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terça-feira, 18 de novembro de 2025

O esplendor da palavra no “livro mais lindo do mundo”

Páginas iluminadas da Bíblia de Borso d’Este (Vatican News)

Por ocasião do Jubileu, a Bíblia do duque Borso d'Este volta à Sala Capitular do Senado, onde ficará exposta de 22 de novembro a 15 de janeiro de 2026: um retorno possível graças a uma intensa colaboração entre instituições civis e o mundo eclesiástico, em torno de uma obra-prima absoluta do Renascimento.

Maria Milvia Morciano – Cidade do Vaticano

Cem anos após sua primeira exposição pública, a Bíblia do duque Borso d'Este volta à Sala Capitular da Biblioteca do Senado, em Roma, onde, em 1923, Giovanni Treccani decidiu resgatá-la do exílio. A exposição recebe o nome, extraído do Gênesis: “Et vidit Deus quod esset bonum”: “E Deus viu que era bom – A Bíblia de Borso d'Este - Uma obra-prima para o Jubileu”. Trata-se de um retorno impregnado de história, quase como um reencontro: foi precisamente ali que Treccani conheceu Giovanni Gentile. Impressionado pela beleza do manuscrito, decidiu comprá-lo, “comovido até às lágrimas”. Hoje, o Jubileu oferece uma oportunidade renovada de ver uma obra, que só era exposta ao público em ocasiões extremamente raras.

Cartaz da exposição no Salão Capitular da Biblioteca do Senado (Vatican News)

Uma plateia institucional

A inauguração, promovida pelo Presidente do Senado, Ignazio La Russa, contou com a presença, entre outros, da vice-presidente, Mariolina Castellone, o vice-secretário de Cultura, Gianmarco Mazzi, e o Comissário especial para o Jubileu, Roberto Gualtieri, além dos três principais conferencistas: Dom Rino Fisichella, pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização; Carlo Ossola, presidente do Instituto da Enciclopédia Italiana Treccani, e Alessandra Necci, diretora das Galerias d’Este e organizadora da exposição.

Detalhe da margem inferior do fólio inicial do Livro de Jeremias (Vatican News)

Uma beleza que interpela

O arcebispo Rino Fisichella chamou a atenção dos presentes para a profunda natureza do manuscrito: “A Bíblia não é apenas um livro, mas a Palavra que continua a falar a todas as gerações. Na exposição iluminada, desejada pelo duque Borso d'Este, a beleza não é um simples enfeite, mas uma oração visual, uma memória que atravessa os séculos”. As páginas decoradas com ouro e pigmentos preciosos tornam-se um convite à contemplação, um convite a redescobrir o texto sagrado, em seu valor mais autêntico; trata-se da mesma Palavra, que continuamos a encontrar em edições acessíveis a todos, que guardamos em casa ou, simplesmente, pedem para ser reabertas para permitir que seu conteúdo essencial possa emergir.

Carta inicial do Livro de Josué (Vatican News)

A organizadora e a dinastia que inventou a modernidade

Alessandra Necci reconstrói o contexto em que nasceu o manuscrito: a corte de Borso e Ercole d'Este, um laboratório de arte, política e esplendor, no qual trabalharam Taddeo Crivelli, Franco de' Russi, Girolamo de Cremona e Guglielmo Giraldi. Ali, tomou forma a linguagem, que Roberto Longhi definiu “capaz de dialogar, em pé de igualdade, com a pintura monumental”. A diretora da exposição recorda: “A Bíblia não era apenas um objeto de devoção, mas também um manifesto político, que Borso levou para Roma, em 1471, com o intuito de demonstrar ao Papa a grandeza da família d’Este”. E a diretora Necci concluiu: “Trata-se de uma obra de Corte, que se tornou patrimônio de todos, que guia o visitante, por meio de mais de seiscentos manuscritos iluminados, animais fantásticos e cenas, que ecoam o estilo de Donatello.

Abertura do Evangelho de Lucas (Vatican News)

Treccani: a magnanimidade que fez a história

Carlo Ossola, presidente do Instituto da Enciclopédia italiana, resgatou o significado cívico do gesto de Treccani: “Um exemplo nobre de patrocínio moderno. Sua generosidade permitiu que a Itália voltasse a retomar posse de um tesouro, que corria o risco de se perder a nível internacional. Nesta exposição, a história da obra e do Instituto voltam a se entrelaçar, mais uma vez, como afirma ainda Ossola: “Todo panorama da cultura italiana concentra-se apenas em dois volumes. Um século, após a sua doação, a Bíblia permanece também um dos símbolos da ideia de cultura como bem comum”.

Abertura do Livro de Eclesiastes, a corte de Salomão, detalhe da margem inferior (Vatican News)

Um livro que é um mundo

A Bíblia de Borso d'Este não é um livro simples, mas um microcosmo visual, onde coexistem o sagrado, a política, a arte, a zoologia fantástica e o orgulho da dinastia. O azul ultramarino afegão dos preciosos lápis-lazuritas, o fundo dourado, os brasões, os centauros, os emblemas da família d’Este: cada página vibra com uma "harmonia, entre beleza e sacralidade", evocada por Dom Fisichella, como símbolo do peregrino do Jubileu. Em Modena, onde é conservado, o livro representa a joia preciosa das Galerias d’Este. Em Roma, onde será exposto por um período, será um ápice da memória, pois recorda o que a cultura pode obter quando se unem instituições, estudiosos, cidadãos e história. Este livro continua a ser, como sugere o título da exposição, algo de bom e maravilhoso.

Páginas iluminadas da Bíblia de Borso d’Este (Vatican News)
Páginas iluminadas da Bíblia de Borso d’Este (Vatican News)
O Evangelho Segundo Lucas (Vatican News)
Abertura do Livro do Eclesiastes, a Corte de Salomão, detalhe da margem inferior (Vatican News)
Páginas iluminadas da Bíblia de Borso d’Este (Vatican News)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF