Por ocasião do Jubileu, a Bíblia do duque Borso d'Este volta
à Sala Capitular do Senado, onde ficará exposta de 22 de novembro a 15 de
janeiro de 2026: um retorno possível graças a uma intensa colaboração entre
instituições civis e o mundo eclesiástico, em torno de uma obra-prima absoluta
do Renascimento.
Maria Milvia Morciano – Cidade do Vaticano
Cem anos após sua primeira exposição pública, a Bíblia do
duque Borso d'Este volta à Sala Capitular da Biblioteca do Senado, em Roma,
onde, em 1923, Giovanni Treccani decidiu resgatá-la do exílio. A exposição
recebe o nome, extraído do Gênesis: “Et vidit Deus quod esset bonum”: “E
Deus viu que era bom – A Bíblia de Borso d'Este - Uma obra-prima para o
Jubileu”. Trata-se de um retorno impregnado de história, quase como um
reencontro: foi precisamente ali que Treccani conheceu Giovanni Gentile.
Impressionado pela beleza do manuscrito, decidiu comprá-lo, “comovido até às
lágrimas”. Hoje, o Jubileu oferece uma oportunidade renovada de ver uma obra,
que só era exposta ao público em ocasiões extremamente raras.
Uma plateia institucional
A inauguração, promovida pelo Presidente do Senado, Ignazio
La Russa, contou com a presença, entre outros, da vice-presidente, Mariolina
Castellone, o vice-secretário de Cultura, Gianmarco Mazzi, e o Comissário
especial para o Jubileu, Roberto Gualtieri, além dos três principais
conferencistas: Dom Rino Fisichella, pró-Prefeito do Dicastério para a
Evangelização; Carlo Ossola, presidente do Instituto da Enciclopédia Italiana
Treccani, e Alessandra Necci, diretora das Galerias d’Este e organizadora da exposição.
Uma beleza que interpela
O arcebispo Rino Fisichella chamou a atenção dos presentes
para a profunda natureza do manuscrito: “A Bíblia não é apenas um livro, mas a
Palavra que continua a falar a todas as gerações. Na exposição iluminada,
desejada pelo duque Borso d'Este, a beleza não é um simples enfeite, mas uma
oração visual, uma memória que atravessa os séculos”. As páginas decoradas com
ouro e pigmentos preciosos tornam-se um convite à contemplação, um convite a
redescobrir o texto sagrado, em seu valor mais autêntico; trata-se da mesma
Palavra, que continuamos a encontrar em edições acessíveis a todos, que
guardamos em casa ou, simplesmente, pedem para ser reabertas para permitir que
seu conteúdo essencial possa emergir.
A organizadora e a dinastia que inventou a modernidade
Alessandra Necci reconstrói o contexto em que nasceu o
manuscrito: a corte de Borso e Ercole d'Este, um laboratório de arte, política
e esplendor, no qual trabalharam Taddeo Crivelli, Franco de' Russi, Girolamo de
Cremona e Guglielmo Giraldi. Ali, tomou forma a linguagem, que Roberto Longhi
definiu “capaz de dialogar, em pé de igualdade, com a pintura monumental”. A
diretora da exposição recorda: “A Bíblia não era apenas um objeto de devoção,
mas também um manifesto político, que Borso levou para Roma, em 1471, com o
intuito de demonstrar ao Papa a grandeza da família d’Este”. E a diretora Necci
concluiu: “Trata-se de uma obra de Corte, que se tornou patrimônio de todos,
que guia o visitante, por meio de mais de seiscentos manuscritos iluminados,
animais fantásticos e cenas, que ecoam o estilo de Donatello.
Treccani: a magnanimidade que fez a história
Carlo Ossola, presidente do Instituto da Enciclopédia
italiana, resgatou o significado cívico do gesto de Treccani: “Um exemplo nobre
de patrocínio moderno. Sua generosidade permitiu que a Itália voltasse a
retomar posse de um tesouro, que corria o risco de se perder a nível
internacional. Nesta exposição, a história da obra e do Instituto voltam a se
entrelaçar, mais uma vez, como afirma ainda Ossola: “Todo panorama da cultura
italiana concentra-se apenas em dois volumes. Um século, após a sua doação, a
Bíblia permanece também um dos símbolos da ideia de cultura como bem comum”.
Um livro que é um mundo
A Bíblia de Borso d'Este não é um livro simples, mas um
microcosmo visual, onde coexistem o sagrado, a política, a arte, a zoologia
fantástica e o orgulho da dinastia. O azul ultramarino afegão dos preciosos
lápis-lazuritas, o fundo dourado, os brasões, os centauros, os emblemas da
família d’Este: cada página vibra com uma "harmonia, entre beleza e
sacralidade", evocada por Dom Fisichella, como símbolo do peregrino do
Jubileu. Em Modena, onde é conservado, o livro representa a joia preciosa das
Galerias d’Este. Em Roma, onde será exposto por um período, será um ápice da
memória, pois recorda o que a cultura pode obter quando se unem instituições,
estudiosos, cidadãos e história. Este livro continua a ser, como sugere o
título da exposição, algo de bom e maravilhoso.











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