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sábado, 1 de novembro de 2025

Catequese por ocasião do 60º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate

Crédito: Opus Dei

Por ocasião do sexagésimo aniversário da declaração conciliar Nostra Aetate, o Papa Leão XIV nos lembra que "O verdadeiro diálogo está enraizado no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação".

29/10/2025

Estimados irmãos e irmãs, peregrinos na fé e representantes das diferentes tradições religiosas! Bom dia, bem-vindos!

No centro da reflexão de hoje, nesta Audiência geral dedicada ao diálogo inter-religioso, desejo colocar as palavras do Senhor Jesus à samaritana: "Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" (Jo 4, 24). No Evangelho, este encontro revela a essência do autêntico diálogo religioso: um intercâmbio que se estabelece quando as pessoas se abrem umas às outras com sinceridade, escuta atenta e enriquecimento recíproco. É um diálogo que nasce da sede: a sede de Deus pelo coração humano e a sede humana de Deus. No poço de Sicar, Jesus supera as barreiras de cultura, gênero e religião. Convida a samaritana a uma nova compreensão do culto, que não se limita a um lugar em particular – “nem nesta montanha, nem em Jerusalém” – mas que se realiza em Espírito e verdade. Este momento capta o núcleo do diálogo inter-religioso: a descoberta da presença de Deus, além de todas as fronteiras, e o convite a procurá-lo juntos com reverência e humildade.

Há sessenta anos, no dia 28 de outubro de 1965, o Concílio Vaticano II, com a promulgação da Declaração Nostra aetate, abriu um novo horizonte de encontro, respeito e hospitalidade espiritual. Este Documento luminoso ensina-nos a encontrar os seguidores de outras religiões não como estranhos, mas como companheiros de viagem no caminho da verdade; a honrar as diferenças, afirmando a nossa humanidade comum; e a discernir, em qualquer busca religiosa sincera, um reflexo do único Mistério divino que abraça toda a criação.

Em particular, não devemos esquecer que a primeira orientação da Nostra aetate foi para o mundo judaico, com o qual São João XXIII tencionava restabelecer a relação original. Assim, pela primeira vez na história da Igreja, devia adquirir forma um tratado doutrinal sobre as raízes judaicas do cristianismo que, nos planos bíblico e teológico, representasse um ponto de não retorno. "O povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas" (NA, 4). Assim a Igreja, "lembrada do seu comum patrimônio com os judeus, e levada não por razões políticas, mas pela religiosa caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isto sucedeu e seja quem for a pessoa que isto promoveu contra os judeus" (ibid.). Desde então, todos os meus predecessores condenaram o antissemitismo com palavras claras. E assim também eu confirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e o combate, por causa do próprio Evangelho.

Hoje podemos olhar com gratidão para tudo o que foi realizado no diálogo judaico-católico nestas seis décadas. Isto não se deve apenas ao esforço humano, mas à assistência do nosso Deus que, segundo a convicção cristã, é em si mesmo diálogo. Não podemos negar que neste período houve também desentendimentos, dificuldades e conflitos que, no entanto, nunca impediram a continuação do diálogo. Também hoje não devemos permitir que as circunstâncias políticas e as injustiças de alguns nos desviem da amizade, sobretudo porque até agora conseguimos realizar muito.

O espírito da Nostra aetate continua iluminando o caminho da Igreja. Ela reconhece que todas as religiões podem refletir "um raio da verdade que ilumina todos os homens" (n. 2) e procuram respostas para os grandes mistérios da existência humana, de tal modo que o diálogo deve ser não apenas intelectual, mas profundamente espiritual. A Declaração convida todos os católicos – bispos, clero, pessoas consagradas e fiéis leigos – a participar sinceramente no diálogo e na colaboração com os seguidores de outras religiões, reconhecendo e promovendo tudo o que é bom, verdadeiro e santo nas suas tradições (cf. ibid.). Hoje isto é necessário em praticamente todas as cidades do mundo onde, devido à mobilidade humana, as nossas diversidades espirituais e de pertença são chamadas a encontrar-se e a conviver fraternalmente. A Nostra aetate recorda-nos que o verdadeiro diálogo afunda as suas raízes no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação, ao mesmo tempo que rejeita com firmeza todas as formas de discriminação ou perseguição, afirmando a igual dignidade de todos os seres humanos (cf. NA, 5).

Portanto, caros irmãos e irmãs, sessenta anos após a Nostra aetate, podemos perguntar-nos: o que podemos fazer juntos? A resposta é simples: agir juntos. Mais do que nunca, o nosso mundo precisa da nossa unidade, amizade e colaboração. Cada uma das nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o nosso planeta Terra. As nossas respectivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o serviço à humanidade, em todos os momentos. Juntos, devemos vigiar contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, assim como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo. Devemos abordar também o desenvolvimento responsável da inteligência artificial porque, se for concebida como alternativa ao humano, ela pode violar gravemente a sua dignidade infinita e neutralizar as suas responsabilidades fundamentais. As nossas tradições têm uma imensa contribuição a oferecer para a humanização da técnica e, por conseguinte, para inspirar a sua regulamentação, em defesa dos direitos humanos fundamentais.

Como todos nós sabemos, as nossas religiões ensinam que a paz começa no coração do homem. Neste sentido, a religião pode desempenhar um papel essencial. Devemos restituir a esperança à nossa vida pessoal, às nossas famílias, bairros, escolas, aldeias, países e ao nosso mundo. Esta esperança fundamenta-se nas nossas crenças religiosas, na convicção de que um mundo novo é possível.

Há sessenta anos, a Nostra aetate trouxe esperança ao mundo depois da segunda guerra mundial. Hoje somos chamados a refundamentar esta esperança no nosso mundo devastado pela guerra e no nosso ambiente natural degradado. Colaboremos, pois se estivermos unidos tudo é possível. Façamos com que nada nos divida. E, neste espírito, desejo manifestar mais uma vez a minha gratidão pela vossa presença e amizade. Transmitamos este espírito de amizade e colaboração também à geração futura, porque é o verdadeiro pilar do diálogo.

E agora, detenhamo-nos um momento em oração silenciosa: a oração tem o poder de transformar as nossas atitudes, pensamentos, palavras e ações.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/catequese-por-ocasiao-do-60o-aniversario-da-declaracao-conciliar-nostra-aetate/

A vida não obedece os nossos planos

PeopleImages.com - Yuri A | Shutterstock

Reportagem local - publicado em 06/12/16 - atualizado em 31/10/25

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se deste valioso conselho.

Existe uma expressão que diz “Quando penso que sei todas as respostas, a vida vai e muda as perguntas”; e é assim mesmo, quando menos esperamos tudo muda e as coisas tomam rumo muito diferente. Assim o é quando nos deparamos com as perdas, afinal nunca contamos com elas, não é mesmo? Perda da saúde, de entes queridos por morte ou separação, de confiança, de emprego, de sossego… Isso em relação a nós mesmos como também às pessoas que convivem conosco. Acontecimentos assim burlam nossos planos e são capazes de provocar grande insegurança, tristeza e desarmonia.

Mas o fato é que não se pode fugir das intemperanças e todos passam por momentos assim; a vida não obedece aos nossos planos e, não raras vezes, precisamos nos adequar às novas realidades. Lidar com perdas é uma das grandes dificuldades do ser humano, no entanto elas estão sempre acontecendo, fazendo parte da vida de casa um. O mais sábio, pois, e encarar a superação como um desafio constante e poderoso, capaz de nos mostrar novas oportunidades e meios diferentes de reencontrar o equilíbrio de nossas emoções. Fazer dos reveses alavanca que nos faça abandonar a zona de conforto e ir ao encontro de possibilidades diferentes é o que promove amadurecimento e evolução.

Facilita encontrar a superação quando entendemos que nada é eterno, tudo é passageiro e momentâneo, exceto nossa alma. É primordial, pois, nos livrar do apego, do desejo de manter tudo e todos. É preciso encarar a realidade de que um dia as situações e, até mesmo as pessoas se transformam e, por mais doloroso que isso possa ser, precisamos aceitar e reformular nossas vidas a partir disso. A aceitação e consequente adaptação faz parte do entendimento de que não tem mais jeito, que ocorreu mesmo a perda e a vida precisa continuar. Não estou dizendo que seja simples, longe disso; estou afirmando que é possível e que essa é, ainda, a forma menos dolorosa de encarar os fatos.

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se de manter a serenidade, não permitindo que o abalo seja ainda maior, dominando a sua mente. Procure equilibrar suas emoções de forma a aceitar o que não pode mudar e seguir em frente levando o aprendizado que certamente o fará mais forte diante dos torvelinos da vida. Encare a doença, a separação, o fim e qualquer revés como oportunidade de reflexão e mudança; certamente isso fará de você uma pessoa mais madura e preparada para a vida em toda a sua complexidade. Afinal, existem muitas alegrias a serem vivenciadas que não podem ser desvalorizadas ou preteridas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2016/12/06/a-vida-nao-obedece-os-nossos-planos/

Descartes

Cultura do descarte (ISCF)

DESCARTES

31/10/2025

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)

Não, não me refiro ao famoso René Descartes, mundialmente conhecido pela frase que, certamente, já escutamos em algum momento da vida: “Penso, logo existo” (em latim: Cogito, ergo sum). O filósofo e matemático francês viveu entre os anos 1596 e 1650. Autor do “Discurso sobre o Método”, publicado em 1637, seu pensamento deu origem à Filosofia Moderna. Evidência, análise, síntese, enumeração, racionalismo, conhecimento… 

Justamente no dia em que eu estava concluindo a leitura – agradável – da autobiografia do papa Francisco, Esperança, naquela parte onde faz referência à sua última Encíclica, a quarta de seu pontificado de 12 anos, com o título em latim: Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo, as notícias não paravam de chegar – desagradáveis – sobre as consequências da chamada “Operação Contenção”, em nossa querida e bela São Sebastião do Rio de Janeiro. “Ver avós chorarem sem que isso seja intolerável só pode ser sinal de um mundo sem coração”, afirmava o papa, referindo-se ao escândalo com o qual se confrontava “demasiadas vezes em demasiadas viagens, em demasiadas audiências, num mundo dilacerado por conflitos devastadores” (p. 348). Nas fotos estampadas no dia seguinte ao que ocorreu naquele conflito nos Complexos da Penha e do Alemão, impossível não se emocionar, sentir um “nó na garganta”, imaginando o choro daquela gente, pais, mães, avós, filhos… Intolerável! E os mortos? Anjos ou demônios? Certamente veremos “juízes” de ambos os lados! 

No sábado celebraremos a Solenidade de Todos os Santos, um dia para recordarmos nossa vocação, nosso chamado à santidade. Os santos e santas são os nossos numerosos intercessores. A eles costumamos pedir que interceda a Deus por nós. Como lemos no Apocalipse, um dos livros da Bíblia, trata-se de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Quem são esses? São os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,9.13-14). A Igreja nos propõe os exemplos dos santos para chegarmos a Deus. Mas, por sermos seus filhos e filhas, somos todos chamados à santidade! Desde as primeiras páginas da Bíblia, de várias maneiras, percebemos este chamado: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17,1); “Antes da fundação do mundo Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). E o Papa Francisco, falecido há pouco mais de seis meses, dentre tantos belos escritos deixados, presenteou-nos também com uma Exortação Apostólica sobre o chamado à santidade no mundo atual: Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai). Nesse documento ele nos recorda que não devemos pensar que os santos sejam apenas aquelas pessoas já beatificadas e canonizadas: “Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GEx 14). E o Papa Francisco nos encoraja: “Não tenhas medo […] de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (GEx 34). Nessa frase ele acaba nos dando uma definição do que seja santidade: o encontro da nossa fragilidade com a força da graça de Deus! Em outras palavras, o encontro do humano com o divino! Isso nos dá um alento e nos estimula a praticar, no dia a dia, as bem-aventuranças proferidas por Jesus (cf. Mt 5,1-12): desapego, paciência, mansidão, misericórdia, pureza de coração, paz, justiça, alegria, ousadia, ardor… Desafios! 

No domingo faremos memória de todos aqueles que já passaram por essa vida e que estão vivos em outra dimensão. Alimentamos, claro, uma saudável saudade em relação aos nossos entes queridos que já não se encontram entre nós. No entanto, fazer memória dos falecidos é também ocasião para recordarmos que a morte é certa para todos e que podemos melhor projetar nossa vida, dando espaço para refletir sobre o autêntico sentido da vida. A morte, pois, ensina-nos a viver! E Deus é o Deus da vida, não é um Deus de mortos, mas de vivos, lemos em São Marcos (12,27). O Texto Conclusivo de Aparecida, a 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, de 2007, tratando dessa questão, afirmou que devemos “neutralizar a cultura da morte com a cultura cristã da solidariedade” (DAp 480), pois não queremos “andar pelas sombras da morte” (DAp 350), mas, sim, no caminho da vida, pois “a vida é presente gratuito de Deus, dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas etapas, até a morte natural, sem relativismos” (DAp 464). O Dia de Finados, portanto, junto à memória de nossos entes queridos chamados à eternidade, nos ensina, mais uma vez, o valor da vida. E nos convoca a repudiar todo e qualquer sinal de morte em nossa vida. 

Na Exortação Apostólica do papa Leão XIV, Dilexi Te, sobre o amor para com os pobres, refletindo sobre as estruturas de pecado que criam pobreza e desigualdades extremas (n. 90-98), assim afirma: “Embora não faltem diversas teorias que tentam justificar o estado atual das coisas ou explicar que a racionalidade econômica nos exige esperar que as forças invisíveis do mercado resolvam tudo, a dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada já agora, não só amanhã, e a situação de miséria de tantas pessoas, a quem é negada esta dignidade, deve ser um apelo constante à nossa consciência” (n. 92). “A falta de equidade é a raiz dos males sociais. Com efeito, muitas vezes constata-se que, de fato, os direitos humanos não são iguais para todos” (n. 94). 

Certamente, mesmo sem ser mencionado ou compreendido, Descartes, o filósofo racionalista, com seus métodos de conhecimento, será bastante utilizado nas evidências análises, sínteses, enumerações do massacre histórico de São Sebastião do Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2025. Mas, o título deste singelo artigo quer fazer referência a um outro significado da palavra “descarte”, que nos foi aprofundada pelo saudoso papa Francisco, desde, ao menos, 2015, há 10 anos, com a sua primeira Encíclica, a Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum, a Ecologia Integral. Nas páginas finais do livro Esperança, sua autobiografia lançada no início deste ano, lemos: “Na era da inteligência artificial, não podemos esquecer que a poesia e o amor são essenciais para salvar a humanidade” (p. 349). E, querendo indicar um antídoto ou espécie de remédio para as pessoas que não amam, ou mantém um ódio inconsciente, Francisco afirma que “o oposto mais comum ao amor de Deus, à compaixão de Deus, à misericórdia de Deus é a indiferença. Para aniquilar um homem ou uma mulher, basta ignorá-los. A indiferença é uma agressão. A indiferença pode matar. O amor não tolera indiferença” (p. 357). 

A cultura do descarte, que diz respeito não apenas aos alimentos e aos bens de consumo, mas, antes de tudo, às pessoas que são marginalizadas por sistemas tecnoeconômicos em cujo centro, mesmo sem percebermos, muitas vezes não está mais a humanidade, mas seus produtos, essa cultura do descarte só pode ser superada pela educação à fraternidade e à solidariedade concreta, recorda Francisco (p. 358). 

Que não fiquemos indiferentes aos tantos descartes que fazemos em nosso dia a dia, uma cultura que, de modo urgente, deve mudar. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: Newman, Doutor da Igreja, luz para as novas gerações

Papa Leão XIV na Solenidade de Todos os Santos 2025 (Vatican Media)

Na Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. A celebração foi realizada neste sábado, 1º de novembro, na Praça São Pedro.

Vatican News

Na manhã deste sábado, 1º de novembro, Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV presidiu a celebração da Santa Missa na Praça São Pedro, na qual inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, ao mesmo tempo, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. Até hoje os Doutores da Igreja são 37, entre os quais 4 mulheres, com São John Newman serão 38.

O mais novo Doutor da Igreja, São John Henry Newman   (@Vatican Media)

Inspirar as novas gerações

O Papa Leão apresentou o novo Doutor da Igreja afirmando: "a imponente estatura cultural e espiritual de Newman servirá de inspiração para as novas gerações com o coração sedento de infinito, disponíveis a realizar, através da pesquisa e do conhecimento, aquela viagem que, como diziam os antigos, nos faz passar per aspera ad astra, ou seja, através das dificuldades até aos astros".

Escolas: laboratórios de profecias

Depois de afirmar que a vida dos santos testemunha-nos que é possível viver com paixão na complexidade do tempo presente sem deixar de lado o mandato apostólico, dirigindo-se aos educadores e às instituições educativas disse: “o Jubileu é uma peregrinação na esperança e todos vós, no vasto campo da educação, sabeis bem o quanto a esperança é uma semente indispensável! Quando penso nas escolas e nas universidades, penso nelas como laboratórios de profecia, onde a esperança é vivida e continuamente narrada e reproposta”.

Evangelho das Bem-aventuranças

Leão falou em seguida sobre o sentido do Evangelho das Bem-aventuranças hoje proclamado. “As Bem-aventuranças trazem consigo uma nova interpretação da realidade. São o caminho e a mensagem de Jesus educador. À primeira vista, parece impossível declarar bem-aventurados os pobres, aqueles que têm fome e sede de justiça, os perseguidos ou os que promovem a paz. Mas o que parece inconcebível na gramática do mundo, enche-se de sentido e luz na proximidade do Reino de Deus”. Continuando sobre o tema disse ainda: “As Bem-aventuranças não são um ensinamento entre tantos: são o ensinamento por excelência. Da mesma forma, o Senhor Jesus não é um entre tantos mestres, é o Mestre por excelência. Mais ainda, é o Educador por excelência. Nós, seus discípulos, encontramo-nos na sua escola, aprendendo a descobrir na sua vida, ou seja, no caminho por Ele percorrido, um horizonte de sentido capaz de iluminar todas as formas de conhecimento”. 

Não ao pessimismo

“Os desafios atuais podem parecer, por vezes, superiores às nossas forças, mas não é assim”, afirmou o Santo Padre reiterando, “não permitamos que o pessimismo nos vença!”. Citando o Papa Francisco recordou suas palavras sobre o pessimismo quando afirmava que “devemos trabalhar juntos para libertar a humanidade da escuridão do niilismo que a rodeia e que é, talvez, a doença mais perigosa da cultura contemporânea, pois ameaça ‘anular’ a esperança”. A referência à noite que nos rodeia, disse o Papa, recorda-nos um dos textos mais conhecidos de São John Henry, o hino “Luz terna, suave, leva-me mais longe”. Nessa linda oração, percebemos que estamos longe de casa, que temos pés vacilantes, que não conseguimos decifrar claramente o horizonte. Mas nada disso nos detém, porque encontrámos o nosso Guia: Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe”.

Tarefa da educação

É tarefa da educação oferecer esta Luz Terna àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas particularmente insidiosas sombras do pessimismo e do medo” reiterou Leão. “Por isso, gostaria de vos dizer: desarmemos as falsas razões da resignação e da impotência e façamos circular no mundo contemporâneo as grandes razões da esperança”. Encorajando os presentes: “Encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz”.

Percurso educativo

São John Henry escreveu: “Deus criou-me para lhe prestar um serviço específico. Confiou-me uma tarefa que não confiou a outros. Tenho uma missão: talvez não a chegue a conhecer nesta vida, mas ela ser-me-á revelada na vida futura”. “Nestas palavras”, disse o Papa, “encontramos expresso, de um modo esplêndido, o mistério da dignidade de cada pessoa humana e também o da variedade dos dons distribuídos por Deus” Explicando em seguida:

A vida ilumina-se não porque somos ricos, bonitos ou poderosos. Ela ilumina-se quando uma pessoa descobre dentro de si esta verdade: sou chamado por Deus, tenho uma vocação, tenho uma missão, a minha vida serve para algo maior que eu próprio!” (...) “Não o esqueçamos: no centro dos percursos educativos não devem estar indivíduos abstratos, mas pessoas de carne e osso, especialmente aquelas que parecem não render, segundo os parâmetros de uma economia que exclui e mata. Somos chamados a formar pessoas, para que brilhem como astros em toda a sua dignidade”. Concluindo em seguida: “Portanto, podemos afirmar que a educação, na perspectiva cristã, ajuda todos a tornarem-se santos. Nada menos do que isso”.

“Rezo para que a educação católica ajude cada um a descobrir a sua vocação à santidade. Santo Agostinho, que São John Henry Newman tanto apreciava, disse uma vez que todos nós somos companheiros de estudo com um único Mestre, cuja escola se encontra na terra, mas cuja cátedra está no céu.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LIVROS: Mestre e discípulo: ausentes da chamada (Parte 2/2)

As imagens deste artigo foram retiradas do livro Les doigts pleins d'encre, de Robert Doisneau e Cavanna | 30Giorni

LIVROS

Arquivo 30Dias nº 01/02 - 2006

Mestre e discípulo: ausentes da chamada

Giulio Ferroni discute o livro de Massimo Borghesi, "O Sujeito Ausente: Educação e Escola entre Memória e Niilismo". O livro "toca no cerne fundamental da educação, que deveria ser um diálogo aberto e concreto entre o professor, um guardião vigilante e sensível de uma tradição, e o aluno, consciente de seu próprio distanciamento dessa tradição, mas ansioso por se aproximar dela". Resenha

Por Giulio Ferroni

O "vento do abstrato"

Não me parece, contudo, que, como sugere o autor, as origens de tudo isso devam ser atribuídas ao Iluminismo, que foi algo muito mais aberto e contraditório, também permeado por um aguçado senso de concretude e experiência, e cujo legado é, em última análise, atacado e dissolvido precisamente pela desrealização e virtualização que reduzem a cultura a uma mercadoria e a um espelho publicitário. Para além das suas origens históricas, a reflexão de Borghesi visa, no entanto, destacar astutamente o "quadro teórico" no qual a deriva escolástica existe hoje; e traça os efeitos que esse quadro criou no próprio ensino, as formas como operou na própria prática das humanidades. 

A este respeito, parece-lhe claro que as tendências de ensino que prevaleceram desde a década de 1970, e que foram posteriormente promovidas de diversas maneiras pelas práticas de formação continuada e por várias reformas, espalharam um verdadeiro "vento de abstração" pelas escolas, distanciando as disciplinas históricas, literárias e filosóficas da sua relação com a concretude da vida, do horizonte da narrativa, do encontro e do diálogo. O uso que se faz das chamadas "ciências humanas" tem, de facto, dado um impulso fundamental a esta invasão da abstração: o conteúdo concreto tem sido contraposto por estruturas, a existência real por motivações subterrâneas e a narração de acontecimentos por projeções a longo prazo. 

As experiências transmitidas pelas humanidades, os seus dados vitais e existenciais, foram desconstruídos; E isso pesou particularmente sobre os manuais, que se expandiram cada vez mais e, ao mesmo tempo, se distanciaram de uma relação viva com os textos, privando-os de corpo e realidade, com a pretensão de desenterrar o que jaz sob sua realidade, chegando a um niilismo definitivo, à redução a mercadoria de todos os aspectos da experiência. 

A negação da tradição, sua redução a mero inventário, repertório e arquivo externo, resultou em uma desestruturação do sujeito, um distanciamento do eu e da experiência pessoal do cenário didático: com toda uma série de paradoxos que Borghesi destaca com grande clareza e que parecem culminar no fato de que, por um lado, a cultura transmitida pela escola, "fundamentada na abolição do eu, está em solidariedade com o niilismo predominante, em solidariedade com a ideia da mercantilização integral da vida", e, por outro, pede-se às escolas "que reajam à degradação, que ofereçam modelos positivos, que respondam às emergências sociais por meio de cursos sobre drogas, meio ambiente, educação sexual, segurança no trânsito, saúde, etc."»; em suma, acabamos por pedir «à escola uma consciência ética, “humanista”, precisamente no momento em que ela se torna o local de sepultamento dessa tradição».

Realismo e a Experiência da Positividade do Mundo

A resposta a essa situação, portanto, não reside em preencher a escola com tarefas incongruentes, em transformá-la numa espécie de agência social indefinida, que aceita e se submete a todas as demandas contraditórias da economia e da cultura de massa (como as mais diversas intervenções reformistas lhe impuseram e continuam a impor), mas num apelo para destacar a concretude da relação professor-aluno, para redescobrir o significado da tradição, que não representa simplesmente a persistência do passado, mas o “ lugar de atestação da realidade como digna de ser ”, um lugar de reconhecimento do valor da realidade e um instrumento da relação do sujeito com o mundo real. 

A abstração que domina a cultura contemporânea se contrapõe aqui a um realismo , num sentido forte, “dantesco”, como experiência da positividade do mundo, a atualização da memória na temporalidade da narrativa, a necessidade do encontro, um evento que, em sua manifestação, projeta a possibilidade de valorização e redenção . Esses termos são enquadrados e projetados dentro de uma perspectiva cristã, um cristianismo "cristão" que afirma a concretude da vida, que concebe a historicidade sob a égide do encontro com o outro e como um evento (e que encontra pontos de referência essenciais em pensadores tão diversos quanto Rosenzweig, Guardini, Ricoeur e nos ensinamentos de Luigi Giussani). Esse horizonte cristão também oferece insights essenciais para a cultura secular, para toda perspectiva marcada pela necessidade de autenticidade e concretude, pelo respeito à realidade e à vida, por um afastamento da abstração e do niilismo contemporâneos.

As imagens deste artigo foram retiradas do livro Les doigts pleins d'encre, de Robert Doisneau e Cavanna | 30Giorni

Quanto a mim, sinto que posso endossar muitas das observações específicas que emergem do quadro educacional delineado por Borghesi e que ele apresenta com grande coerência e clareza: como a da contradição entre uma historiografia inteiramente focada em estruturas de longo prazo (no modelo dos Annales ) para os séculos passados ​​e, em vez disso, totalmente confiada ao "estatuto 'tradicional' da história ético-política" para o século XX; ou a da semente de esperança contida na "memória aberta ao presente e ao futuro", que atua na direção da redenção , e não na direção enganosa da utopia ; ou ainda a da oposição entre a experiência autêntica e o experimentalismo de vanguarda, em que este último, a busca indefinida pelo novo, dá origem a "um processo exaustivo no qual o sujeito se nega e se persegue por trás de máscaras, de tempos em tempos, imaginadas". 

Todas as observações são perspicazes sobre as várias formas de niilismo contemporâneo, sobre os desastres que ele causa na educação, precisamente por negar a positividade das relações, o valor da realidade, a consistência do sujeito e o encontro entre sujeitos que constitui a autêntica relação educativa. Transitando entre ética, estética, hermenêutica e literatura, este livro aborda as questões críticas da condição contemporânea e sugere uma perspectiva cultural e humana que se opõe a muitas dessas questões. 

Mostra como as razões para a crise atual nas escolas devem ser buscadas em profundidade e como não é possível encontrar uma resposta na engenharia reformista, em abstrações pedagógicas ou em defesa programática — que, precisamente por sua natureza contraditória, acabam por amplificar a crise, tornando seus efeitos mais destrutivos e talvez incuráveis. Só podemos supor que a imagem "positiva" da relação educativa aqui sugerida se reflita atualmente apenas em contextos parciais, no trabalho de professores conscientes da sua missão, da sua tarefa humana e cultural, dotados de profunda cultura e sensibilidade, capazes de resistir até ao fim aos cantos de sereia da pós-modernidade. 

Mas as condições da sociedade e das escolas, a importância das tecnologias de virtualização e desrealização na atualidade, as formas como as gerações mais jovens são educadas, o domínio cada vez mais invasivo dos meios de comunicação e do panorama da publicidade televisiva, o atual colapso das universidades (e, dentro delas, dos cursos de licenciatura em humanidades), tornam particularmente difícil a formação e o desenvolvimento de tais consciências educativas num futuro próximo; receio que se justifique uma dose adicional de pessimismo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Arcebispo Gänswein retoma alerta de Bento XVI sobre ditadura do relativismo

O arcebispo Georg Gänswein fala numa conferência sobre a Declaração de Šiluva em Šiluva, Lituânia, em 4 de setembro de 2024. | Juozas Kamenskas

Por Bryan Lawrence Gonsalves*

30 de out de 2025 às 09:31

Vinte anos depois de o então cardeal Joseph Ratzinger ter falado sobre uma “ditadura do relativismo” na véspera de sua eleição como papa Bento XVI, seu ex-secretário, o arcebispo Georg Gänswein, reafirmou esse alerta nem uma conferência recente na Lituânia.

Gänswein, que foi prefeito da Casa Pontifícia e secretário pessoal do papa Bento XVI por muitos anos, inspirou-se profundamente na filosofia do papa alemão ao fazer o discurso de abertura da conferência deste ano, que reuniu acadêmicos, líderes cívicos, intelectuais públicos e clérigos para discutir os princípios da Declaração de Šiluva, de 2021.

A declaração defende a proteção dos direitos humanos fundamentais, o fomento da virtude e a promoção do bem comum da sociedade. Ela reconhece a importância de uma sociedade construída sobre os pilares da verdade, dos valores familiares, da dignidade humana e da fé em Deus, e desde então tornou-se uma referência moral para pensadores sociais católicos na Lituânia.

A palestra de Gänswein ofereceu uma rica reflexão filosófica e teológica sobre fé, razão e relativismo, aspectos que ele disse ser um “tema constante na obra de Ratzinger”. O arcebispo, que agora é núncio nos Estados bálticos, disse que quando a fé ou a razão são enfraquecidas, isso inevitavelmente leva a “patologias e à desintegração da pessoa humana”.

Esta é a terceira conferência dedicada à reflexão sobre a Declaração de Šiluva, publicada em 12 de setembro de 2021, no festival mariano anual da cidade. Šiluva tem um santuário mariano dedicado a uma das primeiras aparições de Nossa Senhora reconhecidas na Europa.

O arcebispo de Kaunas, Lituânia, Kęstutis Kėvalas, fez o discurso de abertura da conferência, exortando à vigilância contra as tentações de fazer experimentos com a natureza e a dignidade humanas. Ele disse também às pessoas presentes que o santuário mariano em Šiluva simboliza a fidelidade à ordem divina na criação.

“O lugar sagrado de Šiluva convida ao respeito pela ordem que o Criador deu a este mundo”, disse ele.

Gänswein disse que, diante dos grandes desafios da atualidade, como o pensamento tecnológico e a globalização, o primeiro passo deve ser recuperar a plenitude da razão. Ele descreveu a verdadeira razão como inerentemente verídica, contrastando-a com o relativismo, que chamou de “uma expressão de pensamento fraco e limitado… baseado no falso orgulho de acreditar que os humanos não podem reconhecer a verdade e na falsa humildade de se recusar a aceitá-la”.

“A verdade nos liberta”, disse Gänswein, fazendo referência ao Evangelho de são João 8:32 e dizendo que a verdade serve como padrão pelo qual os seres humanos devem se medir e que abraçá-la requer humildade.

Gänswein concluiu dizendo que o relativismo — mentalidade que define a modernidade, que ele descreveu como “um veneno rastejante” — acaba minando a liberdade humana. Impulsionado pela autossuficiência e amplificado pelas redes sociais, o relativismo cega as pessoas para a verdade e para o seu propósito último.

O verdadeiro objetivo da humanidade, disse ele, é “chegar ao conhecimento da verdade, que é Deus, e assim alcançar a vida eterna”. Seu discurso foi recebido com aplausos prolongados.

A conferência também teve várias palestras instigantes sobre a identidade moral e política da Lituânia, os desafios da democracia liberal, as mudanças sociais pós-soviéticas e o papel da fé e da família na vida pública. A conferência foi encerrada com um painel de discussão sobre a direção moral da Europa, a liberdade de expressão e a renovação dos valores cristãos na sociedade.

O arcebispo de Vilnius, Lituânia, Gintaras Gruša, falou sobre as palavras do papa Leão XIV de que a Igreja “nunca pode ser eximida do dever de dizer a verdade sobre o homem e o mundo, usando, quando necessário, até mesmo uma linguagem dura que possa inicialmente causar mal-entendidos”. Ele enfatizou que todos os cristãos, inclusive aqueles na vida pública, têm o dever de defender a verdade, que ele descreveu como “não uma ideia abstrata, mas um caminho ao longo do qual uma pessoa descobre a verdadeira liberdade”.

A conferência foi organizada em conjunto pelo grupo cívico lituano Laisvos visuomenės institutas (Instituto de uma Sociedade Livre), pelo Sindicato dos Trabalhadores Cristãos da Lituânia e pela Faculdade de Teologia Católica da Universidade Vytautas Magnus.

*Bryan Lawrence Gonsalves é um apologista e ensaísta nascido nos Emirados Árabes Unidos, que atualmente vive na Lituânia. Seu trabalho se concentra na doutrina social católica, teologia, dignidade humana e questões sociais contemporâneas.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65231/arcebispo-ganswein-retoma-alerta-de-bento-xvi-sobre-ditadura-do-relativismo

CIÊNCIA: As crianças estão perdendo suas habilidades motoras?

Uma criança empilha blocos de plástico, praticando a coordenação necessária para tarefas como amarrar os sapatos ou usar uma tesoura. Atividades como essa estão se tornando menos comuns à medida que as telas e a conveniência remodelam as experiências da primeira infância, dizem os especialistas.

Foto de Alvils StrikerisSHUTTERSTOCK

Ciência

As crianças estão perdendo suas habilidades motoras? As telas podem ser as culpadas

Desde fechar zíperes até virar as páginas de um livro, tarefas simples estão se tornando desafios para uma geração criada com tablets. Conheça aqui o que os pais precisam saber para ajudar.

Por Teal Burrell

Publicado 10 de out. de 2025, 16:58 BRT

professora Amy Hornbeck percebe que algo está errado assim que seus alunos entram na sala de aula. Antes, as crianças chegavam com os bolsos cheios de pedras, brinquedos e bugigangas coletadas durante aventuras ao ar livre

Agora, elas chegam com os olhos grudados nas telas dos celulares ou dos tablets. E isso é evidente em outras tarefas do dia a dia das crianças: elas não conseguem fechar o zíper dos casacos, virar as páginas de um livro ou até mesmo segurar uma colher corretamente.

Hornbeck não é a única a perceber essas mudanças. Uma pesquisa recente da Education Week (principal evento que debate a educação nos Estados Unidos) descobriu que 77% dos educadores relataram que os jovens alunos têm mais dificuldade em manusear lápiscanetas e tesouras. Em comparação, 69% observaram um aumento nas dificuldades para amarrar os sapatos em relação a cinco anos atrás.

“É como se eles nunca tivessem visto um bloco de brinquedo de montar”, diz Hornbeck, instrutora das Escolas Públicas de Beverly City, em Nova Jersey (Estados Unidos), descrevendo como as crianças se atrapalham quando solicitadas a empilhar apenas três blocos. “O que eles fazem com o bloco depois que você mostra o que fazer é impressionante.”

As crianças de hoje estão perdendo habilidades motoras finas essenciais — os movimentos pequenos e precisos necessários para amarrar um cadarço, escrever com uma caneta ou construir uma torre. Especialistas apontam uma combinação complexa de tempo de telahábitos diferentes e uma mudança nas experiências da infância como os culpados. 

National Geographic traz aqui o que os pais precisam saber para ajudar seus filhos e evitar esse problema.

As crianças brincam ao ar livre em uma escola de imersão na natureza em Portland, Oregon, onde escalar, cavar e explorar ajudam a desenvolver habilidades motoras finas.

Foto de Lynn JohnsonNat Geo Image Collection

O papel da pandemia no atraso de algumas habilidades motoras 

É fácil culpar a pandemia de Covid-19 por essa diminuição nas habilidades motoras finas. Um estudo com mais de 250 bebês nascidos no primeiro ano da pandemia descobriu que eles tiveram pontuações mais baixas em testes de motricidade fina aos seis meses de idade do que bebês nascidos antes da pandemia.

Lauren Shuffrey, que realizou o estudo e agora é professora da NYU Grossman School of Medicine, nos Estados Unidos, diz que é difícil saber se os resultados são decorrentes do aumento do estresse pré-natal ou do ambiente diferente que os bebês da pandemia experimentaram nos primeiros meses de vida.

Ficar em casa com pais que trabalham também levou ao aumento do tempo de tela para crianças de todas as idades — um fator relacionado a atrasos nas habilidades motoras finas. “Os pais fizeram o que tinham que fazer em circunstâncias menos que ideais”, afirma Shuffrey.

No entanto, Steven Barnett, codiretor do Instituto Nacional de Pesquisa em Educação Infantil da Universidade Rutgers, também nos Estados Unidos, acredita que essa tendência é anterior à pandemia. “Isso já vem acontecendo há muito tempo”, comenta ele, sugerindo que a pandemia pode ter acelerado um problema já existente.

Como as telas estão substituindo as brincadeiras práticas e manuais dos pequenos?

O tempo passado diante das telas — sejam celulares, tablets, eBooks ou TV — é tempo que as crianças não se dedicam a atividades manuais, como brincar com blocos, bonecos, artesanato, desenho e construção. 

Embora aprender matemática ou criar arte digital possa ser educativo, isso não desenvolve o controle motor fino que vem da escrita à mão, do recorte ou de desenhar e colorir.

As brincadeiras ao ar livre, que são cruciais para o desenvolvimento motor fino e grosso, também estão diminuindo. “As crianças não estão mais cavando na terracolhendo flores, todas as coisas interessantes que elas poderiam fazer por conta própria”, explica Barnett.

conveniência na criação dos filhos também afetou o desenvolvimento de habilidades, diz Hornbeck. Calças elásticas sem zíperes ou botões economizam tempo nas manhãs agitadas, e lanches pré-embalados eliminam a bagunça — mas esses atalhos privam as crianças de oportunidades de praticar fechar zíperes, abotoar botões ou usar talheres.

As preferências das crianças por brinquedos também mudaram, afirma Hornbeck. Peças magnéticas, que se encaixam facilmente, substituíram quebra-cabeças e blocos de madeira, que exigem muito mais paciência e precisão

E em três das quatro salas de aula que Hornbeck observou, nenhuma criança se aventurou na área de leitura durante um período de três horas. “Essa é uma grande mudança”, diz ela. “No passado, não era assim, ninguém queria ir para a área dos livros.”

Crianças brincando ao ar livre nadam na costa da vila de Rose, em Montenegro.

Foto de Eric MartinFigarophotoRedux

Esse declínio reflete uma tendência mais amplaler por prazer tornou-se muito menos comum entre as crianças de quase todo o mundo, de acordo com dados da Pew Research. Embora virar as páginas de um livro possa parecer uma tarefa menor, Hornbeck observa que a capacidade mais ampla de se concentrar e seguir instruções — habilidades estimuladas pela leitura — é fundamental para atividades como fechar um zíper ou amarrar um cadarço.

Essa mudança não afeta apenas a alfabetização, mas também tem efeitos em cadeia em habilidades como capacidade de atenção e concentração, que são essenciais para o desenvolvimento motor fino. “O nível de frustração com tarefas simples está realmente aumentando”, revela Hornbeck. “Isso faz com que as crianças simplesmente queiram desistir e não fazer.”

Barnett acrescenta que a diminuição da capacidade das crianças de se concentrarem em uma tarefa, especialmente aquelas que exigem esforço, é um fator-chave para o declínio das habilidades motoras finas

Veja os quebra-cabeças, por exemplo. Para montar um, é preciso ter estratégia, virar as peças e tentar várias vezes até acertar. Mas Hornbeck diz: “Muitas crianças simplesmente dizem ‘Não’. Elas estão acostumadas a jogar no computador, que gira as peças para elas.” Ela acrescenta: “Os tablets oferecem muito mais apoio imediato do que na vida real.”

Como reconstruir as habilidades motoras finas das crianças?

Hornbeck sugere que os pais procurem oportunidades para desafiar seus filhos e insiram atividades motoras finas nas tarefas diárias. Como cozinhar juntos, procurem pedras no caminho para a escola, encham copos e apertem esponjas no banhoDesenhar ou pintar alguma coisa também é interessante.

E percebam que essas atividades não podem competir com uma tela. “Você encontrará mais resistência se desligar a televisão e disser: ‘Agora é hora de ler’”, comenta Hornbeck. Para evitar a briga, faça a atividade primeiro e não ligue a tela.

Barnett concorda. “Tire-os das telas”, diz ele. “As crianças estão tentando pegar livros. Isso é um sinal.”

Fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2025/10/as-criancas-estao-perdendo-suas-habilidades-motoras-as-telas-podem-ser-as-culpadas

Leão XIV: valorizar a contribuição que professores e educadores oferecem à comunidade

Jubuleu do Mundo Educativo, 31/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

O Papa reuniu-se com quinze mil professores e alunos, na Praça São Pedro, para o Jubileu do Mundo Educativo. Ele exortou os professores a entrarem em contato com a "interioridade" de seus alunos, pois sem um encontro profundo com eles, "qualquer proposta educativa está destinada ao fracasso". "Estejamos atentos: desmerecer o papel social e cultural dos formadores é hipotecar o próprio futuro, e uma crise na transmissão do saber traz consigo uma crise de esperança", disse Leão XIV.

https://youtu.be/PRQq7MdouyM

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Leão XIV encontrou-se com os educadores, na Praça São Pedro, nesta sexta-feira (31/10), no âmbito do Jubileu do Mundo Educativo em andamento. Participaram quinze mil pessoas entre professores e alunos.

Em seu discurso, o Santo Padre manifestou alegria de encontrar "educadores vindos de todo o mundo e envolvidos em todos os níveis de ensino, desde o básico até à universidade".

Como sabemos, a Igreja é Mãe e Mestra, e vós contribuís para encarnar o seu rosto para tantos alunos e estudantes a cuja educação vos dedicais. Na verdade, graças à luminosa constelação de carismas, metodologias, pedagogias e experiências que representais, e graças ao vosso compromisso “polifónico” na Igreja, Diocese, Congregações, Institutos religiosos, associações e movimentos, garantis a milhões de jovens uma formação adequada, dando sempre centralidade ao bem da pessoa, na transmissão do saber humanístico e científico.

O Papa disse que "foi professor nas instituições educativas da Ordem de Santo Agostinho", e partilhou sua experiência, retomando quatro aspectos da doutrina do "Doctor Gratiae" que ele considera fundamentais para a educação cristã: a interioridade, a unidade, o amor e a alegria. "São princípios que gostaria que se tornassem os pilares de um caminho a percorrer juntos, fazendo deste encontro o início de um percurso comum de crescimento e enriquecimento recíprocos", sublinhou.

Encontro profundo entre as pessoas

Sobre a interioridadeSanto Agostinho diz que «o som das nossas palavras atinge os ouvidos, mas o verdadeiro mestre está dentro» e acrescenta: «Aqueles a quem o Espírito não instrui internamente, vão-se sem ter aprendido nada».

De acordo com Leão XIV, Santo Agostinho nos lembra "que é um erro pensar que para ensinar bastem palavras bonitas ou boas salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Estes são apenas meios e espaços físicos, certamente úteis, mas o Mestre está dentro. A verdade não circula através de sons, muros e corredores, mas no encontro profundo entre as pessoas, sem o qual qualquer proposta educativa está destinada ao fracasso".

"Vivemos num mundo dominado por telas e filtros tecnológicos muitas vezes superficiais, no qual os alunos precisam de ajuda para entrar em contato com a sua interioridade. E não só eles", frisou o Papa, lembrando que "também para os educadores, frequentemente cansados e sobrecarregados com tarefas burocráticas, é real o risco de esquecer o que São John Henry Newman sintetizou com a expressão: cor ad cor loquitur (“o coração fala ao coração”) e que Santo Agostinho recomendava, dizendo: «Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem»".

“São expressões que convidam a olhar para a formação como uma estrada na qual professores e discípulos caminham juntos, conscientes de não procurar em vão, mas, ao mesmo tempo, de ter de continuar a procurar, depois de ter encontrado. Só este esforço humilde e partilhado – que nos contextos escolares se configura como projeto educativo – pode levar alunos e professores a aproximarem-se da verdade.”

Estímulo para o crescimento

A seguir, o Papa falou sobre a unidade, recordando o seu lema: In Illo uno unum (Em Cristo, somos um). "Também esta é uma expressão agostiniana que nos lembra que só em Cristo encontramos verdadeiramente a unidade, como membros unidos à Cabeça e como companheiros de viagem no caminho de contínua aprendizagem da vida", sublinhou.

Segundo o Papa, "esta dimensão do “com”, constantemente presente nos escritos de Santo Agostinho, é fundamental nos contextos educativos, como desafio a “descentrar-se” e como estímulo para o crescimento".

“Por esta razão, decidi retomar e atualizar o projeto do Pacto Educativo Global, que foi uma das intuições proféticas do Papa Francisco, meu venerado predecessor. Afinal, como ensina o Mestre de Hipona, o nosso ser não nos pertence: «A tua alma – diz ele – […] já não é tua, mas de todos os irmãos». E se isso é verdade em sentido geral, é-o ainda mais na reciprocidade típica dos processos educativos, nos quais a partilha do saber não pode deixar de se configurar como um grande ato de amor.”

Não desmerecer o papel social e cultural dos formadores

A seguir, passou para a terceira palavra: amor. "Um dístico agostiniano faz-nos refletir sobre isso: «O amor a Deus é o primeiro na ordem dos preceitos, o amor ao próximo é o primeiro na ordem da execução»".

"No campo da formação, cada um poderia perguntar-se qual é o compromisso empregado para atender às necessidades mais urgentes, como o esforço para construir pontes de diálogo e paz também dentro das comunidades docentes, como a capacidade de superar preconceitos ou visões limitadas, como a abertura nos processos de coaprendizagem, como o esforço para ir ao encontro dos mais frágeis, pobres e excluídos, respondendo às suas necessidades", disse Leão XIV, acrescentando:

“Partilhar o conhecimento não é suficiente para ensinar: é preciso amor. Só assim o conhecimento, não apenas em si mesmo, mas sobretudo pela caridade que transmite, será proveitoso para quem o recebe. O ensino jamais pode ser separado do amor: uma dificuldade atual das nossas sociedades a este respeito é a de não saber mais valorizar suficientemente a grande contribuição que professores e educadores oferecem à comunidade. Estejamos atentos: desmerecer o papel social e cultural dos formadores é hipotecar o próprio futuro, e uma crise na transmissão do saber traz consigo uma crise de esperança.”

A inteligência artificial pode isolar os alunos isolados

Por fim, última palavra-chave: alegria. De acordo com o Papa, "os verdadeiros mestres educam com um sorriso e o seu desafio é conseguir despertar sorrisos no fundo da alma dos seus discípulos".

“Hoje, nos nossos contextos educativos, é preocupante ver crescer em todas as idades os sintomas de uma fragilidade interior generalizada. Não podemos fechar os olhos diante destes silenciosos pedidos de ajuda; pelo contrário, devemos esforçar-nos para identificar as suas razões mais profundas. A inteligência artificial, em particular, com o seu conhecimento técnico, frio e padronizado, pode isolar ainda mais os alunos já isolados, dando-lhes a ilusão de não precisarem dos outros ou, pior ainda, a sensação de não serem dignos de estar com eles.”

Leão XIV disse que "o papel dos educadores, por outro lado, é um compromisso humano, e a própria alegria do processo educativo é totalmente humana". Concluiu, convidando-os a fazer da interioridade, unidade, amor e alegria os “pontos cardeais” de sua missão para com os seus alunos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

LIVROS: Mestre e discípulo: ausentes da chamada (Parte 1/2)

As imagens deste artigo foram retiradas do livro Les doigts pleins d'encre, de Robert Doisneau e Cavanna | 30Giorni

LIVROS

Arquivo 30Dias nº 01/02 - 2006

Mestre e discípulo: ausentes da chamada

Giulio Ferroni discute o livro de Massimo Borghesi, "O Sujeito Ausente: Educação e Escola entre Memória e Niilismo". O livro "toca no cerne fundamental da educação, que deveria ser um diálogo aberto e concreto entre o professor, um guardião vigilante e sensível de uma tradição, e o aluno, consciente de seu próprio distanciamento dessa tradição, mas ansioso por se aproximar dela". Resenha.

Por Giulio Ferroni

As condições de uma escola que parece condenada a uma crise sem fim, continuamente posta em causa por reformas que, em vez de a revitalizarem, parecem produzir mais desvios e lacerações, deram origem a inúmeras intervenções: propostas de modelos pedagógicos, lamentos e melancolias de professores, cadernos de lamentações , perspectivas críticas, etc.

Mas pode-se ter a impressão de que quase todos os livros sobre educação produzidos pelas editoras permanecem muito ancorados no particular, ou quase nunca conseguem conectar a crise da educação com o contexto cultural e antropológico mais amplo: programas e propostas, críticas e denúncias raramente confrontam as contradições do sistema escolar com a influência dos modelos culturais dominantes, raramente conseguem identificar a conexão que liga a perda de prestígio, vigor e capacidade educativa da escola às questões teóricas e aos modos de interação do universo cultural em que estamos imersos, que convencionalmente definimos como "pós-moderno".

Essas intervenções geralmente parecem se dirigir a um grupo social considerado solidário, oferecendo dados críticos e modelos pedagógicos considerados adequados a uma noção abrangente do mundo e da cultura contemporâneos; ao criticar o presente ou sugerir medidas corretivas, ao defender ou condenar reformas, elas se referem, no entanto, ao que acreditam serem as necessidades compartilhadas da sociedade contemporânea. Eles afirmam estar em consonância com as demandas da cultura atual, concebida como um todo único e homogêneo que não recebe respostas adequadas, mas ao qual eles pretendem responder. 

Em suma, aqueles que escrevem sobre a escola parecem sempre presumir que ela está falhando porque não corresponde aos níveis culturais e comportamentais exigidos pelos valores e perspectivas atuais. Nas reflexões pedagógicas, esses aspectos quase nunca são discutidos; são tomados como certos, concebidos como algo homogêneo e, portanto, diligentemente buscados; e, de uma forma ou de outra, tentam pintar a imagem de uma escola capaz de responder a esses valores e perspectivas. A pedagogia e a própria crítica pedagógica quase sempre ignoram um engajamento crítico com a cultura contemporânea como um todo, ocultam suas contradições e evitam questionar a própria natureza do universo ao qual a escola deveria responder.

Não questionam os fundamentos e modelos que impulsionam as demandas que a sociedade faz à própria escola; geralmente carecem de uma perspectiva filosófica ou se referem genericamente a modelos filosóficos, ideológicos, antropológicos e psicológicos que nunca foram totalmente discutidos e fundamentados.

Massimo Borghesi, O Sujeito Ausente: Educação e Escola entre Memória e Niilismo, Itaca, Castel Bolognese (Ravena), 2005, 172 pp. | 30Giorni

O livro de Massimo Borghesi, O Sujeito Ausente: Educação e Escola entre Memória e Niilismo (Itaca, 2005, €15,00), que revisita, reelabora e expande, com um novo prefácio , o volume Memória Evento Educação, publicado em 2002 , parece particularmente recomendável . Isso se deve precisamente ao fato de que nele o problema da educação e a crise atual nas escolas são rastreados até um ponto crucial da filosofia: os modelos culturais difundidos que dominam nossas sociedades, essa cultura da aparência, da exterioridade, do hedonismo e do niilismo consumista que domina o cenário atual e que frequentemente acusa as escolas de não estarem à altura do presente, de serem muito "elitistas" e muito distantes da vida, ou melhor, daquilo que hoje se acredita ser e deveria ser. 

prefácio do livro enfatiza claramente que "a crise atual reside não tanto no declínio de uma imagem 'elitista' da escola, como frequentemente se lamenta, mas na 'desconstrução' de uma tradição cultural que levou a uma dupla ausência : a do professor-mestre e a do aluno-discípulo". Isso toca no cerne fundamental da educação, que deveria ser um diálogo aberto e concreto entre o professor , o guardião vigilante e sensível de uma tradição (por mais complexa, heterogênea e fragmentada que seja), e o aluno , consciente de seu próprio distanciamento dessa tradição e, ao mesmo tempo, ansioso por se aproximar dela, por torná-la parte de seu presente, por meio do contato, da troca, do encontro e, possivelmente, do conflito com o professor. E demonstra-se que o atual declínio da educação, sua perda de eficácia, ligada à própria perda de prestígio social das escolas e de seus professores, remonta a uma característica determinante da cultura difundida, a um universo de comunicação no qual se trava uma guerra total contra a continuidade da tradição, no qual esquemas, comportamentos e modelos teóricos baseados na transgressão, na inversão e na provocação são impostos em todos os níveis: formas que encontram seu enquadramento social no império da publicidade e da televisão, seu método na desconstrução , na intercambialidade de tudo com tudo, seu estilo e emblema no chamado pós-modernismo. 

Fonte: https://www.30giorni.it/

O Papa Leão XIV recebe o líder da Igreja Assíria do Oriente

O Papa Leão XIV Recebeu Em Audiência Privada O Católico Da Igreja Assíria Do Oriente, Sua Santidade Mar Awa III. Foto: Vatican Media

O Papa Leão XIV recebe o líder da Igreja Assíria do Oriente e lhe diz qual é o desafio para a unidade entre as duas igrejas

Palavras do Papa Leão XIV a Sua Santidade Mar Awa III, Católico-Patriarca da Igreja Assíria do Oriente, e sua comitiva.

27 DE OUTUBRO DE 2025, 05H29 - EDITORIAL ZENIT

(ZENIT News / Cidade do Vaticano, 27 de outubro de 2025) – Na manhã de segunda-feira, 27 de outubro, o Papa Leão XIV recebeu em audiência privada o Católico da Igreja Assíria do Oriente, Sua Santidade Mar Awa III. Esta foi a primeira audiência entre o Papa e este líder do cristianismo oriental. A Igreja Assíria do Oriente (também conhecida como Igreja do Oriente ou Igreja Nestoriana) é uma igreja cristã oriental que, segundo a tradição, teve origem no século I d.C., fundada pelo Apóstolo Tomé juntamente com os Santos Mari e Addai. Separou-se oficialmente de outros ramos do cristianismo em 424, estabelecendo sua autonomia doutrinal e eclesiástica. Sua sede está localizada em Ankawa, Erbil, no Curdistão iraquiano, e possui aproximadamente 400.000 membros.

***

Santidade,

Queridos amigos em Cristo:

“Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (Ef 1,2). Com estas palavras de São Paulo, acolho-o, Sua Santidade, como um amado irmão em Cristo, e expresso mais uma vez a minha gratidão pela sua presença na inauguração do meu pontificado. Estendo também as minhas sinceras saudações aos membros da Comissão Conjunta para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Assíria do Oriente.

Estas visitas conjuntas do Católico-Patriarca da Igreja Assíria do Oriente e dos membros da Comissão representam um belo costume estabelecido nos últimos anos. Elas testemunham que o encontro fraterno e o diálogo teológico são elementos mutuamente constitutivos no caminho para a unidade. O “diálogo da verdade” é uma expressão do amor que já une as nossas Igrejas, enquanto o “diálogo da caridade” deve também ser compreendido a partir de uma perspectiva teológica.

Foto COPYRIGHT c VATICAN MEDIA

Sua última visita, em 2024, marcou o trigésimo aniversário do diálogo oficial entre as nossas Igrejas. O progresso alcançado ao longo destes anos é significativo, pois seguiu fielmente o mandato e a metodologia estabelecidos pelos nossos antecessores. Como afirmado na Declaração Conjunta de Sua Santidade João Paulo II e Sua Santidade Mar Dinkha IV de 1994: “Para que a comunhão seja plena e completa, é necessária unanimidade quanto ao conteúdo da fé, aos sacramentos e à constituição da Igreja.

” Este tríptico serviu de estrutura para as fases subsequentes do nosso diálogo teológico. Tendo chegado a um consenso sobre a fé cristológica — resolvendo, assim, uma controvérsia de mil e quinhentos anos — o nosso diálogo prosseguiu com o reconhecimento mútuo dos sacramentos, possibilitando uma certa communicatio in sacris entre as nossas Igrejas. Desejo expressar a minha profunda gratidão a cada um de vocês, teólogos da Comissão Conjunta, pelas vossas valiosas contribuições e pelos esforços conjuntos, sem os quais estes acordos doutrinais e pastorais não teriam sido possíveis.

No que diz respeito à constituição da Igreja — tema que se encontra atualmente no centro do diálogo — o principal desafio reside no desenvolvimento conjunto de um modelo de plena comunhão inspirado no primeiro milénio, mas que, simultaneamente, responda atentamente aos desafios do presente. Como os meus predecessores têm sublinhado repetidamente, tal modelo não deve implicar absorção ou dominação; pelo contrário, deve promover a troca de dons entre as nossas Igrejas, recebidos do Espírito Santo para a edificação do Corpo de Cristo (cf. Ef 4,12). Aguardo com interesse os frutos do vosso diálogo teológico em curso sobre esta questão, realizado “claramente em conjunto”, como São João Paulo II desejava fervorosamente na sua encíclica Ut unum sint (n. 95).

Neste caminho rumo à plena comunhão, a sinodalidade apresenta-se como uma via promissora . Durante a sua visita em 2022, Sua Santidade, o Papa Francisco, cunhou uma expressão que foi posteriormente incluída no Documento Final do recente Sínodo sobre a Sinodalidade da Igreja Católica; cito: “O caminho da sinodalidade, que a Igreja Católica está trilhando, é e deve ser ecumênico, assim como o caminho ecumênico é sinodal” ( Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação, Missão , n. 23). No espírito desse Sínodo, espero sinceramente que o 1700º aniversário do Concílio de Niceia nos leve a “pôr em prática formas de sinodalidade entre cristãos de todas as tradições” e inspire novas “práticas sinodais ecumênicas” (Ibid., n. 138-139).

Foto COPYRIGHT c VATICAN MEDIA

Podemos prosseguir esta peregrinação fortalecidos pelas orações de todos os santos de nossas Igrejas, especialmente Santo Isaac de Nínive, cujo nome foi acrescentado ao Martirológio Romano no ano passado. Por sua intercessão, que os cristãos do Oriente Médio sempre deem um testemunho fiel de Cristo ressuscitado, e que nosso diálogo acelere a chegada do dia bendito em que celebraremos juntos no mesmo altar, participando do mesmo Corpo e Sangue de nosso Salvador, “para que o mundo creia” (Jo 17,21).

Unidos em oração com nosso Salvador, convido vocês agora a recitarem comigo a Oração do Senhor. Pai Nosso…

Foto COPYRIGHT c VATICAN MEDIA

Obrigado por ler nosso conteúdo.

Equipe Editorial da Zenit

Fonte: https://es.zenit.org/2025/10/27/papa-leon-xiv-recibe-a-lider-de-iglesia-asiria-de-oriente-y-le-dice-cual-es-el-reto-para-la-unidad-entre-ambas-iglesias/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF