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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Deus também tem esperança

Palco em Tor Vergata durante a Vigília do Jubileu dos Jovens  (@Vatican Media)

"Na verdade, é na aurora que se desponta a percepção do Ressuscitado. A aurora de um novo dia, sempre é sinal de esperança. Cristo Vitorioso nos dá a esperança de vencer a cada dia que passa, onde o outro nos desperta para o olhar para o Ressuscitado. Cada dia, um novo dia, uma nova perspectiva, um novo começo, um despontar de uma nova realidade."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Deus também tem esperança", é a reflexão que Pe. Gerson Schmidt* nos propõe no início desta semana. Novamente o sacerdote gaúcho inspira-se nos escritos do cardeal Raniero Cantalamessa OFMCap.  Sua afirmação de que “Deus também espera” é provocadora e teologicamente rica, pois em termos clássicos, Deus é plenitude, ato puro, sem necessidades ou carências — logo, não esperaria ou teria fé como os humanos. Mas Cantalamessa usa uma a linguagem da fé em sentido relacional, atribuindo a Deus sentimentos humanos para expressar Seu envolvimento conosco. Nesse sentido, dizer que Deus “espera” ou “tem esperança em nós” é uma forma profunda de expressar que Ele confia, aguarda livremente nossa resposta de amor e fidelidade.

"Santo Agostinho, no comentário sobre a Primeira Carta de São João[1], intitulado “o amor cobre uma multidão de pecados”, fala que “estamos correndo, portanto, e é para a pátria que corremos. Mas, se perdemos a esperança de chegar, falhamos por nossa própria falta de esperança. No entanto, aquele que deseja que cheguemos, para nos ter consigo na pátria, nos alimenta no caminho”. Pois é Deus que alimenta em nós a esperança, para que não esmoreçamos na caminhada diária. 

As virtudes teologais são tratadas por dois grandes poetas: Dante Alighieri e Charles Péguy. Péguy diz que “a fé vê apenas aquilo que é, mas a esperança vê o que será. A caridade ama apenas o que é; A esperança ama o que será”. Cardeal Raniero Cantalamessa escreve em seu livro intitulado “Fé, esperança e caridade – as três graças do Cristianismo”, que Deus também espera. Pode parecer estranho que até Deus conheça a esperança, porque Ele tudo é, em plenitude.

A caridade é recíproca, porque Deus nos ama e nós o amamos. Mas não é assim necessariamente com a fé e a esperança. Nós temos fé e esperança em Deus, mas Deus pode ter fé e esperança em nós? E a resposta é que Deus tem muita confiança e fé em nós, mais do que nós nele, porque confiou-nos, desde o início, toda a criação. Jesus mesmo disse que haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte, do que por 99 justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15,7). Claro que isso é uma alegoria, porque como deve uma ovelha pesar na balança tanto quanto todas as restantes juntas e a contar mais é precisamente aquela que fugiu e criou mais problemas?

A explicação que Cantalamessa considera mais conveniente é esta: “ao perder-se esta ovelha, tal como filho pródigo, fez tremer o coração de Deus. Deus temeu perdê-los para sempre, ser forçado a condená-los e a privar-se deles eternamente. Este medo faz brotar a esperança em Deus e a esperança uma vez realizada provocou a alegria e a festa”. E diz o poeta Péguy: “Cada conversão do ser humano é o coroar de uma esperança de Deus”.

A condição que torna a possível esperança é o fato de não vermos o futuro; não sabemos o que ele nos reserva e, portanto, há espaço em nós para esperança. Em Deus que conhece o futuro, a condição que torna possível uma forma de esperança é que Ele não quer e, em certo sentido, não pode realizar o que deseja sem o nosso consentimento. A liberdade humana explica a existência da esperança em Deus. Deus aguarda nossa conversão. Nosso Deus é um Deus que não quer a morte do injusto, mas que ele mude de comportamento e viva (cf. Ez 33,11). Não quer a morte do corpo, muito menos a morte eterna da alma. Se a morte da alma ocorrer, uma coisa é certa: não foi Deus quem a quis e a decidiu.  A vontade de Deus é que “todos sejam salvos”, conforme professa a segunda carta de São Paulo a Timóteo(2,4).

No documento final do Sínodo (2021-2024) que tratou sobre o tema da “sinodalidade”, aponta algumas reflexões sobre a esperança. No número 13 do documento diz que “na manhã de Pentecostes, encontramos três discípulos: Maria de Magdala, Simão Pedro, o discípulo que Jesus amava. Cada um deles procura o Senhor à sua maneira, cada um tem o seu papel na aurora da esperança. Maria Madalena é movida por um amor que a leva primeiro ao túmulo. Avisados por ela, Pedro e o Discípulo Amado dirigem-se para o túmulo; o Discípulo Amado corre com a força da juventude, procura com o olhar de quem sente primeiro, mas sabe dar lugar ao mais velho a quem foi confiada a tarefa de guia; Pedro, oprimido por ter negado o Senhor, aguarda o encontro com a misericórdia da qual será ministro na Igreja. Maria permanece no jardim, ouve chamar pelo seu nome, reconhece o Senhor que a envia para anunciar a sua ressurreição à comunidade dos discípulos. É por isso que a Igreja a reconhece como Apóstola dos Apóstolos. A dependência recíproca entre eles encarna o coração da sinodalidade”.

Na verdade, é na aurora que se desponta a percepção do Ressuscitado. A aurora de um novo dia, sempre é sinal de esperança. Cristo Vitorioso nos dá a esperança de vencer a cada dia que passa, onde o outro nos desperta para o olhar para o Ressuscitado. Cada dia, um novo dia, uma nova perspectiva, um novo começo, um despontar de uma nova realidade.

Nesse mesmo documento das conclusões finais da “escuta sinodal”, lemos assim: “A Igreja existe para testemunhar ao mundo o acontecimento decisivo da história: a ressurreição de Jesus. O Ressuscitado traz a paz ao mundo e dá-nos o dom do seu Espírito. Cristo vivo é a fonte da verdadeira liberdade, o fundamento da esperança que não engana, a revelação do verdadeiro rosto de Deus e o destino último do homem”[2].

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, Tract. 1,5-6: SCh 75,124-126, Séc. V.
[2] PAPA FRANCISCO, XVI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS, “Por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, Documento Final, CNBB, n. 14, p.25.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que Jesus se transfigurou?

Stig Alenas | Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 06/08/25

Com a Transfiguração, Jesus quis fortalecer a fé de seus discípulos, que liderariam a Igreja após sua morte.

Com a Transfiguração, Jesus quis fortalecer a fé de seus discípulos, que liderariam a Igreja após sua morte.

Durante a vida de Jesus na terra, ele realizou muitos milagres que foram testemunhados por grandes multidões. No entanto, houve um milagre que ele revelou apenas a um pequeno grupo de seus apóstolos (três deles, para ser exato). Ele revelou-lhes sua glória celestial e permitiu que vislumbrassem a beleza de sua luz.

Por que Jesus fez isso?

Catecismo da Igreja Católica explica que a Transfiguração reforçou a fé dos principais apóstolos, aqueles que liderariam a Igreja após sua morte:

“Por um momento, Jesus mostra a sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro. Mostra também que, para «entrar na sua glória», tem de passar pela cruz em Jerusalém” (CIC 555).

“A transfiguração de Cristo tem por fim fortalecer a fé dos Apóstolos em vista da paixão: a subida à «alta montanha» prepara a subida ao Calvário. Cristo, cabeça da Igreja, manifesta o que o seu Corpo contém e irradia nos sacramentos: «a esperança da Glória»”(CIC 568).

São Tomás de Aquino ecoa esse raciocínio em sua Summa Theologiae: 

“Era apropriado que Ele mostrasse a Seus discípulos a glória de Sua clareza (que deve ser transfigurada), para a qual Ele configurará aqueles que são Seus …”

É preciso lembrar que a Transfiguração de Jesus não foi feita apenas para esses três apóstolos, mas depois de ser compartilhada com todos os discípulos de Jesus, tornou-se um incentivo para todos os cristãos:

“A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, «que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o seu corpo glorioso» . Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus»” (CIC 556). 

Tudo na vida de Jesus tinha um grande propósito, e a Transfiguração pode nos ajudar ainda hoje a olhar para a glória que nos espera após a Paixão desta vida.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/06/por-que-jesus-se-transfigurou/

Papa: “A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida quotidiana”

Audiência Geral, 06/08/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Leão XIV iniciou, nesta quarta-feira, 06/08, um novo ciclo de catequeses, dedicado à reflexão sobre o mistério pascal e a importância espiritual de se preparar para o encontro com Cristo. "O verdadeiro amor – recorda-nos o Evangelho – é dado antes mesmo de ser correspondido. É um dom antecipado. Não se baseia no que recebe, mas sim no que deseja oferecer.", afirmou.

https://youtu.be/8RNRhnPtFBk

Thulio Fonseca – Vatican News

“Irmãos e irmãs, bom dia!”

Com essas palavras proferidas em português, o Papa iniciou a Audiência Geral desta quarta-feira, 6 de agosto, realizada na Praça São Pedro. Leão XIV deu continuidade às reflexões sobre o itinerário jubilar e propôs uma nova etapa de meditações sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus. O Pontífice sugeriu aos fiéis uma leitura espiritual do verbo “preparar”, a partir de um trecho do Evangelho de Marcos.

“Continuamos a nossa caminhada jubilar para descobrir o rosto de Cristo, em quem a nossa esperança toma forma e substância”, afirmou o Papa. E, partindo do episódio evangélico em que os discípulos perguntam a Jesus onde desejava celebrar a Páscoa, Leão XIV destacou a importância dos pequenos detalhes: “No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, disseram-lhe os seus discípulos: ‘Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?’” (Mc 14,12).

Segundo o Papa, “a resposta de Jesus parece quase enigmática: ‘Ide à cidade, e virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água’ (v. 13)”. E prosseguiu explicando que os elementos aparentemente banais da cena – como o homem com o cântaro ou a sala no andar superior – revelam uma realidade mais profunda: “Com efeito, é exatamente assim. Neste episódio, o Evangelho revela-nos que o amor não é fruto do acaso, mas de uma escolha consciente. Não é uma reação simples, mas uma decisão que exige preparação.”

Deus sempre nos precede

O Papa ressaltou que a imagem da “sala já pronta no andar superior” mostra como Deus se antecipa às nossas necessidades: “Antes mesmo de percebermos que precisamos de ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde nos podemos reconhecer e sentir seus amigos.” Esse espaço, segundo o Santo Padre, é o nosso próprio coração, muitas vezes vazio, mas chamado a ser preenchido pela presença divina:

“Jesus não enfrenta a sua paixão pelo destino, mas pela fidelidade a um caminho que abraçou e percorreu com liberdade e cuidado. É isso que nos consola: saber que o dom da sua vida vem de uma intenção profunda, não de um impulso imediato.”

Neste caminho, destacou o Pontífice, “a graça não elimina a nossa liberdade, mas desperta-a. O dom de Deus não anula a nossa responsabilidade, mas torna-a fecunda.”

Celebrar a Eucaristia na vida quotidiana

Leão XIV advertiu para a tentação de confundir os preparativos com ativismo ou expectativas vazias. Preparar-se para celebrar esta ação de graças não significa fazer mais, mas deixar espaço. Significa remover o que é pesado, baixar as nossas exigências, deixar de cultivar expectativas irrealistas:

“Ainda hoje, como então, há uma ceia a preparar. Não se trata apenas da liturgia, mas da nossa disponibilidade para participar num gesto que nos transcende. A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida quotidiana, onde é possível experimentar tudo como oferta e ação de graças.”

Para o Papa, a cena do Cenáculo revela o verdadeiro amor de Cristo, que prepara um banquete mesmo diante da traição e da negação dos discípulos: “Enquanto eles ainda não compreendiam, enquanto um estava prestes a traí-lo e outro a negá-lo, Ele preparava uma ceia de comunhão para todos.”

Preparar a Páscoa da vida

O Papa também fez um convite concreto aos fiéis e peregrinos: “Também nós somos convidados a ‘preparar a Páscoa do Senhor’. Não só a Páscoa litúrgica, mas também a Páscoa das nossas vidas.” E sugeriu uma reflexão:

“Que espaços da minha vida preciso de reorganizar para estar pronto para acolher o Senhor? O que significa ‘preparar’ para mim hoje? Talvez signifique renunciar a uma exigência, deixar de esperar que o outro mude, dar o primeiro passo. Talvez signifique ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar no que já foi predisposto.”

Mistério de um amor infinito

Ao concluir a catequese, Leão XIV sublinhou que, se aceitamos o convite para preparar o lugar da comunhão com Deus e uns com os outros, iremos descobrir que estamos rodeados de sinais, encontros e palavras que nos indicam aquela sala espaçosa e já pronta, onde o mistério de um amor infinito, que nos sustenta e sempre nos precede, é incessantemente celebrado. E completou:

“Que o Senhor nos conceda ser humildes preparadores da sua presença. E, nesta disponibilidade diária, cresça em nós aquela confiança serena que nos permite enfrentar tudo de coração aberto. Pois, onde o amor estiver pronto, a vida pode verdadeiramente florescer.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Dom Vital: A hospitalidade nos séculos IV e V

Solidariedade (Vatican News)

É importante perceber a atuação da Igreja nos séculos IV e V através dos bispos, sacerdotes, leigos e leigas, os santos padres que deram um bom testemunho assumindo atitudes acolhedoras para o povo simples, pobre que vinha de longe em relação às suas comunidades.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá - PA.

A acolhida é um dom divino e é também um dos compromissos dos fiéis seguidores e seguidoras do Senhor Jesus, uma vez que Ele quer ser amado por todas as pessoas mas sobretudo por aquelas mais necessitadas, porque nelas Ele se faz presente (cfr. Mt 25, 40). Nós estamos passando por muitas guerras, fome, violências de modo que muitas pessoas necessitam migrar para outros países ou comunidades. É importante perceber a atuação da Igreja nos séculos IV e V através dos bispos, sacerdotes, leigos e leigas, os santos padres que deram um bom testemunho assumindo atitudes acolhedoras para o povo simples, pobre que vinha de longe em relação às suas comunidades.

A face do nosso Salvador

São Gregório de Nissa, bispo do século IV afirmou a presença do Senhor Jesus na face de pessoas nuas e sem teto. Às portas de muitos fiéis existia uma multidão de prisioneiros, e dentre estes, não faltavam estrangeiros e emigrantes que estendiam a mão para uma ajuda. Muitos deles se refugiavam nas grutas, mas também encontravam pessoas de boa vontade que os alimentavam. Em relação à bebida, tomavam as águas nas fontes como os animais[1].

Desde o princípio não era assim

São Gregório de Nissa tinha presente a vida primitiva quando Deus criou tão bem as coisas e as pessoas (cfr. Gn 1). Esta vida errante e selvagem não foi assim desde o princípio, mas era consequência das desventuras, das injustiças, e dos sofrimentos humanos[2]. Por isso o bispo convocava as pessoas para que o jejum realizado ajudasse aquelas pessoas. A generosidade fosse dada aos infelizes, pessoas mais necessitadas. As coisas poupadas ao seu estômago fossem concedidas ao faminto, porque um justo temor de Deus produziria a igualdade.

O Verbo eterno de Deus

São Gregório também dizia que as melhorias das coisas não fossem só belas conversas para modificar a vida de quem estivesse na miséria, mas sim houvesse a caridade, o amor. Um bom desejo que viria do coração para se tornar realidade pela ação humana visasse o amor para com os pobres. O Verbo eterno de Deus dê a eles a casa, a cama, a mesa, através da palavra dos servos, servas, porque com os bens que a pessoa teria, procurasse aquilo que mais servisse aos mais pobres[3].

A pessoa também era pobre

O Nisseno afirmava que ainda que a pessoa dissesse que também ela era pobre, ela deveria dar aquilo que tem para pessoas mais pobres, porque Deus não pede além das próprias forças. Se uma pessoa desse um pão, outra ajudasse com uma bebida, um outro ainda concedesse uma roupa, um pouco de solidariedade libertar-se-iam alguma ou mais pessoas, das desgraça, dos sofrimentos do qual muitas passavam. As moedas da viúva foram bem consideradas pelo Senhor porque ela deu muito mais do que os outros (cfr. Lc 21, 1-4)[4].

O rosto do Senhor

São Gregório convidava as pessoas para não desprezar os pobres que estivessem no chão como se não merecessem nada. Eles estavam naquela situação porque pediam ajuda para quem tivessem mais condições de vida. Eles possuíam uma dignidade pelo fato de que eles revestiram a face do nosso Salvador[5].

O benefício da hospitalidade

Evágrio Pôntico, monge do século IV dizia que a hospitalidade trazia benefícios seja para a pessoa que necessita, seja para quem a recebe. Como a pessoa não mostraria bondade e caridade para com o irmão por ele ser membro da caridade portadora de Cristo? Se uma pessoa vier a fazer-lhe uma visita, seja caritativa para com ela, porque trata-se da visita do Senhor. O monge afirmava que não se podia dizer que as visitas das pessoas fossem um incômodo, mas era uma ajuda na luta contra a falange do Adversário porque unidos pelo vinculo da caridade, afastaremos o mal e transferiremos o fruto do trabalho das nossas mãos no tesouro da hospitalidade[6].

O colírio de Deus

O monge Evágrio também afirmou que o hóspede e o pobre são o colírio de Deus (cfr. Ap 3,18). Quem os acolhe recuperará logo a vista[7]. O Deus que seguimos e adoramos quer o bem de todas as pessoas, sobretudo dos pobres e dos marginalizados. A Sagrada Escritura tem presente a predileção do Senhor para as pessoas que são mais necessitadas.

O estrangeiro e o peregrino

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, nos séculos IV e V dizia que os santos eram estrangeiros e peregrinos neste mundo em vista do Reino dos céus. Abraão declarou-se ser uma pessoa estrangeira e peregrina porque ele saiu de uma terra distante para fazer a vontade de Deus (cfr. Gn 12,1). O rei Davi também disse que era estrangeiro e peregrino como todos os seus pais (cfr. Sl 38,13). Os santos habitavam em tendas e compravam com o seu dinheiro as sepulturas aparecendo de uma forma clara que eram estrangeiros, pois eles não tinham local onde sepultar os seus mortos. O Senhor disse a Abraão de abandonar a sua terra e de ir numa terra estrangeira (cfr. Gn 12,1). Desta forma ele praticou a virtude humana da hospitalidade, preparando-se para a vida divina através da hospitalidade e da caridade fraterna[8].

Nós vimos as manifestações dos autores cristãos, os padres da Igreja que elaboraram aspectos da hospitalidade cristã, tendo como ponto essencial Jesus Cristo que veio do Pai e pedia aos seus discípulos, discípulas a acolhida de muitas pessoas. Nós somos chamados a viver a Palavra de Deus que nos chama à conversão de vida, assumirmos obras de caridade para um dia participarmos do Reino dos céus.  

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[1] Cfr. Omelie sull’amore per i poveri 1,4-5,7 di Gregorio de Nissa. In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pgs. 106-107

[2] Cfr. Idem, pg. 107.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 107.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 107.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 108.

[6] Cfr. A Eulogio 24 di Evagrio Pontico. In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa, pgs 112-113.

[7] Cfr. Sentenze spirituali 14. In: Idem, pg. 114.

[8] Cfr. Omelie sulla Lettera agli Ebrei 24,2 di San Giovanni Crisostomo. In: Idem, pg. 131. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Oito dados sobre a Transfiguração do Senhor

Transfiguração do Senhor | WikimediaCommons

Por Redação central*

6 de ago. de 2025

Este artigo reúne oito dados que todo católico deve saber sobre a festa da Transfiguração do Senhor, celebrada hoje (6).

1. Transfiguração significa "mudança de forma"

A palavra "transfiguração" provem das raízes latinas trans ("através") e figura ("forma, aspecto"). Portanto, significa uma mudança de forma ou aparência.

Foi o que aconteceu com Jesus no evento conhecido como a Transfiguração: sua aparência mudou e se tornou gloriosa.

2. O Evangelho de Lucas prediz a Transfiguração

No Evangelho de Lucas 9, 27, no final de um discurso aos doze apóstolos, Jesus misteriosamente acrescenta: “Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não morrerão, até que vejam o Reino de Deus".

Isso costuma ser tomado como uma profecia de que o fim do mundo ocorreria antes da morte da primeira geração de cristãos. No entanto, a frase "reino de Deus" também pode se referir à "expressão externa do reino invisível de Deus".

O reino está encarnado no próprio Cristo e, portanto, poderia ser "visto" se Cristo o manifestasse de uma maneira incomum, inclusive em sua própria vida terrena, como foi o evento da Transfiguração.

O papa emérito Bento XVI afirmou que Jesus "argumentou de forma convincente que a colocação dessa frase imediatamente antes da Transfiguração a relaciona claramente a esse evento".

"A alguns, isto é, aos três discípulos que acompanham Jesus à montanha, é prometido que presenciarão pessoalmente a vinda do Reino de Deus ‘no poder’”, acrescentou.

3. A Transfiguração foi testemunhada pelos três discípulos principais

A Transfiguração ocorreu na presença dos apóstolos João, Pedro e Tiago, os três discípulos principais.

O fato de Jesus ter permitido apenas três de seus discípulos presenciarem o evento pode ter provocado a discussão que rapidamente ocorreu sobre qual dos discípulos era o maior (Lucas 9, 46).

4. Não se sabe exatamente onde ocorreu a Transfiguração

São Lucas declara que Jesus levou os três à "montanha para rezar". Costuma-se pensar que esta montanha é o Monte Tabor, em Israel, mas nenhum dos evangelhos a identifica com exatidão.

5. A Transfiguração serviu para fortalecer a fé dos apóstolos

Segundo o Catecismo da Igreja Católica numeral 568: “A Transfiguração de Cristo tem por finalidade fortificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão: a subida à ‘elevada montanha’ prepara a subida ao Calvário. Cristo, Cabeça da Igreja, manifesta o que seu Corpo contém e irradia nos sacramentos ‘a esperança da Glória’".

6. O Evangelho de Lucas é o que dá mais detalhes deste acontecimento

São Lucas menciona vários detalhes sobre a Transfiguração que outros evangelistas não fazem. Por exemplo, observa que isso aconteceu enquanto Jesus estava rezando; menciona que Pedro e seus companheiros "tinham-se deixado vencer pelo sono; ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia". Também menciona que Pedro sugeriu a criação de tendas enquanto Moisés e Elias se preparavam para partir.

7. A Aparição de Moisés e Elias representa a Lei e os Profetas.

Moisés e Elias representam os dois principais componentes do Antigo Testamento: a Lei e os Profetas.

Moisés foi o doador da Lei e Elias foi considerado o maior dos profetas.

8. A sugestão de São Pedro foi errônea

O fato de que a sugestão de Pedro ocorra quando Moisés e Elias estão se preparando para partir revela um desejo de prolongar a experiência da glória. Isso significa que Pedro está se centrando no incorreto.

A experiência da Transfiguração tem como objetivo sinalizar os sofrimentos que Jesus está prestes a experimentar. Está destinado a fortalecer a fé dos discípulos, revelando-lhes a mão divina que está trabalhando nos acontecimentos que Jesus sofrerá.

Pedro erra o alvo e quer ficar na montanha, ao contrário da mensagem que Moisés e Elias expuseram.

Como aparente repreensão disso, ocorre uma teofania: “Veio uma nuvem e encobriu-os com a sua sombra; e os discípulos, vendo-os desaparecer na nuvem, tiveram um grande pavor. Então, da nuvem saiu uma voz: ‘Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!’".

Publicado originalmente em National Catholic Register.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/52784/oito-dados-que-deve-saber-sobre-a-transfiguracao-do-senhor

Transfiguração do Senhor

Transfiguração do Senhor (Vatican News)

A festa da Transfiguração recorda a dedicação das Basílicas do Monte Tabor, celebrada desde o fim do século V.

Vatican News

Esta festa é posterior à da Exaltação da Cruz (14 de setembro), da qual depende a sua data, marcada para 6 de agosto, 40 dias antes da Exaltação da Cruz. A festa começou a ser celebrada, também no Ocidente, a partir do século IX, quando foi inserida no calendário romano pelo Papa Calisto III, em 1457: uma ocasião histórica pela feliz recordação da vitória contra os Turcos, ocorrida no ano anterior, que ameaçavam seriamente o Ocidente.

O ponto central da festa, naturalmente, é o mistério da Transfiguração: a visão do venerável “Ancião” no trono de fogo e a aparição do “Filho do Homem” (Cf. primeira leitura).

«Passados uns oito dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu ao monte para rezar. Enquanto rezava, seu rosto se transformou e as suas vestes se tornaram resplandecentes de brancura. Eis que dois personagens falavam com ele: eram Moisés e Elias, que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele, que se havia de cumprir em Jerusalém. Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono; ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia. Quando estes se apartaram de Jesus, Pedro disse: “Mestre, é bom estarmos aqui! Podemos levantar três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias!”. Ele não sabia o que estava dizendo. Enquanto ele ainda falava, veio uma nuvem e os encobriu com a sua sombra. Vendo-os entrar na nuvem, os discípulos tiveram um grande pavor. Então, da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho muito amado; ouvi-O!”. Quando a voz cessou, Jesus ficou sozinho. Os discípulos calaram-se e não disseram a ninguém o que tinham visto naqueles dias» (Lc 9, 28-36).

A montanha

“Conduziu-os à parte a uma alta montanha”: “A montanha - recorda o profeta Isaías - é a casa do Senhor, que se eleva acima dos montes” (Is 2,2; Mq 4,1). Esta subida à montanha evoca outras "subidas" e outras experiências da manifestação de Deus: o monte Horeb/​​Sinai (Ex 3,1; 24,12-18), a subida e descida de Moisés (Cf. Ex 19,24), a experiência de Elias (cf. 1 Reis 19,8ss). Sobre o monte, Jesus revela aos seus três discípulos que a sua vida é muito mais profunda do que "viam" e "sabiam". A experiência da Transfiguração é um acontecimento de oração, como Lucas recorda: “Jesus subiu ao monte para rezar”. Naquele contexto, Jesus mostra ser uma só coisa com o Pai (Cf. Jo 10,30). Naquele diálogo, onde “suas vestes eram resplandecentes de brancura”, Jesus revela ser a Luz do mundo (Cf. Jo 12,46).

Moisés e Elias

Apareceram Moisés e Elias conversando com Jesus”: Elias, pai dos profetas, e Moisés, custódio da lei, representam toda a história do Antigo Testamento. Moisés teve o dom de receber, várias vezes, as manifestações de Deus. Por esta sua intimidade e amizade com Deus, seu rosto brilhava (Cf. Ex 34,29-35). Todavia, sabemos que Moisés também era esperado: "O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir" (Dt 18,15). Assim, Moisés também foi aquele que pediu a Deus: "Mostrai-me vossa glória" (Ex 33,18), e Deus lhe respondeu: “Não poderás ver a minha face... e continuar a viver" (Ex 33,20- 23). Mas, finalmente, com Jesus, sobre a montanha, Moisés pode ver a glória de Deus, que é o próprio Jesus Cristo, o "Senhor da glória" (1 Cor 2,8), sobre quem "brilha o esplendor da glória de Deus" (2 Cor 4,6): Jesus é o novo Moisés. Ao lado de Moisés, Elias, pai dos profetas, que também subiu à montanha, ouviu Deus como “o murmúrio de uma leve brisa/vento fino" (1 Reis 19,12). Ele é a síntese ideal de toda a multidão de profetas, que se concluiu com João Batista, o último dos profetas, o "novo Elias" (Cf. Mt 11,14). A presença de "Elias e Moisés"! Jesus devia "revelar-se" aos discípulos, mas há também um dado mais "humano": o próprio Jesus precisava confrontar-se com a "sua partida" (paixão – morte - ressurreição), mas sabia que não podia falar disso aos seus discípulos, porque não iriam entender. Então, escolheu dois "amigos" de grande calibre, dois amigos da Escritura: um modo com o qual Jesus sugere, a mim e a cada um de nós, que em dado momento, devemos saber escolher em quem confiar e com quem confrontar, porque nem tudo está ao alcance de todos. Os amigos da Escritura, como também os Santos, que a Igreja nos indica como "amigos e modelos de vida", podem nos ajudar, com seus escritos e exemplos, para compreender o sentido da vida e a dar-lhe uma justa orientação.

A nuvem

Veio uma nuvem luminosa do céu...”: a experiência do Êxodo continua sendo o pano de fundo: a marcha cansativa do povo no deserto, guiado por uma nuvem (Ex 13,21ss); a nuvem sobre o Monte Sinai (Ex 19,16); a nuvem que acompanhava "o tabernáculo" (Ex 40,34-35), que guardava "a Lei" de Deus; enfim, a nuvem que desceu sobre Jesus, que disse: "Os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai, em espírito e verdade" (Jo 4,23); assim, nem montanhas e nem tabernáculos especiais serão mais necessários.

Eis o meu Filho muito amado... ouvi-O”: na hora de ser batizado, somente Jesus ouviu a voz do céu (Cf. Mc 1,11); agora, porém, esta mesma voz foi ouvida também pelos discípulos. Ouvi-O: é o eco do Shemá, "Ouve, Israel" (Dt 6,4) e das palavras de Moisés: "O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir" (Dt 18,15). A voz na montanha indica que, agora, somente Jesus deverá ser ouvido: Ele é a Palavra viva, a Palavra de vida e da verdade (Cf. Jo 14,6).

“É bom estarmos aqui...”

Pedro não conseguia entender tudo, mas sabia uma coisa: "É bom estarmos aqui" (Lc 9,33). Trata-se do impulso humano: quantas experiências “lindas” nós também vivemos, a ponto de nos deixarmos arrastar e dizer “façamos três tendas…”, “paremos o tempo”. Porém, corremos o risco de fazer apenas experiências emocionais, que nos tornam incapazes de “descer da montanha”, onde reina a concretude da vida. Jesus ensina-nos que a escuta ativa é o ápice da experiência: "Ouvi-O". Não podemos permanecer sob a ditadura das emoções: elas são necessárias, claro, mas não suficientes; servem ​​para acalentar, dar novo impulso e coragem... mas, somos bem mais superiores que as emoções. “É a escuta que define o discípulo – recorda B. Maggioni. - Não se trata de ser originais, mas servidores da verdade. A escuta é feita de obediência e esperança; requer inteligência para compreender, mas também coragem para decidir, porque a Palavra te envolve e te arranca de ti mesmo”. Ela dá o que o coração busca: "Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa" (Jo 15,11). “Senhor, é bom estarmos aqui!”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Próxima Jornada Mundial da Juventude é a primeira num país não-cristão, diz bispo

Jovens peregrinos coreanos se reúnem para missa no Jubileu da Juventude na basílica de São Crisógono em Trastevere, celebrada pelo cardeal Andrew Yeom Soo-jung em 31 de julho de 2025. | Courtney Mares/CNA.

Por Courtney Mares*

5 de ago. de 2025

A próxima Jornada Mundial da Juventude será a primeira em um país sem maioria de cristãos, a Coreia do Sul. O encontro global de jovens católicos iniciado por são João Paulo II vai de 3 a 8 de agosto de 2027 em Seul.

O bispo Paul Kyung-sang Lee, coordenador geral da Jornada Mundial da Juventude de Seul 2027 e bispo auxiliar de Seul, enfatizou a importância do evento numa entrevista à CNA, agência em inglês da EWTN, no recente Jubileu da Juventude em Roma.

“A Coreia é o primeiro país não cristão a sediar a Jornada Mundial da Juventude”, disse Lee. “Ao mesmo tempo, é a única nação dividida em duas. Portanto, o tema principal deve ser a paz — paz entre religiões, paz entre dois países”.

“Quero ver os jovens desfrutando do imenso amor de Deus”, disse também o bispo. “Para que a próxima geração não envie seus filhos para a guerra… Essa é a minha esperança”.

A Coreia do Sul, onde cerca de 31% da população é cristã e 51% declara não ter religião, tem registrado um crescimento constante nas conversões ao catolicismo. O padre Isaac Severo, da catedral de Myeongdong, em Seul, disse à CNA que cerca de 40 jovens adultos são batizados todos os meses só na catedral.

Em 2023, cerca de 51 mil pessoas foram batizadas na Coreia — 75% das quais eram adultos convertidos ou pessoas em perigo de morte.

Os católicos são cerca de 11% da população da Coreia do Sul, de 52 milhões de habitantes. Cerca da metade da população vive na área metropolitana de Seul, fazendo da cidade uma das maiores áreas metropolitanas do mundo.

O papa Leão XIV anunciou formalmente as datas da Jornada Mundial da Juventude de 2027 na missa de encerramento do Jubileu da Juventude, no último domingo (3), em Tor Vergata, em Roma, na presença de cerca de 1 milhão de jovens.

“Depois deste jubileu, a peregrinação da esperança dos jovens continua e nos levará à Ásia”, disse o papa.

“Vocês, jovens peregrinos da esperança, serão testemunhas disso até os confins da Terra!”, disse Leão XIV. “Aguardo ansiosamente por vê-los em Seul: continuemos a sonhar juntos e a ter esperança juntos”.

O encontro de jovens de 2027 será a segunda Jornada Mundial da Juventude a ser feita na Ásia. A primeira foi em Manila, Filipinas, em 1995, que atraiu milhões de pessoas. Para a Igreja na Coreia, o próximo evento será um momento histórico.

Cerca de mil jovens católicos coreanos viajaram a Roma para o Jubileu da Juventude, participando e promovendo a próxima Jornada Mundial da Juventude. Entre eles estava Jiyeon Maeng, de 22 anos de idade.

"Estou realmente ansiosa por isso e ansiosa para que as pessoas aqui venham à Coreia e aproveitem o festival conosco", disse ela. "Estamos dizendo a eles: Venham para a Coreia, por favor".

Maeng considera "uma grande honra" a viagem do papa Leão XIV à Coreia em 2027.

"É uma grande honra para a Coreia e uma grande honra para todos nós, coreanos”, diz ela. “E acho que muitos coreanos estarão esperando por ele".

Jovens peregrinos coreanos se reuniram para a missa no jubileu na basílica de San Crisogono em Trastevere, uma igreja com laços com a Coreia como igreja titular do cardeal Andrew Yeom Soo-jung, arcebispo de Seul, que ofereceu a missa pelos peregrinos.

Lee, que pregou a homilia, encorajou os jovens a buscarem “as pequenas graças diárias — os pequenos presentes que o Senhor nos oferece” e a “encherem seus corações de alegria, eliminando a tristeza”.

A basílica estava tão lotada que muitos jovens se sentaram no chão e nos corredores laterais. Depois da missa, Yeom surpreendeu os peregrinos ao anunciar que havia comprado sorvete para todos aproveitarem no calor escaldante de Roma.

Stephany Sun, gerente global de comunicações da arquidiocese de Seul, falou sobre o Projeto 1004 da delegação coreana — um trocadilho com a palavra cheon-sa que significa tanto “anjo” como “1.004” em coreano — para levar 1.004 jovens a Roma para o jubileu.

“Queríamos que eles vivessem a Jornada Mundial da Juventude com antecedência, já que a Jornada Mundial da Juventude ainda não é tão popular na Coreia”, disse ela. “Eles ficaram muito surpresos com a multidão e os diferentes jovens que compartilham a mesma fé... então eu diria que eles estão se divertindo muito aqui agora”.

Alguns peregrinos descreveram profundos encontros espirituais na visita. "Meu grupo teve uma experiência muito profunda com o Espírito Santo na basílica de Latrão", disse o padre Joseph Sung-jae Lee.

Severo ecoou esse sentimento. “Vamos às basílicas importantes, vamos às escadas sagradas, às catacumbas, e vemos que Cristo está lá para os jovens”, disse ele. “Cristo procura os perdidos. Ele é como o pastor — o jovem pastor. E os jovens buscam essa alegria, essa felicidade, esse prazer no mundo. Mas essa não é a verdade. A verdade é que Cristo é tudo para nós”.

À medida que os preparativos para 2027 começam, Sun deu algumas dicas para jovens peregrinos que planejam viajar para Seul: aprendam algumas frases em coreano, levem um pequeno leque ou guarda-chuva para ajudar com o calor do verão e "treinem sua capacidade de comer comida apimentada!", disse ela.

*Courtney Mares é correspondente em Roma, Itália, pela Catholic News Agency (CNA), agência em inglês da EWTN. Formada pela Universidade de Harvard, nos EUA, ela fez reportagens em agências de notícias em três continentes e recebeu a bolsa Gardner Fellowship por seu trabalho com refugiados norte-coreanos.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63949/proxima-jornada-mundial-da-juventude-e-a-primeira-num-pais-nao-cristao-diz-bispo

Leão XIV: o papel da Igreja é ser luz, um farol de esperança para as nações

3° Congresso da Rede Católica Pan-Africana de Teologia e Pastoral se realiza em Abidjan, Costa do Marfim (Vatican News)

Na mensagem de vídeo enviada aos participantes do 3° Congresso da Rede Católica Pan-Africana de Teologia e Pastoral, na Costa do Marfim, o Papa os encoraja "a continuar construindo a família das Igrejas locais em seus diferentes países e regiões, para que haja redes de apoio disponíveis para todos os nossos irmãos e irmãs em Cristo, e também para a sociedade em geral, especialmente para aqueles que vivem nas periferias".

Mariangela Jaguraba – Vatican News

Teve início, nesta terça-feira (05/08), em Abidjan, Costa do Marfim, o 3° Congresso da Rede Católica Pan-Africana de Teologia e Pastoral intitulado "Caminhar juntos na esperança como Igreja Família de Deus na África".

O Papa Leão XIV enviou uma mensagem de vídeo aos participantes do evento, que prossegue até domingo, 10 de agosto, na qual agradece aos "organizadores pelo árduo trabalho desempenhado na organização deste importante encontro". "Ofereço também minhas orações aos bispos, teólogos, líderes pastorais, jovens e todos os fiéis leigos que se reuniram para refletir sobre o futuro da Igreja na África", diz o Pontífice no vídeo.

“Três anos atrás, no segundo Congresso, o Papa Francisco falou sobre a importância da fé. Agora, como parte do Jubileu deste ano, celebramos outra virtude teologal: a esperança.”

Segundo o Papa, "talvez, em certos momentos, seja dada mais ênfase às virtudes da fé e da caridade; contudo, a esperança desempenha um papel vital em nossa peregrinação terrena".

A esperança nos inspira e nos sustenta

“De fato, ela pode ser vista como a virtude que conecta as outras duas. Em certo sentido, a fé e a teologia fornecem as bases para o conhecimento de Deus, enquanto a caridade é a vida de amor que desfrutamos com Ele. No entanto, é por meio da virtude da esperança que desejamos alcançar a plenitude dessa felicidade no Céu.”

De acordo com o Papa Leão, a esperança "nos inspira e nos sustenta a nos aproximarmos cada vez mais de Deus, mesmo diante das dificuldades da vida".

A seguir, o Pontífice recorda que a África, "como qualquer outra parte do mundo, enfrenta uma série de dificuldades. Diante desses desafios e da percepção de que as coisas não mudam, é fácil desanimar".

A Igreja deve ser a luz do mundo

“No entanto, é precisamente o papel da Igreja ser a luz do mundo, uma cidade erguida sobre um monte, para ser um farol de esperança para as nações.”

A seguir, o Pontífice ressalta que o tema do congresso é particularmente pertinente. "Embora cada um de nós seja chamado a cultivar a sua própria relação pessoal com Deus, ao mesmo tempo, através do nosso batismo, somos unidos como filhos e filhas do nosso Pai Celestial", sublinha.

Responsabilidade de cuidar uns dos outros

“Temos, portanto, a responsabilidade de cuidar uns dos outros. De fato, a família é geralmente o primeiro lugar onde recebemos o amor e o apoio de que precisamos para seguir em frente e vencer as provações que a vida nos apresenta.”

O Papa os encoraja "a continuar construindo a família das Igrejas locais em seus diferentes países e regiões, para que haja redes de apoio disponíveis para todos os nossos irmãos e irmãs em Cristo, e também para a sociedade em geral, especialmente para aqueles que vivem nas periferias".

Unidade entre teologia e pastoral

O Santo Padre enfatiza "a importância de ver a unidade entre teologia e pastoral". "Devemos viver aquilo em que cremos. Cristo nos disse que veio não apenas para nos dar vida, mas para dá-la em abundância", ressalta.

O Papa diz aos participantes do 3° Congresso da Rede Católica Pan-Africana de Teologia e Pastoral que cabe a eles "trabalhar juntos para implementar programas pastorais que demonstrem como os ensinamentos da Igreja ajudam a abrir os corações e as mentes das pessoas para a verdade e o amor de Deus".

Leão XIV confia os trabalhos do encontro à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, para que guie e inspire os participantes em seus esforços.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 5 de agosto de 2025

YouTuber quer convidar o Papa para uma jornada apostólica na internet

Benoît Gélébart à Rome. | CD I Aleteia

Camille Dalmas - publicado em 01/08/25

Em Roma para o Jubileu, o YouTuber Benoît Gélébart quer convidar o Papa Leão XIV para uma jornada apostólica inédita: o continente digital da Internet.

Benoît Gélébart é um dos mil participantes reunidos em Roma para o Jubileu dos Missionários do Mundo Digital e Influenciadores Católicos. Com seu amigo Thibault Pfeffer, que ficou na França, esse jovem criador de conteúdo compartilha reflexões sobre evangelização no canal do YouTube Deux Disciples, que já ultrapassa 17 mil seguidores. Convidado a integrar o grupo de criadores católicos para o evento, ele se disse encantado ao ver como católicos de diferentes nações comunicam a alegria do Evangelho pelas redes sociais.

Gélébart já teve a chance de conhecer o Papa Francisco alguns anos atrás e espera poder cumprimentar Leão XIV. Ele tem uma proposta para o novo pontífice.


Uma proposta para o século XXI

O YouTuber tem um grande sonho que espera concretizar: iniciar a primeira jornada apostólica de um Papa… na Internet.

“Assim como ele vai à Bélgica e à Tailândia para encontrar os fiéis nesses países, sentimos que há uma necessidade de o Papa estar presente também na internet”, explica.

Dessa forma, ele alcançaria especialmente os jovens, que utilizam diariamente as diferentes redes sociais existentes.

“Seria uma grande mensagem para o mundo”, diz o jovem entusiasmado, comparando o evento a uma “Jornada Mundial da Juventude na internet”.

Ele ressalta que isso não substituiria a JMJ ou qualquer outro tipo de encontro presencial, mas sim complementaria esses momentos, que são tão importantes.

“Terminaria com um grande evento ao vivo, onde poderíamos imaginar, por exemplo, uma sessão de perguntas e respostas no Twitch ou no YouTube…”


Como seria essa jornada apostólica inédita?

“Tudo ainda está por ser decidido, mas assim como o Papa encontra líderes religiosos, padres e pessoas em situação de pobreza quando visita um país, poderíamos imaginar encontros semelhantes durante três dias, mas na internet.”

O Papa encontraria missionários digitais, mas também vítimas da internet, como vítimas da pornografia, por exemplo. E concluiria com um grande evento ao vivo no qual o Papa proclamaria uma mensagem forte — e, quem sabe, interagiria com perguntas e respostas em plataformas como Twitch ou YouTube.

Gélébart espera encontrar apoio para seu projeto em Roma e vê um potencial de crescimento nessa ideia. O mais importante, segundo ele, é:

“Levar o Papa à internet para mostrar que esse continente precisa ser evangelizado hoje e que a Igreja deve estar presente para todos.”

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/01/youtuber-quer-convidar-o-papa-para-uma-jornada-apostolica-na-internet/

Dante o secular, isto é, o cristão (Parte 2/2)

Os Homens Simônicos, Inferno XIX, ilustração de Sandro Botticelli | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 04 - 2000

Dante o secular, isto é, o cristão

Entrevista com Alberto Asor Rosa sobre Alighieri: "Sua crença era absoluta nos fundamentos da fé, mas altamente crítica em relação a todo o resto. Além disso, ele tinha consciência de que todo homem é pecador. A consciência cristã das limitações humanas é precisamente o fundamento do pensamento secular."

Entrevista com Alberto Asor Rosa por Paolo Mattei

Ao falar de "escolha", você postula uma autoconsciência plena, uma consciência completa, na obra poética de Dante e Petrarca. Não seria mais correto imaginar dois escritores involuntariamente posicionados em lados opostos da divisão inevitável inerente a toda transição de uma era para outra, resultando, neste caso, em um Dante naturalmente popular e um Petrarca inadvertidamente aristocrático? 

ASOR ROSA: É certo que, ao avaliar fenômenos desse tipo, devemos sempre ter cuidado para não imputar subjetividade excessiva aos protagonistas. Neste caso, porém, acredito que os elementos subjetivos da autoconsciência foram muito importantes. Petrarca se apresenta como o iniciador de um novo estilo que leva em conta o passado, mas estabelece objetivos muito diferentes. Isso se aplica tanto a Petrarca, o humanista, latinista, quanto a Petrarca mais ligado à tradição vernacular — o autor do Canzoniere , para ser claro . Petrarca tinha consciência de que se dirigia a um público "superior". Para Dante, a questão é mais complexa. No entanto, se alguém ler o Convívio , parece-me que se pode apreender a presença de uma ideia de cultura que, em vez de se destinar aos salões de poucos, desce às praças públicas de muitos. A poesia de Dante, a grande poesia da Divina Comédia , vai além do círculo restrito dos literatos. Aqui, também entra em jogo o elemento religioso, que em Dante é um dos componentes essenciais de sua relação com uma massa mais conspícua de leitores. 

O Cardeal Ratzinger aludiu a Dante em sua apresentação do documento sobre o mea culpa da Igreja , Memória e Reconciliação: A Igreja e as Faltas do Passado . Ratzinger se referiu à alegoria da carruagem ( Purgatório XXIX-XXXIII), na qual o poeta descreve a presença do Anticristo na Igreja Há um profundo realismo nisso, a clara consciência de que a Igreja não é imune ao pecado...

ASOR ROSA: Dante não transmite, na verdade, a ideia de uma Igreja pura, intocada pelo pecado. E entre os muitos pecados dos quais os pontífices — hóspedes da terceira bólgia descrita no capítulo 19 do Inferno — poderiam ter sido culpados em sua existência terrena, Dante "escolhe" aquele que considerou mais grave: o tráfico de coisas sagradas, a simonia, que na carruagem alegórica do Purgatório é representada pelo gigante e pela prostituta. Ele não pensa em incontinência, nem em pecados sexuais, que ele encobre. Evidentemente, foi isso que o impressionou mais do que qualquer outra coisa. Esses elementos revelam a figura de um Dante "livre-pensador": o que ele viu, ele relatou sem medo. Portanto, ele não teve dificuldade em retratar a situação infernal dos papas simoniacais. Seu ser crente era absoluto no essencial da fé, mas altamente crítico em relação a todo o resto. Afinal, ele tinha consciência de que todo homem é pecador.

A propósito dessa consciência de Dante, em um artigo publicado no La Repubblica em janeiro de 1999, "A Igreja triunfante sem a humildade cristã ", o senhor observou como o "cristianismo" nos falava "da finitude e da precariedade do homem antes (e talvez melhor do que) do pensamento secular moderno". Nesse artigo, o senhor criticou a imagem triunfante que a Igreja dá de si mesma hoje, a qual, como uma cidadela de certezas graníticas, com sua atitude pouco humilde, bloqueia qualquer "possível ponto de convergência" com os não crentes. Uma Igreja, em suma, que não fala mais "da finitude e da precariedade do homem".

ASOR ROSA: O pensamento cristão está na origem do pensamento secular moderno: este último é uma derivação do pensamento cristão, embora também tenha fortes laços com o pensamento clássico. Em certo ponto, também produz abjurações. E isso faz parte da história e da cultura europeias. O ponto de reflexão é precisamente este: em que medida o pensamento cristão influencia e condiciona a gênese do pensamento secular? Se uma característica do pensamento secular é a consciência das limitações humanas, penso que na origem dessa visão crítica do mundo, típica do pensamento secular, reside o sentido cristão da finitude humana, dos limites da ação e do conhecimento humanos. Nesse sentido, parece-me que na origem do pensamento secular moderno, mais do que a filosofia inatingível e o legado inatingível dos clássicos, está, para dizer o mínimo, um pensador como Agostinho, que então também recupera todo o pensamento clássico, recupera Platão, recupera Sócrates, recupera essa história, digamos, "laica". Por outro lado, essa capacidade inimitável de abraçar e compreender tudo o que é humano encontra um obstáculo intransponível em todos aqueles momentos ou manifestações eclesiais em que o elemento primordial — que deveria ser a consciência da finitude do homem, do seu conhecimento e da sua ação — é substituído por uma visão triunfalista da presença dos cristãos no mundo. Eu, muito humildemente, ousei dizer que este é um momento na história da Igreja de Roma em que o elemento triunfalista prevalece sobre a humildade de reconhecer a precariedade da humanidade em todas as suas expressões.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF