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domingo, 1 de junho de 2025

Conferência episcopal contesta lei que viola segredo de confissão nos EUA

Moça rezando. Imagem referencial. | asiandelight/Shutterstock

Conferência episcopal contesta lei que viola segredo de confissão nos EUA

Por Amira Abuzeid

30 de maio de 2025

A Conferência Católica do Estado de Washington, nos EUA, entrou com uma ação judicial ontem (29) contra uma nova lei que exige que padres denunciem abusos infantis descobertos no sacramento da confissão sob pena de prisão e multas.

A ação, movida pela arquidiocese de Seattle e pelas dioceses de Spokane e Yakima, diz que a lei infringe o sigilo sagrado da confissão e, assim, viola o livre exercício da religião, protegido pela primeira emenda da Constituição dos EUA. A ação diz também que a lei viola a cláusula de proteção igualitária da 14ª Emenda e a Constituição do Estado de Washington.

Promulgada pelo governador Bob Ferguson, do Partido Democrata, em 2 de maio, a lei entra em vigor em 27 de julho e adiciona o clero à lista de denunciantes obrigatórios de abuso infantil no Estado de Washington, e nega explicitamente a eles a isenção de "comunicação privilegiada" concedida a outros profissionais, como enfermeiros e terapeutas.

Padres que não denunciarem abusos ditos na confissão podem pegar até 364 dias de prisão e uma multa de US$ 5 mil (R$28,3 mil). Ferguson, que é católico, se disse "muito familiarizado" com a confissão, mas que considera a lei importante para proteger as crianças.

Na ação judicial, movida num tribunal distrital federal, a conferência episcopal de Washington enfatizou o compromisso da Igreja com a proteção das crianças, ao mesmo tempo em que defendem a inviolabilidade do segredo de confissão.

“Em consonância com os esforços da Igreja Católica Romana para erradicar o flagelo social do abuso infantil, a arquidiocese católica romana de Seattle e as dioceses de Yakima e Spokane adotaram e implementaram em suas respectivas dioceses políticas que vão além das atuais exigências da lei de Washington sobre denúncias de abuso e negligência infantil”, diz o processo.

Ele diz que essas políticas exigem a denúncia de suspeitas de abuso por parte de funcionários da Igreja, como clérigos, menos quando as informações são obtidas exclusivamente na confissão, que é protegida por “mais de 2 mil anos de doutrina da Igreja”.

O bispo de Spokane, Thomas Daly, disse no início do mês que o clero não quebraria o segredo de confissão, mesmo que isso significasse pena de prisão.

"Quero assegurar-lhes que seus pastores, bispos e padres estão comprometidos em manter o segredo de confissão — mesmo a ponto de irem para a prisão. O sacramento da penitência é sagrado e permanecerá assim na diocese de Spokane", disse Daly em mensagem aos fiéis.

O arcebispo de Seattle, Paul D. Etienne, teve a mesma atitude, citando o direito canônico, que proíbe padres de trair a confissão de um penitente sob pena de excomunhão. Etienne fez referência às palavras de são Pedro apóstolo em Atos 5:29 — “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens” — para enfatizar a posição da Igreja.

A Conferência Católica do Estado de Washington falou sobre seu compromisso com a segurança infantil ao mesmo tempo em que defendeu a santidade da confissão, incentivando os católicos a confiar que “suas confissões permanecem sagradas, seguras, confidenciais e protegidas pela lei da Igreja”.

O Departamento de Justiça dos EUA iniciou uma investigação sobre a lei em 6 de maio, classificando-a como uma medida "anticatólica". Harmeet Dhillon, procurador-geral adjunto dos EUA, descreveu-a como um "ataque legislativo à Igreja Católica e ao seu sacramento da confissão", dizendo que ela discrimina o clero ao negar-lhe privilégios concedidos a outros profissionais.

O Fundo Becket para a Liberdade Religiosa, a organização sem fins lucrativos First Liberty Institute e o escritório de advocacia WilmerHale estão representando a Conferência Católica do Estado de Washington.

Até o momento da publicação desta matéria, o gabinete de Ferguson não havia respondido ao pedido de comentário da CNA.

*Amira Abuzeid é editora sênior da Catholic News Agency, agência em inglês da EWTN News.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/62979/conferencia-episcopal-contesta-lei-que-viola-segredo-de-confissao-nos-eua

Paróquia é elevada a Santuário Arquidiocesano do Imaculado Coração de Maria

Pascom do Santuário Arquidiocesano do Imaculado Coração de Maria | Mateus Péres

Paróquia é elevada a Santuário Arquidiocesano do Imaculado Coração de Maria

26/05/2025

No Park Way, a Paróquia Imaculado Coração de Maria foi solenemente elevada a Santuário Arquidiocesano do Imaculado Coração de Maria, em celebração presidida Arcebispo de Brasília, nesse domingo (25).

“Aqui deve ser um grande centro de radiação, de atração. Um lugar onde o Evangelho se irradie para além dos muros, onde o Espírito Santo continue agindo, guiando e ensinando o caminho de Jesus”, afirmou o cardeal na homilia.

Para Dom Paulo, o que torna possível esse novo tempo é a ação de Deus: “Se hoje essa paróquia se transforma em Santuário, é porque é uma paróquia viva. Não é obra só humana, é Deus quem vai fazendo. Ele age no hoje da comunidade, no hoje da vida de cada um.”

Sob a condução do novo reitor, Padre Áderson Miranda, o Santuário é chamado a ser casa de misericórdia, lugar de escuta, de amor e de vivência da Palavra, conforme pregou Dom Paulo: “Quem ama, guarda a palavra de Jesus. E quem guarda, vive.”

Elevação

Um santuário é um lugar sagrado reconhecido oficialmente pela Igreja, onde os fiéis vão em peregrinação para rezar, agradecer graças recebidas, pedir auxílio nas dificuldades e aprofundar sua fé.

Ao nos tornarmos santuário, nossa missão se amplia: não somos mais apenas uma comunidade local, mas também um lugar de referência espiritual para toda a Arquidiocese e para os fiéis que vêm de outros lugares movidos pela devoção ao Imaculado Coração de Maria.

Isso significa:

  • Uma acolhida ainda mais fraterna aos peregrinos;
  • Celebrações com maior solenidade, especialmente as festas marianas;
  • Possibilidade de se obter indulgências plenárias em determinadas datas, conforme orientação da Igreja;
  • Um chamado a viver com mais intensidade a fé, testemunhando o amor de Deus e o exemplo de Maria.

Com fotos de Mateus Péres e informações da Pascom do Santuário Arquidiocesano do Imaculado Coração de Maria:

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Reflexão para a Ascensão do Senhor (C)

Ascensão do Senhor (Vatican News)

No sétimo domingo da Páscoa, celebramos no Brasil e em muitos outros lugares, a solenidade da Ascensão do Senhor.

Vatican News

Quarenta dias após a Ressurreição, Jesus sobe ao céu por seu próprio poder; não é uma despedida, mas um gesto que marca um novo jeito de caminhar conosco em nossa jornada rumo à pátria definitiva.

Esta comemoração não tem um caráter cronológico, mas teológico-catequético.

Lucas, nos Atos dos Apóstolos, quis afirmar que Jesus, o crucificado, ressuscitou e foi acolhido por Deus. Os dois anjos com vestes brancas são os mesmos que apareceram no dia de Páscoa, relatado em seu Evangelho.

O mesmo Lucas, autor do Evangelho que leva seu nome, escreveu nesse seu outro livro uma cena muito mais simples – Jesus se elevou aos céus perante seus discípulos.

O céu, entendido a partir do Evangelho de Jesus, não é o além das estrelas e das nuvens. Isso seria um céu materializado, continuação do nosso mundo. Céu é a comunhão plena com o Pai, a sintonização absoluta com sua santíssima vontade e a vivência radical da caridade, do amor, a plenitude do amor fraterno, em total ágape e comunicação com a Trindade.

Jesus subiu ao céu no mesmo instante de sua morte, mas os discípulos só foram compreendendo isso aos poucos, a partir do terceiro dia.

O Senhor volta para o Pai e, ao mesmo tempo, está conosco, ao nosso lado. Isso é possível porque Deus é onipotente, está em toda parte, em todo lugar. Principalmente porque ele nos ama e quem ama deseja ficar ao lado do ser amado.

Jesus está presente no mundo, no meio dos homens quando o testemunhamos, quando somos fiéis aos seus ensinamentos e praticamos a justiça, o amor e o perdão.

Sua obra de redenção continua no mundo, através da ação da Igreja, através de nossa ação de batizados. Somos os continuadores de sua missão redentora. Ele investe todos nós nessa missão ao dizer: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!”.

Ascensão não é despedida, afastamento de Jesus, mas outro modo de Ele estar presente ao nosso lado através de sinais. Por isso ele acrescenta: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”.

E os sinais serão nossa prática de caridade fraterna, nossa ida aos marginalizados, aos sofredores, nossa vida alicerçada nos valores do Reino e não nos contravalores de uma sociedade materialista e consumista.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 31 de maio de 2025

“Win or Lose” e a personagem cristã da Disney Pixar

Win or Lose Disney

Paulo Teixeira - publicado em 28/05/25

A nova série animada da Disney ganhou destaque na mídia por incluir um personagem abertamente cristão.

A série conta a história de um time de softball. A filha do treinador, chamada Laurie, tem dificuldades em relação à insegurança. Em um episódio ela é retratada dirigindo uma oração a Deus, pedindo ao “Pai celestial” ajuda para “pegar uma bola ou dar uma rebatida”. 

Esse episódio chamou a atenção para a inserção de um personagem cristão nas animações. As referências religiosas e multiculturais são sempre bem discretas no universo de Disney Pixar. 

Em O Corcunda de Notre-Dame (1996), por exemplo, o cenário é uma catedral e uma das canções é religiosa. Mas em outras animações, como Frozen em que um bispo aparece oficiando a coroação de Elsa, os elementos religiosos são discretos.

Influência

Disney e suas animações influenciam gerações que se afeiçoam a seus personagens. Isso é importante para as famílias, pois, pais e filhos podem assistir aos filmes novos e antigos e debater sobre os valores que transmitem. 

Dois eixos em que giram as tramas de Disney são a individualidade e a espiritualidade. Em geral os personagens centrais embarcam em jornadas épicas para descobrir a si mesmos e dar um sentido à vida (veja o caso de Moana, Red crescer é uma fera, e Rei Leão, por exemplo).

Essa busca da individualidade tem algo de espiritual no sentido que tem um chamado externo, algo de transcendente, alguma “magia”; ao mesmo tempo, leva a questões pessoais complexas e tratam a questão do individualismo, sempre falam de “seguir o caminho do coração”.

Contradições

A família pode conversar sobre o sentido da vida de um personagem, sobre o protagonismo dele na narrativa; e pode também falar sobre a “energia”, sobre as questões transcendentes que aparecem nas animações. Contudo, aparecem elementos não cristãos, como comunicação entre vivos e mortos como no Rei leão, ou a conversa com espíritos de Pochahontas.

Discernimento

Não precisa proibir as crianças de assistir animações com temas discordantes. É importante esclarecer para a criança que a fé cristã não é baseada em narrativas e que, embora seja importante contar histórias, a Bíblia não é um livrinho de contos. A Bíblia é a narrativa da fé cristã, nela está a verdade. 

É importante ajudar a criança a discernir. Mostrar para ela que o exemplo da Laurie que reza e confiança a Deus sua preocupação é importante; e que “magia”, conversas com espíritos e até mesmo soluções mágicas de problemas não são elementos da fé cristã.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/05/28/win-or-lose-e-a-personagem-crista-da-disney-pixar

O Papa: a identidade do padre depende da união com Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote

Missa celebrada na Basílica de São Pedro por Leão XIV (Vatican Media)

Juntos, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida. Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser críveis: disse Leão XIV dirigindo-se aos onze diáconos por ele ordenados sacerdotes para a Diocese de Roma na Missa celebrada na manhã deste sábado, 31 de maio, na Basílica de São Pedro

Raimundo de Lima – Vatican News

Na homilia da Missa na qual Leão XIV ordenou 11 novos sacerdotes para a Diocese de Roma, na manhã deste sábado, 31 de maio, na Basílica de São Pedro, o Papa ressaltou ser fundamental a relação entre o que hoje celebramos e o povo de Deus. “A profundidade, a amplitude e até mesmo a duração da alegria divina que agora compartilhamos são diretamente proporcionais aos laços que existem e crescerão entre vocês, ordenandos, e o povo de onde vocês provêm, do qual vocês continuam sendo parte e para o qual são enviados”. O Santo Padre deteve-se sobre esse aspecto, tendo em mente que a identidade do sacerdote depende da união com Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.

Leão XIV lembrou que somos povo de Deus e que o Concílio Vaticano II tornou essa consciência mais viva, quase antecipando um tempo em que a pertença se tornaria mais fraca e o sentido de Deus mais rarefeito. “Vocês são testemunhas do fato de que Deus não se cansou de reunir seus filhos, mesmo que diferentes, e de formá-los em uma dinâmica unidade”, frisou.

Viver segundo o estilo de Jesus

Ainda na homilia da celebração, antes do rito de ordenação presbiteral, numa Basílica Vaticana com 5.500 fiéis, o Santo Padre dirigiu-se aos ordenandos exortando-os a viverem segundo o estilo de Jesus:

Caros ordenandos, imaginem-se então, vós mesmos, no estilo de Jesus! Ser de Deus – servos de Deus, povo de Deus – nos liga à terra: não a um mundo ideal, mas àquele real. Como Jesus, são pessoas de carne e osso aquelas que o Pai coloca em vosso caminho. Consagrem-se a elas, sem se separarem, sem se isolarem, sem fazer do dom recebido uma espécie de privilégio. Papa Francisco nos alertou tantas vezes contra isso, porque a autorreferencialidade apaga o fogo do espírito missionário.

A Igreja é constitutivamente aberta, como abertas são a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus, prosseguiu o Bispo de Roma. Vocês farão suas as palavras dele em cada Eucaristia: é "para vocês e para todos". Ninguém jamais viu a Deus. Ele se voltou para nós, saiu de si mesmo. O Filho se tornou a exegese disso, a história viva. E nos deu o poder de nos tornarmos filhos de Deus. Não busquem, não busquemos outro poder!

Santa Missa, 31 de maio de 2025 - Papa Leão XIV

https://youtu.be/B4PJse8BUkM

A missão é de Jesus, nenhum de nós é chamado a substituí-lo

Leão XIV destacou que a missão é de Jesus. Ele ressuscitou, portanto está vivo e nos precede, lembrando que nenhum de nós é chamado a substituí-lo.

Também nós, Bispos, queridos ordenandos, ao envolver-vos na missão hoje, damos espaço a vós. E vós dais espaço aos fiéis e a toda a criatura, a quem o Ressuscitado está próximo e em quem gosta de nos visitar e surpreender. O povo de Deus é mais numeroso do que vemos. Não definamos os limites.

Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser críveis

Antes de concluir sua reflexão, o Santo Padre lembrou aos ordenandos que estamos no meio do povo de Deus para podermos estar diante dele, com um testemunho crível:

Juntos, então, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida. Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser críveis.

Jesus Ressuscitado mostra-nos as suas feridas e, mesmo sendo sinal de rejeição da humanidade, perdoa-nos e envia-nos. Não o esqueçamos! Ele sopra também hoje sobre nós e torna-nos ministros de esperança, frisou.

Vigília de oração pelos novos presbíteros

Por fim, Leão XIV agradeceu a Deus que os chamou para servir um povo inteiramente sacerdotal, pedindo que Nossa Senhora da Confiança e Mãe da Esperança interceda por nós.

Concluída a homilia, teve lugar o rito de ordenação. Entre os onze novos sacerdotes para a Diocese de Roma, o mais jovem tem 28 anos e o mais velho 49 anos. Na noite desta quinta-feira (29) a comunidade se reuniu na Basílica de São João de Latrão - sede da Diocese de Roma – para uma vigília de oração pelos novos presbíteros, na qual cada um deles testemunhou sua vocação.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA DA IGREJA: Leigo, isto é, cristão (Parte II)

A edição de L’Osservatore Romano de 17 de agosto de 1917 com o texto da Nota de Bento XV aos chefes dos povos beligerantes (30Giorni)

Arquivo 30Dias, número 04 – 2006

Leigo, isto é, cristão

Bento XV promoveu a caridade, a paz e a liberdade dos filhos de Deus por meio do respeito às pessoas e às instituições. Quarta e última etapa da resenha dos papas que adotaram o nome Bento.

de Lorenzo Cappelletti

A eleição ao pontificado

Justamente por representar essa posição mais moderada, Della Chiesa, mesmo tendo chegado ao cardinalato poucos meses antes, estava entre os papáveis e foi eleito papa, apesar da resistência imposta a seu nome do início ao fim do conclave por aqueles que gostariam de manter o leme na rota da intransigência. Durante o seu pontificado, esses mesmos fizeram soprar ventos de revolta, tanto mais insidiosos quanto mais sopravam de junto do Pontífice. Foram conhecidos como o “pequeno Vaticano”. Dois meses antes da morte de Bento XV, Merry del Val, criticando-o, escrevia numa carta particular que era preciso “fugir às táticas da política humana [...]. Num tempo em que o mundo perdeu a orientação e busca ansiosamente um ancoradouro que só nós somos capazes de oferecer, não deveríamos nos deixar arrastar pela corrente e parecer gente disposta a brincar com os princípios”. Bento não deu ouvidos a isso e não fez grandes mudanças. A não ser no caso da Secretaria de Estado, na qual, agindo com o conhecimento direto que tinha dos homens e dos organismos vaticanos, fez opções decisivas. Basta lembrar, além da nomeação de Gasparri, chamado para o lugar de Merry del Val como secretário de Estado depois da inesperada morte de Ferrata, os nomes de Bonaventura Cerretti, de Pacelli, de Ratti, do próprio Valfrè di Bonzo (e também de Roncalli e de Montini, que dava então os primeiros passos de sua carreira), todos destinados a cargos de relevo durante o pontificado de Bento. Um papa que escolheu esse nome não apenas em referência ao santo monge de Núrsia, mas também, como ele mesmo dizia (ao que parece), a Bento XIV, que fora seu predecessor tanto na sé de Bolo­nha quando na de Roma, em meados do século XVIII: jurista como ele e como ele obrigado a se defender daqueles que queriam ensinar doutrina ao papa.

Caridade e obediência são os elementos-chave de sua primeira encíclica programática, Ad beatissimi, de novembro de 1914. Afinal, esses haviam sido os elementos distintivos do trabalho de Della Chiesa, e que caracterizariam seu magistério e sua ação também como papa. Categorias que deveriam valer não apenas ad intra (o que é uma coisa óbvia, mas, talvez também por isso, muito rara de ser praticada), mas também ad extra, frisando, por um lado, o dever de “amor recíproco entre os homens” e, por outro, o princípio apostólico da sujeição a toda e qualquer autoridade legítima.

É interessante sublinhar que a encíclica identificava a raiz última do amor recíproco entre os homens no fato de que Jesus Cristo derramou seu sangue por todos. O Papa o frisava três vezes. Acabava de estourar a guerra, e essa insistência já sugeria implicitamente o quanto era inútil qualquer novo derramamento de sangue. A famosa Nota aos beligerantes de 1º de agosto de 1917, a do “massacre inútil” - que não por acaso começava com Dès le début (“Desde o início de nosso pontificado...”) -, nada mais teria feito senão explicitar esse juízo, consolidado por novos sistemas de ataque, mais bárbaros e sanguinários, como o dos bombardeios aéreos, citando abertamente.

A finalidade dessa Nota, por outro lado, não era definir nem denunciar, mas, sim, oferecer uma proposta concreta de paz. “Foi a primeira vez durante a guerra que qualquer pessoa ou potência formulou um esquema detalhado ou prático para uma negociação de paz” (Pollard, p. 148), com a consciência, expressa mais de uma vez pelo Papa desde a Ad beatissimi, de que a paz é a condição para que se realize o amor recíproco entre os homens: “A paz é um grandíssimo dom de Deus; entre as coisas terrenas, não nos é dado ver nada mais agradável, nem podemos desejar coisa mais doce: enfim, não podemos encontrar nada melhor”, escrevia, citando Agostinho, já na Pacem Dei munus.

Estes foram os artigos de Lorenzo Cappelletti sobre os papas que adotaram o nome Bento anteriormente publicados em 30Dias: <BR><BR> 1) Nomen omen, nº 10, outubro de 2005, pp. 64-69; <BR> 2) Um ‘continuum’ descontínuo, nº 11, novembro de 2005, pp. 38-43; <BR> 3) Benditos reformadores, nº 12, dezembro de 2005, pp. 40-45.

Mas o nacionalismo de muitos governos, hostis a qualquer solução que não fosse a sanguinolenta das armas, levou ao fracasso da proposta de 1917. Pesou também em sentido negativo a situação de menoridade em que se encontrava a Santa Sé do ponto de vista diplomático. De fato, o papado já não gozava desde 1870 de qualquer soberania, e Merry del Val, durante o pontificado anterior, promovera, se isso era possível, um crescente isolamento, quase se vangloriando de um encastelamento em torno dos valores: com a França, por exemplo, já não havia relações desde 1906. Com a Grã-Bretanha, elas haviam cessado três séculos e meio antes!

Assim, coube a Bento XV (apesar de ter reativado essas relações e muitas outras, mas sem chegar à reconciliação com a Itália) a tarefa de enfaixar as feridas produzidas pelo conflito, organizando campanhas de donativos, trocas de prisioneiros, coletas de informações. A maneira como depois foi louvado por sua ação pareceu às vezes expressar um reconhecimento diretamente proporcional à satisfação pela subalternidade a que essa ação havia se restringido.

Nem a guerra que havia terminado permitiu à Santa Sé participar da Conferência de Paz de Versalhes de meados de 1919. No entanto, Bento XV e Gasparri talvez fossem os analistas mais agudos naquele momento, diríamos hoje, e poderiam ter dado uma contribuição para a paz, se esta tivesse sido a finalidade da Conferência de Paz. Tanto assim, que perceberam logo que as condições impostas aos vencidos não diminuiriam as hostilidades, da mesma forma como sublinharam a impossível autossuficiência das nações que surgiram com a dissolução do Império Austro-Húngaro. “Uma previsão que a história, de maneira até dolorosa demais, demonstrou estar correta”, escreve Pollard.

Também a propósito de um Oriente Médio redesenhado pela queda do Império Otomano, reinava grande preocupação no Vaticano: a coexistência multirreligiosa que, no fundo, esse Império havia garantido estava começando a desmoronar bem naquele momento, como se lê num belo ensaio de Andrea Riccardi de título revelador, Bento XV e a crise da convivência religiosa no Império Otomano.

Uma das 58 litografias do Miserere de Georges Rouault, composta nos anos da Primeira Guerra Mundial (30Giorni)

Empreitadas cheias de lucidez

Até aqui, vimos a primeira parte do pontificado de Bento XV, dominada pela emergência da guerra, que durou bem além do final dela. A segunda parte, que cronologicamente mescla-se com a primeira, distingue-se por algumas empreitadas cheias de lucidez. Ainda que o projeto de todas elas não pertença ao Papa, ou que não sejam diretamente obra dele, devem porém a ele o fato de se terem tornado realidade: o Código de Direito Canônico, promulgado em 1917, coletânea iniciada já sob Pio X e devida em grande parte à competência e à capacidade de trabalho de Gasparri; também em 1917, o desmembramento, a partir de Propaganda Fide, de uma autônoma Congregação da Igreja Oriental (depois “das Igrejas Orientais”), cuja presidência foi assumida pelo próprio Papa, pelo interesse que o ligava a ela; e a criação de um Instituto de Estudos sobre o Oriente Cristão. Gestos aparentemente de simples cunho administrativo, mas na realidade significativos de uma concepção da catolicidade que não seria tal sem as Igrejas não-latinas, como frisou, num recente congresso desenvolvido em Anagni, o atual reitor daquele Instituto de Estudos: a abertura de uma nova temporada missionária, inaugurada pela encíclica Maximum illud, que programaticamente liberava a ação dos missionários dos laços perversos com o nacionalismo e o colonialismo, que penalizavam sobretudo o aparecimento de uma hierarquia autóctone na China; e, enfim, o início tímido mas real dos primeiríssimos diálogos ecumênicos, em Malines, com a autorização do Papa bem às vésperas da sua morte.

Além disso, com relação à Itália, ou melhor, à Questão Romana, foi por meio da relação leal entre Bento XV e o antigo colega de escola barão Carlo Monti, diretor-geral das Questões de Culto e, reservadamente, encarregado de negócios do governo italiano junto à Santa Sé, que começou a “Conciliação oficiosa” que dá título aos dois volumes recentemente publicados do diário de Monti, rico em “autenticidade e vigor singulares”, como escreve no prefácio o cardeal Silvestrini.

Da mesma forma, deve-se a Bento XV e a Gasparri o nascimento do Partido Popular Italiano (o Apelo aos livres e fortes é de 18 de janeiro de 1919). Não no sentido de que o tenham imposto. “O Partido Popular surgiu por geração espontânea, sem nenhuma interferência da Santa Sé nem pró nem contra”, escreveu Gasparri em suas memórias. Mas no sentido de que nasceu e se desenvolveu segundo as coordenadas de aconfessionalidade e reformismo que o teriam dado à Itália como um fator decisivo do “maior bem-estar de sua convivência”, para retomar ainda as palavras de Gasparri. Isso, sim, eles realmente quiseram, escreve padre Sale, agindo também contra aquela parte dos católicos e dos bispos que “pensava em criar um partido católico fortemente submisso às diretrizes da hierarquia”.
Explicit.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Hoje é dia do venerável frei Damião

Frei Damião de Bozzano | www.capuchinhos.org.br

Hoje é dia do venerável frei Damião, capuchinho que foi missionário no Nordeste brasileiro

Por Redação central

31 de maio de 2025

 Hoje (31) é dia do venerável frei Damião de Bazzano, capuchinho que ficou conhecido por suas Santas Missões no Nordeste do Brasil.

Frei Damião nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de novembro de 1898, tendo recebido o nome de Pio Gianotti. Era o segundo dos cinco filhos do casal de camponeses Felice e Maria Giannotti.

Aos dez anos, depois de crismado, começou a expressar os primeiros sinais de vocação e, aos 13 anos, entrou para o Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 17 de março de 1911.

Aos 17 anos, em julho de 1915, fez os primeiros votos e recebeu o nome de frei Damião de Bozzano. Em setembro de 1918, interromper os estudos porque foi convocado, e para o serviço para lutar na Primeira Guerra Mundial.

Voltou ao convento ao fim da guerra e fez a profissão perpétua. Em 1920, foi estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

Frei Damião foi ordenado sacerdote em 25 de agosto de 1923, na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Brindisi, em Roma. Em 1931, foi enviado ao Brasil, onde chegou em 17 de junho, tendo se estabelecido no Convento Nossa Senhora da Penha, em Recife (PE). Foram 66 anos dedicados às Santas Missões.

As Santas Missões costumavam durar de segunda-feira a domingo. Durante esta semana missionária, o frade proclamava a Palavra de Deus em uma cidade, por isso, afirmava ser apenas um mensageiro de Deus.

As Santas Missões contavam com sermões, catequeses, encontros específicos com homens, mulheres, jovens, crianças, doentes e presos. Ele também se dedicava a ouvir confissões por mais de 12 horas por dia.

Com os anos, Frei Damião adquiriu uma deformação na coluna que o deixou encurvado, dificultando a fala e a respiração. Ele sofreu durante muito tempo de erisipela por causa da má circulação sanguínea.

Em 1990, sofreu uma embolia pulmonar, por isso, a partir de então, diminuiu o ritmo das Santas Missões, passando apenas para os finais de semana. Mas, sua saúde se agravou em 1997, ano em que fez a sua última Santa Missão na cidade de Capoeiras (PE), no mês de fevereiro.

Em 12 de maio de 1997, foi internado no Real Hospital Português, em Recife, onde fez sua última missão, rezou o terço com os pacientes em uma das salas do hospital.

No dia seguinte, 13 de maio, sofreu um derrame cerebral e foi levado para a UTI. Morreu em 31 de maio de 1997, aos 98 anos. Frei Damião foi enterrado na capela de Nossa Senhora das Graças, de quem era devoto, no Convento São Félix, em Recife.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/58168/hoje-e-dia-do-veneravel-frei-damiao-capuchinho-que-foi-missionario-no-nordeste-brasileiro

CURIOSIDADES DA BÍBLIA: A Rainha de Sabá

Bíblia (Vatican News)

Ela foi a soberana de um Reino identificado como de Sabá, mas seu nome possui significados e denominações diferentes para diversos povos do norte da África e do Oriente Médio.

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Existem pessoas, lugares, costumes e regiões citados na bíblia dos quais pouco conhecemos. Uma dessas pessoas é a Rainha de Sabá, citada tanto no antigo como no novo Testamento. É dela que hoje falamos.

A rainha de Sabá soube da fama de Salomão e foi a Jerusalém para pô-lo à prova com perguntas difíceis. Quando chegou, acompanhada de uma enorme caravana, com camelos carregados de especiarias, grande quantidade de ouro e pedras preciosas, foi até Salomão e lhe fez todas as perguntas que tinha em mente. Salomão respondeu a todas; nenhuma lhe foi tão difícil que não pudesse responder. Vendo a sabedoria de Salomão, bem como o palácio que ele havia construído, o que era servido em sua mesa, o lugar de seus oficiais, os criados e os copeiros, todos uniformizados, e os holocaustos que ele fazia no templo do Senhor, ela ficou impressionada. (II Crônicas 9, 1-5)

Quem foi a Rainha de Sabá

Além de ter sido mencionada no antigo testamento tanto no II Livro de Crônicas, como no I Livro de Reis, no Novo Testamento ela é citada como a Rainha do Sul, quando Jesus Cristo diz “No dia do julgamento, a Rainha do Sul se levantará contra essa geração e a condenará” (MT 12,42).

Ela foi a soberana de um Reino identificado como de Sabá, mas seu nome possui significados e denominações diferentes para diversos povos do norte da África e do Oriente Médio. Os etíopes a chamam de Makeda, os muçulmanos a chamam de Balkis ou Bilkis e os romanos a chamavam de Nicaula. O nome, porém, que ficou mais famoso na história veio da denominação que o rei Salomão lhe atribuiu, Rainha de Sabá. Independentemente da diferença da denominação os livros sagrados de diferentes religiões concordam que ela foi uma soberana de significativa importância para o Reino de Sabá, que incluía os territórios hoje ocupados pela Etiópia e Iêmen.  

A versão mais conhecida é a de que ela tenha vivido no século X antes de Cristo, teria viajado cheia de presentes até o Rei Salomão após ouvir histórias sobre ele, com a intenção de testar sua sabedoria. Daí surge outra versão de que Salomão tenha conquistado os encantos da rainha que chegou a engravidar dele e que dessa relação tenha surgido uma linhagem de imperadores do povo da Etiópia.

A Rainha de Sabá é tida como a mãe da família imperial etíope e sua relação com ele é detalhada em um texto da cultura do povo, o Kebra Negast. O filho do casal, Menelik I, foi o primeiro imperador da Etiópia.

No período medieval a Rainha de Sabá se tornou personagem de uma das versões sobre a lendária Arca da Aliança. De acordo com um relato fictício ao voltar para casa, a Rainha de Sabá teria levado consigo a Arca da Aliança, que estava no Templo de Jerusalém. Segundo esta versão, o templo de Salomão teria ruído por não ter mais consigo a Arca da Aliança, mas a sua presença no Império Etíope teria feito dele um dos maiores impérios do mundo durante vários anos, vencendo guerras e inimigos. Mas esta é apenas uma das versões lendárias sobre a Arca da Aliança.

Pesquisas arqueológicas descobriram informações preciosas sobre a Rainha de Sabá e alguns apontamentos mais recentes baseados em escavações feitas no Iêmen mostram que a Rainha de Sabá muito provavelmente teria sido a monarca da Arábia Meridional também. Há evidências de que a própria capital do Reino de Sabá pudesse estar localizada na região.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 30 de maio de 2025

HISTÓRIA DA IGREJA: Leigo, isto é, cristão (Parte I)

O frontispício dos Acta Apostolicae Sedis de 3 de setembro de 1914, com a notícia da eleição ao trono pontifício do cardeal Giacomo Della Chiesa; abaixo, a cerimônia de coroação de Bento XV na Capela Sistina, em 6 de setembro de 1914 (30Giorni)

Arquivo 30Dias, número 04 - 2006

Leigo, isto é, cristão

Bento XV promoveu a caridade, a paz e a liberdade dos filhos de Deus por meio do respeito às pessoas e às instituições. Quarta e última etapa da resenha dos papas que adotaram o nome Bento.

de Lorenzo Cappelletti

Depois que a última página do pontificado de Pio X (1903-1914) “foi virada por uma mão onipotente e invisível”, escreviam os jesuítas de Etudes em setembro de 1914, “nós nos vemos agora diante de uma outra página ainda toda em branco, cujo título aponta simplesmente o nome de um novo papa: Bento XV. Que palavras, que gestos registrará no futuro a história do papado? Que dirá a página em branco?”.

Essa página já está preenchida há quase um século, mas não deve ter sido de fácil interpretação, se levarmos em conta que as biografias dedicadas a Giacomo Della Chiesa, que se tornou o papa Bento XV (1914-1922), falam ainda hoje de um papa desconhecido ou até incompreendido.

“A aparência não me é favorável”, escrevia ele mesmo sendo autoirônico, numa carta de 21 de dezembro de 1898 a seu antigo colega da Academia dos Nobres Eclesiásticos Teodoro Valfrè di Bonzo (carta que faz parte de uma preciosa correspondência entre os dois publicada em 1991 em Civitas pelo saudoso Giorgio Rumi). Basta olhar para seus retratos, por mais generosos que sejam, para entender que ele não tinha le physique du rôle. “Era de estatura inferior à média e um pouco recurvado”, escrevia Francis MacNutt, outro colega seu da Academia; ou melhor, “tudo nele era recurvado: nariz, boca, olhos e costas - tudo carecia de projeto”.

De seu currículo também não parecia saltar nada além de um mediocris homo, como diria o cardeal Agliardi na véspera da eleição de Giacomo Della Chiesa ao papado. Diligente, seguro, meticuloso, mas uma espécie de “mero burocrata”, no dizer de Agliardi. Quem poderia imaginar que houvesse um projeto preciso naquele “nanico”, como era chamado na Cúria, e que vibrasse nele uma chama de caridade que no tempo certo lhe sugeriria coisas dignas de consideração? No entanto, a história da Igreja seria obrigada a ensinar que justamente o fato de se prender à forma que lhe fora transmitida - a especialidade de Giacomo Della Chiesa - foi decisivo, muitas vezes mais decisivo do que virtudes vistosas, para proteger a essência da caridade e da fé cristã.

Diferentemente de seus predecessores e sucessores imediatos na sé de Pedro (com exceção de Pio XII), Giacomo Della Chiesa era um “cidadão”. Nascera em 1854 numa família de ascendência nobre e de estilo de vida burguês naquela Gênova que, como bem sabe quem a conhece, foi uma cidade por excelência desde o início da Idade Média: algumas de suas antigas torres ainda competem com os modernos arranha-céus, que também apareceram lá pela primeira vez na Itália.

Sua formação não apenas foi urbana, mas também leiga, tanto que, segundo dizem alguns que pretendem fazer referência a palavras pronunciadas pelo próprio Bento XV, não se vangloriava de uma competência teológica excepcional. De fato, formou-se primeiro em Direito na Universidade de Gênova, ao mesmo tempo em que acompa­nhava como visitante os cursos de Filosofia e Teologia do seminário local. Cursos que completaria depois em Roma, na Gregoriana.

Giacomo, em 1875, chegaria a Roma como aluno do Colégio Capranica, no momento em que a Cidade Eterna se adaptava para se tornar a capital da Itália unida. Seria ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1878, no mesmo ano em que, depois de um pontificado cuja duração nunca foi superada, Pio IX (1846-1878) era sucedido por Leão XIII (1878-1903). Nos dois anos seguintes, frequentaria a Academia dos Nobres Eclesiásticos, a escola da diplomacia pontifícia.

O busto de bronze e a lápide dedicados a Bento XV que se encontram no Colégio Capranica (30Giorni)

Do ingresso na diplomacia ao episcopado bolonhês

A partir desse momento, dois nomes, ambos ligados à diplomacia leonina, assinalariam mais do que qualquer outro a biografia de Giacomo Della Chiesa: o de um mestre extraordinário, como foi para ele Mariano Rampolla del Tindaro, o secretário de Estado de Leão XIII, a quem deve a sua formação diplomática a partir de 1881, 1882; e o de alguém com graduação idêntica à sua, como foi seu valoroso coetâneo Pietro Gasparri, nomeado secretário para os Negócios Eclesiásticos Extraordinários em 1901, ao mesmo tempo em que ocorria a nomeação de Giacomo Della Chiesa a substituto. Gasparri, que se tornaria depois o inteligente secretário de Estado de Bento XV, seria também o mais significativo continuador da obra desse papa, conservando esse ofício durante o pontificado seguinte, de Pio XI (1922-1939). “Um feito quase sem precedentes na história do papado”, escreve John F. Pollard numa recente biografia dedicada a Bento XV. No entanto, Gasparri, no que diz respeito ao trato pessoal, era o exato oposto de Della Chiesa. Às vezes - escrevia padre Giuseppe De Luca em L’Osservatore Romano de 19 de novembro de 1952, num belíssimo perfil dedicado ao cardeal “camponês” no centenário de seu nascimento -, “seu desprezo pela forma chegou a extremos deploráveis, dos quais ele era o primeiro a rir”. Se é assim, o que é que os unia? Além do escrupuloso apego a seus ofícios e do pragmatismo de ambos, gostamos de identificar o ponto de contato entre os dois num soberano desapego de si. De fato, se Gasparri, escreve De Luca no mesmo artigo, “desconfiou ininterruptamente da força que sentia já em sua natureza, e da que teve em suas mãos enquanto homem de governo, como se fossem armas perigosíssimas”, Bento, mutatis mutandis, não ficou para trás. Basta reler suas palavras ao diretor de Civiltà Cattolica, ditas no momento crucial que precedeu a entrada da Itália na guerra: “É preciso distinguir as opiniões pessoais do papa do que é essencial para a doutrina. Tampouco sua conduta como papa é imposta a todos. O papa é supranacional: não faz votos pelo triunfo da Itália; mas se um católico italiano os fizer, não estará indo contra o papa. Da mesma forma, ele nunca disse que a guerra desta ou daquela nação fosse justa ou injusta”. São palavras citadas por padre Sale no livro recém-lançado Popolari e destra cattolica al tempo di Benedetto XV.

Mas voltemos ao cursus honorum de Giacomo Della Chiesa quando ainda não era Bento.

Quando Rampolla se tornou núncio em Madri em 1883, quis levá-lo consigo e, tão logo chamado a Roma em 1887, como secretário de Estado, novamente o levou à Cúria como seu minutador. Della Chiesa exerceu fielmente esse ofício por longo tempo. E em 1901, como já dissemos, se tornou substituto.

Mas, durante o pontificado de Leão XIII, com uma rapidez bem maior do que Della Chiesa e Gasparri, mesmo sendo muito mais jovem, outro diplomata, dom Raffaele Merry del Val, ganhou espaço. Ao se encerrar o conclave que se seguiu à morte do papa Pecci, como lembrou recentemente Gianpaolo Romanato nestas páginas de 30Dias (pp. 40-45), Merry del Val seria escolhido secretário de Estado de Pio X. Todos se surpreenderam com isso, inclusive Della Chiesa, que, em 8 de novembro de 1903, escrevia com muitos pontos de exclamação: “Amanhã realizaremos o Consistório ao qual se seguirá, pouco depois, a nomeação definitiva do secretário de Estado! Quem diria isso dez anos atrás!!!”.

Rampolla logo foi posto de lado. Della Chiesa continuou em seu posto por algum tempo, mas, no momento oportuno, em 1907, também foi destinado a outra sé: a do arcebispado de Bolo­nha. Certamente, foi destinado para lá pela estima que tinham por ele, mas talvez também para ver como se arranjaria numa diocese dirigida até então pelo arcebispo Domenico Svampa, suspeito de simpatias modernistas e democrata-cristãs por ter protegido, entre outros, os padres Giulio Belvederi e Alfonso Manaresi. Quando, em outubro de 1907, Della Chiesa, com a costumeira ironia sutil, escreveu ao amigo Teodoro Valfrè di Bonzo (que achava que Della Chiesa estivesse prestes a partir para a nunciatura de Madri), parecia confirmar que seu envio a Bolonha não deveria estar imune das intenções acima descritas: “Não respondi por telégrafo a seu cortês telegrama de felicitações por minha suposta nomeação a núncio de Madri porque não queria desmentir em público a sua suposição. O fato é que não fui nem serei nomeado núncio em Madri, pois o Santo Padre me quer... arcebispo de Bolonha. Nesse desejo do Santo Padre reconheci a vontade de Deus, pois nada era mais estranho a mim do que pensar na possibilidade de me tornar arcebispo de Bolonha. Ao primeiro anúncio da vontade pontifícia, fiquei chocado, e pensar na difícil situação em que deverá se encontrar o pobre arcebispo de Bolonha aumentou a minha comoção: mas, se o Senhor me quer em Bolonha, não me dará as graças necessárias para fazer um pouco de bem àquela gente?”.

Nos anos de seu episcopado em Bolonha (sobre os quais temos hoje um livro muito bem documentado publicado por Antonio Scottà em 2002), evidentemente a graça de estado o amparou para que agisse não apenas com prudência, mas também com caridade pastoral, o que logo o fez empe­nhar-se numa cansativa visita a toda a diocese e interessar-se pela formação catequética e no seminário. Quanto às tendências modernistas ou suspeitas de modernismo, mesmo aplicando com diligência as disposições que vi­nham de Roma - poderia ter agido de outra forma? -, nunca faltou ao respeito para com as pessoas - que era o que podia fazer.

Com tudo isso, foi criado cardeal apenas em maio de 1914, poucos meses antes de entrar no conclave do qual sairia papa. Talvez não seja um acaso que o barrete cardinalício só tenha chegado depois da morte de Rampolla, ocorrida no mês de dezembro anterior. Provavelmente não queriam que o entendimento entre os dois se reconstituísse e tivesse peso no Sacro Colégio.

Nesse meio tempo havia estourado a guerra, a Grande Guerra. Houve quem dissesse que Pio X morreu de desgosto em razão dela, mas também quem, como Pollard, afirmasse que “ele e seu secretário de Estado, cardeal Merry del Val, tenham contribuído para apressar a guerra, sugerindo inoportunamente a Francisco José que a Áustria tinha razão e que deveria humilhar a Sérvia”. Em todo caso, a maior parte dos historiadores concorda que, no conclave que se seguiu à morte de Pio X, mais que considerações relativas à guerra que acabara de estourar tenha tido um peso maior o debate interno entre uma linha de intransigência e outra de moderação com relação às tendências modernistas, verdadeiras ou presumidas.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Solidão e tecnologia

A solidão e as redes (Observatório Social)

SOLIDÃO E TECNOLOGIA

29/05/2025

Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André (SP) 

Falar em amizade hoje pode parecer antiquado, em um momento da trajetória da humanidade onde o indivíduo ocupa o lugar central. Porém, falar em solidão, é comum e até linguagem corrente. Tanto com palavras como gestos, as pessoas hoje nos falam de solidão. Portanto, conclui-se que falar de amizade hoje não só não é antiquado, mas necessário e até urgente, pois a amizade é uma das maneiras mais sublimes de amar. E somente o amor pode anular a solidão do coração do homem.  

Muito já se escreveu sobre o desamparo e a solidão do homem moderno. O psicólogo e pedagogo Ignace Lepp chega a caracterizá-la de “trágica”, principalmente ao analisar o isolamento vivido nas grandes cidades. Devido a esse fenômeno, cada vez mais nos convencemos da necessidade de melhorar o relacionamento humano. Logo após a Segunda Guerra Mundial, incrementou-se o investimento de milhões e milhões em pesquisas dedicadas às ciências físicas. Por meio de todo tipo de “máquinas”, o homem conseguiu expandir as potencialidades de sua inteligência como nunca visto antes.  

Contudo, o resultado positivo e inegável desse desenvolvimento técnico, tem seu lado amargo: a incapacidade de solucionar com igual eficiência os mais elementares problemas humanos, como a simples convivência entre as pessoas, cada vez mais “alienadas”. 

O ser humano não pode viver sem relacionamentos profundos, sem laços afetivos duradouros, sem desenvolver suas potencialidades de amar, em níveis pessoal e social. Intui-se que a ciência tem que se voltar, com todas as suas capacidades, para explorar o campo das relações humanas. São as atitudes que deveriam tornar-se a maior preocupação científica.  

O computador, o milagre da eletrônica, é necessário certamente, porque somente com sua precisão se pode ter segurança em muitas tarefas imprescindíveis hoje. Mas a sede de relacionamento profundo, a inquietação por criar laços, que transcendam as leis da eficiência, permanecem. Porque o coração do homem permanece, e o coração tem razões que a razão desconhece, como escreve Pascal, e acrescenta: “A certas pessoas falta coração; não faríamos delas nossos amigos” (Pensamentos, capítulo 1),  

Os valores, os sonhos da Humanidade na era da tecnologia se realizam considerando os homens não como fins, mas como meios. Assim se transformam as virtudes em prestação de serviços. Chegamos a ter robôs, sempre amáveis, atenciosos, pacientes e gentis, porém o robô não sente solidão, aliás, não sente nada. Nem mesmo pode relacionar-se nos graus mais primitivos da amizade: ser “conhecido”, “companheiro”, “colega”. O amigo verdadeiro é o que espontaneamente deseja fazer feliz a outro e vê seus sentimentos correspondidos de maneira saudável.   

Avaliando a situação atual, onde as pessoas estão ao desamparo por falta de lideranças que se coloquem a serviço do povo, podemos concluir pela falta de amizade no tecido das relações sociais.  

Por isso, adquire relevância a encíclica “Fratelli Tutti” do Papa Francisco, um chamado a vivermos a fraternidade universal.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF