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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Benedicto, Doutor, Poeta e Pastor da Igreja

Dom Benedicto Ulhoa Vieira (Diocese de Ituiutaba)

BENEDICTO, DOUTOR, POETA E PASTOR DA IGREJA 

11/08/2025

Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)

No entardecer do domingo, quando nas grandes Basílicas se oferecia o incenso do sacrifício vespertino das Segundas Vésperas, no dia 03 de agosto de 2014, Dia do Padre, e véspera da memória litúrgica de São João Maria Vianney, no início do Mês Vocacional, partia Dom Benedicto de Ulhôa Vieira para fazer a sua Páscoa definitiva, entrando no dia sem ocaso para o eterno repouso, participando das alegrias do Senhor, a quem serviu por toda a sua vida. 

Desde criança, em Mococa (SP), onde nascera aos 19 de outubro de 1920, servia nos altares do Senhor, acalentando o desejo de um dia ministrar a Santa Missa. Com brilho no olhar, Dom Benedito nos contava uma de suas muitas memórias de infância. Ele tinha uma irmãzinha que andava com dificuldades, amparada por muletas. A mãe, que teve a vida ceifada precocemente, contava para as crianças reunidas na sala, a história de Nossa Senhora Aparecida, que libertou o escravo. No mesmo instante, a menina exclamou: “Se Nossa Senhora libertou o escravo, ela pode me curar”. Deixando as muletas, sua irmãzinha começou a andar naturalmente para nunca mais usar muletas. Emocionado, Dom Benedicto arrematava: “Naquele dia, Nossa Senhora entrou na minha casa, curou minha irmã e me chamou para ser padre”. 

Foi esse encanto pelo chamado de Deus, reclinado por Nossa Senhora Aparecida em seu coração de criança, que levou o jovem Benedicto a superar muitos desafios do processo formativo na vida de seminário e a ser ordenado presbítero, no dia 8 de dezembro de 1948. Dentre os muitos trabalhos que ele se dedicou como padre, na capital paulista, podemos ressaltar: foi Professor, Vice-Reitor e Capelão da PUC-SP; Pároco dos Universitários e Reitor do Seminário Central do Ipiranga; Vigário Geral da Arquidiocese de São Paulo e coordenador de sua restauração administrativa. 

O jovem Padre Benedicto foi o autor da primeira tese doutoral defendida na Faculdade de Teologia “Nossa Senhora da Assunção”, em São Paulo. Filiada à Pontifícia Universidade Católica e anexada ao Seminário Central do Ipiranga, a insipiente Faculdade – que ainda não completara cinco anos de sua fundação – contava já com uma dezena de sacerdotes formados na Pontifícia Universidade de Roma. A data da defesa da tese foi marcada pelo próprio Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos, Cardeal Motta, que presidiu a sessão solene, aos 7 de setembro de 1953. O título da tese é “A consumação soteriológica na Epístola aos Hebreus: Teologia de São João Crisóstomo”. 

O Papa Paulo VI nomeou o então Monsenhor Benedicto como Bispo Auxiliar de São Paulo. Sua ordenação ocorreu  no dia 25 de janeiro de 1972, pelas mãos do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, permanecendo no cargo por sete anos. Ali, Dom Benedicto teve marcante atividade pastoral nas comunidades da periferia e forte atuação profética em defesa dos presos políticos e na denúncia dos desmandos da ditadura militar, como relatam inúmeros livros de História. Recentemente, a jovem Amanda Oliveira apresentou uma dissertação de mestrado na Universidade Federal de Uberlândia sobre este tema, transformando-a em um livro intitulado “Dom Benedito de Ulhôa Vieira: uma trajetória de Esperança”. 

No dia 15 de setembro de 1978, Dom Benedicto tomou posse como 2º Arcebispo Metropolitano de Uberaba-MG e 5º Bispo da cidade das sete colinas. No seu discurso de chegada a Uberaba, ele assim se apresentou: “Sou bandeirante. Venho de Piratininga e trago comigo a pressa daqueles que não sabem esperar”. Seu governo pastoral foi marcado pela pressa em servir. Era o homem que tudo fazia já de véspera. Ainda que tendo assumido encargos na CNBB, como Vice-presidente (1983-1987) e Presidente do Regional Leste II, pastoreava sua Igreja com todo desvelo. 

No dia 6 de agosto de 1988, tive a grande satisfação de ter sido ordenado diácono por este grande homem de Deus. Consigo ainda ouvir a sua voz intrépida a interpretar a ordenação como verdadeira transfiguração: “Hoje, neste Santuário, acontece uma nova transfiguração: a ordenação deste jovem. Antes vai ele prostrar-se para sentir o cheiro da terra, de onde saímos, e depois erguer-se, na beleza de sua mocidade, e dizer: ‘Senhor, aqui estou’”. Aos 8 de dezembro de 1988, as mãos paternas de Dom Benedicto voltaram a ser reclinadas sobre a minha fronte, agora para a ordenação presbiteral. Nós, padres jovens, o rodeávamos para beber dele não somente a sabedoria, mas também a sua afeição, como fazia o jovem Irineu aos pés do velho Policarpo, bispo de Esmirna, no início do século II. Quais homens insignes da história da Igreja, Dom Benedicto nos transmitia a Tradição Apostólica e nos enchia de zelo e ardor no discipulado e na configuração a Jesus Cristo. 

Além das visitas pastorais às paróquias e animação das periódicas reuniões do clero, D. Benedicto instituiu as Assembleias arquidiocesanas e a elaboração dos planos de pastoral (PAPIU – Plano Arquidiocesano de Pastoral da Igreja de Uberaba). Organizou a Arquidiocese conforme a inspiração do Concilio Vaticano II, Igreja Povo de Deus. Criou 11 paróquias; ordenou 30 padres; criou a Comissão dos Direitos Humanos; realizou a reforma da catedral e de várias outras igrejas e, no seu governo, foi desmembrada a Diocese de Ituiutaba. Construiu o novo Seminário, dedicado a São José; criou a Escola de teologia para leigos e leigas (ESTELAU) e a Escola diaconal Santo Estevão. 

Foram mais de 17 anos de profícuo ministério episcopal de Dom Benedicto na Arquidiocese de Uberaba, cujos frutos ainda reverberaram mesmo depois de se tornar emérito, o que ocorreu a 28 de fevereiro de 1996. Suas aulas, palestras e homilias manifestavam sua altíssima sabedoria, recolhida em várias obras publicadas. Como Reitor do Santuário da Medalha Milagrosa, Dom Benedicto, já Arcebispo emérito, aspergia seu zelo pastoral e a todos encantava com seu vigor nutrido de fé inquebrantável. Às noites de sexta-feira, saía pelas ruas da cidade  levando um lanche às pessoas em situação de rua, manifestando sua solidariedade para com os empobrecidos. Já alquebrado, tinha grande satisfação em receber visitas em sua casa, com quem se entretinha sobre  variados assuntos, como cultura, literatura, filosofia, teologia, religiosidade e muita prosa boa. 

Foi esse o homem-doutor, rico em sabedoria para enriquecer o seu rebanho com a iluminação divina. Foi ele o homem-poeta a inspirar o sentido da vida de tantas pessoas. Foi ele o pastor zeloso a cuidar, com extrema dedicação, do rebanho a ele confiado, com amor de predileção pelos empobrecidos e descartados da sociedade. Dom Benedicto foi o homem completo, excessivamente humano, no exercício de seu ministério como servidor de Deus e de seu povo. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Santa Dulce Lopes Pontes (*1914 - †1992)

Santa Dulce Lopes Pontes (Vatican News)

Irmã Dulce dos Pobres, mística brasileira, também conhecida como “Anjo bom da Bahia”, tinha como lema “Amar e Servir”: fez da sua existência um instrumento vivo de fé, amor e serviço aos indigentes e enfermos.

Vatican News

A Igreja Católica recorda hoje Santa Dulce Lopes Pontes, também chamada de "Anjo bom da Bahia", a "Irmã Dulce dos pobres".

Maria Rita nasceu em 26 de maio de 1914, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, Bahia, segunda filha do cirurgião dentista Augusto Lopes Pontes, professor de Odontologia, e Dona Dulce Maria de Souza. Foi batizada com o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes.

A menina era muito alegre, adorava brincar de boneca, empinar arraia e tinha especial predileção pelo futebol. De fato, era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time da classe operária e excluídos da sociedade.

Em 1921, aos sete anos, ficou órfã de sua mãe, falecida com apenas 26 anos de idade. No ano seguinte, junto com seus irmãos, Augusto e Dulcinha, fez a Primeira Comunhão na igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

Aos 13 anos, graças à influência da sua família e ao seu senso de justiça, a jovenzinha passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando-a em um pequeno “centro de atendimento”, que ficou conhecido como “Portaria de São Francisco”. Na época, ao visitar com sua tia, a periferia da cidade, bairros onde moravam os pobres e excluídos, Maria Rita começou a manifestar, pela primeira vez, o desejo de dedicar-se à vida religiosa.

Irmã Dulce e suas numerosas atividades

Em 8 de fevereiro de 1933, após sua formatura em Magistério, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, Sergipe, onde recebeu o hábito religioso, mudando seu nome para Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe.

A primeira missão de Irmã Dulce como religiosa foi ensinar em um colégio, mantido pela sua Congregação, no bairro da Massaranduba, Cidade Baixa de Salvador. Mas, seu pensamento estava sempre voltado para o trabalho com os pobres.

Em 1935, começou a dar assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas no bairro de Itapagipe, onde moravam numerosos trabalhadores. Ali, deu início a um posto médico, que, em 1936, se tornou “União Operária São Francisco”, a primeira organização católica do estado, que, depois, se transformou em “Círculo Operário da Bahia”, fundado em 1937, com Frei Hildebrando Kruthaup. Dois anos depois, Irmã Dulce inaugurou o “Colégio Santo Antônio”, uma escola pública para operários e seus filhos, no bairro da Massaranduba.

Relíquias da “Madre Teresa do Brasil”

A causa da Canonização de Irmã Dulce teve início em janeiro de 2000. Seus restos mortais, que, desde 1992 - ano de seu falecimento – jaziam na igreja da Conceição da Praia, foram transladados para a Capela do Convento Santo Antônio, sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), em Salvador.

A Congregação das Causa dos Santos, após a Positio, documento canônico sobre os dados biográficos, virtudes e testemunhos do processo de canonização, definiu a santa “Madre Teresa do Brasil” como a “Madre Teresa de Calcutá”, “conforto para os pobres e exame de consciência para os ricos”.

No dia 9 de junho de 2010, deu-se a exumação e translado das relíquias da Irmã Dulce para a Capela definitiva, na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, hoje, Santuário Santa Dulce dos Pobres, situado ao lado da sede da OSID (Obras Sociais Irmã Dulce), lugar onde a santa havia fundado o Círculo Operário da Bahia, na década de 40. Ali, se encontra o túmulo da Mãe dos Pobres, lugar de devoção e fé.

Em setembro de 2019, por ocasião da sua Canonização, presidida pelo Papa Francisco, o local foi reformado, ganhando um túmulo de vidro com uma efígie, em tamanho real, da Santa Dulce dos Pobres.

Obras sociais “Irmã Dulce”.

Maria Rita Pontes, sobrinha da Irmã Dulce, escreveu uma biografia sobre sua tia, na qual destaca os exemplos de bondade, caridade e amor ao próximo da “Mãe dos Pobres”.

IRMÃ DULCE COMPARADA COM “MADRE TERESA”

(Congregação das Causas dos Santos)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Dependência emocional: Ou você quebra o padrão, ou o padrão te destrói.

Bricolage | Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 12/08/25

Existem ciclos na vida emocional que, se não forem observados com profundidade e coragem, tendem a se repetir como um eco silencioso da dor que ainda não foi curada.

A dependência emocional é um desses padrões — invisível aos olhos de quem sente, mas profundamente evidente nas escolhas que machucam, nas relações que aprisionam e na constante sensação de vazio, mesmo ao lado de alguém.

1 - O QUE É DEPENDÊNCIA EMOCIONAL?

Na psicologia, a dependência emocional é compreendida como um estado psicológico em que o indivíduo sente que não pode viver ou ser feliz sem a presença, aprovação ou afeto de outra pessoa. Não é o amor saudável, maduro e livre. É uma ligação baseada no medo: de ser rejeitado, de ficar sozinho, de não ser suficiente. Quem vive nesse padrão, muitas vezes, confunde intensidade com amor, controle com cuidado, e submissão com entrega.

Mas esse padrão não começa de forma consciente. Ele é, na maioria das vezes, aprendido. São memórias afetivas antigas que ainda ditam a forma como nos relacionamos hoje. São experiências de abandono, negligência emocional ou vínculos frágeis na infância que, se não forem olhados, continuam ditando nossa maneira de amar.

2 - POR QUE QUEBRAR O PADRÃO É TÃO DIFÍCIL?

O padrão nos dá a falsa sensação de segurança. Mesmo que doa, é o que conhecemos. Mesmo que nos machuque, é familiar. A dependência emocional nos prende em dinâmicas repetidas: escolhemos parceiros indisponíveis, aceitamos migalhas emocionais, nos anulamos em nome de um “amor” que nos consome. E, quando tentamos sair, o medo fala mais alto: medo de não encontrar outro amor, medo de não sermos amados por quem somos de verdade, medo do silêncio.

A quebra do padrão exige enfrentamento. Exige que a pessoa olhe para si mesma com verdade. Que reconheça as feridas, aceite as dores e entenda que não é no outro que mora a sua salvação, mas no encontro com sua própria integridade emocional.

3 - PSICOLOGICAMENTE, O QUE SUSTENTA A CURA?

Autoconhecimento, autonomia afetiva e ressignificação da história pessoal. A psicoterapia é um caminho eficaz nesse processo.

Ela permite que o indivíduo vá além do que repete — para entender o que sente, por que sente e o que precisa transformar. É no espaço terapêutico que se pode, aos poucos, desconstruir as crenças disfuncionais que alimentam a dependência, como “eu não mereço amor”, “sou fraco se estiver só” ou “preciso agradar para não ser deixado”.

Com o tempo, a pessoa aprende a se sustentar emocionalmente. Aprende a dizer “não”, a colocar limites, a entender que amar não é se perder, mas se encontrar no encontro com o outro. Aprende que a solidão não é um castigo, mas uma pausa necessária para reconstruir-se.

A escolha é sua: manter o ciclo ou quebrá-lo.

A frase “ou você quebra o padrão, ou o padrão te destrói” não é uma ameaça — é um chamado. É o reconhecimento de que a vida emocional pede mais do que sobrevivência: ela clama por consciência, por responsabilidade afetiva e por libertação.

Seguir repetindo padrões de dor não é destino, é falta de percepção. Quando você se percebe, você muda. Quando você se escolhe, você se liberta.

A verdadeira liberdade emocional nasce quando o amor-próprio deixa de ser um discurso bonito e se torna prática diária. E é nesse ponto que o padrão se rompe — não quando o outro muda, mas quando você decide, com coragem, não aceitar menos do que merece.

A dependência emocional é um convite à cura, não uma sentença. E curar-se é, muitas vezes, um ato de coragem solitária, mas profundamente transformador. Eu desejo que você possa reconhecer os seus padrões, acolher as suas feridas e, com amor e consciência, que você possa escolher um novo caminho.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/12/dependencia-emocional-ou-voce-quebra-o-padrao-ou-o-padrao-te-destroi/

Dia 7 de setembro: Papa anuncia nova data da canonização de Acutis e Frassati

Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis (Vatican News)

Em Consistório realizado nesta sexta-feira (13/06), o Papa Leão XIV anunciou que as canonizações de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati ocorrerão em 7 de setembro de 2025. O Santo Padre também definiu para 19 de outubro a canonização de outros sete beatos.

Vatican News

Domingo, 7 de setembro de 2025: o Papa Leão XIV anunciou a nova data da canonização de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira (13/06) durante a realização do Consistório Ordinário Público.

Inicialmente, a canonização de Acutis estava marcada para o dia 27 de abril, no Jubileu dos Adolescentes, e Frassati em 3 de agosto, no Jubileu dos Jovens. Com a morte do Papa Francisco, as datas foram alteradas.

Consistório realizado nesta sexta-feira (13/06)   (@Vatican Media)

O Escritório para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice comunicou ainda que o Santo Padre definiu a data da canonização dos beatos Ignatius Choukrallah Maloyan, arcebispo armênio católico de Mardin e mártir; Peter To Rot, leigo e catequista, mártir; Vincenza Maria Poloni, fundadora do Instituto das Irmãs da Misericórdia de Verona; María del Monte Carmelo Rendiles Martínez, fundadora da Congregação das Servas de Jesus; Maria Troncatti, religiosa das Filhas de Maria Auxiliadora; José Gregorio Hernández Cisneros, leigo; e Bartolo Longo, também leigo. Leão XIV decretou que esses beatos serão oficialmente inscritos no Álbum dos Santos no domingo, 19 de outubro de 2025.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

PAULO VI: Cartas de misericórdia (Parte 2/2)

Montini em um subúrbio de Roma na década de 1930 | 30Giorni.

Arquivo 30Dias n. 07/08 - 2001

6 de agosto de 1978 • Paulo VI morre em Castel Gandolfo

Cartas de misericórdia

A correspondência, iniciada em 1928, entre Giovanni Battista Montini, então jovem funcionário da Secretaria de Estado, e Dom Orione, sobre a ajuda a ser dada a alguns sacerdotes em dificuldade.

por Flávio Peloso

O padre foi acolhido na casa dos Filhos da Divina Providência em San Severino Marche.

Poucos dias depois, Monsenhor Montini imediatamente expressou sua gratidão a Dom Orione: "Agradeço-lhe a bondade demonstrada por aquele pobre homem, que espero que seja um bálsamo para sua alma, outrora enganada e agora amargurada. Sua Excelência Monsenhor Canali e o próprio Cardeal Merry del Val ficaram muito impressionados com a solução que lhes facilitou neste lamentável caso" (carta de 12 de janeiro de 1929).

Foi uma história com final feliz que compensou as muitas decepções e sacrifícios de Dom Orione neste trabalho que o ocupava cada vez mais, "desde que se espalhou entre os bispos a notícia de que estou assumindo a tarefa de endireitar suas pernas" ( Scritti 7, 304). E ele confidenciou: "Digo-vos que tenho alguns por toda a parte, reabilitados e ainda não reabilitados, já de batina e alguns ainda em traje civil: tenho alguns que são sacristãos, porteiros, impressores, enfermeiros, professores; tenho alguns que trabalham e outros que não querem saber de nada, e só pensam na cantina e em fugir de bicicleta, alguns que estudam e rezam e alguns que só falam de política e desporto; alguns têm azeite nas lâmpadas e alguns têm muito pouco, talvez alguns nunca o tenham tido, e creio que lhes faltava uma verdadeira vocação" ( Escritos 84, 9).

Uma colaboração contínua

Entre o jovem Montini, redator da Secretaria de Estado, e Dom Orione estabeleceu-se uma colaboração contínua para ajudar os padres em dificuldade. Quando Dom Montini soube desses casos, soube que podia recorrer a Dom Orione: "Por favor, em vossa bondade, olhai também para esta miséria e dizei-me se Nossa Senhora não vos sugeriu um meio de trazer algum socorro". Do restante da carta, fica claro que Monsenhor Montini não estava "transferindo o problema" para Dom Orione, como se fosse um assunto oficial qualquer, mas estava oferecendo-lhe seu envolvimento pessoal: "Se acredita que algo pode e deve ser feito da minha parte a esse respeito (na verdade, não sei do que minha própria inadequação é capaz, especialmente neste campo), por favor, me avise."

Dom Orione deve ter apreciado muito o compromisso do jovem monsenhor, pois em outra ocasião expressou sua raiva dizendo: "Eu poderia ter feito mais e, com a ajuda divina, faria muito mais por essas pessoas e por outras, mas, digo isso com tristeza, não fui ajudado! Com exceção do Santo Padre e, para alguns, do Santo Ofício em geral, os outros, depois de se libertarem deles e os lançarem em meus braços, não se lembram mais deles: que fique com você!" ( Escritos 84, 9).

Mais evidências do compromisso contínuo de Monsenhor Montini com esse campo oculto da caridade sacerdotal podem ser encontradas em uma carta datada de 2 de agosto de 1929, na qual ele confidencia a Dom Orione: "Monsenhor Canali me enviou novamente casos semelhantes, implorando-me que encontrasse algum remédio ou, pelo menos, que oferecesse algum conforto."

Depois de algum tempo, graças ao conhecimento adquirido e à franqueza de sua caridade, Monsenhor Montini ousa e propõe ao fundador da Pequena Obra da Divina Providência: "Adquiri considerável experiência da necessidade de se estabelecer uma organização de caridade para esses infelizes, a quem ninguém mais estenderá a mão... Oh, se o Senhor o inspirasse a fundar esta organização também, Dom Orione, como eu também o abençoaria!"

De fato, na década de 1930, Dom Orione estabeleceu um ambiente privado para a assistência desses padres, capaz de promover sua recuperação humana e espiritual. "Para reunir os padres que morreram durante a guerra e que gradualmente retornaram arrependidos", escreveu ele a um clérigo que lhe pediu ajuda em favor de um padre, "a Divina Providência me permitiu comprar uma casa adequada em Varallo Sesia, e também lá cerca de 200.000 liras, e dei um passo que agora sinto que foi longo demais" (carta de 25 de novembro de 1932).

Paulo VI visita duas instituições orionitas em Roma; aqui ele está com um menino deficiente do centro "Dom Orione" em Monte Mário | 30Giorni.

Na colaboração entre Monsenhor Montini e Dom Orione, o bálsamo da caridade, combinado com ações judiciais, levou à redenção de vários padres "caídos". Isso também é mencionado em uma carta datada de 11 de setembro de 1929: "Venerável Dom Orione, o excelentíssimo Dr. Costa, de Gênova, trouxe-me suas saudações, com grande prazer, sabendo que se lembra de mim e, espero, na memória da oração e da caridade. Agradeço-lhe sinceramente. Há algum tempo, escrevi-lhe sobre a reabilitação de um padre: recebeu a carta? Poderia, por favor, enviar-me uma resposta? Em Domino . Devotado Padre GB Montini."

A preocupação com os padres em dificuldade, por mais generosa e sábia que fosse, nem sempre alcançava os resultados positivos desejados. Como no caso de Dom Raffaele ***. Monsenhor Montini escreveu a Dom Orione em novembro de 1929: "Venerável Dom Orione, há meses tomei a liberdade de relatar-lhe o lamentável caso de um padre apóstata que precisava ser salvo, e na carta incluí um lembrete com os detalhes precisos. [...] Gostaria que o senhor pudesse, com a ajuda de Deus , ajudar o pobre homem!". Então, porém, Monsenhor Montini teve que concluir: "Se não for possível fazer algo por ele, gostaria de ter de volta os lembretes que acompanhavam a carta. Em setembro, passei alguns dias com Franco Costa, e juntos falamos sobre o senhor: gostaria de se lembrar de nós dois em suas orações caridosas?".

A correspondência autografada de Monsenhor Montini preservada nos Arquivos "Dom Orione" diminuiu durante a estadia de Dom Orione na América Latina (1934-1937) e cessou com sua morte (1940). O último documento do coração sensível e amigo de Monsenhor Montini para com Dom Orione data de 26 de outubro de 1939. Ele sabia que o "pai dos pobres" estava preocupado com seus filhos na Polônia, dos quais não tinha notícias desde a devastadora invasão das tropas hitleristas, iniciada em 1º de setembro. Ele o tranquilizou: "Apresso-me em informá-lo de que, segundo as notícias mais recentes que recebi, todas as pessoas acolhidas nas instituições da Congregação dos Filhos da Divina Providência na Polônia estão bem. Recebi também uma carta endereçada a você por um de seus filhos; peço-lhe que a envie junto com ela, e peço-lhe que não publique, nem mesmo nos boletins da Congregação, nenhuma informação contida na mesma carta."

Uma amizade verdadeiramente singular unia os dois "bons samaritanos" de padres em dificuldade. Ao recordar este período, quarenta anos depois, Paulo VI ainda reviverá o seu encanto (audiência de 31 de maio de 1972): «Vi-o mais de uma vez quando me veio visitar na Secretaria de Estado, e nunca teria terminado de falar com ele, porque sentia nele uma alma especial, um espírito singular, um santo e esperamos um dia poder proclamá-lo como tal a partir desta basílica."

Fonte: https://www.30giorni.it/

CATEQUESE: Conheça as dimensões da espiritualidade que o catequista deve cultivar a cada dia

Foto: Juliene Barros

Conheça as dimensões da espiritualidade que o catequista deve cultivar a cada dia

  • por Ir. Renata S. Soares Pereira, fsp

Para realizar a missão de fazer ecoar a Boa Nova, o catequista é convidado a cultivar diariamente as seguintes dimensões cristãs que se encontram no livro” Espiritualidade e missão do catequista”, do autor, Padre Vicente Frisullo (1):

• Dimensão cristocêntrica: consiste em seguir a Jesus Cristo, buscá-lo no encontro pessoal através da oração, da leitura da Palavra de Deus no cotidiano, na comunhão, no encontro com irmãos, até que Cristo se forme no catequista. 

• Dimensão trinitária: Cristo é o caminho. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Cf. Jo 14, 6). Mas a meta é a Trindade, pela qual fomos mergulhados no dia do batismo. Ela é a fonte do amor inesgotável que leva ao compromisso de viver e construir unidade e comunhão, na família, na sociedade e na Igreja.

• Dimensão litúrgica sacramental: Após a Ressurreição de Jesus Cristo, agora só o encontramos, através de sinais, de forma sacramental.  Por isso, é vital para o catequista crescer na intimidade com Jesus Cristo Eucarístico, cultivar a vida de comunhão com Ele através da Eucaristia, “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu nele”(Cf. Jo 6, 56). A Eucaristia é o mistério e o centro da vida cristã. Nela, o catequista se configura a Cristo Orante, que o ensina a orar, e, sobretudo, em comunidade ir ao encontro do Senhor Jesus Cristo.   

Foto: Juliene Barros

• Dimensão bíblica: a fé do catequista nasce da Palavra. Foi São Paulo que afirmou: “Certamente a fé vem do anúncio, e o anúncio por intermédio da Palavra de Cristo”(Cf. Rm 10,17).  Portanto, a missão do catequista é ser um servidor da Palavra. A iniciação à vida cristã exige conhecimento da Palavra de Deus, para despertar nos catequizandos o sabor pela Palavra de Deus que é alma da catequese. “Toda Escritura é inspirada por Deus, é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra” (Cf. 2Tm 3, 16-17). Por isso, é tão importante que o catequista busque aprofundamento na Sagrada Escritura.  

• Dimensão eclesial: Através do Batismo o catequista faz parte da família de Deus, está inserido, vive da e na Igreja, porque ele prepara novos membros para ela. O catequista fala da Igreja com paixão de quem tem a missão de introduzir novos membros através da iniciação à vida cristã. Dentro da comunidade eclesial que o catequista é chamado à missão de viver uma forte e atraente experiência eclesial. 

Dimensão mariana: apesar da discrição de Maria nos Evangelhos, é compreensível porque Jesus é o centro, único mediador entre Deus e nós. Porém, Maria é citada 125 versículos, isto é suficiente para compreender o lugar que ela ocupa na história da salvação. Para o evangelista João, Jesus antes de morrer entrega sua mãe à Igreja e a Igreja à sua mãe, porque ela é mãe da nova humanidade em Cristo.

Maria é modelo para o catequista de como se aproximar da Palavra de Deus. Como o Papa Francisco afirmou: “ Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto” (EG 288).

Foto: Cathopic

• Dimensão solidária: a fé não é mero sentimento. É ação. No livro do Êxodo, Deus disse: “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-los”(Cf. Ex 3,7).

O amor de Deus para com seu povo se traduz em ação concreta. Deus intervém e envia seu Filho Jesus que veio para servir e dar vida plena para todos. Jesus toma para si, a missão do servo sofredor que carrega sobre si o sofrimento do povo.

O amor compaixão de Jesus para com os pobres e sofredores é tão grande, que ele chega a se identificar com eles: “Venham a mim benditos de meu Pai...pois estava com fome.. estava com sede e me deste de beber...(Cf. Mt 25,34-40).1 

Portanto, nesse sentido, as dimensões da espiritualidade cristã servirão de bússola para o catequista se orientar, aprofundar cada vez mais, e se conscientizar da linda missão de  discípulo e missionário, de ser mistagogo, ou seja, de iniciar, conduzir os irmãos ao mistério de Cristo, orientando-os para Deus, sendo intérprete da alegria do Evangelho. É o que o mundo espera de nós, catequista.

Irmã Renata S. Soares Pereira é irmã paulina, filósofa e pós-graduada em Catequese no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal). Missionária na Livraria Paulinas do Rio de Janeiro (RJ).

 1FRISSULLO, Vicente. Espiritualidade e missão do Catequista: a partir do documento da CNBB n.107. São Paulo: Paulinas. 2017.p.40-51

Fonte: https://universo.paulinas.com.br/

A pedido de Leão XIV, dom Orani permanece mais 2 anos à frente da Arquidiocese do Rio

Cardeal Orani Tempesta com Papa Leão XIV Cardeal Orani Tempesta com Papa Leão XIV (Vatican Media)

O Papa manifestou reconhecimento e gratidão pelo serviço prestado por Dom Orani ao longo destes anos e pediu que continue conduzindo o Povo de Deus com serenidade, generosidade e zelo pastoral.

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro informa que, no dia 7 de agosto de 2025, o Santo Padre, Papa Leão XIV, acolheu a renúncia apresentada por seu arcebispo metropolitano, cardeal Orani João Tempesta, O.Cist., ao governo pastoral desta Igreja Particular, conforme as normas do Direito Canônico, utilizando a fórmula “nunc pro tunc”.

Ao mesmo tempo, o Santo Padre determinou que o cardeal permaneça à frente da Arquidiocese por mais dois anos, até a nomeação de seu sucessor.

O Papa manifestou reconhecimento e gratidão pelo serviço prestado por dom Orani ao longo destes anos e pediu que continue conduzindo o Povo de Deus com serenidade, generosidade e zelo pastoral.

O cardeal acolheu a decisão com espírito de comunhão e renovado compromisso, convidando todo o clero, religiosos, religiosas e fiéis leigos a se unirem em oração e renovado ardor missionário, especialmente neste tempo de júbilo em que a Arquidiocese celebra seu jubileu de 450 anos.

*Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

PAULO VI: Cartas de misericórdia (Parte 1/2)

Giovanni Battista Montini durante seus anos na Secretaria de Estado. Ao fundo, uma de suas cartas dirigidas a Dom Orione pedindo assistência aos padres falecidos | 30Giorni.

Arquivo 30Dias n. 07/08 - 2001

6 de agosto de 1978 • Paulo VI morre em Castel Gandolfo

Cartas de misericórdia

A correspondência, iniciada em 1928, entre Giovanni Battista Montini, então jovem funcionário da Secretaria de Estado, e Dom Orione, sobre a ajuda a ser dada a alguns sacerdotes em dificuldade.

por Flávio Peloso

Aos que ostentavam as dolorosas estatísticas das crescentes deserções sacerdotais em todo o mundo, o Cardeal Ottaviani respondeu observando que, mesmo entre os apóstolos de Jesus, um em cada doze fracassava. E também para Ottaviani, se a primeira reação a um padre que "caía" era de indignação, a misericórdia imediatamente se impunha, virtude que só quem entrou nas coisas de Deus pode compreender e viver. Virtude própria daqueles que experimentam e creem na graça vitoriosa de Deus. A misericórdia, aliás, brilhara por meio de exemplos repletos de santa concretude na ajuda, redenção e orientação de padres em dificuldade, então chamados de "lapsi". Desde as primeiras décadas do século XX, figuras ilustres e santas se movimentaram discretamente nessa obra dos "Bons Samaritanos": Dom Luís Orione, que havia estabelecido uma rede de solidariedade, São João Calábria, e o Servo de Deus, Padre Mário Venturini, que se interessou concretamente pelos padres que haviam se afastado de sua vocação. A um bispo que lhe confiou um padre pobre, rejeitado por todos, Dom Orione respondeu: " Não recuso laborem , mas agora já tenho mais de cinquenta irmãos nossos que se afastaram de uma forma ou de outra. O Santo Padre me encorajou neste trabalho e me deu conselhos cheios de iluminada sabedoria, e assim, cardeais e bispos, e com a ajuda divina, muitos se reabilitaram, e têm razão."

Entre as congregações fundadas por Dom Orione, Dom Calabria e Padre Venturini, uma espécie de pacto de solidariedade foi estabelecido na década de 1950 para melhor auxiliar esses padres em dificuldade. "Sem dúvida, este tipo de trabalho é muito necessário, e é bom que o Senhor inspire muitos a empreendê-lo", escreve Padre Venturini. "Desde os primeiros anos do meu sacerdócio", escreve o Padre Calabria, "procurei aproximar-me destes nossos pobres irmãos, ajudando-os a regressar ao dulcíssimo coração de Jesus. Esta obra é, sem dúvida, muito querida a Jesus, mas, ao mesmo tempo, é igualmente delicada e complexa."

Nos documentos do Arquivo Geral "Dom Orione", encontra-se uma copiosa e comovente correspondência mantida pelo Beato Orione sobre a questão e a "gestão" destes delicados casos sacerdotais (ver Mensagens de Dom Orione 3/2001). Há também uma longa e inédita troca de cartas entre Dom Orione e Monsenhor Giovanni Battista Montini, o futuro Paulo VI.

O renomado fundador e o jovem monsenhor

O jovem e promissor Dom Giovanni Battista Montini ingressou na Secretaria de Estado em 1923. Após um breve período na Nunciatura de Varsóvia, em 1925 foi nomeado assistente eclesiástico nacional da FUCI. Uma correspondência manuscrita de Dom Montini, descoberta no Arquivo "Dom Orione", em Roma, data desse período. Consiste em uma dúzia de cartas endereçadas ao Beato Dom Luigi Orione (1872-1940), com início em 1928. Quase todas elas tratam da assistência e orientação de padres "falecidos".

Dom Orione, naqueles anos, já era conhecido por ser um "Bom Samaritano" — Buonaiuti lhe deu esse epíteto — por muitos padres que passavam por crises de pensamento durante os anos do modernismo, ou de fidelidade sacerdotal, ou enfrentavam outros problemas da vida.

Dom Luís Orione | 30Giorni.

A primeira carta de Monsenhor Montini a Dom Orione, datada de 27 de dezembro de 1928, trata da assistência a um padre necessitado. "Peço-lhe, pela misericórdia de Nosso Senhor, que faça com que o ex-padre *** seja acolhido em uma de suas casas em Roma. Ele havia deixado o hábito e a vida sacerdotal após dezesseis anos de bom ministério paroquial."

Monsenhor Montini já havia conhecido Dom Orione em um encontro dos Amigos do Pequeno Cottolengo, em Gênova, em 18 de março de 1927. Ficou cativado. "Ele falava com uma franqueza tão simples", recordou mais tarde, "tão despojada, mas tão sincera, tão afetuosa, tão espiritual, que tocou meu coração também, e fiquei impressionado com a transparência espiritual que emanava daquele homem simples e humilde." Monsenhor Montini alude a esse mesmo encontro em seu discurso a Dom Orione em seu novo cargo: "Não sei se o senhor se lembra de mim: conheci-o em Gênova, quando realizou uma reunião para o seu trabalho há quase dois anos: eu estava com Franco Costa [mais tarde bispo, assistente geral da Ação Católica]. Mas certamente me lembro da sua gentileza, e é isso que me dá a esperança de não ter recorrido em vão a um amigo dos pobres como o senhor."

Além desse motivo para compartilhar seus sentimentos, sua iniciativa é movida simplesmente pela caridade sacerdotal: "Não tenho responsabilidade, nem qualquer autoridade, exceto a de alguém que reza por um irmão que encontrei por acaso. Ele ainda é muito jovem, tem boa ética de trabalho e parece disposto a fazer qualquer coisa para escapar da situação terrível em que se encontra há vários dias: ele estava em uma instituição que, cansada de tê-lo sob seus cuidados, apesar das orações de Monsenhor Canali e do vicariato, o expulsou. Agora ele está em um hotel, tentado pela pobreza e pelo abandono, com pensamentos desesperados."

Dom Orione comunicou imediatamente, no dia 29 de dezembro, a Dom Montini sua disposição de atender seu pedido, pedindo apenas maiores informações e garantias quanto ao sacerdote que precisava ajudar.

"Venerabilíssimo Dom Orione, Monsenhor Canali agradece a caridade que demonstra para com o Sr. ***", escreveu novamente Monsenhor Montini em 4 de janeiro de 1929. "Creio poder assegurar-lhe, de consciência tranquila, as condições que impôs para a sua aceitação; isto é, o correto comportamento do Sr. ***, a sua vontade de voltar a trabalhar bem pela causa do Senhor e a sua disposição de manter em segredo a sua condição de padre até que seja (se possível) reabilitado. Não tenho conhecimento de que ele tenha estado nas Marcas: ele concorda em ir para lá, embora preferisse permanecer em Roma para poder levar o seu caso adiante junto do Santo Ofício; mas, confiante de que, se necessário, o senhor também poderá ajudá-lo nesta boa advocacia, ele partirá de bom grado assim que o senhor lhe der instruções precisas. Não posso expressar o bem que a sua carta me fez também: a exasperação deste pobre homem e a impossibilidade de o tirar da sua situação difícil deixaram-me muito triste. Esperemos que o seu trabalho seja o primeiro a se beneficiar disso." bons benefícios deste trabalho de caridade. […] Ele é alguém que precisa ser tratado com força e amor e posto para trabalhar duro, assim ele deseja."

Fonte: https://www.30giorni.it/

O que o novo presidente da Polônia significa para o país e para a Europa cristã

Karol Nawrocki. | Imagem principal, domínio público/ fundo da bandeira: via Unsplash

Por Solène Tadié*

7 de ago. de 2025

A posse do presidente Karol Nawrocki ontem na Polônia encontra o país em uma encruzilhada.

Católico praticante e conservador, filiado ao partido Lei e Justiça (PiS, na sigla em polonês), Nawrocki foi eleito em um segundo turno acirrado no início de junho. Embora a presidência polonesa seja em grande parte simbólica, o cargo pode se tornar especialmente importante em momentos de polarização.

A eleição de Nawrocki ocorreu depois de meses de crescentes tensões culturais e políticas sob a administração liberal do primeiro-ministro Donald Tusk, no poder desde dezembro de 2023, e sinaliza não só uma potencial recalibração do poder, mas também uma disputa renovada sobre a identidade política, moral e espiritual da Polônia.

As duas rodadas de votação ocorreram em 18 de maio e 1º de junho e Nawrocki venceu por uma margem apertada, com 50,89% dos votos, contra seu oponente liberal Rafał Trzaskowski, que obteve 49,11%.

A Polônia tem um sistema parlamentarista no qual o poder executivo é exercido principalmente pelo primeiro-ministro e pelo Conselho de Ministros. O presidente, embora detenha poderes executivos limitados, mantém importantes prerrogativas constitucionais, como o direito de vetar leis, nomear altos funcionários e influenciar a política externa e de segurança.

Um eleitorado dividido

A ascensão de Nawrocki ao poder levanta a questão de qual papel uma presidência que reivindica uma identidade cristã e conservadora pode desempenhar num país caracterizado tanto por intensa polarização política quanto por um cenário religioso em mudança.

Embora a Polônia continue sendo um dos países mais católicos da Europa, a secularização se intensificou fortemente nos últimos anos, particularmente depois da crise da covid-19. Essa mudança, porém, não é uniforme nem definitiva. Assim, o resultado dessa presidência não reflete apenas tensões internas, mas repercute em debates europeus mais amplos em torno do futuro da fé, das identidades nacionais e da perenidade dos valores tradicionais numa sociedade em rápida evolução.

Segundo Grzegorz Górny, importante jornalista católico, a presidência de Nawrocki pode marcar um ponto de inflexão importante.

“O direito de veto pode, na verdade, ser uma ferramenta poderosa”, disse ele à EWTN. Para anular veto presidencial, a coalizão que apoia o primeiro-ministro precisaria de uma maioria de três quintos (60%) no Sejm (o parlamento polonês), o que atualmente ela não tem.

O jornalista enfatizou que o governo de Tusk planejava apresentar um projeto de lei para legalizar o aborto no ano passado e sinalizou novas leis visando a Igreja, como uma decisão de reduzir pela metade o número de horas alocadas para aulas de catequese católica em escolas públicas, parte de um esforço mais amplo para reformular o papel do cristianismo na vida pública polonesa.

“O governo planejou implementar rapidamente uma revolução cultural e moral — a vitória de Karol Nawrocki frustrou esses planos”, disse Górny.

Mais confrontador que Duda

Marek Matraszek, consultor político experiente e familiarizado com assuntos públicos poloneses e europeus, acredita que Nawrocki pode ter um impacto político maior do que seu antecessor Andrzej Duda — não por causa do poder institucional, mas devido ao temperamento e posicionamento político.

"Duda era visto como cauteloso e conciliador; Nawrocki é mais direto, mais combativo", disse ele à EWTN. Para Matraszek, o tom incomumente pessoal de sua rivalidade com Tusk, moldado por ataques acirrados na campanha, sugere um estilo político mais confrontador. Nawrocki, ex-boxeador amador, pode de fato trazer uma posição mais firme à presidência.

Segundo Matraszek, ele também poderia tentar internacionalizar questões como o Estado de Direito e a liberdade de imprensa, usando sua plataforma para desafiar a trajetória do governo tanto na Europa quanto no exterior.

A assertividade de Nawrocki surge num momento em que Tusk enfrenta crescente pressão política. Desde a eleição, Tusk tem sido colocado em dúvida não só pela oposição, mas também por sua própria base política, por não ter concretizado as reformas sociais prometidas. Uma pesquisa feita poucos dias antes da posse de Nawrocki mostrou que cerca de metade dos poloneses acredita que Tusk deveria renunciar.

Em 11 de julho, o primeiro-ministro pediu um voto de confiança no Sejm, dizendo que seu governo estava enfrentando “desafios maiores” depois do resultado presidencial.

Mudanças nas divisões e desafios para a Igreja

Além da dinâmica jurídica e institucional, a batalha em curso também é de natureza cultural e geracional. Górny destacou um acontecimento inesperado: o apoio a Nawrocki entre eleitores jovens.

“Foi uma grande surpresa”, disse ele, “que a maioria dos jovens apoiasse candidatos de direita. Trzaskowski só recebeu 12% dos votos no primeiro turno”.

Nesse contexto, Matraszek disse que a sociedade polonesa não está mais nitidamente dividida em linhas ideológicas tradicionais e que duas polarizações sobrepostas estão emergindo. Uma permanece horizontal — entre visões de mundo liberais e conservadoras. A outra, que ele chama de "polarização vertical", opõe o establishment político às crescentes forças antielite. Esse eixo atravessa as linhas partidárias e tem críticas à Igreja institucional, cada vez mais vista por alguns como parte da ordem estabelecida.

Ambos os analistas reconhecem que a Igreja também está enfrentando desafios crescentes.

Górny observou uma tendência dupla entre os jovens: enquanto alguns se afastam sob a influência da cultura consumista, outros gravitam em direção a um novo conservadorismo não-confessional.

“Até recentemente, o catolicismo estava no cerne da identidade conservadora”, disse ele. “Agora, vemos a ascensão de uma direita secular focada em patriotismo, história e segurança nacional, mas distante da Igreja”.

Górny destacou, em particular, a ascensão do Partido Confederação — um movimento secular, patriótico e antissistema — entre eleitores mais jovens.

Matraszek confirmou essa mudança e falou também sobre uma nuance: “A frequência à igreja está diminuindo, mas olhando mais de perto, especialmente entre os jovens de 18 a 29 anos de idade, já há um pequeno, mas notável, renascimento da identidade cristã — particularmente entre os jovens. Não se trata só de religião institucional, mas de uma redescoberta da cultura e do significado cristãos”.

A questão do aborto não parece ter tido um impacto significativo no resultado da eleição, ao contrário do que muitos observadores esperavam. Embora a mídia ocidental frequentemente aponte o aborto como uma divisão central na política polonesa, tanto Górny quanto Matraszek minimizaram sua importância desta vez.

“O tema esteve praticamente ausente”, disse Górny. “Até os três principais candidatos de direita expressaram sua oposição ao aborto em casos de estupro, e isso quase não gerou polêmica”.

Matraszek falou sobre o porquê: “Nawrocki foi cauteloso em não fazer do aborto uma questão central da campanha, sabendo que isso poderia mobilizar a esquerda. Ele prometeu vetar qualquer liberalização, mas evitou desencadear reações emocionais negativas”.

Implicações continentais

Então, o que representa a presidência de Nawrocki? Para Górny, é uma espécie de baluarte contra a arrogância ideológica e um sinal de que a alma cristã da Polônia está longe de se extinguir. Para Matraszek, é também um momento de acerto de contas: uma oportunidade de reconectar os valores católicos com uma geração mais jovem desiludida tanto pelo progressismo agressivo quanto pela rigidez institucional.

Nos próximos anos, a capacidade de Nawrocki de moldar o debate na Polônia — por meio de autoridade moral, vetos estratégicos e potencial alcance internacional — será observada de perto.

Em jogo está mais do que o equilíbrio do poder interno. A Polônia está na vanguarda dos debates europeus mais amplos sobre identidade política e continuidade espiritual. Suas disputas culturais e mudanças geracionais em curso — marcadas tanto pela secularização quanto por sinais de renovação — oferecem um estudo de caso revelador das tensões que moldam muitas sociedades ocidentais.

Com a posse de Nawrocki como presidente, a direção futura do país poderá continuar a repercutir muito além de suas fronteiras.

*Solène Tadié é correspondente europeia do National Catholic Register. Ela é franco-suíça e cresceu em Paris (França). Depois de se formar em jornalismo pela Universidade Roma III, ela começou a fazer matérias sobre Roma e o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em 2015, onde trabalhou sucessivamente na seção francesa e nas páginas culturais do jornal italiano. Ela também colaborou com várias organizações de mídia católicas de língua francesa. Solène é bacharel em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63983/o-que-o-novo-presidente-da-polonia-significa-para-o-pais-e-para-a-europa-crista

Pais: lúcidos, amorosos e testemunhas de esperança

A influência do comportamento dos pais na vida dos filhos (Canção Nova)

PAIS: LÚCIDOS, AMOROSOS E TESTEMUNHAS DE ESPERANÇA

06/08/2025

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

Festejar o Dia dos Pais é reavivar sempre no seio da Igreja e da comunidade familiar uma vocação e missão sublime e transcendente pela sua relevância humana e cristã. Exige não só valorizar e reconhecer a sua presença e função mas ajudar a descobrir e aprofundar a lucidez e a visão desta missão insubstituível.  

Lucidez que implica responsabilidade e comprometimento em acompanhar e fazer acontecer o desenvolvimento integral e harmonioso dos filhos, bem como despertar os valores e virtudes que possibilitarão tal crescimento.  

Não significa só escolher uma escola, supervisionar o plano de estudos e a formação intelectual como um todo, mas investir na educação dos sentimentos, valores e atitudes, e tudo aquilo que faz emergir um bom coração, uma pessoa que anseia servir e amar, um ser humano inteiro, que será um bom cristão e um cidadão irrepreensível como afirma São Paulo.  

Não será como se pretendia erroneamente num passado não muito longínquo um iniciador sexual dos filhos, mas quem apresentará por experiência própria, o respeito, reconhecimento, complementariedade, empatia para com as nossas irmãs mulheres.  

Claro que como dizia José Mujica, neste momento crítico que estamos vivendo, ensinará como faziam nossos avós a ter vergonha na cara, a ser sempre honesto e sincero custe o que custar e a tratar bem e de forma igualitária a todas as pessoas não discriminando a ninguém.  

Desta forma testemunhará pela maneira de ser, a esperança, descortinando ideais e sonhos que inspirarão a seus filhos a serem melhores, mais justos e fraternos, construtores atuantes de uma sociedade mais equitativa, inclusiva, pacífica e harmoniosa, onde caibam todos/as.  

Alguns podem dizer que tudo isto é utópico ou irreal, mas esquecem o valor da graça e das promessas feitas por Deus aos pais, e que o caminho do bem e do amor é sempre o mais belo e frutuoso e o que nos levará ao céu. Deus seja louvado! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF