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domingo, 7 de setembro de 2025

O que a Igreja diz sobre a ecologia?

O que diz a Igreja sobre a Ecologia? (Opus Dei)

O que a Igreja diz sobre a ecologia?

A preocupação com a preservação da natureza é um dos sinais dos nossos tempos. Este artigo reúne alguns recursos para conhecer melhor a contribuição da Igreja para a visão do cuidado com a criação.

04/09/2025

1. O que diz a Igreja sobre a ecologia?

A preocupação com a preservação da natureza é um dos sinais do nosso tempo, e a reflexão da Igreja sobre o tema aparece de forma significativa na doutrina social da Igreja posterior ao Concílio Vaticano II.

A visão católica, baseada na Bíblia, apresenta a criação do homem como um ser intrinsecamente superior à natureza, sendo esta confiada ao seu domínio com o objetivo de promover o desenvolvimento humano integral. Mas o homem domina em nome de Deus, como guardião da criação divina e, portanto, esse domínio do homem não é absoluto. Deus confiou o mundo à pessoa humana para que o administrasse de maneira responsável, a fim de garantir uma prosperidade integral e sustentável. Assim, as escolhas e ações relacionadas à ecologia (ou seja, o uso do mundo criado por Deus) estão subordinadas à lei moral, assim como todas as outras escolhas humanas.

É importante ter claro que a relação do homem com o mundo é um elemento constitutivo da identidade humana. Trata-se de uma relação que nasce como fruto da união, ainda mais profunda, do homem com Deus (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 452). Ao criar o homem, Deus lhe deu a responsabilidade de cuidar da natureza e confiou-lhe a tarefa de contribuir para levar a criação à plenitude por meio de seu trabalho (cf. Gn 1, 26-29).

De fato, a antropologia cristã nos leva a compreender a origem da degradação ecológica: em consequência do pecado original, a relação do homem com a natureza foi prejudicada, pois a experiência demonstra que o desenvolvimento do progresso técnico pode ter consequências negativas para a natureza. Por isso, a Igreja vê na crise ecológica, além de um desafio técnico-científico, um problema moral: o homem esquece o respeito devido à criação e ao Criador. Os cristãos são chamados a trabalhar pelo Reino dos Céus a partir das realidades temporais, convencidos de que quanto mais cresce o nosso poder, maior é a nossa responsabilidade individual e coletiva. Cfr. Gaudium et Spes, 34.

Meditar com São Josemaria

Os ensinamentos de São Josemaria oferecem ideias muito inovadoras para expressar a mensagem cristã com a linguagem da ecologia.

São Josemaria convidava a um amor apaixonado pela criação e pelo mundo, pregando uma espiritualidade orientada para santificar desde dentro todas as estruturas temporais, a fim de levá-las à sua plenitude em Cristo, ponto-chave que ilumina o problema ambiental.

Fala constantemente de devolver à matéria o seu mais nobre e original sentido, considerando “que nuestra fe nos enseña que la creación entera, el movimiento de la tierra y el de los astros, las acciones rectas de las criaturas y cuanto hay de positivo en el sucederse de la historia, todo, en una palabra, ha venido de Dios y a Dios se ordena”. Es Cristo que pasa, El Gran Desconocido, 130.

Tem presente, além disso, o compromisso do homem de continuar entre as criaturas a missão de Jesus: Cristo “trae la salvación, y no la destrucción de la naturaleza; y aprendemos de Él que no es cristiano comportarse mal con el hombre, criatura de Dios, hecho a su imagen y semejanza”. Amigos de Dios, Virtudes humanas, 73.

“Ha querido el Señor que sus hijos, los que hemos recibido el don de la fe, manifestemos la original visión optimista de la creación, el "amor al mundo" que late en el cristianismo. Por tanto, no debe faltar nunca ilusión en tu trabajo profesional, ni en tu empeño por construir la ciudad temporal”. Forja, 703

2. A Ecologia nas Escrituras e nos ensinamentos da Igreja

Já no Gênesis encontramos o ponto central das considerações da Igreja sobre a ecologia: o homem, criado à imagem de Deus, “recebeu o mandamento de dominar a terra na justiça e na santidade” (Gaudium et Spes, 34). Deus confiou assim o cuidado dos animais, das plantas e dos outros elementos naturais ao ser humano. É lícito servir-se deles para fins legítimos, como alimentação, vestuário, trabalho ou pesquisa, sempre dentro de limites razoáveis e com o objetivo de cuidar e salvar vidas humanas (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2417). O uso da natureza deve ser sempre acompanhado de respeito, pois o mundo foi criado por Deus, seu único dono, que além disso considerou que tudo era bom.

No Novo Testamento, Jesus vem ao mundo para restabelecer a ordem e a harmonia que o pecado havia destruído. Ao curar a relação do homem com Deus, Jesus Cristo também reconcilia o homem com o mundo. Embora o fim último do homem seja o Reino dos céus, os primeiros frutos desse novo céu e dessa nova terra já se encontram misteriosamente aqui neste mundo. Os cristãos, continuando a obra da salvação, têm a preocupação de aperfeiçoar esta terra, especialmente no que pode contribuir para o progresso da sociedade humana.

Essa postura também foi defendida por grandes santos da Igreja, entre os quais se destacam, por exemplo, São Felipe Neri e São Francisco de Assis (a quem São João Paulo II nomeou padroeiro da ecologia), cuja delicadeza para com a natureza é um exemplo para todos os homens.

A partir do Concílio Vaticano II, todos os Papas exortaram os cristãos a cuidar da criação: Paulo VI celebrou a iniciativa das Nações Unidas de proclamar um Dia Mundial do Meio Ambiente, convidando a uma tomada de consciência sobre este tema. São João Paulo II advertiu tanto sobre a tentação de ver a natureza como um objeto de conquista quanto sobre o perigo de eliminar a “responsabilidade superior do homem”, equiparando a dignidade de todos os seres vivos. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica inclui vários pontos sobre o respeito à integridade da criação (2415-2418).

Bento XVI também desenvolveu o tema em sua encíclica Caritas in veritate (n. 48-52), na qual lembra que “a proteção do ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis internacionais atuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra”.

Recentemente, o Papa Francisco dedicou um grande esforço à promoção da consciência ecológica, tanto através da sua encíclica Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum, como de numerosas intervenções e audiências.

Em resumo, a relação do homem com a natureza interessa à Igreja, assim como lhe interessam todos os aspectos da vida do homem e a sua relação com Deus: A natureza é expressão de um desígnio de amor e de verdade. Precede-nos, tendo-nos sido dada por Deus como ambiente de vida. Fala-nos do Criador (cf. Rm 1, 20) e do seu amor pela humanidade. Está destinada, no fim dos tempos, a ser ‘instaurada’ em Cristo (cf. Ef 1, 9-10; Col 1, 19-20). Por conseguinte, também ela é uma ‘vocação’” (Caritas in veritate, 48). A natureza não é mais importante do que a pessoa humana, mas faz parte do projeto de Deus e, como tal, deve ser protegida e respeitada.

3. A necessidade de um compromisso ecológico

O comportamento dos seres humanos em relação à natureza, de acordo com o exposto anteriormente, deve ser guiado pela convicção de que ela é um dom que Deus colocou em suas mãos.

Por isso, a Igreja convida a ter presente que o uso dos bens da terra constitui um desafio comum para toda a humanidade.

Como a questão ecológica diz respeito a todos, todos devemos nos sentir responsáveis por um desenvolvimento planetário sustentável: trata-se do dever, comum e universal, de respeitar um bem coletivo (cf. Compêndio, n. 466; Caritas in veritate, nn. 49-50).

Essa responsabilidade se estende não apenas às exigências do presente, mas também às do futuro (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja Católica, n. 467). No final, não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem solidariedade intergeracional (cf. Laudato si’, n. 159).

4. Laudato si’ e a ecologia integral

Na Laudato si’, o Papa Francisco aborda temas como as mudanças climáticas, a questão da água, a perda da biodiversidade, a degradação social, a tecnologia, o destino comum dos bens, a globalização, a justiça entre as gerações e o diálogo entre religião e ciência.

Além disso, o Papa nos propõe refletir sobre os diferentes aspectos de uma ecologia integral, que incorpore claramente as dimensões humanas e sociais (cf. Laudato si’, n. 137-162).

Preocupado com a complexa relação entre crise ambiental e pobreza, uma vez que a degradação ambiental afeta principalmente os mais desfavorecidos, o Papa sublinha a necessidade de nos guiarmos por critérios de justiça e caridade nos âmbitos ambiental, social, cultural e econômico.

O Papa Francisco nos convida, enfim, a uma conversão ecológica “que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa” (Laudato si’, n. 217).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-que-a-igreja-diz-sobre-a-ecologia/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF