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sábado, 5 de julho de 2025

Como é a vida em Montauri, a cidade mais católica do Brasil

Divulgação | Aleteia

Cibele Battistini - publicado em 04/07/25

Com 1.499 habitantes, a pequena Montauri, no norte gaúcho, foi classificada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como a cidade mais católica do Brasil. O marco tem como base os dados do último Censo, quando 1.343 entrevistados, ou 98,32% da população, se identificaram como católicos.

Em meio às paisagens verdes do Rio Grande do Sul, Montauri se destaca não apenas por sua beleza natural, mas também por sua profunda devoção religiosa. Conhecida como a cidade mais católica do Brasil, Montauri é um lugar onde a fé e a espiritualidade permeiam a vida cotidiana de seus habitantes.

À primeira vista, a pequena cidade parece graciosa e tranquila. Com suas ruas tranquilas e casas acolhedoras, Montauri é o lar de cerca de mil habitantes, todos imersos em uma cultura que valoriza a tradição e a religião. A Igreja Matriz, com sua imponente arquitetura e vitrais coloridos, é o coração da cidade, atraindo fiéis que se reúnem não apenas para celebrar missas, mas também para fortalecer laços comunitários.

A vida em Montauri gira em torno das celebrações religiosas. Os moradores se reúnem frequentemente para festividades, como as novenas e as procissões, que atraem não apenas os locais, mas também visitantes de outras cidades. A Festa de Santa Rita de Cássia, por exemplo, é um evento destacado no calendário da cidade, em que a devoção à santa é expressa através de rituais, cânticos e fervorosas orações.

Os habitantes compartilham histórias de milagres e intercessões, moldando uma cultura onde a fé é uma fonte de esperança e consolo. “Aqui, a gente acredita que a oração tem poder. A gente se une para rezar em momentos difíceis e celebrar as vitórias”, comenta Maria, uma das residentes mais antigas da cidade. Seu relato ressoa entre os outros moradores, que frequentemente fazem referência à força que a coletividade proporciona em tempos desafiadores.

"Você percebe que faz parte da rotina. A igreja, a oração... Muitos avisos são dados ainda pela sonora (da igreja). Quando alguém morre, é comunicado pela sonora. Somos um município pequeno que se organiza muito em cima da cultura e da religiosidade. Então surpreende que as pessoas ainda consigam se organizar dessa forma e manter a sua fé e oração em cima dessa comunidade cristã — explica uma moradora 

A educação e a formação religiosa têm um papel fundamental na vida de Montauri. A maioria das famílias envia seus filhos à catequese desde muito cedo, e as aulas de religião são parte obrigatória da grade curricular das escolas locais. A Igreja não apenas orienta a moral e os valores da comunidade, mas também atua em diversas ações sociais, oferecendo apoio àqueles que mais precisam.

A singularidade de Montauri também se revela nas suas tradições culinárias, que muitas vezes estão ligadas às festividades religiosas. Os pratos típicos, alinhados ao calendário litúrgico, transformam as mesas em celebrações de companheirismo e gratidão. “Cada festa é uma oportunidade de nos reunirmos, preparados para dividir não só alimentos, mas também alegrias e histórias de fé”, explica João, um dos organizadores das celebrações.

A presença de símbolos religiosos é uma constante na vida da cidade. Cruzamentos, estátuas de santos e imagens sagradas adornam os espaços públicos e privados, refletindo a espiritualidade que permeia o dia a dia dos moradores. Essa devoção se torna ainda mais palpável durante o mês de junho, quando os festejos juninos coincidem com a celebração do Sagrado Coração de Jesus, criando uma atmosfera única de fervor.

Em Montauri, a simplicidade da vida se entrelaça com a profundidade da fé. Os habitantes vivem a espiritualidade de maneira prática, guiados pelos ensinamentos que moldam suas ações e interações. A sensação de pertencimento e a solidariedade entre os moradores fortalecem uma comunidade unida não apenas pela geografia, mas também pela partilha de uma fé inabalável.

Enquanto Montauri continua a ser um refúgio de fé em tempos desafiadores, a vida na cidade mostra que a devoção pode ser uma força transformadora, aliada à tradição e ao amor entre as pessoas. Aqui, a religião não é apenas uma parte da vida, mas a própria essência que move cada coração. Assim, a história de Montauri é tecida pela fé e pela esperança, num compromisso contínuo com o divino e com a comunidade.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/04/como-e-a-vida-em-montauri-a-cidade-mais-catolica-do-brasil/

Papa aos jovens: em meio aos estímulos digitais, Deus nos fala no coração

Leão XIV com um jovem  (@Vatican Media)

Em audiência conjunta, Leão XIV falou seja a jovens, seja a professores, que vieram a Roma em peregrinação jubilar.

Vatican News

Na manhã deste sábado, o Papa Leão recebeu jovens peregrinos da Diocese de Copenhague, na Dinamarca, e professores de escolas católicas da Irlanda, Inglaterra, País de Gales e Escócia.

"Vocês estão seguindo os passos de inúmeros peregrinos de seus vários países, que há séculos fazem essa mesma peregrinação a Roma, 'Cidade Eterna'.  De fato, Roma sempre foi um lar especial para os cristãos, pois é o lugar onde os apóstolos Pedro e Paulo deram o testemunho supremo de seu amor por Jesus, oferecendo suas vidas como mártires", disse o Pontífice, agradecendo aos grupos pela visita e fazendo votos de que se deixem inspirar pelos santos e mártires que imitaram Cristo.

"A peregrinação tem um papel vital a desempenhar em nossa vida de fé, pois ela nos tira de nossas casas e rotinas diárias e nos dá tempo e espaço para encontrar Deus mais profundamente.  Esses momentos sempre nos ajudam a crescer, pois por meio deles o Espírito Santo nos modela suavemente para que nos conformemos cada vez mais com a mente e o coração de Jesus Cristo", acrescentou o Santo Padre.

Papa saúda os jovens ao final da audiência   (@VATICAN MEDIA)

Ouvir e rezar

Dirigindo-se diretamente aos jovens, recordou que Deus criou cada um com um propósito e uma missão nesta vida.  Portanto, usem essa oportunidade para ouvir e rezar, para que possam ouvir mais claramente a voz de Deus chamando-os no fundo de seus corações.  Ao mesmo tempo, estejam abertos para permitir que a graça de Deus fortaleça sua fé em Jesus, para que possam compartilhá-la mais prontamente com os outros.

“Eu acrescentaria que hoje, com muita frequência, perdemos a capacidade de ouvir, de realmente ouvir. Ouvimos música, temos nossos ouvidos inundados constantemente com todos os tipos de estímulo digital, mas às vezes nos esquecemos de ouvir nosso próprio coração e é em nosso coração que Deus fala conosco, que Deus nos chama e nos convida a conhecê-lo melhor e a viver em seu amor.”

O mesmo se aplica aos professores, pois desempenham um importante papel na formação de crianças, adolescentes e jovens adultos, já que olharão para os educadores como modelos de vida e de fé. "Espero que, a cada dia, vocês cultivem seu relacionamento com Cristo, que nos dá o modelo de todo ensino autêntico, para que, por sua vez, possam orientar e incentivar aqueles que lhes foram confiados a seguirem Cristo em suas próprias vidas."

Antes de concluir, uma recomendação: "Ao voltarem para casa, lembrem-se de que a peregrinação não termina, mas muda seu foco para a 'peregrinação diária do discipulado'.  Somos todos peregrinos e estamos sempre peregrinando, caminhando ao procurar seguir o Senhor e ao buscar o caminho que é verdadeiramente nosso na vida. Isso certamente não é fácil, mas com a ajuda do Senhor, a intercessão dos santos e o encorajamento mútuo, vocês podem ter certeza de que, enquanto permanecerem fiéis, confiando sempre na misericórdia de Deus, a experiência dessa peregrinação continuará a dar frutos ao longo de suas vidas".

O encontro se encerrou com o Papa Leão concedendo sua bênção apostólica.

Leão XIV com os professores   (@Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O empenho cristão pelo justo ordenamento da sociedade

Sinodalidade faz da Igreja uma voz profética no mundo de hoje (Sete Margens)

O EMPENHO CRISTÃO PELO JUSTO ORDENAMENTO DA SOCIEDADE 

04/07/2025

Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

“O empenho pela defesa da vida e dos direitos da pessoa, pelo justo ordenamento da sociedade, pela dignidade do trabalho, por uma economia justa e solidária e pela ecologia integral fazem parte da missão evangelizadora da Igreja”. Esta é uma das afirmações do Documento final do Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana, concluído em outubro de 2024, depois de três anos de um intenso processo de escuta e reflexão. 

Mesmo sem ser uma novidade, esta afirmação é importante, dada a intensa atividade de alguns grupos que questionam a manifestação e a intervenção dos cristãos no campo social, político e ambiental. Esquecem estes que a primeira intervenção histórica de Deus foi o apoio ao movimento de desobediência dos escravos hebreus ao poder do faraó e às lutas para conquistar terras que antes pertenciam a reis de pequenas cidades-estados.  

Não é possível esquecer o caráter político da condenação de Jesus à morte na cruz, pois esta era a pena imposta pelo império romano a quem se rebelasse contra seu domínio e aos escravos fugitivos. “Encontramos esse homem agitando a nossa nação e proibindo pagar impostos a César” dizem os chefes do judaísmo ao governador (cf. Lc 23,2). E o crime imputado a Jesus ficou gravado no alto da cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”. 

Portanto, o pronunciamento das Igrejas cristãs sobre questões políticas e econômicas faz parte da sua missão, e não caracteriza ingerência em terreno alheio. O que é inaceitável é as igrejas atuarem na seara política para assegurar privilégios para si mesmas ou para impor a todos os cidadãos uma pauta moral que é própria de uma denominação religiosa, ou orientar-se pela tática de apoiar incondicionalmente os grupos que exercem o poder. 

Ancorado nesta rocha firme da tradição cristã volto ao debate sobre o aumento da carga tributária sobre as operações financeiras e sobre a taxação dos grandes lucros, objeto de acirradas disputas no Congresso e na grande imprensa. A rejeição do decreto do Executivo pelo Congresso se baseou em meias-verdades ou mentiras inteiras, e foi celebrado como uma derrota imposta ao governo, como se a política fosse um jogo. 

O Congresso atual não está disposto a aceitar mudanças que afetem privilégios da minoria, e o único ajuste que defende é o corte nos gastos sociais, diz o economista Mauricio Weiss. Para o historiador e economista Pedro Faria, os setores que propuseram e aprovaram a derrubada do decreto sabem que o aumento da taxa do IOF não prejudica os pobres, e o que eles querem mesmo é que o ajuste fiscal mantenha os juros altos e os subsídios fiscais às empresas, e diminua o investimento do Estado nas políticas sociais. 

O que fazer diante disso, além de gravar o nome dos que deram seu voto para aprovar essa infame revogação? Informar-se bem; exercer o nosso direito de eleger deputados, senadores, governadores e presidentes que defendam leis e políticas que beneficiem os setores sociais mais vulneráveis; e engajar-se na reflexão sobre a função social e cidadã dos impostos e sobre passos e medidas viáveis para uma maior justiça tributária, que faça recair sobre os mais ricos uma maior responsabilidade tributária. Isso é empenho pelo justo ordenamento da sociedade e por uma economia justa e solidária. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Já estão construindo o Terceiro Templo em Jerusalém?

O Terceiro Templo de Jerusalém? (Cafetorah)

Já estão construindo o Terceiro Templo em Jerusalém?

20 setembro2023 Por Diretor do Cafetorah

A construção do Terceiro Templo em Jerusalém é um assunto de importância e significado religioso para algumas correntes do Judaísmo. Segundo a tradição judaica, o Templo é considerado o local sagrado onde Deus escolheu habitar e onde ocorriam os rituais e sacrifícios prescritos pela Torá.

O Primeiro Templo, conhecido como o Templo de Salomão, foi construído no século X a.C. e destruído pelos babilônios em 586 a.C. O Segundo Templo foi reconstruído após o retorno dos judeus do exílio babilônico, mas foi destruído pelos romanos em 70 d.C., durante a Primeira Guerra Judaico-Romana.

A crença na construção de um Terceiro Templo baseia-se em várias profecias bíblicas, incluindo aquelas encontradas no livro de Ezequiel, que descrevem a restauração do Templo. Para alguns judeus religiosos, a construção do Terceiro Templo é vista como parte do processo de redenção e cumprimento das profecias messiânicas. Mas é importante salientar que o termo Terceiro Templo não aparece explicitamente em nenhum texto da Bíblia.

Existem organizações e movimentos judaicos que se dedicam a preparar os requisitos e planos para a construção do Terceiro Templo. Esses grupos procuram coletar materiais, estudar as especificações detalhadas do Templo nas escrituras e promover o conhecimento e a conscientização sobre o assunto.

No entanto, é importante observar que há várias opiniões dentro do judaísmo em relação à construção do Terceiro Templo. Algumas correntes religiosas acreditam que a construção do Templo é um evento que ocorrerá somente com a vinda do Messias, enquanto outras podem interpretar as profecias de maneira mais simbólica ou não enfatizar a necessidade de um Templo físico.

Além disso, a situação política e religiosa complexa em Jerusalém, incluindo a presença da Mesquita de Al-Aqsa no Monte do Templo, torna a questão da construção do Terceiro Templo um assunto sensível e controverso.

Em resumo, a construção do Terceiro Templo em Jerusalém é um tópico teológico e religioso debatido dentro do Judaísmo, com diferentes interpretações e crenças. É uma questão que continua a gerar discussões e especulações, mas a realização concreta desse projeto é uma questão complexa e dependente de vários fatores históricos, políticos e religiosos.

Já estão construindo ou não o terceiro templo em Jerusalém?

Até o meu conhecimento mais atualizado em Setembro de 2023, não há construção em andamento do Terceiro Templo em Jerusalém. Embora haja grupos e organizações que promovem a ideia e se envolvem em atividades relacionadas à preparação para a construção do Terceiro Templo, o projeto em si é um tema complexo e politicamente sensível.

O Monte do Templo, onde os dois templos anteriores foram localizados, é um local sagrado para o Judaísmo, o Cristianismo e o Islã. Atualmente, o complexo é administrado pela WAQF, o órgão de jurisdição islâmica da Jordânia. A construção de um novo templo seria um empreendimento significativo que envolveria uma série de questões políticas, religiosas e diplomáticas.

Nos últimos anos tenho visitado cada vez mais frequentemente o Monte do Templo em Jerusalém. Alegações da construção do templo em andamento são absurdas. Para verificar isso, basta olhar as câmeras do Muro das Lamentações diariamente e ver que nenhuma construção significativa está sendo feita no local. Mas as câmeras na cobrem todo o Monte do Templo. Mesmo assim, uma construção tão importante seria notada claramente.

É importante ressaltar que o progresso na construção do Terceiro Templo é uma questão complexa e altamente debatida dentro das comunidades judaicas, com diferentes interpretações e opiniões sobre o assunto. A realização concreta da construção dependerá de uma variedade de fatores, incluindo crenças, negociações políticas e condições futuras. Nos últimos meses estive diversas vezes no Monte do Templo, e até agora não há nenhum sinal de que estão construindo o Terceiro Templo. De fato nem mesmo que esteja sendo realizados preparos consideráveis para isso. O que vemos diariamente nas redes sociais falando sobre a suposta construção do Terceiro Templo em Jerusalém, não passa de especulação cujo único objetivo é receber cliques e ganhar dinheiro divulgando informação falsa.

Fotografia: Foto tirada durante uma apresentação no Túnel do Muro das Lamentações

Fonte: https://cafetorah.com/ja-estao-construindo-o-terceiro-templo-em-jerusalem/

DENTRO DO VATICANO: A Secretaria de Estado

A Sala Carlos Magno na "segunda Loggia" (Vatican Media)

É o organismo que mais estreitamente colabora com o Papa no exercício da sua missão suprema, revelando-se de fato o “motor” da ação política e diplomática da Santa Sé, bem como o “elo de ligação” e de síntese na coordenação da Cúria Romana.

Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano

A Seção de Assuntos Gerais, a Seção das Relações com os Estados e as Organizações Internacionais e a Seção para o Pessoal Diplomático da Santa Sé. É neste tríplice horizonte que se articula a estrutura da Secretaria de Estado, concebida para auxiliar o Pontífice no governo da Santa Sé e no exercício do seu ministério como Pastor Universal. Aquele da da Secretaria de Estado é um grupo cosmopolita de pessoas que trabalham em estreita colaboração com o Papa, com funções de coordenação entre os Dicastérios e as Instituições da Sé Apostólica e, externamente, em particular, cuidando das Representações Pontifícias. O secretário de Estado é o primeiro colaborador do Papa no governo da Igreja universal. O secretário de Estado é o cardeal Pietro Parolin.

Notas históricas

A origem da Secretaria de Estado remonta ao século XV. Com a Constituição Apostólica Non debet reprehensibile, de 31 de dezembro de 1487, foi instituída a Secretaria Apostólica, composta por 24 secretários Apostólicos, incluindo o Secretarius domesticus.

Repassando eventos históricos mais recentes, em 1814, Pio VII instituiu a Sagrada Congregação para os Assuntos Eclesiásticos Extraordinários. São Pio X, com a Constituição Apostólica Sapienti Consilio de 29 de junho de 1908, dividiu a Sagrada Congregação para os Assuntos Eclesiásticos Extraordinários na forma posteriormente estabelecida pelo Codex Iuris Canonici de 1917.

Paulo VI, com a Constituição Apostólica Regimini Ecclesiae Universae de 1967, implementando a vontade expressa pelos Bispos no Concílio Vaticano II, reformou a Cúria Romana e deu uma nova estrutura à Secretaria de Estado.

Em 1988, João Paulo II promulgou a Constituição Apostólica Pastor Bonus a qual, reestruturando a Cúria Romana, dividiu a Secretaria de Estado em duas Seções: a Seção para os Assuntos Gerais e a Seção para as Relações com os Estados.

Por fim, Francisco iniciou um novo processo de reforma, culminando em 2022 com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium.

Secretaria de Estado: a Sala dos Tratados (Vatican Media)

Assuntos Gerais

A Seção de Assuntos Gerais – sob a direção do substituto, o arcebispo Edgar Peña Parra – é responsável por tratar dos assuntos relativos ao serviço cotidiano do Romano Pontífice em sua solicitude pela Igreja universal. Promove a coordenação entre os Dicastérios, Organismos e Departamentos da Sé Apostólica, sem prejuízo de sua autonomia, cuidando também dos assuntos relativos às reuniões dos Chefes das Instituições Curiais, e é responsável por tudo o que diz respeito aos Representantes dos Estados junto à Santa Sé.

Além disso, é responsável por: redigir e enviar os documentos que o Santo Padre lhe confia; supervisionar a publicação das “Acta Apostolicae Sedis”; dar instruções ao Dicastério para a Comunicação sobre as comunicações oficiais relativas tanto aos atos do Romano Pontífice quanto à atividade da Santa Sé; custodiar o selo de chumbo e o anel do Pescador.

A esta Seção também cabe tratar de todos os atos relativos às nomeações feitas ou aprovadas pelo Romano Pontífice, e por coordenar e publicar estatísticas sobre a Igreja no mundo.

Relações com Estados e Organizações Internacionais

A Seção para as Relações com Estados e Organizações Internacionais – guiada pelo secretário, o arcebispo Paul Richard Gallagher – tem a tarefa específica de tratar de questões que devem ser discutidas com as autoridades civis.

É de competência da Seção as relações diplomáticas e políticas da Santa Sé com Estados ou outros sujeitos de direito internacional, bem como pela representação da Santa Sé em Organizações Internacionais Intergovernamentais e Conferências Multilaterais.

Esta Seção também é responsável por conceder a nulla osta sempre que um Dicastério ou uma Organização da Cúria Romana pretenda publicar uma declaração ou documento referente às relações internacionais ou às relações com as autoridades civis. Além disso, em circunstâncias particulares, por determinação do Sumo Pontífice e após consulta aos Dicastérios competentes da Cúria, realiza tudo o que diz respeito à provisão de Igrejas particulares, bem como à sua constituição ou modificação.

Representação do secretário para as Relações com os Estados (Vatican Media)

Pessoal Diplomático da Santa Sé

Esta Seção – sob a orientação do secretário, o arcebispo Luciano Russo – trata de questões relativas às pessoas que servem no serviço diplomático da Santa Sé, em particular suas condições de vida e trabalho e sua formação contínua. Também colabora com a Pontifícia Academia Eclesiástica para a seleção e formação de candidatos ao serviço diplomático da Santa Sé. A Seção para o Pessoal Diplomático da Santa Sé foi criada em 21 de novembro de 2017 pelo Papa Francisco.

Compartilhando os Desafios e as Esperanças do Povo de Deus

Dirigindo-se aos membros desta antiga Instituição em 5 de junho de 2025, o Papa Leão XIV expressou palavras de gratidão: “Conforta-me saber que não estou sozinho e poder partilhar convosco a responsabilidade do meu ministério universal".

A Secretaria de Estado é uma comunidade diversificada que oferece “um serviço precioso à vida da Igreja": "juntos - disse Leão XIV - partilhamos as questões, as dificuldades, os desafios e as esperanças do Povo de Deus presente em todo o mundo".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Declaração do então padre Prevost, hoje Leão XIV, contra a pena de morte nos EUA vem à tona

O Ex-Governador Pat Quinn (À Esquerda Na Frente) E Monica Walker Mostram Ao Rev. Joseph Chamblain Uma Nota De 2011 Escrita Por Robert Prevost, Agora Mais Conhecido Como Papa Leão XIV. Foto: Chicago Sun Times

Na época, Prevost ainda não era bispo, muito menos papa. Ele servia como líder global da ordem agostiniana, tendo passado anos como missionário e líder da igreja no Peru. No entanto, seus laços com Illinois permaneceram fortes: ele nasceu em Chicago e, segundo a mensagem, estava hospedado em uma residência de seu irmão em New Lenox, um subúrbio da cidade.

01 DE JULHO DE 2025

Por JORGE HENRIQUE MÚJICA

(ZENIT News / Roma, 1º de julho de 2025) - Documentos recentes revelam que, em 9 de março de 2011, o mesmo dia em que o governador de Illinois, Pat Quinn, assinou uma lei histórica abolindo a pena de morte, recebeu uma mensagem de apoio em sua caixa de correio de um homem identificado simplesmente como Robert F. Prevost. Enviada pelo site oficial do governador, a mensagem agradecia a Quinn por sua "decisão corajosa" e elogiava sua "visão e compreensão" no que ele chamou de "assunto muito complexo".

Na época, Prevost ainda não era bispo, muito menos papa. Ele servia como líder global da ordem agostiniana, tendo passado anos como missionário e líder da igreja no Peru. No entanto, seus laços com Illinois permaneceram fortes: ele nasceu em Chicago e, segundo a mensagem, estava hospedado em uma residência de seu irmão em New Lenox, um subúrbio da cidade.

A mensagem passou praticamente despercebida até que a WBEZ e o Chicago Sun-Times a desenterraram por meio de uma solicitação de registros públicos. No entanto, sua importância tornou-se clara em retrospecto. Ela agora se destaca como o primeiro exemplo conhecido de Prevost intervindo em um polêmico debate político americano, muito antes de o mundo o reconhecer como o primeiro papa nascido nos Estados Unidos.

Ao ser informado da mensagem, Quinn, que alegou nunca ter ouvido falar de Prevost na época, ficou perplexo. "Você pode me enviar uma cópia da carta?", teria perguntado. "Acho que vou emoldurá-la."

O Vaticano não confirmou a autenticidade da mensagem, e o Papa Leão XIV não respondeu a uma solicitação enviada ao endereço da AOL associado a ela. No entanto, a conexão parece crível, especialmente considerando o endereço listado na mensagem e a presença bem documentada de Prevost em Illinois na época.

A abolição da pena de morte em Illinois não foi um acontecimento silencioso. A medida ocorreu após uma década de crescente escrutínio, após múltiplas exonerações de condenados à morte, incluindo um amplo pedido de clemência do ex-governador George Ryan em 2003. Quando Quinn agiu em 2011, ele o fez após meses de consultas com promotores, juízes, familiares das vítimas e homens que escaparam por pouco da execução.

"Segui minha consciência", disse Quinn na época, citando reflexões bíblicas e os escritos do falecido Cardeal Joseph Bernardin, de Chicago, um ferrenho oponente da pena de morte e uma influência espiritual sobre o governador. Na época, Quinn, católico de longa data, descreveu a pena de morte como incompatível com os valores de uma sociedade justa e moral.

A mensagem de Prevost a Quinn ecoou essas convicções, embora tenha permanecido discreta por mais de uma década. Para muitos que conheciam Prevost apenas como teólogo e canonista, a nota acrescenta textura à sua identidade pública em evolução como um líder moral sem medo de intervir, ainda que discretamente, em questões de vida, justiça e dignidade humana.

A Igreja Católica em Illinois pressionou ativamente pela abolição da pena de morte em 2011. O então Cardeal Francis George e o Bispo Thomas Paprocki uniram forças em uma declaração conjunta incomum, declarando a pena de morte desnecessária na sociedade moderna. Após a aprovação do projeto de lei, a Conferência Católica de Illinois o anunciou como um passo em direção a uma "cultura da vida".

Mas Quinn enfrentou forte resistência, principalmente de promotores e grupos de direitos das vítimas, que consideravam a lei branda com o crime. Ele acabou comutando as sentenças de todas as 15 pessoas condenadas à morte para prisão perpétua sem direito à liberdade condicional.

"Pensei em Bernardin, li as Escrituras", disse Quinn em uma entrevista recente, relembrando a pressão moral que sentiu. Ele também releu "O Dom da Paz", de Bernardin, que descreveu como influente em sua decisão.

E agora, mais de uma década depois, descobriu-se que entre as vozes que o encorajavam estava um futuro papa.

Quinn recebeu elogios por suas ações de ativistas como a Irmã Helen Prejean e o ganhador do Prêmio Nobel Desmond Tutu. Mas nenhum, disse ele, tem o mesmo peso que uma mensagem anônima de um agostiniano nascido em Chicago que um dia lideraria a Igreja Católica global.

"Saber que o futuro Papa Leão XIV estava comigo naquele dia", disse Quinn, "me deixa humilde. Ele é um homem de consciência. Tentarei contatá-lo agora."

Fonte: https://es.zenit.org/2025/07/01/sale-a-la-luz-pronunciamiento-del-entonces-padre-prevost-ahora-leon-xiv-contra-la-pena-de-muerte-en-usa/

Santa Sé publica nova Missa pelo Cuidado da Criação

Cardeal Michael Czerny (à direita), em entrevista coletiva anunciando a Missa pelo Cuidado da Criação hoje (3) no Vaticano. | Hannah Brockhaus/EWTN

Por Hannah Brockhaus*

3 de julho de 2025

A Santa Sé apresentou hoje (3) as orações e leituras da Missa pelo Cuidado da Criação.

Inspirada na encíclica Laudato si' , de 2015 publicada pelo papa Francisco, visa “para pedir a Deus a capacidade de cuidar da criação”, disse hoje o cardeal jesuíta Michael Czerny.

“Com essa missa, a Igreja dá apoio litúrgico, espiritual e comunitário ao cuidado que todos precisamos exercer da natureza, nossa casa comum”, disse Czerny. “Tal serviço é, de fato, um grande ato de fé, esperança e caridade”.

A Missa pelo Cuidado da Criação entra para o conjunto das missas para diversas necessidades e ocasiões que podem ser celebradas em dias da semana em que não haja outras celebrações litúrgicas com precedência.

A Santa Sé publicou o formulário da missa, com opções de leituras bíblicas e as fórmulas de orações recitadas pelo sacerdote: antífona de entrada, coleta, oração sobre as oferendas, antífona da comunhão e oração depois da comunhão.

Czerny disse que o papa Leão XIV vai celebrar uma missa privada usando as novas fórmulas de oração em Castel Gandolfo em 9 de julho. A missa será para funcionários da iniciativa Borgo Laudato si', que busca colocar em prática os princípios para o desenvolvimento integral delineados na encíclica Laudato si'.

Segundo o bispo Vittorio Francesco Viola, secretário do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, as conferências episcopais podem indicar um dia para a celebração da missa, se desejarem.

Viola disse também que “o tema da criação já está presente na liturgia”, mas a missa pelo cuidado da criação ajuda a enfatizar o que o papa Francisco escreveu no parágrafo 66 da Laudato si', que “a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra”.

O dicastério de liturgia da Santa Sé foi responsável pelo novo formulário de missa, pedido pelo papa Francisco e aprovado por Leão XIV, mas Czerny disse que o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o Dicastério para a Doutrina da Fé e o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos também colaboraram.

“A Sagrada Escritura exorta a humanidade a contemplar o mistério da criação e a dar infinitas graças à Santíssima Trindade por esse sinal da sua benevolência, que, como um tesouro precioso, deve ser amado, estimado e simultaneamente promovido e transmitido de geração em geração”, diz o decreto do Dicastério do Culto Divino.

“Neste momento, é evidente que a obra da criação está seriamente ameaçada devido ao uso e abuso irresponsáveis ​​dos bens que Deus confiou aos nossos cuidados”, diz também o decreto. “Por isso, considera-se apropriado acrescentar ao missal romano um formulário para a missa pro custodia creationis”.

*Hannah Brockhaus é jornalista correspondente da CNA em Roma (Itália). Ela cresceu em Omaha, no estado americano de Nebraska e é formada em Inglês pela Truman State University no Missouri (EUA).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63481/santa-se-publica-nova-missa-pelo-cuidado-da-criacao

O tempo em Santo Agostinho: entre a eternidade de Deus e a fragmentação humana

Entre o Tempo e a Eternidade (The VOZ Insight)

O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO: ENTRE A ETERNIDADE DE DEUS E A FRAGMENTAÇÃO HUMANA 

04/07/2025

Dom João Santos Cardoso 
Arcebispo de Natal (RN)

A pergunta provocativa — “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?” — introduz, no Livro XI das Confissões de Santo Agostinho, uma das mais belas e profundas meditações já feitas sobre o tempo. Longe de ser uma curiosidade irrelevante ou uma especulação vazia, diante da qual se poderia responder jocosamente, como ele mesmo ironiza — “Preparava o inferno para os que perscrutam esses mistérios profundos” (Confissões, XI, 12) — trata-se, na verdade, de uma interrogação existencial sincera, nascida do desejo de compreender a própria condição humana à luz da fé. 

Recusando as respostas simplistas, Agostinho confessa: não sei. Mas logo afirma algo essencial: antes da criação, não havia tempo, pois o próprio tempo é criatura de Deus. “Não houve, pois, tempo algum em que nada fizesses, pois fizeste o próprio tempo” (Confissões, XI, 14). Com essa afirmação, Agostinho nos convida a reconhecer que o tempo não é eterno, apenas Deus o é. E se Deus é eterno, é porque nele não há sucessão de instantes, nem começo ou fim. Tudo o que para nós é passado, presente ou futuro, em Deus é um eterno presente. “Teu hoje é a eternidade” (Confissões, XI, 13), afirma ele, com a força de quem contempla esse mistério com reverência e assombro. A eternidade divina não se mede, não se divide, não se conta; nela tudo é, tudo permanece, tudo está presente. 

Essa reflexão se mostra atual em nossa cultura, marcada por um paradoxo profundo: nunca se correu tanto e nunca se sentiu tanto cansaço, dispersão e tédio. Vivemos como fugitivos do próprio tempo. As agendas estão lotadas, os compromissos se sobrepõem e o tempo escorre por entre os dedos. Há quem se sinta oprimido pela pressa; outros, esmagados pelo vazio, pelo tempo ocioso e sem sentido. O tempo, que deveria ser dom, tornou-se fardo. 

Essa experiência de inquietação diante do tempo já habitava o coração de Agostinho. “Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar, já não sei” (Confissões, XI, 14). A célebre frase não expressa ignorância, mas sabedoria: o tempo é familiar a todos nós, mas nos escapa quando tentamos traduzi-lo em conceitos. Para Agostinho, o tempo não é uma entidade física mensurável em si mesma, mas uma experiência da alma. Ele está no interior do ser humano, como uma tensão entre o que foi, o que é e o que ainda virá. Por isso, Agostinho distingue o presente do passado (memória), o presente do presente (atenção) e o presente do futuro (expectativa). 

Ao refletir sobre o tempo, Agostinho distingue claramente entre a eternidade divina e a temporalidade humana. Deus é eterno, imutável, pleno. Nós somos temporais, instáveis, limitados. Deus não espera, não começa nem termina. Ele simplesmente é. Perguntar o que Deus fazia ‘antes’ de criar o mundo é um erro conceitual, pois o ‘antes’ só faz sentido dentro do tempo, e este só começou quando Deus criou todas as coisas. O tempo, o espaço e todas as criaturas foram criados por Deus. Ele está fora do tempo, mas entra nele por amor, por meio da Encarnação do Verbo. O Eterno fez-se tempo e, por isso, o tempo foi redimido. 

Embora Agostinho não utilize os termos gregos chronos e kairós, sua teologia nos ajuda a compreendê-los com clareza. Chronos é o tempo cronológico, linear, o tempo dos relógios e calendários. Já kairós é o tempo oportuno, o instante carregado de sentido, o momento da graça. Quando Agostinho suplica: “Concede-me o tempo para meditar nos mistérios de tua lei […] tua palavra é minha alegria” (Confissões, XI, 2), ele não está pedindo mais horas no dia, mas um tempo novo, um tempo pleno, fecundado pela presença de Deus. Trata-se de transformar o tempo comum em tempo habitado, em tempo de salvação. 

Essa visão agostiniana do tempo como dom e espaço de encontro com o Eterno nos interpela profundamente. Vivemos em uma cultura que perdeu a capacidade de esperar, de contemplar, de simplesmente estar. Falta tempo para Deus, para os outros, para si mesmo. Refletir sobre o tempo, nesse contexto, não é evasão, mas resistência. É uma forma de resgatar o sentido da vida. O tempo, vivido com sabedoria, torna-se lugar de comunhão, espaço de graça, escola de paciência. 

As implicações dessa visão são múltiplas. Teologicamente, ela nos lembra que Deus, eterno, não apenas criou o tempo, mas quis entrar nele para salvá-lo. O tempo é, portanto, o lugar da revelação e da salvação. Espiritualmente, somos convidados a habitar o tempo com profundidade, atenção e gratidão. Cada instante pode ser kairós, um tempo favorável, uma visita da graça. E pastoralmente, há urgência de uma autêntica pedagogia do tempo. Precisamos redescobrir o valor do descanso, da alternância entre ação e contemplação, do domingo como dia do Senhor. A administração do tempo se tornou um desafio pastoral. Não basta ensinar a fazer mais coisas em menos tempo, é preciso aprender a viver com mais sentido e menos pressa. 

O tempo pode ser opressor quando mal vivido, mas torna-se libertador quando habitado com fé. Agostinho nos ensina que o tempo não é condenação, mas caminho. Somos peregrinos do tempo, destinados à eternidade. Quando vivemos o presente com fé e amor, já tocamos, em parte, o eterno. Em Cristo, o eterno entrou no tempo para transfigurá-lo. Viver bem o tempo é preparar-se para a eternidade. É permitir que a esperança nos modele. É compreender que até mesmo os instantes mais difíceis podem ser sagrados. E quando nos sentimos dispersos, vazios ou perdidos, resta-nos a oração que resume toda a vida de Agostinho: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti” (Confissões, I, 1). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A cooperação do trabalho humano para o projeto de Deus sobre o mundo (Parte 2/2)

Identidade e Missão (Opus Dei)

A cooperação do trabalho humano para o projeto de Deus sobre o mundo

Quarto artigo da série “A caminho do centenário”. Este artigo apresenta a visão de São Josemaria sobre o trabalho como participação na obra criadora de Deus, em continuidade com a tradição bíblica e o Magistério. Longe de ser uma tarefa meramente instrumental e extrínseca, o trabalho é uma colaboração ativa no aperfeiçoamento do mundo criado.

01/06/2025

Criação a caminho

Apresentar o trabalho humano como participação no poder criador de Deus é possível quando se reconhece que a criação possui uma dimensão histórica intrínseca, está in statu viae – em estado de caminho – e, portanto, destinada a ser concluída precisamente pelo trabalho. Um ponto do Catecismo da Igreja Católica (1997) ilustra de forma sugestiva este aspecto: “A criação tem sua bondade e sua perfeição próprias, mas não saiu completamente acabada das mãos do Criador. Ela é criada "em estado de caminhada" ("in statu viae") para uma perfeição última a ser ainda atingida, para a qual Deus a destinou” (n. 302). O Concílio Vaticano II havia afirmado claramente esta mesma perspectiva, desenvolvendo-a em diversos pontos da constituição pastoral Gaudium et spes, com o fim de expor o valor das atividades humanas, sua legítima autonomia e sua elevação, pela caridade, ao mistério pascal de Jesus Cristo:

“Uma coisa é certa para os crentes: a atividade humana individual e coletiva, aquele imenso esforço com que os homens, no decurso dos séculos, tentaram melhorar as condições de vida, corresponde à vontade de Deus [...]. Os homens e as mulheres que, ao ganhar o sustento para si e suas famílias, de tal modo exercem a própria atividade que prestam conveniente serviço à sociedade, com razão podem considerar que prolongam com o seu trabalho a obra do Criador, ajudam os seus irmãos e dão uma contribuição pessoal para a realização dos desígnios de Deus na história” (Gaudium et spes, n. 34).

Ao prolongar a obra do Criador, o ser humano, por sua condição de criatura, não compartilha a transcendência do ato criador de Deus, mas coopera em seu desenvolvimento ao longo do tempo. Sua participação inscreve-se no progresso que a criação experimentou e continuará experimentando na história. E o faz com criatividade, reflexo de seu ser feito à imagem e semelhança de Deus.

Entendido e apresentado como participação no poder divino, o trabalho deixa de ser uma mera atividade extrínseca e transitória, limitada à satisfação de necessidades materiais. Não pode, tampouco, ser reduzido a uma carga imposta inexoravelmente ao ser humano, fonte só de fadiga e estresse: embora esta concepção seja frequente, assumi-la implica adotar uma perspectiva teológica e antropologicamente errônea:

“Devemos convencer-nos, portanto, de que o trabalho é uma maravilhosa realidade que se nos impõe como uma lei inexorável, e de que todos, de uma maneira ou de outra, lhe estão submetidos, ainda que alguns pretendam fugir-lhe. Aprendei-o bem: esta obrigação não surgiu como uma sequela do pecado original nem se reduz a um achado dos tempos modernos. Trata-se de um meio necessário que Deus nos confia aqui na terra, dilatando os nossos dias e fazendo-nos participar do seu poder criador, para que ganhemos o nosso sustento e simultaneamente colhamos frutos para a vida eternao homem nasce para trabalhar, como as aves para voar” (Amigos de Deus, n. 57).

O cristianismo convida-nos, portanto, a mudar de atitude diante do trabalho. Seria uma visão reducionista considerá-lo unicamente como uma necessidade inevitável da qual desejaríamos prescindir ou como um obstáculo para realização de nossos desejos e nossa personalidade. A antropologia bíblica apresenta-o, pelo contrário, como uma contribuição inteligente para o progresso da criação, um mandato criativo que Deus outorgou aos primeiros seres humanos antes do pecado de Adão:

“Desde o começo da sua criação, o homem teve que trabalhar. Não sou eu que o invento: basta abrir a Sagrada Bíblia nas primeiras páginas para ler que - antes de que o pecado e, como consequência dessa ofensa, a morte e as penalidades e misérias entrassem na humanidade - Deus formou Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua descendência este mundo tão belo, ut operaretur et custodiret illum (Gn 2, 15), para que o trabalhasse e o guardasse” (Amigos de Deus n. 57).

Prolongar a criação mediante o próprio trabalho não é, no entanto, um processo automático. Não se trata de inserir mecanicamente a atividade humana dentro de um ato criador divino que atravessa a história. Para participar na obra criadora mediante seu trabalho, o homem precisa ser dócil ao Espírito Santo, Espírito criador e identificar-se com Jesus Cristo, sujeito da recapitulação e da reconciliação do mundo com Deus. Para poder realmente cooperar na ação divina, quer na obra da criação, redenção ou santificação, é preciso estar em estado de graça, o que manifesta que o amor de Deus é atual no sujeito. Em poucas palavras, só sendo homens e mulheres de oração, e transformando o trabalho em oração (cfr. Sulco, n. 497; Amigos de Deus, n.os 64-67), o trabalho converte-se “no ponto de encontro de nossa vontade com a vontade salvadora de nosso Pai celestial” (Carta 6, n. 13).

Um programa de tal envergadura pode se realizar se o trabalho entra na vida de oração de quem o exerce, como tema de seu diálogo com Deus. Só assim a vontade de quem trabalha pode se identificar com a vontade de Deus: compreende-se onde e como exercitar a caridade e as outras virtudes cristãs, recebe-se luzes para examinar a própria consciência, orienta-se a própria atividade para a verdade e o bem, promove-se programas que tendem ao bem comum e à difusão do Evangelho de Jesus Cristo.

Dar a forma de Cristo ao mundo

Ao meditar sobre o trabalho e convertê-lo em objeto de oração pessoal, o cristão aprende a enxertar sua atividade na obra da criação e da salvação. Seguindo as inspirações do Espírito Santo, pode transformar o mundo dando-lhe a forma de Jesus Cristo, e converter assim o trabalho humano em opus Dei, trabalho de Deus. É este o sentido profundo da afirmação de São Josemaria de que o trabalho é o eixo em torno do qual deve girar a santidade e o apostolado daqueles que aderem à nova fundação que Deus, através dele, suscitou (cfr. Carta 31, n.os 10-11).

A centralidade do trabalho não é meramente circunstancial, já que as virtudes e o apostolado desenvolvem-se normalmente no âmbito das relações e dos lugares vinculados à atividade profissional de cada um. Trata-se, sobretudo, de uma centralidade do projeto na medida em que ordena as realidades terrenas a Deus precisamente a partir do que o cristão concebe, realiza e a que dá andamento através de seu trabalho.

Estamos num mundo em construção, em uma história aberta. É necessário, por isso, ouvir o Espírito para compreender, nas situações mutáveis da vida, como dar ao trabalho humano a forma Christi. “Ao empreender vosso trabalho, seja ele qual for, fazei, meus filhos, um exame para comprovar, na presença de Deus, se o espírito que inspira essa tarefa é, realmente, espírito cristão, tendo em conta que a mudança das circunstâncias históricas – com as modificações que ele introduz na configuração da sociedade – pode fazer que o que foi justo e bom em dado momento, deixe de sê-lo” (Carta 29, n. 18). Ainda em caminho rumo à cidade de Deus, o cristão é chamado, por sua vocação batismal, a construir a cidade dos homens (Amigos de Deus, n. 210). Deve-se, portanto, avaliar todas as dimensões que contribuem para o progresso dos homens: o saber, a técnica, a arte, a ciência (cfr. Sulco, n. 293).

A visão positiva do progresso e da pesquisa cientifica, fruto de uma compreensão do trabalho como participação no projeto de Deus para o mundo, não ignora uma legítima preocupação pelas questões éticas que o progresso cientifico e técnico pode apresentar. O espírito cristão sugere, no entanto, centrar a atenção sobretudo na formação e nas virtudes daqueles que trabalham, para que possam atuar com responsabilidade na busca da verdade e do bem. Para os cristãos isto representa alcançar uma síntese madura entre fé e razão, ética e técnica, progresso cientifico e progresso humano. Assim o inspiram tanto o otimismo cristão quanto o amor apaixonado por um mundo que, tendo saído bom das mãos de Deus, foi confiado ao cuidado e ao aperfeiçoamento pelo ser humano através de seu trabalho (cfr. Entrevistas, n.os 23, 116-117).

“Quis o Senhor que os seus filhos, os que recebemos o dom da fé, manifestemos a original visão otimista da criação, ou ‘amor ao mundo’ que palpita no cristianismo. Portanto, não deve faltar nunca entusiasmo no teu trabalho profissional nem no teu empenho por construir a cidade temporal” (Forja n. 703).

Como pai de um caminho eclesial específico e de uma nova fundação, o pensamento de São Josemaria sobre o papel do trabalho humano nos planos de Deus não só se encontra em seus numerosos ensinamentos sobre o sentido espiritual e teológico do trabalho, mas reflete-se ainda nas numerosas obras inspiradas por ele e promovidas por seus filhos e filhas em todo o mundo.

Transmitir uma visão positiva da dignidade do trabalho como a que nos é legada pelos escritos e pela pregação do fundador do Opus Dei, traz consequências muito importantes para a psicologia do homem contemporâneo, sua vida social e a organização de seu tempo. De fato, o trabalho continua sendo um âmbito de tensões e desafios, que somos chamados a discernir e a integrar e que gera conflitos na conciliação entre a profissão e a vida familiar, bem como na relação entre o esforço profissional e o necessário descanso. Viver uma ética baseada na justiça torna-se, além disso, difícil em um ambiente de relações muitas vezes marcadas pelo egoísmo, a autoafirmação e a busca desmedida do lucro.

Tudo isso permite compreender que, em uma história marcada pelo pecado do homem, cooperar na tarefa de levar ao seu fim um mundo criado in statu viae implica também reordenar o que está desordenado, curar o que o pecado feriu. Em suma, significa participar na obra redentora de Cristo (cfr. É Cristo que passa, n.os 65, 183). Tal participação em si mesma é um dom de Deus e só se torna possível quando, na própria vida, o homem rejeita o pecado e vive em graça, como filho de Deus guiado pelo Espírito. O próximo artigo abordará algumas reflexões sobre a dimensão histórica da atividade humana, situando o trabalho na intercessão entre criação e redenção.

Esta série é coordenada pelo prof. Giuseppe Tanzella-Nitti. Conta com outros colaboradores, alguns dos quais são professores e professoras da Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-cooperacao-do-trabalho-humano-para-o-projeto-de-deus-sobre-o-mundo/

DENTRO DO VATICANO: Dicastério para a Doutrina da Fé

O prédio do Santo Ofício, sede do Dicastério para a Doutrina da fé  (Vatican News)

Sua missão é auxiliar o Papa e os Bispos "no anúncio do Evangelho em todo o mundo, promovendo e tutelando a integridade da doutrina católica sobre a fé e a moral, haurindo do depósito da fé".

Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano

Hoje, a missão da Doutrina da Fé é, sobretudo, trabalhar "para fazer crescer a inteligência da fé, a fim de evitar não apenas erros, mas também algumas decisões que 'apagam' o Espírito, pois, embora formalmente corretas, podem minar a riqueza da fé".

Com estas palavras, o prefeito, cardeal Víctor Manuel Fernández, ilustra a missão do Dicastério para a Doutrina da Fé, que, em sua estrutura, também inclui três secretários: monsenhor Armando Matteo, monsenhor John Joseph Kennedy e monsenhor Charles Jude Scicluna.

História

Os pastores da Igreja têm o dever de guardar intacto o depósito da fé que lhes foi confiado por Cristo. Para responder a essa tarefa, os Pontífices, ao longo da história, serviram-se de diversos instrumentos e diversos Dicastérios surgiram com o objetivo de facilitar o governo da Igreja. Neste contexto, insere-se a origem da Congregação para a Doutrina da Fé.

Seus primórdios remontam a 1542, quando Paulo III instituiu uma Comissão de seis cardeais com a tarefa de supervisionar as questões de fé. Conhecida pelo nome de "Santa Inquisição Romana e Universal", inicialmente tinha o caráter de um Tribunal exclusivamente para as causas de heresia e cisma. Paulo IV, a partir de 1555, expandiu significativamente sua esfera de ação, tornando-a competente para julgar questões morais de natureza diversa.

Ao longo dos séculos, grandes mudanças, inclusive na história da Igreja, levaram a profundas transformações. O tempo presente não é mais o tempo da Inquisição, o Índice não existe mais. Com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, Francisco modificou a denominação e a estrutura interna da Congregação para a Doutrina da Fé, mudando seu nome para Dicastério para a Doutrina da Fé. Ao longo dos séculos, a tarefa portanto mudou, mas o ímpeto de fidelidade à doutrina dos Apóstolos permanece sempre, indelével.

Dicastério para a Doutrina da Fé - A Capela (Vatican News)

Estrutura

O Dicastério para a Doutrina da Fé compreende duas Seções, Doutrinária e Disciplinar. A Seção Doutrinária trata de questões relevantes para a promoção e proteção da doutrina da fé e da moral. O Escritório Matrimonial, instituído para examinar, tanto de direito como de fato, questões relativas ao privilegium fidei, pertence a esta Seção.

A Seção Disciplinar trata dos crimes reservados ao Dicastério e por ele julgados sob a jurisdição do Supremo Tribunal Apostólico. A Pontifícia Comissão Bíblica e a Comissão Teológica Internacional são instituídas dentro do Dicastério. Cada uma opera de acordo com suas próprias normas aprovadas.

Comissão Bíblica e Comissão Teológica Internacional

A Pontifícia Comissão Bíblica foi instituída por Leão XIII com a Carta Apostólica Vigilantiae studiique de 30 de outubro de 1902. É um órgão consultivo, colocado a serviço do Magistério. A Comissão Teológica Internacional foi criada por Paulo VI em 1969. Sua tarefa é auxiliar a Santa Sé no exame de questões doutrinais de maior importância.

Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores

A Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores também está instituída no Dicastério para a Doutrina da Fé: sua tarefa é fornecer ao Pontífice conselho e assessoria, bem como propor as iniciativas mais adequadas para a proteção de menores e pessoas vulneráveis.

Esta Pontifícia Comissão está comprometida, em particular, em desenvolver estratégias e procedimentos adequados, por meio de diretrizes, para proteger menores e pessoas vulneráveis ​​de abusos sexuais e em fornecer uma resposta adequada a tais condutas por parte do clero e dos membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, de acordo com as normas canônicas e levando em consideração as exigências do direito civil.

O prédio do Santo Ofício (Vatican News)

Do Vaticano para o mundo

A sede do Dicastério para a Doutrina da Fé é no Prédio do Santo Ofício, localizado entre a Basílica de São Pedro e uma das entradas da Cidade do Vaticano. Deste lugar, que parece fundir-se com o abraço da Colunata de Bernini para o mundo, renova-se também em nossos dias o serviço de promoção e salvaguarda da fé. Uma missão que, na vida do Dicastério para a Doutrina da Fé, também se articula por meio de um amplo espectro de atividades, incluindo simpósios, jornadas de estudo, documentos e encontros.

Os esforços de hoje se somam àqueles que caracterizaram as origens da Igreja. O que era chamado de "preocupação com a doutrina correta" e nasceu antes do Santo Ofício, já estava no Novo Testamento. Muitos Concílios e Sínodos testemunham isso. O Dicastério para a Doutrina da Fé, inspirando-se nessa tradição, continua e realiza sua missão: a de salvaguardar o depósito da fé.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF