Orfa
Astorga - publicado em 01/09/21 - atualizado em
25/07/25
Exercício da janela da alma: quando a depressão afeta a
família e a dimensão espiritual da pessoa é negligenciada.
Roberto hoje trata sua depressão. Mas como manifestação
desse problema, ele passou muito tempo evitando se envolver em projetos e
iniciativas familiares.
Sua falta de entusiasmo e interesse era justificada pelo
argumento de que ele não tinha tempo ou estava cansado. Em casa, ele não
escondia o rosto de tédio, aborrecimento e uma seriedade incompreensível que a
família tinha de suportar.
"Acontece que eu sofro de depressão", reconhece
hoje, "mas agora com os medicamentos que estou tomando e a ajuda
psicológica, tenho certeza de que em breve estarei melhor."
Certamente, a princípio ele estava deprimido, com ideias
inconsistentes e a auto-estima baixíssima. Mais à medida que progredia em seu
tratamento, seu comportamento mudou, tornando-se calmo e autoconfiante.
Em um determinado momento, ele percebeu que durante toda a
sua vida tinha lutado contra a depressão, mesmo sem saber.
Assim, ele passou a valorizar seus êxitos, mas insistia em
deixar a família de lado.
Suas conversas giravam em torno do quanto ele havia
conseguido: seus estudos, sua experiência de vida e trabalho, isso e aquilo...
Era evidente que, em sua escala de valores, os afetos da família não estavam
conscientemente em primeiro plano.
Pouco a pouco, ele foi reconhecendo que havia uma certa
falta de humildade nele.
Então, expliquei-lhe que ele estava acometido por uma doença
do espírito, o que seria um obstáculo para superar definitivamente o seu
problema.
Não convencido, nossa conversa continuou assim:
– Doença do espírito? Eu realmente não esperava isso! –
ele me disse.
– Acontece que você não começou a olhar pela janela da
sua alma e, por isso, proponho um exercício de imaginação – afirmei.
– Tudo bem, então vamos em frente – ele me respondeu com
certa ironia.
Eu lhe disse:
– Feche os olhos. Agora imagine-se trancado em uma sala
em uma escuridão impenetrável. De repente, você abre uma janela através da qual
entra uma luz que ilumina seu coração e você consegue ver com grande clareza
que sua esposa e filhos o amam, que você é a coisa mais importante na vida
deles e que sua própria felicidade depende da deles.
Então eu lhe pedi que fizesse uma interpretação dessa imagem
a partir da perspectiva de sua doença e de sua situação familiar, sendo muito
honesto consigo mesmo.
Deixei-o sozinho por alguns instantes, e depois retornei.
Ele me disse:
– Consigo ver claramente o que você indica e entendo que
o quarto escuro se refere à minha depressão. Essa escuridão é causada pela
minha doença, o que é algo muito real.
– O seu amor também é real – eu lhe disse.
– Sim, é verdade – ele respondeu, balançando a cabeça
tristemente –. Mas com relação a isso e aos problemas que tenho causado, os
especialistas me dizem que, de certa forma, não sou culpado pelo meu
comportamento.
Eu lhe disse:
– Não se trata de se sentir culpado, mas de se sentir
responsável. Trata-se de descobrir por si mesmo que a solução definitiva não
virá de lidar apenas com o orgânico e o mental. Ou seja, confiar apenas na
ciência ou na sua vontade. Também é necessária a humildade para esvaziar seu
coração de tantas ideias sobre si mesmo, preenchê-lo com a bela realidade do
amor de Deus e dos outros e, assim, tirar proveito das energias que podem fluir
disso. É por isso que proponho que você olhe pela janela da alma todos os dias,
para deixar seu coração se iluminar, de forma que sua inteligência, sua vontade
e seu espírito possam unir forças para fazer mudanças verdadeiramente
significativas em sua vida, as quais o levarão a não complicar sua existência
recaindo na doença.
As mudanças necessárias são:
Roberto segue seu tratamento e logo terá alta. Mas ele
reconhece que cuidará sempre de manter aberta a janela de sua alma.