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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Frei George de Aleppo: no Jubileu, vivemos o sonho de tantos sírios

Os peregrinos sírios diante da sede da Rádio Vaticano (Vatican News)

Vindo a Roma acompanhando vários jovens que haviam fugido para a Europa com suas famílias devido ao conflito civil que eclodiu em 2011, o frade franciscano da Custódia da Terra Santa falou à mídia vaticana sobre as dificuldades da Paróquia de São Francisco de Assis após os recentes ataques. Ele também testemunhou o "milagre diário" de uma vibrante comunidade cristã, composta por mais de 1.200 fiéis, que continua a resistir com fé e esperança.

Edoardo Giribaldi – Cidade do Vaticano

"Espero levar tanta, tanta esperança." Estas são palavras simples, mas que resumem toda a força e fé do frei George Jallouf, frade franciscano da Custódia da Terra Santa, vigário paroquial da Igreja de São Francisco de Assis em Aleppo. Ele veio a Roma acompanhando um grupo de jovens — "filhos da diáspora", como ele os chama — para participar do Jubileu. É com eles, diz ele, que "estamos realizando um sonho que muitos na Síria ainda não conseguem viver".

Jovens retidos na Síria pedem para acender uma vela para eles

Os jovens, refugiados na Europa com suas famílias devido à guerra civil que eclodiu no país em 2011, agora vivem na Alemanha, França, Bélgica e Suécia. Na tarde quente de Roma, eles encontram abrigo à sombra do Palazzo Pio, sede da mídia do Vaticano, que ostenta orgulhosamente a bandeira de seu país.

"Os sírios, no momento, não podem vir facilmente devido a complicações com o visto", explica frei George. O franciscano, no entanto, assumiu pessoalmente as intenções de toda a comunidade cristã local: "Eles me pediram para acender uma vela para eles e levá-los comigo até a Porta Santa". Ele assim o fez. Tirou fotos, enviou mensagens, testemunhando que "eles também estavam lá, mesmo que de longe".

As dificuldades e os "milagres diários" em Aleppo

Mas a situação na Síria continua difícil. “A situação em Aleppo está relativamente calma - conta ele - mas depois dos últimos ataques em Damasco, o medo voltou aos corações dos fiéis. Tivemos que aumentar a segurança, inclusive durante a Missa: homens nas portas das igrejas para proteger quem entra para rezar.”

Apesar de tudo, a comunidade cristã continua resistindo. Uma minoria, que conta com mais de 1.200 jovens, mas que é uma presença vibrante e engajada. “Temos um catecismo que se estende do jardim de infância ao ensino médio. É uma graça, é um milagre diário.”

Quando retornar à Síria, frei George levará consigo os rostos, as palavras e a bênção de Roma. E uma certeza: “O Senhor está conosco. A esperança não desilude. E somos chamados a ser essa esperança, todos os dias, para aqueles que encontramos.”

Frei George Jallouf (Vatican News)

Da Síria para pedir paz em todo o Oriente Médio

"Só o fato de estar aqui e representar a Síria já é motivo de orgulho", diz um dos jovens sírios presentes em Roma para o Jubileu da Juventude: "É um sentimento indescritível. Estamos verdadeiramente felizes. E rezamos para que, um dia, haja paz em todos os países do mundo."

Um companheiro de peregrinação compartilha esse sentimento, explicando como sua presença é significativa não apenas para a Síria, mas para todo o Oriente Médio. "Há tantos jovens cristãos maravilhosos lá, com uma fé tremenda." Assim como no caso do frei George, os jovens também expressam suas orações e sonhos de seus colegas: "Rezamos aqui no lugar deles, em nome deles."

Acima de tudo, eles estão cientes do presente que representa estar em Roma e participar do Jubileu. "Rezamos acima de tudo para que o Senhor um dia lhes dê a oportunidade de vir e viver esta experiência."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os jovens do Jubileu redescobrem São Carlos de Foucauld

Antoine Mekary | ALETEIA

Cyprien Viet - publicado em 01/08/25

"Como um viajante na noite": esse foi o título do espetáculo apresentado aos participantes do Jubileu dos jovens, realizado nos dias 30 e 31 de julho no auditório da Conciliazione, perto do Vaticano.

Cerca de 50 cantores e 18 músicos se reuniram para fazer essa apresentação gratuitamente, que foi criada para a canonização de Carlos de Foucauld, em 15 de maio de 2022.

Capucine, que veio de Lorient, ficou encantada: "Achei isso absolutamente sublime, de uma qualidade excepcional! Isso dá um novo ânimo à vida espiritual, à vida com Deus e até ao dia a dia." Para a primeira apresentação, muitos peregrinos franceses e italianos lotaram as quase 1.800 cadeiras do auditório, inaugurado durante o Ano Santo de 1950.

O desejo da embaixada da França junto ao Vaticano e dos Pios Estabelecimentos da França em Roma de destacar figuras jovens de santidade durante o Jubileu levou à reexibição deste espetáculo, que já tinha sido visto em 2022 na Catedral de São João de Latrão.

O oratório, intitulado "Come un viaggiatore nella notte", foi escrito por Marcello Bronzetti e dirigido por sua esposa, Tina Vasaturo. A cantora Fatima Lucarini explicou que o coro nasceu na paróquia Santa Silvia em Roma, com a iniciativa desse casal de artistas, que até convidou pessoas que não sabiam cantar. Essas pessoas, aos poucos, puderam aprender e contribuir para divulgar a história desse santo. “Carlos de Foucauld é uma figura incrível, que acolhe todas as religiões e todos os povos. Ele viveu uma vida bela e fez escolhas significativas. Que melhor exemplo para os jovens?”, refletiu Fatima.

O espetáculo, dividido em dez atos com textos e músicas em italiano, acompanhados de tradução em francês, retrata de forma emocionante a jornada de Carlos de Foucauld. O relato vai desde suas dúvidas espirituais em Paris até o cumprimento de sua vocação em Nazaré e, finalmente, em Tamanrasset, onde ele foi tragicamente assassinado por bandidos no deserto. Este ex-militar e geógrafo viveu como eremita nas montanhas do Hoggar, na Argélia, e ficou na história como um profeta do diálogo com os muçulmanos. Sua vida discreta gerou um impacto missionário extraordinário, especialmente através dos Pequenos Irmãos e Irmãs de Jesus, que se inspiram em sua espiritualidade.

Da noite da dúvida à luz do amor

“Eu conhecia pouco sobre Carlos de Foucauld”, admitiu Marie, que veio de Dijon com um grupo de amigos. “Com esse espetáculo, percebi que a fé não é uma estrada fácil. Todos temos momentos de dúvida, jovens e menos jovens... Foi lindo entender que ele também teve suas crises na juventude e precisou crescer para reencontrar a fé.” Marie também se emocionou com a história da prima dele, que orava por ele. “É muito bonito, porque é importante orar uns pelos outros e acreditar na força da oração”, contou a jovem, especialmente ligada à adoração.

Irmã Geneviève, uma amiga próxima do Papa Francisco, ficou muito emocionada ao ver tantos jovens saindo do espetáculo dedicado a São Carlos, cuja espiritualidade inspirou sua congregação. Conhecida por seu trabalho com circenses, ela não queria falar muito, mas compartilhou que encontra em Carlos de Foucauld um apóstolo do “amor universal”. E é esse “amor universal” que os jovens participantes do Jubileu podem levar para seus amigos durante e após essa semana especial.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/01/os-jovens-do-jubileu-redescobrem-sao-carlos-de-foucauld-apostolo-do-amor-universal/

Cardeal Newman, “um gênio complexo, poeta e místico”

São John Henry Newman, próximo Doutor da Igreja (Vatican News)

O arcebispo de Reggio Calabria - Bova, sul da Itália, dom Fortunato Morrone, traça um perfil do santo purpurado inglês, que será proclamado Doutor da Igreja.

Por Fortunato Morrone

John Henry Newman será doutor da Igreja. Finalmente! Após a canonização do beato cardeal, proclamada pelo Papa Francisco em 13 de outubro de 2019, esperava-se que a Igreja, na pessoa do Santo Padre Leão XIV, o reconhecesse como um de seus doutores (note-se que, em 1879, Leão XIII o elevou ao cardinalato). Imagino, todavia, um Newman de certo modo embaraçado e surpreso com tal reconhecimento da Igreja.

Consciente de seu caráter e limitações culturais, mas também de seu notável potencial intelectual e moral, Newman, já idoso, em uma correspondência, após listar uma série de qualidades e dons específicos exigidos de um teólogo, confidenciou: "Isso eu não sou, nem jamais serei. Como São Gregório Nazianzeno, prefiro trilhar meu próprio caminho e dispor do meu tempo [...] sem compromissos urgentes" (LD XXIV, 213).

Nesse sentido, Newman foi, antes de mais nada, um pastor e pregador de rara delicadeza linguística e comunicativa, e um homem de fé de notável cultura e refinada inteligência que - na contingência de polêmicas culturais ou na defesa detalhada desta ou daquela questão teológica ou filosófica - soube expor as razões da esperança cristã em toda a sua plenitude, mas com um estilo e uma agudeza de reflexão que revelam a grandeza de seu espírito, capaz de elevar o tom do debate religioso, social, educacional ou cultural para ampliar o horizonte cognitivo, racional e de fé de seus leitores ou ouvintes, fossem eles a favor ou contra ele.

Mas a Igreja não se engana: Newman será doctor Ecclesiae porque, nas palavras de São Paulo VI, ele é reconhecido como "um farol cada vez mais luminoso para todos os que buscam uma orientação clara e uma direção segura em meio às incertezas do mundo moderno" (Discurso aos especialistas e estudiosos do pensamento do Cardeal Newman, 7 de abril de 1975).

Leitor assíduo e discípulo dos Padres, como eles, Newman alimentou e motivou seu exercício e ministério teológicos, haurindo continuamente, por meio da oração, da escuta e do estudo das Escrituras. Se com sua vida de fé, Newman testemunhou a beleza e a praticabilidade do Evangelho, com sua reflexão teológica, o presbítero anglicano e professor em Oxford, e mais tarde presbítero católico oratoriano, ofereceu argumentos convincentes em favor da credibilidade, solidez e sabedoria da fé.

"Um gênio complexo, poeta e místico" (Bremond), líder do Movimento de Oxford durante a era anglicana, Newman foi uma referência teológica confiável, apesar de anos de desconfiança entre seus compatriotas, para a comunidade católica renascida na Inglaterra após sua dolorosa, mas lúcida passagem para a Igreja de Roma. Defendendo a liberdade de consciência em nome de uma fé incondicionalmente aberta à "luz suave" da Verdade e dialogando dialógica e criticamente com as correntes do pensamento religioso, filosófico e teológico da era vitoriana, Newman soube conjugar magistralmente a relação entre fé e razão, aspecto crucial do pensamento ocidental, com uma abordagem mais fenomenológica-personalista do que metafísica. Abriu, assim, novos caminhos para a pesquisa teológica, chamada a oferecer razões para a esperança que os crentes, especialmente os simples, são convidados a testemunhar, ontem e hoje, nesta história humana amada por Deus. E aos simples, Newman dedicou sua Gramática do Assentimento (1870), que o envolveu por toda a vida, seguindo as linhas programáticas essenciais já delineadas nos Quinze Sermões Universitários, proferidos entre 1830 e 1843.

Atualmente, sua obra, no horizonte da amizade entre as razões da fé, fundadas na Revelação, e as exigências da razão, oferece-nos a visão de uma fé jubilosa que dá confiança à razão diante do relativismo e o cientificismo atual.

Entre outras obras teológicas de Newman, destacamos o Ensaio sobre o desenvolvimento da doutrina cristã (1845), concluído pouco antes de sua passagem para o catolicismo, no qual a categoria de Tradição é evidenciada à luz da história secular da Igreja de forma dinâmica e criativa; a Ideia de Universalidade (1854), fruto de sua experiência como reitor da nova Universidade de Dublin, obra na qual os temas da unidade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade do conhecimento em diálogo com a teologia (ver Veritatis Gaudium 4, aqui Newman é citado juntamente com Rosmini) são antecipados no contexto de seu tempo. Ainda, Sobre a consulta dos fiéis em matéria de doutrina (1859), no qual a visão eclesiológica — delineada em The Prophetical Office, publicado em 1837 para dar consistência teológica ao anglicanismo, mas retomado e corrigido no Terceiro Prefácio da Via Media (1873) — nos ajuda a compreender a natureza sinodal da Igreja hoje. E, por fim, a Carta ao Duque de Norfolk, sobre o delicado tema da consciência, o lugar do coração na experiência de si mesmo e de Deus (God and myself – “Deus e eu mesmo”), mas entendido dentro do ato de fé do crente, como uma assunção subjetiva e responsável da confissão objetiva de fé garantida pela Igreja.

Esses textos permanecem um ponto de referência hoje, tanto para o amplo debate teológico contemporâneo quanto para a missão da Igreja neste mundo em constante mudança, que apresenta novos desafios para a inteligência da fé e oportunidades inéditas para a proclamação do Evangelho, mas em uma dinâmica relacional que, no crente, envolve principalmente o coração que se comunica com o coração (cor ad cor loquitur) e que certamente envolve a inteligência.

*Arcebispo de Reggio Calabria – Bova

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 31 de julho de 2025

HISTÓRIA DOS JUBILEUS: O Papa penitente sobre as memórias dos apóstolos

História dos Jubileus: A Porta Santa (A12)

HISTÓRIA DOS JUBILEUS

Arquivo 30Dias nº 02 - 1999

O Papa penitente sobre as memórias dos apóstolos

O Ano Santo de 1575 foi o primeiro Ano Santo após o Concílio de Trento. Foi preparado por Gregório XIII em conjunto com o Arcebispo de Milão, Carlo Borromeo. O povo ficou maravilhado ao ver o Papa, já idoso, realizar seis peregrinações às quatro basílicas patriarcais.

por Serena Ravaglioli

O Papa Gregório XIII Boncompagni certamente compreendeu a importância de usar o Ano Santo de 1575 para demonstrar o vigor renovado da Igreja e o novo clima espiritual estabelecido após a conclusão do Concílio de Trento e a promulgação dos decretos conciliares. O Pontífice, portanto, começou a se preparar para o Jubileu com grande solicitude em 1573, logo após sua eleição.

As medidas organizacionais habituais foram tomadas, no que diz respeito a alojamento e suprimentos, regulamentos para fortalecer a ordem e a segurança públicas, e a construção e restauração de pontes, estradas e edifícios. Mas a ênfase estava especialmente nos aspectos morais e espirituais da preparação, para que a cidade pudesse oferecer aos peregrinos uma nova imagem de austeridade e rigor, distante da pompa e do mundanismo que caracterizaram a primeira metade do século. Por essa razão, entre outras coisas, as celebrações de Carnaval e todos os outros eventos semelhantes foram abolidos pela primeira vez; o dinheiro normalmente alocado para sua organização foi, por decreto papal, usado pelos Conservadores para obras de caridade. Recomendações particularmente urgentes foram dirigidas aos cardeais: em um consistório secreto realizado em novembro de 1574, o Papa exortou os príncipes da Igreja a não causarem escândalo com seu comportamento e o de suas famílias: "Que se esforcem para erradicar de suas almas, pela graça divina, as paixões desordenadas e para abandonar os maus hábitos, se houver."

A promulgação da bula de indiction Dominus ac Redemptor noster Iesus ocorreu em 20 de maio de 1574, Dia da Ascensão, mais cedo do que o habitual; a escolha da festa foi claramente simbólica, aludindo à abertura das portas do céu garantida aos pecadores pela indulgência do Jubileu. Imediatamente depois, breves anunciando o Jubileu foram enviados a todos os bispos da cristandade, e cartas-convite especiais foram enviadas aos príncipes católicos. Todos os padres de Roma e da Itália foram instados a explicar o significado do Ano Jubilar aos seus fiéis.

Gregório XIII reservou para si o papel de peregrino modelo, um exemplo de fé e devoção. Na véspera de Natal, ele iniciou o Ano Santo com a cerimônia solene da abertura da Porta Santa, que se tornara costumeira. Em 3 de janeiro, ele fez a peregrinação prescrita às quatro Basílicas pela primeira vez, uma peregrinação que repetiu mais cinco vezes ao longo do ano. Ele causou profunda impressão e admiração quando, apesar de sua idade avançada (tinha setenta e cinco anos), subiu a Escada Santa de joelhos e caminhou da Porta San Paolo até a Basílica de Ostuni. Ele era então incansável em assistir a todas as solenidades religiosas e em conceder audiências, às quais dedicava várias horas por dia.

Um digno companheiro do Papa, tanto na preparação quanto na celebração do Ano Santo, foi São Carlos Borromeu, Arcebispo de Milão. Já no outono de 1574, Gregório XIII mandou chamá-lo para estar ao seu lado nessa ocasião. Ainda antes, em setembro, São Carlos havia endereçado uma carta pastoral à sua diocese na qual, explicando a importância e as origens da prática do Jubileu, exortava-os a fazer a peregrinação a Roma da forma mais santa possível: "Embora nestes nossos tempos infelizes [...] o exercício religioso da peregrinação tenha diminuído muito, não deveis, portanto, retirar-vos [...] antes, entusiasmar-vos ainda mais, pois este é precisamente o tempo em que os verdadeiros católicos [...] devem mostrar zelo pela sua fé e piedade, imitando e renovando a devoção ancestral."

Convocado pelo Papa, São Carlos partiu em sua jornada, pretendendo que esta também fosse uma devota preparação para o Jubileu. Passando por caminhos acidentados e difíceis, sem se importar com o frio e nunca deixando de observar o jejum do Advento, visitou Camaldoli, La Verna, Vallombrosa e Monte Oliveto, passando noites inteiras imerso em oração em cada um desses santuários. Chegando finalmente a Roma em 21 de dezembro, após apresentar-se ao Pontífice, retirou-se para o convento de Santa Maria dos Anjos, onde passou os dias que antecederam a véspera de Natal em oração e exercícios penitenciais, estando ao lado de Gregório XIII na abertura da Porta Santa.

Ele fez as quinze visitas às quatro Basílicas, prescritas para peregrinos não romanos, sempre a pé, às vezes descalço. Rezou em voz alta durante todo o percurso, sem nunca perder a concentração, limitando-se a acenar rapidamente para aqueles que o cumprimentavam, e até mesmo omitindo essa saudação se fossem amigos ou parentes. Foi o caso dos príncipes Colonna, um dos quais era seu cunhado: o cardeal fingiu não vê-los, embora tivessem desembarcado da carruagem para prestar suas homenagens. Além da visita habitual às Basílicas, Carlos Borromeu fez várias visitas às Sete Igrejas, de acordo com o costume recentemente reintroduzido por São Filipe Néri, e também visitou todas as outras igrejas onde alguma relíquia estava preservada ou que eram locais de particular devoção entre o povo. Todos os dias, além disso, ele ia à Escada Santa e a subia de joelhos.

Todos eram obviamente muito admirados por seu comportamento, acompanhado de constantes atos de generosidade e caridade, como a disponibilização de seu palácio cardinalício em Santa Prassede aos peregrinos. A veneração por ele crescia a cada dia. O biógrafo de Borromeo, Giovan Pietro Giussano, de quem aprendemos todas essas informações, relata em particular que Cesare Baronio, devoto do Arcebispo de Milão, como muitos dos seguidores de São Filipe Neri, queria guardar para si os sapatos que São Carlos usara em suas visitas jubilares e os guardava como uma herança preciosa e até milagrosa.

O exemplo do arcebispo foi seguido por muitos de seus diocesanos, e de fato os milaneses constituíam um dos maiores grupos entre os que se reuniam em Roma. O Ano Santo de 1575, no entanto, foi muito bem frequentado no geral: dados bastante confiáveis nos permitem estabelecer um número de aproximadamente 400.000 peregrinos. Para aliviar o desconforto das multidões, Gregório decretou que o número de visitas poderia ser reduzido se fossem realizadas em procissão. As longas procissões de peregrinos rezando e cantando tornaram-se, assim, um espetáculo característico da vida urbana.

Entre os muitos devotos que vieram a Roma, podemos também recordar o triste caso do príncipe herdeiro Carlos Frederico de Cleves. Conhecido por sua piedade, ele compareceu à cerimônia inaugural na Basílica de São Pedro; no início de janeiro, recebeu a espada e o chapéu abençoados do Papa, um presente honorário comumente reservado a reis e imperadores; Gregório XIII, de fato, nutria grandes esperanças de influenciar a conversão dos príncipes protestantes alemães por meio de Carlos Frederico. Mas, poucos dias depois, o jovem adoeceu com varíola e faleceu em 9 de fevereiro. O Papa ordenou que ele fosse sepultado com todas as honras e a maior pompa na igreja nacional alemã de Santa Maria dell'Anima.

Os frutos esperados daquele Ano Santo certamente foram colhidos: as opiniões dos contemporâneos eram de lisonjeira admiração pelo "silêncio, fervor e devoção" que caracterizavam Roma, seus habitantes e visitantes; e também houve muitos casos de conversões. Os Avisos de Roma (uma espécie de crônica diária dos eventos mais importantes que ocorreram na cidade) observam : «Devido ao exemplo de tantas obras santas que estão sendo feitas em Roma, alguns tramontani [peregrinos vindos de além dos Alpes] que estavam distantes dela devido aos seus erros retornaram espontaneamente à fé cristã».

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Zezinho sobre católicos politicamente radicais: “são separatistas”

Padre Zezinho | Divulgação

Aleteia Brasil - publicado em 08/10/19 - atualizado em 31/07/25

"A Igreja já canonizou mais de 400 santos que foram políticos. Mas há um tipo de católico que aceita qualquer catequese, menos a política."

O pe. Zezinho postou o seguinte comentário na sua página do Facebook a respeito da radicalização ideológica e política entre católicos:

São separatistas radicais

Nós aqui e eles lá

Há um tipo de católico que aceita qualquer catequese, menos a política. A Igreja já canonizou mais de 400 santos que foram políticos.

Alguns foram reis, rainhas, prefeitos, governadores e administradores. Outros enfrentaram ditadores e reis e foram mortos ou exilados por protestarem contra o mau governante ou imperador.

São João Batista denunciou o rei em público e foi decapitado por isso. A Igreja nunca escapou do fardo da política: ou havia fiéis em favor do governo ou contra o governo. E por mais neutro que o bispo ou o pároco ou pregador se mostrasse, sempre havia o fiel que escrevia ou gritava contra o bispo ou padre porque não falou em favor do seu partido.

Por isso é que no Evangelho de João há uma longa oração de Jesus pela UNIDADE dos seus discípulos.

Ele sabia que se dividiriam por razões políticas ou religiosas. O demônio da divisão e da separação sempre tentou os seguidores de Jesus!

E os mais engajados na política quase sempre perderam a capacidade de dialogar com os do outro lado!

Grande número de católicos diz que odeia política, mas, na verdade, odeia quem propõe diálogo. Não querendo nada com os do outro lado, atacam quem propõe encontros e diálogos com outra religião ou com outras correntes políticas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/10/08/pe-zezinho-sobre-catolicos-politicamente-radicais-sao-separatistas/

Cardeal Newman será proclamado Doutor da Igreja

Tapeçaria representando o cardeal John Henry Newman, exposta na Basílica de São Pedro no dia de sua canonização, ocorrida em 2019 (CBCEW/Marcin Mazur)

Uma nota da Sala de Imprensa Vaticana informa que o título será conferido em breve ao purpurado que viveu no século XIX, depois que Leão XIV confirmou o parecer da plenária de cardeais e bispos, membros do Dicastério das Causas dos Santos.

Alessandro De Carolis – Vatican News

Um dos grandes pensadores modernos do cristianismo, protagonista de um caminho espiritual e humano que marcou a Igreja e o ecumenismo do século XIX, autor de reflexões e textos que demonstram como viver a fé é um diálogo cotidiano "de coração a coração" com Cristo. Uma vida dedicada com energia e paixão pelo Evangelho - que culminou em 2019 com sua canonização - em breve renderá ao cardeal inglês John Henry Newman a proclamação de Doutor da Igreja.

A notícia foi anunciada em um comunicado da Sala de Imprensa Vaticana esta quinta-feira, 31 de julho, que afirma que, durante a audiência concedida ao cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério das Causas dos Santos, Leão XIV "confirmou o parecer positivo da Sessão Plenária dos Cardeais e Bispos, Membros do Dicastério das Causas dos Santos, sobre o título de Doutor da Igreja Universal que em breve será conferido a São John Henry Newman".

“Das sombras e das figuras à Verdade”

“Guia-me, ó Luz suave; através da escuridão, guia-me. Escura é a noite, distante é a casa: guia-me... Teu poder sempre me abençoou; mesmo agora, ele me guiará através dos pântanos e selvas, até que a noite se desvaneça e a aurora sorria em meu caminho.” John Henry Newman, nascido em 1801, tinha 32 anos quando, ao retornar à Inglaterra após uma longa viagem pela Itália, esta comovente oração surgiu de seu coração. Havia oito anos que era padre anglicano, mas, acima de tudo, era uma das mentes mais brilhantes de sua Igreja. Um homem que cativa com suas palavras, faladas e escritas.

Sua viagem à Itália em 1832 aprofundou sua busca interior. John Henry Newman ansiava por conhecer as profundezas de Deus, sua “Luz suave”, que para ele era também a luz da Verdade. A verdade sobre Cristo, sobre a verdadeira natureza da Igreja, sobre a tradição dos primeiros séculos, quando os primeiros Padres falavam a uma Igreja ainda não dividida. Oxford - o centro de propagação de sua fé e onde o futuro santo viveu e trabalhou - tornou-se um caminho que levou cada vez mais suas convicções ao catolicismo. Em 1845, em seu Ensaio sobre o desenvolvimento do dogma, ele destilou o percurso espiritual que havia produzido nele a Luz que tanto buscava: a de que a Igreja católica de seu tempo era a mesma que vinha do coração de Cristo, a Igreja dos mártires e dos antigos Padres, que, como uma árvore, cresceu e se desenvolveu ao longo da história. Ele então pediu para se tornar católico, o que fez em 8 de outubro de 1845, e mais tarde escreveu, relembrando aquele momento: "Para mim, foi como entrar em um porto após uma viagem tempestuosa. Minha felicidade é ininterrupta."

O fascínio de São Filipe Neri

Ele retornou à Itália em 1846 para ingressar no Colégio de Propaganda Fide como um simples seminarista - ele, um teólogo e pensador de renome internacional. "É tão maravilhoso estar aqui", observou. “É como um sonho, mas tão tranquilo, tão seguro, tão feliz, como se eu sempre tivesse pertencido àquele lugar.” Em 30 de maio de 1847, o ciclo de sua vocação se completou com sua ordenação sacerdotal. Durante esses meses, Newman ficou fascinado pela figura de São Filipe Néri - outro, como ele, “adotado” por Roma - e, quando Pio IX o encorajou a retornar à sua terra natal, John Henry fundou ali um Oratório com o nome do santo, ao qual era ligado por uma notável propensão ao bom humor. Esse bom humor não foi atenuado pelas várias provações que enfrentou ao longo dos anos, quando várias obras que iniciou em sua terra natal para radicar o catolicismo pareciam estar dando em nada. Sua mente continuou a produzir textos brilhantes em apoio e defesa do catolicismo, mesmo quando duramente atacado. Em 1879, o Papa Leão XIII o criou cardeal. Ao saber disso, chorou de alegria: “As nuvens caíram para sempre.” Ele continuou seu apostolado com a intensidade habitual até 11 de agosto de 1890, dia de sua morte. Em seu túmulo, ele quis apenas seu nome inscrito, juntamente com algumas poucas palavras que capturam o arco extraordinário de sua vida de 89 anos: Ex umbris et imaginibus in Veritatem, "Das sombras e das figuras à Verdade".

"Cor ad cor loquitur"

Bento XVI o beatificou em 2010, recordando o homem de profunda oração que "viveu aquela visão profundamente humana do ministério sacerdotal em seu dedicado cuidado pelas pessoas (...) visitando os doentes e os pobres, confortando os abandonados, cuidando dos encarcerados". Em 2019, o cardeal Newman foi proclamado santo pelo Papa Francisco, que, na encíclica Dilexit nos, explica por que o cardeal inglês escolheu a frase "Cor ad cor loquitur" como lema: porque, para além de toda dialética, o Senhor nos salva falando ao nosso coração a partir do seu coração. "Essa mesma lógica - afirma Francisco - significava que, para ele, um grande pensador, o lugar do encontro mais profundo consigo mesmo e com o Senhor não era a leitura ou a reflexão, mas o diálogo orante, de coração a coração, com Cristo vivo e presente. Portanto, Newman encontrou na Eucaristia o Coração vivo de Jesus, capaz de libertar, dar sentido a cada momento e infundir no homem a verdadeira paz".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Jovens de todo o mundo vivenciam o Jubileu em Roma

Foto: Vatican Media

JOVENS DE TODO O MUNDO VIVENCIAM O JUBILEU EM ROMA – MAIS DE 6 MIL BRASILEIROS PARTICIPAM

30/07/2025

Roma acolhe, nesta semana, milhares de pessoas para o Jubileu dos Jovens, que ocorre até o dia 3 de agosto, com diversas atividades. A peregrinação faz parte dos grandes eventos do Ano Jubilar e é considerado o maior em número de participantes. Na terça-feira, a missa de abertura encheu a Praça São Pedro e foi seguida de uma visita surpresa do Papa aos jovens.

A Eucaristia foi presidida pelo pro-prefeito do Dicastério para a Evangelização, dom Rino Fisichella, diante de aproximadamente 120 mil jovens. Em sua homilia, o responsável pela organização do Jubileu destacou que a fé é um encontro com Jesus e exortou os jovens a serem construtores da paz em mundo marcado pela violência.

“A fé é um encontro, mas o primeiro que vem ao nosso encontro é Jesus. Ele vem até nós quando quer, como quer, no tempo estabelecido por Ele, não por nós. Nós somos chamados apenas a responder. Uma vez que percebemos que Ele vem ao nosso encontro, somos também chamados a caminhar em direção a Ele”, afirmou.

Fisichella motivou os jovens a perceber a presença do Senhor e viver o jubileu com alegria e espiritualidade. “Estamos aqui para transmitir a fé e compreender o grande valor que Jesus Cristo tem em nossa vida”, disse, motivando a contemplar a cidade e suas obras que são expressão da fé.

Surpresa do Papa

Ao final da missa, o Papa Leão XIV fez questão de comparecer à Praça São Pedro para saudar a juventude. A bordo do papamóvel, o Santo Padre percorreu os corredores da praça vaticana e toda a Via da Conciliação, acenando e recebendo o afeto dos presentes, que acolheram com grande alegria a surpresa do Pontífice. Ele dirigiu aos fiéis palavras de acolhimento e fez um convite à oração pela paz no mundo em inglês, italiano e espanhol:

“Esperamos que todos vocês sejam sempre sinais de esperança! Hoje estamos começando. Nos próximos dias, vocês terão a oportunidade de ser uma força que pode levar a graça de Deus, uma mensagem de esperança, uma luz para a cidade de Roma, para a Itália e para todo o mundo. Caminhemos juntos com a nossa fé em Jesus Cristo. E o nosso grito deve ser também pela paz no mundo. Digamos todos: Queremos a paz no mundo!”

O Papa os motivou a rezar pela paz e a serem “testemunhas da paz de Jesus Cristo, da reconciliação, essa luz do mundo que todos estamos buscando”.

Foto: Vatican Media

Brasil presente

De acordo com o bispo de Imperatriz (MA) e presidente da Comissão para a Juventude da CNBB, dom Vilsom Basso, são esperados mais de 500 mil jovens de todo o mundo nesses dias em Roma. Do Brasil, são 6500 jovens presentes.

Foto: Paulo Augusto Cruz/CNBB
Foto: Paulo Augusto Cruz/CNBB

O bispo de Macapá (AP), dom Antônio Assis Ribeiro, partilhou uma reflexão sobre a experiência que os jovens terão durante as atividades do Jubileu. Para ele, os jovens terão “uma experiência extraordinária de abertura para o mundo, de percepção da beleza da sociedade, das culturas, da Europa, dos povos”. Isso tudo, completa, “gera um aporte muito grande do ponto de vista cultural” e para o crescimento e a formação humana.

“Creio que os jovens vão aproveitar muito dessa experiência tão rica, tão significativa. Vai crescer neles o amor à Igreja, a paixão por Jesus Cristo e o envolvimento concreto na promoção do reino de Deus”, afirmou.

Dom Antônio ainda ressaltou que o Jubileu da Esperança “é muito importante porque trata daquilo que está no âmago do nosso coração e da nossa mente, que é a esperança”.

https://youtu.be/nBdc2jyhbvg

Luiz Lopes Jr | Com informações e fotos de Vatican News

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O papel do apóstolo Pedro, a catequese de Francisco em entrevista inédita

Papa Francisco durante entrevista ao canal “El Sembrador, Nueva Evangelización” | Vatican News.

Uma gravação de 2021, que seria incluída em um documentário, será transmitida pelo canal de televisão ESNE “El Sembrador, Nueva Evangelización”. O Pontífice, meditando sobre as passagens bíblicas dos diálogos entre Jesus e seu discípulo, expressou novamente o desejo de que a Igreja seja uma humilde servidora em meio ao mundo.

Vatican News

A total confiança em Deus, a consciência de ser frágil e pecador, um novo chamado aos sacerdotes para se colocarem a serviço de todos, sua admiração pelos mártires contemporâneos e sua preocupação com os migrantes são alguns dos temas que o Papa Francisco abordou em 2021, na conversa com Noel Díaz na Casa Santa Marta. Díaz é o fundador da associação de fiéis "El Sembrador, Nueva Evangelización", que anuncia a Palavra de Deus por meio da televisão e do rádio.

Abaixo, a transcrição completa da entrevista:

Hoje o senhor é o sucessor deste homem chamado Simão. O que esta Escritura lhe recorda Santidade?

Tantas coisas! Que Jesus chama a Simão em meio ao povo, não o separa do povo. Há muita gente e Jesus prega, e as pessoas vão ouvir Jesus porque tem sede da Palavra de Deus. E Jesus fala como alguém que tem autoridade. Primeiro, Jesus sempre chama seus sacerdotes do povo, do meio do povo. Se Pedro tivesse esquecido de suas origens, teria traído o plano de Jesus, teria fundado uma elite. Não! O pastor deve estar com as ovelhas. É por isso que ele é pastor. Segundo, os sinais que Jesus realiza, não apenas a autoridade de sua Palavra. Para que tenham confiança n'Ele, Ele realiza aquele milagre maravilhoso, e ninguém esperava por isso. Onde está Jesus, sente-se a sua força; e Pedro, quando duvidar, quando não tiver a força, se recordará disso, do milagre, de que o Senhor é capaz de mudar as coisas. O que faz Pedro quando vê que Jesus faz isso? Ele se ajoelha diante d'Ele, se sente um nada, humilde, reconhece ser limitado, ser pecador. “Senhor, afasta-te de mim, porque sou pecador.” E é aí que Jesus chega, onde quer chegar. O caminho de Pedro é estar com o povo para ouvir o Senhor. Ir pescar segundo a ordem do Senhor e realizar este milagre. Terceiro, reconhecer a sua pequenez, o seu ser nada, e dizer ao Senhor: “Afasta-te, porque sou pecador.” “Porque és pecador, porque me seguiste, agora farei de ti pescador de homens.” Este é o quarto passo. Quando Jesus o unge, bispo, sacerdote, Ele o unge porque ele é pastor. Ele não o unge para promovê-lo, para que ele seja chefe de um escritório. Ele não o unge para que organize o país politicamente. Não. Ele o unge para ser pastor... e [Pedro] deixa tudo.

E como o senhor se sente ao assumir o lugar de Pedro?

Sinto que o Senhor acompanha, que é Ele quem escolhe, é Ele quem iniciou esta história. Comigo, a iniciou Ele, convidou-me Ele, acompanhou-me Ele. E não obstante as minhas infidelidades, porque sou um pecador como Pedro, Ele não me abandona. Então sinto que Ele cuida de mim.

Noel introduz a leitura bíblica em que Jesus pergunta aos seus apóstolos o que as pessoas dizem sobre quem Ele é. Depois, Pedro O reconhece publicamente como o Messias.

Ali, Jesus começa com uma pesquisa, quer escutar. E diz: “o que o povo diz sobre mim?” “Dizem que você é um profeta, que é João Batista que ressuscitou”. Depois de perguntar o que diz o povo, Jesus pergunta a eles: “e vocês?”, ou seja, interpela-os. Jesus se dirige a nós nos interpelando: “O que você diz de si mesmo, o que você diz de mim?” É o diálogo com Jesus. Ele nos chama pelo nome. E Pedro já tinha se destacado como o líder, porque Jesus lhe havia dito no primeiro dia, quando o conheceu e lhe mudou o nome: “você é Simão, mas será chamado Pedro”. Ele colocou-o como a pedra de sustento do grupo. E Pedro faz aquela profissão de fé, se compromete completamente. Imaginemos a cena de dizer a uma pessoa: “você não é nem Fulano nem Sicrano, você é Deus, o Filho de Deus”. Se você disser isso a alguém hoje, te internam num hospício, dizem que está fora de si. Ele se comprometeu totalmente, e Jesus explica por que teve a coragem de se comprometer: “porque o que você disse não foi revelado por nenhuma ciência, mas pelo Pai através do seu Espírito”. E então, quando vê Pedro se comprometendo assim, confirma-o em seu nome: “Você, Simão, filho de Jonas, que é pedra, sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Sobre a fragilidade de um homem que tem a solidez de uma pedra na medida em que se apoia na palavra de Jesus. Quando se afasta da palavra de Jesus, é como qualquer outro homem, não tem a solidez da pedra. Por isso Ele o escolhe, porque tem a solidez da pedra. Pedro fica maravilhado com o que Jesus lhe diz: “Foi o meu Pai quem te revelou isso”. E então Jesus diz: “pois bem, saibam que agora irei a Jerusalém e lá me esperam coisas ruins. Vão me julgar, me matar, me crucificar, mas eu ressuscitarei”. Então Pedro, que já se sente um pouco o chefe do grupo, o chama de lado. O Evangelho diz: “Senhor, por favor, isso não”. E Jesus, que havia elogiado Pedro, que lhe tinha dito: “você é o receptor da revelação do meu Pai”, o repreende. Diz: “Afasta-te de mim, Satanás!”, o pior insulto. Por quê? Porque ele quer afastá-lo do caminho da cruz. Essa é a grande correção feita ao primeiro Papa, a Pedro. Também a nós, Papas, Jesus, se às vezes nos afastamos do seu plano de salvação, diz: “Esse não é o meu caminho, é o caminho de Satanás”. Por quê? Porque somos pecadores e podemos nos desviar. A história mostra alguns Papas que preferiram um caminho diferente, ainda que nunca, nunca tenham errado na fé. É verdade, nunca, mesmo que tenham levado uma vida mundana. E quando [Pedro] erra na fé, Jesus diz: “Não, isso é de Satanás. O meu caminho é a cruz”. Ou seja, minha confiança está na palavra de Jesus que me dá firmeza quando me escolhe e me dá um tapa quando erro.

Papa Francisco com jornalista Noel Díaz na Santa Marta

É muito difícil, às vezes, enfrentar os desafios e os ataques do mundo secular, mas tenho certeza de que é mais doloroso enfrentar os ataques internos. É disso que se trata quando Ele diz: “Tu és Pedro”. Você agora é o sucessor de Pedro e, mesmo que venham todos esses ataques, as forças não prevalecerão, diz a Palavra de Deus.

Que forças Ele diz que não prevalecerão? O que Jesus diz?

As forças do mal.

Do mal, do inferno! Ou seja, quando se deposita a esperança não na revelação do Pai nem na escolha de Jesus, mas em outros meios, no dinheiro, por exemplo. “Estamos bem porque temos dinheiro”. Imaginemos um padre, um bispo que diz: “Nossa igreja vai bem, temos leigos que nos dão dinheiro e tudo segue adiante”. Não deposite sua esperança aí, porque senão desabará. São forças do inferno, não são as forças da revelação do Pai. A Jesus o insultaram, o crucificaram e se fizeram isso com Ele, quem sou eu para que não façam comigo? Se trataram assim o Mestre, qualquer discípulo, qualquer um de vocês, nem precisa ser Papa, não pode esperar outro tratamento. Tantos mártires na Igreja nos ensinam isso.

Noel Díaz o deixa reagir diante do texto de João 21, no qual Jesus pede a Pedro se o ama, para depois confirmá-lo na sua missão, mas também para lhe dizer que o caminho não será fácil.

Uma confirmação e uma promessa. Quando Pedro o havia professado, Jesus lhe havia prometido que as portas do inferno não prevaleceriam, que permaneceria firme até que estivesse sobre a pedra. Aqui confirma isso três vezes. Pedro se entristece porque se recorda das três vezes em que o negou, e então se entristece, e finalmente o Senhor o confirma pela terceira vez. Ele lhe diz talvez “de agora em diante nada de ruim irá lhe acontecer, agora terá todo o poder, agora terá todo o dinheiro, agora as pessoas o seguirão”? Diz isso talvez a ele? Não! Ele lhe diz: “vá em frente, porque quando for velho irá para onde não quiser, o levarão para onde não quiser, o despojarão e acabará como eu, crucificado”. O Senhor promete a Pedro o seu caminho, o caminho da cruz, o caminho da entrega total, o caminho de colocar a confiança somente Nele. É interessante que, quando Pedro professa que Jesus é o Filho de Deus – a força do Espírito Santo o faz professar isso -, depois ele perde o rumo. E quando Jesus fala sobre a cruz, tenta convencê-lo do contrário. Pedro cai em um pensamento mundano e a mesma coisa acontece aqui. Jesus lhe diz isso, ele aceita, [Pedro] então se volta para João e pergunta: “Senhor, já que está aqui, o que será dele?” É o Pedro fofoqueiro, o Pedro que se esquece naquele momento do que o Senhor lhe disse para fazer fofoca sobre outra pessoa. Somos assim, mas o Senhor cuida de nós com o seu poder, mesmo quando é preciso enfrentar o martírio, nos acompanha com a sua mão. E por falar em martírio, gostaria de concluir falando sobre os mártires de hoje.  Há mais mártires hoje do que no início da Igreja. Mártires cristãos, mártires que, pelo simples fato de serem cristãos, são decapitados e professam Jesus. Mártires que estão na prisão por ter professado Jesus. São nossos irmãos! É a Igreja dos mártires. É esta a Igreja que triunfa, não a Igreja com dinheiro nos bancos. É esta que triunfa, a Igreja dos mártires, do testemunho. Porque martírio significa testemunho. Mencionei aqueles que dão suas vidas, mas até mesmo aquele homem, aquela mulher que trabalha todos os dias para educar os próprios filhos na vida cristã e para dar-lhes testemunho, é um mártir. “Não, padre, como pode ser um mártir se não o mataram?” Não, mártir significa testemunha. Martírio é testemunho, é a tradução do termo grego. Qualquer testemunha de Jesus é mártir, ou seja, dá testemunho.  E também ele dá testemunho da Igreja. Que Deus abençoe todos vocês e rezem por mim, por favor.

Noel Díaz pede a bênção para todos.

E a todos vocês, que estão assistindo e ouvindo esta conversa, desejo que o Senhor abra o coração de vocês e permita que a sua Palavra entre ali. Portanto, os abençoo de todo coração. Eu os abençoo. Dou-lhes minha bênção como pai, como irmão mais velho, como servo de todos vocês. Que os abençoe Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo. E, por favor, rezem por mim. Obrigado.

(Noel Díaz pede uma segunda bênção para os migrantes). Tudo isso representa os migrantes, eu disse a eles que pediria a sua bênção.

Pensando nos migrantes, naqueles que tiveram que deixar a própria pátria, que são acolhidos por muitas pessoas boas ou pessoas indiferentes, que estão no caminho do exílio, longe da própria pátria, que sentem saudade dos amigos, da família, da beleza da pátria: a todos eles, dou a minha bênção em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Leão XIV: responder ao conflito com gestos de fraternidade

Pela convivência comum (Vatican News)

Na intenção de oração para o mês de agosto, o Papa Leão XIV pede para rezar a fim de que "as sociedades em que a convivência parece mais difícil não sucumbam à tentação do confronto por razões étnicas, políticas, religiosas ou ideológicas".

https://youtu.be/fl4zY-8og-4

Vatican News

"Pela convivência comum" é a intenção de oração do Papa Leão XIV para o mês de agosto na mensagem de vídeo divulgada nesta terça-feira (29/07).

O Pontífice escolheu um tema que é um desafio para a humanidade e para a missão da Igreja em nossos dias: os conflitos no meio de nossas sociedades. Por isso, pede que se reze “para que as sociedades em que a convivência parece mais difícil não sucumbam à tentação do confronto por razões étnicas, políticas, religiosas ou ideológicas”.

“Jesus, Senhor de nossa história, Companheiro fiel e presença viva, que nunca te cansas de sair ao nosso encontro, aqui estamos, necessitados de tua paz.”

No vídeo, produzido pela Rede Mundial de Oração do Papa com a colaboração da Fundação Jesuíta de Comunicação, as imagens que acompanham as palavras do Papa apresentam uma viagem por divisões presentes no mundo: guerras, conflitos e violências que causam destruição, obrigam as pessoas a fugir de sua própria terra e provocam solidões existenciais. A oração do Papa descreve a atual situação:

“Vivemos tempos de medo e divisão. Às vezes agimos como se estivéssemos sozinhos, levantando muros que nos afastam uns dos outros, esquecendo que somos irmãos e irmãs.”

Ser construtores de pontes

Por isso, continua o Papa: “Envia-nos teu Espírito, Senhor, para que torne a acender em nós o desejo de compreender-nos, de escutar-nos, de conviver com respeito e compaixão”.

“Dá-nos a coragem de buscar caminhos de diálogo, de responder ao conflito com gestos de fraternidade, de abrir-nos ao outro sem temer as diferenças.”

Leão XIV pede que nos tornemos "construtores de pontes, capazes de superar fronteiras e ideologias, capazes de olhar o outro com os olhos do coração, reconhecendo em cada pessoa uma dignidade inviolável".

Há uma mensagem de esperança confiada aos jovens que celebram o seu Jubileu de 28 de julho a 3 de agosto, coincidindo com o lançamento desta edição de O Vídeo do Papa. A esperança de um futuro melhor supõe que os jovens saibam construir comunidades fraternas acolhendo uns aos outros com suas diferenças, abrindo seus corações e colocando-se a serviço dos demais.

O Papa conclui a mensagem de vídeo, pedindo ao Senhor que nos ajude "a ampliar espaços onde floresça a esperança e onde a diversidade não seja uma ameaça, mas uma riqueza que nos humaniza".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

3 Santos que lutaram contra o vício

Image by Daniel Esparza | Sora

Daniel R. Esparza - publicado em 29/07/25

Quando se trata de vício, alguns santos em particular nos mostram que o caminho para a cura não é apenas possível, mas pode até ser solo sagrado.

A Igreja não oferece os santos como super-heróis, mas como companheiros. E quando se trata de vício, alguns santos em particular nos mostram que o caminho para a cura não é apenas possível, mas pode até ser um solo sagrado. 

O vício pode parecer uma gaiola sem chave, seja um desejo, uma compulsão ou um ciclo que se repete indefinidamente. A vergonha, o isolamento e o desamparo que vêm com isso não são apenas psicológicos; eles podem pesar muito na alma. Mas a santidade não consiste em nunca cair. É sobre o que faremos a seguir. 

São Marcos Ji Tianxiang

Um respeitado médico chinês do século 19, Mark Ji Tianxiang, tornou-se viciado em ópio depois que ele foi prescrito para uma doença. Durante anos, ele tentou se libertar. Ele orou, confessou, jejuou... mas nada parecia mudar. 

No final, seu padre negou-lhe a absolvição, acreditando que ele não estava verdadeiramente arrependido. Por 30 anos, Marcos não pôde receber os sacramentos. Mesmo assim, ele continuou a ir à missa. Ele continuou a orar. 

Quando uma rebelião ligada ao grupo Boxers estourou, Marcos foi preso por ser cristão. Foi-lhe oferecida liberdade se renunciasse à sua fé, mas ele recusou. Ele foi executado junto com sua família em 1900 e, no final, escolheu a Cristo, mesmo depois de uma vida inteira de luta. 

A vida de Marcos nos mostra que o vício não substitui a fé. Você pode ser fraco e santo ao mesmo tempo. 

Santa Mônica

Muitas vezes nos lembramos de Santa Mônica como a mãe de Santo Agostinho, o Doutor da Igreja, cuja famosa conversão ocorreu após anos de rebelião. Mas o que muitas vezes é esquecido é que a própria Monica lutou contra um apego desordenado ao álcool. O próprio Agostinho conta isso em algumas passagens de suas Confissões. 

Quando jovem, ele começou a beber em segredo, uma tendência que poderia ter ido mais longe. Ela não o fez, em parte graças a uma repreensão de uma empregada que a sacudiu. Monica não apenas abandonou o hábito, mas voltou todo o seu coração para Deus. 

Sua vida posterior foi marcada por profunda oração, jejum e intercessão incansável por seu filho. Foram necessários 17 anos de esperança persistente antes que Agostinho se tornasse um crente. 

Monica nos ensina que a cura geralmente começa com honestidade, e que a mudança, embora lenta, é sempre possível. 

São Camilo

Camilo era alto, irascível e viciado em jogos de azar. Ele perdeu tudo: dinheiro, emprego, dignidade e até acabou sem-teto. Eventualmente, um ferimento na perna o forçou a ser internado em um hospital onde os pobres eram tratados como fardos. 

Esse hospital tornou-se o lugar de sua conversão. Cansado de desperdiçar a vida, Camilo dedicou-se a cuidar dos doentes e fundou uma ordem religiosa que cuidava deles com mansidão e respeito. 

Ele ainda lutava com seu temperamento. Ele continuou a carregar seus ferimentos. Mas ele deixou sua dor levá-lo a servir aos outros. Camilo demonstra que as partes de nós que gostaríamos de esconder podem se tornar a maneira de Deus curar o mundo. 

O vício não o torna hostil. Isso não o desqualifica para a graça. Estes santos – feridos, à espera e a percorrer o longo caminho – mostram-nos que Deus permanece próximo, mesmo na desordem. Especialmente em desordem. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/29/3-santos-que-lutaram-contra-o-vicio/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF