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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Uma doença que afeta o corpo e a alma

Guadium Press
Esse mal espiritual age tirando o desejo de viver de quem não está sendo chamado para a morte.

Redação (06/02/2022 08:51Gaudium Press) Não podemos dizer que tudo caminhava bem, mas, ao menos, caminhava, até os primeiros meses do ano de 2020, quando o mundo foi surpreendido pela disseminação planetária de um vírus e tudo parou. Hospitais construídos às pressas, médicos, enfermeiros e outros profissionais da Saúde usando trajes semelhantes aos dos astronautas, UTIs lotadas, pessoas morrendo e sendo empilhadas, diante da incapacidade dos sistemas funerários de darem conta de todos os sepultamentos. Corpos sendo enterrados em valas comuns, sem flores, sem velas, sem exéquias, sem despedidas. E as pessoas aprisionadas dentro de suas casas.

Fábricas, comércio, igrejas, escolas, restaurantes, terminais rodoviários, estádios, aeroportos, tudo fechado. Farmácias e supermercados semiabertos para a venda dos artigos básicos e imprescindíveis. As poucas pessoas que precisavam sair de casa por algum motivo, com os rostos cobertos por máscaras, em muitos casos, eram paradas pela polícia, tendo que justificar aonde iam. E, ao chegar da rua, higienização do corpo, das roupas, dos calçados e de qualquer coisa que se trouxesse para dentro de casa.

Milhões de litros de álcool em gel circulando em pequenos frascos com preços escandalosos. Sim, porque sempre há os que se dão bem nas crises e, nesta, muitos se deram muito bem, desde a costureira do bairro, que se especializou em confeccionar máscaras, artigo que se tornou de primeira necessidade, até os fornecedores de remédios e de vacinas, cuja eficácia – de ambos – ainda é posta em dúvida. Isso, sem falar dos fornecedores de cilindros de oxigênio e de outros equipamentos hospitalares, e sem entrarmos na consideração dos muitos desvios de verbas, velados ou escancarados.

Sim, o mundo parou e a solidão nunca foi tão sentida na história da humanidade. Uma solidão que revelou que as pessoas já não sabem estar juntas, por isso, aumentou a violência doméstica, muitos casamentos acabaram, mães entraram em parafuso quando tiveram de conciliar trabalho em home office e os cuidados com os filhos, que, no cômputo geral, foram os que mais se beneficiaram, pois tiveram de volta um aconchego em muitos casos já esquecido.

Claro, da mesma maneira que muitos se afastaram, outros tantos conseguiram se reaproximar e resgatar relacionamentos desgastados pela falta de tempo e pela correria da vida. Famílias há, e não poucas, que reaprenderam a conviver e tiraram muito proveito disso. Outras tantas tiveram de lidar com as perdas e verem seus entes queridos indo embora, sem nem poderem se despedir.

Entramos na era das lives. Foram feitas lives de tudo, creio que até lives ensinando a fazer lives. Isso também foi bom, pois muita gente aprendeu coisas para as quais antes não tinha tempo, não conhecia direito ou nem sabia que existia.

E assim, passaram-se dois anos. Nunca o tempo pareceu tão lento e tão terrível. Vivemos sob o império do medo. Todos sabíamos que a economia não aguentaria tanto tempo e as pessoas, trancadas em suas casas, também não. Assim, aos poucos, os locais fechados foram reabrindo, as pessoas foram retornando ao trabalho, as crianças à escola, os fiéis aos templos e, claro, não demorou para se retomarem as festas.

Consequentemente, não demorou também para que a mensageira do inferno, que já foi AlfaBetaGamaDeltaLambda, travestida com um brilho fugaz, se transformasse em Ômicron e infectasse a quem quis, como quis e quando quis.

“Eu não sou”

Todas as barreiras foram derrubadas por essa insignificante coisa, que não podemos nem mesmo chamar de ser, pois não há entendimento na ciência sobre o vírus ser ou não um ser vivo, tanto é que ele não pertence ao reino animal e a nenhum outro que classifica os seres vivos. Assim ele é referido nos livros de Biologia: “os vírus estão no limiar entre a matéria bruta e os seres vivos, apresentando características de ambos os tipos. Não há consenso se devemos incluir os vírus nos seres vivos como um todo. Por isso, esses seres não são classificados de acordo com o padrão proposto por Lineu. Consequentemente, não possuem reino, filo, classe ou ordem.”

Dessa forma, apesar de tão poderosamente mutantes e destruidores, eles são algo que não chega a ser. Podemos dizer que, em oposição a Deus, o “Eu Sou”, os vírus estão no extremo oposto, o “eu não sou” e, disso, podemos tirar muitas conclusões…

Contudo, esse “não ser” deixa por onde passa – ultimamente passa por tudo e por todos – um terrível rastro de destruição. Quando ele afeta uma pessoa, ele afeta a muitas: a família, os vizinhos, o bairro, a cidade, o país, o globo. Com máscara ou sem máscara, festejando ou reclusos, trabalhando ou se escondendo do trabalho, já não se sabe quem pegou e quem não pegou a tal Covid. Os sintomas mudaram, enlanguesceram e se perderam na multidão de traços de uma gripe comum, de um mal-estar gastrointestinal passageiro e de uma dor na alma que ninguém sabe como explicar.

O que, de fato, essa coisa é capaz de fazer dentro dos organismos que visita, ninguém sabe ao certo e, repetimos, poucos há que ainda não receberam tão indesejado hóspede, mesmo que não tenham dado por isso.

Novo fenômeno psicológico

A ciência já classifica uma nova espécie de adoecimento, um fenômeno psicológico que foi batizado de languishing, termo cunhado pelo psicólogo e sociólogo americano Corey Keyes, cuja tradução literal seria “definhando”.

Alguns estudiosos classificam como a “quarta onda” da pandemia a esse transtorno que produz uma espécie de entorpecimento da vida, uma sensação de vazio, desânimo, apatia, falta de motivação. Não chega a ser uma depressão, embora possa encaminhar a pessoa acometida para tal. Trata-se mais de um fenômeno, uma sensação íntima, mas de aspecto coletivo, que entristece as pessoas de uma maneira diferente.

Uma lâmpada, quando acesa, ilumina tudo ao redor e, quando apagada, envolve igualmente a todos na escuridão. É esse o poder do coronavírus, o poder da escuridão. Matou a muitos, desempregou a muitos, faliu e desestabilizou a muitos, e agora, mesmo que já não nos adoeça com a força que tinha no princípio – embora ainda conserve o seu poder letal e ande provocando um bom número de mortes por aí –, esse “não ser” vai apagando a vontade de viver, não apenas daqueles que contraem fisicamente a doença em sua versão mais forte ou mais fraca, mas, de todos, de um modo geral.

A médica psiquiatra Christiane Ribeiro se referiu a esse novo transtorno que “não é tristeza, não é cansaço, não é depressão… É mais um desânimo, uma desmotivação, a sensação de carregar um peso invisível e constante, um coração apertado, respiração difícil e uma alma vazia em um corpo que luta para se reencontrar.”

Quantos de nós já experimentaram ou estão experimentando isso? Algo que não está restrito a classe social, não tem idade e nem estado civil: pobres, ricos, solteiros, casados, homens, mulheres, religiosos, leigos, jovens, idosos, pessoas cultas ou ignorantes, sem nem se dar conta, sem saber exatamente como se referir ao que sentem e, certamente, se não derem um nome melhor a essa coisa, sem nem mesmo saber pronunciar languishing, estão experimentando isso.

Vírus que afeta o corpo e a alma

Uma doença que afetou os corpos e agora está afetando as almas das pessoas, mesmo das que não adoeceram.

Um artigo recentemente publicado em uma revista de Psicologia sobre esse novo transtorno o define como “uma sensação que não passa, perdura dia após dia. É como se a pessoa estivesse no limbo, num estado de indecisão, incerteza, indefinição e nada a movesse para sair desse lugar. É viver o desalento e o desamparo.”

E não se trata de um esgotamento, pois as pessoas ainda apresentam energia, trabalham, tocam as suas vidas, mas se sentem sem alegria, sem objetivo, desmotivadas, estagnadas. É um problema de fundo de alma…

O mais preocupante é que, embora na hora da dor física ou da perda dos entes queridos para uma doença como a Covid, alguns se revoltem; muitos tentam se apegar a Deus, repensar as suas vidas, mas, com esse lado obscuro, que se esgueira entre as pessoas como um vulto, uma sombra quase imperceptível, e as envolve tão completamente, é mais difícil.

Muitas pessoas com quem conversei, algumas delas verdadeiramente cristãs e praticantes da religião, relataram a sensação de um abandono de Deus. Um “não ser”, algo que sequer possui vida e que só se reproduz dentro de outra vida, está tirando muito mais do que a saúde das pessoas, está tirando delas o poder da fé.

E isso, meus caros, é tremendamente mais perigoso do que algo que tira a vida de quem está desejando viver, porque esse mal espiritual age tirando o desejo de viver de quem não está sendo chamado para a morte.

Ainda não sabemos o que fazer, como agir e quando isso tudo vai acabar, mas, nessas horas, mesmo que nada pareça fazer sentido, é o momento em que devemos agarrar mais fortemente nas mãos de Maria e nas mãos de Jesus, porque tudo passa e isso também vai passar, porque o Senhor está no controle de tudo, o tempo todo.

Afonso Pessoa

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Batismos de padre americano que serviu 20 anos em Salvador são inválidos

Imagem ilustrativa / Vatican News

PHOENIX, 08 fev. 22 / 12:00 pm (ACI).- Um padre de Phoenix, Arizona, EUA, desculpou-se, pediu perdão e renunciou ao cargo de pároco após ficar estabelecido que os batizados que fez ao longo de duas décadas de serviço sacerdotal na diocese de Salvador (BA), na diocese de San Diego e na diocese de Phoenix.

Em uma carta de 14 de janeiro aos fiéis da diocese, o bispo Thomas Olmsted, de Phoenix, disse que a informação é “tão difícil de ouvir quanto é um desafio para mim anunciar”.

“É com sincera preocupação pastoral que informo aos fiéis que os batismos realizados pelo reverendo Andrés Arango, sacerdote da diocese de Phoenix, são inválidos”, disse.

Olmsted citou a nota doutrinária da Congregação para a Doutrina da Fé de 6 de agosto de 2020, que dizia que o batismo conferido com a fórmula “Nós vos batizamos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” é inválido. Arango usava essa fórmula.

“O problema de usar 'nós' é que não é a comunidade que batiza uma pessoa, mas sim Cristo, e somente Ele, que preside a todos os sacramentos, então é Cristo Jesus quem batiza”, explicou Olmsted.

“Não acredito que o padre Andrés tivesse qualquer intenção de prejudicar os fiéis ou privá-los da graça do batismo e dos sacramentos”, continuou o bispo. “Em nome de nossa Igreja local, também lamento sinceramente que esse erro tenha resultado na interrupção da vida sacramental de vários fiéis. É por isso que me comprometo a tomar todas as medidas necessárias para remediar a situação de todos os afetados”.

Arango é um ex-membro da Congregação de Jesus e Maria. Ele respondeu à notícia em sua própria carta, dizendo: “Me entristece saber que realizei batismos inválidos em todo o meu ministério como sacerdote usando regularmente uma fórmula incorreta. Lamento profundamente meu erro e como isso afetou muitas pessoas. Com a ajuda do Espírito Santo e em comunhão com a Diocese de Phoenix, dedicarei minha energia e ministério em tempo integral para ajudar a remediar isso e curar os afetados”.

“Peço sinceras desculpas por qualquer inconveniente que minhas ações tenham causado e peço genuinamente suas orações, perdão e compreensão”, disse Arango.

Arango serviu na Diocese de São Salvador da Bahia, no Brasil, no final da década de 1990. Depois atuou na Califórnia como diretor do Newman Center da San Diego State University de 2001 a 2005. Ele se mudou para a paróquia de São Jerônimo em Phoenix, Arizona, onde foi pároco de 2005 a 2013, segundo a diocese de Phoenix. Ele foi vigário paroquial em Sant’Ana em Gilbert, Arizona, de 2013 a 2015, depois vigário paroquial e depois pastor na paróquia de São Gregório em Phoenix de 2015 a 1º de fevereiro, quando renunciou.

A diocese de Phoenix publicou em seu site uma explicação e um formulário de contato para quem acredita ter sido afetado pela fórmula inválida de batismo usada pelo padre. Quem não tem certeza de qual padre estava envolvido em um batismo devem olhar em sua certidão de batismo. Fotos ou vídeos de um batismo também podem ajudar a determinar quem era o sacerdote administrador. Se alguma dessas evidências estiver faltando, uma pessoa deve entrar em contato com sua paróquia para obter ajuda.

“Se você foi batizado usando as palavras erradas, isso significa que seu batismo é inválido e você não é batizado. Você precisará ser batizado”, informou a diocese de Phoenix. Qualquer pessoa que tenha conhecimento de um padre ou diácono usando uma fórmula batismal inválida na diocese deve entrar em contato com os funcionários diocesanos. Um batismo inválido invalidaria o sacramento da confirmação e da ordem, para a pessoa que tentou receber esses sacramentos. Aqueles que não são validamente batizados não devem receber a Sagrada Comunhão até que sejam batizados. Não há “uma única resposta clara” sobre se a falta de um batismo válido afetaria o matrimônio, e aqueles cujos casamentos poderiam ser afetados dessa maneira devem entrar em contato com o tribunal diocesano.

A diocese de Phoenix disse que Arango “não se desqualificou” de seu ministério e ainda está em boas condições.

“A diocese está trabalhando em estreita colaboração com o padre Andrés e as paróquias nas quais ele foi designado anteriormente para notificar qualquer pessoa que possa ter sido batizada inválida. Padre Andrés dedicará seu tempo a ajudar e curar os afetados”, disse a diocese em seu site.

A carta de Olmsted pediu orações pelo padre e “por todos aqueles que sofrerem os impactos por essa situação infeliz”.

“Prometo trabalhar diligente e rapidamente para trazer a paz àqueles que foram afetados, e garanto que eu e nossa equipe diocesana estamos comprometidos de todo o coração em ajudar aqueles que têm dúvidas sobre a recepção dos sacramentos”, disse o bispo.

Olmsted observou seu próprio dever de ser “vigilante” na supervisão da celebração dos sacramentos e garantir que eles sejam “conferidos de maneira que esteja de acordo com os mandamentos de Jesus Cristo no Evangelho e os requisitos da tradição sagrada”.

“Pode parecer legalismo, mas as palavras que são ditas (a forma sacramental), junto com as ações que são realizadas e os materiais usados ​​(a matéria sacramental) são um aspecto crucial de todo sacramento”, disse a diocese. Assim como um sacerdote não pode substituir o vinho durante a consagração da Eucaristia, não pode mudar as palavras do batismo ou de qualquer outro sacramento.

“O batismo é um requisito para a salvação”, disse a diocese de Phoenix, relatando a instituição do sacramento de Cristo e o Catecismo da Igreja Católica.

Ao mesmo tempo, a diocese procurou explicar que a graça de Deus ainda pode funcionar se os sacramentos não forem administrados validamente.

“É importante notar que, embora Deus tenha instituído os sacramentos para nós, Ele não está vinculado a eles”, disse a diocese, reiterando a teologia sacramental católica. “Embora sejam nosso acesso mais seguro à graça, Deus pode conceder Sua graça de maneiras conhecidas apenas por Ele.”

Os católicos podem ter certeza de que Deus trabalha por meio dos sacramentos quando conferidos adequadamente, mas “podemos ter certeza de que todos os que se aproximaram de Deus, nosso Pai, de boa fé para receber os sacramentos, não saíram de mãos vazias”, disse a diocese.

A falha em batizar validamente causou grandes problemas para um homem de Oklahoma que pensava ter sido ordenado padre católico. Ele assistiu a um vídeo de seu batismo infantil e descobriu que havia sido batizado de forma inválida por um diácono do Texas que usava a fórmula “nós batizamos”. O homem foi posteriormente batizado, confirmado, recebeu a primeira comunhão e foi ordenado diácono e depois sacerdote.

Em setembro de 2020, o bispo Michael Olson, de Fort Worth, tornou público que o clérigo responsável pelos batismos inválidos era o diácono Philip Webb, um diácono permanente agora aposentado ordenado para a Diocese de Dallas, mas designado para a igreja de Santa Catarina de Siena em Carrollton, Texas , na Diocese de Fort Worth.

O bispo do Texas disse que os padres e diáconos que cometeram esses “graves erros de julgamento” agiram “sem malícia”, mas não cumpriram seus deveres de administrar os sacramentos corretamente.

“É errado e enganoso afirmar que se tem a intenção de fazer o que a Igreja pretende que o Batismo faça usando palavras diferentes da fórmula válida prescrita pela Igreja – e no caso do Batismo, prescrita pelo próprio Senhor”, Olson disse.

O padre Matthew Hood, da Arquidiocese de Detroit, também descobriu que não havia sido batizado validamente quando criança e teve que voltar à pia batismal quando adulto e receber os demais sacramentos.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Abusos, Ratzinger: vergonha, dor e sincero pedido de perdão

O Papa emérito Bento XVI | Vatican News

Em uma carta aos fiéis em Munique, na Alemanha, o Papa emérito fala sobre a pedofilia clerical, recorrendo às palavras "mea maxima culpa" repetidas na missa: "Nós mesmos somos arrastados para esta grande culpa quando não a enfrentamos com a decisão e responsabilidade necessárias".

Vatican News

O Papa emérito Bento XVI intervém direta e pessoalmente por ter uma palavra a dizer acerca do relatório sobre abusos na Arquidiocese de Munique e Freising, sul da Alemanha, onde foi arcebispo por menos de cinco anos. Ele o faz em um texto com sabor penitencial, contendo sua "confissão" pessoal e um olhar de fé sobre a "grandíssima culpa" dos abusos e dos acobertamentos.

Na primeira parte da carta, Ratzinger agradece àqueles que colaboraram com ele na visualização do material documental e na preparação das respostas enviadas à comissão. Como já havia feito dias atrás, ele pede desculpas novamente pelo erro, absolutamente não intencional, de sua presença na reunião de 15 de janeiro de 1980, durante a qual foi decidido acolher na arquidiocese um padre que precisava de tratamento. Ele também diz estar "particularmente grato pela confiança, apoio e orações que o Papa Francisco expressou para mim pessoalmente".

Na segunda parte da missiva, o emérito se diz impressionado com o fato de que todos os dias a Igreja coloca no centro de cada celebração da Missa, "a confissão de nossa culpa e o pedido de perdão. Rezamos publicamente ao Deus vivo para perdoar nossa culpa, nossa grande e grandíssima culpa". É claro, continua Bento XVI, que "a palavra 'grandíssima' não se refere da mesma maneira a cada dia, a cada dia singularmente considerado". Mas a cada dia me pergunta se também hoje não devo falar grandíssima culpa. E me diz de forma consoladora que por maior que seja minha culpa hoje, o Senhor me perdoa, se com sinceridade me deixo ser escrutado por Ele e estou verdadeiramente disposto a mudar a mim mesmo".

Joseph Ratzinger recorda, em seguida, suas conversas cara-a-cara com as vítimas de abusos cometidos por clérigos. "Em todos os meus encontros, sobretudo durante minhas muitas viagens apostólicas, com vítimas de abuso sexual por parte de padres, olhei nos olhos as consequências de uma grandíssima culpa e aprendi a entender que nós mesmos somos arrastados para esta grande culpa quando a negligenciamos ou quando não a enfrentamos com a decisão e responsabilidade necessárias, como muitas vezes tem acontecido e acontece."

"Como naqueles encontros - afirma o Papa emérito -, mais uma vez só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha grande dor e meu sincero pedido de perdão. Tive grandes responsabilidades na Igreja católica. Tanto maior é minha dor pelos abusos e erros que ocorreram durante o tempo de meu mandato nos respectivos lugares. Cada caso de abuso sexual é terrível e irreparável. Para as vítimas de abusos sexuais vai minha mais profunda compaixão e lamento cada caso."

Em seguida, Bento XVI diz que compreende cada vez mais "a aversão e o medo que Cristo experimentou no Monte das Oliveiras quando viu todas as coisas terríveis que teria que superar interiormente. O fato de que naquele momento os discípulos estavam dormindo infelizmente representa a situação que também hoje ocorre novamente e pela qual também me sinto interpelado. E por isso só posso rezar ao Senhor e a todos os anjos e santos, e a vós, queridos irmãos e irmãs, que rogueis por mim a Deus nosso Senhor".

Ratzinger conclui sua carta com estas palavras: "Muito em breve me encontrarei perante o juiz supremo de minha vida. Embora eu possa ter muitos motivos de temor e medo quando olho para trás em minha longa vida, sinto-me, em todo caso, com ânimo alegre porque confio firmemente que o Senhor não é apenas o juiz justo, mas ao mesmo tempo o amigo e irmão que já sofreu Ele mesmo minhas insuficiências e é, portanto, como juiz, ao mesmo tempo meu defensor (Paracleto). Em vista da hora do julgamento, a graça de ser cristão torna-se clara para mim. Ser cristão me dá o conhecimento, mais que isso, a amizade com o juiz da minha vida e me permite atravessar a porta escura da morte com confiança".

Junto com a carta de Bento XVI, também foi publicado um pequeno anexo de três páginas, redigido pelos quatro especialistas em direito - Stefan Mückl, Helmuth Pree, Stefan Korta e Carsten Brennecke - que já tinham sido envolvidos na elaboração das 82 páginas de resposta às perguntas da comissão. Essas respostas, que foram anexadas ao relatório sobre abusos em Munique, suscitaram polêmicas e continham um erro de transcrição que levou à afirmação de que o arcebispo Ratzinger estava ausente da reunião na qual foi decidido aceitar um padre envolvido em abusos.

Em suas novas respostas, os especialistas em direito reiteram que o cardeal Ratzinger, ao receber o padre que deveria ser tratado em Munique, não estava ciente de que o mesmo fosse um autor de abusos. E na reunião de janeiro de 1980, não foi mencionado por que ele deveria ser tratado, nem foi decidido empregá-lo no trabalho pastoral. Os documentos confirmam o que Ratzinger tinha firmado.

O motivo do erro relativo à presença inicialmente negada de Ratzinger é em seguida explicado em detalhes: Somente o professor Mückl foi autorizado a ver a versão eletrônica das atas, sem ser concedida a possibilidade de salvar, imprimir ou fotocopiar documentos. Na fase subsequente do processamento, o doutor Korta cometeu inadvertidamente um erro de transcrição considerando que Ratzinger estava ausente em 15 de janeiro de 1980. Este erro de transcrição não pode, portanto, ser imputado a Bento XVI como uma falsa deposição consciente ou "mentira". A propósito, já em 2010 vários artigos de imprensa, nunca negados, falavam da presença de Ratzinger naquela reunião e o próprio Papa emérito, na biografia escrita por Peter Seewald e publicada em 2020, afirma ter estado presente.

Os especialistas afirmam que em nenhum dos casos analisados pelo relatório Joseph Ratzinger teve conhecimento de qualquer abuso sexual cometido ou suspeito de ter sido cometido por padres. A documentação não fornece nenhuma prova em contrário e, de fato, em resposta a perguntas específicas sobre este ponto durante a coletiva de imprensa, os mesmos advogados que redigiram o relatório declararam que presumiam com probabilidade que Ratzinger sabia, mas sem que esta alegação fosse corroborada por testemunhos ou documentos.

Por fim, os especialistas negam que as respostas que elaboraram em nome do Papa emérito tenham minimizado a gravidade do comportamento exibicionista de um padre. "Na memória, Bento XVI não minimizou o comportamento exibicionista, mas o condenou expressamente. A frase usada como suposta evidência da minimização do exibicionismo é retirada do contexto." Em sua resposta, Bento XVI disse que os abusos, incluindo o exibicionismo, são "terríveis", "pecaminosos", "moralmente repreensíveis" e "irreparáveis". Na avaliação do direito canônico, "se quis unicamente afirmar que, de acordo com o direito então em vigor, no juízo dos conselheiros do direito canônico, o exibicionismo não era um delito de direito canônico, porque a norma penal pertinente não incluía comportamentos desse tipo no caso em questão".

O anexo assinado pelos quatro consultores especialistas em direito, por cujo trabalho o Papa emérito assumiu a responsabilidade, contribui assim para esclarecer o que saiu da mente e do coração de Ratzinger, e o que é o resultado da pesquisa de seus consultores. Bento XVI reitera que não tinha conhecimento dos abusos cometidos pelos padres durante seu breve episcopado. Mas com palavras humildes e profundamente cristãs, ele pede perdão pela "grandíssima culpa" dos abusos e pelos erros e subestimações que ocorreram durante seu mandato.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Josefina Bakhita

Santa Josefina Bakhita | arquisp
08 de fevereiro

Santa Josefina Bakhita

Bakhita nasceu no Sudão, África, em 1869. Este nome, que significa "afortunada", não recebeu de seus pais ao nascer, lhe foi imposto por seus raptores. Esta flor africana conheceu as humilhações, os sofrimentos físicos e morais da escravidão, sendo vendida e comprada várias vezes. A terrível experiência e o susto, provado naquele dia, causaram profundos danos em sua memória, inclusive o esquecimento do próprio nome.

Na capital do Sudão, Bakhita foi finalmente comprada por um cônsul italiano, que depois a levou consigo para a Itália. Durante a viagem, ele a entregou para viver com a família de um amigo, que residia em Veneza, e cuja esposa, havia se afeiçoado à ela.Depois, com o nascimento da filha do casal, Bakhita se tornou sua babá e amiga.

Os negócios desta família, na África, exigiam que retornassem. Mas, aconselhado pelo administrador, o casal confiou as duas, às irmãs da congregação de Santa Madalena de Canossa, em Schio, também em Veneza. Alí, Bakhita, conheceu o Evangelho. Era 1890 e ela tinha vinte e um anos quando foi batizada recebendo o nome de Josefina.

Após algum tempo, quando vieram buscá-las, Bakhita ficou. Queria se tornar uma irmã canossiana, para servir a Deus que lhe havia dado tantas provas do seu amor. Depois de sentir muita clareza do chamado para a vida religiosa, em 1896, Josefina Bakhita se consagrou para sempre a Deus, que ela chamava com carinho "o meu Patrão!".

Por mais de cinqüenta anos, esta humilde Filha da Caridade, se dedicou às diversas ocupações na congregação, sendo chamada por todos de "Irmã Morena". Ela foi cozinheira, responsável do guarda-roupa, bordadeira, sacristã e porteira. As irmãs a estimavam pela generosidade, bondade e pelo seu profundo desejo de tornar Jesus conhecido. "Sedes boas, amem a Deus, rezai por aqueles que não O conhecem. Se soubésseis que grande graça é conhecer a Deus!".

A sua humildade, a sua simplicidade e o seu constante sorriso, conquistaram o coração de toda população. Com a idade, chegou a doença longa e dolorosa. Ela continuou a oferecer o seu testemunho de fé, expressando com estas simples palavras, escondidas detrás de um sorriso, a odisséia da sua vida: "Vou devagar, passo a passo, porque levo duas grandes malas: numa vão os meus pecados, e na outra, muito mais pesada, os méritos infinitos de Jesus. Quando chegar ao céu abrirei as malas e direi a Deus: Pai eterno, agora podes julgar. E a São Pedro: fecha a porta, porque fico".

Na agonia reviveu os terríveis anos de escravidão e foi a Santa Virgem que a libertou dos sofrimentos. As suas últimas palavras foram: "Nossa Senhora!". Irmã Josefina Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947, na congregação em Schio, Itália. Muitos foram os milagres alcançados por sua intercessão. Em 1992, foi beatificada pelo Papa João Paulo II e elevada à honra dos altares em 2000, pelo mesmo Sumo Pontífice. O dia para o culto de "Santa Irmã Morena" foi determinado o mesmo de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Francisco: "O perdão é um direito humano"

Papa Francisco em entrevista à televisão italiana | Vatican News

O Papa em conexão com o programa de televisão "Che tempo che fa", faz um amplo diálogo com o condutor Fabio Fazio que lhe pergunta como consegue suportar o peso de tantas histórias de sofrimento e dor indescritíveis: "Toda a Igreja me ajuda". Papa recorda música de Roberto Carlos.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

"A guerra é um contrassenso". O Papa Francisco conecta-se da Casa Santa Marta, no Vaticano, com o programa televisivo "Che tempo che fa" conduzido por Fabio Fazio no canal RAI 3 e dialoga com o apresentador que o interrogou sobre muitas questões: guerras, migrantes, a proteção da criação, a relação entre pais e filhos, o mal e o sofrimento, a oração, o futuro da Igreja, a necessidade de amigos. E afirma que o perdão é um "direito humano, a capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão". 

O olhar se concentra principalmente no tema caro ao Papa, o da migração. Infelizmente, este tema ainda é atual depois da recente notícia dos 12 migrantes encontrados mortos por congelamento na fronteira entre a Grécia e a Turquia. Para o Papa "isto é um sinal da cultura da indiferença". E é também "um problema de categorização": as guerras, em primeiro lugar; pessoas, em segundo lugar. O Iêmen é um exemplo disto: "Há quanto tempo é que o Iêmen sofre a guerra e há quanto tempo é que falamos das crianças do Iêmen? Um exemplo claro, e não se encontra solução para o problema há anos. Não quero exagerar, mais do que 7 de certeza, se não 10. Há categorias que importam e outras que estão embaixo: crianças, migrantes, os pobres, aqueles que não têm o que comer. Estes não contam, pelo menos não contam em primeiro lugar, porque há pessoas que amam estas pessoas, que tentam ajudá-las, mas na imaginação universal o que conta é a guerra, a venda de armas. Basta pensar que com um ano sem produzir armas, se poderia dar de comer e educação a todo o mundo, gratuitamente. Mas isto está em segundo plano", diz o Papa Francisco. Ele volta os seus pensamentos para Alan Kurdi, a criança síria encontrada morta numa praia, e para as muitas outras crianças como ele "que não conhecemos" e que "morrem de frio" todos os dias. A guerra permanece, no entanto, a primeira categoria: "Vemos como se mobilizam as economias e o que é hoje mais importante, a guerra: guerra ideológica, guerra de poderes, guerra comercial e tantas fábricas de armas", diz o Papa.

E falando de guerra, o Pontífice - perguntado sobre as tensões entre a Ucrânia e a Rússia - recorda as raízes desta horrível realidade que é "um contrassenso da criação" que remonta ao Gênesis com a guerra entre Caim e Abel, a guerra pela Torre de Babel. "Guerras entre irmãos" surgiram pouco depois da criação do homem e da mulher por Deus: "Há como que um anti-senso da criação, é por isso que a guerra é sempre destruição. Por exemplo, trabalhar a terra, tomar conta dos filhos, manter uma família, fazer a sociedade crescer: isto é construir. Fazer a guerra é destruir. É uma mecânica de destruição”.

Nesta mesma mecânica, o Papa Francisco inclui o tratamento "criminoso" reservado a milhares de migrantes. "Para chegar ao mar sofrem tanto", diz o Pontífice, e volta a denunciar as "lagers" na Líbia: "Quanto sofrem nas mãos dos traficantes aqueles que querem fugir". Há filmes que mostram isto e muitos são conservados na seção migrantes e refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano. "Eles sofrem e depois arriscam-se a atravessar o Mediterrâneo". Depois, por vezes, são rejeitados, pois alguém que, por responsabilidade local, diz "Não, aqui não vêm"; há estes navios que andam à procura de um porto, que voltam ou morrem no mar. Isto está acontecendo hoje", reitera o Papa. E, como em outras ocasiões, repete o princípio de que "cada país deve dizer quantos imigrantes pode acolher": "Este é um problema de política interna que deve ser bem pensado e dizer "eu posso até este número". E os outros? Existe a União Europeia, temos de concordar, para que possamos alcançar um equilíbrio, em comunhão". Neste momento, em vez disso, apenas "injustiça" parece emergir: "Eles vêm para a Espanha e Itália, os dois países mais próximos, e não são recebidos noutro lugar. O migrante deve ser sempre acolhido, acompanhado, promovido e integrado. Acolhido porque há uma dificuldade, depois acompanhá-lo, promovê-lo e integrá-lo na sociedade". Acima de tudo, integrá-lo a fim de evitar a guetização e os extremismos filhos de ideologias, como aconteceu na tragédia de Zaventem, na Bélgica, com os dois agressores "belgas", mas "filhos de migrantes guetizados". Além disso, os migrantes são recursos em países que registam um forte declínio demográfico. Por conseguinte, sublinha o Papa Francisco, "devemos pensar inteligentemente na política migratória, uma política continental". E o fato de que "o Mediterrâneo é hoje o maior cemitério da Europa deve fazer-nos pensar".

Da mesma forma, o Papa, interpelado sobre isto pelo apresentador, exorta a refletir sobre o que parece ser uma tremenda divisão no mundo: uma parte desenvolvida onde se tem "a possibilidade de escola, universidade, trabalho"; outra, com as "crianças que morrem, migrantes que se afogam, injustiças que vemos também nos nossos próprios países". A tentação "muito feia", sublinha o Pontífice, é "a de olhar para o outro lado, não olhar". Sim, há os meios de comunicação social que mostram tudo "mas nós tomamos distância"; sim, "queixamo-nos um pouco, 'é uma tragédia!" mas depois é como se nada tivesse acontecido". "Não basta ver, é necessário sentir, é necessário tocar", insiste Francisco. "Sentimos falta de tocar as misérias e o tocar leva-nos ao heroísmo". Penso nos médicos, enfermeiros e enfermeiras que deram as suas vidas nesta pandemia: tocaram o mal e escolheram ficar ali com os doentes".

O mesmo princípio se aplica à Terra. Mais uma vez, o Papa Francisco reitera o apelo a cuidar da Criação: "É uma educação que temos de aprender". O Papa olha para a Amazônia e aos problemas de desflorestação, falta de oxigênio, mudanças climáticas: existe o risco de "morte da biodiversidade", existe o risco de "matar a Mãe Terra", afirma. Prosseguiu citando o exemplo dos pescadores de San Benedetto del Tronto, que encontraram cerca de 3 milhões de toneladas de plástico num ano e tomaram medidas para remover todos os resíduos do mar. "Temos de colocar isto na nossa cabeça: tomar conta da Mãe Terra", diz o Papa. 

Francisco cita uma canção de Roberto Carlos na qual um filho pergunta ao seu pai "por que é que o rio já não canta. O rio não canta - o Papa destaca o Papa falando das mudanças climáticas - porque já não existe mais".

O Papa invoca uma atitude de "cuidado", que também parece faltar de um ponto de vista social. Hoje em dia o que vivemos é de fato um problema de "agressividade social", como mostra o fenômeno do bullying: "Esta nossa agressividade deve ser educada. A agressão não é uma coisa negativa em si porque é preciso agressão para dominar a natureza, para ir avante, para construir, há uma agressão positiva, digamos assim. Mas há uma agressão destrutiva que começa com algo muito pequeno, mas quero mencioná-la aqui: começa com a língua, a tagarelice. Mas a tagarelice, nas famílias, nos bairros, destrói". Destrói a "identidade". E isto acontece entre governantes, como entre as famílias. É por isso que o Papa Francisco aconselha, precisamente "para não nos destruirmos", a dizer "não à tagarelice": "Se tem algo contra o outro ou conserva só para você mesmo ou vai ter com ele e o diz na sua cara, ser corajosos, corajosas". 

Com o foco ainda nos jovens, por vezes vítimas de "uma incrível sensação de solidão" apesar de estarem hiperligados, o Papa Francisco dirigiu-se aos pais dos adolescentes, aqueles que por vezes lutam para compreender "o sofrimento dos outros". Para o Bispo de Roma, a relação entre pais e filhos pode ser resumida numa palavra: "proximidade". "A proximidade com os filhos. Quando os jovens casais se vão confessar ou quando falo com eles, faço sempre uma pergunta: 'Você brinca com os seus filhos? A gratuidade do pai e da mãe com o filho. Por vezes ouço respostas dolorosas: 'Mas padre, quando saio de casa para trabalhar eles estão dormindo e quando volto à noite eles estão de novo dormindo'. É a sociedade cruel que os separa dos filhos. Mas a gratuidade com os próprios filhos: brincar com os filhos e não ter medo dos filhos, das coisas que eles dizem, das hipóteses, ou mesmo quando um filho, já mais crescido, um adolescente, escorrega, estar perto, falar como um pai, como uma mãe". Aqueles "pais que não são próximos dos seus filhos, que, para os tranquilizar, dizem 'Mas leva a chave do carro, vai'" não fazem o bem. Por outro lado, "é muito bonito" quando os pais são "quase cúmplices dos seus filhos".

Sobre a questão da proximidade, Fazio recorda a conhecida frase do Papa: "Um homem só pode olhar um outro homem de cima para baixo quando o ajuda a se levantar". Francisco aprofunda o conceito: “É verdade, na sociedade vemos com que frequência as pessoas olham para os outros de cima para baixo para os dominar, para os subjugar e não para os ajudar a levantar. Basta pensar - é uma história triste, mas quotidiana - daqueles empregados que têm de pagar pela estabilidade do seu trabalho com o seu corpo, porque o seu patrão os olha de cima para baixo, para os dominar. É um exemplo diário, mas realmente um exemplo diário". Este gesto, por outro lado, só é lícito para fazer um ato 'nobre', ou seja, estender a mão e dizer 'levante-se irmão, levante-se irmã”. 

A conversa expande-se e toca no conceito de liberdade que é um dom de Deus mas que "é também capaz de fazer muito mal". "Como Deus nos fez livres, somos senhores das nossas decisões e também de tomar decisões erradas", diz Francisco. E ele insiste no conceito de Mal: "Há alguém que não mereça o perdão e a misericórdia de Deus ou o perdão dos homens?" pergunta o apresentador. O Pontífice responde com "algo que talvez chocará algumas pessoas": "A capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão. É um direito que provém da própria natureza de Deus e foi dado como herança aos homens. Esquecemos que alguém que pede perdão tem o direito de ser perdoado. Você fez algo, deve pagar. Não! Tem o direito de ser perdoado, e se você tem uma dívida para com a sociedade, deve pagá-la, mas com o perdão”.

Contudo, há outro Mal, o inexplicável que por vezes atinge os inocentes, e pelo qual se pergunta por que razão Deus não intervém.  "Tantos males - explica o Bispo de Roma - vêm precisamente porque o homem perdeu a capacidade de seguir as regras, mudou a natureza, mudou tantas coisas, e também por causa das suas próprias fragilidades humanas. E Deus permite que isto continue". É claro que as perguntas permanecem sem resposta: "Por que é que as crianças sofrem?". "Não consigo encontrar explicação para isto", admite o Papa. "Eu tenho fé, tento amar a Deus que é meu pai, mas pergunto-me: 'Mas por que sofrem as crianças? E não há resposta. Ele é forte, sim, onipotente no amor. Em vez disso, o ódio, a destruição, estão nas mãos de outro que semeou o Mal no mundo por inveja".

E com o Mal "não se fala", recomenda o Papa, "dialogar com o Mal é perigoso": "E muitas pessoas vão, tentam dialogar com o Mal - eu também já me encontrei nesta situação muitas vezes - mas eu pergunto-me por que, um diálogo com o Mal, isso é uma coisa má... O diálogo com o Mal não é bom, isto vale para todas as tentações. E quando esta tentação chega, "por que as crianças sofrem?", só encontro uma maneira: sofrer com elas". Dostoevsky foi "um grande mestre" nisto.

O futuro, do mundo e da Igreja, ocupa amplo espaço na entrevista. O futuro do mundo, como prefigurado na "Fratelli tutti", com o homem no centro das economias e das escolhas. Esta é uma prioridade que o Papa diz partilhar com muitos chefes de Estado que têm bons ideais. Estes, contudo, colidem com "condicionamentos políticos e sociais, também na política mundial, que impedem as boas intenções". Estas são "sombras" que exercem pressão sobre a sociedade, sobre o povo, sobre aqueles que têm papéis de responsabilidade, diz o Papa: "E depois é preciso negociar muito". Sobre o futuro da Igreja, Jorge Mario Bergoglio recorda a imagem da Igreja delineada por São Paulo VI na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, a inspiração para a sua Evangelii Gaudium: "Uma Igreja em peregrinação". Hoje, "o maior mal da Igreja, o maior", volta a reiterar o Papa Francisco, "é a mundanização espiritual" que, por sua vez, "faz crescer uma coisa feia, o clericalismo, que é uma perversão da Igreja". "O clericalismo que existe na rigidez, e por baixo de todo o tipo de rigidez existe a podridão, sempre", diz Francisco, contando entre as "coisas feias" da Igreja de hoje as "posições rígidas, ideologicamente rígidas" que tomam o lugar do Evangelho. "Sobre atitudes pastorais digo apenas duas, que são antigas: o Pelagianismo e o Gnosticismo. O pelagianismo acredita que com a minha força posso avançar. Não, a Igreja avança com a força de Deus, a misericórdia de Deus e o poder do Espírito Santo. E o gnosticismo, o misticismo, sem Deus, esta espiritualidade vazia... não, sem a carne de Cristo não há compreensão possível, sem a carne de Cristo não há redenção possível", "Temos de voltar ao centro mais uma vez: 'O Verbo tornou-se carne'. Neste escândalo da cruz, do Verbo feito carne, está o futuro da Igreja", diz o Papa.

Ele explica então a importância de rezar: "Rezar", diz, "é o que uma criança faz quando se sente limitada, impotente [ela diz] 'papai, mamãe'. Rezar significa olhar para os nossos limites, as nossas necessidades, os nossos pecados.... Rezar é entrar com força, para além dos limites, para além do horizonte, e para nós, cristãos, rezar é encontrar o 'pai'". "A criança", insiste o Papa, "não espera pela resposta do papai, quando o papai começa a responder ela vai para outra pergunta. O que a criança quer é que o olhar do seu pai esteja sobre ela. Não importa qual seja a explicação, importa apenas que o papai olhe para ela, e isso dá-lhe segurança. Rezar é um pouco isso".

As perguntas tocam depois em áreas mais pessoais: "Alguma vez se sente só? O senhor tem amigos verdadeiros", pergunta-se ao Papa. "Sim", responde, "tenho amigos que me ajudam, eles conhecem a minha vida como um homem normal, não que eu seja normal, não. Tenho as minhas próprias anomalias, eh, mas como um homem comum que tem amigos; e gosto de estar com os meus amigos às vezes para lhes contar as minhas coisas, para ouvir as deles, mas de fato preciso de amigos. Essa é uma das razões pelas quais não fui viver no apartamento papal, porque os papas que lá estiveram antes eram santos e eu não sou tanto assim, não sou tão santo. Preciso de relações humanas, é por isso que vivo neste hotel de Santa Marta, onde se encontram pessoas que falam com todos, se encontram amigos. É uma vida mais fácil para mim, não tenho vontade de fazer outra, não tenho a força e as amizades dão-me força. Pelo contrário, preciso de amigos, eles são poucos, mas verdadeiros".

Durante a entrevista, não faltam referências ao passado e à sua infância em Buenos Aires, à sua torcida pelo San Lorenzo, à sua "vocação" de açougueiro, às suas raízes piemontesas, e à sua experiência no laboratório de química, um estudo "que tanto me seduziu" mas sobre o qual prevaleceu o chamado de Deus. A propósito de confidências, o Papa recorda também o voto que fez a Nossa Senhora do Carmo, em 16 de julho de 1990, de não ver televisão: "Não vejo televisão, não porque a condene" e o seu amor pela música, especialmente pela música clássica. Depois, ele insiste no seu sentido de humor que, diz ele, "é um remédio" e "faz muito bem".

Como cada um dos seus discursos, o Papa Francisco pede orações por ele. "Eu preciso, e se algum de vocês não rezar porque não acredita, não sabe ou não pode, pelo menos envie-me bons pensamentos, boas ondas. Preciso da proximidade das pessoas”. A entrevista se conclui com uma imagem retirada de um filme do pós-guerra: "Para finalizar o diálogo, penso que foi Vittorio De sica que fazia o cartomante, lia as mãos 'obrigado 100 liras', eu digo a vocês '100 orações', '100 liras, 100 orações'. Obrigado".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa fala de ‘santos da porta ao lado’

Papa Francisco e Rayan | ACI Digital

 Vaticano, 07 fev. 22 / 08:56 am (ACI).- “Estamos acostumados a ver, a ler na mídia muitas coisas ruins, notícias ruins, acidentes, assassinatos, muitas coisas. Mas gostaria de mencionar duas coisas boas hoje”, disse o papa Francisco no final da oração do Ângelus de ontem, 6 de fevereiro, diante de numerosos fiéis reunidos na Praça de São Pedro.

Em primeiro lugar, o papa falou do Marrocos, onde um grande grupo de pessoas se uniu para resgatar um menino de 5 anos, Rayan, que caiu em um poço de 32 metros e ficou preso por quatro dias.

O papa agradeceu o testemunho de “como um povo todo se uniu para salvar Rayan. O povo todo estava ali, trabalhando para salvar um menino! Foi feito de tudo".

O papa lamentou que o menino infelizmente tenha morrido pouco depois de ser retirado do poço.

Francisco também relatou outra história que aconteceu na Itália e que "não sairá nos jornais". Falou sobre o testemunho de John, um ganês de 25 anos que trabalhava no norte da Itália até que ficou doente.

“Um emigrante, que sofreu tudo o que tantos emigrantes sofrem para chegar até aqui, e que finalmente se instalou em Monferrato, começou a trabalhar, a fazer o seu futuro, numa adega”.

Francisco contou que este jovem ficou doente com "um câncer terrível e que está morrendo", mas acrescentou que quando lhe contaram o diagnóstico e lhe perguntaram o que ele queria fazer, ele respondeu: 'Ir para casa e abraçar meu pai antes de morrer'. Morrendo, ele pensou em seu pai”.

O papa relatou comovido que quando as pessoas souberam de sua história naquela cidade de Monferrato, se reuniram para fazer uma arrecadação de fundos, o medicaram e o enviaram em um avião com um amigo para "morrer nos braços de seu pai".

"Isso nos mostra que hoje, no meio de tantas notícias ruins, há coisas boas, há os ‘santos da porta ao lado’. Obrigado por estes dois testemunhos que nos fazem bem”, concluiu Francisco

Fonte: https://www.acidigital.com/

“Não discutir com idiotas”: uma armadilha para nos tornar idiotas…

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Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Estejamos sempre abertos a buscar a verdade com todos. A ninguém desqualifiquemos como idiotas.

“Não discutir com idiotas”, a frase – dita com essas palavras ou com outras semelhantes – foi invocada nos últimos tempos em artigos e livros. Diante de eleições muito polarizadas e com posições extremistas em jogo, que dividem famílias e grupos sociais, parece uma ideia muito sensata. Mas oculta um problema: como saber quem é o idiota com o qual não discutir?

Aqueles que rotulam facilmente os outros como idiotas estão mais interessados em se autoafirmar e conseguir seguidores nos debates sociais do que realmente interessados na verdade. A estratégia corresponde a dizer “eu digo quem são os idiotas, então se me seguir você será inteligente”. Quem está interessado realmente na verdade, discute ideias sem rotular pessoas. Além disso, o primeiro sinal de idiotice é justamente acusar os outros de serem idiotas e assim nos furtarmos da necessidade de analisar seriamente os argumentos que apresentam, contrários a nossas posições.

O bom cristão, habituado a um exame de consciência sério, sabe que deve se perguntar sobre os seus pecados antes de acusar os pecados dos outros (quem tem dúvidas, leia Mt 7, 3-5). Antes de acusar o outro de idiota, temos que conhecer suas ideias e motivações e buscar entendê-lo. Antes de dizer que uma ideia é idiota, temos que analisar nossas próprias convicções sobre aquele tema, para ver se nós também não estamos pensando idiotices.

Dialogar, não discutir

Na Fratelli tutti (FT 215), Papa Francisco faz uma proposta radical: “Uma sociedade onde as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças. Na realidade, de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo”. De todos se pode aprender alguma coisa! Portanto é necessário dialogar com todos. Pouco antes, o Papa afirma que “O diálogo social autêntico pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. A partir da própria identidade, o outro tem algo para dar, e é desejável que aprofunde e exponha a sua posição para que o debate público seja ainda mais completo” (FT 203). Não é uma posição relativista ou medrosa, pois “num verdadeiro espírito de diálogo, nutre-se a capacidade de entender o sentido daquilo que o outro diz e faz, embora não se possa assumi-lo como uma convicção própria. Deste modo torna-se possível ser sincero, sem dissimular o que acreditamos, nem deixar de dialogar, procurar pontos de contacto e sobretudo trabalhar e lutar juntos” (Querida Amazonia, QA 108).

O diálogo, praticado num clima de abertura e amizade, deve evoluir para o debate construtivo, onde dados e argumentos racionais são expostos por ambas as partes. Desse debate surgem as soluções consensuais e os acordos realmente comprometidos com o bem comum. Muitas vezes, nossos interlocutores não estão interessados nesse debate e se tornam mais agressivos e irracionais à medida que perdem seus argumentos e sua lógica. Nesse momento, apelam e nos acusam de idiotas. Temos que tomar muito cuidado, porém, para que nós mesmos não nos tornemos esse tipo de pessoa. Muitas vezes, sem nos darmos conta, esquecemos as razões de nossos posicionamentos (que consideramos óbvios demais) ou não percebemos aspectos problemáticos de nossas propostas (que só iremos compreender se ouvimos os argumentos do outro).

Em ano eleitoral…

Posições ideológicas, baseadas em argumentos de autoridade ou no apelo fácil a nossa instintividade, serão cada vez mais comuns nesse ano eleitoral. Também aparecerão cada vez mais ideólogos, em ambos os lados do espectro partidário, usando citações incompletas ou descontextualizadas da doutrina social da Igreja para nos convencer a segui-los. É um tempo em que teremos de dialogar muito, entre nós e com os que pensam diferente, para conseguirmos o justo discernimento cristão.

Estejamos sempre abertos a buscar a verdade com todos. A ninguém desqualifiquemos como idiotas. É difícil ir contra os erros do pensamento hegemônico, ainda que necessário. Contudo, é mais difícil e mais necessário não só ir contra os erros do pensamento hegemônico, mas buscar a verdade – esteja onde estiver – juntamente com os que pensam e com os que não pensam como nós.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

PAPA FRANCISCO CONFIRMA KIKO ARGÜELLO "AD VITAM"

Papa Francisco e Kiko Argüello | Vatican Media

Quando um carisma ou uma realidade eclesial se encontra em estado fundacional, “o fundador não é reempossado, continua à frente… por isso se fala de ‘fundador em vida’ no Decreto”.

É o que o Santo Padre declarou no encontro com todas as associações de fieis, movimentos eclesiais e novas comunidades, organizado pelo Dicastério para Leigos, Família e Vida, em 16 de setembro de 2021.

Com estas palavras o Santo Padre confirmou o que já havia declarado à Equipe Internacional do Caminho Neocatecumenal, Kiko Argüello, Padre Mario Pezzi e Ascensión Romero, na audiência que lhes concedeu no último 3 de setembro.

Em tal ocasião, o Papa havia reconhecido que a natureza do Caminho Neocatecumenal não é a de ser uma Associação ou ser um Movimento, senão uma Iniciação Cristã, que leva ao redescobrimento do Batismo e da vida divina em nós.

Também no encontro com o Dicastério, o Papa sublinhou: “Nós temos que entender que a evangelização é um mandato que vem do Batismo… quem recebeu o Batismo tem a missão de evangelizar”.

Na audiência do último dia 3 de setembro, o Santo Padre renovou sua confiança em Kiko e em sua equipe, animando-os a prosseguir  a missão que o Senhor lhes confiou e também se alegrou pelo início do processo de canonização de Carmen Hernández na arquidiocese de Madri.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

Como o extremismo ideológico pode levar a teorias conspiratórias

AuntSpray | Shutterstock
Por Octavio Messias

Pesquisa com mais de 100 mil participantes mostra que quanto mais distante do centro no espectro político, maiores chances de acreditar em informações sem fundamento.

Em sua tradicional mensagem Urbi et Orbi, no último Natal, Papa Francisco lamentou o cenário de polarização e extremismos que vivemos hoje e, ao longo de apenas duas páginas de discurso, usou a palavra “diálogo” 11 vezes e expôs como a pandemia intensificou a intolerância no mundo. “A nível internacional, corre-se o risco de que esta complexa crise conduza a atalhos em vez de caminhos mais longos de diálogo. No entanto, são esses, na realidade, os únicos que levam à resolução de conflitos e a benefícios compartilhados e duradouros”, afirmou o Pontífice. 

Além dos conflitos, tensões e crises citados pelo Papa, da Síria à Ucrânia, a pandemia também intensificou o radicalismo político e mostrou como isso tende a levar à desinformação e à crença em teorias que não correspondem à realidade. É isso que prova uma pesquisa quantitativa – conduzida com 104.253 pessoas de 26 países – recentemente publicada na revista Nature Human Behaviour.

Arco ideológico

O questionário pedia aos voluntários que se situassem no espectro político (esquerda e direita, de moderada a extema, além do centro), revelassem em quem pretendiam votar nas próximas eleições e que se posicionassem em afirmações como “acredito que eventos aparentemente desconexos são muitas vezes o resultado de atividades encobertas” ou “existem organizações secretas que têm grande influência nas decisões políticas”. Com base nas respostas, os pesquisadores observaram que, quanto mais distantes do centro estivessem os participantes, maior a probabilidade de acreditarem em teorias conspiratórias. O que não faltou na pandemia. 

Teorias de que a ex-chanceler alemã Angela Merkel seria uma alienígena reptiliana, assim como os ex-presidentes norte-americanos George W. Bush e Barack Obama, terraplanismo, o conspiratório movimento QAnon e informações deturpadas ou fictícias a respeito dos efeitos da vacina (colocando a vida de milhares de pessoas em risco) circularam muito além do razoável. Vale lembrar que 80% das internações por Covid-19 no Brasil são de pessoas que não se vacinaram. O estudo salienta que a maioria das pessoas crentes em teorias conspiratórias é de ultradireita. O que não significa que fake news também não circule no outro extremo. 

Validação

No livro A Natureza das Teorias da Conspiração, de Michael Butter, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, o autor explica como esse tipo de teoria conspiratória circula desde a Grécia Antiga, vindo a ganhar força e disseminação no momento presente graças à internet e às mídias sociais. 

Como os algorítimos, que são programados para pregar para convertidos e nos mostrar apenas publicações que correspondem ao nosso arco ideológico, essa pesquisa demontra que, ainda que muitos recorram à razão ao se posicionarem politicamente, o lado emocional muitas vezes fala mais alto. 

Como se estivéssemos constantemente em busca de validação para aquilo que já queremos acreditar. O que é uma atitude perigosa, que gera apenas conflito e desinformação, diminuindo consideravelmente a possibilidade de qualquer diálogo. Como defende Papa Francisco, o diálogo é fundamental para uma convivência social harmoniosa. Assim como nos atermos aos fatos e não a delírios, por mais tentadores que eles possam parecer. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Consciência Negra - tarefa de todos

Protestos contra o assassinato de Moise Kabangambe  (AFP or licensors)

Combater o racismo estrutural no Brasil é tarefa de todos, sem exclusão de ninguém. É a posição de Gislaine Marins, expressa no artigo "Consciência Negra, não Consciência de Melanina" a propósito do recente assassinato, no Rio de Janeiro, do jovem refugiado congolês, Moïse Kabagambe.

Dulce Araújo - Vatican News

O Brasil é um país com um alto índice de assassinato de pessoas negras, ao ponto de se falar em genocídio de jovens negros. E a sociedade quase que se habituou a isso. Já quase nem reage. Mas o brutal assassinato à pancada do jovem refugiado congolês, Moïse Kabagambe, a 24 do mês passado, no Rio de Janeiro, provocou várias reações de condenação da parte de muitos organismos.

A Rede CLAMOR Brasil, a Rede Solidária para Migrantes e Refugiados e a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Transformadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiram – segundo o Programa Brasileiro da Rádio Vaticano  – uma nota assinada em conjunto por mais de 120 entidades pastorais, em que manifestam a sua solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa no Brasil.

Moïse que fugiu com a família da guerra na RDC, vivia há mais de uma década no Brasil. Tinha 24 anos e foi morto violentamente à pancada em frente dum quiosque na Barra do Tijuca (Rio de Janeiro), onde tinha ido pedir o pagamento de alguns dias de trabalho.

Mas porque é que a sua morte causou, de algum modo, e felizmente, mais reações do que o quotidiano assassinato de jovens negros no Brasil?

Segundo a  Drª Gislaine Marins, professora, que a respeito do caso Moíse escreveu  um artigo intitulado “Consciência Negra, não Consciência de Melanina”, é que há no país há maior sensibilidade em relação a estrangeiros.

De qualquer modo, ela considera que a raiz da discriminação racial no Brasil tem a ver com o passado colonial e a exploração económica (que se estende ainda hoje aos migrantes) e que é preciso conhecer a História do país e pôr a tónica na educação para se combater eficazmente o fenómeno. E não se trata apenas de tarefa dos negros, mas a Consciência Negra deve envolver todos, independentemente da cor da pele, a fim de se poder construir uma sociedade realmente livre do racismo. 

A Doutora Gislaine Marins é formada em Letras, tradutora, professora, com participação no Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas e autora do Blog “Palavras Debulhadas” para a divulgação da língua portuguesa. O seu artigo “Consciência Negra, não Consciência de Melanina” foi publicado no dia 4 de fevereiro no site da emissora brasileira “Tua Radio Alvorada”. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF