Tom
Hoopes - publicado em 25/07/25
Deus conta histórias desde a fundação do mundo. É por
isso que o ser humano é um “animal contador de histórias”.
Sempre me fascinou um aspecto de Deus que costumamos
esquecer: Deus é um dramaturgo.
O Dr. Andrew Swafford, teólogo do Benedictine College, em
Atchison, Kansas, onde trabalho, acaba de lançar uma série de vídeos sobre as
parábolas de Cristo, chamada “Cristo, o Contador de Histórias”.
É um ótimo lembrete de que nosso Deus é um Deus contador de
histórias, e nós, que fomos criados à sua imagem, também somos contadores de
histórias.
Primeiro: As histórias que contamos moldam quem somos.
O falecido filósofo Alasdair McIntyre dizia: “O homem é um
animal contador de histórias” e acrescentava: “Só posso responder à pergunta ‘o
que devo fazer?’ se puder responder antes à pergunta ‘de que história ou
histórias eu faço parte?’”
Ele quer dizer que, se eu conto minha história como “um
marido e pai, em jornada para o céu”, eu me comportarei de forma diferente do
que se visse minha história como “eu, eu mesmo, pegando o que puder antes que
tudo acabe.”
Somos feitos para as histórias, segundo McIntyre. “Privar as
crianças das histórias é deixá-las sem roteiro, gaguejantes em suas ações,
assim como em suas palavras”, ele diz. “Não há como compreender nenhuma
sociedade, inclusive a nossa, sem conhecer o seu acervo de histórias.”
As histórias não apenas me dizem o que devo fazer, elas me
dizem quem eu sou.
Segundo: Somos assim porque Deus foi assim primeiro.
Como expressa uma antiga analogia: o Pai pronuncia a
Palavra, que é o Filho, com seu Sopro, que é o Espírito Santo. Isso faz de toda
a criação uma história. De fato, no Credo de cada domingo, professamos que Deus
é “Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”, mas não sem o Filho, pois
“por Ele todas as coisas foram feitas”, juntamente com o Espírito Santo, “o
Senhor que dá a vida.”
No domingo da Santíssima Trindade, Jesus explicou como
funciona essa narrativa eterna, dizendo: “Ainda tenho muitas coisas para vos
dizer”, mas insistindo que não falaria mais; em vez disso, o Espírito Santo
“vos dirá tudo o que tiver ouvido” do Pai, porque “tudo o que o Pai tem é meu.”
Assim, Deus conta a história das Escrituras.
Mas terceiro: Deus escreveu outro livro além das
Escrituras: o Livro da Natureza.
Como aponta o teólogo Matthew Ramage, os “dois livros” de
Deus são um tema favorito da tradição cristã, desde os Padres da Igreja até o
Papa Bento XVI, que disse:
“A imagem da natureza como um
livro tem raízes no cristianismo e foi muito apreciada por muitos cientistas.
Galileu via a natureza como um livro cujo autor é Deus, da mesma forma que a
Escritura tem Deus como autor. É um livro cuja história, cuja evolução, cuja
‘escrita’ e significado nós ‘lemos’ segundo as diferentes abordagens das
ciências.”
Quem já ouviu o podcast “A Bíblia em um Ano” viu como
funciona um dos livros de Deus. A partir das vidas escandalosamente pecadoras
de pessoas comuns, Deus constrói uma narrativa que aponta para Ele. Seu outro
livro funciona da mesma maneira.
Quarto: O Livro da Natureza, como a Bíblia, é uma
história bagunçada, mas que no fim se orienta para Deus.
Chris Baglow, da Universidade de Notre Dame, diz que a
ciência revela que o desenvolvimento do universo é “uma história com sentido —
um drama.”
Para ter uma boa história, segundo ele, você precisa de um
princípio de ordem subjacente, tempo suficiente para o drama se desenrolar — e
então um elemento de novidade ou surpresa.
Temos tudo isso no universo: leis naturais que funcionam com
ordem infalível, mas coisas surpreendentes acontecem: asteroides colidem com
planetas, alterando seus climas; a vida surge em um lugar e não em outro;
animais se adaptam de formas inesperadas; certos mamíferos desenvolvem escamas
enquanto outros desenvolvem nadadeiras; e então acontece a coisa mais
surpreendente de todas: animais humanos começam a contar suas próprias
histórias.
Para ver uma grande representação da “história científica”
da criação, assista ao filme “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick. Aos 19
minutos e 30 segundos, uma mãe enlutada pergunta a Deus: “Senhor, por quê? Onde
estavas?” e o filme responde com uma bela representação da resposta de Deus no
livro de Jó.
Quinto: E essa é a história de fundo das parábolas que
Jesus conta.
Ao contar a história de “Cristo, o Contador de Histórias”,
Swafford se baseia em seu trabalho como um dos autores do livro da Ascension
“Um Guia Católico do Novo Testamento.”
O livro descreve como Cristo foi um mestre extraordinário de
muitas formas, mas acrescenta: “Para Jesus, contar histórias era sua técnica
favorita.”
Assim como os alunos lembram mais das histórias dos
professores do que das lições, Jesus sabia que suas parábolas causariam um
impacto profundo nas pessoas.
Isso porque elas vêm da própria essência do ser e do coração
da natureza. São histórias sobre sementes e semeadores, vinhedos e donos de
vinhedos, vida vegetal e vida humana.
Em outras palavras, são ecos da história que Deus vem
contando desde a fundação do mundo.
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