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segunda-feira, 28 de julho de 2025

Maria Madalena: a aurora do Ressuscitado

Maria Madalena e o túmulo vazio (Centro Loyola de Fé)

MARIA MADALENA: A AURORA DO RESSUSCITADO

22/07/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Na alvorada da nova criação, quando as sombras ainda tocavam a terra, uma mulher permaneceu diante do túmulo vazio, entre lágrimas e esperança. E então, escutou uma Voz que dizia: “Maria!”. Como se o universo tivesse parado, ela voltou-se e exclamou: “Rabunni!” — Mestre! Não foi uma palavra qualquer. Foi o grito de uma alma que reencontra sua origem, de um coração que reconhece o Amor frente a morte vencida. 

Maria Madalena, aquela que amou até o fim, foi a primeira a contemplar o Ressuscitado. Antes de Pedro, antes de João, antes de todos esses gigantes da Igreja. A ela foi confiado o anúncio do impossível tornado real: “Vai, dize aos meus irmãos…”. E assim, a primeira palavra da ressurreição brotou dos lábios de uma mulher marcada pela graça, encharcada de lágrimas e coragem. Por isso, com justiça e verdade, é chamada Apóstola dos Apóstolos

No entanto, a memória escrita mais antiga da ressurreição, na enumeração paulina das aparições (1Cor 15,5-6), não faz menção a ela. Pedro é lembrado, os Doze, os quinhentos irmãos. Maria Madalena, não. A ausência pesa como pedra. Mas as pedras também rolam, como naquela manhã em Jerusalém. 

Pois a tradição mais próxima dos fatos não a silencia. Marcos, o primeiro dos evangelistas, escreveu que “na madrugada do primeiro dia da semana, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena” (Mc 16,9). E a enviou. Mateus confirma: “Não tenhais medo. Ide dizer a meus irmãos…” (Mt 28,10). Lucas, com sobriedade, diz que foram “Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago” (Lc 24,10) que levaram aos apóstolos a notícia que mudou o mundo. 

Mas é João, o discípulo do coração, quem nos dá o retrato mais íntimo e poético: Maria no jardim, diante do túmulo, confundindo o Ressuscitado com o jardineiro, até que Ele a chame pelo nome. O nome pronunciado com ternura única, como só o Amor eterno sabe chamar. “Maria!” — e ali ela viu não apenas o Mestre, mas Aquele que a conhecia por inteiro. 

O mistério pascal se revela, primeiro, àquela que foi esquecida por um escriba e lembrada por Deus. As dúvidas dissolvem-se. Pois só quem nos conhece por dentro é capaz de nos chamar pelo nome com verdade e ternura. 

Hoje, na Igreja, Maria Madalena figura em todas as listas evangélicas como a primeira entre as mulheres. Aquela que, em silêncio fiel, permaneceu aos pés da cruz, foi também a primeira mensageira da vitória. Sua voz rompeu o silêncio da morte, não com palavras, mas com o testemunho do coração que viu e acreditou. 

Ao celebrarmos sua festa em 22 de julho, graças à sensibilidade de um grande homem do nosso tempo, o Papa Francisco, que, com o coração de pastor e o olhar de profeta, mais que ninguém, neste nosso século, amou as mulheres e reconheceu nelas o papel preponderante no caminho de ser e fazer discípulos. 

Num mundo que flerta com a misoginia, Francisco ousou escutá-las. Como Jesus escutou Maria. Como Deus sempre escuta os que amam. 

Maria Madalena, mulher redimida e corajosa, amante do Cristo vivo, em ti vemos resplandecer a luz de um mundo novo. Tu és a estrela da manhã da Ressurreição. E o amor que te fez correr ao sepulcro é o mesmo que, um dia, também nos fará reconhecer nosso nome na voz de Deus. 

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF