados a amar a Deus, ao
próximo como a si mesmo. Estas boas obras tornam-nos bons cristãos, cristãs e
um dia participantes do Reino dos céus[9].
Nós percebemos Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V,
uma pessoa que seguiu a Jesus com fé, esperança e com caridade. Ele atuou em
favor de todas as pessoas mas sobretudo com as pessoas mais necessitadas na
família, na comunidade e na sociedade. Ele aludiu ao valor da hospitalidade,
dom de Deus e responsabilidade humana para que a pessoa fosse acolhida neste
mundo e um dia na eternidade.
____________
[1] Cfr. Discorsi
61,5-8 di Agostinho di Ippona. In: “Non dimenticate L´ospitalità”.
Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pgs. 181-183
[2] Cfr. Discorsi
111,4. In: Idem, pg. 184.
[3] Cfr. Idem,
pg. 184.
[4] Cfr. Ibidem,
pg. 184.
[5] Cfr. Ibidem,
pg. 185.
[6] Cfr. Ibidem,
pg. 185.
[7] Cfr. Ibidem,
pg. 185.
[8] Cfr. Il
bene della misericordia di Santo Agostino. In: Ibidem, pg. 188.
[9] Cfr. Idem,
pg. 188.
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