MARIA MADALENA: A AURORA DO RESSUSCITADO
22/07/2025
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Na alvorada da nova criação, quando as sombras ainda tocavam
a terra, uma mulher permaneceu diante do túmulo vazio, entre lágrimas e
esperança. E então, escutou uma Voz que dizia: “Maria!”. Como se o universo
tivesse parado, ela voltou-se e exclamou: “Rabunni!” — Mestre! Não foi uma
palavra qualquer. Foi o grito de uma alma que reencontra sua origem, de um
coração que reconhece o Amor frente a morte vencida.
Maria Madalena, aquela que amou até o fim, foi a primeira a
contemplar o Ressuscitado. Antes de Pedro, antes de João, antes de todos esses
gigantes da Igreja. A ela foi confiado o anúncio do impossível tornado real:
“Vai, dize aos meus irmãos…”. E assim, a primeira palavra da ressurreição
brotou dos lábios de uma mulher marcada pela graça, encharcada de lágrimas e
coragem. Por isso, com justiça e verdade, é chamada Apóstola dos
Apóstolos.
No entanto, a memória escrita mais antiga da ressurreição,
na enumeração paulina das aparições (1Cor 15,5-6), não faz menção a ela. Pedro
é lembrado, os Doze, os quinhentos irmãos. Maria Madalena, não. A ausência pesa
como pedra. Mas as pedras também rolam, como naquela manhã em Jerusalém.
Pois a tradição mais próxima dos fatos não a silencia.
Marcos, o primeiro dos evangelistas, escreveu que “na madrugada do primeiro dia
da semana, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena” (Mc 16,9). E a enviou.
Mateus confirma: “Não tenhais medo. Ide dizer a meus irmãos…” (Mt 28,10).
Lucas, com sobriedade, diz que foram “Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de
Tiago” (Lc 24,10) que levaram aos apóstolos a notícia que mudou o mundo.
Mas é João, o discípulo do coração, quem nos dá o retrato
mais íntimo e poético: Maria no jardim, diante do túmulo, confundindo o
Ressuscitado com o jardineiro, até que Ele a chame pelo nome. O nome
pronunciado com ternura única, como só o Amor eterno sabe chamar. “Maria!” — e
ali ela viu não apenas o Mestre, mas Aquele que a conhecia por inteiro.
O mistério pascal se revela, primeiro, àquela que foi
esquecida por um escriba e lembrada por Deus. As dúvidas dissolvem-se. Pois só
quem nos conhece por dentro é capaz de nos chamar pelo nome com verdade e
ternura.
Hoje, na Igreja, Maria Madalena figura em todas as listas
evangélicas como a primeira entre as mulheres. Aquela que, em silêncio fiel,
permaneceu aos pés da cruz, foi também a primeira mensageira da vitória. Sua
voz rompeu o silêncio da morte, não com palavras, mas com o testemunho do
coração que viu e acreditou.
Ao celebrarmos sua festa em 22 de julho, graças à
sensibilidade de um grande homem do nosso tempo, o Papa Francisco, que, com o
coração de pastor e o olhar de profeta, mais que ninguém, neste nosso
século, amou as mulheres e reconheceu nelas o papel preponderante no caminho de
ser e fazer discípulos.
Num mundo que flerta com a misoginia, Francisco ousou
escutá-las. Como Jesus escutou Maria. Como Deus sempre escuta os que
amam.
Maria Madalena, mulher redimida e corajosa, amante do Cristo
vivo, em ti vemos resplandecer a luz de um mundo novo. Tu és a estrela da manhã
da Ressurreição. E o amor que te fez correr ao sepulcro é o mesmo que, um dia,
também nos fará reconhecer nosso nome na voz de Deus.
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