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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Infâncias difíceis: como mudar nossa forma de encarar os traumas?

Foto: Duets | Shutterstock

Zyta Rudzka - Aleteia Brasil - publicado em 17/02/17 - atualizado em 21/07/25

As experiências da infância têm reflexos na idade adulta. Mas não precisa ser assim.

Gabi faz de tudo para que seu marido esteja contente com ela. Mas André continua se queixando. “Por que comprou tanto queijo? Estacionou mal o carro. Não deixou bem alinhado. Vai sair novamente? Aonde vai? Todas as suas amigas são idiotas.... Quem mudou minhas chaves de lugar?”

Gabi não diz nada, não tenta corrigi-lo, apesar de seu comportamento tão desagradável.

Mas, por que aguentá-lo? Porque poderia ser pior!

Gabi, que é filha de um alcoólatra, sabe que o comportamento de Andrés é algo insignificante comparado aos espancamentos, insultos, ao fato de ter sido largada na rua ou ter as coisas jogadas pela janela. Quando conheceu Andrés, a informação principal para ela era que ele não tomava bebidas alcoólicas. Que alívio! Sentia que, finalmente, ia encontrar refúgio depois de uma infância difícil. E agora, depois de 10 anos de casamento, não acha que este seja um mau refúgio.

Muito frequentemente, encaramos com ironia o trabalho dos psicoterapeutas a quem recorremos com os recentes problemas matrimoniais. Eles nos pedem para contar toda a nossa vida, desde os tempos de Adão e Eva. Não sem razão. O cenário da infância só pode ser reproduzido na vida adulta.

Na casa de Gabi não tem álcool, tampouco felicidade

Gabi anda sempre em silêncio e pisando em ovos. Sofre, mas finge ser uma bailarina.

Tinha medo de seu pai, e, agora, cede diante de seu marido. É passiva, impotente. As más recordações são como um radar que alerta constantemente: “aperte os dentes. Aguente firme. Lembre-se: poderia ser pior.”

Ela justifica que seu marido é prepotente. Não consegue ver que sua relação poderia ser de outra maneira. Segue olhando o mundo através dos olhos da filha de um alcoólatra: o papai está zangado, tenho que me retirar do seu caminho.

Uma infância difícil pode ser uma fonte de fortaleza

Na verdade, existe uma grande quantidade de literatura psicológica e científica que mostra que as pessoas que alcançaram o sucesso na vida adulta geralmente tiveram sobrecarga emocional negativa nos primeiros anos de vida. Na infância, sofreram abuso, negligência, abandono, mas foi justamente isto que construiu suas resistências mentais.

A literatura não ensina somente como sobreviver, mas também como não se dar por vencido. Ensina como atuar em uma situação de medo, sofrimento, impotência e falta de apoio. Como tirar forças quando só podemos contar com nós mesmos.

Os velhos traumas não devem cortar nossas asas

Geralmente, um pato feio se transforma em um lindo cisne. O autor deste conto de fadas, Hans Christian Andersen, escreveu sobre si mesmo, que nasceu como o filho não desejado de uma lavadeira alcoólatra e de um sapateiro pobre e se transformou em um dos dez escritores mais publicados do mundo, traduzido para 163 idiomas.

Gabi, como a maioria das crianças, provavelmente chorou pelo destino do patinho feio. Mas ela foi, realmente, como ele? Por que então ela não se deu bem? Por alguma razão seu doloroso passado é para ela um colete de forças, e não como um fundo de onde pode extrair suas forças.

Através da síndrome da “criança maltratada” pode-se justificar tudo. É uma boa desculpa para não fazer nada com sua vida. Para submeter-se, ter medo, proteger, perdoar, estar sempre na segunda fila.

Podem haver muitas lascas dolorosas do passado. Se não superarmos, podemos sofrer as consequências de uma infância difícil na vida adulta.

É bom olhar para trás. Mas é preciso saber o motivo

Gabi deve deixar de se ver como vítima: “não é por culpa minha que meu pai bebia. Já não sou criança, não tenho que me fechar no museu de queixas e temores infantis.”

Crescer em uma casa com vícios não é razão para ter vergonha, mas, sim, de orgulho! Diga a si mesma: “Estou orgulhosa por ter sobrevivido. Sobrevivi por que fui forte. É assim que penso de mim mesma, que sou uma mulher forte. Vou seguindo com a cabeça erguida.”

Cuide-se

O amor, o sentimento de segurança, o apoio, o respeito e a compreensão, tudo o que Gabi não recebeu de seu pai agora ela pode receber de si mesma.

Na infância, ela era dependente do amor de seu pai. Agora, não precisa mais disso. Talvez devesse se cuidar. Então, existe uma possibilidade de não ter que pagar para sempre pelos seus traumas com juros.

Com todo o respeito pelo que você sente e pensa, agora não importa o que passou, mas o que você aprendeu com estas experiências. O que você venceu? Contra o que você criou resistência? Como isso tudo a preparou para o papel de esposa e mãe?

Gabi, quando era criança, te feriam. Agora, você é uma mulher adulta e, finalmente, pode viver em um mundo em que você define as regras.

Você já não é mais uma menina indefesa

Defenda-se, fale, negocie, estabeleça. Você tem os mesmo direitos de seu marido. Em vez de agir com submissão, fale. Defenda seu direito à liberdade, à amizade, a comprar a quantidade de queijo que quiser. E você pode cuidar desta menina sofredora dentro de você. Fazer com que ela não chore mais, que não se sinta ferida nem só.

Se você não sabe como fazer, participe de alguma reunião dos grupos de apoio às famílias de alcoólatras, obtenha ajuda terapêutica e faça contato com pessoas que estão enfrentando aquilo que uma vez as ajudou a sobreviver em um lar problemático.

Crescer significa assumir a responsabilidade de nossa própria história, comprovar a data de validade de nossos medos. Creio que o melhor é trabalhar para superar-se, ao invés de consentir que nossas vidas sejam governadas por medos infantis.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2017/02/17/infancias-dificeis-como-mudar-nossa-forma-de-encarar-os-traumas/

De braços abertos, a crônica de um gesto inesquecível

Papa Pacelli em meio à multidão após o bombardeio de 19 de julho de 1943 (Vatican News)

Passaram-se 82 anos desde o bombardeio de San Lorenzo, em 19 de julho de 1943, e desde a visita que Pio XII, sem se importar com sua própria segurança, fez imediatamente naquele dia entre as pessoas e os escombros de um bairro devastado. Vamos reviver aquela tarde através da notícia do época e dos detalhes contados passo a passo pelo jornal vaticano "L'Osservatore Romano".

Amedeo Lomonaco – Vatican News

É 19 de julho de 1943. Bombardeiros americanos atacam a cidade de Roma pela primeira vez desde o início da Segunda Guerra Mundial. Morrem pelo menos 3 mil pessoas. Na edição de 21 de julho daquele ano, o jornal vaticano L'Osservatore Romano publica na primeira página o artigo intitulado “O Santo Padre entre os fiéis da sua diocese de Roma atingidos pelo ataque aéreo”. Recorda-se, em primeiro lugar, que o Papa Pio XII, assim que tomou conhecimento da operação militar no bairro San Lorenzo e na estação ferroviária de Tiburtino, expressa a intenção de se dirigir às ruínas, às feridas lacerantes. O artigo indica também a hora exata em que a intenção se tornou um primeiro passo entre os escombros, não apenas materiais, de Roma. São 17h20 e o bombardeio ainda não terminou. O Pontífice, sem se importar com sua própria segurança, deixa o Vaticano para compartilhar aquele momento dramático com a população de Roma. O Papa, escreve o jornal da Santa Sé, é acompanhado pelo então substituto da Secretaria de Estado, Giovanni Battista Montini, que subirá ao trono de Pedro em 1963.

A primeira página do jornal sobre o bombardeio de Roma em 1943 | Vatican News.

Pelas ruas de Roma bombardeada

O itinerário de Pio XII em julho de 1943 é um percurso por ângulos de Roma devastados pela guerra. Em várias passagens dessa reportagem, o relato do Osservatore Romano se sobrepõe ao mapa da cidade. Destaca-se, em particular, que ao longo do percurso e até Porta Maggiore, a passagem do carro papal é notada por muitas pessoas. A notícia se espalha rapidamente e o povo de Roma vê o Pontífice avançar entre as ruínas. Diante das cenas de devastação, conta ainda o jornal, o Papa faz o carro diminuir a velocidade e pergunta sobre as vítimas e os danos causados pelas bombas. Atravessando lentamente as ruas adjacentes à zona de Verano, o Papa Pacelli vê uma multidão crescente de pessoas. Sua chegada ao bairro San Lorenzo está associada sobretudo àquele gesto que ficará imortalizado na história, Pio XII abrindo os braços entre cidadãos e fiéis como uma espécie de anjo protetor. 

A foto do Papa com os braços abertos que foi imortalizada | Vatican News.

Ao lado da dor do povo

Osservatore Romano descreve aquela cena e aquele abraço na praça em frente à Basílica de San Lorenzo, relatando também algumas frases pronunciadas pelo Papa Pacelli. São palavras de conforto à população, de solidariedade pela “indizível angústia de tantas famílias tão tragicamente privadas de seus entes queridos e de suas casas”. O Papa – escreve ainda o jornal da Santa Sé – implora ao Senhor “que queira transformar tanta dor em tanta força espiritual e moral”. E abençoa os presentes, suas famílias, toda a cidade de Roma.

Veja o vídeo que conta sobre a ida do Papa em meio às ruínas de Roma em 1943:

https://youtu.be/t-JedC6Br40

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 20 de julho de 2025

Tensão em torno da missa tradicional se acirra na França

Horizonte de Valence, França, com a catedral de Santo Apolinário no centro. | Anna Dufour / Shutterstock

Por Solène Tadié*

18 de julho de 2025

A decisão de um bispo francês de remover a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP) das comunas francesas de Valence e Montélimar no fim do verão francês reacendeu as tensões sobre o papel da missa tradicional em latim na França.

A diocese justificou sua decisão alegando o recorrente desrespeito da comunidade às orientações diocesanas — especialmente em relação à concelebração, que não existe na liturgia tradicional — e disse que a medida tinha como objetivo promover a unidade paroquial.

O impacto da medida sobre uma comunidade tradicionalista florescente na região sudeste de Drôme, no entanto, gerou forte reação e parece refletir um padrão mais amplo de conflito em toda a França desde a publicação de Traditionis custodes em julho de 2021, motu proprio do papa Francisco que restringe a missa rezada segundo a liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II.

A FSSP, sociedade clerical de vida apostólica dedicada à liturgia tradicional, atua em Valence e Montélimar há cerca de duas décadas. Seus sacerdotes — em particular o padre Bruno Stemler, designado para Valence desde 2017 — têm atraído um número crescente de fiéis, muitos deles famílias jovens.

Uma paróquia dentro da paróquia

Em comunicado datado de 15 de maio, o bispo de Valence, François Durand, anunciou que, a partir de 1º de setembro, a celebração da missa tradicional em latim em Valence seria confiada ao clero diocesano. Ele disse que um padre da FSSP poderá continuar celebrando o rito mais antigo uma vez por semana em Montélimar, aguardando novas discussões. A catequese e atividades como o coral gregoriano também poderão continuar, mas sob supervisão paroquial.

Um ponto-chave de discórdia tem sido a recusa da FSSP em concelebrar missas — entre elas a missa do crisma — conforme permitido por suas constituições, reafirmadas pelo papa Francisco em 2022 e 2024. Para os líderes diocesanos, essa recusa em concelebrar — prática na qual vários padres celebram a missa em conjunto num único altar — sinaliza uma falta de comunhão eclesial.

Em carta de acompanhamento aos seus paroquianos, o bispo Durand enfatizou que a medida não era uma sanção pessoal contra o padre Stemler, mas disse que o padre estava conduzindo iniciativas pastorais "sem levar em conta as orientações diocesanas".

O vigário-geral de Valence, padre Éric Lorinet, criticou ainda mais a abordagem da FSSP falando à revista francesa Famille Chrétienne, dizendo que ela funcionava "como uma paróquia dentro da paróquia", causando atrito com o clero local e prejudicando a unidade presbiteral.

O anúncio, no entanto, foi um choque para os paroquianos. Cerca de 400 membros assinaram uma carta aberta descrita como um "grito do coração" instando o bispo a reconsiderar. Um pequeno grupo iniciou uma rigorosa vigília de jejum e oração perto da igreja de Notre-Dame em Valence.

Da perspectiva dos fiéis, a decisão ameaça uma comunidade vibrante e crescente, que agora tem cerca de 200 participantes regulares só em Valence, além de 13 grupos de catequese.

Uma longa série de confrontos

A disputa em Valence é o mais recente de uma série de conflitos em torno da liturgia tradicional na França — país que, junto com os EUA, abriga um dos movimentos tradicionalistas mais dinâmicos do mundo. Essas comunidades, conhecidas por seu zelo missionário e população jovem, são frequentemente vistas com cautela por bispos.

Em junho de 2021, pouco antes da publicação de Traditionis custodes, a arquidiocese de Dijon, no leste da França, expulsou a FSSP da basílica de Fontaine-lès-Dijon depois de 23 anos de presença, alegando problemas logísticos. Um mês depois, a comunidade perdeu a licitação para adquirir a abadia medieval de Pontigny, apesar de ter oferecido um preço mais alto do que o comprador, uma fundação secular que planejava converter o local num resort de luxo, supostamente devido, em parte, à falta de apoio diocesano.

Enquanto isso, em Isère, na região dos Alpes, os paroquianos iniciaram uma greve de doações depois que o bispo de Toulouse, Guy de Kerimel, acusou os participantes da missa tradicional de solapar a validade da missa novus ordo, a liturgia aprovada por são Paulo VI em 1970 de acordo com os princípios do Concílio Vaticano II. Em Paris, o arcebispo Michel Aupetit também reduziu o número de igrejas autorizadas a celebrar a missa em latim de cerca de uma dúzia para cinco, gerando descontentamento.

Os paroquianos de Bastia, na Córsega, protestaram contra a transferência de seu padre, Sébastien Dufour, de uma paróquia central para uma capela mais remota, medida que eles consideram marginalização da missa em latim.

O caso de maior visibilidade, no entanto, continua sendo a renúncia forçada, no início deste ano, do bispo de Fréjus-Toulon, Dominique Rey, conhecido por fazer de sua diocese um centro de renovação tradicionalista e carismática.

Uma possível saída para a crise

Esses desenvolvimentos cumulativos alimentaram temores entre muitos fiéis de que o afastamento gradual das comunidades tradicionais possa levar a um afastamento em direção à Fraternidade São Pio X, fundada pelo bispo francês Marcel Lefebvre (1905-1991), que permanece canonicamente separada de Roma.

Esse mal-estar provavelmente será um dos muitos temas delicados para o papa Leão XIV, que herdou o complexo legado da Traditionis custodes e sua contestada implementação. Em 7 de julho, ele estabeleceu um novo grupo de trabalho sinodal sobre a liturgia, conforme solicitado pelo Sínodo da Sinodalidade — ação vista como sinal de seu desejo de dedicar tempo e fazer amplas consultas antes de tomar novas decisões.

Observadores dizem que a próxima nomeação de um novo prefeito para o Dicastério para o Culto Divino, cujo prefeito, o cardeal Arthur Roche, está perto da idade de aposentadoria, será um sinal fundamental da direção litúrgica do papa Leão XIV.

*Solène Tadié é correspondente europeia do National Catholic Register. Ela é franco-suíça e cresceu em Paris (França). Depois de se formar em jornalismo pela Universidade Roma III, ela começou a fazer matérias sobre Roma e o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em 2015, onde trabalhou sucessivamente na seção francesa e nas páginas culturais do jornal italiano. Ela também colaborou com várias organizações de mídia católicas de língua francesa. Solène é bacharel em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63703/tensao-em-torno-da-missa-tradicional-se-acirra-na-franca

Santo Apolinário, Martir

Santo Apolinário (franciscanos)

Santo Apolinário

O nome, o culto, e a glória de Santo Apolinário são legados que recebemos da história, e também da arte de Ravena, a capital do Império Bizantino no Ocidente, no período entre meados do século I e o século II.

Existem ali duas grandiosas igrejas dedicadas a Santo Apolinário, ambas célebres na história da arte e do cristianismo. Na igreja nova de Santo Apolinário, no centro da cidade, encontramos o célebre mosaico representativo, mais extenso do que um quarteirão, com todos os mártires e as virgens. No destaque, encontra-se Santo Apolinário. Na outra igreja, fora da cidade, está o outro esplêndido mosaico, no qual, pela primeira vez, a figura de um santo, e não a de Cristo, ocupa o centro de uma composição, circundado por duas fileiras de ovelhas.

Apolinário, o primeiro bispo de Ravena, segundo a tradição, teria sua origem no Oriente. A mando do próprio apóstolo Pedro, de quem foi discípulo, foi enviado para converter os pagãos nas terras ao norte do Império Romano.

A sua obra de evangelização transcorreu num ambiente repleto de imensas dificuldades, fruto do ódio, do egoísmo, da incredibilidade que o cercavam, além do culto aos ídolos pagãos que teve de combater. Dedicou toda a sua vida ao apostolado. Embora representado sereno e tranquilo no mosaico da cidade, na realidade era um homem de vida dura, combativa e atuante. Apolinário sempre foi considerado um mártir. Mártir de um suplício muito longo, que foi todo o seu episcopado.

Ele não viu o resultado de sua obra, que só se revelou após a sua morte. A população da nova capital do Império Romano tornou-se exclusivamente cristã, reforçando suas raízes no próprio culto de seu primeiro bispo, considerado por eles um exemplo de santidade.

Dessa maneira se explica a grande devoção a ele, não somente em Ravena, mas em muitas outras localidades da Itália, da França e da Alemanha. Aliás, nessas regiões, foi amplamente difundida, devido os mosteiros beneditinos e camaldulenses que Apolinário ali fundara.

Apolinário morreu como mártir da fé no dia 23 de julho, durante as primeiras perseguições impostas contra os cristãos. Entretanto não se encontrou nenhuma referência indicando o ano e a localidade.  Suas relíquias, encontradas nas catacumbas, foram enviadas para a catedral de Santo Apolinário, em Ravena, na Itália. A tradicional festa de Santo Apolinário, Padroeiro de Ravena, em 23 de julho, foi mantida pela Igreja.

Fonte: https://franciscanos.org.br/

Papa: acolher e deixar-se acolher por Deus que está à porta e bate

Angelus, 20/07/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Era o segundo Angelus direto da Praça da Liberdade de Castel Gandolfo para Leão XIV que, na catequese, lembrou como o verão - vivido neste período na Europa - é um tempo para desacelerar e aproveitar para encontrar Jesus, aprendendo assim a arte da hospitalidade.

https://youtu.be/7qCBuhNvXTc

Andressa Collet - Vatican News

"Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!", começou o Papa Leão XIV na alocução na Praça da Liberdade, em Castel Gandolfo, que precedeu a oração mariana do Angelus. Em meio a um forte vento que se abateu no local na manhã deste domingo (20/07), mas naquele que era um típico dia de verão com temperaturas em torno dos 30 graus, o Pontífice voltou a refletir sobre a arte da hospitalidade, após comentar sobre o tema durante a homilia pronunciada horas antes, quando presidiu a missa na Catedral de Pancrácio Mártir, em Albano.

Viver o acolhimento recíproco

Na catequese, o Pontífice recordou o acolhimento do casal Sara e Abraão, e das irmãs Marta e Maria, amigas de Jesus: "sempre que aceitamos o convite para a Ceia do Senhor e participamos na mesa eucarística, é o próprio Deus que «nos vem servir»", disse Leão XIV, ao acrescentar:

"Mas o nosso Deus soube, em primeiro lugar, ser hóspede e, ainda hoje, está à nossa porta e bate. É sugestivo que, na língua italiana, hóspede seja tanto aquele que hospeda como aquele que é hospedado. Assim, neste domingo de verão, podemos contemplar este jogo de acolhimento recíproco, sem o qual a nossa vida empobrece."

O Papa destacou que “é preciso humildade tanto para hospedar como para ser hospedado”, porque “é necessário delicadeza, atenção, abertura”. Marta, a irmã de Maria, corre o risco de não viver a alegria do encontro com Jesus porque está ocupada com os preparativos da acolhida. Apesar de ser generosa, as tarefas afastam ela daquilo que é “mais bonito do que a própria generosidade”, que é sair de si mesma.

“Caríssimos irmãos e irmãs, só isto faz florescer a nossa vida: nos abrirmos a algo que nos tira de nós mesmos e ao mesmo tempo nos preenche.”

Mais parecidos com Maria do que com Marta

Marta e Maria vivem de maneira diferente o encontro com Jesus. Marta se esforça e Maria “perdeu a noção do tempo, conquistada pela palavra de Jesus”. “Não é menos concreta do que a sua irmã, nem menos generosa. Mas aproveitou a oportunidade", por isso Jesus repreende Marta por se afastar de uma intimidade que lhe daria alegria.

"O tempo de verão pode nos ajudar a 'abrandar' e a nos tornarmos mais parecidos com Maria do que com Marta. Por vezes, não nos damos a nós mesmos a melhor parte. Precisamos repousar um pouco, com o desejo de aprender mais sobre a arte da hospitalidade."

Acolher e deixar-se acolher

"A indústria das férias", disse o Papa, "quer nos vender todo o tipo de experiências, mas talvez não o que procuramos". O encontro com Deus, com a natureza e com os outros "é gratuito e não se compra".

"É preciso simplesmente fazer-se hóspede: dar espaço e também pedi-lo; acolher e deixar-se acolher. Temos muito para receber e não apenas para dar. Embora idosos, Abraão e Sara se descobriram fecundos quando acolheram tranquilamente o próprio Senhor em três viandantes. Também para nós, há ainda muita vida a acolher."

O convite final do Pontífice foi para rezar a Maria, "Mãe do acolhimento, que hospedou o Senhor no seu seio e, juntamente com José, lhe deu uma casa": 

“Nela brilha a nossa vocação, a vocação da Igreja de permanecer uma casa aberta a todos, para continuar a acolher o seu Senhor, que pede licença para entrar.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Como a paternidade conjugal é fundamental para resolver a crise da masculinidade

A Paternidade, Quando Associada Ao Casamento, Atua Como Um Catalisador Para O Desenvolvimento Masculino Saudável. Foto: MSI

Como a paternidade conjugal é fundamental para resolver a crise da masculinidade

Para entender por que as pessoas lutam para encontrar sentido na vida, é útil perguntar: O que dá sentido à vida?

16 DE JULHO DE 2025

Por Samuel T. Wilkinson*

(ZENIT News – IFS / Yale, 16 de julho de 2025). Nos Estados Unidos, surgiu uma tendência preocupante que sugere que os jovens se sentem cada vez mais perdidos, desconectados e à deriva em um mundo em constante mudança.   Relatórios recentes   revelam um número crescente de jovens que se sentem sem rumo, solitários e inseguros quanto ao seu lugar na sociedade. Estatisticamente, os homens têm maior probabilidade do que as mulheres de morar com os pais até os 20 e até 30 anos. A disparidade no desempenho acadêmico favorece cada vez mais as mulheres, que concluem   o ensino médio   e   a faculdade   em taxas mais altas do que os homens.

Esses números refletem mais do que apenas o baixo desempenho acadêmico; eles apontam para um problema social mais amplo, que alguns apelidaram de "crise de masculinidade". Essa crise vai além dos resultados de exames ou das estatísticas de emprego. Reflete também uma perda de significado, direção e identidade em um mundo onde os papéis tradicionais estão se erodindo rapidamente.

Várias soluções têm sido propostas para enfrentar esta crise. Reconhecendo as diferenças no desenvolvimento da primeira infância, uma ideia é dar às crianças um ano extra antes de começarem o jardim de infância. Outro apelo é para que   mais professores do sexo masculino nas escolas públicas   sirvam como modelos positivos.   Outros defendem   um maior investimento em formação profissional, afastando-se da ideia de que um diploma universitário de quatro anos é o único caminho viável para o sucesso financeiro. Todas essas são sugestões valiosas e cada uma aborda aspectos importantes do problema.

Mas elas abordam apenas parte do problema. Para entender por que as pessoas lutam para encontrar sentido na vida, é importante perguntar: o que dá sentido à vida?

Esta é uma questão complexa, e conceitos como significado, felicidade e satisfação com a vida frequentemente se sobrepõem e são definidos de forma diferente por especialistas. No entanto, a questão há muito tempo intriga filósofos, teólogos e psicólogos. Embora as definições de significado, propósito e felicidade variem dependendo de quem você pergunta, a pesquisa psicológica produziu uma resposta contundente ao longo do tempo e das culturas: os relacionamentos importam mais do que qualquer outra coisa.

O Dr. Martin Seligman, um dos pais fundadores da psicologia positiva,  colocou desta forma : "Outras pessoas são o melhor antídoto para os momentos difíceis da vida e a fonte mais confiável de inspiração". Da mesma forma, o Dr. George Vaillant, um psiquiatra de Harvard que conduziu o maior estudo sobre o desenvolvimento adulto já realizado,  concluiu que  "a única coisa que realmente importa na vida são nossos relacionamentos com os outros".

Mas por que os relacionamentos são tão essenciais para o bem-estar humano? O que há na conexão humana que dá sentido e propósito à vida?

Pelo menos parte da resposta, eu argumento, reside em nossas raízes evolutivas. Durante o Pleistoceno, nossos ancestrais enfrentaram desafios imprevisíveis, desde ferimentos e doenças até condições climáticas adversas ou azar na caça ou coleta. Os grupos humanos mais bem-sucedidos foram aqueles que conseguiram trabalhar juntos para resolver problemas, compartilhar recursos e proteger uns aos outros. Em um mundo assim, laços sociais fortes não eram apenas emocionalmente reconfortantes, mas também salvavam vidas. Essa profunda dependência evolutiva da cooperação social incutiu em nós um senso de realização na conexão.

Mas uma resposta mais profunda para o porquê de os relacionamentos serem gratificantes tem a ver com a forma como a natureza moldou nossas relações familiares. A maioria dos animais tem filhotes que conseguem viver de forma independente logo após o nascimento. No entanto, os bebês humanos estão entre as criaturas mais indefesas do planeta ao nascer. Uma girafa recém-nascida consegue ficar de pé e andar em uma hora. Um filhote de baleia-azul consegue nadar imediatamente após o nascimento. Os bebês humanos, por outro lado, nascem extremamente subdesenvolvidos. Eles são incapazes de andar, comer, sentar ou mesmo perceber plenamente o mundo sem a nossa ajuda.

Por esse motivo, psicólogos do desenvolvimento frequentemente se referem aos  primeiros seis meses da vida humana como o "quarto trimestre ". Devido a essa fragilidade, os bebês são completamente dependentes de seus cuidadores, principalmente de suas mães, para sobreviver. A natureza moldou comportamentos infantis como chorar, sorrir e arrulhar para  fortalecer o vínculo  entre pais e filhos. Como resultado, a natureza desenvolveu nas mães um profundo amor por seus recém-nascidos.  A ativista social Dorothy Day  escreveu sobre o nascimento de seu primeiro filho:

“Se eu tivesse escrito o maior livro, composto a sinfonia mais grandiosa, pintado o quadro mais lindo ou esculpido a figura mais requintada, não poderia ter sentido o Criador mais exaltado do que quando meu filho foi colocado em meus braços... Nenhuma criatura humana poderia receber ou conter uma torrente tão vasta de amor e alegria como senti após o nascimento do meu primeiro filho.”

Ao longo de milhares de gerações, esses laços emocionais profundos entre mãe e filho foram reforçados pela biologia. A experiência da gravidez, do parto e da amamentação criou uma conexão poderosa. Para as mulheres, essa conexão pode ser uma fonte de significado e propósito. De fato,  um estudo da Pew Research  com mais de 5.000 americanos descobriu que os pais têm duas vezes mais probabilidade de descrever o tempo gasto cuidando dos filhos como "muito significativo" em comparação com o tempo gasto no trabalho.

Mas e os pais?

Aqui reside uma assimetria fundamental. Enquanto as mulheres carregam e nutrem a vida em seus corpos por meses, a contribuição biológica dos homens é relativamente breve. É até possível que um homem conceba um filho sem saber. Para uma mulher, tal cenário é absurdo. Essa diferença biológica frequentemente se traduz em uma conexão emocional mais tênue entre homens e seus filhos. (Entre psicólogos, esse desequilíbrio na força dos laços biológicos entre homens e mulheres e seus filhos é tecnicamente chamado de investimento parental obrigatório diferencial.)

E  muitos psicólogos evolucionistas reconhecem  isso como a raiz de praticamente todas as diferenças sexuais psicológicas.)

A paternidade, quando ligada ao casamento, atua como um catalisador para o desenvolvimento masculino saudável.

Para compensar esse desequilíbrio, é necessário um forte mecanismo cultural para unir os homens aos seus filhos. Durante grande parte da história, esse tem sido um propósito fundamental, porém pouco reconhecido, do casamento. Como instituição sociobiológica, o casamento gerou uma expectativa cultural que encorajava os homens a permanecerem presentes, comprometidos e protetores, não apenas de suas parceiras, mas também de seus filhos. No entanto, com o aumento das taxas de divórcio no final do século XX, a estrutura cultural que antes ajudava os homens a se consolidarem na vida familiar começou a se deteriorar.

As consequências foram significativas. Na sociedade ocidental, após o divórcio, as crianças permanecem, em sua maioria, com suas mães, mesmo nos chamados arranjos de guarda compartilhada. O relacionamento pai-filho é frequentemente reduzido a visitas quinzenais, breves telefonemas e transações financeiras. O jornalista Solomon Jones,  escrevendo a partir de sua experiência pessoal  , descreve a paternidade divorciada como uma "tapeçaria desconexa de amor e distância, desejo e dor". Ele fala sobre uma realidade dolorosa: "O amor de um pai é frequentemente expresso por meio do sustento e da proteção. E é difícil prover e proteger sem presença". Para os pais, a ausência do casamento muitas vezes se torna a ausência da paternidade — ou pelo menos do tipo de paternidade ativa e emocionalmente rica que fornece as formas mais poderosas de amor e significado. Em suma, a qualidade do casamento de um homem é um forte preditor da qualidade de sua paternidade.

De fato, a conexão entre casamento e paternidade é tal que  alguns sociólogos os descreveram  como um "pacote completo". E embora pesquisas confirmem, de forma contundente, que crianças criadas em casamentos biológicos intactos desfrutam de inúmeras vantagens — acadêmicas, emocionais e econômicas —, também há benefícios significativos para os homens. Ser pai pode ser transformador. Pode despertar no homem suas capacidades mais profundas de amor, sacrifício e responsabilidade. Mas, para ativar essa transformação, ele precisa estar comprometido, não apenas biologicamente, mas também social e emocionalmente.

O assistente social de Cleveland, Charles Ballard, reconheceu essa dinâmica.  Trabalhando com pais ausentes em comunidades em dificuldades  , Ballard rejeitou a crença popular, enraizada na academia, de que a estabilidade econômica era indispensável para que os homens se tornassem pais capazes. Em vez disso, ele priorizou a reconexão dos pais com seus filhos. Por meio de visitas domiciliares, aconselhamento e programas de parentalidade, Ballard ajudou mais de 2.000 homens a se reintegrarem à vida de seus filhos.  Os resultados foram impressionantes  . Apenas 12% desses homens tinham empregos de tempo integral no início do programa. No entanto, após o restabelecimento de seus papéis paternos, 62% conseguiram empregos de tempo integral e outros 12% encontraram empregos de meio período. Mais de 95% começaram a contribuir financeiramente para o cuidado de seus filhos.

A obra de Ballard demonstra algo profundamente intuitivo, mas frequentemente ignorado: que o propósito é um poderoso motivador da produtividade. Quando os homens se sentem necessários, quando são responsáveis por alguém além de si mesmos, muitas vezes se mostram à altura da situação. A paternidade, por estar ligada ao casamento, atua como um catalisador para o desenvolvimento masculino saudável.

Então, o que deve ser feito em relação à crise da masculinidade? Diversas soluções possíveis foram propostas. E, ao buscá-las — por meio de reforma educacional, mentoria e treinamento profissional —, o casamento e a paternidade também devem fazer parte da equação.

***

O Dr. Samuel T. Wilkinson é professor associado e diretor médico do Programa de Pesquisa sobre Depressão de Yale. Ele é membro do Instituto Wheatley da Universidade Brigham Young. As ideias deste ensaio baseiam-se em seu livro "Purpose: What Evolution and Human Nature Implica About the Meaning of Our Existence" (Propósito: O que a Evolução e a Natureza Humana Implicam sobre o Significado da Nossa Existência), publicado pela Pegasus Books.

Fonte: https://es.zenit.org/2025/07/16/como-la-paternidad-casada-es-clave-para-resolver-la-crisis-de-masculinidad/

XVI Domingo do Tempo Comum (C): Conjugar Contemplação e Ação

CONJUGAR CONTEMPLAÇÃO E AÇÃO

Cardeal Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

 19/07/2025

Neste domingo, no Evangelho, a Palavra de Deus coloca diante de nós a atitude de duas mulheres: Marta e Maria (Lc 10, 38-42). A atitude delas não está em oposição, mas revela aspectos importantes da existência que devem estar correlacionados: contemplação e ação. Maria se coloca aos pés do mestre para ouvir a sua palavra; Marta está preocupada com os muitos afazeres da casa e interpela Jesus: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela venha me ajudar” (Lc 10, 40). 

Papa Francisco nos ajuda a entrar no mistério desse texto do Evangelho. “(…) Nesta cena de Maria de Betânia aos pés de Jesus, São Lucas mostra a atitude orante do crente, que sabe estar na presença do Mestre para o ouvir e para se pôr em sintonia com Ele. Trata-se de fazer uma pausa durante o dia, de se recolher em silêncio, por alguns minutos, para dar espaço ao Senhor que ‘passa’ e para encontrar a coragem de permanecer um pouco ‘à parte’ com Ele, para depois voltar, com serenidade e eficácia, às situações da vida de todos os dias. Elogiando o comportamento de Maria, que ‘escolheu a melhor parte’ (v. 42), Jesus parece repetir a cada um de nós: ‘Não te deixes dominar pelas coisas a fazer, mas, antes de tudo, ouve a voz do Senhor, para cumprir bem as tarefas que a vida te confiar’.

“Depois há a outra irmã, Marta. São Lucas diz que foi ela quem acolheu Jesus (cf. v. 38). Talvez Marta fosse a mais velha das duas irmãs, não sabemos, mas certamente esta mulher tinha o carisma da hospitalidade. Com efeito, enquanto Maria ouve Jesus, ela está totalmente ocupada com os numerosos serviços. Por isso, Jesus diz-lhe: ‘Marta, Marta, estás inquieta e perturbada com muitas coisas’ (v. 41). Com estas palavras, Ele certamente não tenciona condenar a atitude de serviço, mas sobretudo a ansiedade com que às vezes ele é vivido. Também nós compartilhamos a preocupação de Santa Marta e, seguindo o seu exemplo, propomo-nos fazer com que, nas nossas famílias e comunidades, se viva o sentido de hospitalidade e fraternidade, para que todos possam sentir-se ‘em casa’, especialmente os pequeninos e os pobres quando batem à porta.

“Portanto, o Evangelho de hoje recorda-nos que a sabedoria do coração consiste precisamente em saber conjugar estes dois elementos: contemplação e ação. Marta e Maria indicam-nos o caminho. Se quisermos saborear a vida com alegria, devemos associar estas duas atitudes: por um lado, ‘estar aos pés’ de Jesus, para o ouvir enquanto Ele nos revela o segredo de tudo; por outro, estar atentos e prontos na hospitalidade, quando Ele passa e bate à nossa porta, com o rosto do amigo que tem necessidade de um momento de conforto e fraternidade. É necessária esta hospitalidade! (…)” (Papa Francisco, Angelus de 21 de julho de 2019).

Vivemos num mundo que talvez se assemelhe a Marta, muito preocupado com o fazer, o operar, o realizar. A sabedoria do coração consiste em conjugar contemplação e ação. É encontrando tempo para o silêncio, a oração, para escutar o Senhor que vamos encontrando a unidade do nosso ser. Numa sociedade da fragmentação, a contemplação nos ajuda a encontrar a unidade do ser.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Arcebispo de Brasília já está na Ucrânia, "terra que sofre o horror da guerra"

O núncio Kulbokas, o cardeal Paulo Cezar e o embaixador brasileiro, Rafael Vidal (Vatican Media)

O cardeal Paulo Cezar Costa está cumprindo agenda no país a convite da Conferência Episcopal Ucraniana. Entre os compromissos com autoridades civis e eclesiásticas, o arcebispo de Brasília preside missa neste domingo (20/07), no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Berdychiv. O país também recebeu nesta semana o chefe da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), dom Mariano Crociata, para uma visita de três dias finalizada nesta sexta-feira (18/07).

Andressa Collet - Vatican News

O cardeal Paulo Cezar Costa já se encontra na Ucrânia acompanhado do chefe do gabinete episcopal, Pe. Luiz Octávio de Aguiar Faria. O arcebispo de Brasília partiu na última segunda-feira, 14 de julho, em missão de paz ao país martirizado pela guerra. A Ucrânia enfrenta a invasão das tropas russas há três anos. O motivo principal da viagem é presidir neste domingo (20/07) a missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Berdychiv, por ocasião da tradicional peregrinação anual àquele santuário. 

O país também recebeu nesta semana o chefe da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), dom Mariano Crociata, para uma visita de três dias finalizada nesta sexta-feira (18/07). A missão de solidariedade com o povo da Ucrânia, enviando representantes da Igreja católica ao país, começou ainda durante o pontificado do Papa Francisco, num gesto contrato da busca pela paz.

A agenda do arcebispo de Brasília 

Na Ucrânia desde quarta-feira (16/07), após uma longa viagem de 36 horas ao país, o cardeal foi recebido em Lviv por dom Edward Kawa, bispo auxiliar, dando início à série de compromissos da sua missão. Após missa da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, do terraço da Cúria Diocesana, de onde se pode observar parte da cidade, dom Paulo divulgou vídeo pedindo orações para a viagem e pelo povo ucraniano, para que, por intercessão da Virgem Maria, receba o dom da paz.

Na manhã de quinta-feira (17/07), o cardeal foi recebido pelo arcebispo de Lviv dos Latinos, Mieczysław Mokrzycki. Após missa e uma breve recepção na residência episcopal, dom Paulo visitou o cemitério da cidade, onde rezou pelos soldados mortos na guerra. Em Kiev na sexta feira (18/07), o arcebispo de Brasília cumpriu uma série de compromissos oficiais com autoridades civis e eclesiásticas. Após celebrar missa na Catedral da Arquidiocese de Kiev dos Latinos, ele participou pela manhã de um encontro com os membros do Conselho Ucraniano de Igrejas e Organizações Religiosas e teve um encontro com o núncio apostólico na Ucrânia, Visvaldas Kulbokas, e o embaixador do Brasil na Ucrânia, Rafael Vidal. Durante a tarde, o arcebispo de Brasília visitou os soldados feridos em guerra no Centro Médico Principal do Ministério do Interior da Ucrânia, concedeu entrevista nos estúdios da Rádio Maria e visitou a Igreja de São Nicolau.

“Esta terra está sofrendo com a guerra e com o horror da invasão da Rússia, mas tem um povo e uma Igreja de rica tradição e de bonita convivência dos cristãos. Kiev é uma cidade cheia de vida e de esperança mesmo com a guerra. Continuem a rezar e a pedir ao Senhor que mande a paz para este povo.”

A programação da visita à Ucrânia até 24 de julho foi organizada em entendimento com dom Oleksandr Yazlovetskiy, bispo auxiliar de Kiev. A assessoria da Arquidiocese de Brasília, ao comunicar oficialmente a viagem de dom Paulo Cezar Costa, que está sendo realizada a convite da Conferência Episcopal Ucraniana, representada pelo seu presidente, dom Vitalii Skomarovskyi, também informou que o Papa Leão XIV, a Secretaria de Estado da Santa Sé, as Nunciaturas Apostólicas no Brasil e na Ucrânia, o Ministério das Relações Exteriores e as Embaixadas do Brasil na Polônia e na Ucrânia foram devidamente notificados sobre a missão de paz do arcebispo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 19 de julho de 2025

No Dia Nacional do Futebol, conheça os padroeiros de times brasileiros

Missa de são Judas Tadeu na sede do Flamengo | Facebook Clube de Regatas do Flamengo

Por Natalia Zimbrão*

19 de julho de 2025

Hoje (19) no Brasil é o Dia Nacional do Futebol. A data foi escolhida em homenagem ao time mais antigo do Brasil ainda em atividade, o Sport Club Rio Grande, da cidade de Rio Grande (RS). No “país do futebol”, que é também o país com maior número de católicos do mundo, a relação entre a fé e o esporte se dá através dos santos escolhidos por diversas equipes para serem seus padroeiros.

A escolha do santo padroeiro de um time de futebol se dá por vários motivos. Pode ser por se tratar de um santo popular na cidade ou na região onde o time nasceu, por causa de uma data ou episódio específico ou até mesmo por ser o santo de devoção de torcedores ou dirigentes do clube.

São Judas Tadeu é o padroeiro do Flamengo. Tudo começou na década de 1950. Segundo relato do site oficial do Flamengo, na época, o time o time estava há muitos anos sem ganhar uma competição. O santo foi apontado como responsável pelo tricampeonato estadual de 1953, 1954 e 1955, após o pároco da igreja de São Judas Tadeu, do Cosme Velho, ir até a Gávea, onde fica o clube, e rezar uma missa, pedir fé aos jogadores e aconselhar que fossem até a Igreja e acendessem uma vela ao santo. Nos três anos, o padre disse que o time levaria o troféu e o fato se concretizou. Atualmente, o dia 28 de outubro, quando a Igreja celebra são Judas Tadeu, é também considerado o “Dia do Flamenguista”.

A padroeira oficial do Fluminense é Nossa Senhora da Glória e há uma imagem da Virgem na sede do clube, nas Laranjeiras. Mas, em 2010, o clube também anunciou são João Paulo II como seu padroeiro. Segundo o site do Fluminense, quando João Paulo II visitou o Brasil em 1980, ganhou de presente uma camisa do time. A música “A bênção, João de Deus” feita para o papa começou a ser entoada pela torcida nos estádios e “comandou o título do primeiro turno do Campeonato Carioca” em outubro daquele ano. Até hoje, a torcida tricolor canta os versos: “A bênção, João de Deus. Nosso povo te abraça. Tu vens em missão de paz. 'Sê' bem-vindo. E abençoa este povo que te ama!".

São João Paulo II também é o padroeiro do Ceará. O santo foi oficializado como padroeiro do time com um decreto em abril de 2016. Segundo o site do clube, João Paulo II teve uma passagem marcante por Fortaleza (CE), em 1980, quando esteve no estádio do Castelão para a abertura do Congresso Eucarístico Nacional. Na época, “a música ‘Obrigado João Paulo II’ ficou marcada como hino dos cearenses”, diz o site.

A padroeira do Botafogo é Nossa Senhora da Conceição, celebrada pela Igreja Católica no dia 8 de dezembro. Foi justamente neste dia, 8 de dezembro de 1942, que houve a fusão entre o Club de Regatas Botafogo e o Botafogo Football Club, dando origem ao Botafogo Futebol e Regatas.

Vasco da Gama tem como padroeira oficial Nossa Senhora das Vitórias. Conta-se que, em 1923, quando o time se ganhou o Campeonato Carioca, os jogadores entraram em campo com medalhas de Nossa Senhora das Vitórias, distribuídas pelo presidente do clube. Na década de 1960, foi construída uma capela dedicada a Nossa Senhora das Vitórias no Complexo Esportivo de São Januário, a sede do Vasco. Na capela, são celebradas missas, batizados e casamentos. São Januário também é considerado padroeiro do time e dá nome ao seu estádio.

Nossa Senhora das Vitórias também é a padroeiro do time Vitória, da Bahia. A escolha se deu pelo fato de ter sido fundado em 1899 em uma região conhecida por este nome e que tem uma igreja dedicada a esta devoção mariana.

Além disso, Nossa Senhora das Vitórias é a padroeira do Internacional. Há inclusive uma capela de Nossa Senhora das Vitórias dentro do Complexo Beira-Rio, na qual são celebradas missas, batizados e casamentos.

Corinthians tem como padroeiro são Jorge, o santo que dá nome à sua sede, o Parque São Jorge, que fica na rua de mesmo nome. Há, porém, uma história que se tornou popular entre os corintianos. Seria pelo fato de são Jorge ser o padroeiro do Corinthians Football Club, um time inglês que excursionou pelo Brasil em 1910 e inspirou a criação do Corinthians brasileiro.

O italiano são Januário é o padroeiro do Palmeiras, que anteriormente se chamava Palestra Italia. O título de padroeiro ao santo se deu pela devoção trazida pelos imigrantes italianos.

Santos tem como sua padroeira oficial Santa Rita de Cássia. Mas, o time também adotou como padroeira Nossa Senhora do Monte Serrat, padroeira da cidade paulista e de quem o presidente do clube, Marcelo Teixeira, é muito devoto.

Já o time São Paulo tem como padroeiro o santo apóstolo que lhe dá nome e também à cidade de São Paulo (SP).

Nossa Senhora das Graças é padroeira do Atlético Mineiro. Em 2001, o manto azul da imagem da Virgem, mesma cor do time rival Cruzeiro, foi pintado de preto. Quatro anos depois, o Atlético caiu para a Série B justamente no dia de Nossa Senhora das Graças. No ano seguinte, quando o time retornou para a série A, a diretoria do clube trocou a imagem, colocando no lugar outra com o manto original azul.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/55648/no-dia-nacional-do-futebol-conheca-os-padroeiros-de-times-brasileiros

Por que o PL da Devastação fere a Ecologia Integral e agrava a crise do clima?

Ecologia Integral e a Restauração dos Ecossistemas (EcoDebate)

POR QUE O PL DA DEVASTAÇÃO FERE A ECOLOGIA INTEGRAL E AGRAVA A CRISE DO CLIMA?

18/07/2025

Dom Vicente de Paula Ferreira
Bispo  de Livramento de Nossa Senhora (BA)

Justamente quando o mundo clama por medidas urgentes contra a emergência climática, o Congresso brasileiro aprova um projeto que pode aprofundar o colapso ambiental. Na madrugada de quinta-feira, 17 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou o PL 2.159/2021, conhecido como PL da Devastação, que agora aguarda a sanção presidencial. Trata-se de uma medida que flexibiliza drasticamente as regras de licenciamento ambiental no Brasil. Assim, em vez de fortalecer a legislação ambiental, a maioria dos Deputados Federais e Senadores opta por enfraquecê-la ainda mais, em um momento crítico para o futuro do planeta.

Essa escolha política, que ameaça diretamente os mecanismos de proteção da vida e dos ecossistemas, contraria princípios fundamentais de diversas tradições religiosas e espirituais — entre elas, a tradição judaico-cristã. “Então Deus viu que tudo que havia feito era muito bom” (Gn 1, 31), afirma o texto sagrado. O salmista reza: “quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas, as coisas que criaste, que é o ser humano, para dele te lembrares, o filho do homem, para que o visites?” (Sl 8, 4-5). 

A tradição judaico-cristã, ao conceito de natureza acrescenta o de criação, compreendendo a relação do criador com suas criaturas. E, nesse horizonte, ensina que o ser humano possui a nobre vocação de guardião da maravilhosa obra divina. No entanto, a complexa crise socioambiental revela que nossa espécie é responsável pelo grande desequilíbrio do planeta. Realidade que tem levado os cientistas a afirmarem que chegamos a um decênio decisivo (MARQUES, 2023). E temos que ter atitudes urgentes para o enfrentamento do aquecimento global que, como fruto das opções humanas, ameaça nossa vida no Planeta Terra.

Conscientes desses graves problemas climáticos e de nossa tarefa ética enquanto guardiães da criação, fomos surpreendidos pelo PL 2.159/2021. Este projeto de lei concede aos interesses econômicos o direito de autodeclaração do que considerarem de baixo impacto. A própria empresa, por exemplo uma mineradora, é que vai dizer se uma área a ser explorada necessita ou não de licença ambiental. No momento em que temos que fortalecer as leis de proteção ecológica, o Brasil se coloca na contramão ao enfraquecê-las ainda mais. Em nota, a CNBB afirmou: “essa proposta legislativa representa um grave retrocesso na política ambiental brasileira, desmonta o processo de licenciamento no país e fragiliza os instrumentos de controle e prevenção de danos socioambientais”.

De fato, flexibilizar as leis que protegem nossa biodiversidade é reforçar os empreendimentos predatórios. Conceder ainda mais autonomia a essas atividades para avançarem sobre territórios indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, afetando nossos biomas, comprometendo a estabilidade hídrica e a preservação dos rios, é colaborar diretamente com o agravamento da crise climática. A exploração abusiva da natureza sustenta um modelo de consumo insustentável, guiado principalmente pelos interesses das elites econômicas globais. Essa parcela mais privilegiada e concentradora de poder e riqueza no planeta é o grupo que mais polui o ar e acelera as mudanças climáticas. Nossas matas ciliares, áreas de recarga hídrica, zonas úmidas serão atingidas, ainda mais, em nome de poder e dinheiro. Além de ser inconstitucional, o projeto da devastação não afetará apenas o Brasil, mas também a Bolívia, o Peru, o Paraguai, Uruguai e outros países. O pior cenário seria a perda de sustentabilidade da Amazônia enquanto ecossistema tropical. Bioma que não possui 18% de sua floresta original.

Igrejas e a sociedade não podem compactuar com esse projeto da devastação, pois ele acelerará o ecocídio e agravará a crise climática. Não precisamos de mais projetos que contradizem os princípios da ecologia integral, atacando territórios, vidas humanas e mudando o clima, em nome da ganância. Não é por acaso que nosso país amarga índices muito altos de violência contra ambientalistas. Basta de ameaças, perseguições e mortes de defensores dos direitos humanos e da natureza. Com a proximidade da COP 30 no Brasil, o que esperamos é um pacto pela ecologia integral.

Recentemente, as conferências e conselhos episcopais católicos da África, Ásia e América Latina e Caribe publicaram uma mensagem intitulada “Um chamado por justiça climática e a casa comum, conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”. Trata-se de uma denúncia contra o chamado capitalismo verde. Porque ele continua maquiando a realidade para favorecer o extrativismo ilimitado. O documento também anuncia que a sustentabilidade está na defesa da ecologia integral enquanto paradigma para uma nova forma de relação do ser humano com a criação. Propõe reais alternativas de proteção do meio ambiente e da sociedade que estão em curso nas sabedorias de nossos povos e na resistência de muitos movimentos sociais. Pois não podemos sonhar com uma existência saudável se, em nome do lucro, estamos alterando o clima a ponto de nossa vida ficar insustentável neste planeta. É por tudo isso que dizemos NÃO ao PL da Devastação.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF