Estabelecida sobre o Monte de Sião, se transformou na utopia
da “Nova Jerusalém”.
Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico
Redentorista
Nenhuma cidade do mundo recebe tanta evidência, seja pelo
sentido religioso, político, ou pelos desafios da violência e da tensão que lá
se vive, como a cidade de Jerusalém, atual capital religiosa do moderno estado
de Israel.
Os principais acontecimentos da vida de Jesus Cristo se
centram nesta cidade, considerada a capital religiosa de quatro grandes
religiões. A comunidade cristã que nasceu em Jerusalém com os eventos da Páscoa
e Pentecostes se transformou na comunidade mãe do cristianismo.
Origem histórica
Os historiadores têm dificuldades para localizar a origem
histórica da cidade de Jerusalém e o conhecimento a respeito de seus primeiros
habitantes é bastante limitado. As maiores cidades da região conhecida como
Terra de Canaã surgiram por volta de 3,2 mil anos antes de Cristo, mas não é
possível precisar com exatidão quando se deu o surgimento de Jerusalém.
Por volta do século XX a.C., a região de Canaã recebia
forte influência do Egito, a grande potência de então, que manteve a influência
até o século XV a.C mais ou menos. Por certo tempo, o povo hurrita invadiu a
região, exercendo influência sobre Jerusalém e, um século mais tarde,
aconteceram diversas guerras entre as cidades-estado cananeias e seu poder foi
diminuindo. Como os egípcios estavam mais preocupados com os problemas
internos, outro povo, os jebuseus, aproveitou para se estabelecer em Jerusalém
onde ficou até o até o ano 1000 a.C mais ou menos, quando o povo hebreu,
liderado pelo rei Davi, conquistou a cidade.
Apogeu e decadência da Cidade Santa
Depois da escravidão no Egito e da Era dos Juízes que
ajudaram o povo a reconquistar a Terra de Canaã, na Era dos Reis o povo hebreu
viveu apogeu de sua história com os reis Saul, Davi e Salomão.
Davi que conquistou Jerusalém e a cidade foi posteriormente
engrandecida por Salomão, famoso pela sua sabedoria e pela construção do
Templo, do qual resta hoje apenas os fundamentos. Como expressa o salmo 122
visitar Jerusalém era o sonho de todo e qualquer judeu:
“Que alegria quando me disseram: Vamos à casa do
senhor e agora nossos pés já se encontram às tuas portas, ó Jerusalém!”
Após Salomão o reino se dividiu, decaiu, sendo
sucessivamente dominado por povos estrangeiros. O Cativeiro da Babilônia, por
exemplo, marcou duramente a histórica do povo hebreu. Quando Jesus nasceu, a
cidade de Jerusalém e a atual Palestina, dominadas pelos romanos, foram
transformadas numa de suas províncias. No ano 70 d.C. Jerusalém foi destruída
pelos romanos depois de uma revolta, sendo transformada numa cidade pagã com o
nome de Aedes Capitolina.
A cidade permaneceu dominada até o ano de 476 d.C., quando
aconteceu a queda e a desagregação do poderoso Império Romano do Ocidente. Com
isso, a cidade passou ao domínio do Império Romano do Oriente, conhecido como
Império Bizantino, com sua capital em Constantinopla.
O controle e o poder dos bizantinos sobre Jerusalém
encerraram-se quando a cidade foi conquistada pelos muçulmanos, mas apesar da
conquista, os judeus e os cristãos obtiveram o direito de continuar com a
prática de sua religião, desde que pagassem um imposto e não oferecessem
resistência.
A cidade de Jerusalém foi mantida como propriedade de
diversos califas com alternância de períodos mais duros e outros de maior
liberdade para os judeus e para os cristãos até que na Idade Média, em 1095, o
Papa convocou as cruzadas para libertar a Terra Santa e a cidade de Jerusalém
das mãos dos muçulmanos. Ao todo foram realizadas sete cruzadas, que no geral
fracassaram em seus objetivos.
Após trocar de mãos várias vezes, em 1517, Jerusalém foi
conquistada pelos otomanos, que lá permaneceram até 1917, quando chegaram os
ingleses e outras potências europeias dominando e dividindo não apenas a
Palestina, mas todo o Oriente Médio.
A cidade de Jerusalém hoje
Desde a destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C.
os judeus foram se espalhando pelo mundo num processo conhecido como Diáspora.
Em cada cidade onde se estabeleciam formavam um bairro fechado, como o de
Varsóvia que foi destruído na Segunda Guerra Mundial.
Em 1948, no contexto do final da Segunda Guerra e da
reorganização política do mundo, os ingleses influenciaram as Nações Unidas que
permitiram a criação do Novo Estado de Israel, o retorno dos judeus que estavam
espalhados pelo mundo e que haviam sofrido o grande holocausto na Segunda
Guerra.
Começava então um novo capítulo na história da cidade e da
região que vém até os nossos dias. Hoje a cidade de Jerusalém continua sendo a
cidade que tem em seu interior a presença de quatro grandes religiões: judeus,
muçulmanos, cristãos romanos e cristãos ortodoxos.
A cidade de Jerusalém mante o simbolismo de se transformar
na terra tão sonhada de todos, lugar de paz, de justiça e igualdade. Por isso,
não apenas os judeus, mas todos nós, continuamos a sonhar com a Nova Jerusalém,
como expressa o Livro do apocalipse:
“Em breve eu virei! Guarde o que você tem, para que
ninguém tome a sua coroa. Farei do vencedor uma coluna no santuário do meu
Deus, e dali ele jamais sairá. Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da
cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce dos céus da parte de Deus; e
também escreverei nele o meu novo nome. (Apocalipse
3,11-12).