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domingo, 20 de julho de 2025

Como a paternidade conjugal é fundamental para resolver a crise da masculinidade

A Paternidade, Quando Associada Ao Casamento, Atua Como Um Catalisador Para O Desenvolvimento Masculino Saudável. Foto: MSI

Como a paternidade conjugal é fundamental para resolver a crise da masculinidade

Para entender por que as pessoas lutam para encontrar sentido na vida, é útil perguntar: O que dá sentido à vida?

16 DE JULHO DE 2025

Por Samuel T. Wilkinson*

(ZENIT News – IFS / Yale, 16 de julho de 2025). Nos Estados Unidos, surgiu uma tendência preocupante que sugere que os jovens se sentem cada vez mais perdidos, desconectados e à deriva em um mundo em constante mudança.   Relatórios recentes   revelam um número crescente de jovens que se sentem sem rumo, solitários e inseguros quanto ao seu lugar na sociedade. Estatisticamente, os homens têm maior probabilidade do que as mulheres de morar com os pais até os 20 e até 30 anos. A disparidade no desempenho acadêmico favorece cada vez mais as mulheres, que concluem   o ensino médio   e   a faculdade   em taxas mais altas do que os homens.

Esses números refletem mais do que apenas o baixo desempenho acadêmico; eles apontam para um problema social mais amplo, que alguns apelidaram de "crise de masculinidade". Essa crise vai além dos resultados de exames ou das estatísticas de emprego. Reflete também uma perda de significado, direção e identidade em um mundo onde os papéis tradicionais estão se erodindo rapidamente.

Várias soluções têm sido propostas para enfrentar esta crise. Reconhecendo as diferenças no desenvolvimento da primeira infância, uma ideia é dar às crianças um ano extra antes de começarem o jardim de infância. Outro apelo é para que   mais professores do sexo masculino nas escolas públicas   sirvam como modelos positivos.   Outros defendem   um maior investimento em formação profissional, afastando-se da ideia de que um diploma universitário de quatro anos é o único caminho viável para o sucesso financeiro. Todas essas são sugestões valiosas e cada uma aborda aspectos importantes do problema.

Mas elas abordam apenas parte do problema. Para entender por que as pessoas lutam para encontrar sentido na vida, é importante perguntar: o que dá sentido à vida?

Esta é uma questão complexa, e conceitos como significado, felicidade e satisfação com a vida frequentemente se sobrepõem e são definidos de forma diferente por especialistas. No entanto, a questão há muito tempo intriga filósofos, teólogos e psicólogos. Embora as definições de significado, propósito e felicidade variem dependendo de quem você pergunta, a pesquisa psicológica produziu uma resposta contundente ao longo do tempo e das culturas: os relacionamentos importam mais do que qualquer outra coisa.

O Dr. Martin Seligman, um dos pais fundadores da psicologia positiva,  colocou desta forma : "Outras pessoas são o melhor antídoto para os momentos difíceis da vida e a fonte mais confiável de inspiração". Da mesma forma, o Dr. George Vaillant, um psiquiatra de Harvard que conduziu o maior estudo sobre o desenvolvimento adulto já realizado,  concluiu que  "a única coisa que realmente importa na vida são nossos relacionamentos com os outros".

Mas por que os relacionamentos são tão essenciais para o bem-estar humano? O que há na conexão humana que dá sentido e propósito à vida?

Pelo menos parte da resposta, eu argumento, reside em nossas raízes evolutivas. Durante o Pleistoceno, nossos ancestrais enfrentaram desafios imprevisíveis, desde ferimentos e doenças até condições climáticas adversas ou azar na caça ou coleta. Os grupos humanos mais bem-sucedidos foram aqueles que conseguiram trabalhar juntos para resolver problemas, compartilhar recursos e proteger uns aos outros. Em um mundo assim, laços sociais fortes não eram apenas emocionalmente reconfortantes, mas também salvavam vidas. Essa profunda dependência evolutiva da cooperação social incutiu em nós um senso de realização na conexão.

Mas uma resposta mais profunda para o porquê de os relacionamentos serem gratificantes tem a ver com a forma como a natureza moldou nossas relações familiares. A maioria dos animais tem filhotes que conseguem viver de forma independente logo após o nascimento. No entanto, os bebês humanos estão entre as criaturas mais indefesas do planeta ao nascer. Uma girafa recém-nascida consegue ficar de pé e andar em uma hora. Um filhote de baleia-azul consegue nadar imediatamente após o nascimento. Os bebês humanos, por outro lado, nascem extremamente subdesenvolvidos. Eles são incapazes de andar, comer, sentar ou mesmo perceber plenamente o mundo sem a nossa ajuda.

Por esse motivo, psicólogos do desenvolvimento frequentemente se referem aos  primeiros seis meses da vida humana como o "quarto trimestre ". Devido a essa fragilidade, os bebês são completamente dependentes de seus cuidadores, principalmente de suas mães, para sobreviver. A natureza moldou comportamentos infantis como chorar, sorrir e arrulhar para  fortalecer o vínculo  entre pais e filhos. Como resultado, a natureza desenvolveu nas mães um profundo amor por seus recém-nascidos.  A ativista social Dorothy Day  escreveu sobre o nascimento de seu primeiro filho:

“Se eu tivesse escrito o maior livro, composto a sinfonia mais grandiosa, pintado o quadro mais lindo ou esculpido a figura mais requintada, não poderia ter sentido o Criador mais exaltado do que quando meu filho foi colocado em meus braços... Nenhuma criatura humana poderia receber ou conter uma torrente tão vasta de amor e alegria como senti após o nascimento do meu primeiro filho.”

Ao longo de milhares de gerações, esses laços emocionais profundos entre mãe e filho foram reforçados pela biologia. A experiência da gravidez, do parto e da amamentação criou uma conexão poderosa. Para as mulheres, essa conexão pode ser uma fonte de significado e propósito. De fato,  um estudo da Pew Research  com mais de 5.000 americanos descobriu que os pais têm duas vezes mais probabilidade de descrever o tempo gasto cuidando dos filhos como "muito significativo" em comparação com o tempo gasto no trabalho.

Mas e os pais?

Aqui reside uma assimetria fundamental. Enquanto as mulheres carregam e nutrem a vida em seus corpos por meses, a contribuição biológica dos homens é relativamente breve. É até possível que um homem conceba um filho sem saber. Para uma mulher, tal cenário é absurdo. Essa diferença biológica frequentemente se traduz em uma conexão emocional mais tênue entre homens e seus filhos. (Entre psicólogos, esse desequilíbrio na força dos laços biológicos entre homens e mulheres e seus filhos é tecnicamente chamado de investimento parental obrigatório diferencial.)

E  muitos psicólogos evolucionistas reconhecem  isso como a raiz de praticamente todas as diferenças sexuais psicológicas.)

A paternidade, quando ligada ao casamento, atua como um catalisador para o desenvolvimento masculino saudável.

Para compensar esse desequilíbrio, é necessário um forte mecanismo cultural para unir os homens aos seus filhos. Durante grande parte da história, esse tem sido um propósito fundamental, porém pouco reconhecido, do casamento. Como instituição sociobiológica, o casamento gerou uma expectativa cultural que encorajava os homens a permanecerem presentes, comprometidos e protetores, não apenas de suas parceiras, mas também de seus filhos. No entanto, com o aumento das taxas de divórcio no final do século XX, a estrutura cultural que antes ajudava os homens a se consolidarem na vida familiar começou a se deteriorar.

As consequências foram significativas. Na sociedade ocidental, após o divórcio, as crianças permanecem, em sua maioria, com suas mães, mesmo nos chamados arranjos de guarda compartilhada. O relacionamento pai-filho é frequentemente reduzido a visitas quinzenais, breves telefonemas e transações financeiras. O jornalista Solomon Jones,  escrevendo a partir de sua experiência pessoal  , descreve a paternidade divorciada como uma "tapeçaria desconexa de amor e distância, desejo e dor". Ele fala sobre uma realidade dolorosa: "O amor de um pai é frequentemente expresso por meio do sustento e da proteção. E é difícil prover e proteger sem presença". Para os pais, a ausência do casamento muitas vezes se torna a ausência da paternidade — ou pelo menos do tipo de paternidade ativa e emocionalmente rica que fornece as formas mais poderosas de amor e significado. Em suma, a qualidade do casamento de um homem é um forte preditor da qualidade de sua paternidade.

De fato, a conexão entre casamento e paternidade é tal que  alguns sociólogos os descreveram  como um "pacote completo". E embora pesquisas confirmem, de forma contundente, que crianças criadas em casamentos biológicos intactos desfrutam de inúmeras vantagens — acadêmicas, emocionais e econômicas —, também há benefícios significativos para os homens. Ser pai pode ser transformador. Pode despertar no homem suas capacidades mais profundas de amor, sacrifício e responsabilidade. Mas, para ativar essa transformação, ele precisa estar comprometido, não apenas biologicamente, mas também social e emocionalmente.

O assistente social de Cleveland, Charles Ballard, reconheceu essa dinâmica.  Trabalhando com pais ausentes em comunidades em dificuldades  , Ballard rejeitou a crença popular, enraizada na academia, de que a estabilidade econômica era indispensável para que os homens se tornassem pais capazes. Em vez disso, ele priorizou a reconexão dos pais com seus filhos. Por meio de visitas domiciliares, aconselhamento e programas de parentalidade, Ballard ajudou mais de 2.000 homens a se reintegrarem à vida de seus filhos.  Os resultados foram impressionantes  . Apenas 12% desses homens tinham empregos de tempo integral no início do programa. No entanto, após o restabelecimento de seus papéis paternos, 62% conseguiram empregos de tempo integral e outros 12% encontraram empregos de meio período. Mais de 95% começaram a contribuir financeiramente para o cuidado de seus filhos.

A obra de Ballard demonstra algo profundamente intuitivo, mas frequentemente ignorado: que o propósito é um poderoso motivador da produtividade. Quando os homens se sentem necessários, quando são responsáveis por alguém além de si mesmos, muitas vezes se mostram à altura da situação. A paternidade, por estar ligada ao casamento, atua como um catalisador para o desenvolvimento masculino saudável.

Então, o que deve ser feito em relação à crise da masculinidade? Diversas soluções possíveis foram propostas. E, ao buscá-las — por meio de reforma educacional, mentoria e treinamento profissional —, o casamento e a paternidade também devem fazer parte da equação.

***

O Dr. Samuel T. Wilkinson é professor associado e diretor médico do Programa de Pesquisa sobre Depressão de Yale. Ele é membro do Instituto Wheatley da Universidade Brigham Young. As ideias deste ensaio baseiam-se em seu livro "Purpose: What Evolution and Human Nature Implica About the Meaning of Our Existence" (Propósito: O que a Evolução e a Natureza Humana Implicam sobre o Significado da Nossa Existência), publicado pela Pegasus Books.

Fonte: https://es.zenit.org/2025/07/16/como-la-paternidad-casada-es-clave-para-resolver-la-crisis-de-masculinidad/

XVI Domingo do Tempo Comum (C): Conjugar Contemplação e Ação

CONJUGAR CONTEMPLAÇÃO E AÇÃO

Cardeal Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

 19/07/2025

Neste domingo, no Evangelho, a Palavra de Deus coloca diante de nós a atitude de duas mulheres: Marta e Maria (Lc 10, 38-42). A atitude delas não está em oposição, mas revela aspectos importantes da existência que devem estar correlacionados: contemplação e ação. Maria se coloca aos pés do mestre para ouvir a sua palavra; Marta está preocupada com os muitos afazeres da casa e interpela Jesus: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela venha me ajudar” (Lc 10, 40). 

Papa Francisco nos ajuda a entrar no mistério desse texto do Evangelho. “(…) Nesta cena de Maria de Betânia aos pés de Jesus, São Lucas mostra a atitude orante do crente, que sabe estar na presença do Mestre para o ouvir e para se pôr em sintonia com Ele. Trata-se de fazer uma pausa durante o dia, de se recolher em silêncio, por alguns minutos, para dar espaço ao Senhor que ‘passa’ e para encontrar a coragem de permanecer um pouco ‘à parte’ com Ele, para depois voltar, com serenidade e eficácia, às situações da vida de todos os dias. Elogiando o comportamento de Maria, que ‘escolheu a melhor parte’ (v. 42), Jesus parece repetir a cada um de nós: ‘Não te deixes dominar pelas coisas a fazer, mas, antes de tudo, ouve a voz do Senhor, para cumprir bem as tarefas que a vida te confiar’.

“Depois há a outra irmã, Marta. São Lucas diz que foi ela quem acolheu Jesus (cf. v. 38). Talvez Marta fosse a mais velha das duas irmãs, não sabemos, mas certamente esta mulher tinha o carisma da hospitalidade. Com efeito, enquanto Maria ouve Jesus, ela está totalmente ocupada com os numerosos serviços. Por isso, Jesus diz-lhe: ‘Marta, Marta, estás inquieta e perturbada com muitas coisas’ (v. 41). Com estas palavras, Ele certamente não tenciona condenar a atitude de serviço, mas sobretudo a ansiedade com que às vezes ele é vivido. Também nós compartilhamos a preocupação de Santa Marta e, seguindo o seu exemplo, propomo-nos fazer com que, nas nossas famílias e comunidades, se viva o sentido de hospitalidade e fraternidade, para que todos possam sentir-se ‘em casa’, especialmente os pequeninos e os pobres quando batem à porta.

“Portanto, o Evangelho de hoje recorda-nos que a sabedoria do coração consiste precisamente em saber conjugar estes dois elementos: contemplação e ação. Marta e Maria indicam-nos o caminho. Se quisermos saborear a vida com alegria, devemos associar estas duas atitudes: por um lado, ‘estar aos pés’ de Jesus, para o ouvir enquanto Ele nos revela o segredo de tudo; por outro, estar atentos e prontos na hospitalidade, quando Ele passa e bate à nossa porta, com o rosto do amigo que tem necessidade de um momento de conforto e fraternidade. É necessária esta hospitalidade! (…)” (Papa Francisco, Angelus de 21 de julho de 2019).

Vivemos num mundo que talvez se assemelhe a Marta, muito preocupado com o fazer, o operar, o realizar. A sabedoria do coração consiste em conjugar contemplação e ação. É encontrando tempo para o silêncio, a oração, para escutar o Senhor que vamos encontrando a unidade do nosso ser. Numa sociedade da fragmentação, a contemplação nos ajuda a encontrar a unidade do ser.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Arcebispo de Brasília já está na Ucrânia, "terra que sofre o horror da guerra"

O núncio Kulbokas, o cardeal Paulo Cezar e o embaixador brasileiro, Rafael Vidal (Vatican Media)

O cardeal Paulo Cezar Costa está cumprindo agenda no país a convite da Conferência Episcopal Ucraniana. Entre os compromissos com autoridades civis e eclesiásticas, o arcebispo de Brasília preside missa neste domingo (20/07), no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Berdychiv. O país também recebeu nesta semana o chefe da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), dom Mariano Crociata, para uma visita de três dias finalizada nesta sexta-feira (18/07).

Andressa Collet - Vatican News

O cardeal Paulo Cezar Costa já se encontra na Ucrânia acompanhado do chefe do gabinete episcopal, Pe. Luiz Octávio de Aguiar Faria. O arcebispo de Brasília partiu na última segunda-feira, 14 de julho, em missão de paz ao país martirizado pela guerra. A Ucrânia enfrenta a invasão das tropas russas há três anos. O motivo principal da viagem é presidir neste domingo (20/07) a missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Berdychiv, por ocasião da tradicional peregrinação anual àquele santuário. 

O país também recebeu nesta semana o chefe da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), dom Mariano Crociata, para uma visita de três dias finalizada nesta sexta-feira (18/07). A missão de solidariedade com o povo da Ucrânia, enviando representantes da Igreja católica ao país, começou ainda durante o pontificado do Papa Francisco, num gesto contrato da busca pela paz.

A agenda do arcebispo de Brasília 

Na Ucrânia desde quarta-feira (16/07), após uma longa viagem de 36 horas ao país, o cardeal foi recebido em Lviv por dom Edward Kawa, bispo auxiliar, dando início à série de compromissos da sua missão. Após missa da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, do terraço da Cúria Diocesana, de onde se pode observar parte da cidade, dom Paulo divulgou vídeo pedindo orações para a viagem e pelo povo ucraniano, para que, por intercessão da Virgem Maria, receba o dom da paz.

Na manhã de quinta-feira (17/07), o cardeal foi recebido pelo arcebispo de Lviv dos Latinos, Mieczysław Mokrzycki. Após missa e uma breve recepção na residência episcopal, dom Paulo visitou o cemitério da cidade, onde rezou pelos soldados mortos na guerra. Em Kiev na sexta feira (18/07), o arcebispo de Brasília cumpriu uma série de compromissos oficiais com autoridades civis e eclesiásticas. Após celebrar missa na Catedral da Arquidiocese de Kiev dos Latinos, ele participou pela manhã de um encontro com os membros do Conselho Ucraniano de Igrejas e Organizações Religiosas e teve um encontro com o núncio apostólico na Ucrânia, Visvaldas Kulbokas, e o embaixador do Brasil na Ucrânia, Rafael Vidal. Durante a tarde, o arcebispo de Brasília visitou os soldados feridos em guerra no Centro Médico Principal do Ministério do Interior da Ucrânia, concedeu entrevista nos estúdios da Rádio Maria e visitou a Igreja de São Nicolau.

“Esta terra está sofrendo com a guerra e com o horror da invasão da Rússia, mas tem um povo e uma Igreja de rica tradição e de bonita convivência dos cristãos. Kiev é uma cidade cheia de vida e de esperança mesmo com a guerra. Continuem a rezar e a pedir ao Senhor que mande a paz para este povo.”

A programação da visita à Ucrânia até 24 de julho foi organizada em entendimento com dom Oleksandr Yazlovetskiy, bispo auxiliar de Kiev. A assessoria da Arquidiocese de Brasília, ao comunicar oficialmente a viagem de dom Paulo Cezar Costa, que está sendo realizada a convite da Conferência Episcopal Ucraniana, representada pelo seu presidente, dom Vitalii Skomarovskyi, também informou que o Papa Leão XIV, a Secretaria de Estado da Santa Sé, as Nunciaturas Apostólicas no Brasil e na Ucrânia, o Ministério das Relações Exteriores e as Embaixadas do Brasil na Polônia e na Ucrânia foram devidamente notificados sobre a missão de paz do arcebispo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 19 de julho de 2025

No Dia Nacional do Futebol, conheça os padroeiros de times brasileiros

Missa de são Judas Tadeu na sede do Flamengo | Facebook Clube de Regatas do Flamengo

Por Natalia Zimbrão*

19 de julho de 2025

Hoje (19) no Brasil é o Dia Nacional do Futebol. A data foi escolhida em homenagem ao time mais antigo do Brasil ainda em atividade, o Sport Club Rio Grande, da cidade de Rio Grande (RS). No “país do futebol”, que é também o país com maior número de católicos do mundo, a relação entre a fé e o esporte se dá através dos santos escolhidos por diversas equipes para serem seus padroeiros.

A escolha do santo padroeiro de um time de futebol se dá por vários motivos. Pode ser por se tratar de um santo popular na cidade ou na região onde o time nasceu, por causa de uma data ou episódio específico ou até mesmo por ser o santo de devoção de torcedores ou dirigentes do clube.

São Judas Tadeu é o padroeiro do Flamengo. Tudo começou na década de 1950. Segundo relato do site oficial do Flamengo, na época, o time o time estava há muitos anos sem ganhar uma competição. O santo foi apontado como responsável pelo tricampeonato estadual de 1953, 1954 e 1955, após o pároco da igreja de São Judas Tadeu, do Cosme Velho, ir até a Gávea, onde fica o clube, e rezar uma missa, pedir fé aos jogadores e aconselhar que fossem até a Igreja e acendessem uma vela ao santo. Nos três anos, o padre disse que o time levaria o troféu e o fato se concretizou. Atualmente, o dia 28 de outubro, quando a Igreja celebra são Judas Tadeu, é também considerado o “Dia do Flamenguista”.

A padroeira oficial do Fluminense é Nossa Senhora da Glória e há uma imagem da Virgem na sede do clube, nas Laranjeiras. Mas, em 2010, o clube também anunciou são João Paulo II como seu padroeiro. Segundo o site do Fluminense, quando João Paulo II visitou o Brasil em 1980, ganhou de presente uma camisa do time. A música “A bênção, João de Deus” feita para o papa começou a ser entoada pela torcida nos estádios e “comandou o título do primeiro turno do Campeonato Carioca” em outubro daquele ano. Até hoje, a torcida tricolor canta os versos: “A bênção, João de Deus. Nosso povo te abraça. Tu vens em missão de paz. 'Sê' bem-vindo. E abençoa este povo que te ama!".

São João Paulo II também é o padroeiro do Ceará. O santo foi oficializado como padroeiro do time com um decreto em abril de 2016. Segundo o site do clube, João Paulo II teve uma passagem marcante por Fortaleza (CE), em 1980, quando esteve no estádio do Castelão para a abertura do Congresso Eucarístico Nacional. Na época, “a música ‘Obrigado João Paulo II’ ficou marcada como hino dos cearenses”, diz o site.

A padroeira do Botafogo é Nossa Senhora da Conceição, celebrada pela Igreja Católica no dia 8 de dezembro. Foi justamente neste dia, 8 de dezembro de 1942, que houve a fusão entre o Club de Regatas Botafogo e o Botafogo Football Club, dando origem ao Botafogo Futebol e Regatas.

Vasco da Gama tem como padroeira oficial Nossa Senhora das Vitórias. Conta-se que, em 1923, quando o time se ganhou o Campeonato Carioca, os jogadores entraram em campo com medalhas de Nossa Senhora das Vitórias, distribuídas pelo presidente do clube. Na década de 1960, foi construída uma capela dedicada a Nossa Senhora das Vitórias no Complexo Esportivo de São Januário, a sede do Vasco. Na capela, são celebradas missas, batizados e casamentos. São Januário também é considerado padroeiro do time e dá nome ao seu estádio.

Nossa Senhora das Vitórias também é a padroeiro do time Vitória, da Bahia. A escolha se deu pelo fato de ter sido fundado em 1899 em uma região conhecida por este nome e que tem uma igreja dedicada a esta devoção mariana.

Além disso, Nossa Senhora das Vitórias é a padroeira do Internacional. Há inclusive uma capela de Nossa Senhora das Vitórias dentro do Complexo Beira-Rio, na qual são celebradas missas, batizados e casamentos.

Corinthians tem como padroeiro são Jorge, o santo que dá nome à sua sede, o Parque São Jorge, que fica na rua de mesmo nome. Há, porém, uma história que se tornou popular entre os corintianos. Seria pelo fato de são Jorge ser o padroeiro do Corinthians Football Club, um time inglês que excursionou pelo Brasil em 1910 e inspirou a criação do Corinthians brasileiro.

O italiano são Januário é o padroeiro do Palmeiras, que anteriormente se chamava Palestra Italia. O título de padroeiro ao santo se deu pela devoção trazida pelos imigrantes italianos.

Santos tem como sua padroeira oficial Santa Rita de Cássia. Mas, o time também adotou como padroeira Nossa Senhora do Monte Serrat, padroeira da cidade paulista e de quem o presidente do clube, Marcelo Teixeira, é muito devoto.

Já o time São Paulo tem como padroeiro o santo apóstolo que lhe dá nome e também à cidade de São Paulo (SP).

Nossa Senhora das Graças é padroeira do Atlético Mineiro. Em 2001, o manto azul da imagem da Virgem, mesma cor do time rival Cruzeiro, foi pintado de preto. Quatro anos depois, o Atlético caiu para a Série B justamente no dia de Nossa Senhora das Graças. No ano seguinte, quando o time retornou para a série A, a diretoria do clube trocou a imagem, colocando no lugar outra com o manto original azul.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/55648/no-dia-nacional-do-futebol-conheca-os-padroeiros-de-times-brasileiros

Por que o PL da Devastação fere a Ecologia Integral e agrava a crise do clima?

Ecologia Integral e a Restauração dos Ecossistemas (EcoDebate)

POR QUE O PL DA DEVASTAÇÃO FERE A ECOLOGIA INTEGRAL E AGRAVA A CRISE DO CLIMA?

18/07/2025

Dom Vicente de Paula Ferreira
Bispo  de Livramento de Nossa Senhora (BA)

Justamente quando o mundo clama por medidas urgentes contra a emergência climática, o Congresso brasileiro aprova um projeto que pode aprofundar o colapso ambiental. Na madrugada de quinta-feira, 17 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou o PL 2.159/2021, conhecido como PL da Devastação, que agora aguarda a sanção presidencial. Trata-se de uma medida que flexibiliza drasticamente as regras de licenciamento ambiental no Brasil. Assim, em vez de fortalecer a legislação ambiental, a maioria dos Deputados Federais e Senadores opta por enfraquecê-la ainda mais, em um momento crítico para o futuro do planeta.

Essa escolha política, que ameaça diretamente os mecanismos de proteção da vida e dos ecossistemas, contraria princípios fundamentais de diversas tradições religiosas e espirituais — entre elas, a tradição judaico-cristã. “Então Deus viu que tudo que havia feito era muito bom” (Gn 1, 31), afirma o texto sagrado. O salmista reza: “quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas, as coisas que criaste, que é o ser humano, para dele te lembrares, o filho do homem, para que o visites?” (Sl 8, 4-5). 

A tradição judaico-cristã, ao conceito de natureza acrescenta o de criação, compreendendo a relação do criador com suas criaturas. E, nesse horizonte, ensina que o ser humano possui a nobre vocação de guardião da maravilhosa obra divina. No entanto, a complexa crise socioambiental revela que nossa espécie é responsável pelo grande desequilíbrio do planeta. Realidade que tem levado os cientistas a afirmarem que chegamos a um decênio decisivo (MARQUES, 2023). E temos que ter atitudes urgentes para o enfrentamento do aquecimento global que, como fruto das opções humanas, ameaça nossa vida no Planeta Terra.

Conscientes desses graves problemas climáticos e de nossa tarefa ética enquanto guardiães da criação, fomos surpreendidos pelo PL 2.159/2021. Este projeto de lei concede aos interesses econômicos o direito de autodeclaração do que considerarem de baixo impacto. A própria empresa, por exemplo uma mineradora, é que vai dizer se uma área a ser explorada necessita ou não de licença ambiental. No momento em que temos que fortalecer as leis de proteção ecológica, o Brasil se coloca na contramão ao enfraquecê-las ainda mais. Em nota, a CNBB afirmou: “essa proposta legislativa representa um grave retrocesso na política ambiental brasileira, desmonta o processo de licenciamento no país e fragiliza os instrumentos de controle e prevenção de danos socioambientais”.

De fato, flexibilizar as leis que protegem nossa biodiversidade é reforçar os empreendimentos predatórios. Conceder ainda mais autonomia a essas atividades para avançarem sobre territórios indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, afetando nossos biomas, comprometendo a estabilidade hídrica e a preservação dos rios, é colaborar diretamente com o agravamento da crise climática. A exploração abusiva da natureza sustenta um modelo de consumo insustentável, guiado principalmente pelos interesses das elites econômicas globais. Essa parcela mais privilegiada e concentradora de poder e riqueza no planeta é o grupo que mais polui o ar e acelera as mudanças climáticas. Nossas matas ciliares, áreas de recarga hídrica, zonas úmidas serão atingidas, ainda mais, em nome de poder e dinheiro. Além de ser inconstitucional, o projeto da devastação não afetará apenas o Brasil, mas também a Bolívia, o Peru, o Paraguai, Uruguai e outros países. O pior cenário seria a perda de sustentabilidade da Amazônia enquanto ecossistema tropical. Bioma que não possui 18% de sua floresta original.

Igrejas e a sociedade não podem compactuar com esse projeto da devastação, pois ele acelerará o ecocídio e agravará a crise climática. Não precisamos de mais projetos que contradizem os princípios da ecologia integral, atacando territórios, vidas humanas e mudando o clima, em nome da ganância. Não é por acaso que nosso país amarga índices muito altos de violência contra ambientalistas. Basta de ameaças, perseguições e mortes de defensores dos direitos humanos e da natureza. Com a proximidade da COP 30 no Brasil, o que esperamos é um pacto pela ecologia integral.

Recentemente, as conferências e conselhos episcopais católicos da África, Ásia e América Latina e Caribe publicaram uma mensagem intitulada “Um chamado por justiça climática e a casa comum, conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”. Trata-se de uma denúncia contra o chamado capitalismo verde. Porque ele continua maquiando a realidade para favorecer o extrativismo ilimitado. O documento também anuncia que a sustentabilidade está na defesa da ecologia integral enquanto paradigma para uma nova forma de relação do ser humano com a criação. Propõe reais alternativas de proteção do meio ambiente e da sociedade que estão em curso nas sabedorias de nossos povos e na resistência de muitos movimentos sociais. Pois não podemos sonhar com uma existência saudável se, em nome do lucro, estamos alterando o clima a ponto de nossa vida ficar insustentável neste planeta. É por tudo isso que dizemos NÃO ao PL da Devastação.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

"Todos" preparados para "samaritanar" o ambiente digital a partir de Roma

Igreja sem fronteiras (Vatican News)

Em menos de 20 dias começa o Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos, considerado um marco para a evangelização on-line. Depois da JMJ de Lisboa, o evento em Roma promete fortalecer a proposta do Papa Francisco de "samaritanar” o ambiente digital. Representantes do Brasil já estão confirmados para testemunhar o trabalho realizado em redes sociais, blogs e aplicativos. Nesta semana foi divulgado o hino oficial "Todos".

https://youtu.be/zS_DIS-sfwY

Andressa Collet - Vatican News

Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos começa no mesmo dia daquele dedicado aos jovens, em 28 de julho. Durante dois dias, cerca de mil peregrinos irão unir esforços para celebrar, formar e inspirar aqueles chamados a evangelizar nas plataformas digitais. O encontro inédito e histórico, através do qual a Igreja reconhece o continente digital como espaço de missão, congrega três momentos distintos: a fase espiritual com a passagem pela Porta Santa, a fase de formação e um festival.

As inscrições já foram encerradas, mas quem não conseguir participar presencialmente em Roma, poderá acompanhar em modalidade on-line, registrando-se através do site oficial: o www.digitalismissio.org. Os dois principais eventos de formação serão transmitidos através da conta do YouTube do projeto "La Iglesia Te Escucha", que nasceu de uma convocação do Papa Francisco através do Sínodo da Sinodalidade (2021-2024) para que se pudesse evangelizar também no ambiente digital sem deixar ninguém excluído do processo sinodal, sendo Igreja em Saída, indo até às periferias existenciais do mundo.

O site oficial também irá disponibilizar em breve um guia espiritual exclusivo em preparação ao Jubileu temático, mas já é de acesso público o material - tanto visual como de texto - como recurso para promover o evento e fortalecer a missão de evangelização no mundo digital.

Os missionários da esperança, inclusive do Brasil

O evento, que será realizado nos dias 28 e 29 de julho, é destinado a todos que compartilham a mensagem do Evangelho em redes sociais, blogs, canais e aplicativos. É uma oportunidade de trocar experiências e fortalecer a missão comum da Igreja. Ser um missionário da esperança significa aceitar o chamado de Cristo para levar a Boa Nova a todos os cantos, especialmente no mundo digital. Envolve espalhar a luz da fé e do Evangelho, transformando vidas com mensagens de esperança e amor. Entre elas, o testemunho de brasileiros, que já estão confirmados entre uma seleção internacional de missionários digitais: Guilherme Cadoiss, Raíssa Chadud, Vero Brunkow, Layla Kamila, Lisiane Mazzurana e Felipe Padilha.

O Jubileu dos Missionários Digitais e dos Influencers Católicos acontece após um primeiro encontro mundial, ou seja, aquele realizado durante a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2023, com o Papa Francisco. Em vídeo que divulgou o hino do evento, o Pontífice argentino fez um convite especial para “samaritanar” o ambiente digital, uma missão que seja levada adiante com humanidade.

O hino oficial "Todos"

Além da programação já conhecida pelos peregrinos inscritos, inclusive disponível em português, nesta semana foi divulgado o texto e o clip oficial do hino internacional do Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos. É de caráter global, porque o material foi produzido em diferentes cantos do mundo e interpretado por artistas de vários idiomas: em espanhol por Aldana Canale, Juan Delgado, Pablo Martínez, Fruto del Madero e Padre Jota; em francês por Praise Louange e Hopen Music; em italiano por Francesco Lorenzi do The Sun; em coreano por Junho Chu; em inglês por Josh Blakesley e Francesca Larosa; e em português pelo grupo do Missionário Shalom.

O Missionário Shalom (MSH), criado em 1998, foi uma resposta da Comunidade Católica Shalom à necessidade de evangelizar mais e com diferentes instrumentos a atividade missionária no Brasil. Nasceu apenas para a dimensão musical, mas com o tempo a dança foi assumindo seu espaço para completar a arte de levar Jesus ao coração dos homens.

Conheça agora a íntegra da letra da música Tutti (Todos), produzida por Aldana Canale, Pablo Martínez, Tomas Romero, Juan Delgado e José P. Valencia Poblete:

O hino internacional do Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos

Open your eyes and see so

many souls around you

상처 입고 우는 이웃들이 당신을 기다려요

 

Samaritanise! Jésus t’appelle,

aime chacun d’un cœur fidèle

 

Peregrinos de esperanza misioneros

en el mundo digital Bringing

followers to Jesus

All are welcome in this place

 

Peregrinos da esperança

missionários para um mundo digital

não há fronteiras nem distâncias

para todos há um lugar.

 

Ascolta ciò che non si ode,

racconta col cuore che arde.

Uma esperança mais alta há

fogo en teu interior.

 

Samaritanea, es Jesús que llama a

abrazar a todos con amor.

 

Peregrinos da esperança

missionários para um mundo digital

Bringing followers to Jesus

All are welcome in this place

 

Pellegrini di speranza

missionari nel mondo digital

ni frontières ni distance,

chacun ici a sa place

 

Todos, todos, todos Everyone,

everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

 

Todos, todos, todos Everyone,

everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

 

Peregrinos de esperanza

Misioneros en el mundo digital

não há fronteiras nem distâncias

qui c’è posto anche per te

 

Pèlerins d’espérance,

missionnaires du monde

digital, ni frontières ni

distance, All are welcome in

this place

 

Todos, todos, todos Everyone,

everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

 

Todos, todos, todos Everyone, everyone

Tutti, Tutti, tutti,

Everyone, everyone

Todos, todos todos

Everyone, everyone

Tous, tous, tous

Everyone, Everone

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O “Espírito de Geometria” e o “Espírito de Finesse” em Blaise Pascal

O "Espírito de Geometria" | Tribuna do Norte.

O “ESPÍRITO DE GEOMETRIA” E O “ESPÍRITO DE FINESSE” EM BLAISE PASCAL 

18/07/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Nas Pensées de Blaise Pascal, encontramos uma das distinções mais marcantes do pensamento moderno: a diferença entre o “esprit de géométrie” (espírito de geometria) e o “esprit de finesse” (espírito de fineza). Essa distinção ilumina duas formas complementares de conhecer e pensar, lançando luz não apenas sobre os limites da razão, mas também sobre a centralidade da vida interior e da busca espiritual. 

Pascal, homem de ciência e fé, compreendia profundamente o “espírito de geometria”, a capacidade de raciocinar com clareza, exatidão e coerência, partindo de princípios bem definidos e avançando por meio de deduções rigorosas. Essa forma de pensar domina as ciências exatas e é essencial para o progresso técnico. Contudo, tem dificuldade em apreender as realidades humanas mais sutis e profundas, como o amor, a fé, a graça e a sabedoria prática. 

É nesse ponto que entra o “esprit de finesse”. Trata-se de uma inteligência sensível, intuitiva, que percebe nuances e capta os primeiros princípios por meio da experiência interior, especialmente do coração. Pascal insiste que esse espírito não apenas é legítimo, mas, muitas vezes, muito mais seguro que o raciocínio lógico. Ele é fundamental para a vida moral, para a fé e para as relações humanas, pois permite compreender o não dito, agir com empatia e discernir com profundidade. 

Para Pascal, o coração não é apenas sede de emoções, mas uma faculdade de conhecimento real e profundo. É nesse contexto que ele afirma: “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (Pensées, 277). Essa célebre frase expressa a convicção de que nem tudo o que é verdadeiro pode ser demonstrado pela lógica formal e que há uma forma de sabedoria que brota da experiência vivida e da abertura ao mistério. 

A distinção entre esses dois espíritos não é um convite à oposição entre razão e sentimento, mas à integração. O espírito de geometria sem fineza torna-se frio e insensível; o espírito de fineza sem geometria corre o risco de ser sentimentalista e instável. A verdadeira sabedoria nasce do diálogo entre os dois, da razão iluminada pelo coração, e do coração purificado pela razão. 

No contexto contemporâneo, essa distinção mostra-se especialmente atual. Vivemos em uma era em que o espírito de geometria predomina: algoritmos, inteligência artificial e lógica técnica orientam decisões e estruturas. Contudo, os grandes desafios éticos, espirituais e humanos — como o sentido da vida, a dignidade da pessoa humana, a justiça, o sofrimento e a fé — não se resolvem apenas com dados e técnica. Eles exigem escuta, empatia, discernimento e abertura ao transcendente. 

Na prática pastoral, essa distinção também é fecunda. As estruturas e normas (espírito de geometria) são necessárias. Mas, sem o espírito de fineza — isto é, sem misericórdia, acolhida e discernimento — corre-se o risco de tornar a fé árida e o Evangelho sufocado por formalismos. 

Ao recuperar essa distinção, Pascal nos convida a redescobrir a beleza da intuição espiritual e a cultivar a humildade diante do mistério. Em um mundo tentado pelo controle total e pela superficialidade emocional, a sabedoria pascaliana nos indica um caminho seguro: unir razão e coração na busca do que realmente importa — a verdade, o bem e o amor. Como ele mesmo escreveu: “Não se entra no coração senão pelo coração.” 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

DENTRO DO VATICANO: Dicastério para os Textos Legislativos

Dicastério para os Textos Legislativos: volumes antigos preservados no arquivo  (Vatican Media)

Sua principal tarefa é atualizar o texto dos dois Códigos, o Latino e o Oriental, que constituem o núcleo da legislação universal da Igreja. Desempenha essa função interpretando textos duvidosos e, quando necessário, propondo ao Papa emendas ou acréscimos aos textos canônicos.

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

Como afirma um princípio jurídico, o Direito acompanha a vida. O Dicastério para os Textos Legislativos, em particular, promove e divulga na Igreja o conhecimento e a recepção do Direito Canônico da Igreja latina e o das Igrejas orientais e presta assistência para a sua correta aplicação. O prefeito é o arcebispo Filippo Iannone e o secretário é o bispo Juan Ignacio Arrieta Ochoa de Chinchetru.

As competências

O Dicastério para os Textos Legislativos desempenha as suas mansões ao serviço do Romano Pontífice, supremo legislador e intérprete. Conforme recordado na Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, é competência deste Dicastério formular a interpretação autêntica das leis da Igreja, aprovada de forma específica pelo Romano Pontífice enquanto Supremo Legislador e Intérprete, depois de ter consultado, nas questões de maior importância, as Instituições curiais e os Departamentos da Cúria Romana competentes na matéria a ser examinada.

O Dicastério, ao estudar a legislação vigente da Igreja latina e das Igrejas orientais segundo as solicitações que lhe chegam da prática eclesial, examina a eventual presença de lacunæ legis e apresenta ao Romano Pontífice propostas adequadas para a superação das mesmas. Verifica igualmente eventuais necessidades de atualização da normativa em vigor e sugere emendas para assegurar a harmonia e a eficácia do direito.

Este organismo mantém contato com as diversas instâncias da Igreja, em particular os Dicastérios da Cúria Romana e as Conferências Episcopais, de forma a identificar a necessidade de eventuais alterações das normas ou para acolher sugestões. Também é dada especial atenção à correta prática canônica, para que o Direito na Igreja seja adequadamente compreendido e corretamente aplicado.

Notas Históricas

O Dicastério para os Textos Legislativos surgiu no contexto da codificação canônica de 1917. Naquele ano, com o Motu Proprio Cum iuris canonici, Bento XV instituiu a Pontifícia Comissão para a interpretação autêntica do Código de Direito Canônico: "Seguindo o exemplo de nossos predecessores, que confiaram a interpretação dos decretos do Concílio de Trento a uma assembleia especial de padres cardeais - afirma o documento - instituímos um Conselho, ou uma Comissão, que terá o direito exclusivo de se pronunciar sobre a interpretação autêntica dos cânones do Código.

João XXIII, por sua vez, instituiu em 1963 a Pontifícia Comissão para a Revisão do Código de Direito Canônico, a fim de preparar, à luz dos decretos do Concílio Vaticano II, a reforma do Código promulgada por Bento XV.

Em 1967, Paulo VI instituiu a Pontifícia Comissão para a Interpretação dos Decretos do Concílio Vaticano II.

João Paulo II, com o Motu Proprio Recognito Iuris Canonici Codice de 2 de janeiro de 1984, estabeleceu a Pontifícia Comissão para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico.

Com a Constituição Apostólica Pastor Bonus de 28 de junho de 1988, a Comissão foi transformada no Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, com competência mais ampla e detalhada.

Com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, promulgada em 5 de junho de 2022 e que revogou a Pastor Bonus, o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos torna-se o Dicastério para os Textos Legislativos.

Dicastério para Textos Legislativos: um livro sobre Direito Eclesiástico (Vatican News)

Direito, Misericórdia e Caridade

As competências exigidas para quem trabalha neste Dicastério estão intimamente relacionadas com a área jurídica. É necessária uma formação acadêmica em Direito Canônico, bem como o conhecimento de línguas modernas, além do latim, para responder às solicitações de consulta de vários países. Geralmente, os funcionários contratados pelo Dicastério também têm experiência nesta área da vida eclesial, tendo exercido ministérios nas suas dioceses ou, se religiosos, nos seus institutos, o que pressupõe o conhecimento do direito. Estas competências devem ser complementadas por uma perspectiva específica.

Promover o conhecimento do Direito Canónico significa, antes de mais, compreender que o Direito Canónico se distingue de outros sistemas jurídicos: baseia-se no direito natural e no direito divino, que, em última análise, representam os parâmetros de justiça que a autoridade eclesiástica deve seguir. Por isso, a lei canônica atribui a quem exerce a autoridade, todos os instrumentos necessários para adequar o rigor e as exigências da lei à justiça do caso concreto. E, sobretudo, o Direito Canônico é animado por uma exortação constante: a de nunca esquecer as exigências da caridade e da misericórdia na aplicação da lei. Como enfatiza São Tomás, "a misericórdia sem justiça é a mãe da dissolução; a justiça sem misericórdia é crueldade".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 18 de julho de 2025

"Solidão mata 100 pessoas por hora no mundo", alerta neurologista

As jornalistas Carmen Souza (C) e Paloma Oliveto entrevistam o doutor em neurologia e neurociências e professor da UCB Leandro Freitas sobre as consequências da solidão para a saúde - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

"Solidão mata 100 pessoas por hora no mundo", alerta neurologista

Leandro Freitas, doutor em neurologia e neurociências e professor da UCB, alerta para os efeitos nocivos à saúde física e mental de ficar sozinho, mesmo com acesso a redes sociais. O problema atinge todas as faixas etárias, mas entre os jovens é mais preocupante, destaca o especialista.

Por Mariana Saraiva

postado em 18/07/2025

Os efeitos da solidão no cérebro foram tema central do programa CB.Saúde — uma produção realizada em parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília — exibido nesta quinta-feira (17/7). As jornalistas Carmen Souza e Paloma Oliveto entrevistaram o doutor em neurologia e neurociências e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leandro Freitas. 

A conversa repercutiu relatório inédito, divulgado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que revelou dados alarmantes sobre as consequências da solidão prolongada. Segundo o documento, os impactos da solidão persistente na saúde física e mental podem ser comparados aos efeitos para o corpo de fumar 15 cigarros por dia. A solidão, portanto, não deve ser encarada apenas como uma condição emocional ou passageira, mas como um fator de risco importante para o bem-estar geral dos indivíduos.

Durante o programa, foi destacado que essa condição afeta pessoas de todas as idades, demonstrando que o isolamento social não é um fenômeno restrito a uma faixa etária específica. Crianças, adolescentes, adultos e idosos podem vivenciar sentimentos de desconexão e ausência de vínculos significativos, o que contribui para o agravamento de questões de saúde mental e até mesmo de doenças neurológicas.

Um dos fatores que têm agravado a solidão atualmente é o uso excessivo da tecnologia. Muitas pessoas vivem imersas nas redes sociais e acabam se afastando das interações humanas reais. A sociedade vem confundindo qualidade de vida com conforto individualizado: casas grandes, quartos separados com televisão, frigobar e wi-fi potente. No entanto, qualidade de vida, em sua essência, era estar à mesa com pessoas queridas, compartilhar afeto e cultivar a convivência.

De que forma a saúde é afetada pela solidão?

São várias questões que precisamos considerar. A primeira delas é de que o cérebro é feito de presença. Sempre que falamos em sistema nervoso, estamos falando de interação, e essa interação é feita com pessoas. Quando nos isolamos, deixamos de receber estímulos essenciais: visuais, auditivos, olfativos. Tudo isso alimenta o nosso sistema nervoso. Quando esses estímulos cessam, o cérebro sofre. Se eu não estou utilizando essas células, elas entram em um processo de morte programada. Isso aumenta o risco de demência, de doenças neurodegenerativas. O cérebro começa a atrofiar.

É uma questão fisiológica?

Às vezes, as pessoas tentam separar o cognitivo do fisiológico, mas o psicológico é uma construção biológica. Isso me preocupa muito. No mundo primitivo, a gente sobrevivia por meio das interações. Até dois séculos atrás, não existiam relatos das condições neurológicas que enfrentamos hoje. Estamos desenvolvendo uma nova forma de viver, hiperconectada, tecnológica, para a qual nosso corpo, nossa biologia, não está preparada.

Redes sociais ajudam a aliviar a solidão?

A resposta é não. E a ciência comprovou isso. Estudos mostram que, mesmo uma videochamada, não substitui a presença física. Isso nos engana, porque cria a falsa sensação de companhia. Tenho milhares de seguidores nas redes, participo de vários grupos no WhatsApp, mas, ainda assim, posso estar só. Essa sensação de presença é mascarada. Por isso, a romantização das redes sociais precisa ser questionada com urgência.

A solidão é pior entre os jovens?

O impacto da solidão em um cérebro ainda em desenvolvimento é particularmente preocupante. Muitos jovens, hoje, estão imersos nas redes sociais e deixam de vivenciar interações humanas reais. Isso é ainda mais perigoso, porque a juventude é um período crítico em que o cérebro precisa de estímulos constantes para se desenvolver de forma saudável. As redes sociais não substituem a presença física nem oferecem os mesmos benefícios neurológicos da convivência real.

Isso pode ser prejudicial até para quem gosta de ficar sozinho?

É natural que algumas pessoas gostem de passar mais tempo sozinhas, mas, quando o isolamento se torna excessivo e constante, ele representa um risco real. Não existe isolamento crônico que não seja patológico. O ser humano não foi biologicamente preparado para viver isolado. Isso é incompatível com a nossa saúde, com a nossa sobrevivência física e emocional.

Quais são os sinais de alerta?

É importante observar comportamentos, especialmente entre os mais jovens. O alerta acende quando a pessoa começa a evitar o convívio com amigos, familiares, ou prefere se isolar em vez de participar de interações sociais. Essa fase da vida é marcada pela necessidade de pertencimento a grupos. Outro alerta é que hoje, confundimos qualidade de vida com conforto isolado: casas grandes, quartos separados com televisão, frigobar e wi-fi potente. Mas qualidade de vida, na essência, era uma mesa cheia, afeto e convivência. Precisamos resgatar isso.

Qual é a melhor forma de tratamento?

O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar ajuda profissional. Conversar com um psicólogo pode ser essencial para que o indivíduo compreenda o que está sentindo. Em casos mais graves, em que a pessoa sente pânico ao sair de casa ou interagir, pode ser necessário o acompanhamento psiquiátrico, com medicação adequada.

E quais estratégias ajudam a sair da solidão?

Precisamos voltar à essência do convívio humano. Somos seres sociais, não digitais. Se a gente não mudar isso, a sociedade vai continuar adoecendo. Antigamente, ligávamos para dar os parabéns; hoje, mandamos mensagens prontas. Estamos nos afastando muito. O caminho envolve resgatar o contato humano, com atividades comunitárias, encontros ao ar livre, jogos em grupo, ações solidárias. O cérebro precisa de interação, de afeto. A tecnologia veio para ajudar, mas deve ser usada com equilíbrio.

De que forma a solidão pode agravar casos de demência?

Embora fatores genéticos influenciem, os hábitos de vida são determinantes. Nosso cérebro tem cerca de 86 bilhões de neurônios. Eles precisam de estímulos constantes. Quando há privação, seja por falta de convívio, sedentarismo, má alimentação, sono ruim ou ausência de afeto, essas células começam a morrer. E isso contribui diretamente para o surgimento ou agravamento de quadros de demência.

A solidão mata?

Mata, sim. Estima-se que quase 100 pessoas no mundo morrem por hora em decorrência direta ou indireta da solidão (de acordo com o relatório da OMS). Ela mata fisicamente, ao agravar doenças, e simbolicamente. Quando nos isolamos, mesmo vivos biologicamente, emocionalmente estamos mortos. Somos feitos de presença, de vínculo, de troca.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2025/07/7203611-solidao-mata-100-pessoas-por-hora-no-mundo-alerta-neurologista.html

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei.

Formação da personalidade (2): Protagonistas da nossa vida

Quando explicamos o porquê de nossas reações espontâneas, muitas vezes, em vez de dizer “é que sou assim”, teríamos que admitir: “eu me fiz assim”. Editorial sobre a formação do caráter na vida do cristão.

20/01/2015

Caminhar acompanhados

Dentro dos planos divinos, a vida foi feita para ser compartilhada: o Senhor conta com a ajuda mútua entre os seres humanos. Constatamos isso, de fato, todos os dias: quantas vezes nem sequer somos capazes de satisfazer as necessidades mais básicas e primárias de maneira individual. Ninguém pode ser completamente autônomo. Num nível mais profundo, todas as pessoas notam essa necessidade de abrir-se a outra pessoa, de compartilhar a existência, de dar e receber amor. «Ninguém vive só. Ninguém peca sozinho. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem»[9].

Esta natural abertura para os outros chega ao seu auge nos planos redentores do Senhor. Quando recitamos o Símbolo dos Apóstolos, confessamos que cremos na comunhão dos santos, comunhão que é o núcleo da Igreja. Por isso, na vida espiritual, também é indispensável aprender a contar com a ajuda dos outros, que estão implicados de um modo ou de outro em nossa relação com Deus: recebemos a fé através dos ensinamentos de nossos pais e catequistas; participamos dos sacramentos que celebra um ministro da Igreja; acudimos ao conselho espiritual de outro irmão na fé, que também reza por nós; etc.

Saber que caminhamos acompanhados na vida cristã enche-nos de alegria e tranquilidade, sem que diminua nosso próprio empenho por alcançar a santidade. Mesmo que muitas vezes nos deixemos levar pelas mãos, nosso papel não se limita a isso. São Josemaria, ao referir-se à vida espiritual, manifestava que o conselho não elimina a responsabilidade pessoal. E concluía: a direção espiritual deve tender a formar pessoas de critério[10]. Por isto, não queremos que tomem resoluções por nós, nem deixar de pôr esforço nas tarefas que assumimos.

Ao mesmo tempo em que reconhecemos a ajuda indispensável dos outros, temos de ser conscientes de que, na vida espiritual é o Senhor quem atua através deles para transmitir-nos a sua luz e força. Isto nos dá segurança para continuar caminhando para a santidade quando, por um motivo ou outro, faltam aquelas pessoas que tinham um papel importante na nossa vida cristã. Neste sentido, também temos uma profunda liberdade de espírito em relação às pessoas que Deus pôs ao nosso lado, a quem amamos pelo coração de Cristo, e cujo apoio agradecemos profundamente.

Livres para amar sem condições

Os cristãos sabemos que a plenitude pessoal chega como fruto da livre e total disponibilidade aos desejos do Amor de um Deus Criador, Redentor e Santificador. Os dons que recebemos alcançam seu rendimento máximo ao abrir-nos à graça de Deus, como confirma a experiência de tantos santos e santas. Ao deixarem que o Senhor entrasse nas suas vidas, souberam pôr-se amorosamente a seu serviço, como Santa Maria que, no momento da Anunciação pronuncia a resposta firme: Fiat! - faça-se em mim segundo a tua palavra! -, o fruto da melhor liberdade: a de decidir-se por Deus[11].

Quando uma pessoa decide-se por Deus, empenha seus sonhos e energias no que vale mais a pena. Percebe o sentido último da liberdade, que não está simplesmente em poder escolher uma coisa ou outra, mas em dispor da vida para algo grande, aceitando compromissos definitivos. Dedicar as próprias qualidades a seguir a Cristo, mesmo que implique recusar outras opções, traz felicidade, o cem por um na terra e a vida eterna[12]. Reflete também um alto grau de maturidade interior, pois só quem tem una personalidade com convicções é capaz de comprometer-se de uma maneira total: Livremente, sem coação alguma, porque me apetece, eu me decido por Deus[13].

Abandonar passado, presente e futuro no Senhor

A alma que opta por Deus move-se com uma paz interior que supera qualquer tribulação. Sei em quem acreditei[14]: são palavras que expressam a confiança de São Paulo em meio às dificuldades por ser fiel à sua vocação de apóstolo das gentes. Quem põe o fundamento no Senhor goza de uma segurança inquebrantável, e isto lhe permite doar-se também aos outros: vivendo o celibato por motivos apostólicos, no matrimônio ou em tantos outros caminhos que pode levar a existência cristã. É uma entrega que envolve presente, passado e futuro, como rezava São Josemaria: Senhor, meu Deus! Em tuas mãos abandono o passado, o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o temporal e o eterno[15].

Ninguém pode mudar o passado. No entanto, o Senhor pega a história de cada um, perdoa os pecados que possam ter existido através do sacramento da Reconciliação e reintegra harmoniosamente esses eventos na vida de seus filhos. Tudo é para o bem[16]: inclusive os erros que cometemos, se sabemos recorrer à misericórdia divina e, com a graça de Deus, procuramos viver no presente mais pendentes dEle. Assim se está também em condições de ver com confiança o futuro, pois sabemos que está nas mãos de um Pai que nos ama: quem está nas mãos de Deus, cai e se levanta sempre nas mãos de Deus!

Decidir-se por Deus é aceitar o seu convite para escrever nossa biografia com Ele. Reconhecendo humildemente a liberdade como um dom, aplicamo-la em cumprir, em companhia de tantas outras pessoas, a missão que o Senhor nos confia. E experimentamos com alegria que seus planos superam nossas previsões, como dizia São Josemaria a um jovem: Deixa-te levar pela graça! Deixa teu coração voar! (...). Faça tua pequena novela: uma novela de sacrifícios e de heroísmos. Com a graça de Deus ficareis aquém[17].

J.R. García-Morato


[9] Bento XVI, Enc. Spe Salvi, n. 48

[10] São Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, n. 93

[11] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 25

[12] Mt 19, 29

[13] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 35

[14] 2 Tim 1,12

[15] São Josemaria Escrivá, Via Sacra, VII estação, n. 3

[16] Rom 8,28

[17] São Josemaria, anotações tomadas numa tertúlia, 29/11/1974 (AGP, biblioteca, P04, p. 45).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/protagonistas-da-nossa-vida/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF