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sábado, 8 de novembro de 2025

100 anos após Expo Missionária, as obras continuam a falar de paz

A Exposição Missionária de 1925 (Vatican News)

Das coleções missionárias de Pio XI à nova seção dedicada à Ásia, o museu etnológico Anima Mundi dos Museus Vaticanos mantém viva a mensagem universal de paz, diálogo e fraternidade da Exposição de 1925.

Paolo Ondarza - Cidade do Vaticano

Testemunhas de encontro, paz e reciprocidade intercultural. Cem mil objetos de todo o mundo foram exibidos em 26 pavilhões para a Exposição Missionária de 1925. Cem anos mais tarde, esse evento está sendo comemorado nos dias 5 e 6 de novembro com uma conferência internacional na Universidade IULM, na Pontifícia Universidade Urbaniana e nos Museus Vaticanos.

A Exposição Missionária de 1925 (Vatican News)

Levar ao conhecimento de todos as missões católicas e as tradições locais

Desejada por Pio XI em concomitância com o Jubileu, a Exposição teve o duplo propósito de ilustrar a ampla presença das missões católicas em todo o mundo e de promover as tradições culturais, artísticas e espirituais de diferentes povos.

A Exposição Missionária de 1925 (Vatican News)

Mais de um milhão de visitantes

A Exposição Missionária Vaticana "foi um evento importantíssimo, desejado por um Pontífice iluminado, aberto, curioso", afirma Nadia Fiussello, curadora do setor para as Coleções Etnológicas Anima Mundi dos Museus Vaticanos. A ideia era aquela de narrar as terras das missões, mas também, e sobretudo, "a vida das pessoas por meio de objetos e os vários aspectos do seu quotidiano, tanto cultural como religioso".

Inaugurada a 21 de dezembro de 1924, encerrou a 10 de janeiro de 1926, atraindo mais de um milhão de visitantes e obtendo um notável sucesso de público e crítica.

As descrições dos missionários

Os objetos, ou as suas reproduções em miniatura, feitas quando o espaço era muito limitado para transportar os originais, chegaram ao Vaticano em enormes caixas de madeira. Eles foram acompanhados por descrições escritas pelos missionários.

Essas anotações revelam a sensibilidade inerente a cada ordem ou congregação missionária. Algumas destacavam aspectos intelectuais em vez de culturais ou relacionados à vida cotidiana, como hábitos alimentares ou de saúde.

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

Agostino Gemelli e o Pavilhão da Medicina

"Diferentemente das grandes exposições universais europeias, Pio XI desejou que fosse contada a história e a vida cotidiana dessas populações", acrescenta Fiussello, compartilhando uma história particularmente interessante: "O Papa Ratti incumbiu Agostino Gemelli de se dedicar ao Pavilhão da Medicina, do qual ainda restam muitos objetos." O objetivo era ilustrar "aqueles remédios utilizados por diversas populações ou pelos próprios missionários para tratar doenças como a febre amarela. O uso da medicina não química, hoje novamente muito relevante, está documentado, por exemplo, na tradição chinesa."

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

A terceira linguagem

As obras da Exposição, em grande parte transferidas em 1926 para o Museu Etnológico do Vaticano, hoje conhecido como Anima Mundi, falam o que Fiussello chama de uma terceira linguagem. Uma linguagem de síntese: não relacionada nem aos missionários ocidentais, nem às suas culturas de origem.

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

Missão é encontro

"O nosso museu é diferente de qualquer outro museu etnológico do mundo: nasceu como um museu missionário. Há muitos objetos católicos e cristãos que testemunham o encontro com as populações locais. Os missionários introduziram imagens figurativas de Cristo, da Virgem Maria e dos santos, mas estas foram assimiladas pelas culturas locais, que as transformaram utilizando a iconografia nativa."

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

Dos Museus de Latrão aos Museus Vaticanos

O Museu Etnográfico Vaticano foi fundado por Pio XI com o Motu Proprio Quoniam tam praeclara de 12 de novembro de 1926. Sua criação foi confiada ao padre Wilhelm Schmidt.

Inicialmente localizado na Basílica de São João de Latrão, o museu abrigava aproximadamente oitenta mil obras da Exposição Missionária do ano anterior. Em 1976, a pedido de Paulo VI, sob a supervisão do padre Jozef Penkowski, foi transferido para os Museus Vaticanos.

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

O novo Anima Mundi

Nos últimos anos, com uma coleção que cresceu graças às constantes doações recebidas dos Papas durante audiências e viagens apostólicas, o museu passou por transformações radicais: "A exposição da década de 1970 apresentava muitos objetos expostos, que corriam o risco de serem danificados pelo contato constante com os visitantes. Hoje - explica Nadia Fiussello - nossos depósitos estão à vista de todos, diretamente acima do museu, onde os objetos são exibidos atrás de vidros completamente transparentes", proporcionando uma experiência imersiva.

Museu Anima Mundi (Vatican News)

Seção Ásia

Após as seções dedicadas à Oceania, às Américas e à África, é aberta ao público nesses dias a primeira parte da Ásia, dedicada ao Japão e à Coreia. "Já concluímos quase totalmente a montagem da Floresta de Budas e, graças ao constante monitoramento do clima e ao trabalho meticuloso dos restauradores do Laboratório Polimatérico, a vitrine de laca também está pronta."

O Laboratório de Polimateriais dos Museus Vaticanos (Vatican News)

Embaixadores da Paz

Durante cem anos, os objetos provenientes de todas as latitudes continuam a falar e a contar as tradições seculares de povos distantes: "Esses artefatos são embaixadores", conclui a curadora da Anima Mundi, observando como a relação com seus países de origem possibilitou o aprendizado de metodologias adequadas de restauração. O contato com os povos de origem também proporcionou a oportunidade de determinar se um objeto deve ou não ser exibido ao público, com base em seu significado cultural e religioso.

"Nosso museu não é apenas um local de armazenagem de obras, mas uma realidade em constante evolução, em contato constante com os povos de origem, com o objetivo de promover um mundo de paz e fraternidade."

Photogallery

A nova seção asiática do Museu Anima Mundi dos Museus Vaticanos. Veja a galeria de fotos.

25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

As famílias numerosas estão voltando à moda?

Famílias numerosas (Aleteia)

Michael Rennier - publicado em 28/10/19

Pesquisas mostram que o tamanho ideal indicado para uma família está crescendo mais uma vez… e talvez essas sejam algumas das razões.

Espero que isso não soe falta de modéstia, mas sou um homem rico. Sei que não mereço, mas estou cercado por uma esposa e filhos que me dão muito mais amor do que eu jamais poderia ter sonhado.

Nossa ninhada em particular é composta por seis filhos com idades entre 1 e 12 anos. Suspeito que, se a vida tivesse sido um pouco diferente, o número de filhos que recebemos no mundo poderia facilmente ter sido maior ou menor. Mas assim como é, temos o número perfeito.

Nossa família é considerada grande pelos padrões de hoje, e as pessoas frequentemente perguntam por que decidimos ter tantos filhos. Deixando de lado por um momento quão estranha é tal pergunta, não me importo de responder que temos tantos filhos porque achamos que eles são bacanas.

Sim, o simples fato é que é divertido conviver com eles. Ontem à noite eu estava jogando xadrez com a criança de quatro anos e ela me contou sobre seu sonho de que mais pessoas podiam se sentar na arquibancada, vê-la jogar e admirar suas habilidades estratégicas. Ela acha que é tão boa no xadrez que merece uma multidão de espectadores. Depois de capturar sua rainha, fiz uma anotação mental para inscrevê-la no Clube de Xadrez no próximo ano.

Ela está certa, será divertido vê-la jogar. Também é divertido assistir às crianças competindo em jogos de vôlei e futebol. É divertido ir ao zoológico e à colheita de maçãs e praticar mountain bike. É divertido fazer fogueiras e churrasco e convidar outras famílias para sessões improvisadas de poesia e música. Meus filhos estão me dando a chance de viver uma segunda infância, que, para ser sincero, estou amando ainda mais desta vez.

Anos atrás, o tamanho da nossa família não teria levantado uma sobrancelha. Por exemplo, em 1976, 40% das mães de 40 a 44 anos tinham quatro ou mais filhos. Hoje, esse número caiu para 13%.

Então, sim, uma família com seis filhos ou mais se tornou cada vez mais rara. Aqui está uma mudança de tendência, no entanto. Após anos de declínio, o tamanho ideal da família está novamente aumentando. Quando entrevistados, os americanos que pensam que o tamanho perfeito para uma família inclui pelo menos três filhos está em ascensão. As famílias ainda são muito menores do que eram décadas atrás, mas talvez isso possa começar a mudar assim que as pessoas começarem a desejar famílias maiores.

Parece que as famílias numerosas estão voltando à moda. É claro que estar na moda não é um bom motivo para ter filhos, mas minha experiência mostra que existem muitos outros bons motivos. Simplificando, como Mark Oppenheimer, pai de cinco filhos, diz em um artigo recente no The Wall Street Journal, “todos os nossos filhos melhoraram minha vida”.

É exatamente assim que me sinto. Mesmo que meu orçamento apertado e outras despesas que continuam a esvaziar meus bolsos, pude sentir como cada nova criança fez meu coração crescer.

Aqui está o que mais eu amo em nossa família: as crianças cuidam umas das outras. Os meninos, que são típicos rapazes brutos, mostram um lado sensível quando fazem uma pausa para puxar gentilmente sua irmã mais nova pelo pátio na carroça.

As meninas mais velhas fazem sanduíches de queijo grelhado para os irmãos mais novos. Algumas crianças até se ajudaram a aprender a ler de uma maneira muito mais paciente do que eu jamais poderia ter conseguido.

Eles adoram estar juntos e sempre têm um amigo por perto. Eles aprendem a socializar, compartilhar e praticar a gratuidade. Algo está sempre acontecendo em nossa casa, e as crianças do bairro se reúnem para participar da diversão.

Existem custos para ter uma família numerosa, com certeza. Eu brinco sobre o quão caro eles são, mas é realmente verdade. Para ter mais filhos, os pais devem estar dispostos a desistir de outros luxos. Nossa família não come muito em restaurantes. Nossas férias são curtas e locais. Os carros que dirigimos têm mais de 10 anos de uso. Não compro uma nova peça de roupa há anos e não me lembro da última vez que fomos a um cinema.

A outra mercadoria em falta na casa é a privacidade. As crianças compartilham quartos e, quando têm pesadelos, acabam na cama com mamãe e papai. Não estou brincando quando digo que ontem acordei de manhã e descobri três crianças empilhadas em nossa cama que haviam feito ali o seu cantinho durante a noite. O espaço pessoal é limitado e isso pode ser frustrante para pais e filhos.

Tudo isso dito, trocaria minha família numerosa por qualquer outro luxo do mundo? Absolutamente não. E, com base em pesquisas, parece que mais e mais pessoas estão começando a concordar.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/10/28/as-familias-numerosas-estao-voltando-a-moda/

Nasce 13ª filha de Mariana e Carlos Arasaki, casal que viralizou pela grande família

Nasce 13ª filha de Mariana e Carlos Arasaki, casal que viralizou pela grande família — Foto: Instagram/Talita Ciardi

O parto foi normal, como nas outras 12 gestações, incluindo a de gêmeos; Maria Carolina nasceu na terça-feira (4), e o gshow mostra o rostinho em primeira mão.

Por Luciana Tecidio, gshow — Rio de Janeiro

07/11/2025 12h00  Atualizado há 5 horas

A mesa da família Arasaki oficialmente precisará de mais um lugar. Nasceu na noite de terça-feira (4), às 21h, Maria Carolina, 13ª filha dos influenciadores Mariana e Carlos Arasaki, conhecidos nas redes sociais pelos perfis @coracaodemami e @coracaodepapi. E o gshow mostra em primeira mão o rostinho da bebê.

Segundo os pais, após um período inicial de dores intensas durante o trabalho de parto, o nascimento evoluiu de forma rápida e sem intercorrências, logo após receberem uma bênção especial do Padre João Bechara.

Maria Carolina nasceu de parto normal, como seus irmãos, incluindo os gêmeos: Cristina e Gabriella (univitelinos), João Pio e Josemaria (bivitelinos).

Nasce 13ª filha de Mariana e Carlos Arasaki, casal que viralizou pela grande família — Foto: Talita Ciardi/Divulgação

Quem são os 13 filhos?

  1. Maria Philomena, 13 anos
  2. Martin, 12 anos
  3. Maria Clara, 11 anos
  4. Maria Sophia, 10 anos
  5. Bernardo, 8 anos
  6. Margarida Maria, 7 anos
  7. Maria Madalena, 6 anos
  8. Stella Maria, 4 anos
  9. João Pio, 3 anos
  10. Josemaria, 3 anos
  11. Maria Gabriella, 2 anos
  12. Maria Cristina, 2 anos
  13. Maria Carolina, 3 dias
Nasce 13ª filha de Mariana e Carlos Arasaki, casal que viralizou pela grande família — Foto: Reprodução/Instagram

Apesar da vasta experiência com a maternidade, Mariana Arasaki ressalta a singularidade de cada gestação.

"Nunca é mais do mesmo, é incrível ver a multiplicação deste amor cada dia acontecendo de uma nova forma", declarou a influenciadora.

Para o pai, Carlos, a adrenalina também não diminui com o passar dos anos: "Sempre dá um friozinho na barriga e é uma emoção grande que você nunca se acostuma", afirmou ele, que já está ansioso pelo momento mais aguardado pelos seguidores: os doze filhos conhecerem a nova irmã.

"Mal posso esperar para ver o encontro de toda a família reunida, agora é mesa para 15!", completou.

Sobre a Família Arasaki

Mariana e Carlos Arasaki são pais de 13 filhos e criadores de conteúdo digital. Através dos perfis @coracaodemami e @coracaodepapi, eles compartilham o dia a dia, os desafios e as alegrias de uma família numerosa, inspirando seus seguidores com mensagens sobre família, educação e fé.

Maria Carolina nasceu em uma data significativa: o Dia de São Carlos Borromeu. Além disso, “Carolina” é o feminino de “Carlos”.

Nasce 13ª filha de Mariana e Carlos Arasaki, casal que viralizou pela grande família — Foto: Talita Ciardi/Divulgação

Fonte:
https://gshow.globo.com/

Leão XIV elogia evangelização do México por Nossa Senhora de Guadalupe e beato Juan de Palafox y Mendoza

Nossa Senhora de Guadalupe e o beato Juan de Palafox y Mendoza. | Domínio Público

Por Almudena Martínez-Bordiú*

7 de nov de 2025 às 15:55

O papa Leão XIV elogiou o trabalho missionário da Igreja no México inspirado ao longo da história pela mensagem de Nossa Senhora de Guadalupe e pelo exemplo do beato Juan de Palafox y Mendoza.

Numa mensagem aos participantes do XVII Congresso Nacional Missionário do México, que ocorre em Puebla, México, entre hoje (7) e domingo (9), o papa disse que o maior privilégio e dever dos missionários é "levar Cristo ao coração de cada pessoa".

Para aprofundar o trabalho missionário, Leão XIV propôs a parábola do fermento do Evangelho de são Mateus: “O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa ficou fermentada” (cf. Mt 13,33).

À luz desse versículo, o papa disse que o “fermento do Evangelho” chegou ao México nas mãos de alguns missionários: “Eram as mãos da Igreja, que começariam a amassar o fermento que traziam consigo — o depósito da fé — com a farinha nova de um continente que ainda não conhecia o nome de Cristo”.

Ele disse que o Evangelho “não apagou o que encontrou, mas o transformou”, até que “criou raízes nos corações [dos habitantes] e floresceu em obras de santidade e beleza únicas”.

As pegadas de Nossa Senhora de Guadalupe e do beato Juan de Palafox y Mendoza

Leão XIV disse que a mensagem de Nossa Senhora no monte Tepeyac é “um sinal de perfeita inculturação” que Deus deu à Igreja, e que a mensagem de Guadalupe “tornou-se um impulso missionário” para os primeiros evangelizadores, que “assumiram com fidelidade a tarefa de fazer o que Cristo ordenava”.

O papa também destacou a figura do beato Juan de Palafox y Mendoza, sobre o qual disse ser um "pastor e missionário que entendeu seu ministério como serviço e fermento".

Leão XIV falou sobre sua visita a Puebla como prior-geral da Ordem de Santo Agostinho, onde — disse ele — a figura do beato “permaneceu viva na memória de Puebla”.

“A paternidade dele deixou uma marca tão profunda que ainda hoje é percebida na fé simples dos fiéis”, disse o papa.

Segundo Leão XIV, o exemplo do bispo Juan de Palafox desafia os pastores de hoje, "porque ensina que governar é servir, que educar seriamente é evangelizar e que toda autoridade, quando exercida segundo os critérios de Cristo, torna-se fonte de comunhão e esperança".

O papa disse também que Palafox mostra, na vida e nos escritos dele, que “o verdadeiro missionário não domina, mas ama; não impõe, mas serve; e não instrumentaliza a fé para obter vantagens pessoais”.

“Precisamos estar dispostos a sujar as mãos no mundo!”

Olhando para o presente, Leão XIV lamentou que "as divisões sociais, os desafios das novas tecnologias e os desejos sinceros de paz continuam sendo triturados como novas farinhas que correm o risco de fermentar com o fermento ruim (cf. Mt 16,12)".

Assim, ele disse que os missionários de hoje são chamados a ser "as mãos da Igreja que colocam o fermento do Ressuscitado na massa da história, para que a esperança volte a fermentar".

“É preciso estar disposto a colocar as mãos na massa do mundo! Não basta falar da farinha sem sujar as mãos; é preciso tocá-la”, disse o papa. “Assim crescerá o Reino, não pela força nem pelo número, mas pela paciência daqueles que, com fé e amor, continuam amassando junto com Deus”.

No fim de sua mensagem, Leão XIV disse que a Igreja no México "se esforça para viver plenamente esse chamado de Cristo" e, por isso, agradeceu aos missionários pela dedicação deles.

“Que o Senhor Jesus torne frutíferas todas as vossas iniciativas e que Nossa Senhora de Guadalupe, Estrela da Evangelização, vos acompanhe sempre com a ternura materna dela, mostrando-vos o caminho que conduz a Deus”, concluiu o papa.

*Almudena Martínez-Bordiú é uma jornalista espanhola correspondente da ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em Roma e no Vaticano, com quatro anos de experiência em informação religiosa.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65375/leao-xiv-elogia-evangelizacao-do-mexico-por-nossa-senhora-de-guadalupe-e-beato-juan-de-palafox-y-mendoza

TEOLOGIA: O encontro de dois dons distintos (Parte 2/3)

A Ressurreição da Filha de Jairo, Staatliche Museen Preussischer Kulturbesitz, Berlim | 30Giorni.

TEOLOGIA

Arquivo 30Dias nº 11 - 2001

O encontro de dois dons distintos

"Assim como você, acredito que Deus criou apenas para a elevação do deificado; mas isso não elimina a heterogeneidade radical entre o primeiro dom da vida racional e o segundo dom (e antecedente na ordem de finalidade) da vida sobrenatural." Assim escreveu Blondel em uma carta a De Lubac. Este ensaio examina a trajetória do filósofo francês, em particular as críticas que ele dirigiu a Teilhard de Chardin.

Por Massimo Borghesi

2) A distinção natural-sobrenatural

Se a observação de Colombo se confirmar, então podemos compreender como o próprio processo de retificação do seu pensamento, que Blondel iniciou já na década de 1910, pode ser objeto de renovado interesse hoje. Essa repensagem afeta noções-chave como "pancristianismo", extrinsecismo/intrinsecismo, natural/sobrenatural.

A respeito do seu "pancristianismo", Blondel observa que "o que chamei de meu 'caridade', meu pancristianismo, é precisamente o oposto de uma 'metafísica', mesmo uma metafísica da caridade".¹⁶ Ele é da opinião de que "não deveria oferecer aos seus críticos ou leitores a expressão incomum e ambígua 'pancristianismo'". Sem a devida preparação e explicação, corre-se o risco, por analogia com a palavra panteísmo, de sugerir a ideia de uma coerência necessária, de uma continuidade física e metafísica.17

Na realidade, “a função de Cristo, in quo omnia constant , é menos ontológica no sentido abstrato da palavra, do que espiritualizante, por meio da união transformadora”.18 Com isso, Blondel alertou para o risco de uma “cristologia metafísica” puramente filosófica, como a que poderia ser deduzida de seu ideal original de “pan-cristianismo”. Uma cristologia cósmica, que se movesse na perfeita indistinção entre filosofia e teologia, fé e razão, a ponto de conduzir a uma posição “intrinsicista”. No ensaio de 1916, L'anti-cartésianisme de Malebranche , Blondel, que anteriormente havia criticado duramente o extrinsecismo entre fé e razão, observou como o intrinsecismo de Malebranche, marcado pela perfeita continuidade entre o natural e o sobrenatural, acaba sendo mais perigoso para a teologia do que o "separatismo" cartesiano, fundado na distinção rigorosa entre ordens.19 Um Blondel "tomista", portanto, não compreendido por Gilson, que corrigiu e enriqueceu as posições expressas na Carta sobre Apologética .

Como confessou a de Lubac em abril de 1932: “Quando, há mais de quarenta anos, enfrentei problemas para os quais não estava suficientemente preparado, reinava um extrinsecismo intransigente ”.20 O extrinsecismo radical da neoescolástica, para a qual a natureza é concebida como um monólito encerrado em sua própria ordem, explica, inversamente, a (brilhante) gênese da Ação , sua concepção dinâmica do espírito insatisfeito consigo mesmo e com sua própria imanência, uma intuição que Blondel não negará e que ele deve apenas salvaguardar da deriva intrinsecamente. Daí a urgência de recuperar uma distinção clara entre o natural e o sobrenatural e, portanto, indiretamente, a lição tomista.

Como ele escreverá perfeitamente no Vocabulaire technique et critique de la philosophie de André Lalande : “É sobrenatural” .Em sentido estrito, este termo, que tem sua origem e aplicação na linguagem cristã, refere-se àquilo que, procedendo de uma condescendência gratuita de Deus, eleva a criatura inteligente a um estado que não poderia ser o estado de natureza de nenhum ser criado, a um estado que não poderia ser alcançado, nem merecido, nem expressamente concebido por nenhuma força natural : visto que se trata da comunicação da vida divina íntima, secretum Regis , de uma verdade impenetrável a qualquer visão filosófica, de um bem superior a qualquer aspiração da vontade»21.

Esta distinção entre natureza e o sobrenatural, inatingível pela natureza, é um ponto fixo em Blondel. Em sua correspondência com de Lubac em 1932, o filósofo de Aix respondeu às observações do padre jesuíta, que contestavam a "hipótese de um estado de natureza no qual o homem poderia ter sido criado e deixado" (22), uma hipótese presente nos textos de Blondel: "Parece-me que um dos erros de perspectiva a serem evitados depende do mau hábito de considerar que o estado em que a vocação sobrenatural nos coloca elimina o 'estado de natureza'." Não, isso permanece imanente à própria adoção divina. E é nesse sentido que se pode, como filósofo e como teólogo, falar da incomensurabilidade essencial e indestrutível dos entes e de Deus, para melhor compreender as invenções da caridade divina, os caminhos paradoxais da união transformadora, a maravilha metafísica e propriamente hiperfísica do nosso consórcio divinae naturae . Como você, acredito que Deus criou apenas com o objetivo de deificar; mas isso não elimina a heterogeneidade radical do primeiro dom da vida racional e do segundo dom (e antecedente na ordem da finalidade) da vida sobrenatural»23.

NOTAS:

16) Blondel e Teilhard de Chardin. Correspondência comentada por Henri de Lubac , Paris 1965, trad. isto., Correspondência de Maurice Blondel e Pierre Teilhard de Chardin. Comentada por Henri de Lubac , Torino 1968, p. 58. 

17) Op. cit. , pp. 58-59. 

18) Op. cit. , pág. 59. 

19) Ver M. Borghesi, Descartes, preferencialmente. Blondel e Del Noce contra o intrínseco do natural e do sobrenatural , em 30Giorni , n. 08/07, 2001, pp. 

20) H. de Lubac, Mémoire sur l'occasion de mes écrits , Namur 1989, trad. it., Memória em torno de minhas obras , Milão 1992, p. 23. 

21) Vocabulaire Technique et Critique de la philosophie de André Lalande, Paris 1947 (5ª edição), p. 1053, nota de M. Blondel (tradução italiana, Dizionario critico di politica , Milão 1971, verbete “Soprannaturale”, p. 853). 

22) H. de Lubac, Memória em torno de minhas obras , cit. , pág. 21. 

23) Op. cit. , pág. 25.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa, COP30: “Se vocês querem cultivar a paz, cuidem da Criação”

Cardeal Parolin durante a leitura da mensagem do Papa à COP30

“Em um mundo em chamas, tanto pelo aquecimento global quanto pelos conflitos armados”, esta Conferência deve se tornar um sinal de esperança, destacou o Papa Leão na sua mensagem lida pelo cardeal Parolin na COP30, em Belém. ”Cuidar da criação torna-se uma expressão de humanidade e solidariedade”.

Silvonei José – Belém

“Se vocês querem cultivar a paz, cuidem da Criação. Existe uma clara ligação entre a construção da paz e a custódia da Criação”. Assim se pronunciou o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, ao ler a mensagem do Papa Leão XIV na 30ª Sessão da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, no Brasil. “Se, por um lado, nestes tempos difíceis, a atenção e a preocupação da comunidade internacional parecem concentrar-se principalmente nos conflitos entre as nações”, sublinha o Santo Padre na sua mensagem, “por outro lado, cresce também a consciência de que a paz é ameaçada também pela falta de respeito pela Criação, pela pilhagem dos recursos naturais e pelo progressivo declínio da qualidade de vida devido às alterações climáticas”.

Devido à sua natureza global - continua a mensagem do Papa -, esses desafios colocam em risco a vida de todos neste planeta e, portanto, exigem cooperação internacional e um multilateralismo coeso e capaz de olhar para o futuro, que coloque no centro a sacralidade da vida, a dignidade de cada ser humano dada por Deus e o bem comum.

O Papa Leão na sua mensagem destaca que “infelizmente, observamos abordagens políticas e comportamentos humanos que vão na direção oposta, caracterizados pelo egoísmo coletivo, pela falta de consideração pelo outro e pela miopia.

“Em um mundo em chamas, tanto pelo aquecimento global quanto pelos conflitos armados”, esta Conferência deve se tornar um sinal de esperança, através do respeito demonstrado pelas ideias alheias na tentativa coletiva de buscar uma linguagem comum e um consenso, deixando de lado interesses egoístas, tendo em mente a responsabilidade uns pelos outros e pelas gerações futuras”.

Em seguida o Santo Padre recorda que já na década de 1990, o Papa São João Paulo II destacou que a crise ecológica é “um problema moral” e, como tal, “evidencia a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade, especialmente nas relações entre os países em desenvolvimento e os países altamente industrializados.

Os Estados devem mostrar-se cada vez mais solidários e complementares entre si na promoção do desenvolvimento de um ambiente natural e social pacífico e saudável”.

O Papa então destaca que “tragicamente, aqueles que se encontram em situações de maior vulnerabilidade são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das mudanças climáticas, do desmatamento e da poluição. Cuidar da criação, portanto, torna-se uma expressão de humanidade e solidariedade.

Leão XIV afirmou que deste ponto de vista, “é essencial traduzir as palavras e reflexões em escolhas e ações baseadas na responsabilidade, justiça e equidade, a fim de alcançar uma paz duradoura, cuidando da criação e do próximo”.

Além disso, - continuou -, como a crise climática afeta a todos, as ações corretivas devem envolver governos locais, prefeitos e governadores, pesquisadores, jovens, empresários, organizações confessionais e ONGs.

Cardeal Parolin (Vatican Media)

Na sua mensagem à COP30 o Papa Leão destaca ainda que há uma década, a comunidade internacional adotou o Acordo de Paris, reconhecendo a necessidade de uma resposta eficaz e progressiva à ameaça urgente das mudanças climáticas, mas infelizmente - sublinhou -, temos que admitir que o caminho para alcançar os objetivos estabelecidos nesse Acordo continua longo e complexo. Exortou então os Estados Partes a acelerarem com coragem a implementação do Acordo de Paris e da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Uma recordação também do Papa Francisco que 10 anos atrás assinou a Carta Encíclica Laudato si’, na qual defendia uma conversão ecológica que incluísse todos, pois “[o] clima é um bem comum, de todos e para todos. Em nível global, é um sistema complexo relacionado a muitas condições essenciais para a vida humana”.

Na conclusão da mensagem fez votos de que todos os participantes desta COP30, bem como aqueles que acompanham ativamente os trabalhos, sejam inspirados a abraçar com coragem esta conversão ecológica com pensamentos e ações, tendo em mente o lado humano da crise climática.

Cardeal Parolin (Vatican Media)

Que essa conversão ecológica inspire o desenvolvimento de uma nova arquitetura financeira internacional centrada no ser humano, que garanta que todos os países, especialmente os mais pobres e os mais vulneráveis às catástrofes climáticas, possam alcançar seu pleno potencial e ver respeitada a dignidade de seus cidadãos. Essa arquitetura deve também levar em conta a relação entre dívida ecológica e dívida externa.

Que seja promovida uma educação sobre a ecologia integral que explique por que as decisões a nível pessoal, familiar, comunitário e político moldam o nosso futuro comum, sensibilizando ao mesmo tempo para a crise climática e encorajando mentalidades e estilos de vida que respeitem melhor a criação e salvaguardem a dignidade da pessoa e a inviolabilidade da vida humana.

"Que todos os participantes desta COP30 se comprometam a proteger e cuidar da criação que nos foi confiada por Deus, a fim de construir um mundo pacífico", escreveu o Papa.

O cardeal Parolin finalizou a leitura da mensagem assegurando as orações do Santo Padre enquanto, nesta COP30, tomam-se decisões importantes para o bem comum e para o futuro da humanidade.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Forças invisíveis: os anjos, o demônio e o inferno

Crédito: Opus Dei

Forças invisíveis: os anjos, o demônio e o inferno

Os anjos aparecem como “espíritos servidores” (Hb 1,14) e esses serviços podem ser resumidos em duas ações: louvar incessantemente a Deus e cuidar dos homens, exercendo assim uma participação na providência salvífica de Deus.

26/11/2019

Hoje em dia nos vemos facilmente induzidos a pensar que só existe o que podemos experimentar, que o mundo verdadeiramente real é constituído pelo que se vê e se toca, seja diretamente ou virtualmente, através da tela de um dispositivo. Ao mesmo tempo, percebemos que é muito difícil que algumas coisas que acontecem neste mundo se devam unicamente a causas visíveis e experimentais, dada sua entidade fora do comum. Ou seja, acontecem coisas visíveis e tangíveis que têm sua origem em algo que não se vê e nem se toca. E isso acontece tanto para coisas boas quanto para coisas ruins. No primeiro caso, comentamos: isso não é humano, é divino, é bom demais para ser humano (um milagre, por exemplo); no outro caso, dizemos: isso é diabólico, é muito ruim para se dever exclusivamente ao poder de um indivíduo (um assassinato brutal, por exemplo). Em ambos os casos, pensamos que sem uma força sobre-humana determinadas ações não poderiam acontecer.

Seres puramente espirituais

A crença na existência de forças invisíveis sempre supôs, desde antigamente, um desafio para a razão humana. Em nossa sociedade avançada, quando parece que se trata de uma crença destinada a desaparecer por seu caráter mítico e simbólico, misteriosamente reaparece na cultura de diversos modos (no cinema ou literatura), e inclusive nos testemunhos de pessoas que narram fatos portentosos que atribuem a seres que estão além da nossa percepção sensível (que pode se aplicar tanto à oração de intercessão como às práticas esotéricas ou ao espiritismo).

Um conhecido exegeta do século passado afirmava, na sua tentativa de desmitificar o Novo Testamento para torná-lo “mais razoável” para o homem contemporâneo, que não podia acender a luz ou escutar o rádio e continuar acreditando no mundo dos anjos e dos demônios. O que será que ele diria, se tivesse conhecido a internet, as redes sociais e os smartphones? O avanço tecnológico, que nos permite dominar cada vez mais os nossos limites espaço-temporais, é algo que nos afasta ou quem sabe nos aproxima do mundo espiritual? O que a fé cristã diz sobre tudo isso?

O NOVO TESTAMENTO OS MOSTRA ACOMPANHANDO OS MOMENTOS MAIS IMPORTANTES DA VIDA DE CRISTO E DA IGREJA NASCENTE

Diante dessa questão, a primeira coisa é dizer com clareza que é necessário afirmar a existência de Deus para explicar a existência do mundo, já que Ele o criou, mas não se pode dizer o mesmo de outros seres, mesmo que sejam superiores a nós. Baseado em que só Deus é Criador, o cristianismo descartou desde o princípio a ideia de divindades intermediárias como se Deus, que é puro espírito, não pudesse ter nenhuma relação com o que está distante dele, ou seja, o material.

De qualquer forma, embora só Deus seja necessário, o cristianismo, que compartilhava elementos de outras cosmovisões, conseguiu, pouco a pouco, encontrar uma explicação racional para a existência dos seres puramente espirituais. Neste ponto, a reflexão de São Tomás de Aquino foi de grande ajuda, pois na época patrística se suscitaram numerosas controvérsias. Graças à sua metafísica do ser, o Aquinate conseguiu explicar que é possível que existam seres criados puramente espirituais[1]. Alguém poderia pensar que isso acontece plenamente na alma humana, mas o homem tem uma natureza que também é corpórea. Assim como na criação de Deus há seres puramente materiais, e outros compostos de matéria e espírito, é muito conveniente, segundo o princípio da ordem do universo e da perfeição da própria criação, que haja seres puramente espirituais[2].

A mediação para chegar a Deus

Na realidade, estas reflexões têm o seu ponto de partida e de chegada na narração bíblica da História da Salvação, na qual aparecem junto a Deus, único Senhor e Criador, outros seres cuja força e influência, positiva ou negativa, são percebidas neste mundo. Os anjos aparecem como “espíritos servidores” (Hb 1,14) e esses serviços podem ser resumidos em duas ações: cantar e voar[3]. Eles cantam, ou seja, louvam incessantemente a Deus, constituindo os coros celestiais aos que a liturgia da Igreja se une de muitos modos. Por isso não é de se estranhar que, quando se desvaloriza a dimensão litúrgico-sacramental da fé, a doutrina dos anjos fique de lado. Por outro lado, os anjos voam, ou seja, são enviados por Deus para cuidar dos homens, exercendo assim uma participação na providência salvífica de Deus. Assim, o Novo Testamento os mostra acompanhando os momentos mais importantes da vida de Cristo e da Igreja nascente. De maneira análoga, custodiam a vida de cada pessoa e instituição, por isso a tradição cristã fala da existência de um anjo da guarda[4]. Portanto, a visão cristã está caracterizada pela mediação: a grandeza do Criador se mostra precisamente em que seu projeto está pensado para se cumprir com a cooperação de suas criaturas livres. E, quanto mais elevadas, mais partícipes serão de seu governo sobre a criação. Nós também percebemos que às vezes é mais fácil fazer as coisas diretamente do que conseguir que outros as façam livremente, mas esta última possibilidade é sinal de maior perfeição, como mostra, por exemplo, a experiência de governo em uma família ou de vários tipos de instituições.

Por tudo isso se entende que os anjos, como seres pessoais e livres, tiveram, por assim dizer, a sua própria história, da qual a Bíblia nos fala de modo sucinto que alguns se rebelaram contra Deus para sempre[5]. Na realidade, a existência do diabo e dos seus aliados, afirmada pela Igreja desde o princípio e confirmada em nossos dias em diversas ocasiões pelo Papa Francisco[6], constitui a face oculta de uma mensagem de esperança: o mal que todos nós vemos no mundo, e não só o que é produzido pelos outros, mas também o que nós mesmos cometemos, é algo que nos supera, que em certo sentido provém de um princípio que está além (“não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”) e, ao mesmo tempo, que não é divino e, por tanto, não é originário, não é necessário. Como se sabe, os relatos de muitas tradições culturais tentam explicar a origem do bem e do mal que existe no mundo – e dentro de nós – e, para isso, recorrem a uma oposição originária de princípios contrários. Isto significaria que o mal é tão radical quanto o bem, que sempre existiu, existe e existirá por aí, e que, em suma, não pode ser sanado. Isto leva inexoravelmente a uma visão desesperada do ser humano[7].

SÓ O BEM É ORIGINÁRIO, ENQUANTO QUE A EXISTÊNCIA DO MAL É O RESULTADO DO MAU USO DA LIBERDADE DAS CRIATURAS

O cristianismo diz, no entanto, que só o bem é originário, e que a existência do mal, que ninguém pode negar, foi resultado do mau uso da liberdade das criaturas, em primeiro lugar, das angelicais. Por isso sentimos com força o poder do mal no mundo e na história, de forma que às vezes parece invencível. O anúncio cristão, cheio de esperança, é a afirmação de que Deus colocou um remédio, que Ele mesmo assumiu esse mal em seu Filho, encarnado e morto numa cruz, para que todos aqueles que se unirem a Ele possam vencê-lo, associando-se ao triunfo pascal da sua ressurreição. Este triunfo, depois da Ascenção de Jesus Cristo aos céus, muitas vezes mostra-se pequeno e vulnerável na história, inclusive invisível, mas é real, cresce misteriosamente e só no fim se mostrará com todo o seu esplendor. O próprio Deus não deixa de oferecer manifestações visíveis do seu poder em sua providência salvífica na história, mediante os sacramentos, a efusão de múltiplas graças que atuam de modo mais ou menos escondido, mas real, na vida das pessoas, servindo-se da cooperação dos anjos, dos santos e de tantas pessoas.

Misericórdia e inferno

Se Deus é tão bom e misericordioso que toma a iniciativa para curar as suas criaturas, por que não faz a mesma coisa com os anjos caídos? Parece que a existência do inferno como castigo perpétuo para os demônios e todos aqueles homens que morrem afastados de Deus contradiz a noção de cura e sustento, que a Igreja ensina. Parece que o inferno implica eternizar precisamente o que a fé a cristã diz que não é eterno, mas que tem origem na história. Se o mal teve um início, supõe-se que também terá fim, para que ao final, como diz são Paulo, “Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28). De fato, desde Orígenes, não faltaram dentro da Igreja em épocas diferentes, também em nossos dias, vozes que se levantaram, inspirando-se nessas palavras de são Paulo, para sugerir uma reconciliação universal no final dos tempos. Se Deus é misericordioso, como pode permitir que haja pessoas que sejam condenadas para sempre longe d’Ele?

No entanto, algo dentro de nós diz que a vida das pessoas, humanas ou angelicais, têm um dom inestimável, que é a liberdade, um dom que o próprio Deus nos deu e que não pode tirá-lo sem violentar a natureza que Ele mesmo criou. Não é possível que Deus não leve a sério a liberdade de suas criaturas. E, ao mesmo tempo, dentro de nós existe um forte sentido de justiça, que clama para que o impertinente mal cometido não fique impune[8]; algo nos diz que não é possível que a imoralidade triunfe, como infelizmente acontece tantas vezes na história do nosso mundo, onde nem sempre se faz justiça, pior ainda, são cometidas autênticas injustiças que fazem parte desse mal de que estamos falando. Se Deus é realmente Deus, onipotente e bom, não pode tratar do mesmo modo os que se comportaram bem e os que se obstinaram em cometer males terríveis sem se arrepender[9]. Esta é uma convicção das grandes tradições religiosas da humanidade: que Deus é remunerador. Claramente, nesta terra, o castigo tem uma finalidade terapêutica, mas quando acaba o tempo para entrar na dimensão definitiva da existência, o tempo do arrependimento também termina, pois de algum modo a decisão tornou-se eterna: eis aqui o enorme poder da liberdade.

O cristianismo, um dualismo de liberdades

Com efeito, encontramo-nos, no fim das contas, diante do mistério da liberdade, tanto de Deus quanto das suas criaturas. Deus criou livremente, sem coerções, de modo que a existência das criaturas é fruto de uma livre vontade divina de amar e ser amado. Um filósofo moderno explica como a onipotência se manifesta de modo mais pleno na criação de seres livres[10]. Trata-se de um risco que Deus quis correr, como dizia São Josemaria[11], pois a liberdade das suas criaturas é real e a prova disso é que podem escolher não só não amar, como inclusive odiar o seu Criador. E não só por um espaço de tempo, mas também para sempre. Por isso, Bento XVI falava da nossa liberdade como uma “onipotência invertida”[12]. O homem realmente é dono da sua liberdade, e pode decidir usá-la para o ódio e a destruição.

A EXISTÊNCIA DOS ANJOS É FRUTO DE UMA LIVRE VONTADE DIVINA DE AMAR E SER AMADO

Por isso, é verdade que o cristianismo, em certo sentido, é um dualismo, pois sustenta que a História é o cenário de um drama, de uma luta entre o bem e o mal, entre a graça e o pecado. No entanto, não diz que os dois poderes tenham a mesma categoria, e sim que um deles permite a existência do outro sem aniquilá-lo. Trata-se, como diz Ratzinger, de um dualismo de liberdades ou existencial, mas não de um dualismo ontológico[13]. Apenas o bem é originário.

Começamos afirmando que para muitos só existe o que pode ser experimentado por meio dos sentidos. Sugerimos também que talvez nossos avanços tecnológicos expressem de alguma forma uma proximidade a uma condição de vida que supera os limites espaço-temporais da nossa condição neste mundo. Como mostramos, a existência de forças invisíveis nos leva a considerar que, em virtude da nossa espiritualidade, que inclui o grande dom da liberdade, não estamos necessariamente fadados a um mundo de experiência visível mas caduca, mas que possuímos um ser aberto a um mundo real e mais amplo, o mundo da esperança. Esta realidade se manifesta aos olhos da fé, misturada com este mundo, onde o bem e o mal convivem e crescem juntos – como o trigo e o joio da parábola de Jesus (cfr. Mt 13,24-30) – e que se manifestará plenamente no final da História, quando chegar o tempo da colheita e o Senhor do mundo julgar com misericórdia as suas criaturas livres.

Santiago Sanz

Leituras recomendadas

E. Peterson, El libro de los ángeles, Rialp, Madrid 1957.

São João Paulo II, Creo en Dios Padre, Palabra, Madrid 1990, pp. 157-170.

Bento XVI, Enc. Spe salvi, 30-X-2007.

S.-T. Bonino, Angels and Demons. A Catholic Introduction, The Catholic University of America Press, Washington D.C. 2016.


[1] “Embora, no anjo não haja composição de forma e de matéria, há, todavia, nele ato e potência. E isto pode ser manifestado considerando as coisas materiais, nas quais se descobre uma dupla composição. A primeira, de matéria e forma, pelas quais uma natureza é constituída. Mas a natureza assim composta não é o seu ser, senão o do seu ato; por onde, tal natureza está para o seu ser como a potência para o ato. Logo, eliminada a matéria, e posto que a forma mesma subsista sem a matéria, contudo ainda permanece a relação da forma com o seu ser, como a da potência com o ato. E tal composição é a que se deve admitir nos anjos. (...) Mas, em Deus, não difere a essência, da existência, como antes se demonstrou. Por onde, só Deus é ato puro” (São Tomás de Aquino, STh, I, q. 50, a.2, ad 3).

[2] Cfr. Santo Tomás de Aquino, STh, I, q. 50, a. 1; q. 51, a. 1.

[3] Estas expressões podem ser encontradas em J. Ratzinger, Allgemeine Schöpfungslehre, Regensburg 1976, pp. 61-64.

[4] “Ninguém poderá negar que cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para conduzir a sua vida” (São Basílio, Contra Eunomio, 3,1).

[5] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nn. 391-392.

[6] “Não admitiremos a existência do demônio, se nos obstinarmos a olhar a vida apenas com critérios empíricos e sem uma perspectiva sobrenatural. A convicção de que este poder maligno está no meio de nós é precisamente aquilo que nos permite compreender por que, às vezes, o mal tem uma força destruidora tão grande. É verdade que os autores bíblicos tinham uma bagagem conceitual limitada para expressar algumas realidades e que, nos tempos de Jesus, podia-se confundir, por exemplo, uma epilepsia com a possessão do demônio. Mas isto não deve levar-nos a simplificar demasiado a realidade afirmando que todos os casos narrados nos Evangelhos eram doenças psíquicas e que, em última análise, o demônio não existe ou não intervém. A sua presença consta nas primeiras páginas da Sagrada Escritura, que termina com a vitória de Deus sobre o demônio. De fato, quando Jesus nos deixou a oração do Pai-Nosso, quis que a concluíssemos pedindo ao Pai que nos livrasse do Maligno. A expressão usada não se refere ao mal em abstrato; a sua tradução mais precisa é “o Maligno”. Indica um ser pessoal que nos atormenta. Jesus ensinou-nos a pedir cada dia esta libertação para que o seu poder não nos domine”. (Papa Francisco, Exort. Ap., Gaudete et exsultate, 19/03/2018, n. 160).

[7] Cfr. Bento XVI, Audiência geral, 3/12/2008.

[8] “Há algo na própria consciência moral do homem que reage diante da perda de tal perspectiva: o Deus que é amor não é também justiça definitiva? Pode aceitar estes crimes terríveis, podem eles passar impunes? A pena definitiva não é de algum modo necessária para alcançar o equilíbrio moral na história tão intrincada da humanidade? Um inferno não é de alguma forma ‘a última tábua de salvação’ para a consciência moral do homem?” (são João Paulo II, Cruzando o limiar da esperança, Francisco Alves, São Paulo 1994, pg. 174)

[9] “Pode haver pessoas que destruíram totalmente em si próprias o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor; pessoas nas quais tudo se tornou mentira; pessoas que viveram para o ódio e espezinharam o amor em si mesmas. Trata-se de uma perspectiva terrível, mas algumas figuras da nossa mesma história deixam entrever, de forma assustadora, perfis deste gênero. Em tais indivíduos, não haveria nada de remediável e a destruição do bem seria irrevogável: é já isto que se indica com a palavra inferno” (Bento XVI, Enc. Spe Salvi, 3/10/2007, n. 45)

[10] Cfr. S. Kierkegaard, Diário, vol. 1, VII A 181 (edição de C. Fabro, Morcelliana, Brescia 1962, pp. 512-513).

[11] “Deus quis que fôssemos seus cooperadores, quis correr o risco da nossa liberdade” (são Josemaria, É Cristo que passa, n.113); cfr. Idem, “As riquezas da fé”, em Os domingos de ABC, 2/11/1969, pp. 4-7.

[12] Bento XVI, Mensagem Urbi et Orbi, 25/12/2012.

[13] Cfr. S. Sanz, Joseph Ratzinger y la doctrina de la creación. Los apuntes de Münster de 1964 (II). Algunos temas fundamentales, “Revista Española de Teología” 74 (2014), pp. 201-248 [231].

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/forcas-invisiveis-os-anjos-o-demonio-e-o-inferno/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF