Translate

sábado, 19 de julho de 2025

Por que o PL da Devastação fere a Ecologia Integral e agrava a crise do clima?

Ecologia Integral e a Restauração dos Ecossistemas (EcoDebate)

POR QUE O PL DA DEVASTAÇÃO FERE A ECOLOGIA INTEGRAL E AGRAVA A CRISE DO CLIMA?

18/07/2025

Dom Vicente de Paula Ferreira
Bispo  de Livramento de Nossa Senhora (BA)

Justamente quando o mundo clama por medidas urgentes contra a emergência climática, o Congresso brasileiro aprova um projeto que pode aprofundar o colapso ambiental. Na madrugada de quinta-feira, 17 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou o PL 2.159/2021, conhecido como PL da Devastação, que agora aguarda a sanção presidencial. Trata-se de uma medida que flexibiliza drasticamente as regras de licenciamento ambiental no Brasil. Assim, em vez de fortalecer a legislação ambiental, a maioria dos Deputados Federais e Senadores opta por enfraquecê-la ainda mais, em um momento crítico para o futuro do planeta.

Essa escolha política, que ameaça diretamente os mecanismos de proteção da vida e dos ecossistemas, contraria princípios fundamentais de diversas tradições religiosas e espirituais — entre elas, a tradição judaico-cristã. “Então Deus viu que tudo que havia feito era muito bom” (Gn 1, 31), afirma o texto sagrado. O salmista reza: “quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas, as coisas que criaste, que é o ser humano, para dele te lembrares, o filho do homem, para que o visites?” (Sl 8, 4-5). 

A tradição judaico-cristã, ao conceito de natureza acrescenta o de criação, compreendendo a relação do criador com suas criaturas. E, nesse horizonte, ensina que o ser humano possui a nobre vocação de guardião da maravilhosa obra divina. No entanto, a complexa crise socioambiental revela que nossa espécie é responsável pelo grande desequilíbrio do planeta. Realidade que tem levado os cientistas a afirmarem que chegamos a um decênio decisivo (MARQUES, 2023). E temos que ter atitudes urgentes para o enfrentamento do aquecimento global que, como fruto das opções humanas, ameaça nossa vida no Planeta Terra.

Conscientes desses graves problemas climáticos e de nossa tarefa ética enquanto guardiães da criação, fomos surpreendidos pelo PL 2.159/2021. Este projeto de lei concede aos interesses econômicos o direito de autodeclaração do que considerarem de baixo impacto. A própria empresa, por exemplo uma mineradora, é que vai dizer se uma área a ser explorada necessita ou não de licença ambiental. No momento em que temos que fortalecer as leis de proteção ecológica, o Brasil se coloca na contramão ao enfraquecê-las ainda mais. Em nota, a CNBB afirmou: “essa proposta legislativa representa um grave retrocesso na política ambiental brasileira, desmonta o processo de licenciamento no país e fragiliza os instrumentos de controle e prevenção de danos socioambientais”.

De fato, flexibilizar as leis que protegem nossa biodiversidade é reforçar os empreendimentos predatórios. Conceder ainda mais autonomia a essas atividades para avançarem sobre territórios indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, afetando nossos biomas, comprometendo a estabilidade hídrica e a preservação dos rios, é colaborar diretamente com o agravamento da crise climática. A exploração abusiva da natureza sustenta um modelo de consumo insustentável, guiado principalmente pelos interesses das elites econômicas globais. Essa parcela mais privilegiada e concentradora de poder e riqueza no planeta é o grupo que mais polui o ar e acelera as mudanças climáticas. Nossas matas ciliares, áreas de recarga hídrica, zonas úmidas serão atingidas, ainda mais, em nome de poder e dinheiro. Além de ser inconstitucional, o projeto da devastação não afetará apenas o Brasil, mas também a Bolívia, o Peru, o Paraguai, Uruguai e outros países. O pior cenário seria a perda de sustentabilidade da Amazônia enquanto ecossistema tropical. Bioma que não possui 18% de sua floresta original.

Igrejas e a sociedade não podem compactuar com esse projeto da devastação, pois ele acelerará o ecocídio e agravará a crise climática. Não precisamos de mais projetos que contradizem os princípios da ecologia integral, atacando territórios, vidas humanas e mudando o clima, em nome da ganância. Não é por acaso que nosso país amarga índices muito altos de violência contra ambientalistas. Basta de ameaças, perseguições e mortes de defensores dos direitos humanos e da natureza. Com a proximidade da COP 30 no Brasil, o que esperamos é um pacto pela ecologia integral.

Recentemente, as conferências e conselhos episcopais católicos da África, Ásia e América Latina e Caribe publicaram uma mensagem intitulada “Um chamado por justiça climática e a casa comum, conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”. Trata-se de uma denúncia contra o chamado capitalismo verde. Porque ele continua maquiando a realidade para favorecer o extrativismo ilimitado. O documento também anuncia que a sustentabilidade está na defesa da ecologia integral enquanto paradigma para uma nova forma de relação do ser humano com a criação. Propõe reais alternativas de proteção do meio ambiente e da sociedade que estão em curso nas sabedorias de nossos povos e na resistência de muitos movimentos sociais. Pois não podemos sonhar com uma existência saudável se, em nome do lucro, estamos alterando o clima a ponto de nossa vida ficar insustentável neste planeta. É por tudo isso que dizemos NÃO ao PL da Devastação.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

"Todos" preparados para "samaritanar" o ambiente digital a partir de Roma

Igreja sem fronteiras (Vatican News)

Em menos de 20 dias começa o Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos, considerado um marco para a evangelização on-line. Depois da JMJ de Lisboa, o evento em Roma promete fortalecer a proposta do Papa Francisco de "samaritanar” o ambiente digital. Representantes do Brasil já estão confirmados para testemunhar o trabalho realizado em redes sociais, blogs e aplicativos. Nesta semana foi divulgado o hino oficial "Todos".

https://youtu.be/zS_DIS-sfwY

Andressa Collet - Vatican News

Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos começa no mesmo dia daquele dedicado aos jovens, em 28 de julho. Durante dois dias, cerca de mil peregrinos irão unir esforços para celebrar, formar e inspirar aqueles chamados a evangelizar nas plataformas digitais. O encontro inédito e histórico, através do qual a Igreja reconhece o continente digital como espaço de missão, congrega três momentos distintos: a fase espiritual com a passagem pela Porta Santa, a fase de formação e um festival.

As inscrições já foram encerradas, mas quem não conseguir participar presencialmente em Roma, poderá acompanhar em modalidade on-line, registrando-se através do site oficial: o www.digitalismissio.org. Os dois principais eventos de formação serão transmitidos através da conta do YouTube do projeto "La Iglesia Te Escucha", que nasceu de uma convocação do Papa Francisco através do Sínodo da Sinodalidade (2021-2024) para que se pudesse evangelizar também no ambiente digital sem deixar ninguém excluído do processo sinodal, sendo Igreja em Saída, indo até às periferias existenciais do mundo.

O site oficial também irá disponibilizar em breve um guia espiritual exclusivo em preparação ao Jubileu temático, mas já é de acesso público o material - tanto visual como de texto - como recurso para promover o evento e fortalecer a missão de evangelização no mundo digital.

Os missionários da esperança, inclusive do Brasil

O evento, que será realizado nos dias 28 e 29 de julho, é destinado a todos que compartilham a mensagem do Evangelho em redes sociais, blogs, canais e aplicativos. É uma oportunidade de trocar experiências e fortalecer a missão comum da Igreja. Ser um missionário da esperança significa aceitar o chamado de Cristo para levar a Boa Nova a todos os cantos, especialmente no mundo digital. Envolve espalhar a luz da fé e do Evangelho, transformando vidas com mensagens de esperança e amor. Entre elas, o testemunho de brasileiros, que já estão confirmados entre uma seleção internacional de missionários digitais: Guilherme Cadoiss, Raíssa Chadud, Vero Brunkow, Layla Kamila, Lisiane Mazzurana e Felipe Padilha.

O Jubileu dos Missionários Digitais e dos Influencers Católicos acontece após um primeiro encontro mundial, ou seja, aquele realizado durante a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2023, com o Papa Francisco. Em vídeo que divulgou o hino do evento, o Pontífice argentino fez um convite especial para “samaritanar” o ambiente digital, uma missão que seja levada adiante com humanidade.

O hino oficial "Todos"

Além da programação já conhecida pelos peregrinos inscritos, inclusive disponível em português, nesta semana foi divulgado o texto e o clip oficial do hino internacional do Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos. É de caráter global, porque o material foi produzido em diferentes cantos do mundo e interpretado por artistas de vários idiomas: em espanhol por Aldana Canale, Juan Delgado, Pablo Martínez, Fruto del Madero e Padre Jota; em francês por Praise Louange e Hopen Music; em italiano por Francesco Lorenzi do The Sun; em coreano por Junho Chu; em inglês por Josh Blakesley e Francesca Larosa; e em português pelo grupo do Missionário Shalom.

O Missionário Shalom (MSH), criado em 1998, foi uma resposta da Comunidade Católica Shalom à necessidade de evangelizar mais e com diferentes instrumentos a atividade missionária no Brasil. Nasceu apenas para a dimensão musical, mas com o tempo a dança foi assumindo seu espaço para completar a arte de levar Jesus ao coração dos homens.

Conheça agora a íntegra da letra da música Tutti (Todos), produzida por Aldana Canale, Pablo Martínez, Tomas Romero, Juan Delgado e José P. Valencia Poblete:

O hino internacional do Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos

Open your eyes and see so

many souls around you

상처 입고 우는 이웃들이 당신을 기다려요

 

Samaritanise! Jésus t’appelle,

aime chacun d’un cœur fidèle

 

Peregrinos de esperanza misioneros

en el mundo digital Bringing

followers to Jesus

All are welcome in this place

 

Peregrinos da esperança

missionários para um mundo digital

não há fronteiras nem distâncias

para todos há um lugar.

 

Ascolta ciò che non si ode,

racconta col cuore che arde.

Uma esperança mais alta há

fogo en teu interior.

 

Samaritanea, es Jesús que llama a

abrazar a todos con amor.

 

Peregrinos da esperança

missionários para um mundo digital

Bringing followers to Jesus

All are welcome in this place

 

Pellegrini di speranza

missionari nel mondo digital

ni frontières ni distance,

chacun ici a sa place

 

Todos, todos, todos Everyone,

everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

 

Todos, todos, todos Everyone,

everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

 

Peregrinos de esperanza

Misioneros en el mundo digital

não há fronteiras nem distâncias

qui c’è posto anche per te

 

Pèlerins d’espérance,

missionnaires du monde

digital, ni frontières ni

distance, All are welcome in

this place

 

Todos, todos, todos Everyone,

everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

 

Todos, todos, todos Everyone, everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O “Espírito de Geometria” e o “Espírito de Finesse” em Blaise Pascal

O "Espírito de Geometria" | Tribuna do Norte.

O “ESPÍRITO DE GEOMETRIA” E O “ESPÍRITO DE FINESSE” EM BLAISE PASCAL 

18/07/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Nas Pensées de Blaise Pascal, encontramos uma das distinções mais marcantes do pensamento moderno: a diferença entre o “esprit de géométrie” (espírito de geometria) e o “esprit de finesse” (espírito de fineza). Essa distinção ilumina duas formas complementares de conhecer e pensar, lançando luz não apenas sobre os limites da razão, mas também sobre a centralidade da vida interior e da busca espiritual. 

Pascal, homem de ciência e fé, compreendia profundamente o “espírito de geometria”, a capacidade de raciocinar com clareza, exatidão e coerência, partindo de princípios bem definidos e avançando por meio de deduções rigorosas. Essa forma de pensar domina as ciências exatas e é essencial para o progresso técnico. Contudo, tem dificuldade em apreender as realidades humanas mais sutis e profundas, como o amor, a fé, a graça e a sabedoria prática. 

É nesse ponto que entra o “esprit de finesse”. Trata-se de uma inteligência sensível, intuitiva, que percebe nuances e capta os primeiros princípios por meio da experiência interior, especialmente do coração. Pascal insiste que esse espírito não apenas é legítimo, mas, muitas vezes, muito mais seguro que o raciocínio lógico. Ele é fundamental para a vida moral, para a fé e para as relações humanas, pois permite compreender o não dito, agir com empatia e discernir com profundidade. 

Para Pascal, o coração não é apenas sede de emoções, mas uma faculdade de conhecimento real e profundo. É nesse contexto que ele afirma: “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (Pensées, 277). Essa célebre frase expressa a convicção de que nem tudo o que é verdadeiro pode ser demonstrado pela lógica formal e que há uma forma de sabedoria que brota da experiência vivida e da abertura ao mistério. 

A distinção entre esses dois espíritos não é um convite à oposição entre razão e sentimento, mas à integração. O espírito de geometria sem fineza torna-se frio e insensível; o espírito de fineza sem geometria corre o risco de ser sentimentalista e instável. A verdadeira sabedoria nasce do diálogo entre os dois, da razão iluminada pelo coração, e do coração purificado pela razão. 

No contexto contemporâneo, essa distinção mostra-se especialmente atual. Vivemos em uma era em que o espírito de geometria predomina: algoritmos, inteligência artificial e lógica técnica orientam decisões e estruturas. Contudo, os grandes desafios éticos, espirituais e humanos — como o sentido da vida, a dignidade da pessoa humana, a justiça, o sofrimento e a fé — não se resolvem apenas com dados e técnica. Eles exigem escuta, empatia, discernimento e abertura ao transcendente. 

Na prática pastoral, essa distinção também é fecunda. As estruturas e normas (espírito de geometria) são necessárias. Mas, sem o espírito de fineza — isto é, sem misericórdia, acolhida e discernimento — corre-se o risco de tornar a fé árida e o Evangelho sufocado por formalismos. 

Ao recuperar essa distinção, Pascal nos convida a redescobrir a beleza da intuição espiritual e a cultivar a humildade diante do mistério. Em um mundo tentado pelo controle total e pela superficialidade emocional, a sabedoria pascaliana nos indica um caminho seguro: unir razão e coração na busca do que realmente importa — a verdade, o bem e o amor. Como ele mesmo escreveu: “Não se entra no coração senão pelo coração.” 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

DENTRO DO VATICANO: Dicastério para os Textos Legislativos

Dicastério para os Textos Legislativos: volumes antigos preservados no arquivo  (Vatican Media)

Sua principal tarefa é atualizar o texto dos dois Códigos, o Latino e o Oriental, que constituem o núcleo da legislação universal da Igreja. Desempenha essa função interpretando textos duvidosos e, quando necessário, propondo ao Papa emendas ou acréscimos aos textos canônicos.

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

Como afirma um princípio jurídico, o Direito acompanha a vida. O Dicastério para os Textos Legislativos, em particular, promove e divulga na Igreja o conhecimento e a recepção do Direito Canônico da Igreja latina e o das Igrejas orientais e presta assistência para a sua correta aplicação. O prefeito é o arcebispo Filippo Iannone e o secretário é o bispo Juan Ignacio Arrieta Ochoa de Chinchetru.

As competências

O Dicastério para os Textos Legislativos desempenha as suas mansões ao serviço do Romano Pontífice, supremo legislador e intérprete. Conforme recordado na Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, é competência deste Dicastério formular a interpretação autêntica das leis da Igreja, aprovada de forma específica pelo Romano Pontífice enquanto Supremo Legislador e Intérprete, depois de ter consultado, nas questões de maior importância, as Instituições curiais e os Departamentos da Cúria Romana competentes na matéria a ser examinada.

O Dicastério, ao estudar a legislação vigente da Igreja latina e das Igrejas orientais segundo as solicitações que lhe chegam da prática eclesial, examina a eventual presença de lacunæ legis e apresenta ao Romano Pontífice propostas adequadas para a superação das mesmas. Verifica igualmente eventuais necessidades de atualização da normativa em vigor e sugere emendas para assegurar a harmonia e a eficácia do direito.

Este organismo mantém contato com as diversas instâncias da Igreja, em particular os Dicastérios da Cúria Romana e as Conferências Episcopais, de forma a identificar a necessidade de eventuais alterações das normas ou para acolher sugestões. Também é dada especial atenção à correta prática canônica, para que o Direito na Igreja seja adequadamente compreendido e corretamente aplicado.

Notas Históricas

O Dicastério para os Textos Legislativos surgiu no contexto da codificação canônica de 1917. Naquele ano, com o Motu Proprio Cum iuris canonici, Bento XV instituiu a Pontifícia Comissão para a interpretação autêntica do Código de Direito Canônico: "Seguindo o exemplo de nossos predecessores, que confiaram a interpretação dos decretos do Concílio de Trento a uma assembleia especial de padres cardeais - afirma o documento - instituímos um Conselho, ou uma Comissão, que terá o direito exclusivo de se pronunciar sobre a interpretação autêntica dos cânones do Código.

João XXIII, por sua vez, instituiu em 1963 a Pontifícia Comissão para a Revisão do Código de Direito Canônico, a fim de preparar, à luz dos decretos do Concílio Vaticano II, a reforma do Código promulgada por Bento XV.

Em 1967, Paulo VI instituiu a Pontifícia Comissão para a Interpretação dos Decretos do Concílio Vaticano II.

João Paulo II, com o Motu Proprio Recognito Iuris Canonici Codice de 2 de janeiro de 1984, estabeleceu a Pontifícia Comissão para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico.

Com a Constituição Apostólica Pastor Bonus de 28 de junho de 1988, a Comissão foi transformada no Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, com competência mais ampla e detalhada.

Com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, promulgada em 5 de junho de 2022 e que revogou a Pastor Bonus, o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos torna-se o Dicastério para os Textos Legislativos.

Dicastério para Textos Legislativos: um livro sobre Direito Eclesiástico (Vatican News)

Direito, Misericórdia e Caridade

As competências exigidas para quem trabalha neste Dicastério estão intimamente relacionadas com a área jurídica. É necessária uma formação acadêmica em Direito Canônico, bem como o conhecimento de línguas modernas, além do latim, para responder às solicitações de consulta de vários países. Geralmente, os funcionários contratados pelo Dicastério também têm experiência nesta área da vida eclesial, tendo exercido ministérios nas suas dioceses ou, se religiosos, nos seus institutos, o que pressupõe o conhecimento do direito. Estas competências devem ser complementadas por uma perspectiva específica.

Promover o conhecimento do Direito Canónico significa, antes de mais, compreender que o Direito Canónico se distingue de outros sistemas jurídicos: baseia-se no direito natural e no direito divino, que, em última análise, representam os parâmetros de justiça que a autoridade eclesiástica deve seguir. Por isso, a lei canônica atribui a quem exerce a autoridade, todos os instrumentos necessários para adequar o rigor e as exigências da lei à justiça do caso concreto. E, sobretudo, o Direito Canônico é animado por uma exortação constante: a de nunca esquecer as exigências da caridade e da misericórdia na aplicação da lei. Como enfatiza São Tomás, "a misericórdia sem justiça é a mãe da dissolução; a justiça sem misericórdia é crueldade".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 18 de julho de 2025

"Solidão mata 100 pessoas por hora no mundo", alerta neurologista

As jornalistas Carmen Souza (C) e Paloma Oliveto entrevistam o doutor em neurologia e neurociências e professor da UCB Leandro Freitas sobre as consequências da solidão para a saúde - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

"Solidão mata 100 pessoas por hora no mundo", alerta neurologista

Leandro Freitas, doutor em neurologia e neurociências e professor da UCB, alerta para os efeitos nocivos à saúde física e mental de ficar sozinho, mesmo com acesso a redes sociais. O problema atinge todas as faixas etárias, mas entre os jovens é mais preocupante, destaca o especialista.

Por Mariana Saraiva

postado em 18/07/2025

Os efeitos da solidão no cérebro foram tema central do programa CB.Saúde — uma produção realizada em parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília — exibido nesta quinta-feira (17/7). As jornalistas Carmen Souza e Paloma Oliveto entrevistaram o doutor em neurologia e neurociências e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leandro Freitas. 

A conversa repercutiu relatório inédito, divulgado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que revelou dados alarmantes sobre as consequências da solidão prolongada. Segundo o documento, os impactos da solidão persistente na saúde física e mental podem ser comparados aos efeitos para o corpo de fumar 15 cigarros por dia. A solidão, portanto, não deve ser encarada apenas como uma condição emocional ou passageira, mas como um fator de risco importante para o bem-estar geral dos indivíduos.

Durante o programa, foi destacado que essa condição afeta pessoas de todas as idades, demonstrando que o isolamento social não é um fenômeno restrito a uma faixa etária específica. Crianças, adolescentes, adultos e idosos podem vivenciar sentimentos de desconexão e ausência de vínculos significativos, o que contribui para o agravamento de questões de saúde mental e até mesmo de doenças neurológicas.

Um dos fatores que têm agravado a solidão atualmente é o uso excessivo da tecnologia. Muitas pessoas vivem imersas nas redes sociais e acabam se afastando das interações humanas reais. A sociedade vem confundindo qualidade de vida com conforto individualizado: casas grandes, quartos separados com televisão, frigobar e wi-fi potente. No entanto, qualidade de vida, em sua essência, era estar à mesa com pessoas queridas, compartilhar afeto e cultivar a convivência.

De que forma a saúde é afetada pela solidão?

São várias questões que precisamos considerar. A primeira delas é de que o cérebro é feito de presença. Sempre que falamos em sistema nervoso, estamos falando de interação, e essa interação é feita com pessoas. Quando nos isolamos, deixamos de receber estímulos essenciais: visuais, auditivos, olfativos. Tudo isso alimenta o nosso sistema nervoso. Quando esses estímulos cessam, o cérebro sofre. Se eu não estou utilizando essas células, elas entram em um processo de morte programada. Isso aumenta o risco de demência, de doenças neurodegenerativas. O cérebro começa a atrofiar.

É uma questão fisiológica?

Às vezes, as pessoas tentam separar o cognitivo do fisiológico, mas o psicológico é uma construção biológica. Isso me preocupa muito. No mundo primitivo, a gente sobrevivia por meio das interações. Até dois séculos atrás, não existiam relatos das condições neurológicas que enfrentamos hoje. Estamos desenvolvendo uma nova forma de viver, hiperconectada, tecnológica, para a qual nosso corpo, nossa biologia, não está preparada.

Redes sociais ajudam a aliviar a solidão?

A resposta é não. E a ciência comprovou isso. Estudos mostram que, mesmo uma videochamada, não substitui a presença física. Isso nos engana, porque cria a falsa sensação de companhia. Tenho milhares de seguidores nas redes, participo de vários grupos no WhatsApp, mas, ainda assim, posso estar só. Essa sensação de presença é mascarada. Por isso, a romantização das redes sociais precisa ser questionada com urgência.

A solidão é pior entre os jovens?

O impacto da solidão em um cérebro ainda em desenvolvimento é particularmente preocupante. Muitos jovens, hoje, estão imersos nas redes sociais e deixam de vivenciar interações humanas reais. Isso é ainda mais perigoso, porque a juventude é um período crítico em que o cérebro precisa de estímulos constantes para se desenvolver de forma saudável. As redes sociais não substituem a presença física nem oferecem os mesmos benefícios neurológicos da convivência real.

Isso pode ser prejudicial até para quem gosta de ficar sozinho?

É natural que algumas pessoas gostem de passar mais tempo sozinhas, mas, quando o isolamento se torna excessivo e constante, ele representa um risco real. Não existe isolamento crônico que não seja patológico. O ser humano não foi biologicamente preparado para viver isolado. Isso é incompatível com a nossa saúde, com a nossa sobrevivência física e emocional.

Quais são os sinais de alerta?

É importante observar comportamentos, especialmente entre os mais jovens. O alerta acende quando a pessoa começa a evitar o convívio com amigos, familiares, ou prefere se isolar em vez de participar de interações sociais. Essa fase da vida é marcada pela necessidade de pertencimento a grupos. Outro alerta é que hoje, confundimos qualidade de vida com conforto isolado: casas grandes, quartos separados com televisão, frigobar e wi-fi potente. Mas qualidade de vida, na essência, era uma mesa cheia, afeto e convivência. Precisamos resgatar isso.

Qual é a melhor forma de tratamento?

O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar ajuda profissional. Conversar com um psicólogo pode ser essencial para que o indivíduo compreenda o que está sentindo. Em casos mais graves, em que a pessoa sente pânico ao sair de casa ou interagir, pode ser necessário o acompanhamento psiquiátrico, com medicação adequada.

E quais estratégias ajudam a sair da solidão?

Precisamos voltar à essência do convívio humano. Somos seres sociais, não digitais. Se a gente não mudar isso, a sociedade vai continuar adoecendo. Antigamente, ligávamos para dar os parabéns; hoje, mandamos mensagens prontas. Estamos nos afastando muito. O caminho envolve resgatar o contato humano, com atividades comunitárias, encontros ao ar livre, jogos em grupo, ações solidárias. O cérebro precisa de interação, de afeto. A tecnologia veio para ajudar, mas deve ser usada com equilíbrio.

De que forma a solidão pode agravar casos de demência?

Embora fatores genéticos influenciem, os hábitos de vida são determinantes. Nosso cérebro tem cerca de 86 bilhões de neurônios. Eles precisam de estímulos constantes. Quando há privação, seja por falta de convívio, sedentarismo, má alimentação, sono ruim ou ausência de afeto, essas células começam a morrer. E isso contribui diretamente para o surgimento ou agravamento de quadros de demência.

A solidão mata?

Mata, sim. Estima-se que quase 100 pessoas no mundo morrem por hora em decorrência direta ou indireta da solidão (de acordo com o relatório da OMS). Ela mata fisicamente, ao agravar doenças, e simbolicamente. Quando nos isolamos, mesmo vivos biologicamente, emocionalmente estamos mortos. Somos feitos de presença, de vínculo, de troca.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2025/07/7203611-solidao-mata-100-pessoas-por-hora-no-mundo-alerta-neurologista.html

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei.

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida

Quando explicamos o porquê de nossas reações espontâneas, muitas vezes, em vez de dizer “é que sou assim”, teríamos que admitir: “eu me fiz assim”. Editorial sobre a formação do caráter na vida do cristão.

20/01/2015

Caminhar acompanhados

Dentro dos planos divinos, a vida foi feita para ser compartilhada: o Senhor conta com a ajuda mútua entre os seres humanos. Constatamos isso, de fato, todos os dias: quantas vezes nem sequer somos capazes de satisfazer as necessidades mais básicas e primárias de maneira individual. Ninguém pode ser completamente autônomo. Num nível mais profundo, todas as pessoas notam essa necessidade de abrir-se a outra pessoa, de compartilhar a existência, de dar e receber amor. «Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem»[9].

Esta natural abertura para os outros chega ao seu auge nos planos redentores do Senhor. Quando recitamos o Símbolo dos Apóstolos, confessamos que cremos na comunhão dos santos, comunhão que é o núcleo da Igreja. Por isso, na vida espiritual, também é indispensável aprender a contar com a ajuda dos outros, que estão implicados de um modo ou de outro em nossa relação com Deus: recebemos a fé através dos ensinamentos de nossos pais e catequistas; participamos dos sacramentos que celebra um ministro da Igreja; acudimos ao conselho espiritual de outro irmão na fé, que também reza por nós; etc.

Saber que caminhamos acompanhados na vida cristã enche-nos de alegria e tranquilidade, sem que diminua nosso próprio empenho por alcançar a santidade. Mesmo que muitas vezes nos deixemos levar pelas mãos, nosso papel não se limita a isso. São Josemaria, ao referir-se à vida espiritual, manifestava que o conselho não elimina a responsabilidade pessoal. E concluía: a direção espiritual deve tender a formar pessoas de critério[10]. Por isto, não queremos que tomem resoluções por nós, nem deixar de pôr esforço nas tarefas que assumimos.

Ao mesmo tempo em que reconhecemos a ajuda indispensável dos outros, temos de ser conscientes de que, na vida espiritual é o Senhor quem atua através deles para transmitir-nos a sua luz e força. Isto nos dá segurança para continuar caminhando para a santidade quando, por um motivo ou outro, faltam aquelas pessoas que tinham um papel importante na nossa vida cristã. Neste sentido, também temos uma profunda liberdade de espírito em relação às pessoas que Deus pôs ao nosso lado, a quem amamos pelo coração de Cristo, e cujo apoio agradecemos profundamente.

Livres para amar sem condições

Os cristãos sabemos que a plenitude pessoal chega como fruto da livre e total disponibilidade aos desejos do Amor de um Deus Criador, Redentor e Santificador. Os dons que recebemos alcançam seu rendimento máximo ao abrir-nos à graça de Deus, como confirma a experiência de tantos santos e santas. Ao deixarem que o Senhor entrasse nas suas vidas, souberam pôr-se amorosamente a seu serviço, como Santa Maria que, no momento da Anunciação pronuncia a resposta firme: Fiat! - faça-se em mim segundo a tua palavra! -, o fruto da melhor liberdade: a de decidir-se por Deus[11].

Quando uma pessoa decide-se por Deus, empenha seus sonhos e energias no que vale mais a pena. Percebe o sentido último da liberdade, que não está simplesmente em poder escolher uma coisa ou outra, mas em dispor da vida para algo grande, aceitando compromissos definitivos. Dedicar as próprias qualidades a seguir a Cristo, mesmo que implique recusar outras opções, traz felicidade, o cem por um na terra e a vida eterna[12]. Reflete também um alto grau de maturidade interior, pois só quem tem una personalidade com convicções é capaz de comprometer-se de uma maneira total: Livremente, sem coação alguma, porque me apetece, eu me decido por Deus[13].

Abandonar passado, presente e futuro no Senhor

A alma que opta por Deus move-se com uma paz interior que supera qualquer tribulação. Sei em quem acreditei[14]: são palavras que expressam a confiança de São Paulo em meio às dificuldades por ser fiel à sua vocação de apóstolo das gentes. Quem põe o fundamento no Senhor goza de uma segurança inquebrantável, e isto lhe permite doar-se também aos outros: vivendo o celibato por motivos apostólicos, no matrimônio ou em tantos outros caminhos que pode levar a existência cristã. É uma entrega que envolve presente, passado e futuro, como rezava São Josemaria: Senhor, meu Deus! Em tuas mãos abandono o passado, o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o temporal e o eterno[15].

Ninguém pode mudar o passado. No entanto, o Senhor pega a história de cada um, perdoa os pecados que possam ter existido através do sacramento da Reconciliação e reintegra harmoniosamente esses eventos na vida de seus filhos. Tudo é para o bem[16]: inclusive os erros que cometemos, se sabemos recorrer à misericórdia divina e, com a graça de Deus, procuramos viver no presente mais pendentes dEle. Assim se está também em condições de ver com confiança o futuro, pois sabemos que está nas mãos de um Pai que nos ama: quem está nas mãos de Deus, cai e se levanta sempre nas mãos de Deus!

Decidir-se por Deus é aceitar o seu convite para escrever nossa biografia com Ele. Reconhecendo humildemente a liberdade como um dom, aplicamo-la em cumprir, em companhia de tantas outras pessoas, a missão que o Senhor nos confia. E experimentamos com alegria que seus planos superam nossas previsões, como dizia São Josemaria a um jovem: Deixa-te levar pela graça! Deixa teu coração voar! (...). Faça tua pequena novela: uma novela de sacrifícios e de heroísmos. Com a graça de Deus ficareis aquém[17].

J.R. García-Morato


[9] Bento XVI, Enc. Spe Salvi, n. 48

[10] São Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, n. 93

[11] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 25

[12] Mt 19, 29

[13] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 35

[14] 2 Tim 1,12

[15] São Josemaria Escrivá, Via Sacra, VII estação, n. 3

[16] Rom 8,28

[17] São Josemaria, anotações tomadas numa tertúlia, 29/11/1974 (AGP, biblioteca, P04, p. 45).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/protagonistas-da-nossa-vida/

Curiosidades da Bíblia: Como foi a era dos Patriarcas?

Bíblia (Vatican News)

A Era dos Patriarcas teve início com a migração de Abraão e sua tribo da cidade de Ur, localizada no sul da Caldéia, no atual Iraque, por volta de 2000 a.C.

Padre José Inácio Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Assim como na história de outras grandes civilizações, a história do povo judeu é dividida em distintos períodos para facilitar seu estudo e compreensão. O primeiro período é chamado de Era dos Patriarcas, primeira das três fases da história do povo e de sua presença na região da Palestina, também chamada de Terra de Canaã.

A Era dos Patriarcas teve início com a migração de Abraão e sua tribo da cidade de Ur, localizada no sul da Caldéia, no atual Iraque, por volta de 2000 a.C. A tribo de Abraão era nômade, cuidando de rebanhos e vivia nos espaços das cidades-estados que existiam na região da Mesopotâmia. Estudiosos afirmam que o povo de Abraão não devia ser mais do que 120 pessoas.

Nesta fase da história o povo ainda era politeísta, acreditando em muitos deuses e possivelmente a migração para o norte tinha como finalidade chegar ao grande santuário dedicado à deusa lua. Na caminhada o povo, guiado por Abraão, foi fazendo a experiência do Deus Javé, tornando-se aos poucos o único povo monoteísta entre as civilizações do Médio Oriente.

Então o Senhor disse a Abrão: Sai da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mos­trarei. Farei de ti o pai de um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de ti todos os povos da terra serão aben­çoados.

Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando saiu de Harã. Levou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que haviam acumulado e os seus servos, com­prados em Harã; partiram para a terra de Canaã e lá chega­ram. Abrão atravessou a terra até o lugar do carvalho de Moré, em Siquém. Naque­la época, os cananeus habitavam essa terra.

O Senhor apa­receu a Abrão e disse: À sua descendência darei esta terra. Abrão cons­truiu ali um altar dedicado ao Senhor, que lhe havia aparecido. Dali prosseguiu em direção às colinas a leste de Betel, onde armou acampa­mento, tendo Betel a oeste e Ai a leste. Constru­iu ali um altar dedicado ao Senhor e invocou o nome do Senhor. Depois Abrão partiu e pros­seguiu em direção ao Neguebe. (Gn 12, 1-9)

A atenta leitura das Sagradas Escrituras mostra que a concepção de Deus foi sendo aperfeiçoada ao longo do Antigo Testamento. Depois de meses de caminhada o povo se estabeleceu na Terra de Canaã, enfrentando diversos inimigos que já estavam instalados, alguns mais fortes e organizados.

A Era dos Patriarcas chega ao final com a simbólica narrativa do “Êxodo”, com a volta do povo à “Terra Prometida” depois de séculos de escravidão no Egito, trabalhando na edificação das grandes obras encabeçadas pelos faraós.

Os patriarcas se transformam nos pais da nação

Nesse período os hebreus organizavam sua vida ao redor dos patriarcas, líderes das grandes famílias. Eles reuniam assumiam funções diversas sendo ao mesmo tempo chefes militares, sacerdotes e líderes políticos. Os mais importantes patriarcas foram Abraão, Isaac e Jacó, este responsável pela formação das 12 tribos, correspondendo aos seus doze filhos, quando se formaram e se consolidaram as principais características do povo hebreu.

Não existem indícios arqueológicos que comprovem com exatidão a existência e as andanças de Abraão, Isaac ou Jacó. Os muitos elementos deste período que são conhecidos são retirados da narrativa encontrada nos textos da Bíblia que passaram a ser redigidos quando o povo já estava estabelecido na Palestina. O início da história do povo hebreu é envolto em meio a muitas lendas, e os principais acontecimentos têm dupla origem, uma mais lendária e outra mais histórica.

A formação concreta do povo de Israel teve início quando Deus se manifestou a Abrão, que teve seu nome mudado para Abraão, ordenando que deveria deixar sua terra, partindo para outra que posteriormente seria indicada, conferindo com a Terra de Canaã. Em troca de sua fidelidade Abraão recebeu a promessa de formar uma grande nação, que iria ganhar todas as terras, do rio Nilo até o Eufrates. Abraão, segundo o livro do Gênesis, obedeceu a ordem divina e sua família posteriormente daria origem a todas as nações da região.

Após Abraão, a liderança passou para Isaac, seu filho, e posteriormente para Jacó, que teve seu nome mudado para Israel. Os doze filhos de Jacó dariam origem às doze tribos de Israel, comparadas com doze pedras sobre as quais o povo edificou sua história e suas tradições.

História atribulada

Acredita-se que por volta de 1.700 a.C. os hebreus tenham descido para o Egito, tido pelos historiadores como “celeiro da humanidade”, fugindo de uma intensa seca, estabelecendo-se no delta do rio Nilo. Sua ida para o Egito corresponde a um período de invasão dos chamados “Povos do Mar, tendo entre eles os hicsos, povo que conquistou o território egípcio, recebendo uma série de benefícios.

Com o fim do domínio hicso, os hebreus foram transformados em escravos até que por volta de 1.250 a.C., conduzidos por Moisés e por Josué retornam à Palestina, no acontecimento que ficou conhecido como Êxodo.

A narrativa do êxodo destaca algumas famosas passagens como a travessia do Mar Vermelho para que o povo tivesse caminho garantido rumo à liberdade. Durante a migração, os hebreus receberam de Deus Javé sua base jurídica, conhecida como Lei Mosaica ou também os Dez Mandamentos. Nessa época começou a se consolidar o monoteísmo hebraico.

Depois que o povo se estabeleceu na Terra Prometida, começou nova fase de sua história conhecida como a “Era dos Juízes”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Nossa Senhora do Carmo e sua profunda relação com a Estrela do Mar

Nossa Senhora do Carmo - Foto/Crédito: ACI Digital.

Por Redação central*

16 de julho de 2025

O Carmelo é uma cadeia montanhosa situada na Palestina, com aproximadamente 600 metros de altitude, localizada perto da costa mediterrânea. Ele é uma referência para navios e é considerada um lugar sagrado pelas três religiões monoteístas (judeus, cristãos e muçulmanos).

Além disso, está relacionado com o profeta Elias do Antigo Testamento.

A tradição diz que no século XIII os carmelitas tiveram que abandonar o Monte Carmelo devido à invasão dos muçulmanos e os que ficaram foram massacrados. Antes de ir embora, enquanto cantavam o Salve Regina, a Virgem Maria lhes apareceu e prometeu ser a sua Estrela do Mar.

Por volta de 1241, o Barão de Grey da Inglaterra voltou das Cruzadas na Palestina levando um grupo de religiosos do Monte Carmelo e lhes deu uma mansão em Aylesford.

Neste lugar, alguns anos depois, houve um acontecimento mariano especial.

Um dia, são Simão Stock, superior dos carmelitas, implorou por uma intervenção divina em defesa dos diversos ataques que a ordem recebia. Em sua oração suplicante, chamou a Mãe de Deus de “flor do Carmelo” e “Estrela do Mar”. A Virgem o ajudou e apareceu com o escapulário para os carmelitas.

Na medida em que os religiosos carmelitas foram crescendo, propagou-se a devoção à Virgem do Carmo, também conhecida como a Estrela do Mar, e ocorreram milagres.

Em 1845, o barco inglês “Rei do Oceano” estava no meio de uma grande tempestade. As ondas castigavam sem piedade e o fim parecia próximo. Um ministro protestante chamado Fisher subiu ao convés com sua esposa, seus filhos e outros para implorar a Deus misericórdia e perdão.

Um jovem irlandês, John McAuliffe, ao perceber a gravidade da situação, abriu a sua camisa,

tirou o Escapulário e, fazendo com ele o Sinal da Cruz sobre as furiosas ondas, o lançou ao oceano. Naquele momento o vento se acalmou, mas uma onda chegou ao convés e o Escapulário regressou aos pés do rapaz.

Ao interrogar o jovem, os presentes conheceram a história da Santíssima Virgem e do seu Escapulário. Deste modo, o Sr. Fisher e a sua família decidiram entrar para a Igreja Católica o mais rápido possível e assim desfrutar da proteção da Virgem do Carmo.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/52650/nossa-senhora-do-carmo-e-sua-profunda-relacao-com-a-estrela-do-mar

Gaza, Pizzaballa: nunca deixaremos nosso povo sozinho

O patriarca latino de Jerusalém durante sua recente visita a Taybeh, na Cisjordânia (AFP or licensors)

O patriarca latino de Jerusalém confirma o balanço do ataque israelense à Paróquia da Sagrada Família, durante o qual o pároco, padre Romanelli, também ficou ferido.

Stefano Leszczynski – Vatican News

Leia também

17/07/2025

Apelo do Papa por Gaza: imediato cessar-fogo, diálogo e paz na região

"Ainda temos informações parciais, porque a comunicação com Gaza não é muito fácil, sobretudo hoje." O cardeal Pierbattista Pizzaballa, falando à mídia vaticana sobre o ataque israelense à Paróquia da Sagrada Família em Gaza, confirma que várias pessoas ficaram feridas, algumas em estado grave. "Dizem que foi um erro de um tanque israelense, mas não sabemos. Atingiu a igreja, diretamente a igreja", explica o patriarca.

Uma história que se repete

Leia também

17/07/2025

Ataque contra paróquia em Gaza, padre Romanelli ferido

Esta não é a primeira vez que a Igreja católica em Gaza é atingida. Na noite de 16 de dezembro de 2023, outro episódio dramático ocorreu na paróquia latina da Sagrada Família, no bairro Zeitoun, na Cidade de Gaza: pesados bombardeios israelenses atingiram todo o complexo, danificando a igreja, as instalações das Irmãs de Madre Teresa e os painéis solares que forneciam energia vital para o prédio. Durante o ataque, duas mulheres — uma mãe idosa e sua filha — saíram para ir ao banheiro e foram criveladas por disparos de atiradores. Equipes de socorro descreveram "pânico total" dentro do complexo, onde aproximadamente 700 pessoas deslocadas estavam alojadas. O pároco, padre Gabriel Romanelli, natural da Argentina, confirmou que estilhaços de artefatos atingiram diversas áreas do complexo, mas felizmente nenhum refugiado ficou ferido naquela ocasião.

Nunca os deixaremos sozinhos

Leia também

12/07/2025

Gaza, o massacre das crianças

As conexões com Gaza e a paróquia ainda são muito difíceis, confirma o cardeal Pizzaballa, que reitera a determinação em proteger os palestinos na Faixa: "Sempre tentamos chegar a Gaza de todas as maneiras possíveis, direta e indiretamente. É muito cedo para falar sobre tudo isso agora; precisamos entender o que aconteceu, o que precisa ser feito, especialmente para proteger nosso povo. Naturalmente, precisamos assegurar que essas coisas não aconteçam novamente e, então, veremos como proceder. Mas certamente nunca os deixaremos sozinhos."

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida (Parte 1/2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida

Quando explicamos o porquê de nossas reações espontâneas, muitas vezes, em vez de dizer “é que sou assim”, teríamos que admitir: “eu me fiz assim”. Editorial sobre a formação do caráter na vida do cristão.

20/01/2015

«Eu peço para serem protagonistas desta mudança. Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não 'olhem da sacada' a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… 'Não olhem da sacada' a vida, mergulhem nela, como fez Jesus»[1]. Diante destas palavras do Papa Francisco aos jovens, surgem imediatamente algumas perguntas, que o próprio Romano Pontífice formulava a seguir: «Por onde começamos? A quem pedimos para iniciar isso? Por onde começamos? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar»[2]. Para ser protagonistas dos acontecimentos do mundo é indispensável começar por ser protagonistas da nossa própria vida.

Livres e condicionados

Este protagonismo implica reconhecer que as circunstancias familiares ou sociais influem em nosso caráter, mas não o determinam absolutamente. O mesmo é válido para os instintos mais básicos que provém da constituição corporal, e também para a herança genética: assinalam algumas tendências, mas estas podem ser moldadas e orientadas através do exercício da vontade que segue a inteligência bem formada.

Nossa personalidade se forja na medida em que tomamos decisões livres, já que ações humanas não se dirigem unicamente a mudar nosso ambiente, mas também influem em nosso modo de ser. Embora às vezes aconteça de uma maneira não muito consciente, a repetição de atos faz que adquiramos certos costumes ou adotemos uma postura ante a realidade. Por isso, quando explicamos o porquê de nossas reações espontâneas, mais que dizer "é que sou assim", muitas vezes teríamos que admitir: "me tornei assim".

Temos condicionamentos que muitas vezes são difíceis de controlar, como a qualidade das relações familiares, o ambiente social em que crescemos, uma doença que nos limita de alguma maneira, etc. Frequentemente, não é possível ignorá-los ou remediá-los, mas pode-se mudar a atitude com que os enfrentamos, principalmente se formos conscientes de que nada fica fora dos cuidados providentes de Deus: É necessário repetir muitas e muitas vezes que Jesus não se dirigiu a um grupo de privilegiados, mas veio revelar-nos o amor universal de Deus. Todos os homens são amados por Deus, de todos espera amor[3]. Em qualquer circunstância, inclusive com grandes limitações, podemos dar a Deus e ao próximo obras de amor, por menores que pareçam. Não se pode medir o valor de um sorriso no meio da tribulação; do oferecimento da dor a Deus, procurando a união com a Cruz; da aceitação paciente das contrariedades! Um amor sem limites, mais forte que a dor, que a solidão, que o abandono, que a traição, que a calúnia, que o sofrimento físico e moral, que a própria morte, não pode ser vencido por nada.

Artífices da própria vida

Uma tarefa da nossa liberdade é descobrir os talentos pessoais, virtudes, capacidades, competências, agradecê-los e aproveitá-los. Porém, temos de recordar que o que mais estrutura a personalidade cristã são os dons de Deus, que incidem na parte mais íntima do nosso ser. Entre estes se encontra, de modo eminente, o imenso presente da filiação divina, que recebemos com o Batismo. Graças a ele, o Pai vê em nós a imagem - se bem que imperfeita, pois somos criaturas limitadas - de Jesus Cristo, que se torna cada vez mais clara com o sacramento da Confirmação, o perdão transformador da Penitência e, especialmente, a comunhão com seu Corpo e seu Sangue.

Partindo destes dons recebidos das mãos de Deus, cada pessoa, querendo ou não, é autora de sua existência. Nas palavras de São João Paulo II, « todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima»[4]. Somos donos de nossos atos - o Senhor desde o princípio, criou o homem e o deixou nas mãos seu próprio arbítrio[5]-; somos nós, se quisermos, que assumimos a direção das nossas vidas no meio de tormentas e dificuldades.

Somos livres! Experimentamos este descobrimento com alguma incerteza: para onde levarei a minha vida? Mas em primeiro lugar com alegria: Deus, ao criar-nos, correu o risco e a aventura da nossa liberdade. Quis uma história que fosse uma história verdadeira, feita de autênticas decisões, e não uma ficção nem um jogo[6]. Nesta aventura não estamos sós: contamos, em primeiro lugar, com a ajuda do próprio Deus, que nos propõe uma missão, e também com a colaboração dos outros: familiares, amigos, inclusive pessoas que cruzam casualmente conosco em algum momento da existência. O protagonismo na própria vida não implica negar que em muitos aspectos somos dependentes, e se considerarmos que esta dependência é recíproca, então poderíamos dizer que somos interdependentes. A liberdade, por si só, não é suficiente: fica vazia se não a utilizarmos para nos comprometermos com coisas grandes, magnânimas. Como veremos, a liberdade é para a entrega ou, dito de outro modo, só pode existir una liberdade entregue.

Um caminho para percorrer

São Josemaria recordava um cartaz que encontrou em Burjasot (Valencia), pouco tempo depois do fim da guerra civil espanhola, com uma frase que muitas vezes citou em sua pregação: "Cada caminhante siga o seu caminho". Cada alma vive a sua própria vocação de um modo pessoal, com a sua própria marca: podemos andar pela direita, pela esquerda, em zigue-zague, caminhando a pé, a cavalo. Há cem mil maneiras de ir pelo caminho divino[7]. Cada pessoa é autora principal da sua história de santidade, cada uma tem seu selo distintivo, na configuração de qualquer faceta da sua existência e da sua personalidade, evitando o simples "deixar-se levar" pelos fatos.

Livremente - como filhos, insisto, não como escravos -, seguimos a senda que o Senhor marcou a cada um de nós. Saboreamos esta liberdade de movimentos como uma dádiva de Deus [8]. Esta desenvoltura -soberania humana- vai de mãos dadas com a responsabilidade, do saber que somos "criaturas de Deus": um sonho divino que se torna realidade na medida em que experimentarmos o amor sem condições, que pede nossa resposta. O amor de Deus afirma nossa liberdade, e a eleva a altitudes impensáveis com sua graça.

J.R. García-Morato


[1] Papa Francisco, Vigília de oração com os jovens (Rio de Janeiro, 27 de julho de 2013)

[2] Ibid.

[3] São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 110

[4] São João Paulo II, Carta aos artistas, n. 2

[5] Cfr. Sir, 15,14

[6] São Josemaria Escrivá, "As riquezas da fé", artigo publicado no jornal ABC, de Madri, em 02 de novembro de 1969.

[7] São Josemaria, Carta, 2 de ferreiro de 1945, n. 19

[8] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 35

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/protagonistas-da-nossa-vida/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF