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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Curiosidades da Bíblia: Sansão e Dalila

Sagrada Escritura (Vatican News)

A história de Sansão e Dalila, uma das mais fantasiosas do Antigo Testamento, é carregada de simbolismo, se encaixando no período histórico conhecido como Era dos Juízes, estando registrada no Livro dos Juízes, capítulos 13 a 16.

Padre Inácio Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Os livros das Sagradas Escrituras como as temos hoje foram escritos em diversos gêneros e formas de linguagem.  Compreender esses gêneros literários nos ajuda a entender melhor a intenção dos autores sagrados e a mensagem que eles querem comunicar.  Isso evita também uma interpretação errônea ou apressada que pode surgir do desconhecimento do estilo literário e ainda permite uma leitura mais sensata e justa dos textos bíblicos que são compostos por uma variedade de formas literárias. 

Por essa razão encontramos nas páginas das Sagradas Escrituras algumas histórias que dariam verdadeiras novelas, aliás já foram temas de filmes e outras produções como a de Sansão e Dalila.

A Era dos Juízes

A história de Sansão e Dalila, uma das mais fantasiosas do Antigo Testamento, é carregada de simbolismo, se encaixando no período histórico conhecido como Era dos Juízes, estando registrada no Livro dos Juízes, capítulos 13 a 16.

No período as doze tribos de Israel, herança dos doze filhos de Jacó, haviam retornado da escravidão no Egito depois da longa caminhada pelo deserto, estando em processo de estabelecimento na Terra Prometida. Cada tribo tinha uma certa autonomia, mas se uniam para combater os inimigos comuns, sendo os filisteus os mais fortes. A formação de um único povo somente seria concretizada no período seguinte conhecido como Era dos Reis, tendo o seu auge com Saul, Davi e Salomão.

O período dos Juízes durou cerca de 200 anos, aproximadamente de 1200 a.C. a 1010 a.C. Os hebreus estavam inseridos numa realidade organizacional onde cada tribo era governada por um juiz que não devia subserviência a nenhum rei ou coroa. Esse juiz tinha poderes quase que ilimitados porque sua escolha foi feita por Deus e suas decisões eram vistas como ação do próprio Deus, o Senhor Javé. Na pessoa do juiz era o próprio governando o seu povo.

Deus age em favor de seu povo

Da mesma forma que acontece em relação a outros povos e civilizações, o início de sua história vem recheado de mitos e lendas que nem sempre podem ter uma comprovação. No caso do Povo de Israel, vários desses mitos foram herdados de povos da região. Alguns personagens se confundem entre história e ficção, como é o caso de Sansão e Dalila.

Nessa famosa história do Livro de Juízes, acontece o relacionamento entre Sansão, um juiz israelita dotado de força sobrenatural vinda de Deus, e Dalila, uma filisteia que com astucia usava de sua beleza para conseguir os seus objetivos. Subornada pelos líderes filisteus, Dalila enganou Sansão a fim de descobrir o segredo de sua força que estava em seu longo cabelo de nazireu e o trai, cortando seu cabelo e entregando-o aos filisteus, que o cegam e o aprisionam. 

Depois dessas coisas, ele se apaixonou por uma mulher do vale de Soreque, chamada Dalila. Os líderes dos filisteus foram dizer a ela: “Veja se consegue induzi-lo a mostrar para você o segredo da sua grande força e como poderemos dominá-lo, para que o amarremos e o subjuguemos. Cada um de nós dará a você treze quilos de prata” (Jz 16,4-5)

Sansão tinha sido escolhido antes mesmo de nascer. Um anjo apareceu à sua mãe que era estéril, anunciando que ela teria um filho que seria nazireu, totalmente dedicado a Deus desde o ventre. Isso incluía votos rigorosos de não beber vinho, não tocar em mortos e jamais cortar o cabelo, pois sua força vinha desse voto sagrado.

Certo dia o Anjo do Senhor apareceu a ela e lhe disse: “Você é estéril, não tem filhos, mas engravidará e dará à luz um filho. Todavia, tenha cuidado, não beba vinho nem outra bebida fermentada e não coma nada impuro; e não se passará navalha na cabeça do filho que você vai ter, porque o menino será nazireu, consagrado a Deus desde o nascimento; ele iniciará a libertação de Israel das mãos dos filisteus” (Jz 13,3-5).

Desde jovem, Sansão demonstrou força sobre-humana. Ele desafiou o domínio estrangeiro sobre Israel, sendo temido pelos inimigos e respeitado pelos de sua gente, mas também era impulsivo e guiado por paixões.

É nesse ponto que entra Dalila, mulher do Vale de Soreque, com quem Sansão se envolveu. Os filisteus, inimigos jurados de Israel, subornam Dalila para que ela descubra o segredo de sua força. Mesmo tendo escapado várias vezes de suas armadilhas finalmente Sansão cede revelando que jamais havia cortado o cabelo, pois era nazireu consagrado a Deus.

Enquanto ele dormia em seu colo ela mandou que suas tranças fossem cortadas. Com isso, Sansão perde sua força, sendo capturado pelos filisteus, tendo seus olhos arrancados.

Feito prisioneiro, humilhado e cego, Sansão passa a trabalhar para os filisteus que descuidam e deixam que seu cabelo volte a crescer. O final da história é bem conhecido, pois Sansão, levado para o templo dos filisteus, acaba matando a si mesmo e a milhares de filisteus.

E Sansão orou ao Senhor: “Ó Soberano Senhor, lembra-te de mim! Ó Deus, eu te suplico, dá-me forças, mais uma vez, e faze com que eu me vingue dos filisteus por causa dos meus dois olhos”. Então Sansão forçou as duas colunas centrais sobre as quais o templo se firmava. Apoiando-se nelas, tendo a mão direita numa coluna e a esquerda na outra, disse: “Que eu morra com os filisteus!” Em seguida, ele as empurrou com toda a força, e o templo desabou sobre os líderes e sobre todo o povo. (Jz 16,28-30)

Para os escritores sagrados não existe a preocupação com a historicidade ou não do personagem. O pano de fundo da história de Sansão e Dalila é mostrar a fragilidade da força quando confrontada com a sedução, e sobre redenção mesmo após a queda. Um símbolo profundo de como a fé pode ser restaurada mesmo no fim e de como o orgulho e a fraqueza humana podem levar à destruição.

A história é também um alerta sobre os perigos da confiança equivocada, da fraqueza emocional e da manipulação em relacionamentos. E por fim, é sinal da traição do povo para com a aliança assinada com Javé, deixando o verdadeiro Deus de lado, seguindo outros deuses que não podem salvar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF