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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Papa aos comunicadores: contrastar as fake news, mas não isolar os que têm dúvidas

Encontro do Papa com os membros do Consórcio internacional da mídia
católica "Catholic fact-checking" | Vatican News

"Se for necessário combater as fake news, as pessoas devem sempre ser respeitadas porque muitas vezes aderem inconscientemente a elas". Palavras do Papa no encontro com aos membros do Consórcio internacional da mídia católica "Catholic fact-checking" nesta sexta-feira (28) no Vaticano.

Adriana Masotti – Vatican News

Dirigindo-se aos membros do consórcio internacional da mídia católica "Catholic fact-checking", o Papa Francisco convida a refletir sobre o estilo dos comunicadores cristãos diante de certas questões relacionadas com a pandemia. Para isso, ele cita algumas expressões de São Paulo VI presentes na Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais de 1972, onde ele reconheceu o poder dos instrumentos de comunicação social sobre o comportamento e as escolhas das pessoas. O Papa Paulo VI dizia ainda que "a excelência da tarefa do informante consiste não apenas em destacar o que é imediatamente perceptível, mas também em buscar elementos de enquadramento e explicação sobre as causas e circunstâncias de cada fato que ele deve relatar". Uma tarefa, portanto, que requer um senso de responsabilidade e rigor. Francisco continua:

“O Papa Montini falava da comunicação e da informação em geral, mas suas palavras estão muito de acordo com a realidade se pensarmos em certas desinformações que circulam hoje na web. De fato, vocês se propõem em chamar a atenção às fake news e informações tendenciosas ou enganosas sobre as vacinas Covid-19, e o fazem colocando em rede com diferentes mídias católicas e envolvendo vários especialistas.”

Estar juntos pela verdade

Francisco lembra que o objetivo do Consórcio é "estar juntos pela verdade". Estar juntos, o trabalho em rede, disse, é fundamental no campo da informação e, em um tempo de divisões, já é um testemunho. Hoje, além da pandemia, observou, a "infodemia" se espalhou, ou seja, "a distorção da realidade baseada no medo, que na sociedade global faz ecos e comentários sobre notícias falsificadas ou mesmo inventadas". A multiplicação de informações e a circulação dos chamados pareceres científicos também podem gerar confusão. É necessário, continua o Papa, citando o que ele já havia dito em um discurso em outubro de 2021, "fazer aliança com a pesquisa científica sobre doenças, que progride e nos permite combater melhor", considerando sempre que o conhecimento deve ser compartilhado.

Isto também se aplica às vacinas, recordou o Papa:

“Há uma necessidade urgente de ajudar os países que têm menos, mas isto deve ser feito com planos a longo prazo, não apenas motivados pela pressa das nações ricas em serem mais seguras”.

"Os remédios devem ser distribuídos com dignidade, e não como esmolas de piedade. Para fazer um bem real, é preciso promover a ciência e sua aplicação integral. Portanto, estar corretamente informado, ser ajudado a entender com base em dados científicos e não em fake news, é um direito humano.

A palavra "para"

A segunda palavra que o Papa Francisco enfatiza é para, uma palavra pequena, mas cheia de significado: os cristãos, comentou, são contra as mentiras, mas sempre em prol das pessoas. Não devemos esquecer a "distinção entre as notícias e as pessoas". Se for necessário combater as fake news, as pessoas devem sempre ser respeitadas porque muitas vezes aderem inconscientemente a elas. E o Papa afirma ainda:

"O comunicador cristão faz seu o estilo evangélico, constrói pontes, é um artífice da paz também e sobretudo na busca da verdade. Sua abordagem não é de oposição às pessoas, ele não assume atitudes de superioridade, ele não simplifica a realidade, para não cair em um fideísmo do estilo científico. Na verdade, a própria ciência é uma contínua aproximação à resolução dos problemas. A realidade é sempre mais complexa do que pensamos, e devemos respeitar as dúvidas, ansiedades e perguntas das pessoas, tentando acompanhá-las sem jamais tratá-las com superioridade".

O Papa Francisco sublinha mais uma vez o dever como cristãos de fazer todo o possível para "evitar a lógica da contraposição", sempre tentando aproximar e acompanhar o percurso das pessoas. "Tentemos trabalhar pela informação correta e verdadeira sobre a Covid-19 e sobre as vacinas", afirmou, "mas sem criar muros, sem criar isolamentos".

Verdade

A terceira palavra que Francisco prende em consideração é verdade, que deve ser sempre procurada e respeitada pelos comunicadores. O Papa adverte a este respeito:

"A busca da verdade não pode ser levada a uma perspectiva comercial, aos interesses dos poderosos, aos grandes interesses econômicos. Ficar juntos pela verdade significa também buscar um antídoto para algoritmos destinados a maximizar a rentabilidade comercial, significa promover uma sociedade informada, justa, saudável e sustentável. Sem uma correção ética, estes instrumentos geram ambientes de extremismo e levam as pessoas a uma radicalização perigosa".

A verdade para o cristão, continuou o Papa, não se trata apenas de coisas individuais, mas de toda a existência e também inclui significados relacionais como "apoio, solidez, confiança". E o único "verdadeiramente confiável e digno de confiança, com quem se pode contar, que é 'verdadeiro', é o Deus vivo". Jesus disse de si mesmo: "Eu sou a verdade". E conclui indicando novamente um estilo preciso de comunicação:

“Trabalhar ao serviço da verdade significa, portanto, buscar o que favorece a comunhão e promove o bem de todos, não o que isola, divide e se opõe.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São José Freinademetz

S. José Freinademetz | arquisp
28 de janeiro

São José Freinademetz

José Freinademetz nasceu no dia 15 de abril de 1852, na cidade de Oites, no Tirol do Sul, que na ocasião era território austríaco, mas a cidade hoje se chama Alta Badia e pertence a Itália. Seus pais eram camponeses muito pobres, tiveram treze filhos e formaram uma família muito cristã.

O pequeno José, desde a infância queria ser um missionário. Estudou no seminário diocesano de Bressanone, onde foi ordenado sacerdote em 1875. Depois de três anos de ministério em São Martino, na Alta Badia, com autorização de seu Bispo, ingressou na Sociedade do Verbo Divino, em Steyl, na Holanda, para ser um missionário.

Em 1879, recebendo a cruz dos verbitas, foi enviado para a missão da China. Ficou dois anos em Hong Kong, para adaptação dos costumes, e depois foi enviado para a primeira missão católica em Shandong do Sul, junto com um companheiro da Ordem, o holandês João Batista Anzer.

Os dois missionários encontraram uma comunidade minúscula de cristãos, com menos de duzentos fiéis. Começaram a evangelização com visitas pastorais em todas as vilas, contatando as pessoas e as famílias, pois o total de habitantes era de nove milhões.

Aos poucos o povo se afeiçoou ao caridoso, ativo e incansável Padre José, a quem deram o nome chinês de Padre Fu Shen Fu, que significa Padre Feliz. Com muita oração, fé na Divina Providência e extremo zelo missionário, conseguiram construir a Igreja, o seminário, o orfanato, a tipografia e a escola.

Até que em 1898, Padre José adoeceu e teve de se distanciar de sua querida Shandong, aliás ele só o fez esta única vez. Viajou para Nagasaki, no Japão, para tratar de uma tuberculose que iniciara. Mas retornou logo, mesmo sem estar totalmente curado.

Em 1900, quando a China viveu a rebelião dos Boxer, e os cristãos eram perseguidos por seus integrantes, Padre José permaneceu firme ao lado do seu rebanho, rezando e sofrendo com eles. Recusou viajar para a Holanda e participar das celebrações do jubileu de prata da Congregação do Verbo Divino, que, por sinal, coincidiam com o de sua ordenação.

Sete anos depois o governo chinês declarou uma epidemia de tifo. Padre José, à frente no atendimento e socorro às vitimas, contraiu a moléstia e morreu no dia 28 de janeiro de 1908, em Taikia.

Nesta ocasião, a diocese já contava com quarenta mil adultos convertidos e cento e cinqüenta mil crianças batizadas. A sua entrega à vida missionária no segmento de Cristo e seu amor ao povo chinês ele expressou nesta declaração à um irmão verbita: "Se pudesse reaver a juventude, escolheria outra vez a minha vocação, escolheria ser missionário no sul de Shandong".

Canonizado no ano 2003, pelo Papa João Paulo II, São José Freinademetz é festejado no dia de sua morte, sendo reconhecido o "Padre fundador da Igreja do Sul da província de Shandon".

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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São Tomás D'Aquino

S. Tomás D'Aquino | arquisp
28 de janeiro

São Tomás D'Aquino

Doutor da Igreja, professor de teologia, filosofia e outras ciências nas principais universidades do mundo em seu tempo; frei caridoso, estudioso dos livros sagrados, sucessor na importância teórica de São Paulo e Santo Agostinho. Assim era Tomás d'Aquino, que não passou de um simples sacerdote. Muito se falou, se fala e se falará deste Santo, cuja obra perdura atualíssima ao longo dos séculos. São dezenas de escritos, poesias, cânticos e hinos até hoje lidos, recitados e cantados por cristãos de todo o mundo.

Tomás nasceu em 1225, no castelo de Roccasecca, na Campânia, da família feudal italiana dos condes de Aquino. Possuía laços de sangue com as famílias reais da Itália, França, Sicília e Alemanha, esta ligada à casa de Aragão. Ingressou no mosteiro beneditino de Montecassino aos cinco anos de idade, dando início aos estudos que não pararia nunca mais. Depois, freqüentou a Universidade de Nápoles, mas, quando decidiu entrar para a Ordem de São Domingos encontrou forte resistência da família. Seus irmãos chegaram a trancá-lo num castelo por um ano, para tentar mantê-lo afastado dos conventos, mas sua mãe acabou por libertá-lo e, finalmente, Tomás pôde se entregar à religião. Tinha então dezoito anos. Não sendo por acaso a sua escolha pela Ordem de São Domingos, que trabalha para unir Ciência e Fé em favor da Humanidade. Este sempre foi seu objetivo maior.

Foi para Colônia e Paris estudar com o grande Santo e doutor da Igreja, Alberto Magno. Por sua mansidão e silêncio foi apelidado de "boi mudo", por ser também, gordo, contemplativo e muito devoto. Depois se tornou conselheiro dos papas Urbano IV, Clemente IV e Gregório X, além do rei São Luiz da França. Também, lecionou em grandes universidades de Paris, Roma, Bologna e Nápoles e jamais se afastou da humildade de frei, da disciplina que cobrava tanto de si mesmo quanto dos outros e da caridade para com os pobres e doentes.

Grande intelectual, vivia imerso nos estudos, chegando às vezes a perder a noção do tempo e do lugar onde estava. Sua norma de vida era: "oferecer aos outros os frutos da contemplação". Sábios e políticos tentaram muitas vezes homenageá-lo com títulos, honras e dignidades, mas Tomás sempre recusou. Escrevia e publicava obras importantíssimas, frutos de seus estudos solitários desfrutados na humildade de sua cela, aliás seu local preferido. Seus escritos são um dos maiores monumentos de filosofia e teologia católica.

Tomás D'Aquino morreu muito jovem, sem completar os quarenta e nove anos de idade, no mosteiro de Fossanova, a caminho do II Concílio de Lion, em 07 de março de 1274, para o qual fora convocado pelo papa Gregório X. Imediatamente colégios e universidades lhe prestaram as mais honrosas homenagens. Suas obras, a principal, mais estudada e conhecida, a "Summa Teológica", foram a causa de sua canonização, em 1323. Disse sobre ele, nessa ocasião, o papa João XXII: "Ele fez tantos milagres, quantas proposições teológicas escreveu". É padroeiro das escolas públicas, dos estudantes e professores.

No dia 28 de janeiro de 1567, o papa São Pio V lhe deu o título de "doutor da Igreja", e logo passou a ser chamado de "doutor angélico", pelos clérigos. Em toda a sua obra filosófica e teológica tem primazia à inteligência, estudo e oração; sendo ainda a base dos estudos na maioria dos Seminários. Para isso contou, mais recentemente, com o impulso dado pelo incentivo do papa Leão XIII, que fez reflorescer os estudos tomistas.

A sua festa litúrgica é celebrada no dia 28 de janeiro ou no dia 07 de março. Seus restos mortais estão em Tolouse, na França, mas a relíquia de seu braço direito, com o qual escrevia, se encontra em Roma.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A Idade Moderna – De Erasmo a Nietzsche (Parte 6/6)

Presbíteros

A Idade Moderna
De Erasmo a Nietzsche
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
por Eric Voegelin

Tradução e abreviação de M. C. Henriques, Lisboa, Ática, 1996

§ 7 O Princípio do Fim

Em 1520, Lutero atingira o cume das suas capacidades. A partir de então as circunstâncias obrigaram-no a escrever cada vez mais e a dizer cada vez menos com tantas modificações que acabava por contradizer posições anteriores. Já não é a história de uma doutrina mas a de um homem que está a inaugurar um período de mais de 100 anos de revoluções e guerras religiosas.Von weltlicher Oberkeit wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei de 1523 é, talvez, a sua mais detalhada exposição das ideias políticas e que, como o título indica, lida com a autoridade temporal. Em alguns territórios alemães (Meissen e Baviera por exemplo) fora proibida a tradução do Novo Testamento e as pessoas intimadas a entregar os exemplares que possuíam. Aconselha os seus fiéis a desobedecer às leis e a sofrer como os mártires. Para se justificar expôs a doutrina da instituição divina da autoridade temporal e a obrigação do cristão em desobedecer civilmente se a autoridade prevaricasse. A argumentação parte de Romanos,13,1 e ss., epístola endereçada a uma comunidade romano-cristã, vivendo sob autoridades pagãs, e a que um pouco de ordem nas suas más inclinações e atitudes apenas faria bem. No Apelo de 1520, considerara, em continuidade com a tradição medieval, que a função governamental se tornara uma das funções carismáticas do corpo místico; o estado cristão coincidia com a nação; a nobreza alemã podia ser chamada para levar a cabo a reforma nacional-cristã. As ideias de 1520 eram ainda reforma. Três anos depois tudo mudara. A individualização da experiência religiosa destruíra o equilíbrio entre os poderes carismáticos temporal e espiritual. O governante é um não-cristão que persegue os bons cristãos luteranos. Deve invocar-se a nova autoridade espiritual contra o poder temporal que se tornou não- cristão. Os fiéis devem seguir a Bíblia contra a Igreja e seus concílios. O poder espiritual tornara-se o Anticristo, o temporal era tirânico, o indivíduo estava entregue a si próprio. Situação insuportável? Mas levou mais de 100 anos a ser estabilizada. Neste sentido, 1523 é o fim da Idade Média.

Ao destruir-se o equilíbrio entre autoridades institucionais espiritual e temporal, todos os homens pertencem quer ao Reich Gottes (os fiéis) quer ao Reich der Welt cuja espada pune os atos malvados. Os cristãos não carecem da espada porque vivem em paz; mas devem respeitar o poder da espada porque é útil ao seu próximo. E assim é possível satisfazer dois senhorios, o reino de Deus e o reino do Mundo. Infelizmente não é fácil satisfazer a dois senhores. A civitas Dei e a civitas terrena de Agostinho não são reinos no tempo. Na história concreta existe Igreja e império. A Igreja representa a Civitas Dei mas boa parte dos seus membros pertencem à civitas terrena. A salvação é um dom divino imperscrutável. Lutero regressa ao significado de Tyconius. A ideia de Igreja é destruída pela doutrina que só a fé salva. Ser cristão é comprar a Bíblia de Lutero e seguir a consciência. A civitas dei torna-se demasiado fácil e visível. Ora a consciência de ser bom Cristão é muito fácil de surgir. Se aparece alguém que se considera bom cristão e que só pratica iniquidades que se lhe pode responder? E se for um movimento de massas que pedem a abolição da autoridade temporal porque o reino de deus já chegou? Poderiam sobrevir abusos da liberdade evangélica. A solução era remeter os abusadores para o redil do governo temporal. Mas se o governo temporal age mal? Se interfere com os cristãos e os proíbe de ler as Bíblias que Lutero traduzira? Deverá o cristão então resistir? Em resumo, não há solução.

Quando a ordem institucional destruída fica à mercê do decisisonismo da consciência individual é a guerra de todos contra todos. A nova ordem terá que ser imposta às consciências rebeldes. Esta é origem da razão de estado, aceite pelas Igrejas. Mas de momento é só o princípio. A liberdade evangélica significava, por exemplo, o que vinha no III dos Doze Artigos dos servos camponeses revoltados (1525) um documento de inegável grandeza humana: “Tem sido costume até agora que os homens nos possuam como sua propriedade; e isto é lamentável vendo que Cristo nos redimiu a todos com o precioso derramamento do seu sangue, aos humildes bem como aos grandes, sem excepção de ninguém. Portanto é conforme às Escrituras que sejamos livres e assim o queremos ser.” Que respondeu Lutero? “Isto é tornar a liberdade cristã uma realidade totalmente carnal. Não tiveram também escravos Abraão e outros patriarcas?. Este artigo tornaria todos os homens iguais e converteria o reino espiritual de Cristo num reino mundano e externo; e isso é impossível porque um reino mundano não pode ficar em pé a menos que nele exista a desigualdade, de modo a que uns sejam livres, outros presos, uns senhores e outros súbditos “. Os camponeses não o escutaram, seguiram outra interpretação das Escrituras e o seu coração tomou a decisão da revolução social violenta. Em 1523 aconselhara no escrito Von weltlicher Oberkeit : “A heresia é um assunto espiritual que não pode ser cortado com o ferro, queimado com o fogo ou afogado em água“. Em 1525 pediu aos nobres e aos cavaleiros para massacrar os heréticos. Os cavaleiros não se fizeram rogados. Foi o fim do sonho da Reforma através da palavra. Lutero viveu ainda 20 anos. Mas nada mais tinha para dizer. Em cerca de oito anos criara ideias decisivas para o decurso da história da consciência moderna e perante as quais o cisma Protestante é quase secundário.

1. Destruíra o núcleo da cultura espiritual cristã ao atacar a doutrina da fides caritate formata. Reduzira a fé a um ato de confiança ao retirar-lhe a intimidade da graça, sempre exposta às tentações do orgulho e da soberba. A consciência empírica da justificação pela fé cria uma ruptura na natureza humana.

2. Destruíra a cultura intelectual ocidental ao atacar a Escolástica aristotélica. Se o esplendor medieval foi escurecido pelas lentes torpes dos modernos, parte da responsabilidade deve-se a Lutero. A sua atitude anti-filosófica criou o padrão depois agravado por sucessivas gerações de intelectuais Iluministas, positivistas, marxistas e liberais.

3. A justificação sola fide arruina o equilíbrio da existência humana. A ideia do paraíso de amor industrioso transferiu a ênfase da vita contemplativa para a ideia de realização humana através de um trabalho e de um serviço útil. O homem confia em Deus; depois vai à vida. No nosso tempo, esta atrofia da cultura intelectual e espiritual degenera no pragmatismo do sucesso.

4. Fala-se de Lutero como de alguém que possuía as virtudes e os vícios típicos do alemão. Mas se pensarmos, para só referir teólogos, em Alberto Magno, Eckhardt, Tauler, Nicolau de Cusa e o anónimo de Frankfurt, então ele nada tinha de germânico. Criou certamente um tipo humano: o revoltado voluntarista que deseja impor a sua razão como o centro da ordem institucional.

A sua obra é a manifestação de uma personalidade bizarra cuja força vital o faz romper com a história e lançar-se sozinho contra o mundo. O seu apelo à ação direta contrasta com o contemptus vulgi de Maquiavel, o ascetismo e a pleonexia do intelectual de Erasmo e a ironia jocosa e amargura diplomática de Moro. Perante a força dramática da vontade luterana de violentar o juízo da história, tais autores fazem figuras de pobres revoltados. Força, porém, não é sinónimo de grandeza e não se pode pensar à maneira dos liberais do séc. XIX que o sucesso seja sinal de valor. O grande indivíduo é um sintoma da ruptura da civilização. Por outro lado, os críticos de Lutero costumam ver a desordem espiritual e as carências do seu temperamento mas esquecem a degradação das tradições por ação de instituições e pessoas que já quase só representavam os defeitos. Ora as revoluções só se desencadeiam se houver condições de resposta das massas. No início da Reforma, a tradição degradara-se a tal ponto que um número cada vez maior de pessoas se sentia desligada de qualquer corpo místico. O indivíduo estava disponível para a violência renovadora. Entre os aspectos mais negativos da ação de Lutero conta-se a irresponsabilidade do apelo à autonomia de interpretação das escrituras e ao homo spiritualis. Faltava-lhe intuição intelectual e imaginação para ver as consequências. Mas esta deficiência que o cegava na teoria, robustecia a capacidade de agir; não entendia os enormes obstáculos iria criar. No aspecto positivo, era um observador excepcional e um talento administrativo. Conhecia os males do seu povo; tinha a moralidade e o bom senso de os aconselhar a diminuir as suas dependências; estimava os seus compatriotas: e conhecia perfeitamente o animal em que o homem se transforma se não for vigiado. Tinha todos os requisitos para ser um bom ministro num estado social-democrata. Mas passou à história convencional como o reformador da religião cristã.

BIBLIOGRAFIA:

Joseph Denifle, Luther und seine Entwicklung, 2 vols., 1904-6

Jacques Maritain, Trois Réformateurs, 1923

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Holocausto: a fraternidade de uma paróquia romana durante o horror

Refúgio de 15 meninas judias durante as perseguições de 1943na igreja 
romana de Santa Maria ai Monti
27 de janeiro

No Dia da Memória das Vítimas do Holocausto, uma história de salvação: a de uma paróquia romana que salvou quinze meninas judias. Na igreja de Santa Maria ai Monti, a poucos passos do Coliseu, um grupo de meninas foram escondidas graças às irmãs e ao pároco durante as rondas nazistas de 1943. O pároco, padre Francesco Pesce: "Uma antecipação da fraternidade invocada pelo Papa na Fratelli Tutti".

Salvatore Cernuzio – Vatican News

Passavam o dia desenhando, sempre desenhando. Assim as meninas judias refugiadas em um túnel estreito e escuro sob o campanário da igreja romana de Santa Maria ai Monti se distraíam do incessante rumor das botas dos soldados sobre os paralelepípedos, durante o horrível mês de outubro de 1943. Um longo período de terror que transformou Roma em uma floresta onde os predadores alemães arrancaram de suas casas vítimas inocentes. As meninas desenhavam principalmente rostos: os de suas mães e pais para que o terror ou o tempo não turvassem sua memória, os das bonecas perdidas na fuga, o rosto da Rainha Esther segurando um kallá, o pão da oferta. Escreviam seus nomes e sobrenomes, Matilde, Clelia, Carla, Anna, Aida.

Nas paredes desenhos, rostos, recordações

Aida, cuja assinatura ainda está marcada nas paredes com sua elegante caligrafia:

"Aida Sermoneta. Moro na sombra destes arcos".

Arcos nos quais são visíveis, embora desbotados pela umidade, peixes e frases em hebraico, dedicatórias à "Roma santa e popular". Talvez com o atrito do carvão nas paredes, as meninas quisessem cobrir gritos, tiros, portas batidas.

Uma imagem da paróquia de 1943 | Vatican News

Refugiadas no convento

Eram quinze, a menor tinha quatro anos de idade. Elas se salvaram escondendo-se em um espaço de seis metros de comprimento e dois metros de largura no ponto mais alto desta igreja do século XVI a poucos passos do Coliseu. Ali passavam horas agonizantes, que às vezes se transformavam em dias. Entre as paredes e os arcos moviam-se como sombras para escapar dos soldados e delatores. Ajudadas pelas irmãs e pelo pároco da época, padre Guido Ciuffa, elas escaparam do rastreamento e morte certa nos campos de concentração que levaram a vida de seus parentes. As mesmas pessoas que tiveram a coragem de confiá-las às Filhas da Caridade no então Convento das Neófitas. Misturadas com as estudantes e noviças, ao primeiro sinal de perigo, eram levadas à paróquia por uma porta interna de comunicação.

O que não deve mais acontecer

Hoje aquela porta é uma parede de concreto no sala da catequese. "Costumo explicar sempre às crianças o que aconteceu aqui e principalmente o que não deve mais acontecer”, explica ao Vatican News o padre Francesco Pesce, que é o pároco de Santa Maria ai Monti há doze anos. Padre Francesco é muito apreciado em toda a vizinhança, um emblema de uma Roma que ainda é capaz de fazer dialogar etnias e religiões. "Esta porta é simbólica, é uma passagem do desespero para a esperança, do mal para o bem".  Daquela porta as meninas corriam para a sacristia na direção de outra porta, disfarçada pelo padre Guido com tapeçarias, vestes, mantos de Nossa Senhora. Era o ponto de junção para subir a escada que levava sobre a abside, 30 metros acima do solo. Mais acima, tinham apenas os sinos. Ou o céu, a única via de fuga.

A passagem para o esconderijo sobre o campanário da igreja | Vatican News

A escada para a salvação

Padre Francesco nos conduz nesta imensidão de memórias levando-nos escada acima, iluminada por uma tocha. Noventa e cinco degraus de uma escada em espiral escura. Uma espiral angustiante. Nos momentos de perigo, no entanto, o único caminho para a salvação. O chão range por causa das carcaças de pombos mortos, a respiração encurta e os olhos só se acostumam à escuridão após alguns minutos, quando janelas do tamanho de tijolos deixam entrar vislumbres de luz. As meninas subiam e desciam a torre, sozinhas, por sua vez, para recolher alimentos e roupas e levá-los às suas colegas, que esperavam na cúpula de concreto que cobria a abside. O mesmo que usavam nos raros momentos de brincadeira, quando os cantos da missa cobriam o barulho.

Uma história de fraternidade

A história de Santa Maria ai Monti não é apenas a história de uma Igreja comprometida em resistir à fúria dos nazistas, mas é uma história de fraternidade escrita entre as linhas do que o Papa Francisco chamou de ‘a página mais negra’ da humanidade. "Aqui tocamos o auge da dor, mas também o auge do amor", diz ainda o pároco. "Toda a vizinhança ajudava, não apenas cristãos católicos, mas também irmãos de outras religiões que se mantiveram em silêncio e continuaram a obra de caridade. Nisso eu vejo uma antecipação da Fratelli tutti".

Silêncio e caridade

Todos no bairro sabiam que tinha quinze meninas judias escondidas na paróquia, e todos faziam escudo para protegê-las. Não cederam a ameaças ou promessas de recompensas sujas de sangue, não quiseram compartilhar nem mesmo as informações necessárias para organizar as ajudas. Muito arriscado com soldados patrulhando o bairro continuamente; muito perigoso com delatores e espiões infiltrados nas missas para escutar e observar e depois vender a vida de outros. As meninas simplesmente tiveram que desaparecer. Todas elas foram salvas. Como adultas, tendo se tornado mães, esposas e avós, elas continuaram a visitar a paróquia. Uma delas continuou a visitar a paróquia até alguns anos atrás, indo ao refúgio até onde suas pernas permitissem. Mesmo quando ficou idosa, ela parava diante da porta da sacristia de joelhos e chorava. Assim como fazia 80 anos atrás.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Filipinas ganha dois novos Santuários Arquidiocesanos

Guadium Press
As cerimônias de elevação ocorreram no dia em que se celebra a Festa do Santo Niño, uma das principais devoções católicas no país.

Filipinas – Manila (26/01/2022 15:02, Gaudium Press) Dois templos católicos nas Filipinas, localizados nas províncias de Batangas e Iloilo, foram elevados ao status de Santuário Arquidiocesano.

Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Batangan

O Arcebispo de Lipa, Dom Gilbert Garcera, presidiu a celebração eucarística na qual a Basílica Menor da Imaculada Conceição foi declarada Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Batangan.

Segundo o decreto que designa a Basílica como Santuário, a Igreja local “reconhece a profunda devoção dos fiéis da Arquidiocese ao Santo Niño de Batangan e acredita que esta devoção ardente e profunda dos devotos é uma maneira notável de alcançar a santidade”.

Guadium Press

O Santo Niño de Batangan é uma imagem do Menino Jesus de pele escura que foi consagrada na Basílica desde a época espanhola. A atual imagem é uma réplica da original que foi destruída durante um incêndio no convento da igreja no ano de 1999.

Este é o oitavo santuário local da Arquidiocese depois de São Vicente Ferrer (Lipa City), São José Patriarca (San José, Batangas), Nossa Senhora de Caysasay (Taal, Batangas), Santa Teresa do Menino Jesus (Santa Teresita, Batangas), a Cruz Gloriosa Arquidiocesana (Cidade de Batangas), São João Batista (Lian, Batangas) e São Rafael Arcanjo (Calaca, Batangas).

Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Arevalo

O Arcebispo de Jaro, Dom José Romeo Lazo, presidiu uma celebração eucarística na Paróquia Santíssimo Nome de Jesus, na qual foi declarado o novo Santuário Arquidiocesano do Santo Niño de Arevalo.

Guadium Press

O decreto reconheceu o templo como “a casa do venerado Santo Niño de Arevalo, a terceira mais antiga imagem do Niño no país”. A devoção da imagem é datada oficialmente desde a fundação da freguesia em 1581, poucos anos após o início das devoções ao Santo Niño de Cebu e ao Santo Niño de Tondo em Manila.

Também foi abençoada a coroa oferecida pelo povo de Arevalo. O Reitor do Santuário, Padre José Clasico Nufable e seu Vigário Paroquial Padre Rex John Palmos, realizaram o ato de coroação solene.

Guadium Press

O Santo Niño de Arevalo é uma imagem secular de pele parda e é semelhante ao rosto do Santo Niño de Cebu. Também é considerada a primeira devoção do Santo Niño na província de Iloilo que foi devidamente organizada durante o mandato do Padre Anselmo Avanceña, de 1864 a 1882.

Este é o terceiro santuário local na Arquidiocese de Jaro depois de São Vicente Ferrer, na cidade de Leganes, província de Iloilo, e Nossa Senhora de Fátima em Jaro. A Arquidiocese também tem um Santuário Nacional, que é a Catedral Metropolitana de Jaro, na cidade de Iloilo. (EPC)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

A Tradição Mosaica – Oral e Escrita

As Tábuas da Lei | GoConqr
Por Alessandro Lima

Referimo-nos aqui como Tradição Mosaica a Doutrina Divina confiada a Moisés no Monte Sinai e depois transmitida por este a todo povo hebreu que saiu do Egito. Esta Tradição é também conhecida como a Lei de Moisés, pelas razões já apresentadas.

Com efeito, ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica:

Deus escolhe Abrão chamando-o a deixar a sua terra para fazer dele “o pai duma multidão de povos” (Gn 17,5), e promete abençoar nele “todas as nações da terra” (Gn 12,3). Os descendentes de Abraão serão o povo eleito, os depositários das promessas divinas feitas aos patriarcas. Deus forma Israel como seu povo salvando-o da escravidão do Egipto; conclui com ele a Aliança do Sinai, e dá-lhe a sua Lei, por meio de Moisés. Os profetas anunciam uma redenção radical do povo e uma salvação que incluirá todas as nações numa Aliança nova e eterna, que será gravada nos corações. Do povo de Israel, da descendência do rei David, nascerá o Messias: Jesus. (CCIC 8).

Ao contrário do que muitos pensam, a religião dos hebreus baseada na Lei de Moisés ou Torá, não era uma religião do livro. Aos pés do Monte Sinai Deus estabelece a pré-figura da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estabelece com Moisés um pontificado, cujo que tinha o poder de legislar, ensinar e julgar (cf. Ex 18,13). Estabelece com o Sacerdócio Levita o rascunho do sacerdócio católico. Moisés exercia uma autoridade que estava ao lado da Torá (ou Pentateuco) e ao seu serviço. Temos aqui a pré-figura do Pontificado Católico do Papa (cf. Mt 16,18-19). Com efeito ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica:

Jesus não aboliu a Lei, dada por Deus a Moisés no Sinai, mas levou-a à plenitude, dando-lhe a interpretação definitiva. É o Legislador divino que cumpre integralmente esta Lei. Além disso, Ele, o Servo fiel, oferece mediante a sua morte expiadora o único sacrifício capaz de redimir todas «as faltas cometidas durante a primeira Aliança» (Heb 9,15). (CCIC 114).

O Papa Pio XII na Encíclica Haurietis Aquas, n. 18 deixa este ensinamento ainda mais claro (grifos nossos):

Mas somente pelo Evangelho chegamos a conhecer com perfeita clareza que a nova aliança estipulada entre Deus e a humanidade – aliança da qual a pactuada por Moisés entre o povo e Deus foi somente uma prefiguração simbólica, e o vaticínio de Jeremias mera predição – é aquela que o Verbo encarnado estabeleceu e levou à prática merecendo-nos a graça divina. Esta aliança é incomparavelmente mais nobre e mais sólida, porque, a diferença da precedente, não foi sancionada com sangue de cabritos e novilhos, mas com o sangue sacrossanto daquele que esses animais pacíficos e privados de razão, prefiguravam: “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (cf. Jo1, 29; Hb9, 18-28; 10, 1-17). Porque a aliança cristã, ainda mais do que a antiga, manifesta-se claramente como um pacto, não inspirado em sentimentos de servidão, não fundado no temor, mas apoiado na amizade que deve reinar nas relações entre pai e filhos, sendo ela alimentada e consolidada por uma mais generosa distribuição da graça divina e da verdade, conforme a sentença do evangelho de João: “Da sua plenitude todos nós participamos, e recebemos uma graça por outra graça. Porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça foi trazida por Jesus Cristo” (Jo 1, 16-17).

O que nos importa neste artigo é que a Lei não estava ao arbítrio do povo. Moisés foi quem recebeu o múnus de estabelecer seu verdadeiro sentido e ele também tinha o poder de instituir ajudantes (cf. Ex 18,17-26). Com efeito, este Magistério deveria ser perpetuar entre o povo Judeu até a Epifania do Senhor. Nos tempos de Cristo era exercido pelos fariseus:

Na cátedra [ocupando a autoridade de ensino] de Moisés, estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam. (Mt 23,2-3).

Contudo a Torá, a Lei recebida no Monte Sinai foi confiada a Moisés e transmitida por este aos seus sucessores, de forma escrita e oral.

Um importante site [1] especialista na tradição judaica nos informa que (grifos nossos):

D’us também transmitiu a Moisés a Torá Oral, Torah she-Be’alpeh, que consiste das interpretações e explicações dos mandamentos da Torá Escrita. Moisés possuía o mais alto grau de profecia e, por isso, D’us pode ensinar-lhe a Torá Oral de forma abrangente e detalhada. Pois está escrito: “Falava D’us a Moisés face a face, como um homem qualquer fala a seu amigo” (Êxodos 33,11). Ao mencionar especificamente a transmissão da Torá Oral, D’us disse: “Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas” (Números 12,8).

Ainda:

A transmissão da Torá Oral é claramente revelada na Torá Escrita. Pois está escrito: “São estes os estatutos, juízos e leis (Torá) que deu o Senhor entre si e os filhos de Israel no Monte Sinai, pela mão de Moisés” (Levítico 26:46). É importante notar que a palavra Torá está no plural, pois se refere tanto à Torá Escrita quanto à Oral (Rashi; Sifra). Em outra parte da Torá Escrita, D’us diz a Moisés: “Dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei e os mandamentos que escrevi” (Êxodo 24,12). As tábuas de pedra são os Dez Mandamentos, a lei (Torá) significa a Torá Escrita e os mandamentos referem-se à Torá OralDe fato, a Torá Escrita faz inúmeras alusões à Torá Oral. Por exemplo, está escrito: “Então matarás as tuas vacas e tuas ovelhas…como te ordenei” (Deuteronômio 12,21). Isto implica na transmissão das instruções sobre o abate casher de animais, apesar de que não são dadas explicações. De fato, a maioria de nossos mandamentos nunca são explicados na Torá Escrita. A mitzvá da guarda do Shabat é um dos Dez Mandamentos, mas não há nenhuma instrução sobre o significado de guardar o Shabat. São mencionados, também, outros mandamentos tais como a colocação de mezuzot, de tefilin, o cumprimento das festas judaicas, mas não são discutidos, de fato, na Torá Escrita. Está bem claro que todas as instruções são encontradas na Torá Oral.

São Paulo, em 2Tm 3,8 informa-nos os nomes daqueles que resistiram a Moisés em Ex 7,8-10: Iannes e Mambres. Tais nomes não se encontram no texto sagrado, logo ele só poderia ter tomado conhecimento deles através da Torá Oral.

Também quando São Judas nos diz que São Miguel não quis julgar a blasfêmia de Satanás, quando estavam lutando pelo corpo de Moisés, mas deixou-o ao Julgamento de Deus, ele estava também citando a Torá Oral (cf. Tg 1,9). Ou alguém consegue encontrar esta passagem na Bíblia?

Júlio Trebolle Barrera, especialista na cultura dos Judeus, observa que (grifos nossos):

A hermenêutica judaica, haláquica ou hagádica, é uma entidade própria. Constitui o núcleo do judaísmo, definido como a religião da dupla Torá: A Torá escrita, constituída pela Tanak, e a Torá oral, integrada pelo corpo de interpretações autorizadas da Tanak – a Mixná e o Talmude […] O judaísmo desenvolveu a Lei através de uma tradição oral com valor igualável ao da lei escrita [2].

Como foi demonstrado, a Antiga Religião Moisaica nunca foi uma religião do livro. Aos pés do Monte Sinai Deus estabelece não apenas uma religião, mas uma sociedade que cuja perfeição viria alcançar com o Advento da Igreja de Cristo.

NOTAS

[1] http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/a-tora-oral.html

[2] BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã – Introdução à história da Bíblia. Tradução de Ramiro Mincato. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. 2ª. Edição. Pág 20-25.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF