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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Proclamar ao mundo o perfume suave e agradável da esperança

(©AFP/Tiziana Fabi)  (AFP or licensors)

"A tarefa que temos pela frente já não é defender e justificar a esperança filosófica e teologicamente, mas simplesmente anunciá-la, mostrá-la, oferecê-la a um mundo que perdeu o sentido da esperança e por isso enfraquece espiritualmente”, como diz Cantalamessa[2]. Nesse contexto, a esperança não é um tratado teórico, mas um testemunho profético de vida que brota da fé pascal".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

A esperança, em sua essência, é como um perfume suave que não se explica, mas se sente e se compartilha. Diante de um mundo marcado pela incerteza, pelo medo e pelo cansaço espiritual, a missão de cada cristão já não se limita a defender ou justificar racionalmente esse dom, mas a torná-lo visível e acessível a todos. Mais do que conceitos filosóficos ou argumentos teológicos, a esperança precisa ser testemunhada na vida concreta, como um sinal que ilumina os que caminham na escuridão e fortalece aqueles que, fragilizados, buscam razões para continuar. Proclamar a esperança, portanto, é oferecer ao mundo um sopro de renovação capaz de despertar corações adormecidos e devolver sentido às jornadas humanas.

No contexto deste Ano Jubilar, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Proclamar ao mundo o perfume suave e agradável da esperança":

"O tratado da Esperança, fé e caridade de Zenão de Verona, um antigo padre, diz assim: “Tire a Esperança, e toda a humanidade se entorpece. Tire a Esperança e todas as artes e virtudes desaparecerão. Tire a esperança e tudo perece”.

Há um gesto na Vigília Pascal significativo que destacamos em nossa reflexão sobre a Esperança. Do fogo Novo abençoado no Sábado de Aleluia, se acende a chama do Círio Pascal, devidamente incensado e preparado para a noite das noites. As brasas acesas do fogo Novo simbolizam as pedras do túmulo de Cristo que se rompem para que a luz do ressuscitado brilhe. Da chama do Círio Pascal aceso nessa noite Santa de Vigília, se acendem as velas do povo. Os fiéis acendem a própria vela por meio de outra vela e assim a esperança da luz se alastra. Nessa analogia, vemos que a esperança é transmitida por contágio. Não é transmitida porque alguém a estuda, discute ou explica, mas porque a possui e passa adiante. Assim, os cristãos devem passar de pai para filho, de mão em mão, de geração em geração, numa tradição vivida e testemunhada, uma divina transmissão salutar, a grande virtude da esperança.

Se há meios para se contagiar com a esperança é a alegria e a paz interior. São Paulo, na Carta aos Romanos, expressa esse desejo: “Que o Deus da esperança os encha de toda a alegria na fé” (Rm 15,13). A alegria revela a presença da esperança assim como o perfume revela a presença de uma flor. O perfume da esperança precisa ser exalado ao mundo inodoro. A fragrância da esperança precisa preencher nossos espaços e ambientes.

Reza assim também o salmista: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” (Sl 32).  A ressurreição de Cristo nos faz “renascer para uma esperança viva”, como vemos na primeira Carta de Pedro (1Pdr 1,3). Hoje, mais do que nunca no mundo, precisamos de um “renascimento da Esperança, se quisermos iniciar uma nova evangelização. Nada se faz sem esperança. As pessoas vão onde se respiram o ar de esperança e fogem onde não a sentem presente. A esperança é o que dá coragem aos jovens para formarem uma família ou seguir em uma vocação religiosa; é o que os mantém afastado das drogas e de semelhantes deslizes ao desespero. De certo modo em comparação com algumas décadas atrás, estamos hoje numa situação mais vantajosa em relação à esperança. Já não precisamos passar a maior parte de nosso tempo defendendo a esperança Cristã dos ataques externos; podemos fazer a coisa mais útil e frutífera que é proclamá-la, oferecê-la e disseminá-la no mundo, não tanto com um discurso apologético, mas assim querigmático”[1].  

Precisamos proclamar alto e em bom tom a esperança que não decepciona jamais. Jesus Ressuscitou, razão de nossa esperança, de nossa fé e nosso combate diário. O mundo de hoje precisa desse anúncio da Esperança. Há tantas pessoas desanimadas, desencorajadas, esmorecidas na fé, caídas no pessimismo e baixa estima e questão caídas à beira do caminho. Não peregrinam, não caminham, não progridem. É preciso querigmatizar a esperança, fazer dela um anúncio corajoso e constante. Em cada anúncio, em cada mensagem, em cada homilia, em cada pregação, precisamos proclamar de viva voz a esperança.

A esperança das pessoas foi afetada pelas ideologias e pelos falsos profetas: Feuerbach, Marx, Nietzsche, Hegel, Freud e outros. A vida eterna para muitos desses filósofos foi vista como uma esperança ilusória, como o ópio dos povos. A esperança foi vista com maus olhos, como um descompromisso com o tempo presente e como fuga da atuação do cristão na sociedade. Pois depois de destruir com a esperança cristã, a cultura ateia marxista, não tardou em perceber que não se podia deixar as pessoas sem esperança. Por isso, inventou o “princípio da esperança”. A esperança, nessa teoria filosófica, seria apenas um princípio, e não uma virtude teologal, como a Igreja proclama. Nesse princípio, a manifestação de Jesus Cristo é substituída pela manifestação do homem, a “parusia” é substituída pela “utopia”. A esperança passaria não simplesmente para uma virtude da graça, mas uma conquista de esforço humano no desejo de superação. A pátria celeste torna-se aqui uma pátria de identidade, não onde o homem vê Deus face a face, mas onde o homem vê simplesmente como ele é. “A tarefa que temos pela frente já não é defender e justificar a esperança filosófica e teologicamente, mas simplesmente anunciá-la, mostrá-la, oferecê-la a um mundo que perdeu o sentido da esperança e por isso enfraquece espiritualmente”, como diz Cantalamessa[2]. Nesse contexto, a esperança não é um tratado teórico, mas um testemunho profético de vida que brota da fé pascal".

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] CANTALAMESSA, RANIERO. “Fé, esperança e caridade – as três graças do Cristianismo”, Ed. Paulus, 2024, p. 111.
[2] Idem, 113.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF