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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei.

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida

Quando explicamos o porquê de nossas reações espontâneas, muitas vezes, em vez de dizer “é que sou assim”, teríamos que admitir: “eu me fiz assim”. Editorial sobre a formação do caráter na vida do cristão.

20/01/2015

Caminhar acompanhados

Dentro dos planos divinos, a vida foi feita para ser compartilhada: o Senhor conta com a ajuda mútua entre os seres humanos. Constatamos isso, de fato, todos os dias: quantas vezes nem sequer somos capazes de satisfazer as necessidades mais básicas e primárias de maneira individual. Ninguém pode ser completamente autônomo. Num nível mais profundo, todas as pessoas notam essa necessidade de abrir-se a outra pessoa, de compartilhar a existência, de dar e receber amor. «Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem»[9].

Esta natural abertura para os outros chega ao seu auge nos planos redentores do Senhor. Quando recitamos o Símbolo dos Apóstolos, confessamos que cremos na comunhão dos santos, comunhão que é o núcleo da Igreja. Por isso, na vida espiritual, também é indispensável aprender a contar com a ajuda dos outros, que estão implicados de um modo ou de outro em nossa relação com Deus: recebemos a fé através dos ensinamentos de nossos pais e catequistas; participamos dos sacramentos que celebra um ministro da Igreja; acudimos ao conselho espiritual de outro irmão na fé, que também reza por nós; etc.

Saber que caminhamos acompanhados na vida cristã enche-nos de alegria e tranquilidade, sem que diminua nosso próprio empenho por alcançar a santidade. Mesmo que muitas vezes nos deixemos levar pelas mãos, nosso papel não se limita a isso. São Josemaria, ao referir-se à vida espiritual, manifestava que o conselho não elimina a responsabilidade pessoal. E concluía: a direção espiritual deve tender a formar pessoas de critério[10]. Por isto, não queremos que tomem resoluções por nós, nem deixar de pôr esforço nas tarefas que assumimos.

Ao mesmo tempo em que reconhecemos a ajuda indispensável dos outros, temos de ser conscientes de que, na vida espiritual é o Senhor quem atua através deles para transmitir-nos a sua luz e força. Isto nos dá segurança para continuar caminhando para a santidade quando, por um motivo ou outro, faltam aquelas pessoas que tinham um papel importante na nossa vida cristã. Neste sentido, também temos uma profunda liberdade de espírito em relação às pessoas que Deus pôs ao nosso lado, a quem amamos pelo coração de Cristo, e cujo apoio agradecemos profundamente.

Livres para amar sem condições

Os cristãos sabemos que a plenitude pessoal chega como fruto da livre e total disponibilidade aos desejos do Amor de um Deus Criador, Redentor e Santificador. Os dons que recebemos alcançam seu rendimento máximo ao abrir-nos à graça de Deus, como confirma a experiência de tantos santos e santas. Ao deixarem que o Senhor entrasse nas suas vidas, souberam pôr-se amorosamente a seu serviço, como Santa Maria que, no momento da Anunciação pronuncia a resposta firme: Fiat! - faça-se em mim segundo a tua palavra! -, o fruto da melhor liberdade: a de decidir-se por Deus[11].

Quando uma pessoa decide-se por Deus, empenha seus sonhos e energias no que vale mais a pena. Percebe o sentido último da liberdade, que não está simplesmente em poder escolher uma coisa ou outra, mas em dispor da vida para algo grande, aceitando compromissos definitivos. Dedicar as próprias qualidades a seguir a Cristo, mesmo que implique recusar outras opções, traz felicidade, o cem por um na terra e a vida eterna[12]. Reflete também um alto grau de maturidade interior, pois só quem tem una personalidade com convicções é capaz de comprometer-se de uma maneira total: Livremente, sem coação alguma, porque me apetece, eu me decido por Deus[13].

Abandonar passado, presente e futuro no Senhor

A alma que opta por Deus move-se com uma paz interior que supera qualquer tribulação. Sei em quem acreditei[14]: são palavras que expressam a confiança de São Paulo em meio às dificuldades por ser fiel à sua vocação de apóstolo das gentes. Quem põe o fundamento no Senhor goza de uma segurança inquebrantável, e isto lhe permite doar-se também aos outros: vivendo o celibato por motivos apostólicos, no matrimônio ou em tantos outros caminhos que pode levar a existência cristã. É uma entrega que envolve presente, passado e futuro, como rezava São Josemaria: Senhor, meu Deus! Em tuas mãos abandono o passado, o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o temporal e o eterno[15].

Ninguém pode mudar o passado. No entanto, o Senhor pega a história de cada um, perdoa os pecados que possam ter existido através do sacramento da Reconciliação e reintegra harmoniosamente esses eventos na vida de seus filhos. Tudo é para o bem[16]: inclusive os erros que cometemos, se sabemos recorrer à misericórdia divina e, com a graça de Deus, procuramos viver no presente mais pendentes dEle. Assim se está também em condições de ver com confiança o futuro, pois sabemos que está nas mãos de um Pai que nos ama: quem está nas mãos de Deus, cai e se levanta sempre nas mãos de Deus!

Decidir-se por Deus é aceitar o seu convite para escrever nossa biografia com Ele. Reconhecendo humildemente a liberdade como um dom, aplicamo-la em cumprir, em companhia de tantas outras pessoas, a missão que o Senhor nos confia. E experimentamos com alegria que seus planos superam nossas previsões, como dizia São Josemaria a um jovem: Deixa-te levar pela graça! Deixa teu coração voar! (...). Faça tua pequena novela: uma novela de sacrifícios e de heroísmos. Com a graça de Deus ficareis aquém[17].

J.R. García-Morato


[9] Bento XVI, Enc. Spe Salvi, n. 48

[10] São Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, n. 93

[11] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 25

[12] Mt 19, 29

[13] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 35

[14] 2 Tim 1,12

[15] São Josemaria Escrivá, Via Sacra, VII estação, n. 3

[16] Rom 8,28

[17] São Josemaria, anotações tomadas numa tertúlia, 29/11/1974 (AGP, biblioteca, P04, p. 45).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/protagonistas-da-nossa-vida/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF