Translate

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

A educação na Igreja antiga e a sua relação com a comunidade eclesial.

A educação na Igreja antiga (CNBB Norte 2)

A EDUCAÇÃO NA IGREJA ANTIGA E A SUA RELAÇÃO COM A COMUNIDADE ECLESIAL

nov 13, 2024

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

Introdução

Os Padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos, receberam uma educação dentro do sistema educacional grego romano que visava tornar as pessoas cidadãs, membros da vida civil e comunitária. Pela educação eles eram percebidos pessoas livres, capazes de coordenar serviços na sociedade. Essa era uma educação básica, popular que possibilitava o conhecimento das ciências na época. A filosofia delineava valores comunitários e sociais. Eles frequentavam as escolas normais que o Império romano oferecia a todos os povos dominados. Para os Padres da Igreja, a educação recebida também visava o conhecimento de Jesus Cristo, da Igreja, a prática da Palavra de Deus e o engajamento comunitário.

A existência das Academias

As Universidades não existiam na época, mas, sim, as Academias em alguns lugares do Império romano como Atenas, Constantinopla, Alexandria, Antioquia, entre outras cidades, de modo que uma educação bem fundamentada era lhes dada, pois se tratava de um ensino superior, do ponto de vista atual. Os padres foram educados nesse sistema educacional, na retórica, último degrau no estudo, que os impulsionava a não só a bem falar ao público e a ter o domínio no saber, através dos argumentos, mas essa servia para esclarecimento das coisas, na liturgia, na interpretação da Sagrada Escritura para o povo diante das heresias e na necessidade de dar respostas por parte da Igreja diante dos debates teológicos, cristológicos e pneumatológicos. O estudo favoreceu a elaboração de uma ideia e de uma educação para a vida e para o amor. Para os padres da Igreja a retórica visava à verdade das coisas e não simplesmente os discursos nos tribunais, palcos ou nos púlpitos das Igrejas[1]. Se os Padres freqüentavam escolas dos pagãos, com o tempo eles encaminharam a partir da educação, a constituição de escolas próprias em vista da formação sacerdotal, escolas bíblicas e cristológicas nas suas comunidades. No momento em que existe a preocupação, ação da Igreja, dos governos em relação à educação é importante dar uma visão de como os padres dos primeiros séculos encararam a educação e da forma como a viveram em seu tempo na relação comunitária.

Os cristãos

Os seguidores de Jesus, os cristãos freqüentavam as escolas dos pagãos como quaisquer outros alunos. No século II, a Carta a Diogneto afirmou que os cristãos não se distinguiam de outras pessoas nem por terra, ou costumes. Não possuíam uma língua estranha ou algum modo especial de vida, mas vivendo em cidades gregas e bárbaras adaptavam-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e testemunhavam um modo de vida social que era admirável para todos e paradoxal[2].

No mundo grego romano existiam três formas de escolas, na qual os pagãos e os cristãos participavam das mesmas: primeiro, os alunos freqüentavam o “Ludus Literarius”, isto é, o primário, onde os meninos e as meninas entre os sete e os doze anos aprendiam a ler, a escrever e a fazer as primeiras operações de cálculo. Depois vinha a “Gramática”, onde os adolescentes aprendiam as obras e o estilo dos escritores mais famosos, sejam eles gregos, sejam latinos e por fim vinha a “Escola da Retórica” onde os jovens e adultos conseguiam a suma do saber[3].

O aprendizado da filosofia

Nestas escolas, os alunos aprendiam também a filosofia. Alguns autores dos primeiros séculos davam valor à filosofia helênica na sua escola como Justino de Roma e Clemente de Alexandria. Orígenes fez uma leitura da filosofia em chave cristã. Já Tertuliano não via com simpatia a influência da filosofia no cristianismo ainda que ele dependesse de sua teologia da filosofia sobretudo, a estóica[4]. No século IV haverá uma abertura sempre maior à filosofia clássica de uma forma particular, com os padres capadócios. Basílio recomendará a leitura dos autores gregos e latinos com o intuito que eles aprofundassem ainda mais o estudo da Sagrada Escritura. “Quando se apresentam fatos ou palavras de homens excelentes, segui-os com espírito de emulação e fazer o possível para imitá-los”[5].

A juventude cristã

A juventude cristã tinha frequentemente mestres pagãos cujo ensinamento era ligado à mitologia, à racionalidade, às tradições pagãs. Havia casos de mestres cristãos apreçados pelos pagãos e de mestres pagãos que se gloriavam de alunos cristãos. Por exemplo o reitor pagão Libânio tinha relações com Basílio e João Crisóstomo. Proerésio foi mestre de Gregório de Nazianzo e do pagão Eunápio. Mário Vitorino, sendo mestre pagão, se converteu ao cristianismo, ao professar a sua fé em uma forma pública[6].

Autores cristãos, fundadores de escolas

Justino mártir, Ireneu de Lião, Tertuliano foram fundadores de escolas teológicas não ligadas exclusivamente às Sagradas Escrituras. Justino falou que o nome de cristãos possibilitava a perseguição. “Não castigais ninguém que foi acusado diante dos vossos tribunais antes que ele seja réu convicto. Contudo, quando se trata de nós, tomais o nome como prova, sendo que, se for pelo nome, deveríeis antes castigar os nossos acusadores”[7]. O bispo de Lião fundou um centro cultural pela defesa da apostolicidade da Igreja na unidade da sucessão dos apóstolos e a presença do bispo como aquele que garantia a transmissão da verdade revelada. Com Tertuliano falava-se da verdade como o aspecto fundamental na transmissão do cristianismo. Em Alexandria Orígenes imprimiu ensinamentos religiosos relacionados ao mundo transcendente como Deus, mistério trinitário, anjos, almas, em relação ao mundo histórico, criação, encarnação do Verbo, ressurreição e castigo, o mundo humano, o livre arbítrio, a sabedoria, o dom humano de ser imagem de Deus[8].

A visão da educação a partir dos Padres da Igreja

Clemente Alexandrino dizia que a sabedoria divina é grande por tomar conta de seus filhos em diversos modos no cuidado da nossa salvação. O pedagogo, no caso Cristo, testemunha em favor daqueles que cumprem o bem e chama-os nessa prática (do bem), admoestando-os para não se inclinarem aos pecados mas para que possam ter uma vida melhor[9]. Clemente chamou o Verbo encarnado de Pedagogo da humanidade que se serviu das mais diversas manifestações de sua mesma sabedoria para salvar os mais infortunados na vida. Ele também disse que somos alunos necessitados das palavras do Mestre para que dê ânimo aos outros. Assim como os bons não necessitam de médico, mas os doentes (cf. Mc 2,17), assim também nós necessitamos do Salvador. Nós somos doentes nesta vida por desejos não bons provenientes de nossas intemperanças e de todas as outras inflamações de nossas paixões. O Pedagogo nos admoesta com remédios doces e também com remédios amargos. Temos a necessidade do Salvador para que nos guie para superação da cegueira apontando-nos à luz, nós que estamos com sede para a fonte da água viva porque aqueles que beberão da mesma nunca mais terão sede(cf Jo 4,14)[10].

Jesus, o Educador da Humanidade

Clemente Alexandrino reconheceu que sem Jesus, o Educador da humanidade não haveria vida, mas a morte. Como as crianças e os adolescentes precisam de seus educadores, nós temos a necessidade do Mestre, Jesus Cristo para assim não ser privados de uma educação que leve à separação dos grãos com o celeiro que serão recolhidos no Pai[11]. Assim é o nosso Pedagogo: bom e justo. Ele não veio para ser servido, mas para servir a todos(cf. Mt 20,28) e por isso o evangelho mostra-o dando a sua vida por nós. Ele oferece o que há de mais precioso, a sua alma, a sua vida para toda a humanidade(cf. Jo 15,13)[12].

A educação como ensino em família

A educação entendida como ensino deve começar em família. São João Crisóstomo, Bispo e Padre da Igreja nos séculos IV e V teve presentes alguns pontos no sentido que os pais eduquem os seus filhos e filhas com solicitude, admoestando-os no Senhor. A juventude tem necessidade que as pessoas a corrija, a acompanhe, a nutre. Uma consideração é levada em conta: a conservação da castidade. Neste campo a juventude sofre os danos maiores; e para superá-los nisso, há a necessidade de muita atenção e muita luta. Um grande penhor foi dado aos pais, os seus filhos e as filhas. Faça-se o possível para encaminhá-los no bem para que o maligno não os carregue consigo. A preocupação em formar o ânimo dos filhos e das filhas esteja na vida dos pais. Deve-se ter presente a formação das virtudes[13]. Os filhos e as filhas sejam educados e admoestados no Senhor(cf. Ef 6,4). Se os seres humanos são valorizados por esculpir as estátuas dos reis, gozando de muita honra, “Nós que tornamos mais bela imagem real, o homem de fato é imagem de Deus (cf. Gn 1,26) não gozaremos dos bens imensos, admitido que a nossa obra torne a verdadeira semelhança”?[14]. São João Crisóstomo dizia que a verdadeira semelhança é a virtude da alma, porque acontece a educação dos filhos e das filhas para serem bons, para que dominem a ira, as ofensas, qualidades divinas que nós as educamos para serem generosos, amantes das pessoas humanas e do Senhor Deus[15].

A educação é dada na comunidade

A educação também devia ser feita pela comunidade eclesial. São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV falava da boa educação, o seu significado e noção. Todos os seres humanos dotados de inteligência concordam que a educação é o primeiro dos nossos bens e a educação mais excelente não deveria levar em conta só os discursos inteligíveis, sendo dada na comunidade, em vista do dom da salvação. Em relação as ciências pagãs, São Gregório dizia que o cristão aceita a contemplação e a investigação da natureza. Rejeita-se toda ciência que leve aos demônios, ao erro, à perdição. A educação não seria desprezada, do contrário, considerar-se-iam estultos e sem educação aqueles que assim pensam e querem que todos convenham com eles, para a superação da ignorância[16].

A educação e os bens eternos

A educação tinha como fim último a elevação aos bens eternos. Clemente Alexandrino interpretou a palavra de Jesus: “A tua fé te salvou”(Mt 5,34) no sentido de que a salvação é dada em relação à fé e às obras. O fiel deve afastar-se da escravidão da carne e dos vícios para assim alcançar a demora eterna na qual é destinado[17]. Agostinho tinha presente o impulso que deve ser dado à essa educação. Como a educação de um indivíduo dá-se por etapas, assim também aquela do gênero humano e por isso o povo de Deus eleva-se das realidades temporais à compreensão daquelas eternas, das realidades visíveis para aquelas invisíveis. Ele dizia que é ótima coisa quando a alma humana não está presa aos desejos terrestres; ela começa a se habituar a esperar por Deus diante dos bens mesquinhos deste mundo espere por aqueles da vida eterna[18]. A educação da alma, do interior da pessoa humana é uma das coisas mais difíceis de serem feitas. Uma coisa é atenção às feridas e doenças no corpo; outra coisa é acalmar a fome e a sede semelhantes de modo a ajudar os outros. Quando se trata de ajudar os mais necessitados nós damos uma ajuda aos seus corpos: no entanto deveria ter outra ajuda pelo ensinamento, na qual nós cumprimos uma obra educativa sobre os seus ânimos. O bispo de Hipona considerava essa arte educativa, que é a arte médica da alma, vem das mesmas divinas Escrituras distinguindo-se em dois momentos: admoestação e a instrução. Se a primeira dá-se sobre o temor, a segunda é sobre o amor. Quem educa deve ter em conta o amor. A educação que vem de Deus para o ser humano é dada pelos dois Testamentos. Se o Antigo prevaleceu mais o temor no Novo Testamento é o amor. Desta forma quem ama o próximo faz o possível para que o corpo e a alma se salvem e que esse(o próximo) tema a Deus e o ame[19].

Os Padres da Igreja consideraram a educação como algo importante que levasse ao saber, à vida comunitária, como forma de levar as pessoas à verdade das coisas, em suas famílias, comunidades e sociedade, sobretudo a verdade que é Jesus Cristo, a Igreja e o ser humano.

[1] Cfr. A. Quacquarelli. Retorica. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane. Genova-Milano: Marietti, 2008,  pg. 4501

[2]Cfr. Carta a Diogneto, 5,1-4. In: Padres Apologistas. São Paulo: Paulus, 1995.

[3]Cfr. B. Amata, Scuola. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane,  pg. 4816.

[4] Cfr. Idem, pgs. 4816-4817.

[5]Basilio I Cesarea. Discorso ai Giovani, IV,2, a cura di M. Naldini.. Firenze: Nardini Editore, 1990.

[6] Cfr. B. Amata, Scuola. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane., pg. 4817. Ver também: Santo Agostinho. Confissões, VIII, 2,5. São Paulo: Paulus, 1997.

[7] Cfr. Justino de Roma. I Apologia, 4,4-5. São Paulo: Paulus, 1995.

[8] Cfr. B. Amata, Scuola. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane., pg. 4819.

[9] Clemente Alessandrino. Il Pedagogo, I, 74. In: La Teologia dei padri. Roma: Città Nuova Editrice, 1974, pg. 100.

[10] Cfr. Idem, pg. 100.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 101.

[12] Cfr. Ibidem, pg. 101.

[13] Cfr.Giovanni Crisostomo. Omelie sulla prima lettera a Timoteo, 9,2. In: La Teologia dei padri, 3. Roma: Città Nuova Editrice, 1974, pgs. 381-382.

[14] Idem, 21,4. pg. 385.

[15] Cfr. Ibidem, pg. 386.

[16] Cfr. Gregório di Nazianzo.  Discorso funebre in onore di Basílio il Grande, 11. In: La Teologia dei padri, 3. pg. 27.

[17] Cfr. Clemente Alessandrino. StromataVI, 108,4. In: La Teologia dei padri, 2.  pg. 180.

[18] Cfr. Agostino. La Città di Dio, X,14. In: La Teologia dei padri, 4, pg. 238.

[19] Cfr. Agostino. I costumi della Chiesa cattolica,, I, 55-56. In: La Teologia dei padri, 1, pgs. 267-268.

Fonte: https://cnbbn2.com.br/

Meditações: Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo

São Pedro e São Paulo, Apóstolos (Opus Dei)

Meditações: Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo

Reflexão para meditar na Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo. Os temas propostos são: Pedro e Paulo, colunas da fé; Eram diferentes, mas o Evangelho os unia; Somos pedras vivas do templo que é a Igreja.

18/11/2022


AS VIDAS DE São Pedro e São Paulo se entrelaçam pelo amor a Jesus Cristo e pelo mesmo desejo evangelizador. Embora tenham uma origem, um temperamento e uma formação muito diferentes, desde o chamado do Senhor eles dedicaram as suas melhores energias para dar testemunho em toda a terra da alegria que receberam, cada um com a sua missão e o seu estilo peculiar: Pedro como cabeça da Igreja, Paulo como apóstolo das gentes.

Conheceram-se em Jerusalém, quando Paulo visitou os apóstolos, três anos depois da sua conversão (cf. Gl 1,15-18). Conviveram por apenas alguns dias. É possível que tenham coincidido posteriormente em Roma, quando Paulo foi preso na capital do Império. Sabemos que foi nesta cidade que os dois deram, pelo martírio, o seu maior testemunho de amor a Cristo: Pedro foi crucificado e Paulo, decapitado. Na cidade eterna, suas relíquias repousam hoje nas basílicas a eles dedicadas. Assim se recolhe por volta do ano 200, no testemunho do sacerdote romano Gaio: “Posso mostrar o troféu dos Apóstolos. Se, pois, queres ir ao Vaticano ou à Via Ostiense, encontrarás os troféus dos fundadores desta Igreja”[1].

Hoje contemplamos o que Deus pode fazer com as pessoas que estão generosamente abertas à sua ação. “Coragem! Tu... podes. – Escrevia São Josemaria. Não vês o que fez a graça de Deus com aquele Pedro dorminhoco, negador e covarde..., com aquele Paulo perseguidor, odiento e pertinaz?”[2]. “A tradição cristã tem considerado São Pedro e São Paulo inseparáveis: na verdade, juntos, representam todo o Evangelho de Cristo” [3]. Ambos são fundamento da Igreja, símbolos da sua unidade e colunas da fé. Por isso, a Igreja uniu em um mesmo dia a festa da Dedicação das basílicas romanas de São Pedro e de São Paulo, edificadas sobre os seus túmulos.


DIANTE DA fachada da Basílica de São Pedro estão colocadas duas grandes estátuas, facilmente reconhecíveis pelo que carregam: as chaves nas mãos de Pedro e a espada nas mãos de Paulo.

O símbolo das chaves – que Pedro recebe de Cristo – representa a sua autoridade. O Senhor promete-lhe que, como fiel administrador da sua mensagem, será sua responsabilidade abrir a porta do Reino dos céus (cf. Ap 3,7). A espada que Paulo carrega em suas mãos é o instrumento com que foi assassinado. Porém, lendo as suas cartas descobrimos que a imagem da espada evoca também sua missão evangelizadora. Ao sentir que a sua morte se aproxima, escreve ao seu discípulo Timóteo: “Combati o bom combate” (2 Tm 4,7). Paulo foi denominado o décimo terceiro apóstolo porque, embora não fizesse parte do grupo dos doze, foi chamado por Cristo Ressuscitado no caminho de Damasco.

Humanamente, Pedro e Paulo eram muito diferentes e provavelmente não faltaram diferenças em seu relacionamento. Mas estas não foram um obstáculo para que um e outro mostrassem “um modo novo e autenticamente evangélico de ser irmãos, tornado possível precisamente pela graça do Evangelho de Cristo que neles operava”[4]. Assim expressava-se São Josemaria: “Quereria – ajuda-me com a tua oração – que, na Igreja Santa, todos nos sentíssemos membros de um só corpo, como nos pede o Apóstolo; e que vivêssemos a fundo, sem indiferenças, as alegrias, as tribulações, a expansão da nossa Mãe, una, santa, católica, apostólica, romana. Quereria que vivêssemos a identidade de uns com outros e de todos com Cristo”[5].


AO DEDICAR um templo para adoração, esse edifício deixa de ser um lugar comum para se tornar um espaço sagrado, cujo propósito será o de dar glória a Deus. A parte central do rito de dedicação é a consagração do altar que, estando totalmente nu, é ungido com o óleo do crisma no centro e nos seus quatro cantos. Em seguida, é incensado, e revestido com as toalhas de altar, flores, velas e a cruz. O celebrante, com uma vela acesa na mão, invoca a “luz de Cristo”, à semelhança do que se faz durante a Vigília Pascal.

Assim como um templo, todos os cristãos fomos consagrados a Deus em nosso batismo e ungidos no peito com o santo crisma. Também nós recebemos uma vela, acesa com a chama do círio pascal, para que sejamos fontes de luz no mundo. Podemos colaborar com entusiasmo na edificação da Igreja porque somos “pedras vivas” (1 Pe 2,5) deste edifício sobrenatural. Pedro e Paulo, essas duas testemunhas da fé, são admiráveis ​​não tanto por possuírem habilidades incomparáveis, mas sim porque, no centro da sua história, está o encontro com Cristo que lhes mudou a vida. Fizeram a experiência de um amor que os curou e libertou e, por isso, tornaram-se apóstolos e ministros de libertação para os outros.[6].

“Pedro conheceu pessoalmente Maria e no diálogo com ela, especialmente nos dias que precederam o Pentecostes (cf. At 1, 14), pôde aprofundar o conhecimento do mistério de Cristo. Paulo, ao anunciar o cumprimento do desígnio salvífico ‘na plenitude dos tempos’, não deixou de recordar a ‘mulher’ da qual o Filho de Deus nascera no tempo (cf. Gl 4, 4)”[7]. Pedimos a ela que, seguindo o exemplo de São Pedro e de São Paulo, abracemos em nossas vidas a aventura de construir a Igreja.


[1] Eusébio, História Eclesiástica, II, 25,7

[2] São Josemaria, Caminho, n. 483

[3] Bento XVI, Homilia, 29/06/2012.

[4] Bento XVI, Homilia, 29/06/2012.

[5] São Josemaria, Forja, n. 630.

[6] Francisco, Homilia, 29/06/2021.

[7] Francisco, Ângelus, 29/06/2015.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/meditacoes-dedicacao-das-basilicas-de-sao-pedro-e-sao-paulo/

A busca incansável pelo Rosto de Deus

Como já dizia Santo Inácio de Antioquia: “Há em mim uma água viva que fala, dizendo: vem ao Pai”.  (ANSA)

A "busca incansável pelo rosto de Deus tem um lugar especialíssimo de encontro. “Na liturgia, a Igreja se manifesta em toda a sua esplendida e divina pobreza, porque ali se mostra em sua realidade mais profunda, como a Esposa que recebe tudo do Esposo. Na Liturgia, o rio eterno é derramado sem medida e nós podemos beber da sua Água diretamente na fonte”.

Jackson Erpen* - Cidade do Vaticano

"A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; jorra do Espírito Santo e de nós, toda orientada para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem (CIC 2564)".  Mas, de onde procede a oração do homem? O Catecismo da Igreja Católica explica, que "seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã" (CIC 2562).

"A busca incansável pelo Rosto de Deus" é o tema da reflexão que Pe. Gerson Schmidt* nos propõe esta semana:

"Vemos em toda a Sagrada Escritura uma busca incansável pelo rosto de Deus. Havia, no Antigo Testamento, uma concepção de que não poderia continuar vivendo o homem que visse a face de Deus. Todos buscamos ver o rosto de Deus, tal como Moisés. Cristo, na plenitude dos tempos, desvelou visivelmente o rosto invisível de Deus, outrora tão encoberto e escondido. "Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!", reza o Salmista (Sl 105,3). E no Salmo 26 há uma súplica clara pela visão beatífica: “Meu coração fala convosco confiante e o meus olhos vos procuram. Senhor, é a vossa face que eu procuro; não me escondais a vossa face” (Sl 26,8)”. 

O Catecismo da Igreja Católica, diz no número 30: "Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!" (Sl 105,3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade, "um coração reto", e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a Deus” (CIgC,30).

Os monges Cartuxos escrevem que só um verdadeiro desejo de ver o “rosto de Deus” pode nos sustentar nesse percurso do coração[1]. A visão de Deus é a bem-aventurança prometida por Jesus aos puros de coração, mas a imagem distorcida de Deus que se revela na nossa oração, nos expõe que o nosso coração não é “puro”, ou seja, não é capaz de receber em pobreza somente amor e de doar somente amor”. Por isso, é necessário que a graça do Espírito o qual ensina a Jesus a dizer “Pai”, nos ensine também a dizê-lo com Jesus, da mesma forma e com o mesmo significado. Ou melhor, que seja Ele mesmo, o Espírito a dizê-lo em nós, fazendo-nos uma só e mesma coisa com Cristo: "tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fl 2,5).  

E apontam os monges, nesse aprofundamento do Caderno de Oração de número 6: “Só quando o Espírito tornar o nosso coração tão pobre a ponto de fazer nosso o grito de Súplica do filho (Mc 14,36), de estar conscientes de ter uma necessidade extrema da Graça, só então poderemos dizer verdadeiramente com Jesus e como Ele: Abbá, Papai preciso de ti. Sem ti não posso fazer nada.  Sendo assim, seremos verdadeiramente crianças, podendo deste modo acolher plenamente o dom do Reino, dom da verdadeira oração, apenas quando nos deixarmos crucificar pela humilhação de não saber e não poder viver esta vida nova do Reino com as nossas próprias forças. Aceitação de nossa pobreza pessoal, física, psicológica e moral é o único meio pelo qual podemos receber a glória divina já presente em nós. Aceita como humildade e confiança, essa pobreza perpétua torne-se o lugar e o meio pelo qual podemos dizer a Deus Abbá. Torna-se a nossa morte, torna-se a nossa Páscoa, o nosso caminho diário ao Pai e a nossa ressurreição”[2].

O Espírito Santo se derrama e age no íntimo de cada de nós, atraindo-nos secreta e poderosamente para a Fonte de onde Ele mesmo emana, para o coração de Cristo e para o coração do Pai. Como já dizia Santo Inácio de Antioquia: “Há em mim uma água viva que fala, dizendo: vem ao Pai”[3]. O Espírito suscita e mantém viva em nossos corações essa sede da Água viva, essa saudade do Rosto do verdadeiro Deus. Deus deixou-nos a sua imagem impressa. Deixou-nos em nosso íntimo com amor, amor inexplicável, a “memória” de seu olhar. E desde esse momento o nosso coração está irrequieto, até reencontrar esse olhar amoroso. Nossa alma tem sede de Deus, está sedento desse rosto nostálgico. Uma das frases mais famosas de Santo Agostinho diz: "Fizeste-nos para vós, Senhor, e inquieto estará o nosso coração, enquanto não repousar em vós"[4].

Essa busca incansável pelo rosto de Deus tem um lugar especialíssimo de encontro. “Na liturgia, a Igreja se manifesta em toda a sua esplendida e divina pobreza, porque ali se mostra em sua realidade mais profunda, como a Esposa que recebe tudo do Esposo. Na Liturgia, o rio eterno é derramado sem medida e nós podemos beber da sua Água diretamente na fonte”[5]. Essa Água viva – o Espírito Santo de Amor – nos é dada na medida da nossa sede, na medida do nosso desejo, na medida da nossa pobreza e abertura interior. Que esse ardente desejo de ver o rosto do Amado, seja sempre a vontade mais fundamental e radical de nossa vida."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_____________________

[1] Monges Cartuxos – Dicastério para a Evangelização - A Igreja em Oração – Cadernos sobre a Oração 6, p. 38-39.
[2] Idem 39-40.
[3] Idem, 59.
[4] Santo Agostinho, As Confissões, I, 1,1
[5] Monges Cartuxos – Dicastério para a Evangelização - A Igreja em Oração – Cadernos sobre a Oração 6, p. 60.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 17 de novembro de 2024

Papa Francisco: por favor, não nos esqueçamos dos pobres

Santa Missa Dia Mundial dos Pobres , 17/11/2024 (VCaticxan News)

Na missa do VIII Dia Mundial dos Pobres, Francisco faz um apelo aos governos e às organizações internacionais, mas convida a Igreja a sentir “a mesma compaixão do Senhor” diante dos últimos, e pede aos cristãos que se tornem “sinal da presença do Senhor”, pertos do sofrimento dos necessitados para aliviar suas feridas e mudar sua sorte: só assim a Igreja “se torna ela mesma, casa aberta a todos”.

https://youtu.be/AMiN7rOO7HA

Alessandro Di Bussolo - Vatican News

“Por favor, não nos esqueçamos dos pobres!”. A invocação com a qual o Papa Francisco encerra sua homilia na missa do VIII Dia Mundial dos Pobres neste domingo (17/11), na Basílica de São Pedro, é dirigida à Igreja, aos governos dos Estados e às organizações internacionais, mas também “a todos e a cada um”. E aos fiéis em Cristo, o Papa nos lembra que “é a nossa vida impregnada de compaixão e de caridade que se torna sinal da presença do Senhor, sempre próximo do sofrimento dos pobres, para aliviar as suas feridas e mudar a sua sorte”. Porque a esperança cristã precisa de “cristãos que não se viram para o outro lado” e que sintam “a mesma compaixão do Senhor diante dos pobres”. Francisco sublinhou isso lembrando uma advertência do cardeal Martini: somente servindo os pobres “a Igreja ‘torna-se’ ela mesma, isto é, uma casa aberta a todos, um lugar da compaixão de Deus pela vida de cada homem”.

Papa Francisao: “Por favor, não nos esqueçamos dos pobres!” (Vatican Media)

Jesus se tornou pobre por nós

Em uma Basílica lotada, com a presença dos pobres que mais tarde almoçam com ele na Sala Paulo VI, o Pontífice abre a celebração com a exortação do ato penitencial: “Com o olhar fixo em Jesus Cristo, que se fez pobre por nós e rico de amor para com todos, reconheçamos que precisamos da misericórdia do Pai”. O celebrante no altar é o arcebispo Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.

Na escuridão deste tempo, brilha uma esperança inabalável

Na homilia, o Papa Francisco relê a passagem do Evangelho de Marcos, na liturgia deste XXXIII Domingo do Tempo Comum, com as palavras de Jesus aos discípulos antes de sua paixão, descrevendo “o estado de espírito daqueles que viram a destruição de Jerusalém”, mas também a chegada extraordinária do Filho do Homem. “Quando tudo parece desmoronar-se, que Deus vem, que Deus se aproxima, que Deus nos reúne para nos salvar”.

Jesus convida-nos a ter um olhar mais aguçado, a ter olhos capazes de “ler por dentro” os acontecimentos da história, para descobrir que, mesmo na angústia dos nossos corações e dos nossos tempos, há uma esperança inabalável que resplandece.

Angústia e impotência diante da injustiça do mundo

Neste Dia Mundial dos Pobres, portanto, o Papa nos convida a nos determos nas duas realidades, “angústia e esperança, que sempre duelam entre si na arena do nosso coração”. Ele começa com a angústia, tão difundida em nosso tempo, “onde a comunicação social amplifica os problemas e as feridas, tornando o mundo mais inseguro e o futuro mais incerto”. Se o nosso olhar, enfatiza, “se detém apenas na crônica dos acontecimentos, dentro de nós a angústia ganha terreno”, porque ainda hoje, como na passagem do Evangelho, “vemos o sol escurecer e a lua se apagar, vemos a fome e a carestia que oprimem tantos irmãos e irmãs, vemos os horrores da guerra e a morte de inocentes”. E corremos o risco de “afundarmos no desânimo e de não nos apercebermos da presença de Deus no drama da história. Assim, condenamo-nos à impotência".

Vemos crescer à nossa volta a injustiça que causa a dor dos pobres, mas juntamo-nos à corrente resignada daqueles que, por comodismo ou por preguiça, pensam que “o mundo é assim mesmo” e que “não há nada que eu possa fazer”. Desse modo, até a própria fé cristã é reduzida a uma devoção inócua, que não incomoda os poderes deste mundo e não gera um compromisso concreto de caridade.

A ressurreição de Jesus acende a esperança

Francisco cita a sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium para nos lembrar que, “enquanto crescem as desigualdades e a economia penaliza os mais fracos, enquanto a sociedade se consagra à idolatria do dinheiro e do consumo”, acontece que “os pobres e os excluídos não podem fazer outra coisa senão continuar a esperar”. Mas no quadro apocalíptico que acaba de ser descrito no Evangelho, Jesus “acende a esperança”, descrevendo a chegada do Filho do Homem “com grande poder e glória”, para reunir “os seus eleitos dos quatro ventos”. Assim, ele “alarga o nosso olhar para que aprendamos a perceber, mesmo na precariedade e na dor do mundo, a presença do amor de Deus que se faz próximo, que não nos abandona, que atua para a nossa salvação”. Jesus, lembra o Pontífice, está apontando “inicialmente para a sua morte que terá lugar pouco depois”, mas também para “o poder da sua ressurreição” que destruirá as cadeias da morte, “e um mundo novo nascerá das ruínas de uma história ferida pelo mal”. Jesus nos dá essa esperança por meio da bela imagem da figueira: “quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto”.

Do mesmo modo, também nós somos chamados a ler as situações da nossa história terrena: onde parece haver apenas injustiça, dor e pobreza, precisamente naquele momento dramático, o Senhor aproxima-se para nos libertar da escravidão e fazer brilhar a vida.

Você olha nos olhos a pessoa que ajuda?

E isso é feito, ele explica, “com nossa proximidade cristã, com a nossa fraternidade cristã”.

Não se trata de jogar uma moeda nas mãos de quem precisa. Àquele que dá a esmola, eu pergunto duas coisas: “Você toca as mãos das pessoas ou joga a moeda sem tocá-las? Você olha nos olhos a pessoa que ajuda ou desvia o olhar?”.

Perto do sofrimento dos pobres

Cabe a nós, seus discípulos, continua o Papa Francisco, que graças ao Espírito Santo podemos semear essa esperança no mundo. “Somos nós" - e aqui ele cita sua Encíclica Fratelli tutti - "que podemos e devemos acender luzes de justiça e de solidariedade, enquanto se adensam as sombras de um mundo fechado".

Somos nós que a sua Graça faz brilhar, é a nossa vida impregnada de compaixão e de caridade que se torna sinal da presença do Senhor, sempre próximo do sofrimento dos pobres, para aliviar as suas feridas e mudar a sua sorte.

Desvio o olhar diante da dor dos outros?

Não esqueçamos, é a invocação do Papa, que a esperança cristã, “que se realizou em Jesus e se concretiza no seu Reino, precisa de nós e do nosso empenho, de uma fé operosa na caridade, de cristãos que não passam para o outro lado do caminho". E aqui ele lembra a imagem de um fotógrafo romano de um casal de adultos saindo de um restaurante, que olhava para o outro lado para não cruzar dom o olhar de “uma pobre senhora, deitada no chão, pedindo esmolas”.

Isso acontece todos os dias. Perguntemos a nós mesmos: eu olho para o outro lado quando vejo a pobreza, as necessidades, a dor dos outros?

Francisco cita então um teólogo do século XX, Metz, quando dizia que a fé cristã deve gerar em nós uma “mística de olhos abertos”: “não uma espiritualidade que foge do mundo, mas, pelo contrário, uma fé que abre os olhos aos sofrimentos do mundo e às aflições dos pobres, para exercer a mesma compaixão de Cristo”.

“Eu sinto a mesma compaixão do Senhor diante dos pobres, diante daqueles que não têm trabalho, que não têm o que comer, que são marginalizados pela sociedade?”

Mesmo com o nosso pouco, podemos melhorar a realidade

E, continua o Papa Francisco, “não devemos olhar apenas para os grandes problemas da pobreza mundial, mas para o pouco que todos nós podemos fazer todos os dias".

Com o nosso estilo de vida, com o cuidado e a atenção pelo ambiente em que vivemos, com a busca tenaz da justiça, com a partilha dos nossos bens com os mais pobres, com o engajamento social e político para melhorar a realidade que nos rodeia..

Por favor, não nos esqueçamos dos pobres

Assim, “o nosso pouco será como as primeiras folhas que brotam na figueira: uma antecipação do verão que está próximo”. Concluindo, o Papa recorda uma advertência do cardeal Carlo Maria Martini, quando disse “que devemos ter cuidado ao pensar que existe primeiro a Igreja, já sólida em si mesma, e depois os pobres dos quais escolhemos cuidar. Na realidade, tornamo-nos a Igreja de Jesus na medida em que servimos os pobres, pois somente assim «a Igreja “torna-se” ela mesma, isto é, uma casa aberta a todos, um lugar da compaixão de Deus pela vida de cada homem»”.

Digo-o à Igreja, digo-o aos governos dos Estados e às organizações internacionais, digo-o a todos e a cada um: por favor, não nos esqueçamos dos pobres.

Projeto de caridade pela Síria e almoço com os pobres

Antes da missa, o Papa Francisco abençoou simbolicamente 13 chaves, representando os 13 países nos quais a Famvin Homeless Alliance (FHA), da Família Vicentina, construirá novas casas para pessoas necessitadas com o Projeto “13 Casas” para o Jubileu. Entre esses países está também a Síria, cujas 13 casas serão financiadas diretamente pela Santa Sé como um gesto de caridade para o Ano Santo. Um ato de solidariedade que se tornou possível graças a uma generosa doação da UnipolSai, que desejou entusiasticamente contribuir, no período que antecedeu o Ano Santo, com esse sinal de esperança para uma terra ainda devastada pela guerra.

No final da missa e após a recitação do Angelus, o Papa almoça na Sala Paulo VI junto com 1.300 pessoas pobres. O almoço, organizado pelo Dicastério para o Serviço da Caridade, é oferecido este ano pela Cruz Vermelha Italiana e animado por sua Fanfarra Nacional. No final do almoço, cada pessoa recebe uma mochila oferecida pelos Padres Vicentinos (Congregação da Missão), contendo alimentos e produtos de higiene pessoal.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Naquele tempo…

O que é o Apocalipse (cancaonova)

NAQUELE TEMPO… 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

Os textos bíblicos do penúltimo domingo do Tempo Comum (Daniel 12,1-3, Salmo 15, Hebreus 10,11-14.18 e Marcos 13,24-32) estão escritos no gênero literário apocalíptico. Na literatura e no cinema ele é um dos gêneros preferidos para descrever as catástrofes passadas e aquelas que se espera. O senso comum captou o aspecto exterior e somente a parte destrutiva. Se está presente nos textos bíblicos este aspecto, porém não é o fundamental e nem o mais importante. O gênero apocalíptico quer despertar as consciências da letargia e incutir a esperança numa nova criação. O Livro do Apocalipse começa assim: “Revelação de Jesus Cristo”, portanto apocalipse quer dizer revelação. É Jesus Cristo que a faz e se refere a ele mesmo. Ele tira o véu para poder compreender o sentido do mundo e da história. 

O texto de Daniel e de Marcos começam com uma fórmula quase idêntica: “naquele tempo”, “naqueles dias”. Eles não estão se referindo a um tempo passado, mas um tempo que está diante de nós. Entre nós e aquele tempo, tem algo muito sério: “um tempo de angústia” e uma “grande tribulação”. Este presente é lido à luz da meta definitiva. O apocalipse diz antes de tudo ao homem que a história vai ser avaliada e julgada pela meta futura, pela sua chegada ao final.  

Uma segunda característica do apocalipse é reconhecer os sinais dos tempos. “Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto”. O que significa que a figueira começa a ficar verde e brotar, num contexto tenebroso de escuridão, morte e angústia? A figueira sem folhas e sem frutas aparentemente está morta e infrutífera, porém esta não é a situação definitiva. A última palavra cabe a Deus que transforma definitivamente as situações. É preciso ver além das aparências. 

Uma terceira característica do apocalipse é levar a suscitar a virtude teologal da esperança. A forma como o autor desenvolve o gênero apocalíptico é levar o leitor ao futuro, à meta final e depois transportá-lo novamente para a vida atual e cotidiana. É verdade que a vitória definitiva está num futuro indeterminado, por outro lado chama o homem a viver responsavelmente o dia a dia.  

Os textos bíblicos nos fazem olhar para o tempo presente no qual está presente a angústia dum futuro incerto, tribulações de toda espécie, ações humanas que fazem escurecer o sol, tirar o brilho da lua e abalar os fundamentos do universo. Se ficarmos somente com esta perspectiva sobre o mundo presente podemos ser levados ao pessimismo e a perda da esperança. Parece que o mal e a morte têm a última palavra.  

Porém, o mais importante é que os textos apocalípticos afirmam que a história do mundo não é a história da perdição, mas de salvação. “O presente está grávido do futuro para o qual caminhamos e esse futuro é decidido na fidelidade à sua palavra. A nossa vida já não está mais fechada sobre esta terra e esta terra não é mais a nossa prisão de morte. Ela está agora aberta ao céu. Mas esta abertura não nos tira das responsabilidades terrestres, porque exatamente nesta terra e neste momento presente que se lança a nossa vida futura, situada entre aquilo que “já” aconteceu em Cristo, e aquilo que “ainda não” aconteceu para nós. Mas certamente acontecerá” (Uma comunidade lê o Evangelho de Marcos, p.699). 

Voltemos a ouvir os textos bíblicos. Do livro de Daniel: “Naquele tempo […] será um tempo de angústia, como nunca houve até então, […] mas, neste tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem inscritos no Livro. […] brilharão como estrelas, por toda a eternidade”. O evangelista Marcos escreve: “Naqueles dias, depois da grande tribulação […] Então vereis o filho do Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. […] Os céus e terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o XXXIII Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Se somos adeptos do Filho do Homem, ou seja, de Jesus Cristo, deveremos em nossa vida praticar a justiça e lutar pela paz e pela verdade.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

O tema da liturgia deste domingo é o senhorio de Deus sobre a História. Muitas vezes pensamos, influenciados por inúmeros acontecimentos, que a vida corre seu rumo, independentemente da ação de Deus e que o Senhor nos olha, quando olha, de modo indiferente, ou até não se importando com o que fazemos ou sofremos.

A leitura do Livro de Daniel e o Evangelho de Marcos falam-nos exatamente o contrário e com uma linguagem um pouco incomum para nós, a  linguagem apocalíptica.

A primeira leitura, a de Daniel, pretende insistir com o povo que enfrente as opressões, as resista, venham de onde vierem. Ele diz que serão salvos os que tiverem seus nomes escritos no Livro. Mas que livro é esse? Não se trata de um livro, mas a linguagem apocalíptica quer no informar que Deus é o Senhor da História, tudo é de seu conhecimento e tudo, não importa o que seja, será transformado em benefício de seus filhos.

Evidentemente, aqueles que foram seguidores do Bem, ao morrerem irão para a Vida, os demais, os que foram opressores de seus irmãos, irão para a vergonha eterna.

O Evangelho apresenta Jesus nos falando sobre discernimento, sobre como discernir o momento de Deus em nossa vida. No relato de hoje somos levados ao discernimento quando acontecem situações catastróficas em nossa vida.

Marcos também nos fala que Deus é o Senhor da História. Ele se refere ao Filho do Homem, sobre sua vinda. Seu desejo é nos animar com o poder de Deus que age na História para nos salvar e julgar aqueles que se opõe ao seu Reino de justiça, de paz e de verdade.

Se somos adeptos do Filho do Homem, ou seja, de Jesus Cristo, deveremos em nossa vida praticar a justiça e lutar pela paz e pela verdade. Enfim, nos é pedido sermos homens e mulheres que amam seus semelhantes, que os tratam como irmãos.

O texto nos fala de realidades que serão passado, como o sol, a lua, as estrelas e as forças do céu; ao mesmo tempo nos apresenta as futuras, representadas pelos ramos verdes da figueira, sinais de que o Reino de Deus já está em nosso meio, acontecendo, se realizando!

Não nos deixemos perturbar por problemas e por aflições, mas saibamos que ao vivenciarmos essas experiências difíceis e dolorosas, estamos sob o olhar carinhoso de Deus, que vela por nós, que nos dá Sua graça para superarmos tudo isso. Será dentro dessas vicissitudes, que seremos salvos, se nelas nos portarmos como Seus filhos, tratando os demais como irmãos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O significado das letras gregas nos ícones

Mircea Moira | Shutterstock

Daniel Esparza - publicado em 15/11/24

Essas letras são essencialmente atalhos que ancoram o espectador na história divina que cada ícone apresenta. Aqui estão alguns dos mais comuns.

Na iconografia oriental, as cartas são parte integrante da narrativa teológica do próprio ícone. Os ícones ortodoxos gregos e russos geralmente apresentam letras ou abreviações, em grego ou eslavo eclesiástico, que servem como sinais espirituais e revelam camadas de significado para aqueles que entendem seu contexto.

Para aqueles menos familiarizados com essas linguagens ou convenções, aqui está um resumo das letras e abreviações mais comuns nos ícones e como interpretá-las.

Jesus

Uma das inscrições mais significativas que costumam aparecer nos ícones de Cristo é IC

Na verdade, essas são abreviações, uma prática comum nos textos gregos antigos e eslavos eclesiásticos, e geralmente são colocadas em ambos os lados da cabeça de Cristo.

Adam Jan Figel | Shutterstock

Junto com IC

Esta frase, muitas vezes numa auréola ou acima da cabeça de Cristo, enfatiza a natureza divina de Cristo como eterna e autoexistente - como diz o Credo, "gerado, não criado, da mesma natureza do Pai".

Maria

Os ícones que representam a Virgem Maria geralmente têm duas inscrições: ΜΡ ΘΥ (Μήτηρ Θεο), abreviatura grega de Mãe de Deus. Esta abreviatura, também em grego ou eslavo eclesiástico, é uma explicação do papel de Maria na história da salvação como Theotokos, ou "portadora de Deus".

Às vezes, as palavras Παναγία (Panagia), que significa "Toda Santa", acompanham imagens de Maria, sublinhando a sua pureza única e o seu papel na teologia cristã.

ArtMediaWorx | Shutterstock

Santos

Em cenas de santos, anjos ou figuras bíblicas, os nomes são frequentemente abreviados ou escritos por extenso como sinal de honra e identificação.

Por exemplo, São Jorge pode ser chamado de ΟΓΙΟC ΓΕΩΡΓΙΟC (Hagios Georgios), ou simplesmente ΓΓ como uma forma abreviada, com "Hagios" significando "Santo". Esta prática permite ao espectador reconhecer imediatamente as figuras e a sua herança espiritual, mesmo para além das barreiras linguísticas.

Eventos

Essas inscrições também se estendem às cenas narrativas. No ícone da Ressurreição, aparecem frequentemente as letras gregas ΝΑΣΤΑΣΙΣ (He Anastasis), que significa "A Ressurreição", enfatizando o evento representado, e não apenas uma figura. (Veja a imagem abaixo, que diz A Ressurreição de Cristo).

Da mesma forma, nos ícones da Natividade ou do Batismo de Cristo, as inscrições rotulam o evento, lembrando ao espectador o mistério sagrado geral que está sendo retratado, em vez de focar apenas nas pessoas envolvidas nele.

Roberto Sorin | Shutterstock

O Catecismo da Igreja Católica diz

1162 … a contemplação dos ícones sagrados, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado fique impresso na memória do coração e seja então expressá-lo na vida nova dos fiéis.

Essas letras são essencialmente atalhos que ancoram o espectador na história divina que cada ícone apresenta. Os ícones pretendem não apenas representar, mas também comunicar o mistério da Encarnação, da Ressurreição e da vida dos santos, e estas cartas aparentemente simples contêm elementos-chave que ajudam a decifrar estas verdades teológicas.

Ao aprender a reconhecê-los, os fiéis são convidados a uma contemplação mais profunda, experimentando os ícones não como imagens estáticas, mas como uma linguagem reveladora partilhada.

Aprenda sobre os diferentes símbolos cristãos e seus significados:


Fonte: https://es.aleteia.org/2024/11/15/el-significado-de-las-letras-griegas-en-los-iconos

Francisco: confiar no Evangelho para não viver com a angústia da morte

Angelus de 17 de novembro de 2024 - Papa Francisco (Vatican News)

No Angelus, o Papa recorda que, nas tribulações, nas crises, nos fracassos, é preciso olhar para a vida e para a história sem medo de perder o que acaba, mas com alegria pelo que permanece. A dor causada por guerras, violência, desastres naturais, pode nos ensinar a não nos apegarmos às coisas do mundo que inevitavelmente são destinadas a desaparecer. Tudo morre, mas “não perderemos nada do que construímos e amamos”.

https://youtu.be/YvdodNZGp5U

Antonella Palermo - Vatican News

Na reflexão do Angelus deste domingo, 17 de novembro, o Papa Francisco se detém sobre o que passa e o que permanece. Todas as realidades deste mundo estão destinadas a passar, o que permanecerá será o amor do qual teremos sido capazes.

Não se apegar ao que passa

Francisco comenta as leituras do dia, convidando-nos a superar o apego às coisas terrenas: crises e fracassos, ou a dor causada por guerras, violência, desastres naturais, que não podem e não devem nos mergulhar na desolação. A sensação de que tudo está chegando ao fim é apenas uma sensação, parece dizer o Papa, “sentimos que até as coisas mais belas passam”.

As crises e os fracassos, no entanto, embora dolorosos, são importantes, pois nos ensinam a dar a tudo o devido peso, a não prender o coração às realidades deste mundo, porque elas passarão: estão destinadas a passar.

Tudo morre, não o que construímos e amamos

O convite do Papa é para viver de acordo com a promessa de eternidade e ressurreição do Evangelho. É isso que torna possível “não viver mais sob a angústia da morte”.

Tudo morre e nós também morreremos um dia, mas não perderemos nada do que construímos e amamos, porque a morte será o início de uma nova vida. Irmãos e irmãs, mesmo nas tribulações, nas crises, nos fracassos, o Evangelho nos convida a olhar a vida e a história sem medo de perder o que acaba, mas com alegria pelo que permanece: não nos esqueçamos que Deus prepara para nós um futuro de vida e alegria.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 16 de novembro de 2024

Da Homilia de um Autor do século segundo

A justiça (Província Agostiniana do Brasil)

Da Homilia de um Autor do século segundo

(Cap.18,1-20,5: Funk 1,167-171)

Pratiquemos a justiça para alcançarmos a salvação

Quanto a nós, sejamos daqueles que dão graças, daqueles que servem a Deus; e não, dos ímpios que serão condenados. Na verdade, eu, mesmo pecador, que não sei fugir das tentações, e ainda vivo em meio das pompas do demônio, esforço-me por seguir a justiça, a fim de, no temor do futuro juízo, poder ao menos chegar perto dela.

Portanto, irmãos e irmãs, tendo nós ouvido o Deus da Verdade, leio-vos uma exortação. Se prestardes atenção ao que está escrito, vós vos salvareis e também aquele que lê diante de vós. Peço esta paga: que de todo o coração façais penitência, dando-vos assim a salvação e a vida. Agindo desse modo, apresentaremos uma finalidade aos jovens que querem dedicar seus esforços à santidade e à bondade de Deus. Não levemos a mal nem nos indignemos, nós insensatos, se alguém nos chama a atenção e quer nos converter da injustiça para a justiça. Acontece às vezes que, procedendo mal, não o percebemos por causa da duplicidade e incredulidade que existem em nossos corações e nossa mente é obscurecida por vãs inclinações.

Cumpramos, pois, a justiça para no fim sermos salvos. Felizes os que obedecem a estes preceitos; embora por breve tempo padeçam no mundo, hão de colher o incorruptível fruto da ressurreição. Não se entristeça o cristão, se neste tempo suporta a miséria; espera-o um tempo feliz.

Ao recobrar a vida, junto com os antepassados, no Alto, alegrar-se-á para sempre, nunca mais a tristeza o perturbará.

E também não se abale nosso espírito, quando vemos ricos os injustos e em dificuldades os servos de Deus. Tenhamos fé, irmãos e irmãs: suportamos as lutas do Deus vivo e somos provados nesta vida para recebermos a coroa na futura. Nenhum justo recolhe um fruto imediato, mas aguarda-o. Porque, se Deus desse logo a recompensa aos justos, nos entregaríamos então a um negócio e não à virtude; pareceríamos querer ser justos por causa do lucro, não do serviço de Deus. Por isto, o juízo divino perturba o espírito que não é justo e torna mais pesadas as cadeias.

Ao único Deus invisível, ao Pai da verdade que nos enviou o salvador e doador da incorruptibilidade, por meio de quem nos manifestou a verdade e a vida celeste, a ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

As Sagradas Escrituras e a Tradição

Bíblia, Tradição e Magistério (A12)

As Sagradas Escrituras e a Tradição

Concílio Vaticano II descreve a Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras como sendo “semelhante a um espelho em que a Igreja peregrinante na terra contempla a Deus” (Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a Revelação Divina, nº 7). 

A palavra revelada de Deus chega até você mediante palavras faladas e escritas por seres humanos. A Escritura Sagrada é a Palavra de Deus “enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo”(Dei Verbum, nº 9). A sagrada Tradição é a transmissão da Palavra de Deus pelos sucessores dos apóstolos. Juntas, a Tradição e a Escritura constituem um só sagrado depósito da palavra de Deus, confiado à Igreja”(Dei Verbum, nº 10). 

A Bíblia: seus livros e sua mensagem 

A Sagrada Escritura, a Bíblia, é uma coleção de livros. Conforme o cânon da Escritura (a lista dos livros que a Igreja católica aceita como autênticos), a Bíblia contém 73 livros. Os 46 livros do Antigo Testamento foram escritos aproximadamente entre os anos 900 a.C. e 160 a.C. – isto é, antes da vinda de Cristo. Os 27 livros do Novo Testamento foram escritos aproximadamente entre os anos 50 D.C. e 140 D.C.

A coleção do Antigo Testamento é constituída de livros históricos, didáticos (que ensinam) e proféticos (que contém as palavras inspiradas dos profetas, pessoas que experimentavam a Deus de maneiras especiais e eram seus autênticos porta-vozes). Esses livros, com poucas exceções, foram escritos originalmente em hebraico.

Em síntese, os livros do Antigo Testamento são um testemunho da experiência que o povo israelita teve de Javé, “o Deus de seus pais” (veja Êx 3, 13-15). No seu conjunto, esses livros revelam a reflexão de Israel sobre a realidade pessoal do Deus único, Javé, que age na história humana, guiando-a com um plano e um objetivo. Javé, o Deus do Antigo Testamento, é o mesmo Deus que Jesus, um judeu, chamava de Pai.

Os livros do Novo Testamento, escritos originalmente em grego, são constituídos de Evangelhos (proclamações da Boa-Nova) e Epístolas (cartas). Primeiro, na ordem em que aparecem na Bíblia, estão os Evangelhos chamados sinóticos (do grego synoptikos, ver o conjunto ao mesmo tempo), porque em boa parte eles contam a mesma história da mesma maneira. O livro intitulado Atos dos Apóstolos, que vem após o Evangelho de São João (também denominado Quarto Evangelho) completa a imagem de Jesus encontrada nos três Evangelhos sinóticos.

A seguir vem as Epístolas de São Paulo – os documentos mais antigos do Novo Testamento – que foram escritas em cada caso para responder a necessidades particulares das várias comunidades cristãs locais.

Depois das Epístolas de Paulo vêm as Epístolas Católicas. Essas cartas são chamadas católicas, ou universais, porque não foram escritas em vista de determinadas necessidades das igrejas locais, mas com temas importantes para todas as comunidades cristãs.

O último livro do Novo Testamento é o Apocalipse, mensagem de esperança para os cristãos perseguidos, prometendo o triunfo final de Cristo na história.

tema fundamental do Novo Testamento é Jesus Cristo. Cada livro revela um aspecto diferente do seu mistério. Os quatro Evangelhos referem as palavras e atos de Jesus como eram recordados e transmitidos nas primeiras gerações da Igreja. Narram a história da sua Paixão e Morte, e o que esta morte significa à luz da sua Ressurreição. Em certo sentido, os Evangelhos começaram com a Ressurreição; a doutrina de Jesus e os fatos de sua vida adquiriram sentido para os primeiros cristãos só depois da Ressurreição. Os Evangelhos refletem a fé comum dos primeiros cristãos no Senhor que ressuscitou e agora habita no meio de nós.

Os escritos do Novo Testamento não relatam quem Jesus era, mas quem Ele é. Mais que meros documentos históricos, esses escritos têm o poder de mudar a sua vida. No “espelho” do Novo Testamento você pode encontrar Jesus Cristo. Se você aceita o que vê neste espelho, o sentido que Jesus tem para você, na sua situação concreta, você pode também encontrar-se consigo mesmo.

A tradição, o Vaticano II e os Santos Padres 

A Sagrada Tradição é a transmissão da Palavra de Deus. Esta transmissão é feita oficialmente pelos sucessores dos apóstolos, e não oficialmente por todos os que cultuam, ensinam e vivem a fé, tal como a Igreja a entende.

Certas ideias e costumes originam-se do processo da Tradição e se tornam meios para ela, alguns até mesmo por vários séculos. Mas um produto da Tradição constitui um elemento básico seu, apenas quando tal produto serviu para transmitir a fé numa forma invariável desde os primeiros séculos da Igreja. Exemplos de elementos básicos são a Bíblia (como um instrumento tangível usado na transmissão da fé), o Símbolo dos Apóstolos ou Credo, e as formas básicas da liturgia da Igreja.

Numa determinada época, um produto da Tradição pode exercer um papel especial na transmissão da fé. Os documentos dos concílios ecumênicos são disso os principais exemplos. Concílio Ecumênico é uma assembleia oficial de todos os bispos do mundo que estão em comunhão com o Papa, com a finalidade de tomar decisões. Os ensinamentos de um Concílio Ecumênico – produtos da Tradição no sentido estrito – desempenham uma função decisiva no processo da Tradição. Os documentos do Concílio de Trento, realizado no séc. XVI, desempenharam tal função. Assim também sucedeu com os documentos do Concílio Vaticano I, celebrado no séc. XIX.

Nos nossos dias, os documentos do Concílio Vaticano II estão exercendo o mesmo papel no processo da tradição. Conforme declarou o Papa Paulo VI numa alocução de 1966. “Devemos dar graças a Deus e ter confiança no futuro da Igreja, quando pensamos no Concílio: ele será o grande catecismo dos nossos tempos”.

O Vaticano II fez o que a Igreja docente sempre tem feito: expressou o conteúdo imutável da revelação, traduzindo-o para formas de pensamento do povo de acordo com a cultura de hoje. Mas esta “tradução do conteúdo imutável” não é como que vestir notícias velhas com linguagem nova. Como afirmou o Vaticano II: “Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Cresce, com efeito, a compreensão tanto das coisas como das palavras transmitidas… no decorrer dos séculos, a Igreja tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que se cumpram nela as palavras de Deus”. (Dei Verbum, nº 8). 

Pelo Vaticano II a Igreja deu ouvidos ao Espírito, empenhou-se na sua “tarefa de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no Mundo Moderno, nº 4). Nem sempre é claro aonde o Espírito está nos conduzindo. Mas o terreno no qual nós, a Igreja, caminhamos adiante da nossa peregrinação é firme: o Evangelho de Cristo. Nesta etapa da nossa história, um de nossos instrumentos básicos de Tradição – de transmissão da fé – são os documentos do Vaticano II.

A Tradição é um processo inteiramente pessoal. A fé é transmitida de pessoa para pessoa. Papas e Bispos, sacerdotes e religiosos, teólogos e mestres transmitem a fé. Mas as pessoas mais envolvidas nesse processo são os pais e seus filhos. Filhos de pais chineses dificilmente aprendem um dialeto irlandês. E filhos de pais não-praticantes dificilmente aprendem uma fé profunda e vivencial. Assim, com relação à Tradição, guarde bem na memória as palavras do célebre sacerdote e educador inglês, Cônego Drinkwater: “Você educa até certo ponto… pelo que você diz, mais pelo que você faz e ainda mais pelo que você é; mas acima de tudo, pelas coisas que você ama”.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/10-as-sagradas-escrituras-e-a-tradicao/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF