O que a Igreja diz sobre a ecologia?
A preocupação com a preservação da natureza é um dos sinais
dos nossos tempos. Este artigo reúne alguns recursos para conhecer melhor a
contribuição da Igreja para a visão do cuidado com a criação.
04/09/2025
1. O que diz a Igreja sobre a ecologia?
A preocupação com a preservação da natureza é um dos sinais
do nosso tempo, e a reflexão da Igreja sobre o tema aparece de forma
significativa na doutrina social da Igreja posterior ao Concílio Vaticano II.
A visão católica, baseada na Bíblia, apresenta a criação do
homem como um ser intrinsecamente superior à natureza, sendo esta confiada ao
seu domínio com o objetivo de promover o desenvolvimento humano integral. Mas o
homem domina em nome de Deus, como guardião da criação divina e, portanto, esse
domínio do homem não é absoluto. Deus confiou o mundo à pessoa humana para que
o administrasse de maneira responsável, a fim de garantir uma prosperidade
integral e sustentável. Assim, as escolhas e ações relacionadas à ecologia (ou
seja, o uso do mundo criado por Deus) estão subordinadas à lei moral, assim
como todas as outras escolhas humanas.
É importante ter claro que a relação do homem com o mundo é
um elemento constitutivo da identidade humana. Trata-se de uma relação que
nasce como fruto da união, ainda mais profunda, do homem com Deus (cf.
Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 452). Ao criar o homem, Deus lhe deu
a responsabilidade de cuidar da natureza e confiou-lhe a tarefa de contribuir
para levar a criação à plenitude por meio de seu trabalho (cf. Gn 1, 26-29).
De fato, a antropologia cristã nos leva a compreender a
origem da degradação ecológica: em consequência do pecado original, a relação
do homem com a natureza foi prejudicada, pois a experiência demonstra que o
desenvolvimento do progresso técnico pode ter consequências negativas para a
natureza. Por isso, a Igreja vê na crise ecológica, além de um desafio
técnico-científico, um problema moral: o homem esquece o respeito devido à
criação e ao Criador. Os cristãos são chamados a trabalhar pelo Reino dos Céus a
partir das realidades temporais, convencidos de que quanto mais cresce o nosso
poder, maior é a nossa responsabilidade individual e coletiva. Cfr. Gaudium
et Spes, 34.
Meditar com São Josemaria
Os ensinamentos de São Josemaria oferecem ideias muito
inovadoras para expressar a mensagem cristã com a linguagem da ecologia.
São Josemaria convidava a um amor apaixonado pela criação e
pelo mundo, pregando uma espiritualidade orientada para santificar desde dentro
todas as estruturas temporais, a fim de levá-las à sua plenitude em Cristo,
ponto-chave que ilumina o problema ambiental.
Fala constantemente de devolver à matéria o seu mais nobre e
original sentido, considerando “que nuestra fe nos enseña que la creación
entera, el movimiento de la tierra y el de los astros, las acciones rectas de
las criaturas y cuanto hay de positivo en el sucederse de la historia, todo, en
una palabra, ha venido de Dios y a Dios se ordena”. Es Cristo que pasa,
El Gran Desconocido, 130.
Tem presente, além disso, o compromisso do homem de
continuar entre as criaturas a missão de Jesus: Cristo “trae la salvación, y no
la destrucción de la naturaleza; y aprendemos de Él que no es cristiano
comportarse mal con el hombre, criatura de Dios, hecho a su imagen y
semejanza”. Amigos de Dios, Virtudes humanas, 73.
“Ha querido el Señor que sus hijos, los que hemos recibido
el don de la fe, manifestemos la original visión optimista de la creación, el
"amor al mundo" que late en el cristianismo. Por tanto, no debe
faltar nunca ilusión en tu trabajo profesional, ni en tu empeño por construir
la ciudad temporal”. Forja, 703
2. A Ecologia nas Escrituras e nos ensinamentos da Igreja
Já no Gênesis encontramos o ponto central das considerações
da Igreja sobre a ecologia: o homem, criado à imagem de Deus, “recebeu o
mandamento de dominar a terra na justiça e na santidade” (Gaudium et Spes, 34).
Deus confiou assim o cuidado dos animais, das plantas e dos outros elementos
naturais ao ser humano. É lícito servir-se deles para fins legítimos, como
alimentação, vestuário, trabalho ou pesquisa, sempre dentro de limites
razoáveis e com o objetivo de cuidar e salvar vidas humanas (cf. Catecismo da
Igreja Católica, 2417). O uso da natureza deve ser sempre acompanhado de
respeito, pois o mundo foi criado por Deus, seu único dono, que além disso
considerou que tudo era bom.
No Novo Testamento, Jesus vem ao mundo para restabelecer a
ordem e a harmonia que o pecado havia destruído. Ao curar a relação do homem
com Deus, Jesus Cristo também reconcilia o homem com o mundo. Embora o fim
último do homem seja o Reino dos céus, os primeiros frutos desse novo céu e
dessa nova terra já se encontram misteriosamente aqui neste mundo. Os cristãos,
continuando a obra da salvação, têm a preocupação de aperfeiçoar esta terra,
especialmente no que pode contribuir para o progresso da sociedade humana.
Essa postura também foi defendida por grandes santos da
Igreja, entre os quais se destacam, por exemplo, São Felipe Neri e São
Francisco de Assis (a quem São João Paulo II nomeou padroeiro da ecologia),
cuja delicadeza para com a natureza é um exemplo para todos os homens.
A partir do Concílio Vaticano II, todos os Papas exortaram
os cristãos a cuidar da criação: Paulo VI celebrou a
iniciativa das Nações Unidas de proclamar um Dia Mundial do Meio Ambiente,
convidando a uma tomada de consciência sobre este tema. São
João Paulo II advertiu tanto sobre a tentação de ver a natureza
como um objeto de conquista quanto sobre o perigo de eliminar a
“responsabilidade superior do homem”, equiparando a dignidade de todos os seres
vivos. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica inclui vários pontos sobre o
respeito à integridade da criação (2415-2418).
Bento XVI também desenvolveu o tema em sua encíclica Caritas
in veritate (n. 48-52), na qual lembra que “a proteção do
ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis
internacionais atuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no
respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra”.
Recentemente, o Papa Francisco dedicou um grande esforço à
promoção da consciência ecológica, tanto através da sua encíclica Laudato
si’, sobre o cuidado da casa comum, como de numerosas intervenções e
audiências.
Em resumo, a relação do homem com a natureza interessa à
Igreja, assim como lhe interessam todos os aspectos da vida do homem e a sua
relação com Deus: A natureza é expressão de um desígnio de amor e de
verdade. Precede-nos, tendo-nos sido dada por Deus como ambiente de vida.
Fala-nos do Criador (cf. Rm 1, 20) e do seu amor pela
humanidade. Está destinada, no fim dos tempos, a ser ‘instaurada’ em Cristo
(cf. Ef 1, 9-10; Col 1, 19-20). Por
conseguinte, também ela é uma ‘vocação’” (Caritas in veritate, 48). A
natureza não é mais importante do que a pessoa humana, mas faz parte do projeto
de Deus e, como tal, deve ser protegida e respeitada.
3. A necessidade de um compromisso ecológico
O comportamento dos seres humanos em relação à natureza, de
acordo com o exposto anteriormente, deve ser guiado pela convicção de que ela é
um dom que Deus colocou em suas mãos.
Por isso, a Igreja convida a ter presente que o uso dos bens
da terra constitui um desafio comum para toda a humanidade.
Como a questão ecológica diz respeito a todos, todos devemos
nos sentir responsáveis por um desenvolvimento planetário sustentável: trata-se
do dever, comum e universal, de respeitar um bem coletivo (cf. Compêndio, n.
466; Caritas in veritate, nn. 49-50).
Essa responsabilidade se estende não apenas às exigências do
presente, mas também às do futuro (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja
Católica, n. 467). No final, não se pode falar de desenvolvimento sustentável
sem solidariedade intergeracional (cf. Laudato si’, n. 159).
4. Laudato si’ e a ecologia integral
Na Laudato si’, o Papa Francisco aborda temas como as
mudanças climáticas, a questão da água, a perda da biodiversidade, a degradação
social, a tecnologia, o destino comum dos bens, a globalização, a justiça entre
as gerações e o diálogo entre religião e ciência.
Além disso, o Papa nos propõe refletir sobre os diferentes
aspectos de uma ecologia integral, que incorpore claramente as dimensões
humanas e sociais (cf. Laudato si’, n. 137-162).
Preocupado com a complexa relação entre crise ambiental e
pobreza, uma vez que a degradação ambiental afeta principalmente os mais
desfavorecidos, o Papa sublinha a necessidade de nos guiarmos por critérios de
justiça e caridade nos âmbitos ambiental, social, cultural e econômico.
O Papa Francisco nos convida, enfim, a uma conversão
ecológica “que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia,
todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da
obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência
cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa” (Laudato
si’, n. 217).
Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-que-a-igreja-diz-sobre-a-ecologia/
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