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domingo, 2 de fevereiro de 2025

Apresentação do Senhor

Evangelho do domingo (Vatican News)

Porque meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do Teu povo Israel” (cf. Lc 2,30-32).

Eurico dos Santos Veloso - Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

A Festa da Apresentação do Senhor é o presságio do mistério da Salvação, em que a Luz que ilumina as nações, a qual é o próprio Cristo, vem ao encontro de todos a fim de oferecer a misericórdia e a libertação tão esperada por Israel e por todos os confins da Terra.

Na Primeira Leitura, extraída do Livro da Profecia de Malaquias (Ml 3,1-4), anuncia o “Dia do Senhor” em que o próprio Deus descerá e chegará ao seu templo a fim de encontrar o seu povo, e renovará Sua Aliança, purificando todos os corações dos fiéis. Ora, tal purificação com finalidade em preparar a todos, dig    nos em fazer oferendas justas e aceitáveis ao Senhor.

O Evangelho de Lucas (Lc 2,22-40) relata o episódio da Apresentação do Menino ao Templo, porém com um significado além do cumprimento da Lei de Moisés – “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor” (cf. Lc 2,23) – afinal, aqui se cumpre o que foi profetizado por Malaquias – “chegará ao seu templo o Dominador” (cf. Ml 3,1). Ora, Jesus é descrito como o Messias do Senhor, o qual foi destinado a cumprir a Obra de Salvação a todos, onde Simeão glorifica a promessa – “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel” (cf. Lc 2,29-32) - e ao mesmo tempo exclama o mistério do sofrimento que Maria irá perpassar – “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (cf. Lc 2,34-35). Tal cântico, nosso amado Papa Francisco nos catequiza: “O que suscitou o cântico de louvor em Simeão e Ana não foi, por certo, o olhar para si mesmos, o analisar e rever a própria situação pessoal. Não foi o permanecer fechados com medo de algo ruim que lhes pudesse acontecer. O que suscitou o cântico foi a esperança, aquela esperança que os sustentava na velhice. Aquela esperança viu-se recompensada no encontro com Jesus. Quando Maria coloca nos braços de Simeão o Filho da Promessa, o ancião começa a cantar os seus sonhos. Quando coloca Jesus no meio do seu povo, este encontra a alegria. Sim, só isto nos poderá restituir a alegria e a esperança, só isto nos salvará de viver numa atitude de sobrevivência, só isto tornará fecunda a nossa vida, e manterá vivo o nosso coração: colocar Jesus precisamente onde Ele deve estar, ou seja, no meio do seu povo” (https://www.acidigital.com/noticias/texto-homilia-do-papa-francisco-na-missa-da-festa-da-apresentacao-do-senhor-91633 - acesso em 01 de fev. de 2021).

A Segunda Leitura, extraída da Carta de São Paulo aos Hebreus (Hb 2,14-18), apresenta o Jesus Cristo como sacerdote por excelência, o qual oferece a sua própria carne e sangue pra destruir a morte através da condição de humanidade a qual se inseriu, a fim de libertar todos àqueles da mesma condição, ou seja, todos nós, irmãs e irmãos por excelência. “Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação” (cf. Hb 2,17-18).

Imersos na Palavra desta Festa Litúrgica da Apresentação do Senhor, possamos reconhecer Jesus como o Sacerdote por Excelência através da entrega do seu próprio ser em prol do Mistério da Salvação a todos nós: Luz que ilumina as nação e glória a todos os povos.

Que Nossa Senhora da Luz ilumine a todos! Saudações em Cristo!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Maria Domenica Mantovani

Santa Maria Domenica Mantovani (A12)
02 de fevereiro
Localização: Itália (Verona)
Santa Maria Domenica Mantovani

Maria Domenica nasceu em Verona, Itália, no dia 12 de novembro de 1862. Teve nos seus pais João Batista Mantovani e Prudência Zamperini, e no seu avô, que vivia com eles, a influência profunda de uma família honesta e cristã de trabalhadores simples, piedosos e dignos.

Frequentou apenas a escola primária, por causa da pobreza da família. Mas a falta de cultura foi compensada pelos dotes de inteligência, vontade e grande senso prático. Desde criança, mostrou sua vocação religiosa e, incentivada pelo avô, dedicava-se à oração e a tudo o que se referia a Deus.

Aos 15 anos, Maria Domenica passou a ser orientada pelo padre José Nascimbeni, que a levou a prosseguir na vida da perfeição. Ela dedicava-se ao ensino do catecismo às crianças, visitava e assistia os doentes e os pobres.

Maria Domenica foi a principal fundadora de uma nova família religiosa, chamada "Pequenas Irmãs da Sagrada Família". Espalhado pelo mundo, este instituto conta com muitas Irmãs presentes em 150 casas na Itália, Suíça, Albânia, Angola, Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil, dedicadas às mais variadas atividades apostólicas e caritativas.

Madre Maria Josefina da Imaculada faleceu depois de breve enfermidade, no dia 2 de fevereiro de 1934.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A vida de caridade, isto é, o amor a Deus e ao próximo colocados em prática, não depende de quase nada, a não ser o mesmo amor por Deus. Santa Maria Domenica dedicou-se à mais importante, talvez, de todas as obras caritativas: a catequese – levar a palavra de Deus ao próximo – e em seguida ao auxílio aos doentes. Enfim, aos mais necessitados, de alma e de corpo, respectiva e hierarquicamente, conforme a vontade salvífica de Deus (pois a saúde do corpo de nada adianta, se a alma se perde no inferno). Nem todos teremos a sua vocação religiosa e a sua santidade específica, mas não há quem não possa, mesmo em pouca medida, cuidar da formação das almas, a começar dentro da própria casa, e em prestar algum auxílio a um doente – começando também, muitas vezes, dentro de casa.

Oração:

Ó Senhor, que és Caridade infinita, e que só desejas a Vossos filhos a cura da alma e do corpo, concedei-nos, por intercessão de Santa Maria Domenica, a humildade e a coragem de, preocupando-nos mais com o bem do próximo do que com as nossas próprias vontades, praticarmos o amor necessário para Convosco em cada irmão, e assim chegarmos ao Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria Santíssima. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

HISTÓRIA: "A fé nasce da vontade, não da coerção" (II)

Fé prática na providência divina (Schoenstatt)

Arquivo 30Giorni n. 01 – 2001

"A fé nasce da vontade, não da coerção"

Com estas palavras de De civitate Dei , Alcuíno, o conselheiro mais ouvido de Carlos Magno, dirige-se ao rei franco que tentou forçar o batismo dos saxões. Na história da Igreja, a autoridade de Santo Agostinho, desde que reconhecida, representou um elemento de crítica à imposição da prática cristã pela força. E a toda idealização doentia das realidades mundanas. Entrevista com Alessandro Barbero.

por Paolo Mattei

Um espírito missionário mais genuíno do que em outras épocas?
BARBERO: Devo fazer uma premissa metodológica por lealdade à minha profissão: hesitaria em dizer que há certas épocas em que somos sinceros e genuínos e outras em que não o somos mais. Em cada momento histórico há uma coexistência de pontos de vista, de atitudes. Eu não chegaria à distinção um tanto maniqueísta entre períodos históricos genuínos e bons e outros em que tudo é negativo e ruim: essa é uma atitude anti-histórica. A era da qual estamos falando não foi caracterizada apenas pela necessidade de expansão imperialista. Deve ter havido também este aspecto, porque é fácil imaginar que para certos guerreiros francos que lutaram na Saxónia sob Carlos Magno (uma guerra, repito, que durou trinta anos e nunca terminou realmente, caracterizada pelas contínuas rebeliões daquele povo visceralmente ligada aos (seus próprios ritos religiosos) a conversão dos pagãos representava uma questão secundária em relação à ampliação das posses fundiárias, à subjugação de novos escravos, à divisão de cargos e prebendas. Em suma, a dimensão imperialista certamente estava presente e trouxe consigo um pesado fardo de violência. Ao mesmo tempo, porém, existia um clero, monges e intelectuais que refletiam sobre a natureza moral e política da questão. E assim acontece que Alcuíno, o mais ouvido por Carlos entre os seus conselheiros, ao saber da pesada violência que o rei franco havia perpetrado contra os rebeldes saxões querendo batizá-los à força, lhe escreve, citando o De civitate Dei , de Santo Agostinho, que "a fé nasce da vontade, não da coerção. Você pode persuadir um homem a acreditar, mas não pode forçá-lo." E acrescenta: "A Saxônia precisa de pregadores, não de predadores". Carlos Magno escuta esses seus amigos. E quando se tratou de "planejar" outra missão, desta vez contra os ávaros, nos acampamentos do exército, em 796, reuniu-se uma espécie de conferência episcopal, de cujo trabalho emergiu, em documento oficial, uma condenação por demais forte. livre dos métodos seguidos na Saxônia. Não devemos repetir os mesmos erros, devemos basear nossa pregação no amor e não na imposição. Alcuíno e outros, como Paulino, patriarca de Aquileia, que presidiu aquela conferência, deixaram claro que ninguém pode ser forçado a acreditar. Além disso, por parte dessas pessoas, há toda uma consideração política realista: é um clero, aquele que cerca Carlos Magno, que conhece o mundo. Na Saxônia, eles ressaltam, introduzimos o sistema eclesiástico e, em todos os lugares, forçamos as pessoas, antes de tudo, a pagar o dízimo para a manutenção do pároco. E essas pessoas, é claro, não estavam felizes. Não podemos trazer o cristianismo e primeiro dizer: você tem que pagar um imposto!

Em suma, há uma capacidade de gerir o problema tanto do ponto de vista político como moral que, naquele momento, é notável.

O que levou a Igreja de Roma a estabelecer uma aliança com os distantes francos, que eram, em última análise, bárbaros como os lombardos, o que culminou na coroação imperial de Carlos Magno?
BARBERO: Vários motivos. Os lombardos estavam na Itália desde 568. Para eles, um acordo com o papado só seria concebível se o papa concordasse em ser bispo do reino lombardo. Roma teve que concordar em se tornar parte do reino e, como todos os outros bispos, como os de Milão e Pavia, o bispo de Roma também teve que reconhecer a autoridade de seu rei. Os lombardos queriam essa submissão completa, essa era a linha deles, eles não podiam recuar mais. Por outro lado, com os francos, que estavam distantes, era possível, de alguma forma, lidar em termos de igualdade, como uma potência para outra.

Depois há outra razão, talvez ainda mais importante. Os francos, do ponto de vista do Papa, eram na verdade "menos bárbaros" que os lombardos porque estes últimos eram arianos há muito tempo e, portanto, hereges. Eles então se converteram ao catolicismo, mas durante a longa fase ariana tiveram relações muito ruins com toda a estrutura da Igreja. Este fato teve um forte impacto na decisão de Roma. Enquanto os francos tiveram, digamos, um "golpe de sorte" com o rei Clóvis, que, no século V, se converteu ao cristianismo na forma católica, provavelmente no Natal de 496. Foi uma coincidência, uma questão de encontros fortuitos, porque as tribos francas, durante suas viagens, não encontraram nenhum ariano. Em vez disso, eles conheceram católicos. Enquanto os lombardos, que vieram mais a leste, da Panônia, estavam em contato com um clero ariano. São apenas coincidências. Assim, os francos, estabelecidos na Gália, convertidos ao catolicismo, imediatamente iniciaram uma colaboração muito próxima com o episcopado local. Portanto, o reino franco, entre todos os reinos romano-bárbaros, mesmo antes de Carlos Magno, era de longe o mais robusto, o que melhor funcionava, mesmo a nível administrativo e cultural, porque tinha o apoio leal do episcopado e do Clero católico. Obviamente esta boa notícia chega aos ouvidos de Roma que, a certa altura, tira as suas conclusões...

Carlos Magno também teve que lidar, durante os anos em que reinou, com os muçulmanos. Alguns estavam próximos, além dos Pireneus…
BARBERO: Os muçulmanos eram uma realidade relativamente nova naquela época. Muito pouco se fala sobre eles nos círculos intelectuais. Na época de Carlos, ainda não havia o esforço, que seria implementado depois do ano 1000, de ler suas obras, de traduzir o Alcorão, de entender o que eles pensavam; Ainda não é hora de descobrir que eles realizaram as poderosas traduções que permitirão ao Ocidente recuperar toda a cultura grega. Este trabalho será então feito na época de Dante. Na época de Carlos Magno, a sensação era de que o mundo era grande e cheio de coisas, até mesmo misteriosas, cheio de cristãos, mas também de bárbaros e pagãos. E até o fenômeno muçulmano é abordado com pragmatismo e realismo político. Em outras palavras, para simplificar: se não podemos derrotar essas pessoas, vamos tentar conviver com elas. Carlos teve que lidar concretamente com os muçulmanos apenas na frente espanhola. Em 778, ele organizou uma expedição além dos Pireneus para ajudar o governador de Barcelona, ​​Sulaimân ben Yaqzân ibn al-Arabi e outros “principes Sarracenorum” que se rebelaram contra o emir de Córdoba e pediram ajuda a Carlos Magno. Ao retornar desta expedição, a retaguarda do exército franco foi destruída em uma emboscada nos Pireneus: deste episódio nasceu a lenda do herói Rolando, do traidor Ganelon e da emboscada que os muçulmanos armaram perto de Roncesvalles. Na realidade, os autores da armadilha fatal foram os bascos, os cristãos, e não os muçulmanos.

Mas os muçulmanos não estavam apenas na Espanha…
BARBERO: Havia outros, mais distantes, como Harûn al-Rashid, em Bagdá, califa de 786 a 809, com quem Carlos sempre manteve excelentes relações, enviando e recebendo embaixadas e presentes. Famoso é o elefante Abul Abbas, um presente do Califa, que Carlos sempre levará consigo em todas as suas viagens.

Em suma, professor, podemos falar de tolerância religiosa nas relações entre cristãos e muçulmanos do século IX?
BARBERO: Eu não chegaria a falar de tolerância programática, mas de pragmatismo, sim, de realismo político. Por outro lado, Harun al-Rashid provavelmente também fez as mesmas considerações para manter relações cordiais com Carlos em nome de uma prudência política muito realista: ele não sabia muito sobre esses bárbaros do Norte que estavam em Roma ou Aachen. . Eles, portanto, mantinham excelentes relações, sem espírito de guerra santa. A questão é esta. Há uma concepção missionária nos cristãos da época de Carlos Magno que, no entanto, é gerida com realismo político. A ideia não é: “nós e eles”, “nós contra eles”. Acima de tudo, o problema de Jerusalém não surge porque os árabes em Jerusalém naquela época são muito tolerantes: o patriarca cristão continua a viver lá, mesmo sob o domínio árabe, e os peregrinos vão a Jerusalém sem problemas. Ainda não existe essa ideia, eu diria doentia, de que Jerusalém deve estar toda de um lado ou de outro. Uma ideia que está então na origem de muitos problemas que estão aí para todos verem.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Jesus revela o critério pelo qual seremos julgados: o amor

Angelus, 02 de fevereiro de 2025 - Papa Francisco (Vatican News)

"Jesus revela o critério para julgar toda a história e o seu drama, e também a vida de cada um de nós. E qual é este critério? É o amor: quem ama vive, quem odeia morre. Isto é: Jesus é a salvação, Jesus é a luz e Jesus é o sinal de contradição".

https://youtu.be/nldwvgA0sfY

Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!

Hoje o Evangelho da liturgia (Lc 2,22-40) nos fala de Maria e José que levam o menino Jesus ao Templo de Jerusalém. Segundo a Lei, eles o apresentam na morada de Deus, para recordar que a vida vem do Senhor. E enquanto a Sagrada Família cumpre aquilo que sempre se fazia no povo de Israel, de geração em geração, acontece algo que nunca havia acontecido antes.

Dois anciãos, Simeão e Ana, profetizam sobre Jesus: ambos louvam a Deus e falam do menino «a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (v. 38). Suas vozes comovidas ressoam entre as velhas pedras do Templo, anunciando o cumprimento das expectativas de Israel. Verdadeiramente Deus está presente no meio do seu povo: não porque habita entre quatro paredes, mas porque vive como homem entre os homens. E esta é a novidade de Jesus...Na velhice de Simeão e Ana, acontece a novidade que muda a história do mundo.

Da sua parte, Maria e José «estavam admirados com o que diziam» a respeito de Jesus. De fato, quando Simeão toma o menino nos braços, o chama de três maneiras belíssimas, que merecem uma reflexão. Três modos, dá a ele três nomes. Jesus é a salvação; Jesus é a luz; Jesus é sinal de contradição.

Antes de tudo, Jesus é a salvação. Assim diz Simeão, rezando a Deus: «Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos». Isso sempre nos maravilha: a salvação universal concentrada em um só! Sim, porque em Jesus habita toda a plenitude de Deus, do seu Amor.

Segundo aspecto: Jesus é «luz para iluminar as nações» (v. 32). Assim como o sol que surge sobre o mundo, este menino o resgatará das trevas do mal, da dor e da morte. Como precisamos, também hoje de luz, dessa luz!

Por fim, o menino abraçado por Simeão é sinal de contradição «assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Jesus revela o critério para julgar toda a história e o seu drama, e também a vida de cada um de nós. E qual é este critério? É o amor: quem ama vive, quem odeia morre. Isto é: Jesus é a salvação, Jesus é a luz e Jesus é o sinal de contradição.

Iluminados por este encontro com Jesus, podemos então nos perguntar: eu, tu, tu , tu ,eu, o que espero na minha vida? Qual é a minha grande esperança? Meu coração deseja ver a face do Senhor? Aguardo a manifestação do seu plano de salvação para a humanidade?

Rezemos juntos a Maria, mãe puríssima, para que nos acompanhe nas luzes e nas sombras da história, que nos acompanhe sempre ao encontro com o Senhor.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Três meses após o casamento, um jovem casal espanhol parte em missão missionária para… Tanzânia!

Gloria E Pablo Participaram De Várias Experiências Missionárias Durante Os Verões Foto: Arquidiocese De Madrid

Desde criança, Glória sonhava em conhecer o mundo da missão e, aos 18 anos, deu o primeiro passo acompanhando os tios ao Peru. Por sua vez, Paulo sentiu o chamado missionário na adolescência, quando o Senhor plantou essa preocupação em seu coração. Durante o namoro, ambos colaboraram ativamente na Delegação Missionária de Madri, divulgando histórias de outros missionários.

Sandra Madrid

(ZENIT News – InfoMadrid / Roma, 01.30.2025).- Gloria Rey e Pablo de Mergelina, um jovem casal da  diocese de Madrid , casaram-se no dia 12 de outubro de 2024. Meses antes do casamento, o cardeal José Cobo os enviou como missionários para a diocese de Bunda, na Tanzânia.

Por ocasião do  Encontro Diocesano da Infância Missionária , que aconteceu no próximo sábado, 25 de janeiro, eles compartilharam seu testemunho com os pequenos missionários que participaram do evento. Glória começou sua fala explicando “por que eles vão em missão”, uma resposta que eles têm clara: “Porque é um chamado que Deus nos fez e ao qual nós respondemos sim”.

Foto: Arquidiocese De Madrid

Desde criança, Glória sonhava em conhecer o mundo da missão e, aos 18 anos, deu o primeiro passo acompanhando os tios ao Peru. Por sua vez, Paulo sentiu o chamado missionário na adolescência, quando o Senhor plantou essa preocupação em seu coração. Durante o namoro, ambos colaboraram ativamente na Delegação Missionária de Madri, divulgando histórias de outros missionários. "Essas vidas nos parecem incríveis e sempre encheram nossos corações de alegria", diz Gloria.

Gloria e Pablo participaram de várias experiências missionárias durante os verões e agora estão embarcando em um novo capítulo na Tanzânia, onde permanecerão por pelo menos três anos.

Foto: Arquidiocese De Madrid

“Vamos como missionários e nos colocamos à disposição do bispo e da diocese”, explica Pablo. Ela explica que seus dias serão divididos: "De manhã, trabalharemos no Hospital Kibara, perto da margem do Lago Vitória, e à tarde colaboraremos em tarefas pastorais, visitaremos famílias e realizaremos outras atividades".

Em relação ao lema do Dia da Infância Missionária, celebrado no domingo, 19 de janeiro, “Eu compartilho o que tenho”, Glória e Pablo destacam o profundo impacto que Deus teve em suas vidas, especialmente por meio de suas famílias. e amigos. "Nós nos sentimos muito amados e cuidados", eles dizem. Por isso, sentem a necessidade de partilhar a fé que receberam: “Queremos dar a conhecer ao mundo inteiro, transmitir a alegria e a felicidade que encontramos em Jesus, ter um coração missionário e anunciar Cristo em lugares onde ele ainda não é conhecido".

Foto: Arquidiocese De Madrid

Em suma, na Tanzânia eles buscam viver como uma autêntica família cristã, totalmente integrada à comunidade local. "Isso também significa compartilhar o que temos em qualquer momento", concluem.

Fonte: https://es.zenit.org/2025/01/30/con-tres-meses-de-matrimonio-jovenes-esposos-espanoles-se-van-de-misioneros-a-tanzania/

A misericórdia muda o coração e recoloca a vida nos sonhos de Deus

A misericórdia muda o coração e recoloca a vida nos sonhos de Deus |
Audiência Jubilar do Papa Francvisco (Vatican News)

"Em vez de olhar para a escuridão do passado, para o vazio de um sepulcro, de Maria Madalena aprendemos a nos voltar para a vida. Nosso Mestre nos espera lá. Nosso nome é pronunciado ali. Porque na vida real há um lugar para nós, sempre e em todo lugar. Há um lugar para ti, para mim, para todos. Ninguém pode pegá-lo, porque ele sempre foi projetado para nós", disse o Papa aos milhares de peregrinos que lotavam a Sala Paulo VI na Audiência Jubilar deste sábado.

https://youtu.be/EW3K-_cBLRU

Jane Nogara - Cidade do Vaticano

Neste sábado, 1º de fevereiro foi realizada a 2ª Audiência Jubilar deste Ano Santo dedicado à esperança. Nesta ocasião o Santo Padre recebeu na Sala Paulo VI os peregrinos das Dioceses de Cápua e Caserta, que vieram em peregrinação ao Vaticano acompanhados por seu pastor, dom Pietro Lagnese.

Na sua catequese intitulada "Esperar é voltar-se. Maria Madalena", o Papa recordou a importância de reconhecer o Ressuscitado nas pessoas comuns e voltar-nos para a vida, citando o exemplo de Maria Madalena narrado no Evangelho de João. O Jubileu é um novo começo, disse Francisco, "é um tempo onde tudo deve ser repensado dentro do sonho de Deus. E sabemos que a palavra 'conversão' indica uma mudança de direção. Tudo é visto sob outra perspectiva e assim também nossos passos vão em direção a novas metas". E acrescenta:

Também para nós, a experiência da fé foi estimulada pelo encontro com pessoas que na vida souberam mudar e entraram, por assim dizer, nos sonhos de Deus. De fato, ainda que no mundo haja tanta maldade, podemos distinguir quem é diferente: a sua grandeza, que muitas vezes coincide com a sua pequenez, conquista-nos.

Neste sentido, observou o Papa, "nos Evangelhos a figura de Maria Madalena destaca-se acima de todas as outras por causa disso. Jesus curou-a com misericórdia e ela mudou (...). A misericórdia muda o coração e, a Maria Madalena, a misericórdia recolocou nos sonhos de Deus e deu novos objetivos a seu caminho".

Maria Madalena "voltou-se para"

O Papa citou o Evangelho de João que narra o encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado. Naquele encontro diante do sepulcro, "é repetido várias vezes que Maria se voltou. O Evangelista escolhe bem as suas palavras!", explicou o Papa. "Em lágrimas, Maria Madalena olha primeiro para o sepulcro, e então volta-se: o Ressuscitado não está do lado da morte, mas do lado da vida".

Ao ouvir o seu nome pronunciado por Jesus, Maria volta-se novamente. "É assim que a sua esperança cresce: agora vê o sepulcro, mas não como antes". Agora "pode enxugar as suas lágrimas, porque ouviu o próprio nome: só o seu Mestre o pronuncia assim. O velho mundo parece ainda estar lá, mas já não está. Quando sentimos o Espírito Santo agindo em nosso coração e ouvimos o Senhor nos chamando pelo nome, sabemos distinguir a voz do Mestre".

Aprender a esperança

"De Maria Madalena, a quem a tradição chamou 'apóstola dos apóstolos', aprendemos a esperança", disse Francisco. "Entra-se no mundo novo convertendo-se mais de uma vez. A nossa caminhada é um convite constante para mudar de perspectiva". Neste ponto Francisco convida a nos perguntamos: sei como me voltar e olhar para as coisas de forma diferente? Tenho desejo de conversão?".

Reconhecer o Ressuscitado

O Santo Padre chama a atenção para o fato que "um eu demasiado confiante e orgulhoso impede-nos de reconhecer Jesus Ressuscitado: ainda hoje, com efeito, a sua aparência é a de pessoas comuns que facilmente ficam para trás".

Referindo-se à passagem do Evangelho de João afirma ainda: "Em vez de olharmos para as trevas do passado, para o vazio de um sepulcro, com Maria Madalena aprendemos a voltar-nos para a vida. É ali onde o nosso Mestre espera-nos. É ali onde o nosso nome é pronunciado".

"Porque na vida real - disse Francisco ao concluir - há um lugar para nós, sempre e em todo o lugar. Há um lugar para ti, para mim, para cada um. Ninguém o pode pegar, porque desde sempre foi concebido para nós. Todos podem dizer: eu tenho um lugar, eu sou uma missão":

Pensem nisso: onde é o meu lugar? Qual é a missão que o Senhor nos dá? Que esse pensamento nos ajude a ter uma atitude corajosa na vida. Obrigado!

A saudação aos peregrinos na Basílica de São Pedro

A Audiência Jubilar deste sábado, onde os peregrinos italianos eram a grande maioria, teve dois momentos: inicialmente na Sala Paulo VI, lotada pelos fiéis da Diocese de Cápua e Caserta - que assim também retribuíram a visita Pastoral de Francisco realizada em 26 de julho de 2014 - e depois na Basílica de São Pedro, onde estavam cerca de dois mil peregrinos da Diocese de Sulmona Valva, além de fiéis de diversas paróquias italianas e movimentos.

Após saudar e abençoar os presentes na Sala Paulo VI ao final da audiência, incluindo os presentes no saguão de entrada, Francisco foi até a Basílica de São Pedro, para agradecer a presença tão numerosa desses fiéis e rezar com eles a oração do Pai Nosso, seguida pela sua bênção. Após, se entreteve com os presentes, saudando, abençoando e distribuindo Terços e balas para as crianças.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA: "A fé nasce da vontade, não da coerção" (I)

Fé prática na providência divina (Schoenstatt)

Arquivo 30Giorni n. 01 - 2001

"A fé nasce da vontade, não da coerção"

Com estas palavras de De civitate Dei , Alcuíno, o conselheiro mais ouvido de Carlos Magno, dirige-se ao rei franco que tentou forçar o batismo dos saxões. Na história da Igreja, a autoridade de Santo Agostinho, desde que reconhecida, representou um elemento de crítica à imposição da prática cristã pela força. E a toda idealização doentia das realidades mundanas. Entrevista com Alessandro Barbero.

por Paolo Mattei

Em 23 de novembro de 800, o rei dos francos Carlos Magno, o "novus Christianissimus Dei Costantinus Imperator", como o Papa Adriano I o havia chamado anos antes, apresentou-se às portas de Roma. O Papa Leão III foi recebê-lo pessoalmente a doze milhas da cidade, dobrando a distância tradicional exigida pelo ritual do "adventus Caesaris", que regulamentava as entradas imperiais na cidade. Quase um mês após as boas-vindas papais, na manhã de Natal, Carlos foi coroado e recebeu os títulos de Augusto e Imperador. Do Império Romano, é claro. De fato, aos olhos dos protagonistas, naquele dia floresceu novamente o Império Romano Cristão, cujo curso havia sido interrompido cerca de três séculos antes pelas invasões dos bárbaros (em 23 de agosto de 476, o herúlio Odoacro depôs o último imperador romano, Rômulo Augusto, tomando para si o título de rex ). E foi precisamente diante de um bárbaro, um franco (descendente daquele conjunto de tribos germânicas que se fixaram na Gália e que se converteram posteriormente ao cristianismo no final do século V), que o Papa Leão III se curvou, com o gesto de proskynesis , sancionando, com isso um ritual propriamente oriental, a distância irredutível – política, cultural, teológica – com o Oriente cristão e com o basileu de Constantinopla. O Império, naquela manhã de Natal em que Leão III ungiu Carlos com óleo sagrado, foi reconstituído, nas crenças dos protagonistas, em Roma.

Mas olhando para esses eventos da nossa perspectiva histórica, é claro como a fisionomia "mediterrânica" (as costas europeia, africana e asiática do Mare Nostrum ) do antigo Império Romano se dissolve no novo perfil "continental", com o seu centro de gravidade no vale do Reno. , do Império Carolíngio. Portanto, não podemos deixar de concordar com aqueles que definiram Carlos como "rex pater Europae", fundador de um "espaço político" ocidental que ainda hoje está diante de nossos olhos.

Por ocasião do décimo segundo centenário daquela coroação, o Pontifício Comitê de Ciências Históricas e a Direção Geral dos Monumentos, Museus e Galerias Pontifícios montaram a exposição “Carlos Magno em Roma” nos Museus do Vaticano (aberta até 31 de março). e provavelmente além), focado na relação entre o imperador franco e a cidade. Carlos, provavelmente nascido por volta de 742 e falecido em 814, visitou Roma quatro vezes, em 774, 781, 787 e, a última vez, no fatídico ano de 800. Os aspectos capitolinos do famosíssimo “renascimento” carolíngio estão bem documentados pela exposição (um exemplo entre todos, a reprodução em miniatura do complexo de Latrão, renovado e ampliado por Leão III), que apresenta um rico e significativo catálogo de testemunhos sobre as relações do imperador com os papas Adriano I e Leão III, sobre as peregrinações em Roma, sobre a cultura clássica de Carlos Magno e sobre muitos outros aspectos da cultura e da sociedade carolíngia.

O aniversário da sua coroação e a exposição no Vaticano são dois excelentes motivos para falar sobre Carlos Magno e o período histórico em que trabalhou, com Alessandro Barbero, professor de História Medieval na Universidade do Piemonte Oriental em Vercelli e escritor consagrado ( Strega Prêmio 1995), cujo romance (histórico, claro) L'ultimo rosa di Lautrec está prestes a ser lançado nas livrarias. Em junho de 2000, ele publicou uma bela biografia do «pater Europae» ( Carlos Magno. Um Pai da Europa , Editori Laterza, Roma-Bari 2000). 

O que a ascensão de Carlos Magno ao trono significou para o cristianismo no início da Idade Média? ALESSANDRO BARBERO: A era de Carlos Magno marca o fim de uma realidade. O cristianismo nos primeiros séculos foi uma realidade predominantemente grega e oriental. Os lugares onde o cristianismo nasceu e depois foi pregado, os lugares onde os apóstolos e depois os primeiros Padres da Igreja viveram, eram todas regiões muito mais influenciadas pela cultura e tradições gregas do que pelas latinas. Pois bem, nesse sentido, certamente com a era de Carlos Magno gerou-se uma fratura incurável, que ainda não foi cicatrizada. O fim do cristianismo, inerente a um império romano greco-latino, está consumado, e o espaço de ação é dividido em duas esferas distintas: uma grega do Oriente e uma latina do Ocidente. 

Esta situação não corresponde, contudo, ao fim da ideia de um império cristão…
BARBERO: Não podemos falar do fim da utopia imperial, porque naquele momento ela era mais forte do que nunca. Podemos dizer que a utopia naquele período aceitou alguns "ajustes" realistas, que levaram a parte ocidental a um distanciamento fundamental, a um desinteresse substancial pela parte grega, pelos cristãos do Oriente: eles estavam muito distantes, falavam uma ' outra língua… Nesta ideia de um império cristão, os cristãos do Oriente são tacitamente esquecidos. Um pouco como hoje, quando, falando de uma Europa unida, esquecemos tacitamente, por exemplo, as regiões greco-eslavas do Leste (e, por outro lado, desconfiamos das populações mediterrânicas). Nesse sentido, a utopia imperial não morreu, mas mudou, modificou-se.

Podemos identificar naquele momento o início da autoidentificação da Igreja de Roma com o Ocidente do mundo?
BARBERO: Pelos nossos padrões históricos, sim. Com nosso critério de avaliação histórica podemos registrar o fato de que a ação da Igreja Romana se reduz naquele momento àquela parte do mundo que está disposta a reconhecer a primazia de Roma. O resto do mundo… não importa. Contudo, ao mesmo tempo, é preciso dizer que o espírito missionário era muito forte na época de Carlos Magno (e de uma forma que não seria mais o caso mais tarde, por exemplo, na época das Cruzadas). É claro que missionários não são enviados ao Japão (isso foi feito mais tarde pelos jesuítas no século XVI).

Entretanto, na era carolíngia, a ideia era clara de que no Ocidente havia vastos territórios e ainda havia tribos a serem cristianizadas. Carlos Magno passou trinta anos tentando subjugar os saxões. Subjugá-los não significava apenas expandir seu poder político sobre o norte da Alemanha, mas também recuperar as últimas tribos germânicas (portanto, tribos relacionadas aos francos e lombardos) que ainda eram pagãs para o cristianismo. Então Charles dá um passo adiante e descobre que existem os dinamarqueses, os escandinavos, em suma... Eles também são alemães, nós também nos entendemos, eles também são pagãos. E aí também surge a atividade missionária. Em suma, há uma clara vocação missionária, que também é cheia de riscos. Há, a esse respeito, uma bela anedota: um dia, Carlos enviou um poema a Paulo, o Diácono, um intelectual lombardo da corte, no qual lhe perguntava se ele preferiria ser jogado na prisão ou ir converter os dinamarqueses. .. Isso dá uma ideia do fato de que tínhamos plena consciência de que a missão era algo difícil, de que estávamos arriscando nossa pele. Ao mesmo tempo, porém, era uma intenção deliberada…

Enquanto isso, e volto ao parêntesis sobre as cruzadas, não é de todo verdade que elas ainda tivessem como objetivo a conversão dos pagãos. As Cruzadas foram feitas para conquistar a Terra Santa, para manter Jerusalém. E hoje podemos compreender melhor a força simbólica que tal objetivo poderia – e pode – ter… Pensemos hoje em Jerusalém, como por razões puramente simbólicas… Essas foram as Cruzadas. Não havia interesse algum em converter muçulmanos, não havia tal propósito. Então, em resumo: é na época de Carlos Magno que o espaço de ação da Igreja se estreita e que ela começa a se identificar com o Ocidente. No entanto, ainda não há consciência dos riscos desse fenômeno, não há plena consciência dele, ainda há um espírito missionário muito vivo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Tolerância em um Mundo Plural

Um mundo plural (Mais Que Dois)

TOLERÂNCIA EM UM MUNDO PLURAL

Dom João Santos Cardoso

Arcebispo de Natal (RN)

No mundo contemporâneo, marcado pela convivência de múltiplas culturas, religiões e ideologias, a tolerância emerge como uma virtude indispensável para promover o convívio pacífico, especialmente diante do agravamento das polarizações ideológicas amplificadas pelas novas mídias de comunicação e pelo controle exercido pelas Big Techs. Com base nas reflexões de Tomáš Halík, em Quero que sejas. Podemos acreditar no Deus do Amor? (2018), pode-se entender a tolerância ocidental moderna como um caminho para vivenciar o respeito ao diferente e desenvolver a capacidade de acolher o outro.

A tolerância, conceito típico do Ocidente moderno, enraizado no Iluminismo e nos conflitos religiosos decorrentes da Reforma Protestante, foi explorado por John Locke e está associada à ideia de “suportar” ou “aguentar” aquilo que nos desafia, como observa Tomáš Halík. Embora tenha se mostrado eficaz na redução de conflitos abertos, essa forma de tolerância muitas vezes não resolve o problema de fundo, resultando em guetos culturais que promovem apenas um convívio lado a lado, sem construir comunidades verdadeiras. No mundo contemporâneo, transformado em uma “aldeia global”, essa abordagem torna-se insuficiente, pois a proximidade inevitável entre pessoas e culturas intensifica os conflitos e demanda um modelo que vá além da mera convivência, promovendo o respeito mútuo e o acolhimento genuíno da alteridade.

A tolerância de Locke, como lembra Ulrich Beck, funcionou em contextos religiosos homogêneos, mas se mostra insuficiente no cenário globalizado e multicultural. A “aldeia global” exige regras que vão além do simples “não perturbar os círculos dos outros”. Precisamos de um modelo que promova o diálogo e a cooperação genuína entre culturas e tradições diversas.

O multiculturalismo ocidental, fundamentado na tolerância, enfrenta sérias dificuldades em sociedades marcadas por conflitos religiosos e culturais intensos. Halík critica o que chama de “imperialismo do amor”, uma postura que, em nome de uma fraternidade universal, busca minimizar as diferenças ao enfatizar apenas as semelhanças. Um exemplo disso é o conceito de “cristãos anônimos” de Karl Rahner, que, embora reconheça a bondade no outro e sugira semelhanças entre tradições religiosas, pode ser percebido como uma forma de arrogância. Essa abordagem, ao tentar enquadrar outras tradições nos moldes do cristianismo, muitas vezes desconsidera a singularidade e a autonomia espiritual do outro, reduzindo a riqueza da diversidade a uma uniformidade superficial. Em vez de promover um diálogo autêntico e respeitoso, ela pode ser interpretada como desrespeitosa, negando a alteridade e o direito do outro a manter sua identidade própria.

A tolerância ocidental, em sua forma iluminista, muitas vezes cai no relativismo, resumido no mantra “cada um tem sua própria verdade”. No entanto, Halík nos adverte que esse relativismo pode obscurecer o verdadeiro encontro com o outro. A verdade, como valor supremo, exige uma busca ativa, que respeite as diferenças e permita o crescimento mútuo.

O modelo ideal de convivência deve ir além da mera tolerância, que muitas vezes se limita a uma aceitação passiva, e do chamado “imperialismo do amor”, que tenta homogeneizar as diferenças em nome de uma fraternidade universal. A tradição cristã propõe algo mais profundo: o amor aos inimigos. Esse amor, incondicional e universal, não busca assimilar ou negar o outro, mas reconhecê-lo em sua dignidade e alteridade.

Esse desafio, mais complexo do que parece, exige um respeito genuíno pela autonomia espiritual e cultural do próximo, como enfatiza o filósofo Emmanuel Lévinas. O verdadeiro amor não reduz o outro à nossa visão ou entendimento, mas valoriza a sua singularidade. Como sugere Tomáš Halík, um amor autêntico é aquele que oferece espaço para o outro, respeitando sua autonomia e promovendo uma integração que acolha as diferenças sem anulá-las. Esse tipo de amor, fundamentado no respeito e na confiança mútuos, é indispensável para a construção de uma convivência verdadeiramente humana. Em última análise, no mundo atual, tão interconectado quanto vulnerável aos conflitos, é imperativo ir além da tolerância entendida como mera “paz armada”. Precisamos de uma ética do amor que reconheça o outro em sua singularidade e dignidade, construindo pontes que integrem as diferenças sem apagá-las.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A menina que está no limiar

Lila Azam Zanganeh  (copyright: Hank Gans © 2025)

A escritora iraniana Lila Azam Zanganeh e sua experiência no Jubileu da Comunicação.

Andrea Tornielli

"Eu me senti como uma menina acolhida numa casa que também poderia ser dela..." A escritora Lila Azam Zanganeh é um apaixonado rio de palavras, nenhuma delas parece demais. Seus grandes olhos escuros examinam o interlocutor para ler seu coração. Ela nasceu em Paris, filha de pais iranianos, lecionou literatura e cinema em Harvard, vive entre Roma, Paris e Nova York e fala sete idiomas. Ela é uma mulher do mundo que conhece o mundo, mãe de um menino de dois anos. Nos últimos dias, ela participou do Jubileu da Comunicação junto com outros membros da “Narrative 4”, organização sem fins lucrativos fundada pelo escritor Colum McCann para promover a empatia e a compreensão recíproca por meio do compartilhamento de histórias pessoais.

"Vir ao Jubileu", disse com emoção, "para mim foi talvez um dos acontecimentos mais importantes da minha vida, junto com o nascimento do meu filho dois anos atrás. Nasci em Paris, minha mãe iraniana frequentou escolas católicas em Teerã e, desde a infância, ela me ensinou uma fé muito aberta. Estudei numa escola católica. Mas ninguém nunca me disse que eu... não era católica!"

Quando Lila tinha nove anos, ela “descobriu” que não podia comungar, porque não era batizada. E a prática prevê que a pessoa tem de esperar até completar quinze anos para ser batizada. "Lembro-me que mais tarde, na França, fiz o catecismo. Certa vez, na aula, fiz uma pergunta: “Por que somente Cristo é filho de Deus? Não somos todos filhos de Deus?” A catequista – talvez pensando também no meu sobrenome – respondeu: “Se você diz estas coisas, não deve estar aqui”. É uma lembrança desagradável. "Mas por algum milagre e talvez por causa da fé da minha mãe, continuei esta relação muito profunda com o cristianismo. Vocês podem imaginar minha emoção ao chegar aqui para o Jubileu!"

Lila sempre acompanhou o testemunho do Papa com atenção e simpatia. "“Um padre da Amazônia me disse um dia: ‘Com este Papa há a lei do coração, e no seu coração você já é cristã.’ Fiquei muito impressionada com a visão inclusiva de Francisco, sua insistência em dizer que devemos sair para partilhar a mensagem de Jesus. Fiquei profundamente comovida quando ele falou de um Deus que bate à porta porque quer sair e alcançar a todos."

Na sexta-feira, 24 de janeiro, o primeiro gesto do Jubileu dos Comunicadores foi a vigília penitencial em São João de Latrão. "Vou muitas vezes à missa, mesmo sabendo que “tecnicamente” não sou católica", disse a escritora, "e posso dizer que o serviço litúrgico a que participei em São João de Latrão foi o mais bonito que já vivi. De repente, fomos informados de que havia sessenta padres disponíveis para confissões, e uma amiga minha da “Narrativa 4”, Rosa, que é muito católica, foi imediatamente se confessar. Quando ela voltou, perguntei se tinha sido legal. Ele respondeu: “Muito.” Eu disse a ela: “Eu não sou estritamente católica… você acha que eu também posso ir?” Ela é muito específica sobre essas coisas, eu esperava que ela me respondesse: absolutamente não! E em vez disso ela me disse: 'Sim, você pode ir.'"

Lila, a antiga menina que queria comungar, mas não pôde fazer porque não era batizada, levantou-se e se aproximou de um dos padres. "Entrei na fila para a língua francesa. Cheguei diante desse padre congolês e a primeira coisa que lhe disse foi: “Padre, meu primeiro pecado, antes de tudo, é não ser católica. Mas eu tenho a fé cristã em meu coração." Ele respondeu: “Somos todos pecadores e na casa de Deus você é bem-vinda”. Ele começou a rezar. Foi um momento tão bonito que comecei a chorar, mas de alegria. Ele me disse coisas maravilhosas. Convidou-me a permanecer em contato com o Espírito Santo, conversamos sobre o amor que às vezes permanece desiludido. Ele me disse que o outro sempre faz parte de nós e me lembrou do mandamento do amor. Eu chorava de alegria e no final também ria e agradecia, porque foi um grande momento de alegria."

Na manhã de segunda-feira, na audiência com um grupo de comunicadores, Lila encontrou pessoalmente o Papa Francisco e lhe contou um pouco de sua história. "Ele olhou para mim, convidou-me a seguir em frente e a ter coragem. Até o meu confessor congolês captou o espírito do Papa com essa abertura incrível, como alguém que está fora e dentro ao mesmo tempo, para ir “além”. E assim, no abraço do Jubileu e daquela confissão, Lila sentiu-se como uma menina que ainda está no limiar, mas se sente acolhida e bem-vinda numa casa que também poderia ser a sua. Está no limiar, como o grande escritor católico francês Charles Péguy, autor de páginas inesquecíveis pela profundidade do seu olhar e da sua fé, que permaneceu nessa condição durante toda a sua vida sem poder aproximar-se dos sacramentos porque era casado civilmente com uma mulher ateia e com três filhos não batizados. A propósito dos três anos da vida pública de Jesus, Péguy escreveu: "Ele não os usou para lamentar e acusar a maldade dos tempos. (...) Ele não incriminou, não acusou ninguém. Ele salvou. Não incriminou o mundo. Salvou o mundo. Esses outros, em vez disso, insultam, argumentam, incriminam. Como médicos abusivos, que descontam no doente. Acusam as areias do século, mas mesmo no tempo de Jesus havia o século e as areias do século. Mas na areia árida, na areia do século, uma fonte inesgotável foi derramada, uma fonte de graça."

Essa graça que reverbera nas palavras e no rosto emoldurado por longos cabelos pretos de uma escritora que “tecnicamente” não é católica. Em seu coração, uma noite em São João de Latrão, o mundo e a graça se abraçaram a ponto de se tornarem quase indistinguíveis.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O outro lado da história: morte e ressurreição

O outro lado da história (Opus Dei)

O outro lado da história: morte e ressurreição

Todo ser humano deseja a plenitude de vida. Qual é a relação deste anseio com a morte e ressurreição de Cristo? A morte é o único limite para o progresso? Por que a ressurreição de Jesus é decisiva? Em que consiste “o novo céu e a nova terra”?

28/05/2019

Provavelmente já assistimos a um filme, lemos um livro ou jogamos algum videogame em que aparece oelixir da longa vida. Com esta expressão, alcunhada faz séculos, tratava-se de descrever a procura dos alquimistas por um medicamento também chamado “panaceia”, que permitisse ao ser humano viver para sempre. Na nossa época existe uma corrente de pensamento – chamada Trans-humanismo – que constitui uma versão atualizada desta pretensão, e que se caracteriza pelo seguimento de três grandes objetivos para a aparição de uma humanidade perfeita: a super longevidade, o super conhecimento e o super bem-estar; em outras palavras: a procura de uma vida em plenitude.

Progresso versus morte: limite ou ponto de partida?

Porque, depois de tantos séculos de progresso, continuamos procurando fins não atingidos? É evidente que o homem é um ser insatisfeito. É um ser que, embora consiga um nível de vida e de felicidade que poderia ser considerado satisfatório, nunca se sente totalmente satisfeito: quer conhecer mais, viver cada vez melhor e para sempre. Com o desenvolvimento científico e tecnológico, os conhecimentos se ampliaram notavelmente, e também a capacidade de evitar a dor ou de combatê-la. No entanto, mais cedo ou mais tarde, a existência terrena acaba encontrando um obstáculo que até agora nenhum ser humano conseguiu ultrapassar: a morte.

JESUS CRISTO NÃO SÓ SUPEROU A MORTE COMO LIMITE, COMO NOS CONVIDA A PARTICIPAR DE SUA VITÓRIA

A morte parece algo profundamente injusto, que nunca deveria acontecer. E, no entanto, se de algo temos certeza nesta vida, é que um dia morreremos. Nosso ser está aberto a uma perfeição que fica truncada pela morte. Por isso, os povos de todos os tempos e culturas desenvolveram modos de lidar com aquilo que transcende esta vida, desdobrando o sentido religioso que está ancorado na natureza humana. As representações do Além são variadas no panorama religioso da humanidade e dão testemunho desse desejo humano de infinito; ao mesmo tempo, nenhuma delas consegue demonstrar que é a única realmente verdadeira.

Neste vasto horizonte, o cristianismo chega com uma força inusitada: afirma que houve um homem que superou a morte como limite; que, vencendo a morte, obteve uma vida que dura para sempre. Esse homem é Jesus Cristo. Mas além disso afirma que Jesus prometeu aos que viverem com Ele e seguirem o seu exemplo, poder participar dessa nova existência que vence a morte.

Perante a morte de uma pessoa amada, com frequência escutamos uma frase como: “a sua desaparição foi uma grande perda”. A morte de um ser humano é injusta, pois cada um é um exemplar único, e, portanto, a sua desaparição do mundo supõe um autêntico empobrecimento. Se isto é assim para nós, podemos dizer que a morte de Cristo foi o acontecimento mais injusto da história, pois a sua vida, como nos chegou através dos testemunhos da época, tem uma exemplaridade fora do comum, que foi reconhecida inclusive pelos que têm uma opinião negativa sobre o cristianismo.

Voltar às raízes

Algumas obras literárias descrevem esta busca humana como a tentativa de voltar a um paraíso perdido, como sugere o título do famoso livro de John Milton. Com isso fazem referência a diversas tradições que falam de uma época inicial paradisíaca da humanidade, que foi quebrada por um acontecimento que fez o homem perder a sua imortalidade e a sua bondade. A história de alguns personagens da mitologia grega, como Aquiles, insinua que o preço que o homem deve pagar para ser ele mesmo e não um ente sem características próprias no mundo divino é a aceitação da própria mortalidade. Por outro lado, no pensamento ilustrado é frequente encontrar a ideia de que o ser humano, para poder ser ele mesmo, precisa emancipar-se da sua origem, da sua dependência de um Deus ou de um contexto familiar que até então o protegeu. Subsistir por si próprio significa perder o medo de encarar a morte. As promessas da vida após a morte seriam, pois, uma volta às origens felizes. Lembremos que alguns clássicos literários de épocas muito diversas, desde a Odisseia até O Senhor dos anéis, se propõem como a volta do herói à casa.

Falou-se da busca de uma vida duradoura, de um bem-estar e de um conhecimento supremo. Pois bem, na realidade, a fé cristã nos diz que era exatamente isso o que o ser humano tinha nas suas origens remotas, quando foi criado por Deus em estado de inocência, que a doutrina da Igreja chama de “justiça original”[1]: além da amizade com Deus, o homem havia recebido os dons da integridade, conhecimento, impassibilidade e imortalidade. Foi o pecado, a desobediência a Deus (cfr. Gn 3, 6), o que provocou a expulsão do paraíso, e, por conseguinte, a perda do acesso à árvore da vida (cfr. Gn 3, 22-24). A Bíblia especifica a seguir que a história primordial não termina assim, de modo trágico, mas o próprio Deus cuida dos humanos cobrindo a sua nudez com roupas improvisadas (Gn 3,21), e prometendo-lhes um futuro redentor (cfr. Gn 3,15). Em efeito, Jesus Cristo, que se apresenta como “o último Adão” (1 Cor 15,45), novo início da humanidade, permanecendo ao mesmo tempo na sua condição divina, toma sobre si a condição humana (cfr. Flp 2,5-11), com esses efeitos de mortalidade, sofrimento e estar exporto à tentação, e realiza na sua vida o projeto de Deus, em plena obediência ao Pai até a entrega da sua própria vida. E graças a esse ato supremo de amor, vence a morte com a sua ressurreição, reabrindo as portas do paraíso aos homens, que agora podem ter acesso de novo à árvore da vida: os sacramentos, cuja fonte e cume é o alimento eucarístico[2]. Nele, de alguma forma, o Céu de Deus, o Paraíso, se une à terra que habitamos, enquanto esperamos a sua prometida manifestação gloriosa no fim dos tempos[3].

A Ressurreição: o mistério de Deus no mundo

A fé cristã fala, portanto, de um além que se torna presente em nosso aquém, de um Céu que, sendo promessa de algo completamente novo, que não pertence às categorias espaço-temporais do nosso mundo, e que ao mesmo tempo é algo que corresponde a um desejo profundamente enraizado no nosso ser. É verdade que Jesus, depois da sua ressurreição, ascendeu aos Céus, de onde voltará; esse mesmo Céu que acolheu Maria, que foi concebida sem pecado e portanto participa de modo eminente do mistério do seu Filho; porém é também certo, que esse Céu na verdade é o mistério de Deus que, ao mesmo tempo que é transcendente a este mundo, está completamente dentro dele, de modo que, paradoxalmente, agora Jesus se encontra mais perto de nós do que quando percorria os caminhos da Palestina[4].

O CÉU É O MISTÉRIO DE DEUS: AO MESMO TEMPO QUE É TRANSCENDENTE A ESTE MUNDO, ESTÁ COMPLETAMENTE DENTRO DELE

Com a sua ressurreição e a sua promessa, Jesus introduziu no mundo da nossa experiência, muitas vezes negativa por estar marcada pelas consequências do pecado nas nossas vidas (ignorância, dor, morte, etc.), uma nova esperança, real, pois a vida e a ressurreição de Jesus ocorreram na nossa história e, ao mesmo tempo, de algum modo a superam, porque a abrem ao que está além dela, do outro lado da história. Essa esperança é convincente porque Jesus deu a sua vida, e não existe nada mais digno de credibilidade neste mundo do que o exemplo, que ao ser de santidade – isto é, de caridade – é simplesmente incontestável. “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Por isso, o martírio, desde o início do cristianismo até hoje, constitui a maior demonstração da credibilidade e veracidade de uma fé pela qual uma pessoa é capaz de dar a vida.

Deste modo, entende-se que a vida eterna prometida por Jesus, por um lado já começou neste mundo para quem crê e, ao mesmo tempo, receberá uma plenitude transfiguradora que ainda não somos capazes de sonhar. “O que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu” (1 Cor,2,9). Se a imaginarmos com as categorias deste mundo, poderíamos supor um tédio por uma vida que consistiria em uma “sucessão contínua de dias do calendário”[5]. Mas não se trata de uma cópia desta vida, mas, acima de tudo, de um dom surpreendente, pelo qual vale a pena gastar a vida, pois amamos e confiamos em quem diz que nos tornará felizes. “Muito bem, servo bom e fiel, [...] Vem participar da alegria do teu senhor” (Mt 25,21-23). Quando duas pessoas formam um projeto comum de vida, uma diz a outra que a fará feliz, não porque pense que a outra pessoa será um meio para alcançar a felicidade, mas porque ocupar-se da felicidade do outro a fará feliz. Certamente, Deus já é feliz como comunhão trinitária de Pessoas; mas, ao mesmo tempo, quer fazer-nos participar da sua felicidade. E esta existência terrena, vivida por amor, é uma antecipação desta felicidade. Por isso, santo Agostinho dizia que “amando ao próximo limpas o olho para ver a Deus”[6].

Um novo Céu e uma nova Terra

Para poder ver Deus temos que continuar sendo criaturas de alma e corpo, e, portanto, é necessária uma ressurreição final, que consiste em que, sendo Deus Criador de tudo, a matéria, o cosmos e os nossos corpos, transfigurados, também possam participar da glória divina, como de fato já participa a humanidade de Jesus Cristo, que existe para sempre em Deus. Trata-se de algo muito importante para uma correta interpretação das implicações do cristianismo na sociedade, na história e na cultura: o “novo céu e a nova terra” (Ap 21,1) não serão algo completamente diferente, mas, de alguma maneira, o empenho para construir um mundo melhor acompanhará o homem na eternidade.

ENTENDE-SE QUE A VIDA ETERNA PROMETIDA POR JESUS, POR UM LADO JÁ COMEÇOU NESTE MUNDO PARA QUEM CRÊ

Portanto o homem é pai de si mesmo[7], pois as suas decisões o configuram, e isso quer dizer que constrói a sua eternidade por meio da sua atuação neste mundo, pois as suas ações configuram a sua pessoa. Por isso, ressuscitará não somente um corpo em sentido puramente material, mas todo o seu ser com a bagagem de toda a sua história[8]. Por isso é tão certeiro o convite a “viver cada instante com vibração de eternidade”[9].

Nenhuma doutrina suscitou tantas ironias dos pagãos nos primeiros séculos como a da ressurreição. Recordamos o que disseram a São Paulo: “A respeito disso te ouviremos ainda uma outra vez”; “o teu muito saber tira-te o juízo” (At 17,32; 26,24). No entanto, o dualismo entre matéria e espírito, que caracterizava a cosmovisão grega, não oferecia perspectivas de salvação da dimensão material, considerada como fonte do mal. As teorias antigas e novas, que prometem uma reencarnação também não satisfazem, pois embora pareçam valorizar a necessidade de a matéria estar presente no destino do homem, não parecem respeitar a verdadeira identidade do homem na união indissolúvel de corpo e alma.

Olhando para Cristo podemos compreender que a promessa da ressurreição é razoável, embora não esteja na mão do Homem alcançá-la, pois se trata de puro dom. Por isso, o cristianismo é uma proposta de sentido que, sem decifrar totalmente nesta vida os enigmas que rodeiam a existência, oferece uma esperança razoável de uma vida inextinguível, pela qual vale a pena seguir Jesus Cristo e dar a vida por Ele.

Santiago Sanz

Leituras recomendadas:

Bento XVI, Enc., Spe salvi, 30-XI-2007.

R. Guardini, El tránsito a la eternidad, PPC, Madrid 2003.

J. Ratzinger, Escatologia, La muerte y la vida eterna, Herder, Barcelona 1992, p.150.

P. O’Callaghan – J.J. Alviar, Breve y sencillo curso de escatología, em www.collationes.org. Roma 2013.


[1] Cfr. São João Paulo II. O pecado do homem e o estado de justiça original, Audiência geral, 3-IX-1986.

[2] Cfr. J. Ratzinger, escatologia, La muerte y la vida eterna, Herder, Barcelona 1992, p.150.

[3] Cfr. S. Hahn, O Banquete do Cordeiro, Cleofas.

[4] Cfr. J. Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré - da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição, Planeta.

[5] Bento XVI, Enc. Spe salvi, 30-XI-2007, n. 12.

[6] Santo Agostinho, In Evangelium Ioannis Tractatus, 17, 8.

[7] Cfr. São Gregório de Nisa, De vita Moysis, 2,3.

[8] Cfr. R. Guardini, El tránsito a la eternidad, PPC, Madrid 2003.

[9] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 239.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/morte-vida-ressurreicao/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF