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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

A Palavra de Deus e o desafio da Unidade e Comunhão

Setembro: Mês da Bíblia (Vatican News)

A PALAVRA DE DEUS E O DESAFIO DA UNIDADE E COMUNHÃO

26/09/2025

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)

Estamos concluindo, no Brasil, mais um Mês da Bíblia. E no último domingo de setembro, 28, celebramos o Dia da Bíblia. Uma prática que começou há 40 anos em âmbito nacional e há 54 anos na arquidiocese de Belo Horizonte. Em 1971, no cinquentenário de fundação daquela arquidiocese, com a colaboração das Irmãs Paulinas – através de seu Serviço de Animação Bíblica (SAB) – houve a dedicação do mês de setembro à Palavra de Deus. A CNBB abraçou a ideia em 1985, tornando uma prática nacional. A memória de São Jerônimo, celebrado no dia 30, último dia do mês de setembro, puxou a Bíblia para este mês. Jerônimo, sabemos, é o santo que traduziu os textos do hebraico/aramaico/grego ao latim, ajudando nas várias versões que temos hoje. Assim, resolveu-se considerar o último domingo do mês de setembro o Dia da Bíblia devido à proximidade com a data do santo que ajudou a divulgar a Palavra de Deus aos fiéis da Igreja.

Os nossos irmãos evangélicos celebram o Dia da Bíblia no segundo domingo de dezembro, uma data que homenageia os primeiros missionários evangélicos que chegaram ao Brasil em 1850. Há uma Lei no Brasil, 10.335, de 2001, que instituiu oficialmente este dia no calendário nacional. Uma data móvel: segundo domingo do mês de dezembro.

Em 2019 o saudoso papa Francisco instituiu o Domingo da Palavra de Deus, celebrado no 3º Domingo do Tempo Comum, ou seja, em janeiro. No Motu Proprio de 30 de setembro de 2019, “Aperuit illis”, exatamente num Dia de São Jerônimo, o papa inicia o documento que oficializa a data recordando uma passagem bíblica de Lucas: “Abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras (Lc 24,45). Trata-se de um dos últimos gestos realizados por Jesus antes da sua Ascensão. Ele parte o pão com os discípulos e lhes abre o entendimento à compreensão das sagradas Escrituras”. A proposta “nasceu” por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2016. Na Carta Apostólica Misericordia et misera, Francisco animou-nos para pensarmos num “domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreendermos a riqueza do diálogo constante de Deus com seu povo” (cf. n. 7). A dedicação de um domingo do Ano Litúrgico à Palavra de Deus permite, antes de tudo, fazer a Igreja reviver o gesto do Ressuscitado que abre, também para nós, o tesouro da sua Palavra, para podermos ser no mundo mensageiros desta riqueza, explica o papa no Motu Proprio Aperuit illis (grifos nossos). E estabeleceu o 3º Domingo do Tempo Comum à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus.

Por que em janeiro? Aqui entra uma, digamos, sutil, intenção do papa Francisco, de que o Domingo da Palavra de Deus seja celebrado num momento propício do ano “em que somos convidados a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos. Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa um valor ecumênico, porque a Sagrada Escritura indica, a todos que se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida” (Aperuit illis 3, grifo nosso). Vale lembrar que a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, no hemisfério norte, é celebrada de 18 a 25 de janeiro, com o rico simbolismo dos oito dias, concluindo na festa da Conversão do Apóstolo São Paulo, ícone da unidade! Assim, colocando o 3º Domingo do Tempo Comum como Domingo da Palavra de Deus, também este aspecto deve ser refletido permanentemente.

No Brasil, portanto, mesmo mantendo o mês de setembro como o Mês da Bíblia e dedicando o seu último domingo ao Dia da Bíblia, tendo consciência de que existe um dia oficial para a Bíblia no calendário nacional (segundo domingo de dezembro) e, em âmbito universal, um Domingo da Palavra de Deus (em janeiro, no 3º domingo do Tempo Comum), não podemos esquecer o desafio da unidade e da comunhão entre os povos, um grande desafio que nos é recordado justamente pela leitura, oração, meditação e contemplação da Palavra de Deus. Há muitas passagens bíblicas que poderiam ajudar nessa direção, mas fiquemos justamente com a Liturgia do “nosso” Dia da Bíblia, que já tem mais de 50 anos, o Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum, um texto bem conhecido.

O relato é de São Lucas, capítulo 16, a partir do versículo 19. É a estória do pobre Lázaro e do rico que fazia festa todo dia. Interessante observar que o rico não tem nome no relato, enquanto o pobre tem: Lázaro. Lázaro é uma derivação do nome Eleazar, em hebraico, que significa “Deus ajudou” ou “Deus é meu auxílio”. Faz recordar, também, do outro Lázaro, irmão de Marta e Maria, amigos de Jesus. Lázaro foi ressuscitado por Jesus, um relato também bastante conhecido no evangelho de Joao.

Aqui em Lucas vemos uma estória em duas etapas, durante a vida e após a morte (ou na mansão dos mortos, como afirma o texto). Temos o rico, sem nome, com banquetes diários, de uma família com seis irmãos, provavelmente todos ricos. Conhecedor da religião judaica, pois sabia quem era o “Pai Abraão”. E temos Lázaro, pobre, com feridas abertas na pele, faminto. Durante a vida, Lázaro desejava alimentar-se com o que caía da mesa do rico. O que significa que ninguém lhe dava alimento! Como não lembrar de uma oração do saudoso Dom Helder Câmara, “Mariama”, um poema-invocação à Mãe de Deus, para que no mundo não haja mais nem ricos e nem pobres, mas uma civilização baseada no Amor? Em uma parte do poema ele afirma assim, com palavras fortes: “Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano”.

O pobre Lázaro e o rico sem nome morreram. E começa a segunda etapa da estória, com um terceiro personagem, o Pai Abraão. Interessante observar o pedido que o rico faz a Abraão: “Por piedade, manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas”. Poderíamos observar o termo “piedade”, justamente que faltou a ele, o rico, em vida, enquanto estava nos banquetes diários e via o pobre Lázaro esperando as migalhas que caíam da mesa, mas não era capaz de lhe dar comida. “Molhar a ponta do dedo” seria o equivalente a uma das migalhas de comida que provavelmente caíam da mesa… Não foi possível. Por mais que alguém desejasse não seria possível o encontro dos dois lados, considerou Abraão.

Outro pedido do rico feito ao Pai Abraão, manifestando preocupação com os seus cinco irmãos: “Manda Lázaro à casa de meu pai para preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento”. Poderíamos nos perguntar, e aqui, a meu ver, está o grande ensinamento do texto: qual a prevenção? Qual a mensagem que Lázaro deveria transmitir aos irmãos do rico, que provavelmente também eram ricos e se banqueteavam diariamente, viam pobres pedindo comida e nada faziam?

A resposta de Abraão é curiosa e reveladora: “Se não escutam a Moisés, nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”. Foi justamente o que aconteceu no relato do evangelista João: Lázaro foi ressuscitado por Jesus!

Dom Helder, com o poema-invocação à Mãe de Deus, em 1981, há 44 anos, assim rezou: “Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida. Nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre, nem rico! […] Um mundo de irmãos! De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama!”. Que assim seja!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Em audiência com o Papa, Card. Paulo reforça convite a visitar o Brasil

O cardeal Paulo Cezar Costa cumprimenta o Papa Leão XIV na audiência da quinta-feira, 25/09 (Vatican Media).

Em entrevista à Rádio Vaticana/Vatican News, o cardeal Paulo Cezar Costa fala sobre sua audiência privada com a Papa na última quinta-feira (25/09). Foram discutidos temas da sua diocese, do Brasil e o atual cenário mundial.

Vatican News

O arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cezar Costa, foi recebido pelo Papa Leão XIV nesta quinta-feira (25/09), no Vaticano. Essa foi a primeira audiência privada do cardeal brasileiro com o Papa, desde a sua eleição em maio deste ano, apesar de eles terem se encontrado em alguns momentos depois do Conclave.

Segundo o cardeal, eles tiveram uma conversa franca, de cerca de 40 minutos. Foram discutidos temas relacionados à Arquidiocese de Brasília, projetos, a situação do Brasil, da Igreja e ainda o cenário mundial hoje. “Coloquei as coisas diante dele com verdade, e também senti a verdade do que ele pensa, para a Igreja e mesmo os encaminhamentos para a vida da diocese”, recordou o arcebispo. Ele mencionou que a experiência anterior do Papa como prefeito do Dicastério para os Bispos o ajudou a conhecer profundamente a realidade latino-americana e mesmo a brasileira, inclusive com suas diferenças regionais. “É um homem muito antenado, muito lúcido. É quando você percebe que ele tem a realidade nas mãos”, explicou o purpurado.

Visita a Brasília

O arcebispo reforçou ao Papa o convite para visitar o Brasil. Durante tal viagem, dom Paulo disse que gostaria que Leão XIV conhecesse Brasília. A passagem pela capital seria importante não apenas para se encontrar com os poderes da República, mas também conhecer “aquela Igreja bonita que existe em Brasília, um povo vivo, uma Igreja viva, participativa, bonita. Claro, também para fazermos uma grande celebração para o povo”.

O arcebispo de Brasília durante sua primeira audiência com o Papa Leão XIV (Vatican Media).

Recado do Papa ao povo ucraniano

À Rádio Vaticana/Vatican News, o cardeal Paulo Cezar Costa revelou que, durante sua visita à Ucrânia em julho deste ano, levou ao povo ucraniano uma mensagem do Papa Leão XIV. “Ele disse: diga ao povo ucraniano que estou próximo deles, que estou unido a eles”. Na ocasião da viagem ao país do leste europeu, o arcebispo de Brasília se encontrou com religiosos e autoridades locais e celebrou uma missa na Catedral da Arquidiocese de Kiev dos Latinos.

Mensagem aos catequistas

Por fim, dom Paulo deixou uma mensagem aos catequistas brasileiros, por ocasião ao Jubileu dos Catequistas, que começa nesta sexta-feira (26/09) em Roma. “Eles exercem uma missão fundamental na vida das nossas comunidades, na vida das nossas paróquias, na vida das nossas dioceses. Eles são aqueles e aquelas que ajudam na formação do discípulo missionário, ajudam na formação da fé”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

O Reino de Deus como o grão de mostarda em Santo Ambrósio de Milão

Santo Ambrósio de Milão (Vatican News)

"O Bispo de Milão convidou os seus fiéis para que semeassem Jesus em seu próprio jardim, como o grão de mostarda, a fim de que a graça da sua obra floresça e o múltiplo odor de virtudes se faça sentir entre as pessoas. A presença de Cristo está lá, quando a pessoa semeia e aparece o fruto. O Senhor semeia, sendo um grão quando é preso, mas Ele torna-se uma arvore quando ressuscita; cobrindo o mundo com a sua sombra."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Jesus ensinava com muita frequência aos seus discípulos e ao povo por meio de parábolas, comparações a respeito do Reino de Deus, que se faz presente aqui e agora e um dia na eternidade. Era a forma para as pessoas simples, entenderem a missão da evangelização que Jesus como servo sofredor, o Enviado do Pai assumiu a realidade humana, ao vir neste mundo, não para condenar o mundo mas para salvá-lo (cfr. Jo 3,17). Uma das parábolas proclamadas pelo Salvador foi o grão de mostarda, a menor de todas as sementes, mas quando semeada torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem os seus ninhos nos seus ramos (cfr. Lc13,18-19). Nós veremos a seguir a visão de Santo Ambrósio ao comentar esta passagem importante no evangelista São Lucas.

O ensinamento da parábola

O Bispo de Milão teve presente um importante ensinamento de Jesus levando em consideração a natureza das comparações, não sua aparência. O importante é ver a causa, o por que o sublime Reino dos céus se compara ao grão de mostarda, ligado no entanto, à caridade. Em outra passagem do evangelho o Senhor exortava aos seus discípulos que se eles tivessem fé como um grão de mostarda poderiam fazer grandes coisas, remover montanhas (cfr. Mt 17,19; 21,21). O fato é que o Senhor pede aos apóstolos de que a sua fé aumente diante das dificuldades da vida, de serem pessoas de bem, caritativas. Por isso a fé como um grão de mostarda relaciona-se como São Paulo disse: “Mesmo que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, mas não tivesse caridade nada seria” (1 Cor 13,2)[1].

O Reino dos céus relacionado à fé em Jesus

O Reino dos céus, comparado como um grão de mostarda, relaciona-se com a fé em Jesus Cristo, porque o Senhor é o Reino dos céus. Quem tem fé tem o Reino dos céus. Desta forma para o Bispo de Milão tanto o Reino está dentro de nós, como o dom da fé, ligado à caridade, está dentro de nós. Assim como Pedro recebeu a graça da fé pela entrega do Senhor das chaves do Reino dos céus(cfr. Mt 16,19), o apóstolo é convidado a abri-lo também para os outros e para todos[2].  O Reino dos céus alarga-se com a participação humana.

 A força da comparação

 Santo Ambrósio disse que é importante considerar a partir da natureza da mostarda, a força da sua comparação quando o Senhor afirmou que o Reino dos céus seria percebido como um grão de mostarda (cfr. Lc 13,18-19). O grão dessa planta é vil, simples, a menor das sementes, mas quando é batido, reflorescente, expanda a sua força[3]. Da mesma forma a fé, manifesta a graça da sua força, de modo a impregnar com o seu odor também a outros que ouvem a importância da graça e da vida com o Senhor quando tudo é realizado pela caridade[4].

Os mártires

O Bispo de Milão relacionou o grão de mostarda, os mártires, Félix, Nabor e Vitor, pessoas ligadas ao exército romano, mas convertidas ao cristianismo, que no final dos séculos III e início do IV foram martirizados sob o comando do Imperador Diocleciano, em Milão. Para o Bispo de Milão, tinham eles o odor da fé ainda que estavam escondidos[5], por manterem silêncio na sua profissão da fé cristã, na sua vida profissional. Eles acreditaram em Jesus, o seu Evangelho e a comunidade cristã.

A perseguição ocorrida

A grande perseguição ocorreu nesse período em todo o Império contra os cristãos, fazendo com que esses soldados depusessem as armas, dobrassem o pescoço e, abatidos pela espada, expandiram pelo mundo, a graça do seu martírio, de modo que a palavra de Deus se realizasse neles: “Por toda a terra, o seu som se espalhou” (Sl 18,5)[6].

O Senhor é o grão de mostarda

Santo Ambrósio tendo presente os mártires citados, os dons vividos por eles na sua fé, na sua caridade, disse que o Senhor é o grão de mostarda. Ele sofreu injúrias por parte das autoridades, e muitas pessoas do povo não o conheciam mas Ele foi o grão de mostarda que passou pela morte para chegar à ressurreição dando grandes frutos para a salvação da humanidade e para o Reino dos céus[7]. Foi num horto que Jesus foi capturado e sepultado; Ele cresceu num jardim onde também ressuscitou e tornou-se uma grande árvore[8], capaz de abrigar povos e nações através de seus discípulos e discípulas espalhando a fé, a esperança e a caridade.

A necessidade semear

O Bispo de Milão convidou os seus fiéis para que semeassem Jesus em seu próprio jardim, como o grão de mostarda, a fim de que a graça da sua obra floresça e o múltiplo odor de virtudes se faça sentir entre as pessoas. A presença de Cristo está lá, quando a pessoa semeia e aparece o fruto. O Senhor semeia, sendo um grão quando é preso, mas Ele torna-se uma arvore quando ressuscita; cobrindo o mundo com a sua sombra. É apenas um grão quando é sepultado na terra, mas ele tornar-se-á uma árvore quando se eleva ao céu[9]. É o Senhor Jesus, o grão de mostarda no qual é preciso semear com fé, esperança e com caridade para que a arvore se torne grande, de modo que é assim o Reino de Deus, ponto fundamental na vida de Jesus e Ele sendo o Reino de Deus, cresça com a nossa participação e um dia Ele seja glorificado junto do Pai pelo Espírito Santo, pelas obras caritativas realizadas neste mundo em favor de todas as pessoas, mas, sobretudo das mais necessitadas, os pobres

[1] Cfr. Comentário ao Evangelho de São Lucas, Livro 07, ( Lc 9, 27-16,13), 176. In: Santo Ambrósio. São Paulo: Paulus, 2022, pgs. 468-469.
[2] Idem, 177, pg. 469.
[3] Cfr. Ibidem, 178, pg. 469.
[4] Cfr. Ibidem.
[5] Cfr. Ibidem.
[6] Cfr. Ibidem, pgs 469-470.
[7] Cfr. Ibidem, 179, pg. 470.
[8] Cfr. Ibidem.
[9] Cfr. Ibidem, 180, pgs. 470-471.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Schwarzenegger e Marina Silva se unem a Leão XIV pela justiça climática

Papa Leão XIV e Arnold Schwarzenegger. | Daniel Ibáñez/EWTN News e Gage Skidmore (CC BY-SA 3.0).

Por Nicolás de Cárdenas*

25 de set de 2025

O ator americano Arnold Schwarzenegger estará na conferência Aumentando a Esperança pela Justiça Climática, liderada pelo papa Leão XIV em Castel Gandolfo, Itália, de 1 a 3 de outubro.

Essa é a segunda vez que o ator americano se encontrará com um papa. Ele cumprimentou o papa Francisco em janeiro de 2017, depois de uma audiência geral na Aula Paulo VI, no Vaticano.

Esse encontro internacional "busca promover uma resposta global à crise climática e ecológica a partir da fé, da política e da sociedade civil", segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, marcando com o décimo aniversário da encíclica Laudato si', o Acordo Climático de Paris e o Jubileu Ordinário 2025.

Promovido pelo Movimento Laudato si', em colaboração com várias organizações internacionais, o evento terá a presença de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil, além de "bispos, chefes de organizações internacionais, lideranças indígenas, especialistas em clima e biodiversidade e representantes da sociedade civil".

Segundo os organizadores, "Por três dias, haverá conferências, painéis de discussão, momentos espirituais e encontros culturais que destacarão o progresso feito desde a publicação da Laudato si' e as medidas urgentes que devem ser tomadas em preparação para a COP30 no Brasil".

Os objetivos declarados do evento são “celebrar os frutos da Laudato si' e a ação climática das comunidades religiosas na última década”, “inspirar esperança em meio à crise climática com um programa espiritual e cultural único”, “mobilizar compromissos concretos de líderes religiosos, políticos e sociais em direção à justiça climática” e “promover a colaboração de longo prazo entre a Igreja, a sociedade civil e os formuladores de políticas”.

No dia 1º de outubro, depois do discurso de boas-vindas de Lorna Gold, diretora do Movimento Laudato Si', e Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, o papa Leão XIV encerrará uma rodada de depoimentos com a ministra brasileira e o ex-governador da Califórnia.

O segundo dia terá o discurso principal, Uma Razão de Esperança, do arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime cardeal Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).

O terceiro dia da conferência será dedicado à exploração de maneiras práticas de aprofundar a aplicação da Laudato si'.

*Nicolás de Cárdenas é um jornalista espanhol especializado em informação sociorreligiosa. Desde julho de 2022 é correspondente da ACI Prensa na Espanha.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64693/schwarzenegger-e-marina-silva-se-unem-a-leao-xiv-pela-justica-climatica

SANTOS: Maria Maddalena de' Pazzi, o tesouro escondido na Igreja

Santa Maria Madalena de Pazzi, mulher habitada pelo Espírito , ícone da Irmã Benedetta Tenore, coleção particular | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11 - 2007

Maria Maddalena de Pazzi, o tesouro escondido na Igreja

Quatrocentos anos após sua morte, alguns estudos e documentos inéditos lançam nova luz sobre a "Páscoa" e a espiritualidade alegre da santa mística florentina.

por Chiara Vasciaveo

O dia 25 de maio de 2007 marcou o quarto centenário da morte de Santa Maria Madalena (1566-1607), freira carmelita florentina e mestra de vida espiritual. Sua santidade era tão amplamente conhecida entre o povo e o clero que, logo depois, em 1611, teve início o processo de beatificação. Em 8 de maio de 1626, ela foi proclamada beata por Urbano VIII e, em 28 de abril de 1669, foi canonizada por Clemente IX.

Estudiosos renomados afirmam que "Maria Madalena de Pazzi, juntamente com Ângela de Foligno e Catarina de Siena, está entre as escritoras espirituais italianas". 1 Muitas testemunhas católicas de renome estimaram seu testemunho e suas palavras. Veneráveis ​​como Diomira do Verbo Encarnado (Margherita Allegri, 1651-1677) das Irmãs Estabelecidas na Caridade (Filipinas de Florença), beatos como Ippolito Galantini (†1619) ou santos como Alfonso Maria de' Liguori (1696-1787) 2 e Teresa de Lisieux (1873-1897) 3 , nutriram uma veneração significativa pela mística florentina.
Paulo VI adorava reler suas obras, enquanto Dom Divo Barsotti, em sua última visita às freiras de Careggi, com intensos acentos autobiográficos, não hesitou em declarar: «Santa Maria Madalena vive sua missão de amor por nós... Por isso, gostaria de confiar a mim mesmo e a toda a comunidade de São Sérgio a Santa Maria Madalena... Ela foi a amiga, a ajuda, a luz do meu caminho. Agradecemos-lhe muito por isso. Nunca teria pensado que uma experiência viva e profunda, especialmente divina, pudesse nos ser dada aqui na Terra» 4.

Infelizmente, uma devoção pouco esclarecida e devotos imprevidentes de seu testemunho difundiram a visão barroca da santa (isto é, uma interpretação particular de sua experiência, indulgente com fatos extraordinários) por meio de textos e imagens, negligenciando suas palavras. Estas, fortes e incisivas, são capazes de se imprimir em seus ouvintes em um pedido urgente de renovação eclesial. Talvez por isso, os textos autênticos da carmelita raramente sejam lidos, mesmo neste centenário. Os riscos envolvidos são evidentes.

Na santidade cristã, existem diferentes modelos de santidade. Geralmente, as missões caracterizadas pelo serviço da caridade e da misericórdia são "mais fáceis" e mais compreensíveis. Mais complexa é a aceitação dos dons proféticos, caracterizada não tanto pelo "anúncio do futuro", mas pelo autêntico ensinamento espiritual , na escuta da Palavra, autenticada pela coerência da vida. 

Uma vida escondida

A biografia de Santa Maria Madalena é caracterizada por poucos eventos. Sua segunda filha, Caterina, nasceu em 2 de abril de 1566, em uma das famílias mais proeminentes da nobreza florentina, Maria Buondelmonti e Camillo di Geri de' Pazzi. Por dois períodos (de 1574 a 1578 e de 1580 a 1581), ela foi aluna em San Giovannino, administrado pelos Cavaleiros de Malta. Talvez ainda muito jovem, ela escolheu se tornar freira carmelita, ingressando em Santa Maria degli Angeli aos dezesseis anos (27 de novembro de 1582), logo após o fim do Concílio de Trento (1545-1563).

Os primeiros cinco anos de vida monástica são os mais conhecidos na biografia de Madalena. "Abstrações", "arrebatamentos" e dramatizações de episódios do Evangelho entrelaçavam-se com a vida cotidiana da jovem carmelita. Na realidade, esses rótulos agrupam uma variedade de fenômenos altamente diversos baseados na meditação orante da Palavra. No grande Carmelo de Santa Maria degli Angeli (o mais antigo da Ordem), que abrigou quase oitenta freiras durante o período em que Madalena ali viveu, várias eram de alta posição espiritual, desde Madre Evangelista del Giocondo até Pacifica del Tovaglia, amiga e uma das principais "secretárias" da santa.
Por aproximadamente vinte anos, ela se dedicou discretamente à combinação de oração e trabalho típica da vida monástica. Já vigária para a recepção das jovens que vinham à hospedaria (1586-1589), envolveu-se, em diversas funções, na formação das jovens a partir de 1589, tornando-se subprioresa a partir de 1604. Tendo adoecido, passou seus últimos três anos atribulada no corpo e no espírito, falecendo em 25 de maio de 1607, aos 41 anos.

As notas originais das Conversas de Santa Maria Madalena de' Pazzi, atas redescobertas em 2005 por Chiara Vasciaveo, Arquivo Santa Maria degli Angeli, Florença | 30Giorni.

«Se Deus é comunicativo».

O Carmelo de Santa Maria degli Angeli esteve ligado durante vários anos aos círculos femininos savonarolianos. Há muito circulavam ali testemunhos e fontes manuscritas sobre mulheres famosas e estimadas, como as dominicanas Santa Catarina de Ricci da Prato (1522-1590) e a Beata Maria Bartolomea de Bagnesi (1514-1577), cujo corpo ainda hoje é venerado no Carmelo florentino. Seu confessor tornou-se, a partir de 1563, o próprio governador do mosteiro.

Foi feita referência à importância das Escrituras. Uma testemunha especificou durante o processo canônico: «Lembro-me em particular de que todos os sábados, pegando no livro dos Evangelhos, ela escolhia dois ou três pontos de sua escolha do Evangelho que circulava no domingo seguinte e praticava meditação sobre eles durante toda a semana, meditação essa que dedicava aproximadamente duas horas pela manhã e uma à noite» ( Sum 57). Dessa familiaridade, desenvolvida nos contextos franciscano e dominicano, surgiu sua compreensão pessoal de Deus como um Deus comunicativo.

A superabundante efusão do Espírito, acolhida particularmente no Pentecostes de 1585, conduziu a jovem carmelita pelos caminhos austeros de um deserto constituído pelo trabalho da criatura e da Igreja em dar espaço a tal graça e na necessidade de crescer na misericórdia de um Deus que é um "Pai profundíssimo", o Verbo que dá um "beijo de paz" e o Espírito, um fogo transformador . 5 Certamente, para além de demasiado sentimentalismo, inesperadamente absolutizado por seus devotos, a centralidade da Trindade na vida espiritual e na vida eclesial é o maior presente que ela pode oferecer ao nosso tempo.

Assim, a partir do seu encontro com Deus, a comunhão, Santa Maria Madalena foi enriquecida não apenas por uma profunda alegria, mas também por uma gradual compreensão da inadequação com que tantos homens e mulheres, mesmo aparentemente cristãos e, às vezes, pior ainda, religiosos e sacerdotes, respondem à oferta do Filho e do seu Espírito. Amar a Cristo, para Santa Maria Madalena, não significava deter-se apenas emocionalmente em suas feridas físicas, mas desenvolver um amor apaixonado pelo corpo ferido e dilacerado de Cristo, a Igreja. Acolher Cristo significava, para ela, abrir os olhos para suas expectativas desiludidas em relação a uma vida religiosa carente de relações fraternas, embora rica em rituais.

Amar a Cristo e a sua Igreja, apesar da mediocridade — que ela chamava de "maldita tibieza" — de tantos batizados e "christi" (sacerdotes), era certamente para ela "Inferno e Céu ao mesmo tempo". E compreendemos, então, como o dom único do Espírito a "obrigou", como Santa Catarina e Savonarola, a uma estimada, mas na verdade inédita, obra de " renovação". 

Manuscrito original da carta sobre a “Renovação da Igreja” de Santa Maria Madalena de' Pazzi, endereçada a Sisto V, mas nunca enviada, Arquivo de Santa Maria degli Angeli; abaixo, Santa Maria Madalena de' Pazzi, uma mulher habitada pelo Espírito | 30Giorni.

«Ser esposa e não serva»

A mística magdalenense, na escola de Catarina de Sena, é uma mística eclesial que chama todo o povo de Deus à conversão, não para «repreendê-lo», como alguns sustentam, mas para que, diante do Espírito que bate à porta, alguém «se abra a este dom».

Belo é o testemunho (encontrado no original) que a prioresa Evangelista deu em 1 de maio de 1595: «Eu, Irmã Vangelista, em honra do Pai eterno, recordo-me de como a Irmã Maria Madalena, hoje, neste primeiro dia de maio de 1595, prometeu a Deus que queria ser sua esposa e não sua serva, para sua maior honra e para que ele se compraza-se nela e para maior auxílio de seu dom, prometeu andar nua com seu Deus e ouvir apenas sua voz e a daqueles que o substituíssem, e quando estivesse em dúvida sobre qualquer coisa, quisesse aconselhar-se primeiro com Cristo nu e com a alma mais nua que seus olhos e os de suas superiores pudessem ver» 6.

De fato, parece, segundo os textos e não os comentários, que o cerne da experiência magdaleniana não se concentrou no sofrimento (gerado em parte por problemas de saúde e um ascetismo desequilibrado), mas consistiu no aprofundamento teológico de uma aliança esponsal com o Senhor, rica em um "amor puro" — ela gostava de chamá-lo de "morto", isto é, um amor de esposa . Ela viveu esse amor pascal, enraizado no sangue divinizante da Eucaristia, graças ao sopro do Espírito. Dessa aceitação brotou sua frágil palavra feminina, imbuída da força do Evangelho. Seu corpo incorrupto, venerado no Carmelo florentino de Santa Maria degli Angeli e guardado, ainda hoje, pela presença orante de suas companheiras, dá humilde testemunho de tudo isso.

Um tesouro escondido a ser redescoberto, para a Igreja florentina e para a Igreja universal. Dom Barsotti esperava que um dia Santa Maria Madalena fosse reconhecida como Doutora da Igreja. Os muitos peregrinos que, mesmo de continentes diferentes, por caminhos quase inimagináveis, a “encontram” e vão até seu corpo, nos fazem refletir sobre a necessidade de fazer ressoar sua voz e cumprir sua missão. 

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Notas 

1 G. Pozzi – C. Leonardi, Escritoras Místicas Italianas , Marietti, Gênova 1988, p. 419. 

2 Cf. Santo Afonso M. de' Liguori, A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo , Casa Mariana, Frigento 1991, pp. 23, 25, 29, 39, 157 ff. 

3 Cf. Teresa do Menino Jesus, Obras Completas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. Escritos e Últimas Palavras , Libreria Editrice Vaticana – Ed. OCD, Roma 1997, ms. A, 183. 

4 D. Barsotti, Reflexões (12 de julho de 2005), transcrição, Careggi 2005. 

5 C. Vasciaveo, Dançando ao Passo de Deus. Santa Maria Madalena de Florença , Cantagalli, Siena 2006; “... em nós uma fonte de água viva”. Misticismo e Profecia em Santa Maria Madalena de Florença , em Horeb , 46 (2007), n. 1.
6 Promessa (1 de maio de 1595), em Miscellanea Santa Maria Maddalena , Arquivo de Santa Maria degli Angeli, 1.4.IA.2.

 

Fonte: https://www.30giorni.it/

Terra já rompeu 7 de seus 9 limites planetários, mostra novo relatório; oceanos entram na 'zona de perigo'

Representação visual dos limites planetários. — Foto: Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK)

Terra já rompeu 7 de seus 9 limites planetários, mostra novo relatório; oceanos entram na 'zona de perigo'

Novo relatório mostra que o planeta entrou em uma fase mais perigosa: além da crise climática, a saúde dos mares agora também está fora da zona de segurança. Só a camada de ozônio e os aerossóis seguem dentro dos limites.

Por Roberto Peixoto, g1

24/09/2025 13h22

  • O planeta já rompeu sete dos seus nove limites planetários — indicadores científicos que medem se a Terra ainda opera em condições seguras para sustentar a vida.
  • E a novidade no levantamento de 2025 é que a acidificação dos oceanos, que no ano passado estava “no limite”, agora entrou na lista dos processos que já ultrapassaram a fronteira de segurança.
  • A constatação é de um novo estudo, feito por pesquisadores do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK).
  • Ou seja, se não controlarmos o aumento global da temperatura, eventos como o colapso de ecossistemas e desastres climáticos extremos se tornarão cada vez mais frequentes.

O planeta já rompeu sete dos seus nove limites planetários - indicadores científicos que medem se a Terra ainda opera em condições seguras para sustentar a vida.

E a novidade no levantamento de 2025 é que a acidificação dos oceanos, que no ano passado estava “no limite”, agora entrou na lista dos processos que já ultrapassaram a fronteira de segurança

Em 2024, seis processos estavam confirmadamente em situação crítica e a acidificação aparecia como próxima de ser ultrapassada.

A constatação é de um novo estudo, feito por pesquisadores do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK), que analisaram os processos essenciais para a manutenção do equilíbrio ambiental na Terra.

Ou seja, se não controlarmos o aumento global da temperatura, eventos como o colapso de ecossistemas e desastres climáticos extremos se tornarão cada vez mais frequentes (entenda mais abaixo).

No estudo, foram identificados sete processos que já ultrapassaram níveis considerados seguros relacionados aos seguintes tópicos (veja aqui o detalhamento de cada um):

  1. Mudanças no uso da terra do planeta: tem a ver com o desmatamento e a conversão de ecossistemas naturais em áreas agrícolas ou urbanas, que estão destruindo habitats e afetando a regulação climática. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS. 🟠
  2. Mudanças climáticas: algo diretamente ligado ao aumento da temperatura devido à poluição por gases do efeito estufa, que têm consequências graves para o planeta. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS e atingiram uma zona de ALTO risco. 🔴
  3. Biodiversidade: tem relação com a extinção de várias espécies, causada pela degradação dos habitats naturais e pela exploração excessiva dos recursos. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS e atingiram uma zona de ALTO risco. 🔴
  4. Ciclo do nitrogênio e fósforo: está relacionado ao uso excessivo de fertilizantes, que prejudica a qualidade da água e afeta os ecossistemas aquáticos. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS e atingiram uma zona de ALTO risco. 🔴
  5. Uso de água doce: tem a ver com a demanda crescente por água em várias regiões, que está se aproximando de níveis críticos. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS. 🟠
  6. Poluição química por compostos como microplásticos: diz respeito ao acúmulo de produtos químicos tóxicos no ambiente, que representa uma ameaça crescente à saúde humana e à biodiversidade. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS. 🟠
  7. Acidificação dos oceanos: tem a ver com o aumento de CO₂ na atmosfera, que torna os oceanos mais ácidos, prejudicando a vida marinha e os recifes de corais. Seus níveis seguros já foram ULTRAPASSADOS. 🟠

Já os dois processos que ainda NÃO estão próximos de serem ultrapassados são os seguintes:

  1. Aerossóis na atmosfera: ou seja, o aumento de partículas suspensas no ar (como fuligem e poeira), que vem alterando os padrões climáticos regionais e afetando a saúde humana. 🟢
  2. Camada de ozônio: a degradação dessa região da estratosfera já estava em andamento, mas ações internacionais ajudaram a protegê-la. 🟢

Esses limites planetários foram propostos em 2009 por Johan Rockström, que é o diretor do PIK. Desde então, pesquisadores têm trabalhado para identificar quantificar esses processos, numa forma de chamar atenção para a emergência climática.

Em 2024, os oceanos ainda estavam tecnicamente dentro da zona segura, embora muito próximos do limite.

Agora, com a queda confirmada do pH e danos já visíveis em espécies marinhas — como os pterópodes, pequenos caracóis do mar que servem de base para cadeias alimentares —, o estudo aponta que o limite foi oficialmente transgredido.

Isso significa que recifes de corais, moluscos e ecossistemas inteiros já enfrentam condições que dificultam sua sobrevivência. Para cientistas, esse é um ponto crítico, porque o oceano atua como regulador climático global e fornecedor de oxigênio para a atmosfera.

“O oceano está se tornando mais ácido, os níveis de oxigênio estão caindo e as ondas de calor marinhas estão aumentando. Isso pressiona um sistema vital para estabilizar o planeta”, afirmou Levke Caesar, co-líder do laboratório de limites planetários do PIK

Abaixo, entenda ponto a ponto por que a preocupação com esses 7 sistemas:

1. Mudanças no uso da terra 🟠

A transformação de paisagens naturais é um processo que acontece principalmente através do desmatamento e da urbanização, e que tem um efeito profundo nas funções ecológicas essenciais para a saúde do nosso planeta.

No estudo, os pesquisadores ressaltam que essas mudanças não apenas diminuem as áreas verdes, mas também comprometem funções vitais que mantêm o equilíbrio ecológico.

Para exemplificar, atualmente, a cobertura florestal global está em torno de 59% do que poderia ser, indicando que estamos abaixo dos níveis considerados seguros, segundo dados do observatório europeu Copernicus.

Em termos práticos, uma cobertura florestal segura é definida perto de 75% da extensão original, sendo que 85% é a taxa ideal para florestas tropicais (como a Amazônia) e boreais, enquanto florestas temperadas precisam de pelo menos 50%.

Entre 2000 e 2018, quase 90% da desflorestação direta se deveu à expansão de terras agrícolas, com 52,3% dessa perda relacionada ao cultivo de alimentos e 37,5% à criação de gado.

Gado pasta em uma área desmatada do município de Assis (AC), na Amazônia. Imagem é de 1º de novembro de 2007. — Foto: AP Photo/Silvia Izquierdo

2. Mudanças climáticas 🔴

Esse limite da mudança climática refere-se ao processo que altera o equilíbrio energético da Terra: o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, o que afeta tanto as temperaturas globais quanto os padrões climáticos.

E em 2024, a quantidade de CO₂ da atmosfera está em torno de 422 ppm, bem acima do limite de 350 ppm estabelecido pelo estudo, que leva em conta as metas do Acordo de Paris (veja gráfico abaixo).

Já a chamada força do aquecimento causado pela atividade humana no topo da atmosfera vem superando 2,79 W/m², valor que também já está muito acima do que é considerado seguro para o clima do nosso planeta.

Esse último conceito inclui todas as atividades humanas que afetam o equilíbrio energético da Terra, não se limitando apenas às emissões de CO₂. Outras emissões de gases de efeito estufa, como metano e óxido nitroso, além de aerossóis e mudanças no uso da terra, também estão incluídas na conta.

O limite planetário para essa força foi estabelecido em +1,0 W/m² (em relação aos níveis pré-industriais). Com o seu aumento, mais energia é retida no planeta, elevando as temperaturas na atmosfera, nos oceanos e na terra. Com isso, os impactos do aquecimento resultam em eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais, inundações, ondas de calor e secas.

"Os dados mostram que o planeta está sob enorme pressão. Se não tomarmos medidas imediatas, estaremos acelerando ainda mais a crise climática e a perda de biodiversidade", diz Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú, que fez parte de um conselho ligado ao estudo dos limites planetários contribuindo diretamente para o relatório "Planetary Health Check".

3. Biodiversidade 🔴

O termo técnico que os cientistas utilizaram para isso é a chamada "mudança na integridade da biosfera", ou seja, as alterações na saúde e no funcionamento dos ecossistemas do planeta.

Em um relatório publicado em setembro, eles indicam que a maioria das violações desses limites acontece em regiões onde a terra é utilizada intensivamente, como em zonas agrícolas.

Em contraste, áreas como a Amazônia e a Bacia do Congo, que permanecem naturais ou semi-naturais, não apresentam essas violações de forma tão clara, ainda segundo o estudo.

Quanto à diversidade genética, ou seja, a diversidade de variações genéticas entre os indivíduos de uma mesma espécie, as taxas de extinção são preocupantes. O relatório aponta que pelo menos 73 grupos de vertebrados desapareceram nos últimos 500 anos.

Gorila das planícies do oeste 'Malui' caminhando por entre uma nuvem de borboletas que ela perturbou em um bai. Bai Hokou, Reserva Florestal Especial Densa de Dzanga Sangha, República Centro-Africana. — Foto: Anup Shah / TNC Photo Contest 2021

4. Ciclo do nitrogênio e fósforo 🔴

Essas são mudanças que podem resultar em zonas mortas em ambientes de água doce e no mar. Os chamados fluxos biogeoquímicos movimentam elementos essenciais para a vida, como nitrogênio e fósforo, que circulam pelo meio ambiente.

Em 2024, porém, dados mostram que os fluxos de fósforo para os oceanos chegaram a 22,6 Tg P por ano, enquanto a fixação de nitrogênio feita pela indústria está em torno de 190 Tg N por ano, números que ultrapassaram limites considerados seguros para esses ciclos de nutrientes.

O limite planetário para o fluxo de fósforo foi estabelecido no estudo em 11 Tg P por ano, para evitar a eutrofização generalizada (crescimento descontrolado de algas) e a redução de oxigênio nos ambientes aquáticos. Já o nitrogênio teve um limite definido de 62 Tg N anualmente.

Tivemos o mês de agosto mais quente do registro instrumental, mas sabemos também que estamos vivendo o período mais quente em cerca de 125 mil anos por causa do aquecimento global antropogênico. Com isso, estamos alterando os padrões do sistema climático e entre as consequências temos aumento de frequência e intensidade de eventos extremos.

— Karina Lima, climatologista e divulgadora científica.

5. Uso de água doce 🟠

Os dados mais recentes também mostram que as atividades humanas estão causando sérios problemas nos fluxos de água de rioslagos e reservatórios como lençóis freáticos. Esses problemas também já ultrapassaram os limites seguros estabelecidos no estudo.

Segundo o PIK, cerca de 18% da superfície da Terra está passando por mudanças significativas na água desses corpos, e cerca de 16% está enfrentando níveis de umidade no solo que não são considerados adequados.

"Ultrapassar os limites da mudança de água doce tem impactos significativos no funcionamento do sistema terrestre e nas sociedades humanas. A interrupção do ciclo da água ameaça a sobrevivência de ecossistemas inteiros, como a Amazônia, comprometendo a integridade da biosfera e os serviços ecossistêmicos", diz um trecho do estudo.

Imagem mostra antes e depois da seca ao redor do mundo em 2022. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Território francês, Rio Reno, Alemanha, Lago Mead e Lago Powell, ambos nos EUA. — Foto: Copernicus/ESA/Nasa

6. Poluição química por compostos como microplásticos 🟠

Esse processo diz respeito ao aumento da circulação de substâncias químicas sintéticas, como microplásticos e materiais radioativos.

Entre 2000 e 2017, a produção de produtos químicos do tipo vem aumentando continuamente, ainda segundo dados do estudo.

E essas substâncias contribuem não só para a poluição, como também para o acúmulo biológico e a resistência a antibióticos, além de causarem problemas de saúde, como o câncer.

Um estudo recente inclusive encontrou microplásticos no cérebro humano. Segundo a pesquisa brasileira, essa é a primeira vez que o resíduo é encontrado no órgão e, segundo os especialistas, um sinal de alerta máximo para o risco do uso de plástico na rotina humana.

7. Acidificação dos oceanos 🟠

A acidificação dos oceanos é um fenômeno que se refere ao aumento da acidez das águas do mar, causado pela absorção de CO₂ presente na atmosfera. Isso tem impactos diretos nos organismos marinhos que formam estruturas calcárias, como corais e moluscos, e, consequentemente, afeta todo o ecossistema marinho.

Segundo dados de 2024, o nível de saturação em aragonita global, uma taxa que mede a acidez das águas, está em 2,80. Esse valor se encontra dentro da margem segura para o fenômeno (2,75), mas é bastante próximo do limite.

E superar o limite da acidificação dos oceanos traz consequências sérias para o planeta. Por exemplo, os corais enfrentariam dificuldades na construção de seus esqueletos, algo que compromete a estrutura de recifes. Além disso, moluscos e outros organismos com conchas teriam dificuldades para formar suas estruturas, algo que afetaria sua sobrevivência e crescimento.

O problema é que isso também já uma realidade para algumas espécies, como os pterópodes de altas latitudes, moluscos que apresentam danos em suas conchas por causa da acidificação dos oceanos.

Um estudo de 2020 inclusive, publicado pela Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN), revelou que o mundo perdeu cerca de 14% de seus recifes de coral desde 2009. Este relatório, pioneiro em sua categoria, baseou-se em dados coletados em mais de 12.000 locais de coleta em 73 países ao longo de um período de mais de 40 anos (1978-2019).

Fonte: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/09/24/limites-planetarios-novo-relatorio-oceanos-entram-na-zona-de-perigo.ghtml

Jubileu dos Catequistas que fala português, com delegação do Brasil e Portugal

Jubileu dos Catequistas (Vatican Media)

A programação oficial do Jubileu dos Catequistas começa nesta sexta-feira (26/09) mas a maioria dos participantes já se encontra na capital italiana: do Brasil vieram 228 pessoas e de Portugal 40. Serão três dias intensos de atividades, inclusive com dois encontros com o Papa Leão XIV e transmissão ao vivo, com comentários em português, pelos canais do Vatican News.

Andressa Collet - Vatican News

Estamos concluindo o nono mês de Ano Santo com mais um jubileu temático, aquele dirigido aos catequistas, formadores espirituais e familiares: de 26 a 28 de setembro eles estarão reunidos em Roma para três dias intensos de atividades. Além da peregrinação e passagem pela Porta Santa, estão previstos dois encontros com o Papa Leão XIV, com transmissão ao vivo dos canais do Vatican News e comentários em português: no sábado (27/09) durante audiência jubilar e no domingo (28/09) quando o Pontífice irá presidir a missa com instituição de 39 novos catequistas, entre eles, dois brasileiros e duas portuguesas. Ambas celebrações começam às 10h do horário local, 5h do Horário de Brasília.

A delegação de 228 brasileiros em Roma

A Comissão para a Animação Bíblico Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou que estarão presentes 228 catequistas, considerando todos os grupos confirmados até o momento. Entre eles, o Pe. Marcos Roberto Fogaça Medeiros, coordenador regional da catequese pelo regional Sul 4 da CNBB, da diocese de Joaçaba/SC. Com 20 anos de sacerdócio e 32 como catequista, ele comenta que "é sempre uma graça voltar à Roma, ao coração da Igreja e do ponto visível de comunhão":

"Eu retorno para a nossa diocese com a esperança renovada, levando de volta aquela esperança que os nossos catequistas e as nossas famílias e as nossas forças vivas das comunidades tanto precisam. Para mim é um privilégio poder estar aqui e renovar a minha fé e a comunhão com o Sucessor de Pedro e, principalmente, voltar levando a certeza de que é pela caminho da comunhão, da sinodalidade, da participação e do caminhar juntos que estaremos vivendo sempre e cada vez mais o Evangelho."

O Pe. Marcos Roberto Fogaça Medeiros da diocese de Joaçaba/SC (Vatican Media)

O Pe. Tiago Borges da Silva, assessor diocesano da Comissão Bíblico Catequética da diocese de São João da Boa Vista/SP, também já está em Roma para o jubileu temático do final de semana:

"Representamos um número de cerca de 1500 catequistas e queremos receber graças de Deus para poder transbordar isso nos corações dos catequistas da nossa diocese. E vamos poder espalhar para os quatro cantos do nosso país a chama da esperança aqui reacendida, no encontro com o Santo Padre e com catequistas do mundo inteiro. É uma experiência muito enriquecedora com tantas culturas e povos reunidos em torno do Evangelho."

O Pe. Tiago Borges da Silva da diocese de São João da Boa Vista/SP (Vatican Media)

O Padre Wagner Francisco de Sousa Carvalho, assessor nacional da Comissão Bíblico Catequética da CNBB, também já está na capital italiana liderando uma delegação de 120 pessoas que representa três grupos provenientes de quase todos os estados do Brasil:

"A participação expressiva dos catequistas do Brasil demonstra o que de fato a Igreja é: viver em comunhão. E por isso nós nos enchemos de esperança em observar a adesão, tanto por parte da Comissão Bíblico Catequética da CNBB, quanto por tantas caravanas organizadas pelos sacerdotes que sabemos que virão."

O Pe. Wagner Francisco de Sousa Carvalho que está liderando a delegação de catequistas da CNBB (Vatican Media)

O encontro de catequistas que falam português

No sábado (27/09) a partir do meio-dia do horário local, esses catequistas provenientes do Brasil poderão se encontrar com o grande grupo da lusofonia para celebrar a eucaristia na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma. “Estamos certos de que seremos em muitos catequistas falando português ”, explica Ir. Arminda Faustino, responsável pelo Departamento de Catequese no Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), que faz parte da delegação de 40 responsáveis diocesanos pela catequese de Portugal que estarão em Roma. Estão sendo convidados todos os representantes de Portugal, Brasil, Angola, Guiné, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor-Leste que estarão em Roma para o Jubileu dos Catequistas.

O grupo de brasileiros que já está em Roma (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Vale mais a Palavra de Deus ou as frases de auto ajuda na internet?

Billion Photos | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 22/09/25

“A esperança não decepciona” um lema inspirador para nossos dias.

Setembro é Mês da Bíblia, um período em que a Igreja no Brasil se debruça sobre as Sagradas Escrituras com o tema "A esperança não decepciona" (Romanos 5,5), um lema que ganha destaque em um mundo marcado por incertezas. A iniciativa busca reforçar a importância da palavra de Deus como fonte de luz e esperança, convidando os fiéis a aprofundarem sua fé e a encontrarem na Bíblia o alicerce para enfrentar os desafios contemporâneos, reafirmando a mensagem de que a confiança em Deus é a única que jamais falha. O padre José Edilson da Silva Coordenador Nacional Adjunto da Pastoral da Criança participou do programa Viva a Vida e falou sobre a importância da Palavra de Deus no cotidiano.

Padre Edilson, em meio a tantas mensagens de autoajuda na internet, como a palavra de Deus pode ser um verdadeiro auxílio para as pessoas?

Primeiro, precisamos entender que a Bíblia não é um livro comum. É a própria voz de Deus que fala aos nossos corações. Em todas as situações da vida, a palavra de Deus nos revela o amor que Ele teve desde o princípio pela humanidade e continua tendo. Ela nos fortalece e nos guia.

O tema do Mês da Bíblia é “A esperança não decepciona”. O que isso significa para nós hoje?

A frase de São Paulo a quem ele se dirige à comunidade de Roma, é muito atual. Ele queria mostrar que, em meio a tantas decepções que a vida traz, a única coisa que não decepciona é a esperança em Deus. No Deus que se fez humano, que deu a vida por nós. Essa esperança é a nossa certeza de que o plano de salvação de Deus nunca falhará. É uma mensagem de conforto para um mundo com tantas promessas vazias.

A Bíblia sempre fala da importância da vida. Como podemos ligar a palavra de Deus à nossa própria existência?

É impossível separar a palavra de Deus da vida, porque tudo nas Escrituras diz respeito à vida que Deus nos deu. Quando nossa vida é guiada pela palavra, ela se torna mais plena e fortalecida. É como se deixássemos o próprio autor da vida nos conduzir. A Bíblia nos revela o desejo de Deus de que tenhamos uma vida completa e abundante.

Como a palavra de Deus pode iluminar a nossa realidade?

A palavra de Deus deve ser a luz que ilumina cada aspecto da nossa realidade concreta. Ela deve ser a resposta para os desafios que encontramos. À luz da Bíblia, precisamos analisar e julgar as situações, para então sabermos como agir. Quando transformamos a nossa realidade a partir da palavra de Deus, podemos celebrar as conquistas de uma vida mais plena.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/09/22/vale-mais-a-palavra-de-deus-ou-as-frases-de-auto-ajuda-na-internet/

CATÓLICOS E JUDEUS: Papa Wojtyla e seus irmãos mais velhos

Lorenzo Gulli, Papa Wojtyla e “os Irmãos Maiores”, Nova Itinera, Roma 2005, 231 pp. | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11 - 2005

Papa Wojtyla e seus irmãos mais velhos

Além de fornecer uma grande riqueza de documentos e testemunhos, o volume consegue comunicar os aspectos mais humanos de um período de distensão nas relações judaico-cristãs.

por Giovanni Ricciardi

" A Igreja de Cristo descobre seu 'vínculo' com o judaísmo 'penetrando seu próprio mistério'.

A religião judaica não é 'extrínseca', mas de certa forma 'intrínseca' à nossa religião.

Portanto, temos com ela relações que não temos com nenhuma outra religião. Vocês são nossos irmãos amados." Aplausos estrondosos saudaram essas palavras de João Paulo II na sinagoga de Roma há quase vinte anos. O Papa citava o documento conciliar Nostra Aetate , cujo quadragésimo aniversário é comemorado este ano: um marco nas relações entre a Igreja Católica e o judaísmo. Após essa introdução solene, vem a famosa frase em que o Papa chamou os judeus de 'irmãos mais velhos'. Um momento histórico, a visita de Karol Wojtyla à sinagoga de Roma em 13 de abril de 1986, é colocado no centro de suas reflexões no livro recente de Lorenzo Gulli, ex-jornalista da RAI e testemunha privilegiada daquele evento. Mas sem esquecer que foi o ápice de uma jornada com raízes profundas. E o livro de Gulli, apresentado no Institutum Patristicum Augustinianum em 9 de novembro passado, tem o mérito de reunir e oferecer em detalhes não apenas o relato detalhado daquele evento, sua preparação, seu desenrolar solene, as reflexões e emoções dos protagonistas, mas também a longa jornada que o tornou possível. O próprio João Paulo II recordou, durante sua visita à sinagoga, o encontro cordial e a bênção que João XXIII havia dado aos judeus romanos em uma manhã de sábado, quando saíam da sinagoga. Elio Toaff, em diversas ocasiões, como na entrevista que concedeu a Rai Tre alguns dias após a visita de Wojtyla à sinagoga — e relatada no apêndice do volume —, relembrou com emoção a noite em que, entre muitos romanos, correu para a Praça de São Pedro ao receber a notícia da morte de Angelo Roncalli: "Um gesto espontâneo que respondeu a uma necessidade da minha consciência. E devo dizer que a única coisa que me chocou naquele momento foi que alguém me reconheceu e quis que eu me apresentasse; naturalmente, tentei esconder o máximo que pude, para que não parecesse uma armação." Um fato que era antes de tudo humano, antes mesmo de qualquer consideração teológica ou política, de qualquer construção intelectual. O livro de Gulli, além de fornecer uma riqueza de documentos e testemunhos, consegue comunicar os aspectos mais humanos desse período de distensão nas relações judaico-cristãs: ele reconstitui a experiência direta do jovem Karol Wojtyla com a tragédia da Shoah; o envolvimento de muitos religiosos e religiosas, especialmente em Roma, na salvação de muitos judeus durante a guerra; e os grandes gestos de abertura de João Paulo II ao longo de seu pontificado. Além disso, o livro apresenta depoimentos colhidos in loco durante esses momentos, como o de Jerzy Kluger, colega de escola de Karol Wojtyla, sobrevivente do Holocausto que esteve presente no histórico dia romano de 1986 (gravado na época pelo microfone de Gulli): "Para mim, foi algo grandioso. Eu só pensava no meu pai, meu pobre pai. Ele teria ficado muito feliz em testemunhar este grande dia."

Na apresentação do livro em 9 de novembro, o próprio Toaff relembrou a grande emoção que sentiu quando João Paulo II desceu do carro e o encontrou naquela tarde na porta da sinagoga.

Por fim, o livro enfatiza a continuidade dessa tradição de diálogo e amizade, depois de João Paulo II, com Bento XVI. Sua mensagem de 30 de abril, no nonagésimo aniversário de Toaff, repleta de caloroso afeto, mas sobretudo a visita à sinagoga de Colônia daquele que, como jovem teólogo, contribuiu, seguindo o Cardeal Frings, para a redação do documento conciliar Nostra Aetate , representam a continuidade e o aprofundamento de um caminho que a Igreja sempre percorre "escrutando seu próprio mistério".

Fonte: https://www.30giorni.it/

Lectio Divina

LECTIO DIVINA

23/09/2025

Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro  (RJ)

O mês de setembro é um tempo especial para a Igreja, pois é o mês dedicado à Bíblia, que junto com a Tradição nos trazem a Palavra de Deus. No dia 30 de setembro a Igreja celebra São Jerônimo, tradutor da Bíblia do hebraico e do grego originais para o latim popular falado na época. Inspirado pelo Espírito Santo, ele foi capaz de compreender profundamente as Escrituras Sagradas e escreveu muitos comentários sobre os textos bíblicos. Também nós somos chamados a nos deixar conduzir pelo Espírito Santo para compreender a Palavra de Deus.

Ao longo deste mês somos convidados a meditar as Sagradas Escrituras. É claro que devemos fazê-lo em todos os meses do ano, mas, de modo particular, em setembro. Precisamos tirar a Bíblia do armário ou da estante, onde tantas vezes fica esquecida e empoeirada, escolher um texto e meditar. Isso pode ser feito individualmente ou em família, pela manhã, antes do trabalho, ou à noite, quando todos já estão em casa. Muitas vezes nos ocupamos demais com televisão, internet e outras distrações, e acabamos não reservando tempo para Deus.

Em nossa Arquidiocese, a tradição dos círculos bíblicos é antiga e formam os grupos de reflexão, comunidades e paróquias. O método utilizado, com os textos preparados no livreto da arquidiocese, é o da lectio divina, ou leitura orante da Palavra de Deus.

Escolha um trecho da Palavra de Deus — pode ser até o Evangelho do dia — e faça a experiência da lectio divina. Essa prática consiste em ler o texto sagrado duas ou três vezes, destacando os versículos ou frases que mais chamam a atenção, depois passar para meditação sobre o que essa palavra incide em nossa vida. O terceiro passo é a oração, rezando naquilo que a palavra lida e meditada nos comoveu. Concluímos com contemplação, ou seja, guardando aquela palavra no coração para iluminá-lo durante o dia e a vida.

Para realizar a lectio divina é necessário preparar-se e preparar o ambiente: sentar-se de forma confortável, pedir a iluminação do Espírito Santo, escolher um local silencioso e desligar-se de distrações. Depois, ler e reler o texto, procurando entender o que ele diz para a própria vida. A vida ganha um novo sentido por meio da oração; por isso, precisamos alimentar a alma e o espírito com a Palavra de Deus, deixando que ela oriente nossas ações.

A lectio divina deve durar, ao menos, meia hora. Não pode ser feita às pressas ou de maneira superficial. É recomendável que seja realizada pela manhã ou à noite, individualmente ou em grupo (círculos bíblicos), com a família ou amigos. Quando feita em grupo, cada pessoa pode ler o texto em voz alta e, em seguida, meditar em silêncio, destacando o versículo ou a frase que mais lhe falou ao coração.

Além disso, já chegando ao final de setembro, continuemos a dar destaque à Palavra de Deus, colocando-a em evidência junto ao ambão ou na entrada da Igreja, e, principalmente promovendo círculos bíblicos de oração e lectio divina nesta desejada capilaridade de nossa vida de missão arquidiocesana. Que essa prática não se restrinja apenas a setembro (quando tivemos as assembleias dos círculos bíblicos), mas se prolongue por todo o ano. A Palavra de Deus deve ser o nosso alimento diário, capaz de orientar os passos de cada jornada.

Quando praticamos diariamente a lectio divina, alimentamo-nos da Palavra e preparamos o coração para a Eucaristia. É como os discípulos de Emaús, que, após ouvirem a explicação das Escrituras por Jesus, tiveram a mente e o coração abertos, reconhecendo-o ao partir o pão. Na Santa Missa somos convidados a nos alimentar de duas mesas: a da Palavra e a da Eucaristia. Por isso, se meditarmos a Palavra em casa todos os dias, estaremos melhor preparados para receber o Senhor no sacramento.

A lectio divina é uma prática muito antiga, que remonta ao século III, por volta do ano 220, especialmente entre monges católicos. Com as regras monásticas de Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento, ela se consolidou como um exercício fundamental de espiritualidade. O tempo dedicado à Palavra era sempre o melhor do dia. Por isso, recomenda-se que hoje a lectio divina dure, no mínimo, trinta minutos, preferencialmente pela manhã.

São Jerônimo recorda que “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Na Sagrada Escritura encontramos a história da salvação e o projeto amoroso de Deus, que se realiza plenamente em Jesus Cristo. Ele nos convida à conversão e nos revela o plano salvífico do Pai, levado à plenitude pela sua entrega na cruz.

Diversos documentos da Igreja ressaltam a importância da lectio divina para a vida da Igreja e de cada fiel. Entre eles, a Constituição Dogmática Dei Verbum e a Exortação Apostólica Verbum Domini. Ambos recordam que não basta apenas meditar a Palavra: é necessário também estudá-la, buscar compreendê-la e permitir que ela transforme a vida. Inclusive, durante a liturgia eucarística, sobretudo na homilia, cabe ao sacerdote explicar as leituras proclamadas para que a Palavra penetre no coração dos fiéis.

Neste mês da Bíblia e em todos os outros, busquemos meditar e aprofundar os estudos da Palavra de Deus, como neste ano, a Carta aos Romanos. Que, além de meditar, saibamos também estudar as Escrituras, para conhecê-las melhor e, assim, conhecer mais profundamente a Cristo.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF