Paulo
Teixeira - publicado em 04/09/25
Qual a mensagem de um influencer do século XIII para os
jovens de hoje?
Outro dia estava conversando com um frade franciscano e reclamando que os
jovens de hoje só pensam em videogame, redes sociais e celular, que isso tira
diversas habilidades deles, que, na minha visão, era uma tragédia. O frade me
questionou: Se você precisasse de fazer uma cirurgia delicada aceitaria um
desses jovens do videogame para executá-la? Respondi que de jeito nenhum. Aí
ele emendou: Se a cirurgia fosse realizada por um robô e precisasse de uma
espécie de joystick para realizar o procedimento. Você confiaria na
habilidade dessas mãos? Aí respondi que sim e ri pensando que eu não sei usar
um joystick e não tenho habilidade para uma atividade que requeira uso de
dispositivo semelhante.
A mesma coisa com o celular. Em geral vemos as crianças
pequenas com celular e achamos curioso como são hábeis. Na minha empresa, por
exemplo, a marcação de ponto é feita no smartphone de cada pessoa. Os mais
jovens marcam o ponto sem olhar, com rapidez; nós, mais antigos, temos que
firmar os olhos, distanciar o aparelho e nos concentrar para marcar certo.
Os jovens e as redes sociais
Nas comunidades católicas os adolescentes e jovens também
vivem com suas particularidades. Por exemplo, vejo nas missas dominicais jovens
que não usam folheto para acompanhar os cantos, mas pelo smartphone
seguem as canções; em um mosteiro vi um monge idoso com seus livros para
recitação do ofício divino e um jovem que tirava o celular do bolso para rezar;
uma vez me sentei ao lado de um bispo emérito com meu breviário para a oração
das vésperas, e o bispo sacou seu tablet. “estou muito velho para rezar com
livros” disse ele que, de fato, enxergava melhor com o dispositivo.
Os mais jovens se comunicam pelos dispositivos, e também se
comunicam com Deus por meio deles. Vivem a fé enraizados em sua cultura, que é
a cibercultura.
Influenciar a cultura
São Francisco de Assis era um jovem influencer em sua
cidade. Percorria as ruas de Assis criando tendências, almejava ser cavaleiro,
tinha amigos e seguidores. Quando se converteu, São Francisco procurou a
solidão e o isolamento. Mas compreendeu que Deus não o tinha chamado para se
fechar, mas para pregar. Assim, São Francisco não deixou sua cultura, mas
procurou evangelizar aquele contexto social. São Francisco era um influencer da
juventude, passou a influenciar muito mais com seu testemunho de vida.
São Francisco tinha a vida contemplativa, mas também
pregava, viajava e encontrava as pessoas. Escreveu muitas cartas também. Já
pensou se tivesse internet no século XIII? Já imaginou os perfis de São
Francisco nas redes sociais? Os seguidores? Os blogs?
Desafio
O desafio para nós, hoje é ser São Francisco nas redes; ser
como Santa Clara nos contatos; que nossos perfis nas redes tenham a “cara” de
Jesus. Para o adolescente e jovem fiel, esse desafio é a realidade. Como os
“jovens do joystick” podem ser habilidosos cirurgiões, também os jovens da
Igreja são aqueles que tem a capacidade de evangelizar no mundo virtual. Como
São Francisco, podem influenciar essa cultura em que vivem, ao invés de se
afastar dela.
Temos medo dos haters, da incompreensão e talvez
da falta de profissionalismo. Surgem em nós perguntas totalmente justificadas:
por que entrar em tais novidades? Não é suficiente preparar bem o que acontece
na igreja: catequese, homilias diárias, celebrações, reuniões com os grupos?
Além disso, vemos que as mídias sociais são perigosas. Mas é uma presença
necessária e está nas habilidosas mãos juvenis levar a Igreja ao ciberespaço da
melhor maneira possível.
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