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quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Caverna de Ló: um local de peregrinação bíblica

Damira| Shutterstock
Uma formação rochosa perto do Santuário de Agios Lot, na Jordânia, venerada como a esposa de Ló como uma estátua de sal

Daniel Esparza – publicado em 11/06/24

O santuário de Agios Lot, também conhecido como Deir 'Ain' Abata, tem um significado especial tanto nas escrituras quanto na arqueologia.

Na costa sudeste do Mar Morto, quase escondido na dramática paisagem jordaniana, fica o santuário de Agios Lot, um lugar profundamente impregnado de história bíblica. Não muito longe da moderna cidade de Safi (conhecida como Zoara nos tempos antigos), este santuário oferece aos peregrinos e aos viajantes um raro vislumbre de um espaço considerado sagrado, que toca os corações dos crentes pertencentes a diferentes tradições monoteístas há milénios.

O santuário de Agios Lot, também conhecido como Deir 'Ain' Abata, tem um significado especial tanto nas escrituras quanto na arqueologia. Está representado no famoso Mapa Mosaico de Madaba da Jordânia , do século VI, como o "Santuário de Santo Lot". O facto de o local já figurar neste mapa lendário sublinha a sua importância durante a era bizantina como local de peregrinação cristã.

A peça central do santuário é a Caverna de Ló, um espaço modesto mas sagrado que se acredita ser o refúgio onde Ló e suas filhas buscaram abrigo após a destruição de Sodoma, episódio bíblico narrado no Gênesis.

Entrar na Caverna de Ló, apesar de seu tamanho humilde, evoca um sentimento de reverência. Esta sala agora modesta já teve piso de mármore e abrigou tesouros arqueológicos que apontam para séculos de tradição religiosa. As escavações mostram que a caverna permaneceu um centro espiritual no início do período Abássida, reverenciado tanto por cristãos como por muçulmanos, já que Ló também é homenageado como profeta no Islã.

Mosteiro de Lot

As ruínas de um grande complexo monástico, que já foi um exemplo da arquitetura bizantina local, cercam esta caverna sagrada. Os mosaicos da basílica, datados do século VII, juntamente com inscrições gregas que mencionam Lot, atestam a antiga veneração cristã do local.

A descoberta de casas, de uma pousada de peregrinos e até de uma antiga cisterna convertida em câmara mortuária oferece uma imagem viva de como era a vida monástica na região.

O santuário de Agios Lot, também conhecido como Deir 'Ain' Abata, tem um significado especial tanto nas escrituras quanto na arqueologia. Está representado no famoso Mapa Mosaico de Madaba da Jordânia, do século VI, como o "Santuário de Santo Lot".Floriano G. | CC POR 2.0

Hoje, este antigo santuário, cuidadosamente preservado pelo Conselho de Turismo da Jordânia , convida os viajantes a se reconectarem com o passado sagrado. Numa terra partilhada por judeus, cristãos e muçulmanos, os visitantes encontram um fio ininterrupto de adoração que une o passado e o presente: um santuário escavado na terra, mas que se estende até aos céus.

O Santuário de Agios Lot oferece aos peregrinos não só uma viagem pela história, mas também um encontro profundo com o património espiritual comum da Terra Santa.

Fonte> https://es.aleteia.org/2024/11/06/la-cueva-de-lot-un-lugar-de-peregrinacion-biblica

Arquidiocese de Brasília ganha cadeira usada por papa são João Paulo II

O GDF doou a cadeira usada pelo papa são João Paulo II em sua visita à Brasília para a arquidiocese da capital | Renato Alves/ Agência Brasília

Arquidiocese de Brasília ganha cadeira usada por papa são João Paulo II em visita à capital em 1980

Por Monasa Narjara*

6 de nov de 2024

O governo do Distrito Federal (GDF), por meio da secretaria de administração penitenciária do Distrito Federal (Seape), doou hoje (6) à arquidiocese de Brasília uma cadeira usada pelo papa são João Paulo II em sua visita à capital do país, em julho de 1980.

Segundo o GDF, a doação desta relíquia acontece em meio aos preparativos dos 65 anos da arquidiocese de Brasília em julho de 2025 e também em vista dos 60 anos da catedral, que será celebrado em maio de 2030.

A cadeira estava à disposição do Centro de Internamento e Reeducação (CIR) que faz parte do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, local onde são João Paulo II se encontrou com os detentos em 1980 e disse palavras de encorajamento a eles. Agora com a doação à arquidiocese, a relíquia ficará exposta na catedral de Brasília.

“Doar uma cadeira com tanta história é um gesto carinhoso e significativo do governo do Distrito Federal. Nós pretendemos colocá-la na nossa catedral, de forma que ela possa ficar exposta à visitação. Que as pessoas possam ver a beleza desse gesto do governo para o povo e, principalmente, para comunidade católica”, disse o arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cezar Costa. Ele destacou que “ano que vem vamos jubilar”. “Então, é um ano que a catedral será visitada pelas pessoas de toda a arquidiocese, além dos turistas que já visitam. As pessoas vão poder ver a beleza deste monumento”, disse.

Em outubro passado, o cardeal Paulo Cezar Costa levou consigo para o Sínodo da Sinodalidade, em Roma, três cartas convite ao papa Francisco para que ele esteja presente na comemoração de 65 anos da fundação da cidade e da arquidiocese de Brasília em julho de 2025. Uma das cartas foi assinada pelo arcebispo de Brasília e as outras duas pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF).

*Monasa Narjara é jornalista da ACI Digital desde 2022 e foi jornalista na Arquidiocese de Brasília entre 2014 a 2015.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59965/arquidiocese-de-brasilia-ganha-cadeira-usada-por-papa-sao-joao-paulo-ii-em-visita-a-capital-em-1980

São Vilibrardo (ou Vilibrordo)

São Vilibrardo (A12)
07 de novembro
Localização: Inglaterra
São Vilibrardo ou Vilibrordo

Vilibrordo nasceu na Inglaterra em 658. A família deste jovem missionário ofereceu muitos santos para a vida da Igreja na Inglaterra.

Aos cinco anos seu pai o entregou aos beneditinos do mosteiro de York, onde foi educado. Ainda jovem demonstrou realmente vocação religiosa e aos vinte anos seguiu para a Irlanda para aperfeiçoar seus conhecimentos teológicos. Pouco antes de completar trinta anos de idade recebeu a ordenação sacerdotal.

Em 690, Vilibrordo e 11 companheiros seguiram para a Holanda, na região da Frígia, com a missão de evangelizar este povo bárbaro e muito hostil ao Evangelho. O Papa Sérgio I o abençoou e animou, e o presenteou com relíquias de santos mártires para serem colocadas nas futuras igrejas.

Ele foi um grande organizador, era um excelente líder e logo fez muitos progressos. Cinco anos depois, ele entregou ao Papa um relatório dos resultados que conseguira, e em agradecimento recebeu a sagração episcopal e um acréscimo latino ao seu nome: Clemente. Na sua diocese, em Utrecht, ele construiu a Catedral do Santíssimo Redentor.

Morreu no mosteiro de Echternach, no dia 7 de novembro de 739, aos 80 anos de idade, alquebrado pela gigantesca atividade apostólica, que incluiu também a região da Turíngia e a Dinamarca. É considerado patrono dos que sofrem com epilepsia e convulsões.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR;
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A vocação da Igreja é essencialmente missionária. Hoje celebramos a festa de São Vilibrordo, um grande missionário das regiões do norte da Europa, junto a São Columbano, São Vilibraldo e São Bonifácio. Sua coragem e fé o levou enfrentar os desafios da evangelização nas regiões marcadas pelo paganismo bárbaro. Que Deus nos conceda espírito missionário para continuar espalhando a fé no Reino dos Céus.

Oração:

Deus Pai de misericórdia, que no Seu projeto de amor pela humanidade, escolhestes São Vilibrordo para proclamar as maravilhas da fé, concedei-nos, por sua intercessão, conservar em nós o espírito missionário que nos leva à união com Cristo, que vive e reina para sempre. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Papa aos seminaristas: cultivem a proximidade e o serviço ao povo de Deus

Papa com os seminaristas da Província Eclesiástica de Toledo (Vatican Media)

“O presbítero deve ser próximo de Deus, próximo do bispo, próximo dos irmãos sacerdotes e próximo do povo fiel de Deus”, afirmou o Papa Francisco em seu discurso aos seminaristas da comunidade de Toledo, na Espanha, nesta quinta-feira, 7 de novembro.

Thulio Fonseca – Vatican News

Na manhã desta quinta-feira, 7 de novembro, o Papa Francisco recebeu a comunidade do Seminário de Toledo, na Espanha, por ocasião de sua peregrinação a Roma. O Pontífice iniciou sua saudação destacando a importância das “quatro proximidades” que devem ser vividas por cada sacerdote e são fundamentais para o ministério sacerdotal, não devendo ser negligenciadas:

“Primeiro, a proximidade com Deus, de modo que haja essa capacidade de encontrar o Senhor, de estar próximo do Senhor. Segundo, a proximidade com os bispos, e os bispos, proximidade com os presbíteros. Um presbítero que não é próximo do seu bispo é ‘manco’, falta-lhe algo. Terceiro, a proximidade entre vocês, presbíteros, que começa já no seminário, e quarto, a proximidade com o santo povo fiel de Deus.”

A Eucaristia e a presença de Cristo

Referindo-se à festa do “Reservado”, uma tradição da comunidade de Toledo que celebra a primeira vez em que o Santíssimo Sacramento foi reservado no Tabernáculo da capela, o Papa destacou três momentos que ilustram elementos essenciais da vocação sacerdotal: a celebração da Eucaristia, a adoração ao Santíssimo e a procissão, e explicou a importância de cada etapa, começando pela celebração eucarística:

“É Jesus que vem à nossa vida para nos dar a prova do amor maior. Ele nos convida, como Igreja, a nos tornarmos presentes no sacerdócio e no povo, no sacramento e na Palavra. Que tê-lo aqui na terra possa absorver sua vida e seu coração.”

Papa Francisco durante a audiência com os seminaristas de Toledo (Vatican Media)

Encontro pessoal com Jesus

Em seguida, Francisco sublinhou o valor da adoração e da oração individual, momentos em que o sacerdote permanece na presença de Jesus exposto no Santíssimo Sacramento. É nesse encontro íntimo e silencioso com o Senhor que a vocação ganha forças e sentido:

“Apenas o encontro pessoa a pessoa, um encontro apaixonado com Jesus, pode iluminar, sustentar e transformar o curso de nossa jornada terrena. Que esse encontro seja um impulso eficaz que transforme sua existência.”

Levar o Senhor ao povo

Por fim, o Papa recordou que o sacerdote deve levar Jesus em procissão, aproximando o Senhor do povo e o povo do Senhor. Esta missão de acompanhamento é parte essencial do ministério sacerdotal:

“Vocês recebem o Senhor para levá-lo ao povo. Que possam, sem desviar o olhar daquele que nos guia, aprender a caminhar juntos na esperança do encontro, que já aqui experimentamos de forma sacramental.” Francisco concluiu o encontro com um diálogo a portas fechadas com os seminaristas e a equipe formativa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Papa Francisco e a colonização espiritual da coca na academia

O Papa Francisco Descreveu Uma Visão De Educação Baseada Na Compaixão, No Diálogo E Na Humildade Foto: Universidade Gregoriana

Papa Francisco e a colonização espiritual da coca na academia

Papa Francisco apela a um novo espírito académico na Universidade Gregoriana: afastar-se do intelecto como único elemento.

05 DE NOVEMBRO DE 2024 19H20 VALENTINA DI GIORGIO PAPA FRANCISCO

(ZENIT News / Roma, 05.11.2024).- Em discurso na Pontifícia Universidade Gregoriana, o Papa Francisco descreveu uma visão de educação baseada na compaixão, no diálogo e na humildade, e apelou a uma abordagem que vá além do intelectualismo para se envolver com as realidades vividas. . Ao revelar a sua nova configuração, que agora inclui o Pontifício Instituto Bíblico e o Pontifício Instituto Oriental, o Papa exortou os estudiosos e educadores a cultivarem uma atmosfera inclusiva, “menos em pedestais e mais em mesas partilhadas”, defendendo uma sociedade “desarmada”. modelo de diálogo.

O Papa Francisco Descreveu Uma Visão De Educação Baseada Na Compaixão, No Diálogo E Na Humildade Foto: Universidade Gregoriana

Falando perante uma audiência de estudantes, o Papa Francisco condenou o que descreveu como “colonização espiritual da coca” na academia. Ele enfatizou a necessidade de uma teologia que não se torne obsoleta ou limitada aos museus, mas que permaneça dinâmica, ligada tanto ao sofrimento do mundo como às suas esperanças. A sua palestra também destacou os perigos daquilo que chamou de “Coca-Cola espiritual” ou “a privatização da fé em mera conveniência”, alertando que a sede de relevância não deve ofuscar uma busca mais profunda pela verdade.

O Papa destacou os perigos que representam o avanço tecnológico descontrolado, particularmente a inteligência artificial. Ele incentivou estudantes e educadores a explorarem os limites do raciocínio algorítmico e a fomentarem valores como ironia, humor e criatividade, qualidades que a IA não consegue reproduzir. A educação, sugeriu ele, deveria ser um lugar para “cultivar sementes de imaginação”, alicerçando o rigor intelectual no coração e na humanidade.

O Papa Francisco Descreveu Uma Visão De Educação Baseada Na Compaixão, No Diálogo E Na Humildade Foto: Universidade Gregoriana

O jesuíta Arturo Sosa, vice-grão-chanceler da Gregoriana, fez eco ao apelo do Papa, sublinhando que o estudo científico e teológico deve “abrir novos caminhos para a fé” que interajam com a sociedade e a transformem. O Reitor Mark Lewis reforçou isto ao observar o papel histórico e evolutivo do Gregoriano como um lugar de formação intelectual e espiritual, preparado para atender às necessidades da igreja moderna de uma forma que respeita diversas perspectivas.

Um tema unificador do discurso do Papa Francisco foi a sua visão de uma educação que não apenas forma mentes, mas nutre almas. Refletindo sobre as crises globais, particularmente a “loucura da guerra”, ele expressou pesar pelo mundo “em chamas de divisão”, exortando a comunidade académica a gerar “sabedoria nascida do compromisso com a dor e a esperança de pessoas reais”. A verdadeira educação, insistiu ele, significa “chegar perto o suficiente para ser tocado pelas feridas do mundo” e adotar uma humildade que desarma o orgulho intelectual.

O Papa Francisco Descreveu Uma Visão De Educação Baseada Na Compaixão, No Diálogo E Na Humildade Foto: Universidade Gregoriana

Francisco terminou com um apelo a abraçar o humor, recordando a oração de São Tomás More, que procurava “uma boa digestão e algo para digerir”. Destacando o riso como essencial à humanidade, incentivou a comunidade acadêmica a evitar “se perder em labirintos intelectuais” e a trazer o humor ao caminho do aprendizado. Antes de partir, o Papa Francisco cumprimentou estudantes e funcionários e fez um momento de oração silenciosa, refletindo a sua profunda esperança num futuro onde a teologia, a fé e a humanidade andem de mãos dadas.

Fonte: https://es.zenit.org/2024/11/05/papa-francisco-y-la-coca-colonizacion-espiritual-en-ambito-academico/

“Estou enxergando a vida com os óculos corretos”

Foto de Paula (Crédito: Opus Dei)

Estou enxergando a vida com os óculos corretos

Paula conta a sua história de conversão: “Viver o catolicismo é lindo e essa convicção me faz querer viver para compartilhar toda a sabedoria da Igreja.

28/10/2024

Apesar de ter estudado a vida inteira em colégio católico, minha família sempre foi mais próxima do Espiritismo de Alan Kardec. Fui batizada, fiz a Primeira Comunhão, mas nunca conheci de verdade o Cristianismo. Estudei e participei de outras doutrinas espiritualistas entre os meus 22 e 45 anos. Fiz psicoterapia e psicanálise por 20 anos. Sempre busquei respostas ao vazio existencial inerente ao ser humano que não está perto de Deus. Que bom que não desisti. Ouso dizer que acreditava que a minha constante inquietação interior seria consequência de uma insatisfação profissional, uma vez que após o terceiro filho escolhi parar de trabalhar para me dedicar mais à família.

Acredito que o meu processo de conversão ao Catolicismo se iniciou em 2016 e foi se aprofundando até atingir o seu ápice em 2020, quando a pandemia propiciou um estudo mais intenso e aprofundado sobre a religião. Ao participar das aulas de Catecismo do meu filho caçula houve um despertar para a vida de Jesus, participei de algumas missas, percebi que nunca havia estudado de verdade o Cristianismo. No ano seguinte passamos um ano em Portugal e tive a oportunidade de visitar várias vezes o Santuário de Fátima. Rezava e acendia velas pedindo fé e orientação para eu encontrar o meu caminho e minha convicção espiritual.

Foi nesse mesmo período que comecei a acompanhar as lives de alguns influencers católicos pela internet. Eles não falavam de doutrina diretamente, mas discutiam assuntos a partir de valores com os quais eu me identificava. Citavam São Josemaria Escrivá, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino para refletir sobre personalidade, justiça, caráter, ética, fé, educação de filhos, relacionamentos, política, filosofia, religião. Pronto. Eu fiquei impressionada com a formação daqueles “rapazes” mais novos que eu e com tanta maturidade e sabedoria. Comecei um curso de catequese para adultos pela Internet.

Nesse mesmo período descobri um câncer de mama que foi um susto, mas que foi resolvido em poucos meses. Quando terminei o tratamento chegou a pandemia e intensifiquei ainda mais os estudos. Passava horas do dia organizando a casa e ouvindo as aulas. Iniciei o terço diário e missas online na pandemia e, assim que as igrejas abriram as portas, passei a frequentar a missa diária.

Após essa imersão com a catequese e tantas aulas, quis conhecer São Josemaria Escrivá e “a santificação no trabalho nos deveres cotidianos do cristão”. Houve uma identificação de imediato pois sempre considerei o trabalho e a família como as bases vitais para conquistar uma vida feliz, saudável e em equilíbrio. Quanto mais ouvia mais queria entender como alcançar aquele pensamento que unia a ciência, o intelecto e a fé com tanta propriedade. Minha conversão se deu de forma muito racional.

O impacto do acesso à base filosófica clássica (que se desenvolveu a partir da filosofia grega de Sócrates, Platão e Aristóteles, e que foi lindamente desenhada para a Igreja Católica por St. Agostinho e St. Tomás de Aquino) e toda a sua coerência e correlação com o desenvolvimento de ideias e temas tão atuais como direitos humanos, matrimônio, aborto, feminismo, fizeram com que eu passasse por um novo processo de “alfabetização”. Era como se eu tivesse, finalmente, enxergando a vida com os óculos corretos. Conhecer a educação pelas virtudes e os Sacramentos pelo Catecismo da Igreja proporcionaram um rico processo de conscientização da Verdade. Acho que foi isso. Vivi, aliás, ainda vivo uma espécie de deslumbramento com a doutrina católica. Viver o catolicismo é lindo e essa convicção me faz querer viver para compartilhar toda a sabedoria da Igreja.

Passando pela indignação, ou até uma revolta, por ter passado tanto tempo sem acesso a tanta riqueza, decidi começar pelo principal: procurar direção espiritual em um centro do Opus Dei e iniciar os passos para uma sólida sustentação espiritual e receber os Sacramentos. Após 18 anos de união eu e meu marido fizemos curso de noivos e casamos na Igreja; incorporei a missa e o terço à minha rotina e passei a viver os sacramentos da Eucaristia e da Confissão com frequência. Preciso compartilhar aqui que imensa foi a minha surpresa com a sensível transformação interior após o entendimento da doutrina e a prática constante dos sacramentos da Igreja Católica.

Ter a oportunidade de passar por essa vivência intelectual e espiritual foi um maravilhoso estímulo intelectual, mas, com certeza, as consequências dessa conversão trouxeram uma alegria e uma paz que eu aos 46 anos não havia conhecido. A segurança e a confiança de que existe uma Verdade nos permitem seguir um caminho que é capaz de fechar e curar aqueles vazios que tanto nos inquietam e, muitas vezes, nos causam desequilíbrios que nos impedem de enxergar a profundidade e a beleza do cotidiano da vida.

Não sei quando, mas chegou em um momento em que o meu dia não podia acabar sem o terço. Aquela oração repetida que eu nunca havia entendido me trazia uma paz imensa. Aquela missa que eu não entendia o porquê do ajoelha, levanta e senta se tornava aos poucos o centro do meu dia. As aulas de catequese tocavam minha mente e meu coração de forma muito especial.

Não sei se minha conversão aconteceria se eu não tivesse conhecido o Opus Dei, a Ana Paula, Padre Luiz Fernando Cintra, e seus membros tão acolhedores e dedicados. A Obra foi a porta que a Igreja me abriu. Foi o lugar onde conheci pessoas que viviam a prática da doutrina católica com profundidade e direção. Digo direção porque sempre soube que os valores cristãos eram valiosos e insuperáveis, mas não sabia que existia um caminho, didático até, na prática que tornaria possível esses valores serem vivenciados no nosso dia a dia; não sabia que ao organizar meu dia essa prática seria responsável por aquela paz que Jesus tanto nos prometeu e que eu nunca encontrei; “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14, 27), tantas vezes escutada e mal interpretada por mim, entendi que essa paz e essa alegria, na minha experiência, não brotariam como fruto da minha oração em casa, do meu coração pouco generoso, inconstante, orgulhoso e cheio de defeitos; não sabia que todos os nossos vícios e defeitos de caráter, por menores que sejam, podem ser extirpados ou bastante neutralizados pela construção de virtudes; não sabia que o domínio da inteligência e da vontade sobre a afetividade (sentimentos, emoções e paixões), que nos caracteriza não apenas como adultos maduros mas, principalmente, como seres humanos, pode ser ensinado e praticado desde o nascimento. Sim, eu não sabia muita coisa e ainda não sei, mas a cada dia vou descobrindo e fortalecendo a minha fé de que a Igreja é a esposa de Cristo e nos oferece tudo isso para alcançarmos a nossa paz e sermos capazes de compartilhar a Sua luz.

Tenho consciência que a prática religiosa não vai nos blindar dos problemas e tristezas, mas sou muito grata por conhecer a força da Eucaristia e da Confissão nesses momentos. Quando sentimos que Jesus está entrando a cada dia mais forte em nosso coração, vamos nos sentindo mais fortes e felizes com a possiblidade de espalhar para todo o mundo o quão maravilhoso é esse sentimento; o quão possível é aprofundarmos os nossos valores e a nossa vida; o quanto é possível sairmos de um vazio existencial ou de uma vida superficial. Afirmo que é possível. Eu recebi a graça de ser apresentada ao Catolicismo por São Josemaria e rezo diariamente pela graça de ser utilizada como instrumento da luz divina para compartilhar a beleza da doutrina católica aos meus amigos e familiares que ainda não conhecem o que é a beleza de viver na Igreja.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/estou-enxergando-a-vida-com-os-oculos-corretos/

São Leonardo de Noblac

São Leonardo de Noblac (A12)
06 de novembro
País: França (Gália)
São Leonardo de Noblac

Leonardo nasceu no ano 491 na província da Gália, hoje França. Era afilhado do rei Clodoveu, a quem, ainda jovem, e próximo ao bispo São Remígio, pediu e obteve o privilégio (exclusivo do bispado) de dar liberdade aos prisioneiros que encontrasse. Ingressou mais tarde na vida monástica, tendo sido posteriormente ordenado sacerdote. Como presbítero, em Berry, o exemplo de sua vida de santidade converteu muitos pagãos à fé católica.

Mais tarde buscou o isolamento para meditar e viver sua fé na oração. Encontrou o lugar certo para isso num bosque afastado. Lá havia apenas uma casa tosca e simples que lhe servia de morada. Mas seu sossego durou pouco pois a cada dia crescia o número de pessoas que vinham atrás de seus conselhos, orações e consolo.

Certa vez o rei Clóvis e seus súditos ali foram, participando de uma caçada. A rainha Clotilde, esposa do rei, também estava presente e, grávida, começou os trabalhos de parto. São Leonardo rezou por ela e a ajudou, e tudo correu bem; como recompensa o rei doou parte daquelas terras a Leonardo, que ergueu um altar à Nossa Senhora, construindo-se depois uma capela e finalmente um mosteiro, chamado “de Noblac”, com uma intensa e fervorosa comunidade religiosa.

Diz a tradição que o monge Leonardo só deixava o mosteiro quando alguma missão o exigia, especialmente quando se tratava de resgatar e converter os pagãos encarcerados. Ele teria sido, inclusive, visto a libertar franceses de cadeias muçulmanas no ano 1000, vários séculos depois da sua morte. O culto de Santo Leonardo de Noblac, uma das devoções mais antigas dos fiéis franceses, propagou-se em todo o mundo cristão e foi reconhecido pela Igreja.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.

Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Leonardo de Noblac é dos santos mais populares na Europa central. Diz um estudioso que em sua honra foram erigidas nada menos que seiscentas Igrejas e capelas. De nobre ascendência, dando exemplo igualmente da nobreza do espírito, abraçou a vida solitária e distinguiu-se pela sua santidade e milagres. Manifestava uma virtude toda particular na libertação de cativos e prisioneiros.

Oração:

Ó Senhor Deus, fazei que a exemplo dos santos saibamos apresentar-nos diante de Vós como uma oferenda agradável e pura, agora e na hora de nossa morte. Amém. São Leonardo de Noblac, rogai por nós.

Fonte: https://www.a12.com/

Francisco: somos peregrinos, caminhar nos aproxima de Deus e da vida dos outros

Fiéis em peregrinação (ANSA)

Publicamos o texto integral do prefácio de Francisco ao livro “A fé é uma viagem”, antologia das meditações do Pontífice para viajantes e peregrinos publicada pela Livraria Editora Vaticana em vista do Jubileu.

Papa Francisco

Quando eu era padre em Buenos Aires, e mantive esse hábito mesmo como bispo em minha cidade de origem, amava ir a pé aos vários bairros para visitar os confrades sacerdotes, visitar uma comunidade religiosa ou conversar com amigos. Caminhar faz bem: nos coloca em relação com o que está acontecendo ao nosso redor, nos faz descobrir sons, cheiros, ruídos da realidade que nos circunda, enfim, nos aproxima da vida dos outros.

Caminhar é não ficar parado: crer significa ter dentro de si uma inquietação que nos leva a um “mais”, a mais um passo a frente, a uma altura a alcançar hoje, sabendo que amanhã o caminho nos levará mais longe - ou mais em profundidade, na nossa relação com Deus, que é exatamente como a relação com a pessoa amada da nossa vida, ou entre amigos: nunca terminado, nunca dado como certo, nunca satisfeito, sempre em busca, ainda não satisfatório. É impossível dizer com Deus: “Está feito, está tudo bem, basta”.

Por esta razão, o Jubileu de 2025, junto com a dimensão essencial da esperança, deve levar-nos a uma consciência cada vez maior de que a fé é uma peregrinação e que nós, nesta terra, somos peregrinos. Não turistas ou andarilhos: não nos movemos ao acaso, existencialmente falando. Somos peregrinos. O peregrino vive o seu caminho sob a bandeira de três palavras-chave: risco, esforço e meta.

A capa do livro da LEV "A fé é uma viagem" | Vatican News

O risco. Hoje em dia, achamos difícil entender o que significava para os cristãos do passado fazer uma peregrinação, acostumados como estamos com a rapidez e a comodidade de nossas viagens de avião ou trem. No entanto, sair para a estrada mil anos atrás significava correr o risco de nunca mais voltar para casa por causa dos muitos perigos que se poderia encontrar nas várias rotas. A fé de quem decidia partir era mais forte do que qualquer medo: os peregrinos de antigamente nos ensinam essa confiança no Deus que os chamou para colocar-se a caminho em direção ao túmulo dos Apóstolos, à Terra Santa ou a um santuário. Nós também pedimos ao Senhor para ter uma pequena porção dessa fé, para aceitar o risco de nos abandonarmos à sua vontade, sabendo que ela é a de um bom Pai que deseja dar a seus filhos somente o que lhes convém.

Esforço. Caminhar, na verdade, significa esforço. Isso é bem conhecido pelos muitos peregrinos que hoje voltaram a frequentar as antigas rotas de peregrinação: penso na rota de Santiago de Compostela, na Via Francigena e nos vários Caminhos que surgiram na Itália, que lembram alguns dos santos ou testemunhas mais conhecidas (São Francisco, Santo Tomás, mas também pe. Tonino Bello) graças a uma sinergia positiva entre instituições públicas e organismos religiosos. Caminhar envolve o esforço de acordar cedo, preparar uma mochila com o essencial, comer algo frugal. E depois os pés que doem, a sede que se torna pungente, especialmente nos dias ensolarados de verão. Mas esse esforço é recompensado pelos muitos dons que o caminhante encontra ao longo do caminho: a beleza da criação, a doçura da arte, a hospitalidade das pessoas. Quem faz uma peregrinação a pé - e muitos podem testemunhar isso - recebe muito mais do que o esforço realizado: estabelece belos vínculos com as pessoas que encontra ao longo do caminho, vive momentos de autêntico silêncio e de fecunda interioridade que a vida frenética de nosso tempo muitas vezes torna impossível, compreende o valor do essencial em vez do brilho de ter tudo o que é supérfluo, mas faltar o necessário.

A meta. Caminhar como peregrinos significa que temos um ponto de chegada, que o nosso movimento tem uma direção, um objetivo. Caminhar é ter uma meta, não estar à mercê do acaso: quem caminha tem uma direção, não gira em círculos, sabe para onde ir, não perde tempo vagueando de um lado para o outro. Por isso recordei várias vezes quão semelhantes são o ato de caminhar e o de ser fiel: quem tem Deus no coração recebeu o dom de uma estrela polar para a qual seguir - o amor que recebemos de Deus é a razão do amor que temos para oferecer às outras pessoas.

Deus é a nossa meta: mas não podemos alcançá-lo como chegamos a um santuário ou a uma basílica. E de fato, como bem sabe quem já fez peregrinações a pé, chegar finalmente à meta almejada - penso na Catedral de Chartres, que há muito é alvo de um renascimento em termos de peregrinações graças à iniciativa, que remonta a um século atrás, do poeta Charles Péguy – não significa sentir-se satisfeito: ou melhor, se externamente se sabe bem que chegou, internamente existe a consciência de que o caminho não acabou. Porque Deus é exatamente assim: uma meta que nos empurra mais longe, uma meta que nos chama continuamente a prosseguir, porque é sempre maior do que a ideia que temos dele. O próprio Deus nos explicou isso através do profeta Isaías: «Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos caminhos de vocês, e os meus projetos estão acima dos seus projetos» (Is 55,9). Com Deus nunca podemos dizer que alcançamos, a Deus nunca chegamos: estamos sempre em movimento, permanecemos sempre em busca dele. Este caminhar rumo a Deus oferece-nos a certeza inebriante de que Ele nos espera para nos doar a sua consolação e a sua graça.

Cidade do Vaticano, 2 de outubro de 2024

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II

Missão do cristão: construir a paz (Comunidade Arca da Aliança)

Da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II

(Nn.89-90) (Séc. XX)

A missão dos cristãos na construção da paz

De bom grado e de todo o coração, cooperem os cristãos na construção de uma ordem internacional em que sejam realmente observadas as liberdades legítimas e a amizade fraterna de todos. Tanto mais porque a maior parte do mundo ainda se debate em tão grande penúria que o próprio Cristo, nos pobres, como que em alta voz, clama pela caridade de seus discípulos. Evite-se, pois, de dar este escândalo aos homens: algumas nações, cujos cidadãos na maioria se gloriam do nome de cristãos, nadam na abundância de bens, enquanto outras se veem despojadas do necessário à vida e são torturadas pela fome, doenças e toda espécie de misérias. Pois o espírito de pobreza e caridade é a glória e o testemunho da Igreja de Cristo. 

Merecem, portanto, louvor e apoio os cristãos, sobretudo os jovens, que se oferecem espontaneamente para prestar auxílio a outros homens e povos. Mais ainda. É obrigação de todo o Povo de Deus, arrastado pela palavra e pelo exemplo dos bispos, aliviar na medida de suas forças a miséria dos tempos atuais e isto, como era costume antigo da Igreja, não só com o supérfluo, mas também com o essencial. 

Não há necessidade de se observar uma linha rígida e uniforme no sistema de arrecadar e de distribuir os subsídios. Mas seja bem organizado nas dioceses, nas nações e no plano mundial, em ação conjugada, sempre que pareça oportuno, de católicos com os outros irmãos cristãos. Pois o espírito de caridade, longe de proibir o exercício previdente e ordenado da ação social e caritativa, antes o impõe. Por isso mesmo é necessário que sejam devidamente preparados em institutos idôneos, os que pretendem dedicar-se ao serviço das nações em vias de desenvolvimento. 

A Igreja deve, por conseguinte, estar bem presente à comunidade internacional para cooperar com os homens e estimulá-los, seja pelas instituições públicas, seja pela sincera e total colaboração de todos os cristãos, unicamente inspirada pelo desejo de servir. 

Sua eficácia será tanto maior, se os próprios fiéis, cônscios de suas responsabilidades humana e cristã, já se esforçarem, no próprio âmbito de sua vida, por despertar a vontade de cooperar com a comunidade internacional. Empregue-se a respeito cuidado especial na formação dos jovens, tanto na educação religiosa quanto na civil. 

É de desejar, enfim, que os católicos, para bem cumprir sua missão na comunidade internacional, queiram ativa e positivamente colaborar com os irmãos separados que professam juntos a mesma caridade evangélica, bem como com os homens sedentos de paz verdadeira.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

O papel dos homens na queda da fertilidade no mundo

Pesquisa mostra que os homens, sobretudo os de baixa renda, são mais suscetíveis ao que os sociólogos chamam de 'infertilidade social 'Article information’ (Crédito: Getty Images)

O papel dos homens na queda da fertilidade no mundo

  • Author: Stephanie Hegarty
  • Role: BBC World Service
  • 1 novembro 2024

As taxas de fecundidade estão despencando em todo o mundo, ainda mais rápido do que o previsto. A China está registrando mínimas recordes nas taxas de natalidade. E na América Latina, as estatísticas oficiais de nascimentos estão ficando muito aquém das previsões em vários países.

Até mesmo no Oriente Médio e no norte da África, as taxas de natalidade estão caindo de forma mais drástica do que o esperado. Isso é resultado do fato de as pessoas terem menos filhos, mas também porque, em quase todos os países do mundo, mais pessoas simplesmente não estão tendo filhos.

Isabel criou o grupo Nunca Madres depois que o término de um relacionamento desagradável, aos trinta e poucos anos, a levou à conclusão de que não queria ter filhos.

Ela enfrenta críticas por essa escolha todos os dias, e não apenas na Colômbia, onde mora.

"O que mais ouço é: ‘Você vai se arrepender, você é egoísta. Quem vai cuidar de você quando você ficar velha?", relata.

Para Isabel, não ter filhos é uma escolha. Para outros, é resultado da infertilidade biológica. E, para muito mais gente, é uma confluência de fatores que faz com que uma pessoa não tenha o filho que desejava — o que os sociólogos chamam de "infertilidade social".

Uma pesquisa recente mostrou que é mais provável que sejam os homens que não conseguem ter filhos, mesmo que queiram — sobretudo, homens de baixa renda.

Um estudo realizado em 2021 na Noruega constatou que a taxa de ausência de filhos entre os homens era de 72% entre os 5% com renda mais baixa, mas de apenas 11% entre os que ganhavam mais — uma disparidade que aumentou em quase 20 pontos percentuais nos últimos 30 anos.

Há evidências de que cuidar de um filho faz bem à saúde dos homens (Crédito: Getty Images)

Quando Robin Hadley estava na faixa dos 30 anos, ele estava desesperado para ser pai. Ele não tinha cursado universidade, mas trabalhava como fotógrafo técnico em um laboratório universitário no norte da Inglaterra.

Antes disso, ele havia se casado e tentado ter um filho com a esposa, mas acabaram se divorciando.

Ele estava sobrecarregado com um financiamento imobiliário, que lutava para pagar — e não podia se dar ao luxo de sair muito. Por isso, namorar era um desafio. Quando seus amigos e colegas se tornaram pais, ele teve uma sensação de perda.

"Cartões de aniversário para crianças ou chás de bebê, tudo isso te lembra do que você não é — e do que se espera que você seja. Há uma dor associada a isso", diz ele.

Sua própria experiência o inspirou a escrever um livro sobre homens sem filhos. Ao escrevê-lo, percebeu que havia sido afetado por "todos os fatores que impactam os resultados da fertilidade — econômicos, biológicos, de momento dos acontecimentos e escolhas de relacionamento".

E ele percebeu que na maior parte dos estudos sobre envelhecimento e reprodução que leu, faltavam os homens sem filhos — eles também estavam quase completamente ausentes das estatísticas nacionais da maioria dos países.

A ascensão da 'infertilidade social'

Há uma série de motivos para a infertilidade social, como a falta de recursos para ter um filho ou o fato de não encontrar a pessoa certa na hora certa.

Mas na raiz disso está outra questão, argumenta Anna Rotkirch, socióloga e demógrafa do Instituto de Pesquisa Populacional da Finlândia, que estuda as intenções de fertilidade na Europa e na Finlândia há mais de 20 anos. Ela observou uma mudança profunda na forma como vemos os filhos.

Fora da Ásia, a Finlândia tem uma das taxas mais altas de pessoas sem filhos no mundo. No entanto, na década de 1990 e no início dos anos 2000, o país foi celebrado por combater o declínio da fecundidade com políticas voltadas para crianças reconhecidas a nível mundial. A licença parental é generosa, as creches são mais acessíveis, e homens e mulheres têm uma participação mais igualitária no trabalho doméstico.

Desde 2010, no entanto, as taxas de fecundidade no país diminuíram em quase um terço.

Rotkirch explica que, assim como o casamento, ter um filho já foi visto como um evento fundamental, algo que os jovens faziam ao iniciar a vida adulta. Agora é visto como um evento culminante — o que você faz quando seus outros objetivos são alcançados.

"Pessoas de todas as classes parecem achar que ter um filho aumenta a incerteza em suas vidas", observa Rotkirch.

Na Finlândia, ela descobriu que as mulheres mais ricas são as menos propensas a não ter filhos involuntariamente. Por outro lado, os homens de baixa renda são os mais propensos a não ter os filhos que desejavam.

Essa é uma grande mudança em relação ao passado: anteriormente, as pessoas de famílias mais pobres tendiam a fazer a transição para a vida adulta mais cedo — elas abandonavam os estudos, conseguiam empregos e constituíam família em uma idade mais jovem.

Em 70% dos países, as meninas estão superando os meninos em termos de escolaridade (Crédito: Getty Images)

Uma crise de masculinidade

Para os homens, a incerteza financeira tem um impacto agravante que diminui ainda mais a probabilidade de terem filhos. Isso foi chamado pelos sociólogos de "efeito de seleção", em que as mulheres tendem a procurar alguém da mesma classe social ou superior quando escolhem um parceiro.

"Consigo enxergar que estava fora do meu alcance intelectualmente, e em termos de confiança", diz Robin Hadley sobre o relacionamento que terminou quando era mais jovem.

"Acho que, pensando bem, o efeito de seleção pode ter sido um fator."

Quando ele tinha quase 40 anos, conheceu a atual esposa, que o apoiou para que fosse para a universidade e fizesse um doutorado. "Eu não estaria onde estou agora se não fosse por ela". Quando pensaram em ter filhos, já estavam na faixa dos 40 anos, e era tarde demais.

Em 70% dos países do mundo, as mulheres estão superando os homens em termos de escolaridade, o que levou ao que a socióloga da Universidade de Yale, Marcia Inhorn, chama de mating gap ("disparidade amorosa"). Na Europa, isso fez com que os homens sem diploma universitário se tornassem o grupo com maior probabilidade de não ter filhos.

Homens invisíveis

A maioria dos países não dispõe de bons dados sobre a fertilidade masculina porque só consideram o histórico de fertilidade da mãe ao registrar um nascimento. Isso significa que os homens sem filhos não existem como uma "categoria" reconhecida

Alguns países nórdicos, no entanto, consideram ambos. O estudo norueguês, que identificou a enorme disparidade na procriação entre homens ricos e pobres, afirmou que inúmeros homens estavam sendo "deixados para trás".

O papel dos homens no declínio das taxas de natalidade é frequentemente ignorado, diz Vincent Straub, que estuda a saúde e a fertilidade masculina na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Ele está interessado no papel do "mal-estar masculino" no declínio da fertilidade — a desorientação sentida por homens jovens à medida que as mulheres ganham poder na sociedade e suas expectativas de virilidade e masculinidade mudam.

Isso também tem sido chamado de "crise da masculinidade", representada pela popularidade de antifeministas de direita, como o controverso influenciador Andrew Tate.

"Os homens com escolaridade mais baixa estão em situação muito pior do que nas décadas anteriores", afirma Straub à BBC.

Em muitos países de alta e média renda, os avanços tecnológicos tornaram os trabalhos manuais menos valorizados e mais inseguros, o que aumentou a disparidade entre os que têm diploma universitário e os que não têm.

Também aumentou a "disparidade amorosa" — e tem um impacto significativo na saúde dos homens.

"O uso abusivo de substâncias está aumentando globalmente, e é maior entre os homens em idade reprodutiva, seja na África ou na América do Sul e Central."

Tudo isso tem um impacto na fertilidade social e biológica. "Sinto que há um elo perdido que não está sendo estabelecido entre a fertilidade e esses tipos de mudanças sociais e culturais", afirma.

E isso pode ter um impacto fundamental na saúde física e mental dos homens. "Os homens solteiros costumam ter uma saúde pior do que a dos homens que estão em uma relação", observa Straub.

'Apenas um em cada 100 homens na União Europeia interrompe sua carreira para cuidar de um filho; no caso das mulheres, uma em cada três faz isso', diz especialista (Crédito: Getty Images)

Straub e Hadley descobriram que o debate sobre fertilidade se concentra quase que totalmente nas mulheres. E todas as políticas criadas para lidar com isso estão perdendo metade do cenário.

Straub acredita que devemos nos concentrar na fertilidade como uma questão de saúde masculina (também?) — e discutir os benefícios que cuidar de um filho oferece aos pais.

"Apenas um em cada 100 homens na União Europeia interrompe sua carreira para cuidar de um filho; no caso das mulheres, uma em cada três faz isso", diz ele. Isso acontece apesar das inúmeras evidências de que cuidar de um filho faz bem à saúde dos homens.

Por meio de sua organização Nunca Madres, Isabel se reuniu com alguns representantes de um grande banco internacional no México. Eles disseram a ela que, apesar de oferecerem seis semanas de licença paternidade, nenhum homem havia tirado a licença.

"Eles acham que esse é um trabalho da mulher, e é assim que os homens da América Latina se sentem", diz ela.

"Também precisamos de dados melhores", afirma Robin Hadley. Enquanto não registrarmos a fertilidade dos homens, não seremos capazes de entendê-la completamente — nem o efeito que ela tem sobre a saúde física e mental deles.

E a invisibilidade dos homens nos debates sobre fertilidade vai além dos registros. Embora hoje haja mais conscientização de que as mulheres jovens precisam pensar sobre o declínio da fertilidade, essa não é uma conversa que existe entre os homens jovens.

Os homens também têm um relógio biológico, diz Hadley, citando pesquisas que mostram que a eficácia do esperma diminui após os 35 anos.

Tornar esse grupo invisível visível é uma maneira de lidar com a infertilidade social. Outra poderia ser a ampliação da definição de paternidade.

Todos os pesquisadores que comentaram sobre a questão da ausência de filhos fizeram questão de destacar que as pessoas sem filhos ainda têm um papel vital a desempenhar na criação deles.

Isso é chamado de aloparentalidade pelos ecologistas comportamentais, explica Anna Rotkirch. Durante grande parte da evolução humana, um bebê tinha mais de uma dúzia de cuidadores.

Um dos homens sem filhos com quem Hadley conversou para sua pesquisa, comentou sobre uma família que ele encontrava regularmente no clube de futebol local. Para um projeto escolar, os dois meninos precisavam de um avô. Mas eles não tinham nenhum.

Ele assumiu o papel de avô postiço deles e, por muitos anos, quando o viam no futebol, diziam: "Oi, vovô". Foi uma sensação maravilhosa ser reconhecido dessa forma, segundo ele.

"Acho que a maioria das pessoas sem filhos está, na verdade, envolvida nesse tipo de cuidado, só é invisível", afirma Rotkirch.

"Isso não aparece nas certidões de nascimento, mas é muito importante."

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd9n2jvg1qyo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF