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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Das Instruções de São Columbano, abade

Crédito: Liturgia das Horas Online

Das Instruções de São Columbano, abade

(Instr. Decompunctione,12,2-3: Opera, Dublin 1957, pp. 112-114)     (Séc.VI)

Luz perene no templo do Pontífice eterno  

Que felizes, que ditosos aqueles servos que o Senhor ao voltar encontrar vigilantes! (Lc 12,37). Preciosa vigília pela qual se mantém alerta para Deus, criador do universo, que tudo penetra e tudo supera!

Oxalá também a mim, embora vil, mas, seu mínimo servo, se digne de tal forma sacudir-me do sono da inércia, acender o fogo da caridade divina. Que a chama de seu amor, o desejo de união com ele cintilem mais que os astros e sempre arda dentro de mim o fogo divino!

Quem me dera serem tais os méritos, que minha lâmpada estivesse sempre acesa, à noite, no templo de meu Senhor, para iluminar todos os que entram na casa de meu Deus! Senhor, concede-me, eu te rogo, em nome de Jesus Cristo, teu Filho e meu Deus, aquela caridade que não conhece ocaso, a fim de que minha lâmpada possa acender-se e jamais se apague. Arda para mim, ilumine os outros.

Que tu, Cristo, dulcíssimo Salvador nosso, te dignes acender nossas lâmpadas, de modo a refulgirem para sempre em teu templo, receberem perene luz de ti, que és a luz perene, para iluminar nossas trevas e afugentar de nós as trevas no mundo. Entrega, rogo-te, meu Jesus, Pontífice das realidades eternas, tua luz à minha candeia, para que por esta luz se manifeste a mim o santo dos santos que te possui, ali entrando pelos umbrais de teu templo magnífico, e onde somente e sem cessar eu te veja, te contemple, te deseje. Esteja eu apenas diante de ti, amando-te, e em face de ti minha lâmpada sempre resplenda, se abrase.

Suplico tenhas a condescendência de te mostrares, amado Salvador, a nós que batemos à tua porta para que, conhecendo-te, só a ti amemos, só a ti desejemos, só em ti meditemos dia e noite, sempre pensemos em ti. Inspira em nós tanto amor por ti quanto é justo que sejas, ó Deus, amado e querido. Teu amor invada todo o nosso íntimo, teu amor nos possua por inteiro, tua caridade penetre em nossos sentidos todos. Deste modo, não saibamos amar coisa alguma fora de ti, que és eterno. Uma caridade tamanha que nem as muitas águas do céu, da terra e do mar jamais a possam extinguir em nós, conforme a palavra: E as muitas águas não puderam extinguir o amor (Ct 8,7).

Que tudo se realize em nós, ao menos em parte, por teu dom, Senhor nosso, Jesus Cristo, a quem a glória pelos séculos. Amém.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

8 passos para que as famílias vivam voltadas para o amor

AYO Production | Shutterstock

Mar Dorrio - publicado em 10/10/25

Dom José Ignacio Munilla, bispo de Orihuela-Alicante, inspirando-se no caminho da “pequena via” de Santa Teresinha do Menino Jesus, ofereceu um roteiro espiritual para as famílias cristãs.

Em Guadarrama, na serra de Madri, reuniu-se o movimento Famílias pelo Reino de Cristo. Um dos momentos mais esperados foi a intervenção de Dom Munilla, que encorajou os presentes a se consagrarem ao amor, seguindo o caminho da pequena via de Santa Teresinha. Inspirado no livro Caminho de santidade, ele apresentou oito chaves, simples e exigentes ao mesmo tempo, que desenham uma verdadeira rota para quem deseja viver de frente para Deus.

Passos para viver voltados para o amor

1 - AMAR A DEUS É AMAR A SUA VONTADE

PeopleImages.com - Yuri A | Shutterstock

O bispo recordou que o amor verdadeiro não se mede em palavras, mas em obediência. Uma mãe pode repetir ao filho “eu te amo muito”, mas, se nunca atende ao que ele precisa, esse amor fica vazio. Deus não nos pede emoções passageiras, mas entrega real. “Temos que sonhar em ser aquele brinquedo inútil nas mãos do Senhor”, sublinhou.

2 - PARA FAZER A SUA VONTADE, É PRECISO OLHAR PARA ELE

A vida cristã não se improvisa: ou seguimos de perto os passos de Jesus, ou corremos o risco de nos perder.

3 - APRENDER A ENTREGAR TUDO, ATÉ MESMO A PRÓPRIA MISÉRIA

Amar é doar-se sem reservas e com alegria. Mas também com realismo: nosso coração, comparou Munilla, é como um chiclete que se apega a tudo, até às coisas boas. Por isso, não podemos nos deter nos instrumentos — nem mesmo nos mais santos —, mas entregar o coração somente ao Senhor.

4 - A ABNEGAÇÃO COMO CAMINHO DE LIBERTAÇÃO

“Nosso grande rival somos nós mesmos”, afirmou o bispo. A felicidade é uma subida íngreme, enquanto a infidelidade é uma descida fácil. Cada mortificação — governar os olhos, a boca, os impulsos — é um presente que se transforma em carícia a Deus e vai educando o paladar espiritual: quanto mais se saboreia o Senhor, menos atraem as coisas da terra.

5 - SUPERAR O MEDO QUE NASCE DA DESCONFIANÇA

A dúvida e o medo ofendem, porque fecham o coração à graça. “Cada ato de confiança é uma carícia ao Senhor; vencer os medos é beijar a mão que nos golpeia”, lembrou, citando Padre Pio.

6 - POBREZA ESPIRITUAL UNIDA À ESPERANÇA

Não se trata de puro voluntarismo, mas de deixar que seja Cristo quem impulsiona nossas ações.

7 - RECONHECER A BELEZA DA VIDA ESCONDIDA EM CRISTO

Web | Aleteia

“A verdadeira sabedoria é querer ser esquecidos”, explicou Munilla evocando Santa Teresinha, convencida de que a vaidade é como um vidro manchado que impede a passagem da luz.

8 - PURIFICAÇÃO E CONSAGRAÇÃO AO AMOR

“Ocupa-te do meu amor”, diz o Senhor, porque não há órfão mais necessitado do que Ele. Não basta uma amabilidade formal, mas sim um amor real que tudo penetra.

O encontro terminou com a certeza de que a missão começa no oculto, no ordinário. Como destacou o bispo, vivemos tempos em que muitas barreiras ideológicas já caíram, mas ainda permanece a verdadeira revolução pendente: a conversão do coração.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/10/8-passos-para-que-as-familias-vivam-voltadas-para-o-amor/

Capela do milagre da beatificação de São Carlo Acutis é elevada a santuário

Dom Dimas fazendo uma oração diante das imagens de Nossa Senhora Aparecida e São Carlo Acutis na elevação do novo santuário de Campo Grande | Instagram/Paróquia São Sebastião

Por Monasa Narjara*

13 de out de 2025 às 16:28

A capela Nossa Senhora Aparecida e São Carlo Acutis em Campo Grande (MS), conhecida como capela do milagre da beatificação de Carlo Acutis, foi elevada a santuário ontem (12) pelo arcebispo de Campo Grande, dom Dimas Lara Barbosa. É o primeiro santuário do mundo dedicado a São Carlo Acutis.

Capela Nossa Senhora Aparecida e São Carlo Acutis (G1 - Globo)

“Este santuário terá como finalidade principal fomentar a piedade mariana, a devoção à São Carlo Acutis, o amor à Sagrada Eucaristia e acolhida aos peregrinos, especialmente aos jovens”, escreveu dom Dimas em seu decreto.

Capela Nossa Senhora Aparecida e São Carlo Acutis (G1 - Globo)

São Carlo Acutis foi canonizado em 7 de setembro, pelo papa Leão XIV, em uma missa na praça de São Pedro, no Vaticano. Ele é o primeiro santo millennial, a geração dos nascidos do início de 1980 e meados de 1990. Acutis é conhecido como "ciberapóstolo da Eucaristia", "apóstolo dos millennials" e, mais recentemente, "apóstolo da Internet", porque foi um divulgador de milagres eucarísticos por meio da internet, tendo criado um site com essa finalidade. O jovem dizia que a Eucaristia era sua autoestrada para o céu. Ele nasceu no dia 3 de maio de 1991, em Londres, Reino Unido, e viveu sua infância e juventude em Milão, Itália, para onde sua família havia voltado. Ele morreu aos 15 anos de leucemia em 12 de outubro de 2006, dia de Nossa Senhora Aparecida, e foi beatificado em 2020 em Assis, na Itália.

Dom Dimas ainda disse em seu decreto que a capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida da paróquia São Sebastião “têm sido ao longo dos anos um centro de piedade e de intensa devoção à São Carlo Acutis”, especialmente porque nessa Igreja ocorreu “o milagre que tornou possível” a beatificação de Carlo e por ser um “lugar peculiar de peregrinação, oração e graças alcançadas”, ele reconheceu o novo santuário como um “espaço de particular relevância para a vida espiritual do povo de Deus”, visto “que a canonização de São Carlo Acutis” ocorrida em 7 de setembro, “suscitou grande fervor em outros fiéis, especialmente os jovens, tonando-se ele exemplo luminoso de santidade na vida ordinária e de amor à Eucaristia”.

Carlo Acutis, disse dom Dimas em sua homilia, não é “um santo só dos jovens, pelo contrário, a devoção à Carlo Acutis ela se desenvolve em todas as idades” e ressaltou: “É uma coisa curiosa isso”.

 O arcebispo também enfatizou que “a vida de Carlo Acutis tem muito a ver com o Brasil”, visto que “o primeiro milagre acontecido aqui: 12 de outubro, o dia escolhido para ser a sua memória: 12 de outubro”.

“Aliás, esse talvez seja um elemento que a gente deva recorrer agora para que autorize no Brasil, até a festa de Carlo Acutis, a ser celebrada em outro dia, porque não tem como depor Nossa Senhora, no lugar dela colocar um outro”, pontuou dom Dimas destacando que “ao longo da história, os santos de uma maneira geral, sempre tiveram uma grande devoção por Nossa Senhora” e “Carlo Acutis não era diferente”.

“Se é tarefa do Espírito Santo fabricar os santos, vejam que Nossa Senhora dá uma colaboração importantíssima em tudo isso. Porque ela não intercede por nós apenas contra as insídias externas ou contra as intrigas palacianas que podem ser dentro ou fora da Igreja, mas ela intercede também pela nossa própria santificação”, disse Barbosa ressaltando que, “se os santos tiveram grande devoção para com Nossa Senhora, isso para nós é um grande testemunho de que ela deve ocupar dentro da Igreja um lugar cada vez mais especial”.

*Monasa Narjara é jornalista da ACI Digital desde 2022 e foi jornalista na Arquidiocese de Brasília entre 2014 a 2015.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64957/capela-do-milagre-da-beatificacao-de-sao-carlo-acutis-e-elevada-a-santuario

ESTUDOS: Dante, os dois poderes, cupiditas (Parte 1/2)

Dante Alighieri, afresco de Luca Signorelli, na Capela de São Brizio da Catedral de Orvieto. Ao fundo, o incipit do Códice Latino Palatino do Vaticano de 1729, contendo a Monarquia e as Epístolas, preservado na Biblioteca do Vaticano | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 12 - 1999

Dante, os dois poderes, cupiditas

Uma comparação entre Augusto Del Noce e Étienne Gilson sobre a filosofia política de Alighieri.

por Massimo Borghesi

Del Noce e Noventa: o “anticlericalismo” de Dante

Augusto Del Noce tem repetidamente recordado a dívida especulativa contraída com o “tomismo existencial” de Étienne Gilson, tanto nas suas principais obras como em ensaios específicos (1) . Menos conhecido, também devido ao material inédito ainda em publicação, é o desacordo entre os dois pensadores quanto à filosofia política de Dante.

Del Noce interessou-se pelo Dante "político" a partir da década de 1870, quando, pensando na Democracia Cristã da época, na mistura de secularismo e clericalismo na política católica, almejou, à luz das reflexões de Giacomo Noventa, um anticlericalismo de tipo dantesco . «Se», escreveu ele, «clericalismo significa politização do clero coincidindo com a fraqueza da religião e a perda de autoridade moral do próprio clero, talvez nunca o fenômeno tenha se apresentado de forma tão acentuada e tão religiosamente perigosa; porque tal politização coincide em suas últimas consequências com o que hoje se chama de concepção "horizontal", voltada para as realidades terrenas, da vida religiosa […]. Segue-se que, de um ponto de vista religioso, há hoje mais necessidade do que nunca de um anticlericalismo de tipo dantesco; que, aliás, foi concebido em tempos em que se aproximava uma crise religiosa que não deixa de ter analogia com a atual» (2) .

Esta avaliação encontrou apoio na própria concepção de Noventa, segundo a qual "o clericalismo é o vício e o perigo de todas as religiões e não consiste em afirmar as necessidades do clero, do culto, da confissão, da palavra, que todas as religiões corretamente reconhecem, mas em proclamar sua suficiência , [...] isto é, consiste em atribuir ao clero a tarefa de ser religioso também para nós, de defender a religião também para nós, e em atribuir a eles todos os deveres e todos os direitos que derivam disso" (3) .

Daí a transformação da realidade religiosa em poder político diante do qual, como reação, se afirma um "anticlericalismo católico", que encontra um ponto de referência essencial em Dante. No artigo de 1971, Dante e nosso problema metapolítico , Del Noce, sempre seguindo Noventa, vislumbrou em Dante, em sua correta compreensão, o nó não resolvido da história italiana após a Unificação. As leituras secular-racionalistas de Maquiavel e Bruno, lidas pelos fundadores da nova Itália, foram incapazes de situar Dante.

Tampouco a leitura de Giovanni Gentile foi mais persuasiva, para quem a reforma político-religiosa de Dante era hostil ao protestantismo e, ao mesmo tempo, crítica ao catolicismo. Na realidade, segundo Del Noce, "não é que Dante pretenda combater a cupiditas do clero para salvar a autonomia do Estado; antes, 'trata-se da luta contra a cupiditas '"., a necessidade de permear plenamente a vida pública com a religião que o leva à distinção de ordens”. Ou ainda: o ponto central de seu pensamento, aquele que o leva a superar tanto o guelfismo quanto o gibelinismo é “a intuição da concordância entre a afirmação da autonomia do Império, até então sustentada por pensadores heterodoxos, e a da purificação da Igreja afirmada por escritores espirituais”, o que está em consonância com o que o melhor intérprete da filosofia de Dante, Gilson, define como o traço singular e único de seu pensamento, irredutível a qualquer fonte» (4) . Del Noce referiu-se assim à obra de Gilson, como o «melhor intérprete da filosofia de Dante», cuja reflexão foi entregue em Dante et la philosophie (Paris 1939) e no capítulo sobre Dante contido em Les metamorfoses de la cité de Dieu (Paris 1952).

Em uma apresentação do pensador francês, escrita em 1971 para a Em sua Enciclopédia Dante Del Noce observou que, ao explicar a relação entre Igreja e Império, teologia e filosofia, "Gilson critica as tentativas de reduzir a posição de Dante à tomista ou averroísta. Para São Tomás, toda hierarquia de dignidade é ao mesmo tempo uma hierarquia de jurisdição, enquanto para Dante – exceto para Deus – uma hierarquia de dignidade nunca é o fundamento de uma hierarquia de jurisdição, e isso corresponde ao problema filosófico específico de Dante, que não é tanto o de definir a essência da filosofia, mas o de determinar suas funções e jurisdições. O princípio ao qual essa determinação obedece é absolutamente inconciliável com o tomismo.

São Tomás conhece apenas um fim último: a bem-aventurança eterna, que só pode ser alcançada por meio da Igreja; além disso, a espiritualidade do fim último implica que entre o poder temporal e o espiritual existe a subordinação hierárquica dos meios ao fim. Para Dante, no entanto, o homem pode obter, por meio do exercício das virtudes políticas, uma felicidade humana completamente distinta da bem-aventurança celestial, mesmo que esta represente um objetivo superior. A tese do “duo última” legitima a distinção completa entre a ordem política e a ordem religiosa, igualmente universal à da Igreja, mas autônoma e visando um fim de felicidade terrena» (5) . Esta tese, segundo Gilson, não pode ser rastreada até o averroísmo, mas sim até a influência exercida sobre Dante pela sua leitura da Ética a Nicómaco de Aristóteles 

É. Gilson: a “singularidade” de Dante e o fim da Idade Média

A "singularidade" do pensamento político de Dante, nem agostiniano – no sentido do "agostinianismo político" da Idade Média – nem tomista nem averroísta, emerge, portanto, segundo Del Noce, precisamente dos estudos de Gilson. O que o autor não diz, contudo, em sua breve apresentação do erudito francês contida na Enciclopédia Dante , é que essa mesma singularidade constitui um problema para Gilson, uma rocha diante da qual, em sua opinião, a unidade teológico-política da Idade Média se estilhaçaria. 

A separação da Igreja e do Império por Dante "pressupõe necessariamente a separação da teologia e da filosofia; por essa razão, assim como ele havia dividido a unidade do cristianismo medieval em dois pedaços, Dante estilhaça ao meio a unidade da sabedoria cristã, o princípio unificador e o vínculo do cristianismo. Em ambos os pontos vitais, esse autoproclamado tomista feriu mortalmente a doutrina de São Tomás de Aquino" (6) . 

Esta é uma oposição que, segundo Gilson, não é solucionável. «Entre o Papa de São Tomás , que tem o poder supremo , e o Papa de Dante, excluído de qualquer controle do poder temporal, é necessário escolher: é impossível conciliá-los» (7) . A «divisão doutrinal que separa os seguidores da supremacia temporal dos papas e seus adversários não se dá entre Roger Bacon e Tomás de Aquino, mas entre Tomás de Aquino e Dante. Sob a pressão da paixão política de Dante, a unidade do cristianismo medieval governado pelos papas é abruptamente quebrada no meio» (8) . Para Tomás «…summo Sacerdoti, successi Petri, Christi vicar, Romano Pontifici, cui omnes reges populi christiani oportet esse subditos, sicut ipsi Domino nostro Iesu Christo» ( De regimine Principum I, 14). Para Dante, "Summus namque Pontifex, Domini nostri Iesu Christi vicarius et Petri successor, cui non quicquid Christo sed quicquid Petro debemus" ( Monarchia III, 3). Ambos, portanto, reconhecem a supremacia real de Cristo tanto no reino espiritual quanto no temporal, mas Tomás afirma que essa dupla realeza é transmitida por Cristo a Pedro e seus sucessores; Dante, ao contrário, afirma que a soberania temporal não se estende aos papas. 

A supremacia que Dante reconhece no papa, a da paternidade , não se traduz em uma ordem hierárquico-metafísica. Desse ponto de vista, revisitar o universo político de Dante a partir de uma perspectiva tomista só pode levar a mal-entendidos: "O que é próprio do pensamento de Dante, de fato, é a eliminação da subordinação da autoridade. Em São Tomás, a distinção real das ordens estabelece e exige sua subordinação; em Dante, ela a exclui. 

Portanto, não estamos diante de um mundo pagão e de um mundo cristão, mas de duas imagens diferentes do mundo cristão." (9) Para Gilson, não há dúvida sobre qual dos dois é mais apropriado ao horizonte cristão. Na realidade, segundo o autor, a concepção dantesca das duas ordens se baseia em um pressuposto. A concepção dantesca de um fim natural do homem, afirmado em sua universalidade graças à filosofia de Aristóteles, só é possível a partir da unificação do mundo realizada pela fé. A unidade da razão "natural" é, isto é, o produto histórico da unidade cristã alcançada por meio da Igreja. Dessa forma, "embora remontando à Roma de Augusto, a monarquia universal de Dante é uma cópia temporal daquela sociedade universal que é a Igreja" (10) . Por um "curioso efeito rebote, Dante só conseguiu colocar um monarca universal à frente do papa universal concebendo esse mesmo monarca como uma espécie de papa. Um papa temporal, certamente, e ainda assim o chefe de uma espécie de comunidade católica natural, provida de seus dogmas pela moral de Aristóteles e guiada em direção ao seu objetivo final específico pela autoridade de um único pastor" (11) . Nessa duplicação da esfera espiritual na temporal, "com a ingratidão para com a fé que os homens tantas vezes demonstram, a filosofia de Dante se apoiava no que devia à Revelação cristã para justificar sua intenção de prescindir dela no futuro" (12).

NOTA 

1) Ver A. Del Noce, A redescoberta do tomismo em Étienne Gilson e seu significado atual , em AA. VV., Estudos em honra de Gustavo Bontadini , Milão 1975, pp. Gilson e Chestov , em AA. VV., Existência, Mito, Hermenêutica, 2 vols., Pádua 1980, vol. Assim Gilson removeu os selos de São Tomás , em 30Giorni , n. 6, junho de 1984, pp. 52-54. 

2) A. Del Noce, Giacomo Noventa. Dos erros da cultura às dificuldades da política , em L'Europa , IV, 7 de fevereiro de 1970 (agora em A. Del Noce, Revolution Risorgimento Tradition , editado por F. Mercadante, A. Tarantino, B. Casadei, Milão 1993, pp. 116-117). 

3) G. Noventa, Caffè greco , Florença 1969, p. 144. 

4) A. Del Noce, Dante e nosso problema metapolítico , in L'Europa , V, 30 de abril de 1971 (agora em A. Del Noce, Revolution Risorgimento Tradition op. cit. , p. 323). 

5) A. Del Noce, Gilson Étienne , in Enciclopédia dantesca , vol. III, Roma 1971, p. 33. 

6) É. Gilson, Dante e a filosofia, trad. isto., Milão 1987, p. 195.

7) Ibid ., pág. 170.

8) Ibid ., pág. 194.

9) Ibid ., pp.

10) É. Gilson, A Cidade de Deus e Seus Problemas , trad. isto., Milão 1959, p. 153.

11)É. Gilson, Dante e a Filosofia op. cit. , pág. 166.

12)É. Gilson, A Cidade de Deus e Seus Problemas op. cit. , pág. 155.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Leão XIV preside missa com canonização de 7 beatos em 19 de outubro

Papa Leão XIV (Vatican Media)

Os novos santos serão: o bispo turco Inácio Maloyan, o catequista da Papua Nova Guiné Pedro To Rot, os venezuelanos José Gregorio Hernández Cisneros e Carmen Rendiles Martínez, e os italianos Bartolo Longo, Maria Troncatti e Vincenza Maria Poloni. O Papa vai presidir a celebração eucarística no Dia Mundial das Missões com o rito de canonização na Praça São Pedro às 10h30 na Itália, 5h30 no Horário de Brasília, com transmissão ao vivo dos canais do Vatican News e comentários em português.

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Leão XIV vai presidir a celebração eucarística com o rito de canonização de 7 beatos em 19 de outubro, na Praça São Pedro, Dia Mundial das Missões. A missa com transmissão ao vivo dos canais do Vatican News e comentários em português começa às 10h30 do horário local, 5h30 no Horário de Brasília. A informação foi divulgada pelo Departamento de Celebrações Litúrgicas Pontifícias. Segundo comunicado assinado pelo mestre de Cerimônias Litúrgicas Pontifícias, Mons. Diego Ravelli, os novos santos serão: Inácio Maloyan, Pedro To Rot, Vincenza Maria Poloni, Carmen Rendiles Martínez, Maria Troncatti, José Gregorio Hernández Cisneros e Bartolo Longo.

Inácio Choukrallah Maloyan nasceu na Turquia em 1869, foi bispo de Mardin dos Armênios e morto durante ações violentas contra os cristãos perpetradas naquela região. Por se recusar a abraçar outra fé, foi fuzilado junto com muitos outros correligionários. Na prisão, chegou a consagrar o pão para o conforto espiritual dos companheiros. Ele foi beatificado em 2001 pelo Papa João Paulo II. Segundo o Dicastério das Causas dos Santos, em vista da canonização e reconhecendo a atualidade do seu exemplo, foi acolhida a súplica feita por Sua Beatitude Raphaël Bedros XXI Minassian, Católicos, Patriarca da Cilícia dos Armênios Católicos, em fevereiro de 2024, dispensando o estudo de um suposto milagre, junto à documentação que ilustra os motivos que sustentam a canonização. A devoção a Maloyan é particularmente forte pela Igreja Católica Armênia e há provas da sua intercessão, manifestada pela obtenção de graças materiais e espirituais.

Pedro To Rot nasceu na Papua Nova Guiné em 1912. Mártir, pai de família e catequista, foi preso durante a Segunda Guerra Mundial por ter perseverado em seu ministério e sofreu o martírio com uma injeção de veneno letal. Ele foi beatificado por João Paulo II em 1995. Em 2024, os bispos do país e também das Ilhas Salomão fizeram um pedido para dispensar o primeiro beato de Papua do milagre para seguir com a canonização, o que foi acolhido junto a muitas provas que demonstraram a dificuldade de constatação do mesmo.

Vincenza Maria Poloni nasceu na Itália em 1802. Fundadora do Instituto das Irmãs da Misericórdia; o carisma do Instituto foi marcado pela sua experiência, que se dedicou constantemente a assistir doentes, idosos e órfãos até à morte após anos de tratamento de um câncer. A Venerável em 2006 foi beatificada por Papa Bento XVI em 2008.

Carmen Elena Rendíles Martínez nasceu na Venezuela em 1903. Religiosa, fundadora das Irmãs Servas de Jesus (Servas de Jesus da Venezuela); confiando em Deus, abria seu coração a todos, sobretudo aos pobres. Também os sacerdotes eram objeto de sua devoção e de seus cuidados e, para muitos, tornou-se conselheira sábia e maternal. Junto com suas irmãs, serviu com amor nas paróquias, nas escolas e ao lado dos mais necessitados. Ela foi beatificada pelo Papa Francisco em 2018.

Maria Troncatti nasceu na Itália em 1883. Religiosa, religiosa professa da Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora e missionária: enfermeira durante a Primeira Guerra Mundial, partiu depois para o Equador, onde se dedicou inteiramente ao serviço das populações da selva, na evangelização e na promoção humana. Em uma viagem que a levaria a Quito, em 1969, ela morreu tragicamente após o avião cair logo depois da decolagem. Ela foi beatificada por Papa Bento XVI em 2012.

José Gregorio Hernández Cisneros nasceu na Venezuela. Leigo, bacharel em Filosofia e médico de profissão, dedicou-se a ajudar os mais necessitados, sendo chamado de “o médico dos pobres” e testemunho do amor eucarístico através do seu compromisso com os vulneráveis. Morreu vítima de um acidente de carro, em 1919, enquanto se deslocava para atender um doente. Ele foi beatificado por Papa Francisco em 2021.

Bartolo Longo nasceu na Itália em 1841. Leigo, dedicado ao culto mariano e à educação cristã dos agricultores e das crianças, fundou, com a ajuda da esposa, o Santuário do Rosário em Pompeia e a Congregação das Irmãs que leva o mesmo nome. Foi definido como o "apóstolo do Rosário" e "instrumento da Providência" na defesa da fé cristã. Ele foi beatificado em 1980 pelo Papa João Paulo II.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

5 dicas para lidar com o estresse

O Cortisol não é o inimigo — é o que nos ajuda a acordar, ficar alerta e lidar com os desafios. O segredo é mantê-lo em equilíbrio e não eliminá-lo (Crédito: Getty Images)

Autor: Dr. Xand van Tulleken

De Morning Live

20 setembro 2025

Quando as férias acabam e tudo o que fica parece ser uma lembrança distante, a rotina volta a todo vapor.

Essa energia de voltar à ativa pode deixar um sentimento de esgotamento em muitas pessoas.

O estresse, em pequenas doses, pode nos ajudar a manter a energia, mas, se não for controlado, pode prejudicar nossa saúde, humor e relacionamentos.

O cortisol, frequentemente rotulado como o hormônio do estresse, virou um termo da moda no bem-estar, mas ele não é o inimigo — é o que nos ajuda a acordar, ficar alerta e lidar com os desafios.

Aqui estão cinco maneiras simples e comprovadas pela ciência de gerenciar o estresse e retomar o controle.

1. Pare de se estressar com isso

O estresse é parte normal da vida e é inevitável (Crédito: Getty Images)

Ironicamente, ficar preocupado com os efeitos do estresse pode fazer com que ele piore.

Quanto mais falamos sobre os danos que o estresse causa, começamos a pensar "agora estou estressado e sei que está me fazendo muito mal". Então tente não se preocupar muito com como você está se sentindo.

O estresse é parte normal da vida e é inevitável, especialmente durante grandes desafios como o luto, cuidar de entes queridos e crianças pequenas, ou lidar com as incertezas do trabalho.

Em vez de entrar em pânico por estar estressado, aceite que isso acontece e se lembre-se de que isso não vai durar para sempre.

2. Mexa-se

A melhor maneira de controlar o estresse fisicamente é se exercitar (Crédito: Getty Images)

A melhor maneira de controlar o estresse fisicamente é se exercitar.

O exercício físico faz o mesmo que o estresse com o seu corpo: aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial, acelera a respiração e libera adrenalina e cortisol.

Ao se exercitar, seu corpo aprende a controlar os picos de cortisol e a lidar com essas oscilações, para que você esteja mais bem equipado para lidar com os maiores estresses da vida.

Se você está ficando estressado pensando em qual exercício vai fazer ou em qual academia se inscrever, se lembre-se de que qualquer forma de exercício é válida.

Não precisa ser nada muito demorado ou estressante - uma simples caminhada, corrida leve ou qualquer atividade que você goste resolverá o problema.

3. Priorize o sono

Tente ir para a cama mais cedo e acordar mais ou menos no mesmo horário todos os dias (Crédito: Getty Images)


Tente ir para a cama mais cedo e acordar mais ou menos no mesmo horário pela manhã para que seu corpo entre na rotina.

Se você se vira na cama à noite e não consegue dormir, não se preocupe.

Seu corpo pode funcionar com menos sono ocasionalmente e, com o tempo, seus ritmos naturais se recalibrarão.

4. Foque em você

Reserve alguns minutos para pensar no dia ou na semana que tem pela frente (Crédito: Getty Images)

Gerenciar o estresse não se trata apenas de evitar os aspectos negativos, mas também de se fortalecer ativamente.

Certifique-se de se alimentar bem, com muitas frutas, vegetais, alimentos integrais e proteínas de boa qualidade para abastecer seu corpo.

Tente também reservar um tempo de qualidade sozinho, onde você possa relaxar e recarregar as energias.

Atenção plena também pode ajudar - não se trata de usar um aplicativo de meditação ou ficar sentado em silêncio, mas de ser intencional na maneira como você encara sua vida.

Reserve alguns minutos para pensar no dia ou na semana que tem pela frente, no que pode ser desafiador e em como você pode controlar seu ritmo.

Tente, por exemplo, se planejar com antecedência, preparar as refeições em grandes quantidades, pois isso pode aliviar um pouco o estresse à noite, depois do trabalho.

5. Converse sobre o que está acontecendo

Compartilhar suas preocupações com alguém em quem você confia alivia a carga e lhe dá perspectiva (Crédito: Getty Images)

Preocupações como dinheiro, emprego e família podem se agravar rapidamente quando mantidas reprimidas.

Compartilhar suas preocupações com alguém em quem você confia alivia a carga e lhe dá perspectiva, mesmo que essa pessoa não consiga resolver seu problema.

Às vezes, apenas dizer em voz alta já faz com que o problema pareça mais administrável.

Descubra mais dicas sobre como lidar com o estresse no Morning Live (em inglês).

Reportagem de Yasmin Rufo.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c8644w5x935o

Como ler a Bíblia em um mundo saturado de informações?

Criador, juiz, rei, pastor... Na Bíblia, várias imagens são usadas para falar sobre Deus.
New Africa | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 13/10/25

A palavra é o veículo da voz. No Evangelho de São João, no capítulo 10, Jesus diz que as minhas ovelhas conhecem a minha voz. Como é que nós vamos conhecer a voz de Jesus sem escutar a sua palavra? Então, o contato com a palavra de Deus é a condição para que nós reconheçamos a sua voz.

Em um mundo saturado de informações e vozes conflitantes, a leitura da Bíblia assume um papel crucial na vida do cristão. É o que afirma o Padre Jean Paul Hansen, Secretário Executivo do Setor Campanhas da CNBB, em uma entrevista esclarecedora para a Rede Imaculada de Comunicação.

Segundo Padre Jean, o contato diário com a Bíblia é a condição essencial para reconhecer a voz de Jesus. "A palavra é o veículo da voz," explica. Assim como reconhecemos a voz de um radialista pela palavra que ouvimos, precisamos criar uma "sintonia" com a voz de Deus.

"Nós temos tantas vozes, múltiplas vozes, que nos enganam, que nos seduzem... É importantíssimo que nós saibamos discernir qual é a voz de Deus no mundo atual. E como é que nós vamos reconhecer a voz de Deus? No contato com a sua palavra."

O sacerdote incentiva os fiéis a cultivarem uma espiritualidade bíblica, dedicando todos os dias um momento para ler ou escutar, ao menos, "um pedacinho da palavra de Deus, para sintonizar a sua voz.

Guia do leitor da Bíblia

A busca pela Bíblia perfeita levanta uma dúvida comum entre os leitores: qual tradução escolher? Padre Jean Paul Hansen distingue entre Bíblias para estudo aprofundado e Bíblias mais adequadas para a espiritualidade cotidiana.

Para Estudo Aprofundado (com notas e introduções ricas):

  • Bíblia de Jerusalém: Tradução antiga e reconhecida, ideal para estudos devido às suas extensas notas de rodapé e introduções.
  • Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB): Uma excelente opção, fruto de um trabalho em âmbito ecumênico, igualmente rica em notas e introduções.
  • Bíblia do Peregrino: Conhecida por suas notas detalhadas e abrangentes, tradução de autoria do biblista europeu Alonso Schökel.

Para Oração e Espiritualidade Cotidiana (mais simples e fluida):

  • Bíblia da CNBB: A tradução oficial da Igreja no Brasil, recomendada para quem deseja rezar com a Palavra.
  • Bíblia Pastoral e Paulinas: Recentemente revistas e com edições em letras grandes, ideal para o cultivo da Palavra na vida diária.

O Padre ressalta a importância de que a tradução escolhida seja católica, verificando a presença do Imprimatur (a assinatura de um bispo católico) na primeira página, que atesta sua conformidade com o ensinamento da Igreja.

Conselhos para leitura

Não Desanime: A amizade com a Palavra é construída com fidelidade e constância.

Comece pelo Novo Testamento: Evite a leitura aleatória. Escolha um livro e leia-o até o fim.

Reflexão Pessoal: Após a leitura de um trecho, feche a Bíblia e pergunte a si mesma: "O que eu li?" Recontar a passagem para si mesma ajuda a escrever a Palavra no coração.

Hábito e Disciplina: Crie um hábito de estudo. Escolha um lugar e horário fixos, livres de distrações (como a televisão ou celular), e peça a luz do Espírito Santo antes de começar.

Cuidado

A prática de abrir a Bíblia de forma espontânea, buscando uma mensagem imediata, foi desaconselhada pelo Padre, que a comparou à "roleta russa". Ele ilustrou o perigo com um exemplo drástico:

"Abriu e leu: 'Judas foi e enforcou-se.' Abre outra vez para ver aonde que Deus te fala. E aí, abriu a palavra e leu lá: 'Vai tu e faz o mesmo.'"

O sacerdote enfatizou que a leitura deve estar conectada ao todo da Bíblia (ao capítulo, ao livro e a ambos os testamentos). Uma boa formação bíblica e uma leitura metódica são essenciais para evitar interpretações equivocadas que podem conduzir a um sentido oposto ao que Deus deseja.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/13/como-ler-a-biblia-em-um-mundo-saturado-de-informacoes/

Pesquisadores buscam novos caminhos para combater o alcoolismo

O consumo de bebidas alcoólicas aciona áreas cerebrais que provocam euforia e reduzem artificialmente sinais de ansiedade - (crédito: Reprodução/Freepik)

Pesquisadores buscam novos caminhos para combater o alcoolismo

Cientistas estudam como o cérebro reage aos estímulos do álcool e buscam alternativas para ajudar na regulação emocional. Um dos objetivos principais é conseguir amenizar os sintomas da abstinência.

O álcool é responsável por cerca de 3 milhões de mortes anuais e causa cerca de 200 tipos de doenças e lesões, segundo a Organização Mundial da Saúde. Diante desse cenário, pesquisadores buscam compreender melhor quais mecanismos cerebrais são ativados em resposta à bebida e ao vício, na busca de um caminho eficaz para combater o alcoolismo e problemas associados.

Um estudo da Scripps Research, nos Estados Unidos, publicado recentemente na revista Biological Psychiatry, revelou mais sobre o comportamento de recaída para bebidas ao identificar que uma área específica do cérebro —o núcleo paraventricular do tálamo (PVT)— é superativada quando o consumo de álcool é associado ao alívio dos sintomas de abstinência. Essa região, tradicionalmente ligada ao estresse e à ansiedade, desempenha um papel essencial no ciclo do vício, não somente ao promover a busca por prazer, mas também ao amenizar o sofrimento emocional causado pela falta da substância.

"O que torna o vício tão difícil de largar é que as pessoas não estão simplesmente buscando uma sensação de euforia", afirma Friedbert Weiss, professor de neurociência na Scripps Research e autor sênior do estudo. "Elas também estão tentando se livrar de estados negativos poderosos, como o estresse e a ansiedade da abstinência. O trabalho evidencia quais sistemas cerebrais são responsáveis por reter esse tipo de aprendizado, e por que isso pode tornar a recaída tão persistente."

Conforme Thiago Taya, neurologista e neuroimunologista do Hospital Sírio-Libanês, o álcool age reduzindo a atividade cerebral, fazendo a pessoa se desinibir socialmente, porém o que parece ser uma fuga do estresse é, na verdade, uma camuflagem. "A maior ativação do PVT ligada ao consumo de álcool pode se relacionar a uma sensação cada vez mais expressiva de alívio, prazer e recompensa ao ingerir a substância, e um sentimento contrário cada vez pior ao ficar sem a bebida, acentuando o vício."

Conforme o estudo, feito com modelos animais, a hiperativação dessa área é algo lógico diante da falta de consumo da substância. "Os efeitos desagradáveis da abstinência estão fortemente associados à ansiedade, e o álcool proporciona alívio da agonia desse estado estressante", destacam os autores.

Manipular o cerebelo

Em paralelo, um trabalho conduzido pela Universidade Estadual de Washington, também nos EUA, oferece uma abordagem diferente sobre a abstinência de álcool. Os pesquisadores se concentraram no cerebelo, área do cérebro tradicionalmente associada ao controle motor, mas que tem se mostrado fundamental também na regulação emocional e no vício. 

"Metade dos neurônios do cérebro está no cerebelo", afirma David Rossi, autor sênior do estudo, professor associado da universidade. "Está cada vez mais claro que essa região está envolvida em muito mais do que somente o controle motor — ela desempenha um papel no vício, na regulação emocional e até mesmo no engajamento social."

Ao manipular essa região do cérebro em camundongos, os cientistas conseguiram aliviar tanto os sintomas físicos quanto os emocionais da abstinência. O trabalho sugere que o cerebelo pode ser uma nova via terapêutica para tratar o alcoolismo de forma mais eficaz, sem os efeitos colaterais das abordagens atuais.

Conforme Maciel Pontes, médico neurologista do Hospital de Base, no Distrito Federal, no caso da abstinência, essa região é central porque se adapta ao consumo crônico da substância. "Durante a exposição prolongada à bebida, os circuitos cerebelares se ajustam para funcionar nesse ambiente, mas, quando o álcool é retirado, sobra um estado de hiperatividade, que contribui diretamente para os sintomas físicos e emocionais."

O especialista acrescentou que o cerebelo atua na modulação do estresse e do sofrimento, conectando-se a circuitos cerebrais ligados às emoções. "Essa participação amplia sua relevância, mostrando que ele é um elo essencial na compreensão da dependência."

Tecnologia como aliada

O combate ao alcoolismo tem sido um desafio complexo. Assim, tanto intervenções tecnológicas quanto medicamentosas têm ganhado destaque na ciência. Trabalhos recentes apontam caminhos inovadores para combater o vício, pelo ajuste de neurotransmissores no cérebro e mesmo por meio de dispositivos vestíveis.

Pesquisadores do Mass General Brigham, nos Estados Unidos, publicaram na revista JAMA Psychiatry um estudo que revelou como um dispositivo vestível pode ser uma ferramenta poderosa contra vícios. A tecnologia, que utiliza uma espécie de adesivo inteligente chamado Lief HRVB Smart Patch, ajuda os usuários a monitorar e controlar o estresse e a ansiedade, fatores ligados ao desejo de consumir drogas e álcool. 

A invenção detecta variações na frequência cardíaca, refletindo o estresse e o impulso de consumo, e dá sinais para que a pessoa faça ajustes respiratórios e diminua a ansiedade. David Eddie, psicólogo do Mass General Brigham e autor do estudo, explica que uma das grandes dificuldades durante a reabilitação vício é a falta de autoconsciência emocional. "Pessoas em recuperação podem vivenciar muito estresse, mas muitas vezes não têm plena consciência disso ou não o gerenciam proativamente."

O dispositivo reduziu significativamente a vontade de consumir álcool e drogas, com participantes relatando até 64% menos probabilidade de usar substâncias. O estudo, que se concentrou em pessoas no primeiro ano de abstinência, demonstrou o impacto positivo da tecnologia na recuperação precoce.

Para Helena Moura, psiquiatra da Apuí Saúde Mental e professora de medicina da Universidade de Brasília, o diferencial do tratamento é atuar no quadro de desregulação do estresse. "Essa é uma demanda de longo prazo dos pacientes, porque a desintoxicação e o manejo da síndrome de abstinência são resolvidos ali relativamente rápido, mas esses sintomas persistem, às vezes por meses, e não respondem bem a tratamentos usuais".

Freio para os impulsos

Enquanto a tecnologia promete complementar os métodos tradicionais, pesquisadores da Universidade do Colorado, nos EUA, estão explorando novas abordagens farmacológicas para tratar o vício. Os tratamentos atuais focam em reduzir o prazer imediato que o álcool proporciona ou diminuir a frequência do desejo de beber, mas os cientistas acreditam que é possível mexer no comportamento impulsivo.

A resposta pode estar no córtex pré-frontal, área do cérebro relacionada ao controle executivo e à regulação das emoções. O estudo, publicado na revista Biological Psychiatry, testou o tolcapona — medicamento desenvolvido para a doença de Parkinson. A pesquisa revelou que o remédio, ao aumentar os níveis de dopamina nessa região-chave, ajudou os participantes a melhorar o controle sobre seus impulsos. Durante os testes, os voluntários tiveram desempenho superior em uma tarefa que exigia autocontrole.

Ábner Prado, coordenador médico do pronto-socorro do Instituto de Neurologia de Goiânia, destaca que o córtex pré-frontal funciona como um "freio" para os impulsos. "Quando é acionado, ajuda a pessoa a avaliar melhor as consequências e evitar comportamentos automáticos, como beber sem pensar. Fortalecer essa região de alguma maneira pode devolver à pessoa maior capacidade de controle."

Ainda durante o ensaio, os voluntários que tomaram tolcapona relataram uma redução no consumo de álcool durante a semana em que usaram o medicamento. "A maior ativação do córtex pré-frontal foi associada a menos consumo de álcool, sugerindo que o mecanismo de maior controle estava afetando o comportamento deles", reforça Schacht. (IA)

Prisão mental

Inicialmente, o álcool parece inofensivo, por ser um hábito social que traz certa sensação de prazer e desinibição, mas, com o uso frequente, começa a interferir diretamente no córtex pré-frontal, afetando a tomada de decisões e o controle inibitório. Com o vício evoluindo, o sistema límbico — relacionado à regulação emocional, à sensação de recompensa ao controle da motivação— é afetado, tornando o ato de ingerir bebida alcoólica mais recompensador ainda, gerando uma sensação de motivação crescente para consumir a substância e decrescente para outras atividades.

Esse vício funciona como um comportamento cerebral pendular: quanto mais frequentemente você consome, mais sensação de recompensa você tem ao ingerir e pior é sua condição ao ficar sem beber, gerando uma espécie de prisão mental progressiva. Então, mesmo que a pessoa tenha consciência do prejuízo à saúde, ela não consegue se desvincular. Além de que, por afetar a tomada de decisões e o controle inibitório, o paciente fica mais vulnerável às tentações e não consegue controlar o vício.

Thiago Taya, neurologista e neuroimunologista do Hospital Sírio-Libanês

Risco aumentado de bactérias no fígado

Cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, descobriram que o consumo crônico de álcool prejudica a produção de uma proteína-chave, conhecida como mAChR4, que ajuda a manter as bactérias intestinais no órgão correto. Sem essa barreira, esses microrganismos intestinais podem passar mais facilmente para o fígado, agravando os danos hepáticos causados pelo álcool. A descoberta foi feita ao avaliar uma combinação de biópsias de fígado humano e modelos animais. Segundo a publicação, feita na revista Nature, medicamentos que têm como alvo o mAChR4 estão sendo testados em ensaios clínicos para esquizofrenia, e os pesquisadores sugerem que esses remédios podem ser facilmente reaproveitados para tratar lesões hepáticas. No entanto, novas pesquisas são necessárias para demonstrar esse potencial.

Isabella Almeida +

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2025/10/7265824-pesquisadores-buscam-novos-caminhos-para-combater-o-alcoolismo.html

ANÁLISE: Um estilo secular

Pippo Corigliano, Uma Obra Sobrenatural: Minha Vida no Opus Dei , Mondadori, Milão 2008, 130 pp. | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 12 - 2008

Um estilo secular

Uma fluida autobiografia do porta-voz italiano do Opus Dei, Pippo Corigliano.

por Lorenzo Cappelletti

Uma Obra Sobrenatural: Minha Vida no Opus Dei , de Pippo Corigliano, atual porta-voz da Obra na Itália, acaba de ser lançado pela Arnoldo Mondadori Editore.

Devemos ser gratos a Pippo Corigliano — e especialmente, acreditamos, ao próprio Opus Dei, que celebrou o octogésimo aniversário de sua fundação em 2008 — por este livro sincero, no qual ele se apresenta em forma autobiográfica, apresentando assim um perfil plausível e nada penoso (de acordo com a intenção que ele mesmo declara na Introdução) da Obra da qual é membro desde 1960. Através da simplicidade da abordagem narrativa, ele efetivamente liberta o Opus Dei dos rótulos que impedem uma consideração mais objetiva e detalhada. Análogo, pode-se dizer, ao seu próprio crescimento pessoal: "minha vida", escreve ele, "tem sido uma contínua remoção de preconceitos" (p. 91).

O livro traça o desenvolvimento da Obra na Itália através da vida deste jovem napolitano de boa família, que em certo momento foi conquistado pelo estilo laico e moderno dos discípulos de Escrivá de Balaguer e, posteriormente, pelo próprio Escrivá. Esse estilo, aliado a uma sólida base espiritual e a um adequado compromisso intelectual, exige hábitos e costumes "normais", típicos de quem não deve abandonar o mundo, mas "amá-lo apaixonadamente", segundo o título de uma famosa conversa de São Josemaria (ver p. 27).

Mesmo onde a terminologia e os costumes da Obra são um tanto peculiares, como a distinção entre membros numerários e supranumerários, ou a separação entre homens e mulheres no trabalho apostólico, Corigliano tende a simplificar tudo, colocando a ênfase, em vez disso, em consonância com a abordagem estabelecida desde o início por São Josemaria, no serviço a ser prestado a Deus nos e através dos deveres civis em que cada pessoa está envolvida. Em essência, na santificação do trabalho, como ele escreve diversas vezes.

Logo, esse jovem capaz e entusiasmado, após um estágio em uma residência universitária em Nápoles, foi forçado a se mudar para Milão, tornando-se membro do conselho administrativo da Ópera.

Munido apenas de um elegante casaco de jornalista, iniciou sua aventura milanesa em 1970, que o lançou imediatamente ao mundo da comunicação. Foi lá, naquela desafiadora década de 1970, que as armas que ele empunharia ao longo de sua vida foram aguçadas, buscando superar as de seus adversários.

E, portanto, é natural — mesmo que a preocupação do Opus Dei com a opinião pública pareça estender-se muito além da biografia de Pippo Corigliano — que as figuras mais proeminentes no livro sejam jornalistas ou, em todo caso, pessoas que estão ou estiveram envolvidas no mundo da comunicação de massa. De Indro Montanelli a Ettore Bernabei, de Vittorio Messori a Leonardo Mondadori, de Joaquín Navarro-Valls a Giovanni Minoli. Visto não apenas da perspectiva de suas habilidades profissionais, mas também de sua jornada interior, muitas vezes obscura. Mas, ainda mais do que estas, a figura que recebe mais atenção (além de São Josemaria, cujas citações formam o leitmotiv ideal do volume ), porque ele emerge como aquele que mais providencialmente corresponde ao carisma do fundador, é João Paulo II. O papa polonês, após a morte de São Josemaria em 1975, parece ter herdado sua paternidade (a relação pai-filho é um aspecto fundamental desta autobiografia, que apresenta várias figuras paternas brilhantes, do pai de Corigliano ao pai de São Josemaria, do próprio São Josemaria ao Papa Wojtyla): "Os fiéis do Opus Dei mergulharam neste abraço particularmente caloroso porque havia, por assim dizer, uma semelhança de estilo na vivência de sua vocação cristã. O papa alegre, poeta, atleta, defensor do gênio feminino, sedento de verdade, apostólico, compreendeu bem a Obra, e nós a apreciamos de todo o coração" (p. 101). Além disso, foi ele quem, após um rápido processo, canonizaria Escrivá em 2002, no centenário de seu nascimento.

“Neste abraço”, outras datas são fatídicas, como a exata coincidência da eleição de Wojtyla com o cinquentenário da Obra, ou a ereção da Obra como prelazia pessoal naquela fase decisiva do pontificado de Wojtyla, quase um segundo começo depois da tentativa de assassinato, que foi em 1982.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa: ajudem-me a ajudar os missionários em todas as partes do mundo

Papa Leão XIV (Vatican Media)

Videomensagem de Leão XIV por ocasião do Dia Mundial das Missões, celebrado no próximo dia 19 de outubro. O Pontífice convida todos a “participar”, a fim de apoiar aqueles que levam o Evangelho aos cinco continentes: “Como sacerdote e missionário no Peru, vi com meus próprios olhos como a fé, a oração e a generosidade demonstradas neste Dia podem transformar comunidades inteiras.”

https://youtu.be/vR7Fy8mQqSw

Vatican News

Baseando-se em sua experiência pessoal como missionário no Peru, o Papa Leão XIV dá testemunho do bem realizado pelos missionários nos lugares onde exercem seu trabalho, e sobretudo da ajuda recebida graças ao Dia Mundial dedicado a eles. “Quando eu era sacerdote e depois bispo missionário no Peru, vi com meus próprios olhos como a fé, a oração e a generosidade demonstradas neste Dia podem transformar comunidades inteiras”, afirma o Pontífice em uma videomensagem divulgada em vista da celebração de 19 de outubro — o Dia Mundial das Missões — ocasião em que “toda a Igreja se une em oração pelos missionários e pela fecundidade de seu trabalho apostólico”.

Ajudar a difundir o Evangelho

O convite do Papa, dirigido a todas as paróquias católicas do mundo, é para “participar” do Dia Mundial, porque “as orações e a ajuda servem para difundir o Evangelho, sustentar programas pastorais e de catequese, construir novas igrejas e responder às necessidades de saúde e educação de nossos irmãos e irmãs nos territórios de missão”.

Missionários da esperança entre os povos

No dia 19 de outubro, acrescenta Leão XIV, “enquanto refletimos juntos sobre a nossa vocação batismal de sermos ‘missionários da esperança entre os povos’, renovemos nosso compromisso doce e alegre de levar Jesus Cristo, nossa Esperança, até os confins da terra”. “Obrigado — conclui o Papa — por tudo o que farão para me ajudar a ajudar os missionários em todas as partes do mundo.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF