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sexta-feira, 11 de julho de 2025

A religião e as imagens de Deus

"O homem, imagem de Deus" (CNBB - Regional Nordeste 3)

A RELIGIÃO E AS IMAGENS DE DEUS 

11/07/2025

Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

No final do século passado, vários e analistas identificaram sinais do declínio da relevância da religião no mundo ocidental. A seu modo, eles ecoaram a voz de filósofos que, algumas décadas antes, propugnavam a morte de Deus e o nascimento do Homem livre e maduro, ou do ‘Super-homem’ como previa Nietzsche. O que estava em pauta era o desaparecimento da religião da arena social e dos imperativos éticos externos. 

O que vemos hoje no Brasil parece desmentir estas constatações e previsões: bancadas evangélicas nos parlamentos; marchas com Jesus e romarias diversas reunindo multidões; proliferação de pequenas e grandes igrejas, especialmente de matriz neopentecostal; aumento de grupos esotéricos e ‘seitas’ cientificistas; etc. E isso não obstante a tendência de crescimento do número de brasileiros que se declaram sem religião, como assinala o último senso do IBGE. 

Ao que parece, a fé e a noção de Deus não têm desaparecido da arena social e, especialmente, da perspectiva subjetiva dos indivíduos. O que está acontecendo é uma espécie de ‘sequestro’ da noção de Deus (e de Jesus Cristo) e a subordinação das crenças às demandas de sentido e de segurança individuais ou de grupos ideológicos obcecados pela manutenção ou pela recuperação do controle sobre a sociedade. 

Se essa percepção não estiver errada, o grande desafio que as Igrejas e comunidades cristãs precisam enfrentar hoje é ‘libertar’ a ideia de Deus e de Jesus Cristo da prisão à qual alguns grupos a conduziram. E, ao mesmo tempo, lançar as bases de um novo humanismo, marcado pela abertura radical aos outros, ao meio ambiente e ao futuro, e livre da ‘camisa de força’ do individualismo e da indiferença anunciados como virtude. 

Na verdade, esse desafio não é novo. Jesus mesmo o enfrentou, a seu modo e no seu tempo. Sua atitude firme nesse aspecto é uma das causas que o levaram à cruz. ‘Deus’ é um dos arquétipos mais poderosos da psique humana e da estruturação social, e quem domina seu conteúdo domina as pessoas e a sociedade. Por isso, a agressividade e a violência adormecidas costumam se lançar contra quem ousa mudar seu conteúdo. 

Jesus concentra sua missão no questionamento das práticas de exclusão social e religiosa vinculadas à imagem de Deus. Ele não cansa de repetir que Deus pede misericórdia, e não sacrifícios; que o estômago de uma pessoa faminta tem prioridade sobre todas as leis e instituições; que o culto não pode encobrir a violência e a indiferença; que Deus trata seus filhos e filhas conforme suas necessidades, e não segundo seus méritos. 

Desmascarando o tirano que subjaz à ideia de Deus ensinada pelos operadores da religião e das instituições, Jesus também abre caminho para um humanismo novo e radical. Sendo verdadeiro Deus, ele mesmo é o Homem verdadeiro, e, assim, anula a oposição entre o humano e o divino. O ser humano maduro não é o ‘amigo de César’, aquele que se submete por medo ou ambição, mas quem se reconhece irmão e é capaz de doar-se inteiramente pelos outros, correndo todos os riscos. O homem e a mulher são portadores de uma dignidade inalienável que nenhum erro ou condição pode anular.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: a IA deve andar de mãos dadas com o respeito dos valores humanos e sociais

Leão XIV: "a IA deve respeitar os valores humanos e sociais" (Vatican News)

Na mensagem assinada pelo secretário de Estado Vaticano, cardeal Pietro Parolin, por ocasião da Cúpula da Inteligência Artificial para o Bem 2025, em Genebra, na Suíça, o Papa reitera a necessidade de uma “governança global” das novas tecnologias. O Pontífice sublinha que as novas tecnologias não podem substituir “o discernimento moral” e a riqueza das relações autenticamente humanas.

Vatican News

Foi enviada, nesta quinta-feira (10/07), a mensagem do Papa Leão XIV para a Cúpula da Inteligência Artificial para o Bem 2025, programada de 7 a 11 de julho, em Genebra, organizada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), em parceria com outras agências da ONU e coorganizada pelo Governo suíço. 

O texto é assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que em nome do Pontífice expressa suas cordiais saudações a todos os participantes. 

A mensagem recorda que esta cúpula coincide com o 160º aniversário de fundação da UIT, e o Papa parabeniza "todos os membros e funcionários pelo seu trabalho e esforços constantes para promover a cooperação global, a fim de levar os benefícios das tecnologias da comunicação a todas as pessoas no mundo inteiro".

Conectar a família

Segundo o Papa, "conectar a família humana através do telégrafo, da rádio, do telefone, das comunicações digitais e espaciais apresenta desafios, especialmente em áreas rurais e de baixa renda, onde aproximadamente 2,6 bilhões de pessoas ainda não têm acesso às tecnologias da comunicação".

"A humanidade está numa encruzilhada, enfrentando o imenso potencial gerado pela revolução digital impulsionada pela Inteligência Artificial. O impacto desta revolução é de longo alcance, transformando áreas como educação, trabalho, arte, saúde, governança, forças armadas e comunicação", afirma o texto.

“Esta transformação histórica exige responsabilidade e discernimento para garantir que a IA seja desenvolvida e utilizada para o bem comum, construindo pontes de diálogo e promovendo a fraternidade, e assegurando que ela sirva os interesses da humanidade como um todo.”

De acordo com o Papa, "à medida em que a IA se torna capaz de se adaptar autonomamente a muitas situações, fazendo escolhas algorítmicas puramente técnicas, é crucial considerar as suas implicações antropológicas e éticas, os valores em jogo e os deveres e quadros regulamentares necessários para defender esses valores".

"Embora a IA possa simular aspectos do raciocínio humano e realizar tarefas específicas com incrível velocidade e eficiência, não pode replicar o discernimento moral ou a capacidade de formar relações genuínas", ressalta.

“Portanto, o desenvolvimento de tais avanços tecnológicos, deve andar de mãos dadas com o respeito pelos valores humanos e sociais, a capacidade de julgar com consciência limpa e o crescimento da responsabilidade humana. Não é por acaso que esta era de profunda inovação levou muitos a refletir sobre o que significa ser humano e sobre o papel da humanidade no mundo.”

Promover uma ordem mais humana

"Embora a responsabilidade pelo uso ético dos sistemas de IA comece com quem os desenvolve, gere e supervisiona, quem os utiliza também partilha essa responsabilidade", recorda o texto, afirmando que "a IA requer, portanto, uma gestão ética adequada e quadros regulamentares centrados na pessoa humana, que vão além dos meros critérios de utilidade ou eficiência". "Em última análise, nunca devemos perder de vista o objetivo comum de contribuir para essa «tranquillitas ordinis – a tranquilidade da ordem», como a chamou Santo Agostinho (De Civitate Dei), e promover uma ordem mais humana das relações sociais e sociedades pacíficas e justas a serviço do desenvolvimento humano integral e do bem da família humana", afirma o texto.

A mensagem se conclui, encorajando a "procurar clareza ética e estabelecer uma governança local e global coordenada da IA, baseada no reconhecimento comum da dignidade inerente e das liberdades fundamentais da pessoa humana. O Santo Padre assegura de bom grado suas orações pelos esforços" da Cúpula "em benefício do bem comum".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Padre em Londres pede a políticos católicos que se confessem antes de comungar

O oratório de Brompton, em Londres, Reino Unido, ao qual a London Oratory School está associada | James Grey via Flickr (CC BY-NC-ND 2.0)

Por Patrick J. Passmore*

9 de julho de 2025

Na missa dominical no Oratório de Brompton em Knightsbridge, Londres, Reino Unido, o padre reitor Julian Large implorou aos membros do Parlamento (MPs) que votaram a favor do aborto até o nascimento ou do suicídio assistido que não se apresentem para a comunhão.

Em sua homilia em 6 de julho na igreja do Imaculado Coração de Maria, o padre Large se referiu à recente situação amplamente divulgada na qual o deputado católico Chris Coghlan votou a favor do suicídio assistido e depois criticou publicamente seu pároco por lhe negar a comunhão.

Antes da votação sobre o projeto de lei para adultos com doenças terminais, o deputado liberal democrata havia sido advertido por seu pároco, padre Ian Vane, de que, se votasse a favor do suicídio assistido, seria considerado um pecador público teimoso e lhe seria negada a comunhão.

Posteriormente, na missa do fim de semana depois da votação em Westminster, o padre Vane anunciou publicamente que Coghlan havia violado a lei canônica e que lhe seria negada a comunhão.

Coghlan, então, recorreu às mídias sociais e reclamou à imprensa que seu pároco havia tentado coagi-lo quando, segundo ele, estava apenas representando as opiniões de seus eleitores.

Um participante da missa no Oratório disse ao Catholic Herald que o padre Large elogiou o padre Vane por sua coragem e caridade ao chamar o deputado ao arrependimento. E, embora o reitor tenha reconhecido que não sabia os nomes dos deputados católicos que votaram a favor de qualquer um dos projetos de lei e, portanto, não estaria em posição de lhes negar a comunhão, ele pediu que, se algum deles estivesse presente na missa, deveria primeiro se arrepender de seus pecados e receber a absolvição no sacramento da penitência antes de se apresentar para a comunhão.

O padre Large também incentivou os católicos em geral a refletirem se estavam recebendo a comunhão dignamente e a se aproximarem da comunhão como se fosse a primeira e última vez.

Em seu boletim paroquial de 30 de junho, o padre Large lamentou a falta de piedade e seriedade entre os pais de jovens católicos que recebiam a primeira comunhão no oratório.

"Entretanto, a julgar pelo comportamento de muitos adultos na igreja durante as missas de primeira comunhão, parece que em muitos casos serão as crianças que terão de dar um bom exemplo aos mais velhos. O barulho das conversas e o vai e vem em frente ao altar-mor antes e depois da missa, sem nenhum sinal de reconhecimento do Rei dos Reis presente no tabernáculo, dão a impressão de que muitos adultos (inclusive aqueles que frequentaram escolas católicas caras) tratam o evento mais como uma festa de verão do que qualquer outra coisa".

Coghlan escreveu no X: "Eu achava que um deputado podia manter sua religião em privado, mas houve certa discussão sobre a minha. Se não há espaço na Igreja Católica para aqueles que não concordam com tudo, isso é uma pena."

O Oratório de Brompton, em Londres, é uma comunidade de 10 padres que fazem parte da Congregação do Oratório de São Felipe Neri. Ele se tornou um importante foco e local de renovação do catolicismo no Reino Unido. Milhares de pessoas assistem à missa lá todo fim de semana, inclusive muitos jovens. Essa tendência reflete um crescente interesse pelas práticas tradicionais dentro da Igreja.

*Patrick J Passmore vive na costa norte da Irlanda. Ele trabalhou com o grupo St. Brigid Media em vários projetos como consultor e escritor.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63563/padre-em-londres-pede-a-politicos-catolicos-que-se-confessem-antes-de-comungar

O túmulo dos apóstolos: São Tiago Maior

São Tiago Maior | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 12 - 2008

O túmulo dos apóstolos

São Tiago Maior

A prontidão a acolher o chamado do Senhor.

de Lorenzo Bianchi

Tiago, chamado o Maior, filho de Zebedeu e irmão de João, que os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos citam em segundo lugar, depois de Pedro, ou em terceiro, depois de André ou João, está presente aos principais milagres de Jesus, à Sua transfiguração no monte Tabor e à Sua agonia no horto do Getsêmani, na vigília da Paixão. De caráter impetuoso, ele e seu irmão recebem do próprio Jesus o apelido Boanergéw (filhos do trovão). Foi o primeiro dos apóstolos a sofrer o martírio, em Jerusalém, numa data que deve estar entre os anos 42 e 44; a notícia é dada sinteticamente por Lucas nos Atos dos Apóstolos: “Nessa mesma ocasião o rei Herodes começou a tomar medidas visando a maltratar alguns membros da Igreja.

Assim, mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (At 12, 1-2). Esse Herodes é Herodes Agripa I, sobrinho do tetrarca Herodes Antipas, o Grande, e amigo de Calígula, pelo qual é enviado à Palestina com o título de rei, ali governando de 41 a 44, ano de sua morte. Como acrescenta Clemente Alexandrino (citado por Eusébio de Cesareia, História eclesiástica, II, 9, 2-3), Tiago morreu decapitado depois de ter convertido seu acusador: “Desse Tiago, Clemente, no sétimo livro das Hipotiposes, cita um detalhe digno de nota, tal como o recebeu da tradição de seus predecessores, e diz que aquele que o havia conduzido ao tribunal ficou tão comovido ao vê-lo dar testemunho, que confessou-se também cristão”.

Não há notícias da atividade missionária de Tiago entre o dia da Ascensão de Jesus e o do martírio; ela se desenvolveu provavelmente entre a Judeia e a Samaria, embora uma tradição fale de uma viagem sua à Espanha, para onde mais tarde serão levados, segundo outra tradição, seus restos mortais. Essas duas tradições são completamente independentes uma da outra.

A tradição do apostolado de Tiago na Espanha aparece pela primeira vez na versão latina do texto bizantino do Breviarium Apostolorum. Essa versão remonta ao século VII e foi composta fora da Espanha: a frase sobre a pregação de Tiago na Espanha é um acréscimo do tradutor que não aparece no texto grego original. É essa versão que alimenta Isidoro de Sevilha (Do nascimento e da morte dos Padres, 71), ainda no século VII, mas a passagem que encontramos na obra de Isidoro também é uma interpolação, talvez do final do século VIII, e remete, portanto, a alguém que reelaborou seu texto. Outros textos, até mesmo espanhóis, do século X ao século XIII, rejeitam a tradição da pregação de Tiago na Espanha, que, no entanto, ganhará pé no século seguinte, até ser inserida no Martirológio Romano de 1586 pelo cardeal Baronio, mas para ser mais tarde, por ele mesmo, rejeitada.

Fachada da Catedral dedicada a São Tiago, Santiago de Compostela, na Galícia, Espanha | 30Giorni

Diferente e muito mais sólida, porém, é a tradição relativa à presença do corpo de Tiago na Espanha. Apesar da existência de muitas e discordantes tradições que, confundindo-o às vezes com o homônimo apóstolo Tiago Menor, dizem que suas relíquias se encontram em diversos lugares da Europa (em Roma, por exemplo, é preservado um braço considerado de Tiago na igreja de São Crisógono, no Trastevere, dentro do altar central, em que estão também as relíquias de parte do crânio e do corpo de São Crisógono), a tradição espanhola é a que prevalece sem sombra de dúvida. Não sabemos quando, nem por obra de quem, as relíquias do apóstolo teriam chegado à Espanha, até a extremidade norte-ocidental da península, a Galícia, a um lugar chamado Compostela. O nome do lugar, que uma etimologia recorrente, ligada à narração dessa descoberta, gostaria que derivasse de campus stellae, deve, porém, ser entendido provavelmente como um derivado da expressão compostum tellus, ou seja, necrópole. 

Segundo a tradição, o sepulcro que contém os despojos de Tiago teria sido descoberto no tempo de Carlos Magno, entre 812 e 814, por um anacoreta de nome Pelágio, depois de uma visão luminosa. O bispo Teodomiro de Iria Flávia, ao chegar ao lugar e abrir o sepulcro, teria encontrado dentro dele os restos do apóstolo. A pesquisa histórica estabeleceu que a descoberta do túmulo e sua identificação como o de Tiago não derivam da sugestão da tradição de sua suposta pregação na Espanha; como já dissemos, são duas tradições completamente independentes, que, em alguns textos que citam as duas, chegam até a ser mencionadas como em antítese. O primeiro texto que cita o sepulcro na Galícia é o Martirológio de Floro (808-838), na página dedicada ao dia 25 de julho, e que é retomado à letra pelo Martirológio de Adônis (850-860); são do século X os primeiros textos que narram a trasladação do corpo de Tiago, logo depois do martírio, de Jerusalém para a Espanha, ao passo que a descrição da descoberta do sepulcro e sua atribuição cronológica precisa ao tempo do bispo Teodomiro de Iria Flávia e do rei Afonso II, o Católico ou o Casto (portanto, como dissemos, entre 812 e 814) é encontrada ainda mais tarde, num documento de 1077, e depois em textos do final do século XI e do início do XII.

Começa quase de imediato, e se mantém firme até hoje, o costume da peregrinação ao sepulcro. As fontes que citamos se referem ao túmulo usando uma expressão corrompida de diferentes formas, mas geralmente interpretada como in arcis marmoreis (alusão, portanto, a uma arca de mármore). Sobre o sepulcro, Afonso II constrói uma primeira igrejinha, ampliada e ornada em 899 por Afonso III, o Grande, destruída em 997 (mas sem que o sepulcro seja tocado) e reedificada pelo rei Vermudo. Por cima dessa igreja, em 1075, é iniciada a construção da grandiosa basílica românica dedicada a Tiago, concluída em 1128 e remanescente até hoje, tendo recebido acréscimos até o século XIX.

Se a tradição do encontro das relíquias de Tiago, e em particular o relato mais tardio de sua trasladação de Jerusalém, foram objeto de amplas críticas no que diz respeito a seu valor histórico (podemos citar como exemplo as críticas do abade Louis Duchesne), as escavações arqueológicas junto ao túmulo (1878-1879 e 1946-1959) confirmaram, por sua vez, o que as fontes mais tardias afirmam em relação à descrição do sepulcro. E o papa Leão XIII, com a bula Deus omnipotens, de 1º de novembro de 1884, declarou solenemente a autenticidade das relíquias conservadas em Santiago de Compostela.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade' (Parte 2/2)

Topol recomenda tentar adotar uma rotina de exercícios e 'segui-la o máximo que puder, de preferência todos os dias' | Crédito,Getty Images

O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade'

Por Margarita Rodríguez

BBC News Mundo

7 julho 2025

BBC News Mundo - Além disso, você explica no livro que várias das doenças que associamos à velhice podem levar décadas para se desenvolver. É possível começar a preveni-las, ou pelo menos tentar neutralizá-las e minimizar seu impacto, muito antes de aparecerem. É isso mesmo?

Topol - Sim, e esse é um ponto-chave. Tínhamos a noção de que essas doenças poderiam ocorrer rapidamente, em questão de meses, até anos, mas não. Isso só acontece em raras ocasiões.

A verdade é que elas levam duas décadas ou mais, então temos tempo mais do que suficiente para nos antecipar, mas não estamos fazendo isso.

Temos muita sorte de ter esse longo período de tempo para agir e, claro, quanto mais rápido agirmos, maior será a chance de preveni-las.

BBC News Mundo - Embora tenha mencionado a importância da alimentação, de dormir o suficiente e das relações sociais no processo de envelhecimento, você diz que "o exercício pode ser considerado a intervenção médica mais eficaz que conhecemos". Por quê?

Topol - O exercício, e os dados confirmam isso, é extraordinário. Se fosse um medicamento, seria o maior avanço farmacológico que poderíamos ter.

E não se trata apenas de exercícios aeróbicos, como caminhada acelerada ou andar de bicicleta, mas também treinamento de força e equilíbrio. Ambos são muito importantes.

O fascinante é que o exercício ajuda a manter o sistema imunológico muito saudável.

Sabíamos que o exercício ajuda a prevenir o Alzheimer, mas também ajuda a prevenir o câncer e as doenças cardiovasculares.

E não precisa ser um exercício extremo, qualquer atividade contínua é boa.

Todos nós deveríamos nos movimentar mais. É algo que nunca é demais enfatizar: é grátis, é simples.

É uma questão de criar uma rotina e segui-la o máximo que puder, idealmente todos os dias.

O exercício não precisa ser extremo — o importante, diz o médico, é não deixar de se movimentar | Crédito,Getty Images

BBC News Mundo - E você enfatiza que nunca é tarde para começar. Às vezes, podemos pensar que se não acostumamos nossos corpos a rotinas de exercícios quando éramos jovens, quando se chega a uma certa idade, começar a praticar não terá muito efeito.

Topol - Não, nunca é tarde demais. No livro, falo sobre algumas destas pessoas que têm uma idade muito avançada, e se tornaram campeãs mundiais*.

Você pode desenvolver uma nova força, uma nova capacidade cardiovascular em qualquer idade e, mesmo depois dos 90 anos, pode se revitalizar fisicamente.

*Em seu livro, o médico menciona Richard Morgan, de 93 anos, que quando era septuagenário começou a se exercitar regularmente pela primeira vez na vida usando uma máquina de remo. "Ele ganhou quatro campeonatos mundiais de remo indoor."

BBC News Mundo - Vou citar um fragmento do seu livro: "São intrigantes os cérebros dos 'superidosos' que, aos 80 anos, têm a memória de pessoas de 20 anos, ou 20 anos mais jovens". Como são os cérebros dos "superidosos"?

Topol - O cérebro é incrivelmente saudável, e há algo que precisamos ter em mente: a maioria destas pessoas, à medida que envelhece — quando tem 90 anos ou mais — desenvolve as mesmas proteínas mal dobradas, como amiloide e tau, em seus cérebros.

E você pensa: "(pelo acúmulo de) amiloide e tau, elas deveriam ter Alzheimer, não deveriam ter uma capacidade cognitiva tão grande."

Mas a verdade é que elas têm porque não desenvolvem inflamação contra essas proteínas, elas se adaptam, e sua estrutura cerebral parece intacta.

O sono profundo é importante no processo de envelhecimento saudável | Crédito,Getty Images

Isso é algo que chama atenção: como alguém pode manter uma função cognitiva executiva tão bem preservada em uma idade avançada?

Eles desafiam as expectativas. A maioria das pessoas diz: "Quando você tiver 90 anos, vai perder suas faculdades (mentais)", mas isso não é verdade.

Temos muitas maneiras (de evitar a perda da capacidade cognitiva), e uma das mais importantes é o sono.

Todas as noites, temos esses produtos residuais no nosso cérebro, metabólitos que são realmente tóxicos e promotores de inflamação, que precisamos eliminar por meio do chamado canal glinfático, que foi descoberto nos últimos anos.

E acontece que, se não tivermos um sono profundo adequado, o tipo de sono de ondas lentas que geralmente ocorre no início da noite, não eliminamos esses produtos residuais e, basicamente, damos a eles a oportunidade de inflamar nosso cérebro.

Portanto, precisamos melhorar o sono profundo para prevenir doenças neurodegenerativas.

BBC News Mundo - Você acabou de mencionar um fator essencial: dormir bem. O que mais podemos fazer para manter nosso cérebro saudável?

Topol - Praticar exercícios, ter um sono profundo e adotar uma alimentação que não promova a inflamação do corpo.

Que seja uma dieta baseada em grande parte em alimentos de origem vegetal, como a mediterrânea. Isso tem sido demonstrado estudo após estudo; esse tipo de alimentação ajuda a suprimir a inflamação no corpo, diferentemente da dieta que inclui ultraprocessados, carnes vermelhas e outros alimentos que são claramente pró-inflamatórios.

Uma alimentação balanceada, rica em legumes, verduras e frutas, é um dos segredos para envelhecer bem | Crédito,Getty Images

Uma alimentação mais saudável faz uma grande diferença, assim como o exercício, o sono e as relações sociais que temos à medida que envelhecemos. É realmente surpreendente o efeito que esses fatores têm.

E não podemos esquecer de estar ao ar livre, na natureza, em espaços verdes. É realmente interessante ver como isso não apenas reduz o estresse, a ansiedade e a depressão, como também tem um efeito muito marcante na prevenção de doenças relacionadas à idade.

Há muitas coisas que podemos fazer, mas não estamos fazendo.

É mais provável que as façamos quando soubermos qual é o nosso risco específico (para uma certa doença), o que vai acontecer em breve, e vai se tornar rotineiro.

Significa dizer, por exemplo: "Margarita, você é muito saudável, mas temos os relógios de todos os seus órgãos, todos os seus biomarcadores, seus dados, e a inteligência artificial nos diz que esta é a doença à qual você é vulnerável, então vamos preveni-la. Temos 15 ou 18 anos pela frente antes que isso realmente aconteça."

É para isso que estamos caminhando, e é muito emocionante; nunca tivemos essa capacidade antes.

BBC News Mundo - Você desenvolveu sua carreira como médico, pesquisador, escritor e professor. E, no fim do livro, faz um agradecimento emotivo a seus pacientes, alguns dos quais ainda atende. Quão importantes eles são na sua vida?

Topol - Eles são minha inspiração. Sim, continuo atendendo, e adoro vê-los. Alguns deles eu atendo há mais de 30 anos. Alguns até vêm de outras cidades para as consultas.

Topol tem uma vasta carreira na área de saúde nos EUA. Seu trabalho combina, entre outros campos, genômica com big data e inteligência artificial. Nesta foto de 2015, ele estava dando uma palestra | Crédito,Neilson Barnard/Getty Images para Klick Health

A razão é que eu aprendo com eles. Eles me fazem ver o que está faltando na medicina, em que precisamos trabalhar, e me ensinam isso o tempo todo.

Embora eu tente ajudá-los, eles estão me ajudando, e isso me faz sentir muito grato.

A senhora L.R., por exemplo, foi uma grande inspiração para mim.

Fizemos o estudo Wellderly (uma fusão das palavras "well", que significa bem, e "elderly", que quer dizer "idoso"), o publicamos, e muitas pessoas usaram nossos dados para conduzir suas próprias pesquisas e descobertas.

Deixei isso um pouco de lado, mas depois a vi e disse: "Outra wellderly! Tenho que escrever um livro sobre isso porque é incrível".

É incrível o quanto eles nos ensinam sem perceber, justamente quando nós tentamos ajudá-los.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/clym06ej50jo

Oito Séculos da Língua Portuguesa

Testamento do rei Afonso II. Torre do Tombo, Lisboa (Portugal). | Wikipedia.

Oito Séculos da Língua Portuguesa

Os países lusófonos – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste – e a cidade de Macau (China) festejam o ano comemorativo Oito Séculos da Língua Portuguesa. A celebração faz memória do testamento de dom Afonso II, escrito em 27 de junho de 1214, na corte do nascente reino de Portugal. O ano, iniciado em maio de 2014, estende-se a junho de 2015, com atos culturais que atingirão os 245 milhões de falantes do português.

O documento teve três cópias amanuenses originais e uma delas subsiste no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa (Portugal). Recentemente franqueado aos pesquisadores, o texto arcaico revelou a surpreendente evolução da grafia ao longo de 800 anos, sendo que uma diminuta parcela de palavras se conserva idêntica desde  as origens, seja na forma de escrita, seja na pronúncia. Uma das mais significativas dentre estas é o termo “paz”, que em nada mudou em oito séculos.

Formada na antiga província romana da Lusitânia, no extremo ocidental da Europa, região onde se encontram sinais de habitação humana desde a Era Neolítica, a língua portuguesa, de base latino-românica, surgiu da influência dos dialetos de povos fenícios, gregos, gálicos, celtas, suevos, visigodos e árabes. O cronista espanhol Isidoro Hispaliense, na História gotorum (História dos godos) do século 7º, menciona o porto fluvial Portucalis, próximo ao delta do Rio Douro no Oceano Atlântico. E documentos do século 10} tratam a região como Portugal. A língua portuguesa teve, portanto, mais de oito séculos de gestação entre a população descendente de diversas etnias, antes de ter sua certidão de nascimento no século 13. Originada de um dialeto portuário usado pela população local de Portucalis, hoje cidade do Porto, para se comunicar com marinheiros de todas as nações, expandiu-se depois para todo o território da antiga província romana da Lusitânia. A língua deu ao povo uma identidade que salvaguardou Portugal de ser anexado a Espanha nos séculos seguintes.

A grafia da palavra paz resistiu a todas as modificações desde o século 13 até o 16, quando a obra Os lusíadas, de Luis de Camões, inaugurou o português moderno, e até o estado atual da língua portuguesa. Por outro lado, a paz sonhada e registrada em testamento pelo rei Afonso II foi aviltada por muitas formas de colonialismo, conquista, escravização e destruição violenta nas relações históricas dos países lusófonos. Neste ano, porém, é inspiradora de um futuro que começa marcado por um novo documento, o Manifesto 2014.

Porto - Portugal - Foto: Frédérique Voisin-Demery/ Flickr | Frédérique Voisin-Demery

Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa

A língua que falamos não é apenas comunicação ou forma de fazer um negócio. Também é. Mas vai bem além. É uma forma de sentir e de lembrar, um registro, arca de muitas memórias; um modo de pensar, uma maneira de ser – e de dizer. É espaço de cultura, mar de muitas culturas, um traço de união, uma ligação. É passado, é futuro, é história. É poesia e discurso, sussurro e murmúrios, segredos, gritaria, declamação, conversa, bate-papo, discussão e debate, palestra, comércio, conto e romance, imagem, filosofia, ensaio, ciência, oração, música e canção, até silêncio. É um abraço. É raiz e é caminho. É horizonte, passado e destino.

Na era da globalização, falar português, uma das grandes línguas globais do planeta, que partilha e põe em comum culturas da Europa, Américas, África e Oceania, com centenas de milhões de falantes em todos os continentes, e um imenso patrimônio, um poderoso veículo de união e de progresso. Em 27 de junho de 2014, passam-se 800 anos sobre o mais antigo documento oficial conhecido em língua portuguesa, a nível de Estado – o mais antigo documento régio na nossa língua, o testamento do terceiro rei de Portugal, dom Afonso II. Neste dia, festejamos esses oito séculos da nossa língua, a língua do mar, a língua da gente, uma grande língua de globalização. Centrados neste dia e ao longo do ano, festejamos também com o mundo inteiro a terceira língua do Ocidente, uma língua em crescimento em todos os continentes, uma das mais faladas do mundo, a língua mais usada no Hemisfério Sul. Celebramos o futuro.

Em qualquer lugar onde se fala português, 27 de junho de 2014.

O Manifesto foi subscrito pelo embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, e pelo presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal brasileiro, Cyro Miranda, ao lado de autoridades dos outros países lusófonos.

Fonte: Revista Diálogo, Ano XIX – nº 76 – Outubro/Dezembro de 2014 – Pags.: 53/55.

Papa Leão XIV: somos chamados a viver com os idosos a libertação da solidão e do abandono

O Papa Leão XIV durante uma Audiência Geral  (@Vatican Media)

Em sua mensagem para o V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos intitulada "Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança", o Santo Padre recorda que muitas vezes "os nossos avós foram para nós um exemplo de fé e devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações! A nossa gratidão e coerência nunca serão suficientes para agradecer este bonito legado que nos foi deixado com tanta esperança e amor."

Mariangela Jaguraba – Vatican News

Foi divulgada, nesta quinta-feira (10/07), a mensagem do Papa Leão XIV para o V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos intitulada "Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança".

O Pontífice inicia a mensagem, recordando que "o Jubileu que estamos vivendo nos ajuda a descobrir que a esperança é, em todas as idades, perene fonte de alegria" e "quando é provada pelo fogo de uma longa existência, torna-se fonte de uma bem-aventurança plena".

Idosos: primeiras testemunhas da esperança

A seguir, o Papa recorda alguns homens e mulheres, na Bíblia, em idade avançada, "que o Senhor inclui nos seus desígnios de salvação". Abraão e Sara, Isabel e Zacarias, Jacó, já idoso, que abençoa os filhos de José, seus netos, Moisés e Nicodemos. "Deus mostra várias vezes a sua providência dirigindo-se a pessoas idosas" (...). "Com estas escolhas, Ele nos ensina que, aos seus olhos, a velhice é um tempo de bênção e graça e que, para Ele, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança", ressalta Leão XIV.

De acordo com o Pontífice, "só se compreende a vida da Igreja e do mundo na sucessão das gerações. Por isso, abraçar um idoso ajuda-nos a entender que a história não se esgota no presente, nem em encontros rápidos e relações fragmentárias, mas se desenrola rumo ao futuro".

“Portanto, se é verdade que a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens, é igualmente verdade que a inexperiência dos jovens precisa do testemunho dos idosos para projetar o futuro com sabedoria.”

"Quantas vezes os nossos avós foram para nós um exemplo de fé e devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações! A nossa gratidão e coerência nunca serão suficientes para agradecer este bonito legado que nos foi deixado com tanta esperança e amor", sublinha o Papa.

Ser protagonista da “revolução” da gratidão

"Desde as suas origens bíblicas, o Jubileu representou um tempo de libertação: os escravos eram libertados, as dívidas perdoadas, as terras devolvidas aos seus proprietários originais. Era um momento de restauração da ordem social desejada por Deus, em que se sanavam as desigualdades e as opressões acumuladas ao longo dos anos", ressalta o Papa na mensagem.

"Olhando para os idosos nesta perspectiva jubilar, também nós somos chamados a viver com eles uma libertação, sobretudo da solidão e do abandono. Este ano é o momento propício para realizá-la: a fidelidade de Deus às suas promessas ensina-nos que há uma bem-aventurança na velhice, uma alegria autenticamente evangélica que nos convida a derrubar os muros da indiferença na qual os idosos estão frequentemente encerrados", escreve o Pontífice.

“Em todas as partes do mundo, as nossas sociedades estão a habituar-se, com demasiada frequência, a deixar que uma parte tão importante e rica do seu tecido social seja marginalizada e esquecida. Perante esta situação, é necessária uma mudança de atitude, que testemunhe uma assunção de responsabilidade por parte de toda a Igreja.”

Segundo o Papa, "cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da “revolução” da gratidão e do cuidado, a ser realizada através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar em grande, a não nos contentarmos com o status quo. Neste caso específico, a trabalhar por uma mudança que devolva aos idosos a estima e o afeto".

A seguir, Leão XIV recorda que "o Papa Francisco quis que o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos fosse celebrado, em primeiro lugar, encontrando aqueles que estão sozinhos. E decidiu-se, pela mesma razão, que aqueles que não puderem vir a Roma neste ano em peregrinação podem «obter a Indulgência jubilar se visitarem por um côngruo período […] idosos em solidão […] quase fazendo uma peregrinação em direção a Cristo presente neles»".

“Visitar um idoso é um modo de encontrar Jesus, que nos liberta da indiferença e da solidão.”

Não perder a esperança na velhice

A seguir, o Pontífice recorda o Livro do Eclesiástico que "afirma que a bem-aventurança é daqueles que não perderam a esperança, dando a entender que na nossa vida – especialmente se for longa – podem existir muitos motivos para sempre lançar o olhar para o passado, em vez de olhar para o futuro". No entanto, o Papa Francisco escreveu durante sua última internação no Hospital Gemelli, que «o nosso físico está fraco, mas, mesmo assim, nada nos impede de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns pelos outros, na fé, sinais luminosos de esperança».

"Possuímos uma liberdade que nenhuma dificuldade pode tirar-nos: a de amar e rezar. Todos, podemos amar e rezar, sempre. O bem que desejamos às pessoas que nos são caras – ao cônjuge com quem compartilhamos grande parte da vida, aos filhos, aos netos que alegram os nossos dias – não desaparece quando as forças se esvaem. Pelo contrário, muitas vezes é justamente o carinho deles que desperta as nossas energias, trazendo-nos esperança e conforto", escreve o Papa. "Por isso, sobretudo na velhice, perseveremos confiantes no Senhor. Deixemo-nos renovar todos os dias, na oração e na Santa Missa, pelo encontro com Ele. Transmitamos com amor a fé que vivemos na família e nos encontros quotidianos durante tantos anos: louvemos sempre a Deus pela sua benevolência, cultivemos a unidade com as pessoas que nos são caras, abramos o nosso coração aos que estão mais longe e, em particular, aos necessitados. Assim, seremos sinais de esperança, em todas as idades", conclui o Papa Leão XIV.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 9 de julho de 2025

O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade' (Parte 1/2)

'Todos nós deveríamos nos movimentar mais. É algo que nunca é demais enfatizar', diz Eric Topol, de 71 anos (Crédito,Sandy Huffaker para The Washington Post via Getty Images)

O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade'

Por Margarita Rodríguez

BBC News Mundo

7 julho 2025

Quando o cardiologista Eric Topol atendeu pela primeira vez L.R., de 98 anos, algo chamou sua atenção.

Ao perceber que ela não estava acompanhada por nenhum parente, ele perguntou como ela havia chegado ao centro médico.

"Ela havia dirigido sozinha. Em pouco tempo, aprenderia muito mais sobre essa senhora incrivelmente vibrante e saudável, que mora sozinha, tem uma ampla rede social e desfruta da sua solidão."

Topol, fundador e diretor da Scripps Research, um respeitado instituto de pesquisa na área de saúde nos Estados Unidos, tem uma longa carreira como cientista e escritor.

Seu livro mais recente, Super Agers: An Evidence-Based Approach to Longevity ("Superidosos: uma abordagem baseada em evidências para a longevidade", em tradução livre), foi elogiado por cientistas renomados, incluindo vários ganhadores do Prêmio Nobel.

"Este livro revelador mostra que o segredo da longevidade não está no milagre das pílulas antienvelhecimento, mas em avanços científicos revolucionários", escreveu a bioquímica Katalin Kariko, vencedora do Prêmio Nobel de medicina de 2023.

Em entrevista à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, o médico de 71 anos adverte sobre mitos e pseudociências, sobre "muitas alegações falsas que circulam, suplementos antienvelhecimento para os quais não há evidências, e procedimentos e terapias vendidos sem nenhuma base científica".

"Talvez um dia tenhamos uma pílula mágica, mas a verdade é que não temos nenhuma, não chegamos nem sequer perto disso."

Seu objetivo é compartilhar o que a ciência provou, com fatos, dados e evidências, que "funciona" no processo de envelhecimento saudável.

A seguir, está a entrevista com Eric Topol, que conversou com a BBC News Mundo nos Estados Unidos.

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BBC News Mundo - Você começa seu livro nos apresentando uma de suas pacientes, a senhora L.R. O que a história dela nos diz sobre os 'superidosos'?

Eric Topol - Ela é o protótipo porque tem 98 anos e está totalmente intacta em todos os aspectos, e isso não está em seus genes. Todos os seus familiares, seus pais e irmãos, morreram quando tinham cinquenta ou sessenta anos.

Já havíamos aprendido isso em um estudo abrangente que fizemos: essas pessoas que alcançam um estado incrível e saudável de envelhecimento, em sua jornada até os 100 anos, em geral não fazem parte de um padrão familiar.

Não apenas os exercícios aeróbicos são benéficos, mas também o treinamento de força e equilíbrio, diz Eric Topol (foto) | Crédito,Sandy Huffaker para The Washington Post vía Getty Images

Ela personifica isso porque durante toda a vida se cuidou, não apenas em termos de atividade física e alimentação, mas também tende a ter um comportamento muito alegre, o que anda de mãos dadas com as muitas interações sociais que ela construiu. Ela tem vários hobbies, como pintura a óleo, e ganhou prêmios.

É uma pessoa incrível, calorosa e cheia de energia. Na semana passada (última semana de maio), eu a levei para uma grande conferência. Em seus 98 anos de vida, ela nunca havia subido em um palco antes. Deixou toda a plateia encantada.

É isso que todos nós deveríamos almejar: um envelhecimento saudável. Esse é o objetivo, e acredito que, com o tempo, vamos chegar lá, em vez de nos tornarmos idosos, como acontece na maioria dos casos, com doenças crônicas e problemas graves relacionados à idade.

BBC News Mundo - Que bela experiência para ela estar no palco, não é?

Topol - Sim, ela foi maravilhosa, estava muito nervosa, mas você não teria notado.

BBC News Mundo - Você mencionou o estudo (lançado em 2007) que fez com seus colegas. Vocês passaram mais de seis anos sequenciando os genomas de cerca de 1,4 mil octogenários, sem problemas de saúde graves. O que descobriram?

Topol - Em primeiro lugar, [os participantes] são muito difíceis de encontrar: eles precisavam nunca ter ficado doentes [com condições crônicas ou graves], nem estar sob um regime de medicação [de longo prazo], e deveriam ter mais de 85 anos. Levamos anos para encontrá-los.

Depois, demoramos um tempo para fazer todo o sequenciamento dos genomas, e encontramos pouca coisa que explicasse por que eles são do jeito que são.

Em 2007, pesquisadores da Scripps Research lançaram o estudo que chamaram de Wellderly para descobrir os 'segredos genéticos' do envelhecimento saudável (Foto genérica) | Crédito,Getty Images

Talvez haja um componente genético, mas não é a explicação predominante. Pode haver um pouco de sorte, claro. Algumas pessoas podem ter muita sorte, mas não acho que isso seja o fundamental.

Na verdade, acho que a principal explicação é o sistema imunológico, que está intacto nessas pessoas — e é assim que elas se protegem contra o câncer, as doenças neurodegenerativas e cardiovasculares.

Elas têm o tipo certo de resposta imunológica para protegê-las, e não reagir de forma exagerada. Esta é a explicação mais provável.

E, claro, todos nós podemos obter isso com nosso sistema imunológico, por meio de um estilo de vida saudável: evitando uma dieta que promova inflamação, e praticando exercícios, porque isso reduz [a inflamação], assim como dormir bem.

Tudo se encaixa nesse modelo do sistema imunológico e da inflamação, o chamado inflammaging [termo que combina duas palavras em inglês: inflamm, de inflamação, e aging, de envelhecimento] e imunossenescência [como se denomina o processo de envelhecimento do sistema imunológico].

BBC News Mundo - Você disse que é "libertador" saber que os genes não determinam necessariamente o envelhecimento saudável. Como podemos adiar as doenças e nos tornar "superidosos"?

Topol - É libertador para aqueles que, como eu, têm um histórico familiar terrível de morte prematura e doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento.

O que temos agora são informações sobre fatores de estilo de vida das pessoas [que afetam a saúde], que chamo de fatores de estilo de vida +, mas em breve teremos perfis de risco muito específicos para cada indivíduo.

Manter interações sociais tem efeitos benéficos à medida que envelhecemos | Crédito,Getty Images

Por exemplo, poder dizer que você não apenas corre o risco de sofrer de Alzheimer, mas também poder fornecer informações sobre quando.

No passado, podíamos dizer "sim" ou "não" ao risco de um paciente desenvolver Alzheimer, mas em breve poderemos dizer: "Isso vai acontecer quando você tiver entre 74 e 76 anos, se não fizer nada. Veja o que podemos fazer a partir de agora, sabendo disso."

É uma avaliação muito específica do risco em relação ao tempo e à precisão — o que eu chamo de prognóstico médico de precisão —, e vai ser um divisor de águas porque, em vez de as pessoas resistirem às mudanças de estilo de vida, medicamentos e outras medidas que temos atualmente, elas vão ter uma maneira muito melhor de prevenir.

Nunca tivemos nada parecido com isso, e nunca conseguimos realmente fazer prevenção, embora continuemos falando sobre isso. Falamos em evitar que a doença ocorra, em vez de, por exemplo, depois de sofrer um ataque cardíaco, prevenir um segundo ataque.

Este é um tipo de prevenção completamente diferente. Então, para mim, o mais interessante aqui é que estamos aprendendo como alcançar a prevenção primária, e isso só vai melhorar graças a todos esses novos avanços na ciência do envelhecimento, assim como no processamento de dados com inteligência artificial.

Topol acredita que estamos em um momento muito favorável, em parte graças à capacidade da inteligência artificial de processar dados. Seus grandes modelos podem ajudar a detectar riscos e prevenir doenças em um paciente | Crédito,Getty Images

BBC News Mundo - E esse é um novo enfoque, não só da perspectiva de cientistas e médicos, mas também nosso, como pacientes, que às vezes pensamos que a genética define tudo, e que se nossos pais ou avós tiveram uma determinada doença, é muito provável que nós também tenhamos. Podemos dizer que este é um enfoque otimista?

Topol - Sim, é, e isso é muito importante destacar.

Algo que não estamos entendendo sobre essas doenças comuns e relacionadas à idade é que, quando herdamos o genoma da nossa mãe e do nosso pai, não é que recebemos um ou outro, mas sim uma mistura dos dois, e essa mistura é diferente.

Às vezes, pode anular o risco, outras vezes pode acentuá-lo, e também pode introduzir novos riscos. Tínhamos uma noção muito primitiva do que acontece quando dois genomas se fundem, o da mãe e o do pai.

E isso é muito importante porque, por exemplo, o risco poligênico (predisposição genética de um indivíduo desenvolver uma doença) é muito útil e muito fácil de obter agora.

Uma série de avanços tecnológicos e estudos estão ajudando cientistas a entender o desenvolvimento de doenças relacionadas à idade | Crédito,Getty Images

Embora não diga quando, ele diz "sim" ou "não" para tipos de câncer comuns e doenças cardíacas ou neurodegenerativas.

Você pode ter um alto risco poligênico (para uma determinada doença), mas seus pais não, ou você pode ter um baixo risco poligênico para uma doença, e um dos seus pais sofrer da doença.

É por isso que acredito que estamos em um despertar, no sentido de que não são apenas os genes — e, além disso, o sistema imunológico não é algo que vemos nos genes.

O sistema imunológico só pode ser compreendido por meio do exame das células imunológicas, da função imunológica, em laboratório, e isso é algo que não fazemos. Estamos em um ponto cego no momento, e isso é algo que precisamos cobrir.

Acho que temos uma fixação por genes e DNA, mas se trata de algo que é muito maior do que isso, muito mais complexo do que o que foi classicamente visualizado.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/clym06ej50jo

Papa: rezemos pela conversão de quem ignora o cuidado com a casa comum

(@Vatican Media)

Em Castel Gandolfo, Leão XIV celebrou a Missa com o novo formulário “Pela Proteção da Criação”, no Borgo Laudato Si’. Em sua homilia, recordou que “somente um olhar contemplativo pode transformar nossa relação com a criação e nos fazer sair da crise ecológica, cuja causa é a ruptura das relações com Deus, com o próximo e com a terra”.

Thulio Fonseca - Vatican News

“Neste dia lindíssimo, antes de tudo, gostaria de convidar a todos — começando por mim mesmo — a viver aquilo que estamos celebrando, na beleza de uma catedral que poderíamos chamar de “natural”, com as plantas e tantos elementos da criação que nos trouxeram aqui para celebrar a Eucaristia, que significa: dar graças ao Senhor.”

Foram estas as palavras que introduziram a homilia do Papa Leão XIV durante a missa privada no Borgo Laudato Si’, em Castel Gandolfo, onde passa um breve período de descanso. O Santo Padre utilizou, pela primeira vez, o novo formulário litúrgico “Pela Proteção da Criação”. O texto, apresentado em 3 de julho pelo cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, insere-se no compromisso da Igreja de viver a conversão ecológica de forma concreta e celebrativa, por meio de orações e leituras bíblicas específicas.

De forma espontânea, o Pontífice iniciou dizendo que esta Eucaristia traz muitos motivos de agradecimento ao Senhor, “como o uso da nova fórmula da Santa Missa para o cuidado da criação, que também foi expressão do trabalho de diversos Dicastérios no Vaticano”, e acrescentou: “Pessoalmente, agradeço a muitas pessoas aqui presentes, que trabalharam para esta liturgia. Como sabem, a liturgia representa a vida, e vocês são a vida deste Centro Laudato Si’.”

O agradecimento de Leão XIV estendeu-se a todos os que se dedicam diariamente à missão do Centro, inspirado na encíclica Laudato si’, publicada há dez anos por Papa Francisco: “Gostaria de agradecer a vocês, neste momento, nesta ocasião, por tudo o que fazem seguindo essa belíssima inspiração do Papa Francisco, que concedeu esta pequena porção — esses jardins, esses espaços — justamente para continuar a missão tão importante em relação a tudo o que conhecemos após dez anos da publicação da Laudato si’: a necessidade de cuidar da criação, da casa comum.”

 (@Vatican Media)

É urgente cuidar da casa comum

O simbolismo do espaço, comparado às antigas igrejas dos primeiros séculos, inspirou o Santo Padre a um apelo à conversão:

“Devemos rezar pela conversão de muitas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar da casa comum.”

E, em seguida, recordou os “tantos desastres naturais que ainda vemos no mundo, quase todos os dias, em tantos lugares, em tantos países, que são, em parte, causados também pelos excessos do ser humano, com seu estilo de vida. Por isso, devemos nos perguntar se nós mesmos estamos vivendo ou não essa conversão: o quanto ela é necessária!”

Esperança e vida nova

O Pontífice uniu o clima de oração à dura realidade global: “Compartilhamos hoje um momento familiar e sereno, ainda que em um mundo em chamas — seja pelo aquecimento global, seja pelos conflitos armados —, que tornam tão atual a mensagem do Papa Francisco nas Encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti”. Ao refletir o Evangelho proposto, o Papa Leão disse que “o medo dos discípulos na tempestade é o mesmo que acomete grande parte da humanidade. No entanto, no coração do Jubileu, nós confessamos: há esperança! Nós a encontramos em Jesus, o Salvador do mundo”, e completou:

“Ele ainda hoje, soberanamente, acalma a tempestade. Seu poder não arruína, mas cria; não destrói, mas faz existir, dando vida nova. E também podemos nos perguntar: “Quem é este, que até os ventos e o mar obedecem?” (Mt 8,27)

(@Vatican Media)

Cuidar, reconciliar, transformar

O Papa destacou a sintonia entre Jesus e a natureza: “As parábolas com que anunciava o Reino de Deus revelam um profundo vínculo com aquela terra e aquelas águas, com o ritmo das estações e a vida das criaturas.”, e ao citar o termo usado por Mateus para descrever a tempestade — a palavra seismós — que remete a outro momento decisivo, o terremoto na morte e ressurreição de Jesus, o Santo Padre sublinhou: “O Evangelho nos permite entrever o Ressuscitado, presente em nossa história virada de cabeça para baixo. A repreensão que Jesus dirige ao vento e ao mar manifesta seu poder de vida e salvação, que domina essas forças diante das quais as criaturas se sentem perdidas”.

Leão XIV recordou que a fé implica compromisso: “Nossa missão é cuidar da criação, levar a ela paz e reconciliação. Nós escutamos o clamor da terra e dos pobres, pois esse clamor chegou ao coração de Deus. Nossa indignação é a sua indignação, nosso trabalho é o seu trabalho”. Ao citar o salmo 29, que fala da voz forte do Senhor, completou:  

“Essa voz compromete a Igreja com a profecia, mesmo quando isso exige a ousadia de nos opor ao poder destrutivo dos príncipes deste mundo. A aliança indestrutível entre o Criador e as criaturas, de fato, mobiliza nossas inteligências e nossos esforços, para que o mal se transforme em bem, a injustiça em justiça, a avareza em comunhão.”

Um olhar contemplativo para transformar a crise

“Com infinito amor, o único Deus criou todas as coisas, doando-nos a vida”, recordou o Papa, citando São Francisco de Assis. Essa verdade exige uma nova forma de ver o mundo: o olhar contemplativo. Segundo Leão XIV, é esse olhar que pode romper com a lógica do pecado e restaurar as relações com Deus, com os irmãos e com a terra.

O Papa também ressaltou a vocação do Borgo Laudato si’, que “por intuição do Papa Francisco, quer ser um 'laboratório' onde se viva aquela harmonia com a criação que é, para nós, cura e reconciliação, elaborando novas e eficazes formas de cuidar da natureza que nos foi confiada. A vocês que se dedicam com empenho à realização deste projeto, asseguro, portanto, minha oração e meu encorajamento”, afirmou. 

 (@Vatican Media)

Eucaristia, coração da Criação

Por fim, Leão XIV situou a Eucaristia como o centro e o cume da ecologia integral, e citando novamente a Laudato si’, n. 236, destacou: “Na Eucaristia, já está realizada a plenitude, sendo o centro vital do universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim”. Na conclusão de sua homilia, o Papa confiou aos presentes o “louvor cósmico” retirado das Confissões de Santo Agostinho:

“Senhor, 'as tuas obras te louvam para que te amemos, e nós te amamos para que as tuas obras te louvem'. Seja esta a harmonia que difundimos no mundo”, afirmou Leão XIV.

Sobre o Borgo Laudato Sì

Ao redor do lago de Albano, de formação vulcânica, encontra-se a Vila Pontifícia, que inclui construções históricas e um extenso jardim. Ali, foi criado em 2023 o Borgo Laudato Sì, que cedeu essas imagens, por desejo do Papa Francisco. Trata-se de um espaço de formação e conscientização sobre os temas da proteção da Casa Comum. O projeto foi confiado ao Centro de Ensino Superior Laudato Sì, criado na mesma ocasião como um organismo científico, educativo e de atividade social, que trabalha pela formação integral. O Borgo Laudato Sì foi pensado como um sinal concreto da aplicabilidade dos princípios ilustrados por esta Encíclica, que está completando 10 anos. Leão XIV quis conhecer de perto esta iniciativa, ao visitar Castel Gandolfo em 29 de maio.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF