Translate

domingo, 13 de julho de 2025

O túmulo dos apóstolos: São Pedro (Parte (2/2)

A Basílica de São Pedro no Vaticano vista da extremidade da colina do Gianículo, antigamente esta fazia parte dos Jardins de Nero onde ocorreu o martírio dos cristãos de Roma depois do incêndio de 19 de julho do ano 64 | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2008

O túmulo dos apóstolos

São Pedro

O discípulo que aprendeu a humildade.

de Lorenzo Bianchi

Entre 1939 e 1949, por vontade de Pio XII, uma escavação arqueológica sob o altar-mor da Basílica Vaticana foi levada a cabo por quatro estudiosos de arqueologia, arquitetura e história da arte – Bruno Maria Apollonj-Ghetti, padre Antonio Ferrua, S.J., Enrico Josi e padre Engelbert Kirschbaum, S.J. –, sob a direção de dom Ludwig Kaas, secretário da Insigne Fábrica de São Pedro. Inicialmente, eles encontraram o monumento de Constantino, um paralelepípedo com cerca de três metros de altura, revestido de mármore pavonáceo e pórfiro. A face anterior desse monumento tinha uma abertura que corresponde ao atual Nicho dos Retábulos, nas Grutas Vaticanas; a posterior, parcialmente recuperada, ainda pode ser vista atrás do altar da Capela Clementina. Escavando ao longo dos lados do monumento constantiniano, foi possível encontrar debaixo dele o túmulo de Pedro. As escavações revelaram uma pequena capela, formada por uma mesa sustentada por duas pequenas colunas de mármore e apoiada num muro rebocado e pintado de vermelho (o chamado “muro vermelho”) em posição correspondente à de um nicho; no chão, diante do nicho, sob uma pequena laje, um túmulo escavado diretamente na terra. A pequena capela, que pode ser datada do século II, logo foi identificada como sendo o “troféu de Gaio”. Mas o túmulo encontrado estava vazio.

Pio XII, como dissemos antes, fez o anúncio do achado. Passado algum tempo desde o fim das escavações e sua publicação, teve início uma segunda fase de já havia sido notado durante as escavações, em novembro de 1941, antes que os pesquisadores chegassem ao túmulo escavado por baixo, na terra, mas, de imediato, sua importância não fora compreendida. Segundo a reconstrução elaborada mais tarde pela arqueóloga Margherita Guarducci, desse lóculo havia sido retirada grande parte do material que continha, a ponto de, no dia seguinte de sua descoberta, um dos escavadores, padre Antonio Ferrua, já tê-lo visto vazio. O certo é que, como viemos a saber vários anos depois do fim das escavações e de sua publicação, provinha dali um importantíssimo documento epigráfico, um fragmento extremamente pequeno (3,2 x 5,8 cm) de reboco vermelho, que ali se depositara, vindo do “muro vermelho” adjacente; sobre esse fragmento, estava grafitado, em grego, a expressão “PETR[Oc] ENI”, ou seja, “Pedro está aqui”, como a interpretou Guarducci. Seus estudos, realizados entre 1952 e 1965, levaram à decifração dos grafitos do “muro g” (que continha o lóculo), mostrando que estes continham uma ampla série de invocações a Cristo, a Maria e a Pedro, sobrepostas e combinadas. Os mesmos estudos, compostos de pesquisas complexas e bem articuladas, realizadas com o máximo rigor científico, levaram também ao reconhecimento do que estava contido no lóculo, ou seja, as relíquias de Pedro, que para lá tinham sido transferidas, antes dos trabalhos ordenados por Constantino, depois de retiradas do túmulo escavado na terra. Encontradas numa pequena caixa nas dependências das Grutas Vaticanas, onde haviam sido depositadas pela pessoa que, anos antes, as extraíra do lóculo, as relíquias, depois de analisadas, revelaram-se pertencentes a um só homem, de compleição robusta, que morrera em idade avançada. Tinham incrustações de terra e mostravam ter sido envolvidas num pano de lã colorida de púrpura, com trama de ouro; as relíquias eram compostas de fragmentos de todos os ossos do corpo, exceto dos ossos dos pés, dos quais não havia o menor vestígio. Esse pormenor, realmente singular, não podia deixar de trazer à memória a circunstância da crucifixão inverso capite (de cabeça para baixo), atestada por uma antiga tradição como símbolo da humildade de Pedro; os resultados desse tipo de crucifixão, ou seja, a separação dos pés, eram visíveis nos restos do corpo encontrado. A mesma circunstância correspondia perfeitamente a um conhecimento bem sólido, do ponto de vista histórico: o do costume romano de tornar espetaculares, para a satisfação do povo, as execuções dos condenados à morte. O cadáver dos executados, privado do direito de sepultura, era abandonado no lugar do suplício. Foi o que ocorreu a Pedro, levado à morte sem nenhuma distinção, entre muitos outros; só quando foi possível recuperar o corpo é que o apóstolo foi sepultado na terra, da maneira mais humilde – provavelmente às pressas, no lugar mais próximo à disposição.

A crucificação inverso capite de Pedro, entre as colinas do Gianículo e do Vaticano, Sancta Sanctorum, cerca de 1277-1280, Roma | 30Giorni

As relíquias que Margherita Guarducci identificou como sendo de Pedro foram reconhecidas como tais pelo papa Paulo VI, que, em 26 de junho de 1968, ligando-se às palavras pronunciadas em 1950 pelo papa Pio XII, anunciou a descoberta durante a audiência pública na Basílica Vaticana: “Novas pesquisas, feitas com extrema paciência e cuidado, foram realizadas nos últimos anos, chegando a um resultado que nós, confortados pelo juízo de pessoas competentes, valorosas e prudentes, acreditamos ser positivo: as relíquias de São Pedro também foram, enfim, identificadas, de um modo que podemos considerar convincente, pelo qual louvamos a quem empregou tamanho e tão longo estudo, e grande esforço. Não se esgotam, com isso, as pesquisas, as verificações, as discussões e as polêmicas. Mas, de nossa parte, parece-nos um dever, no presente estado das conclusões arqueológicas e científicas, dar a vós e à Igreja este anúncio feliz, obrigados como somos a honrar as sagradas relíquias, sufragadas por uma séria prova de sua autenticidade [...]; no caso presente, tanto mais solícitos e exultantes devemos ser, quando temos razões para considerar que foram encontrados os poucos, mas sacrossantos, restos mortais do Príncipe dos Apóstolos”.

Reintroduzidas no dia seguinte no lóculo do “muro g” (com exceção de nove fragmentos, que o Papa pediu e conservou em sua capela privada), as relíquias voltaram há poucos anos a ser expostas aos fiéis.

No que diz respeito aos lugares ligados a Pedro em Roma, é oportuno também assinalar a epígrafe do papa Dâmaso (366-384) na Memoria Apostolorum da Via Ápia ad catacumbas (hoje Basílica de São Sebastião), na qual podemos ler: “Quem quer que sejas, que buscas conjuntamente os nomes de Pedro e Paulo, sabe que esses santos aqui repousaram [habitasse] um tempo”. Com base nesse texto, e na presença de numerosas inscrições de invocação conjunta de Pedro e Paulo nas catacumbas, foi formulada a hipótese de um traslado temporário das relíquias dos dois fundadores da Igreja de Roma para esse lugar no período da perseguição iniciada pelo imperador Valeriano (258); mas, aqui, estamos apenas no campo das hipóteses de estudo.

Devemos lembrar ainda que, dentro das pesquisas realizadas por Guarducci, foi também feito o reconhecimento científico das relíquias que uma tradição medieval identificava como provenientes da cabeça de Pedro, presentes desde o século VIII no Sancta Sanctorum e para lá transferidas pelo papa Urbano V, em 16 de abril de 1369, no interior de um dos dois bustos que se encontram atualmente dentro do baldaquino da Basílica de Latrão. Os resultados desse reconhecimento não negam em nada, porém, a validade do reconhecimento das relíquias de Pedro sob a Basílica Vaticana.

Fonte: Fonte: https://www.30giorni.it/

Reflexão para o 15º Domingo do Tempo Comum (C)

Bom Samaritano (Vatican News)

A misericórdia promove a Vida. Ela não faz rodeios para salvar o ser humano. A Vida está em primeiro lugar.

Vatican News

A primeira leitura da liturgia de hoje nos fala da maravilha que é possuir uma lei feita por Deus e que, por isso mesmo, leva à Vida. Essa Lei está impregnada em nosso ser.

O Livro do Deuteronômio diz que ela “está ao seu alcance: está na sua boca e no seu coração”. Isso significa que não deveremos ficar presos a um código de regras, de prescrições, mas que nos entreguemos, sem reservas, à promoção da Vida.

No Evangelho, a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus, deixa isso claríssimo. O Mestre dá a essa Lei um nome: misericórdia!

A misericórdia promove a Vida. Ela não faz rodeios para salvar o ser humano.

A Vida está em primeiro lugar. Salvaguardar a Vida, seja de quem for, é a Lei Máxima! E quando se fala em Vida não se restringe à vida física, mas se compreende também a moral, a psíquica, a espiritual.

Fala-se da Vida do Homem. Tudo deve estar subordinado a esse valor, porque Deus é Vida e Ele assim determinou que fosse. Por isso, matar alguém, física ou moralmente é um pecado grave.

Do mesmo modo é desconhecimento da revelação do Amor de Deus, qualquer atitude que demonstre falta de misericórdia. Está escrito: “Quero a misericórdia e não o sacrifício”.

Por que é um samaritano quem pratica a misericórdia na parábola contada por Jesus? Será que Jesus quer simplesmente incomodar os judeus? Não, não é nada disso. Ele até pode ter esse desejo, e certamente o tem, de alertar seus concidadãos. Mas a figura do samaritano, nesta parábola, tem o significado de ser alguém que desconhece um código de leis. Jesus quer destacar que esse homem nascido na Samaria agiu somente por causa de seu coração. Ele teve a sensibilidade de perceber a situação de miséria em que se encontrava o homem assaltado. Ajudou muito para que tivesse compaixão, sua origem samaritana, de marginalizado. Ele se identificou com o pobre coitado e agiu como Deus, isto é, teve compaixão. Segundo Lucas, somente Jesus tem compaixão. É um gesto eminentemente divino! O QUE É MEU É TEU!  QUERO QUE VOCÊ TENHA VIDA!

Podemos apreender o seguinte ensinamento: para alguns, a salvação está no cumprimento das leis; para outros, nos atos realizados dentro de um templo; para o samaritano, está em assumir a Vida e colocar-se a caminho dos que estão sendo privados dela. Ao se solidarizar com o marginalizado, o samaritano encontrou Deus e a verdadeira religião.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 12 de julho de 2025

Por que Moisés teria permitido o divórcio?

Drazen Zigic | Shutterstock

Dário Ramos - publicado em 11/07/25

Uma reflexão sobre matrimônio, divórcio e o princípio do tempos (Cf. Mt 19,1-9)

Alguns fariseus colocaram diante de Jesus um questionamento sobre o matrimônio: Se eles não poderiam repudiar suas mulheres, por que Moisés teria permitido o divórcio? Jesus dá uma resposta que remete ao início de nossa existência: “por causa da dureza do vosso coração, mas no princípio não era assim”. (Cf. Mt 19,1-9)

Quase todo dia os sites de fofoca noticiam rompimentos de namoros, noivados e casamentos entre celebridades. E foi notícia o divórcio de um cantor e uma influencer, famosos por compartilhar a rotina da vida a dois em suas redes sociais. O ‘ex-casal’ fez uma postagem para explicar o porquê da separação, o que causou grande repercussão.

O objetivo não é falar da vida deles ou dos motivos pelos quais eles podem ter se separado. Isso não cabe a ninguém, e poderia estar assumindo uma postura de juiz se fosse comentar sobre a vida pessoal deles. Não é o caso.

Me surpreendeu, no entanto, a reação dos fãs do casal, e sobre isso desejo refletir. Por que nos choca tanto um divórcio se é algo tão comum – no sentido de recorrente - em nosso cotidiano? Por que muitos fãs chegaram a comentar que estavam desiludidos com o amor se a todo o momento recebemos notícias de términos de relacionamentos? Cristo responde: no princípio não era assim.

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. O papa João Paulo II vem nos ensinar em sua obra que não só o homem sozinho é imagem e semelhança de Deus, mas de forma especial o casal, a comunhão entre homem e mulher -communio personarum-, por serem uma imagem daquilo que Deus é, ou seja, uma comunhão de amor (Pai – Filho – Espírito Santo).  

E não para por aí: a união do casal ainda nos fala sobre aquilo que viveremos um dia no céu, a comunhão eterna com Deus. É claro que, o pecado original e a inclinação que herdamos dele não nos permite ver plenamente esta realidade (esta é a dureza dos nossos corações).

Cada vez que um casal se separa, portanto, não ficamos desiludidos com o casal em si. O divórcio nos causa um impacto porque nos comunica uma mentira: “não é possível viver uma comunhão de amor”. É fato que não conseguimos vivê-la perfeitamente nesta terra. Mas o matrimônio, neste sentido, não quer nos falar só sobre esta terra, quer nos apontar para o que viveremos no céu, a eterna comunhão com Deus.

Ficamos frustrados porque, ao vermos um casal se separando, a analogia que Deus encontrou para nos dizer que fomos feitos para Ele e criados para amar acaba sendo violentada. A história que Deus deseja nos contar por meio de cada casal é interrompida. E nossos corações vão se tornando mais duros e passam a acreditar na mentira que nos é contada. As consequências? Paramos de acreditar na união aqui na terra, e em seguida, na união com Deus no céu.

Mas, não podemos nos esquecer de que é possível e que outros já viveram a união da terra como meio para chegar à união do céu. É o caso de Luís e Zélia Martin (os pais de Teresa de Lisieux e outras 4 religiosas), dos pais de João Paulo II (o casal Wojtyla) cujo processo de beatificação está em andamento e do casal italiano Luigi e Maria Beltrame - os primeiros a serem beatificados juntos. 

Todos esses encontraram no matrimônio um caminho que os levou à comunhão eterna com Deus. A pequena trindade (eis aqui uma analogia) na terra levou cada integrante destas famílias a experimentarem a comunhão com a Trindade no céu.

O divórcio nos choca porque tenta nos convencer de que não fomos criados para uma comunhão, nem nesta terra e nem no céu. A história interrompida volta a ser contada a cada vez que alguém permite que Cristo alcance com a sua redenção o coração duro e o encaminhe para os seus desígnios de amor. Através destes o próprio Deus nos revela esta grande verdade: fomos criados para nos unirmos a Ele. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/11/por-que-moises-teria-permitido-o-divorcio/

Almas de Oração (Parte 2/2)

Almas de Oração | Opus Dei

Almas de Oração

Assim como Jesus Cristo frequentemente se retirava sozinho para falar com seu Pai Deus, nós também precisamos de algum tempo diário dedicado a falar com Deus. Esses momentos de silêncio são onde nossa amizade com Jesus Cristo se desenvolve e cresce, por meio de conversas simples, nas quais abrimos nossas almas para Ele.

03/07/2025

O momento de ouvir Deus

É comum que, em algumas ocasiões, seja fácil perceber a presença de Deus, por exemplo, diante de uma experiência muito positiva ou em momentos de meditação. Em outros, será difícil “ouvir Deus”. O que fazer, então? Uma primeira questão é perguntar-nos por que nos custa ouvi-lo nesses momentos, pois é possível que – por inúmeras razões: agitação, acúmulo de tarefas, um certo descuido, etc. – nos falte a disposição adequada para interpelar o Senhor. Esse estado interior pode, inclusive, refletir-se nas relações com os demais, também com uma dificuldade para a escuta. Por isso, podemos perguntar-nos: Como procuro escutar de modo habitual as pessoas que estão ao meu redor? Será que pretendo ouvir Deus quando não sou muito capaz, agora mesmo, nem de ouvir as pessoas? Assim nos aconselha o Papa Leão: É importante que todos aprendamos cada vez mais a escutar, para entrar em diálogo. Em primeiro lugar, com o Senhor: escutar sempre a Palavra de Deus. Depois, também escutar os demais: saber construir pontes, saber escutar para não julgar, não fechar as portas, pensando que nós temos toda a verdade e que ninguém mais pode nos dizer nada[8]. Este é um bom caminho para acostumar nosso ouvido à escuta: evitar ficar fechados em nós mesmos e em nossas ideias, evitar ceder ao excessivo ruído interior pela hiperatividade em que vivemos, ou pela saturação de inputs que recebemos diariamente pelas redes sociais, a música, os jogos, etc. Neste sentido, se aspiramos a ter vida de oração, é necessário educar e treinar nossos sentidos externos e internos para despertá-los e para que nos levem à união com Deus. A isso também contribui o cultivar o silêncio interior com boas leituras (tanto de espiritualidade como literárias), contemplar a natureza, descobrir a beleza nas coisas pequenas, e não pretender encher todo o tempo de atividade. O Espírito Santo habita em nós e, por isso, necessitamos descobrir modos para que, no espaço interior de nossa alma, possamos receber suas inspirações e, portanto, ouvir a voz de Deus.

Suponhamos que já estamos colocando esses meios... Como podemos agora ouvir o que Deus quer nos dizer? Ainda que Ele fale como quer e quando quer, da nossa parte podemos recorrer a um recurso essencial: a Palavra de Deus! Esse é um modo privilegiado para conhecer a sua vontade. Recorrer ao testamento que Ele deixou em nosso nome por meio dos evangelistas é o principal ensinamento da Igreja, pois “o que é a Sagrada Escritura, senão uma carta de Deus onipotente à sua criatura?”[9]. Não há guia melhor para a oração e para a própria vida do que a Vida de Jesus Cristo. “Quando abrires o Santo Evangelho – aconselhava são Josemaria -, pensa que não só deves saber, mas viver o que ali se narra (...). Tudo, cada ponto que se relata, foi registrado, detalhe por detalhe, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência. (...) Nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida”[10]. Se vamos à oração com desejo de cultivar nossa amizade com Jesus Cristo, nada nos ajudará tanto a conhecê-Lo e a tratá-Lo, a identificar-nos com Ele, como a leitura e meditação do Evangelho.

Logicamente, segundo o estado da nossa alma, será conveniente que variemos nosso modo de rezar se começa a se tornar difícil, monótono, quando nos custa mais usar a imaginação ou converter o ruído interior que talvez tenhamos numa parte da nossa oração. Às vezes, pode nos ajudar permanecer em atitude de adoração, agradecer por tantas coisas, ler algum artigo ou livro de espiritualidade sobre um tema que nos interessa, saborear alguma oração vocal como o Pai Nosso, pedir pelo que nos preocupa ou necessitamos, ou simplesmente estar a sós com quem sabemos que nos ama[11], olhando para o Sacrário – que Ele veja que O estamos procurando-, manifestando assim o quanto O amamos, e que não O abandonamos diante da primeira dificuldade. Em qualquer caso, o Senhor nos convida a não estagnar, a não nos conformar, pois deseja aumentar a intimidade conosco; por isso, a oração está chamada a ser algo vivo.

Precisamente na obra de São Rafael, contamos com um meio orientado a ensinar-nos a ser almas de oração: as meditações. Estes momentos de oração acompanhados pela pregação de um sacerdote, aos quais podemos recorrer semanalmente, podem guiar nossa oração pessoal, abrir-nos horizontes, ensinar-nos a entrar nas cenas do Evangelho, etc., ainda que nunca substituam o esforço que temos de colocar pessoalmente, pois a oração, afinal de contas, é de tu a Tu, no silêncio da nossa alma.

A oração, uma necessidade vital

No conjunto dos meios de formação que há na Obra, a oração pessoal é a chave para que tudo o que recebemos penetre em nossa alma: nela nos detemos para falar com o Senhor sobre o que ouvimos no círculo e aplicá-lo na nossa vida; ali preparamos nossas conversas de direção espiritual e voltamos para assumir como próprios os conselhos que nos deram; dela sai nosso desejo de corresponder ao Senhor, sendo mais generosos através das nossas contribuições econômicas, dando nosso tempo nas visitas aos pobres ou na catequese; ali se acende nosso desejo de fazer com que outras pessoas se aproximem d'Ele, etc.

Pouco a pouco, a oração se converte em uma necessidade vital, ao ser expressão da amizade com Jesus Cristo, até o ponto de notarmos que, quando a abandonamos, o resto não anda, pois na oração se renova a missão que o Senhor nos confia e, por isso, ela é o motor da nossa vida. Quando nos deixamos guiar por Ele, “ajuda-nos a crescer até nos tornarmos ‘carta de Cristo’ (cf. 2 Cor 3, 3) uns para os outros. E é exatamente assim: somos tanto mais capazes de anunciar o Evangelho, quanto mais nos deixamos conquistar e transformar por ele, permitindo que a força do Espírito nos purifique no íntimo, torne simples as nossas palavras, honestos e transparentes os nossos desejos, generosas as nossas ações”[12].


[8] Leão XIV, Homilia, 11-05-2025.

[9] Gregório Magno, Carta a Teodoro médico do Imperador, Ep. V, 46 (CCL 140, 339).

[10] São Josemaria, Forja, 754.

[11] Cfr. Santa Teresa de Jesus.

[12] Leão XIV, Homilia na Celebração Eucarística e tomada de posse da Cátedra Romana como Bispo de Roma, 25.05.2025.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/almas-de-oracao/

Curiosidades da Bíblia: Sodoma e Gomorra de fato existiram?

Bíblia (Vatican News)

Pouco se sabe de concreto sobre as cidades de Sodoma e Gomorra. Elas estavam situadas próximas ao mar morto. A primeira referência bíblica a seu respeito está no livro do Gênesis (Gn 10,19).

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Uma das narrativas bíblicas do Antigo Testamento que, com certeza, mais chama a atenção dos leitores é o diálogo de Abraão com Deus, quando o patriarca da nação invoca sua clemência para com duas cidades. Na passagem o Senhor anuncia a destruição de Sodoma e Gomorra. O motivo apresentado seria o elevado nível de promiscuidade e corrupção do povo. Assim está escrito:

“Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito” (Livro do Gênesis, capítulo 18, versículo 20).

Abraão intercedeu pelo povo diversas vezes, perguntando ao Senhor que se houvesse homens justos no meio dos ímpios, ele pouparia a cidade:

“Disse mais: Ora, não se irrite o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez justos? E Deus disse: Não a destruirei por amor dos dez” (Livro do Gênesis, capítulo 18, versículo 32).

As Sagradas Escrituras contam que o Senhor poupou a família de Abraão enviando dois anjos à casa de Ló, seu sobrinho, que habitava a região a ser destruída. Eles o orientam a deixar a cidade, junto com sua família. Os anjos orientam ainda que ao sair da cidade não olhassem para trás, para não virarem estátua de sal. E por não haver ali sequer dez homens justos, a cidade foi destruída. A mulher de Ló, entretanto, ao se virar para traz imediatamente foi transformada numa estátua de sal. Assim está escrito no Livro de Gênesis

 “Então o Senhor fez chover enxofre e fogo desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra” (Livro do Gênesis, capítulo 19, versículo 24).

Localização das cidades de Sodoma e Gomorra

Pouco se sabe de concreto sobre as cidades de Sodoma e Gomorra. Elas estavam situadas próximas ao mar morto. A primeira referência bíblica a seu respeito está no livro do Gênesis (Gn 10,19). São as duas mais conhecidas, porém, na verdade, havia outras três cidades ao longo do Rio Jordão. Essas cinco cidades eram conhecidas como as Cidades da Planície.

Nas passagens que nos referenciam a destruição das cidades é motivada pela promiscuidade de seus moradores. Porém, outra versão indica que as cidades tenham sido destruídas porque seus habitantes eram cruéis e pouco hospitaleiros com os estranhos. A falta de hospitalidade comum naquela época era muito criticada por ser uma atitude contrária à fraternidade como está no evangelho de Mateus (Mt 10, 14-15) que diz:

"E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade."

Outras informações históricas mostram que essas Cidades da Planície tiveram um passado difícil por serem cobiçadas. Bem antes do evento apocalíptico acontecer, Sodoma e Gomorra foram realmente devastadas pela guerra. Quedorlaomer, Rei de Elon, atacou as cidades, massacrou seus moradores e roubou todas as suas riquezas e alimentos.

Quem sabe por isso mesmo, seus habitantes tenham justificado o não seguimento da vontade de Deus, ao se tornarem rudes e hedonistas. Mas, no final, eles pagaram por isso da pior maneira possível.

O pecado de Sodoma e Gomorra

A Bíblia não deixa muito claro a razão da destruição de Sodoma e Gomorra, mas o profeta Ezequiel (EZ 16,49) já apresenta as cidades como expressão de pecado ao dizer:

"Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado."

O Profeta Jeremias (Jr 23,14), por sua vez, acrescenta um detalhe a mais nesta questão:

"Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade, e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, e os seus moradores como Gomorra."

Uma leitura mais simples mostra estas cidades completamente sem lei, devido a sua riquezas e vida fácil proporcionadas pela fertilidade das planícies próximas ao Rio Jordão. Um homem, porém, foi digno de escapar da destruição se transformando em sinal de retidão daqueles que andam à luz do Senhor.

A segunda carta de Pedro (Pd 2, 6-9) enfatiza como Ló foi salvo por Deus, por ser ele um homem piedoso e justo. Ló e suas filhas conseguiram escapar sãos e salvos. A esposa de Ló, no entanto, não conseguiu porque ela desobedeceu a Deus e olhou para trás. Por isso ela foi transformada numa estátua de sal.  Na bíblia, o olhar para traz tem a interpretação de quem não conseguiu se desvencilhar das riquezas e da vida fácil.

Os antigos romanos tinham também sua versão da história. O escritor romano Ovídio escreveu uma fábula que mistura elementos da mitologia grega e romana, na história de Baucis e Filémon. Nessa história, os deuses Zeus e Hermes (ou Júpiter e Mercúrio, respectivamente na mitologia romana) viajaram para uma cidade disfarçados de homens, para tristemente descobrir que seus habitantes não eram hospitaleiros a não ser Filémon e sua esposa, Baucis, que os recebem e lhes dão comida. Os deuses então se revelam, avisando o casal para fugir, pois eles destruiriam a cidade.

Existe também uma versão da história no islamismo. A Sura Hude 11, 81 do livro do Alcorão tem uma versão ainda pior. Lá está escrito:

"Então viaje com sua família no escuro da noite, e não deixe nenhum de vocês olhar para trás, exceto sua esposa. Ela certamente sofrerá o destino dos outros."

Razões da destruição das cidades

Não existe uma clareza nos motivos que levaram à destruição das cidades impenitentes, mas em 2005, arqueólogos descobriram uma área na Jordânia conhecida como Telel Hamã. As ruinas e os objetos ali encontrados indicam possivelmente a localização das Cidades da Planície, com evidências de que o lugar foi devastado pelo fogo. Objetos de cerâmica que lá foram desenterrados mostram que a cerâmica se transformou em vidro depois de ser exposta a temperaturas extremamente altas.

A falta de água, as altas temperaturas do deserto e a terra que se tornou imprópria para a produção agrícola podem explicar as razões dos habitantes abandonarem as cidades. Mas nas Sagradas Escrituras, mais importante do que o fato em si, está a simbolização das cidades de Sodoma e Gomorra como lugares de pecado que são abomináveis para Deus, que sempre oferece, porém, a sua misericórdia e a possibilidade de conversão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O túmulo dos apóstolos: São Pedro (Parte 1/2)

São Pedro | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2008

O túmulo dos apóstolos

São Pedro

O discípulo que aprendeu a humildade.

de Lorenzo Bianchi

“Nos subterrâneos da Basílica Vaticana estão os fundamentos da nossa fé. A conclusão final dos trabalhos e dos estudos responde um claríssimo ‘sim’: o túmulo do Príncipe dos Apóstolos foi encontrado”. Foi assim que o papa Pio XII, no encerramento do Jubileu de 1950, deu o anúncio do reconhecimento da sepultura de Pedro, que uma tradição antiquíssima e unânime também atestava. O lugar da sepultura havia sido mencionado pela primeira vez nas palavras do presbítero Gaio, nos anos do pontificado do papa Zeferino, entre 198 e 217: “Posso mostrar-te os troféus dos apóstolos [Pedro e Paulo]. Se quiseres dirigir-te ao Vaticano ou à Via de Óstia, encontrarás os troféus daqueles que fundaram esta Igreja [de Roma]” (in: Eusébio de Cesaréia, História eclesiástica, II, 25, 7). O que é um “troféu”? Não é apenas uma estrutura, como muitas vezes foi entendido, simplificando esse trecho, mas, propriamente, o corpo do mártir: é esse o “troféu da vitória”. Nesse mesmo período, o martírio de Pedro é confirmado por Tertuliano, que, por volta do ano 200, escreve que a preeminência de Roma está ligada ao fato de que três apóstolos, Pedro, Paulo e João, nessa cidade ensinaram, tendo sido os dois primeiros mártires nela (cf. A prescrição contra os hereges, 36). Antes ainda, porém, o martírio é certificado por Clemente Romano, na primeira carta aos Coríntios (5-6), que talvez possa ser datada do ano 96: “Levemos em consideração os bons apóstolos: Pedro, que por inveja injusta suportou não um, nem dois, mas muitos sofrimentos, e assim, depois de ter dado testemunho, encaminhou-se para o merecido lugar da glória. [...] Em torno desses homens [Pedro e Paulo], que se comportaram piamente, reuniu-se uma grande multidão de eleitos, os quais, depois de terem sofrido por inveja muitos ultrajes e tormentos, tornaram-se entre nós belíssimo exemplo”.

Clemente escreve de Roma, e o próprio contexto da carta se refere a fatos que ocorreram em Roma: além de tudo, Pedro e Paulo recebem aí a companhia dos mártires romanos “entre nós”, vítimas da perseguição de Nero, aos quais se refere a última frase que transcrevemos.

Efetivamente, Pedro morreu nos jardins de Nero, no Vaticano, ao lado de uma grande multidão de cristãos, na perseguição desencadeada pelo imperador depois do incêndio que, iniciado em 19 de julho de 64, destruiu grande parte de Roma. É ao ano de 64, justamente, que deve remontar, segundo os estudos mais recentes e reconhecidos, a data do martírio de Pedro, que a tradição iniciada com Jerônimo punha no ano de 67, ao lado do de Paulo (coerentemente com essa última tradição, desenvolveram-se também, em tempos antigos, as tradições da detenção simultânea dos dois apóstolos no Cárcere Mamertino e de seu último encontro, antes do martírio, na Via de Óstia, pouco além dos limites da cidade). Uma descrição do martírio dos primeiros cristãos de Roma nos foi deixada nas palavras do historiador romano Tácito: “Portanto, em primeiro lugar foram presos aqueles que confessavam abertamente sua crença [na ressurreição de Cristo]; depois, por denúncia destes, foi presa uma grande multidão, não tanto sob a acusação de ter provocado o incêndio, mas, sim, pelo ódio que tinham à espécie humana. À morte de todos eles acrescentava-se o escárnio, pois que, revestidos de peles de animais, pereciam dilacerados pelos cães, ou eram pregados nas cruzes, ou queimados vivos, ao pôr-do-sol, como tochas para a noite. Nero cedeu seus jardins para esse espetáculo, e providenciou jogos circenses, participando deles misturado à multidão, em vestes de auriga, ou de pé sobre o carro. Por isso, embora fosse gente culpada e merecedora de tão originais tormentos, crescia um sentimento de piedade por eles, pois eram sacrificados não para o bem comum, mas em razão da crueldade de um só” (Anais, XV, 44, 4-5).

O imperador Constantino, na secunda década do século IV, encerrou num monumento em alvenaria a sepultura de Pedro (um túmulo escavado diretamente na terra, perto do circo que marcava o limite setentrional dos jardins de Nero) e mais tarde, por volta de 320, edificou uma basílica em torno dessa sepultura. Para fazer isso, não aproveitou, como teria sido mais óbvio e mais seguro, do ponto de vista da solidez da nova construção, o espaço plano que existia entre o Gianículo e o Vaticano, ocupado anteriormente pelo circo, mas, exigindo um grandioso trabalho de engenharia, construiu uma ampla plataforma artificial, que, de um lado, cortava os declives da colina Vaticana e, de outro, soterrava e utilizava como fundamentos as estruturas de uma necrópole que se havia desenvolvido pelo lado setentrional do circo, entre os séculos I e IV. Quis Constantino que o fundamento da basílica, na intersecção entre a nave central e o transepto, fosse justamente o monumento que encerrava a sepultura do apóstolo. Por esse motivo, o eixo do edifício de Constantino também não leva em conta, como teria sido mais fácil, os eixos da necrópole e do circo; o eixo de seu edifício se estende mais ou menos na mesma direção, mas se distancia dela, por pouco que seja, pelo fato de ser determinado com absoluta exatidão pela orientação da memória de São Pedro. Assim, desde aquela época o sepulcro do apóstolo, além de ser um ponto de atração, é também o centro exato de tudo o que se desenvolveu ao seu redor ao longo dos séculos, desde as sepulturas dos primeiros fiéis cristãos até as instalações para os peregrinos no início da Idade Média, além das estradas, dos muros da civitas Leoniana edificados depois do saque dos sarracenos de 846 e do moderno bairro do Borgo.

A construção da nova basílica, fundada pelo papa Júlio II em 18 de abril de 1506, embora tenha levado à demolição da basílica constantiniana e de seus acréscimos medievais, respeitou também rigorosamente a centralidade do sepulcro de Pedro: o atual altar-mor, construído pelo papa Clemente VIII (1594), encontra-se exatamente acima do medieval, do papa Calixto II (1123), que, por sua vez, engloba o primeiro altar, do papa Gregório Magno (cerca de 590), construído sobre o monumento constantiniano que guarda o túmulo de Pedro. E o ápice da cúpula de Michelangelo se encontra em posição exatamente perpendicular acima desse altar.

Fonte: https://www.30giorni.it/

DENTRO DO VATICANO: Dicastério para as Igrejas Orientais

Detalhe da capela do Dicastério para as Igrejas Orientais (Vatican News)

É o Dicastério da Cúria Romana que cuida, em nome do Papa, de todas as Igrejas Orientais Católicas, cujos territórios se estendem da Etiópia ao Oriente Médio, da Europa à Índia, e de todas as comunidades da diáspora, filhas dessas Igrejas sui iuris (por direito próprio) espalhadas hoje, por numerosas migrações, em muitas partes do mundo.

Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano

É o Dicastério da Cúria Romana que cuida, em nome do Papa, de todas as Igrejas Católicas Orientais, cujos territórios se estendem da Etiópia ao Oriente Médio, da Europa à Índia, e de todas as comunidades da diáspora que são filhas dessas Igrejas sui iuris (de direito próprio) espalhadas hoje, devido a numerosas migrações, em muitas partes do mundo. O prefeito é o cardeal Claudio Gugerotti, e o secretário é o arcebispo Michel Jalakh, OAM.

Notas históricas

Em 1573, o Papa Gregório XIII instituiu a Congregatio de rebus Graecorum, à qual foi confiada a tarefa de acompanhar a vida dos católicos de rito bizantino ou grego, mas também de promover a fé entre outros cristãos do Oriente.

Em 1862, Pio IX, dentro da Sacra Congregatio para a Propagação da Fé, erigiu, com tarefas semelhantes, a Congregatio de Propaganda Fide pro negotiis ritus orientalis.

Em 1917, o Papa Bento XV, com o Motu Proprio Dei providentis, criou a Congregação para a Igreja Oriental, e em 1967, São Paulo VI, com a Constituição Apostólica Regimini Ecclesiae Universae, mudou o nome para Congregação para as Igrejas Orientais. Em 1964, São Paulo VI publicou o decreto Orientalium Ecclesiarum, e em 1990, São João Paulo II publicou o Código dos Cânones das Igrejas Orientais.

Em 2022, o Papa Francisco, com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, mudou o nome para Dicastério para as Igrejas Orientais. Em 2022, o Papa Francisco, com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, mudou o nome para Dicastério para as Igrejas Orientais.

Entre os vários documentos magisteriais, os seguintes são essenciais para abordar o fascinante mundo das Igrejas Orientais Católicas:

A Carta Apostólica Orientalium dignitas, com a qual o Papa Leão XIII, em 1895, quis salvaguardar o significado das tradições orientais para toda a Igreja, destacando a vontade da Santa Sé de proteger sua especificidade. Em 1964, São Paulo VI publicou o decreto do Concílio Vaticano II sobre as Igrejas Orientais Católicas, Orientalium Ecclesiarum. Em 1990, São João Paulo II promulgou o Código dos Cânones das Igrejas Orientais e, cinco anos depois, por ocasião do centenário do Orientalium dignitas, publicou a Carta Apostólica Orientale lumen.

A entrada da sede do Dicastério para as Igrejas Orientais, em prédio na Via della Conciliazione (Vatican News)

Entrada da sede do Dicastério para as Igrejas Orientais, em um edifício na Via della Conciliazione

Competências

O Dicastério, de acordo com a Constituição Apostólica Praedicate evangelium, trata de assuntos que dizem respeito às Igrejas Orientais Católicas sui iuris.

O Dicastério é competente em todos os assuntos específicos das Igrejas Orientais que são de responsabilidade da Santa Sé, tais como: a estrutura e a ordem das Igrejas; o exercício das funções de ensinar, santificar e governar; as pessoas, seu status, seus direitos e deveres. Portanto, exerce sobre as eparquias, bispos, clérigos, religiosos e fiéis de rito oriental as faculdades que os Dicastérios para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para o Clero, para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica e para a Educação Católica têm, respectivamente, sobre as dioceses, bispos, clérigos, religiosos e fiéis de rito latino, salvo algumas exceções.

O Dicastério acompanha com atenção as comunidades de fiéis orientais que se encontram nas Circunscrições territoriais da Igreja latina, chamadas "da diáspora". Provê suas necessidades espirituais por meio de visitadores ou por meio de uma própria Hierarquia, onde o número de fiéis e as circunstâncias o exigirem, após ter consultado o Dicastério competente para o estabelecimento de Igrejas particulares no mesmo território. Em regiões onde os ritos orientais prevalecem há muito tempo, o apostolado e a ação missionária dependem exclusivamente deste Dicastério, mesmo que sejam realizados por fiéis da Igreja Latina.

O Dicastério, portanto, também tem jurisdição territorial sobre os fiéis latinos na Bulgária, Chipre, Egito, Jordânia, Grécia, Iraque, Irã, Israel, Líbano, Palestina, Síria e Turquia.

No Dicastério estão presentes a Comissão Especial para a Liturgia, com a tarefa de salvaguardar e promover o patrimônio litúrgico do Oriente cristão, a Comissão Especial para Estudos sobre o Oriente Cristão e a Comissão Especial para a Formação do Clero e dos Religiosos, que promove a formação de estudantes orientais, especialmente em Roma.

A ROACO (Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais), comissão que reúne agências-obras de vários países do mundo, comprometidas no apoio financeiro às Igrejas Orientais em diversos setores, desde a construção de locais de culto até bolsas de estudo, desde instituições educacionais e escolares até aquelas dedicadas à assistência social e sanitária, é presidida pelo prefeito e tem como vice-presidente o secretário do Dicastério. 

Tem a tarefa de promover o amor e a corresponsabilidade eclesial para com a Terra Santa e, para isso, envia anualmente a todos os bispos uma Carta Circular em vista da Coleta para a Terra Santa, para sensibilizar os fiéis à ajuda espiritual e material em favor das comunidades e instituições católicas presentes na terra de Jesus.

Detalhe da capela do Dicastério para as Igrejas Orientais (Vatican News)

Recuperar o sentido do mistério do Oriente cristão

O Papa Leão XIV sublinhou isso, quando se encontrou com os pastores e fiéis das Igrejas Orientais Católicas por ocasião do seu Jubileu, em 14 de maio de 2025: “A Igreja precisa de vós! Como é grande a contribuição que o Oriente cristão nos pode oferecer hoje! Quanta necessidade temos de recuperar o sentido do mistério, tão vivo nas vossas liturgias, que abrangem a pessoa humana na sua totalidade, cantam a beleza da salvação e suscitam o enlevo pela grandeza divina que abraça a pequenez humana!”. Obrigado a vós, "queridos irmãos e irmãs do Oriente, de onde ressuscitou Jesus, Sol de justiça, por serdes “luzes do mundo”, concluiu, fazendo votos que as Igrejas Orientais continuem sendo "exemplo" e que "os Pastores promovam com retidão a comunhão, especialmente nos Sínodos dos Bispos, para que sejam lugares de colegialidade e de autêntica corresponsabilidade".

Um convite também reiterado no encontro com os membros da ROACO em 26 de junho de 2025: "Gostaria que esta luz de sabedoria  do Oriente] e salvação fosse mais conhecida na Igreja católica, onde ainda subsiste muita ignorância a tal respeito […]. No entanto, o Oriente cristão só pode ser preservado se for amado; e só é amado se for conhecido. […]. E há também necessidade de encontro e partilha da ação pastoral, dado que hoje os católicos orientais já não são primos distantes que celebram ritos desconhecidos, mas irmãos e irmãs que, devido a migrações forçadas, vivem ao nosso lado. O seu sentido do sagrado, a sua fé cristalina que se tornou granítica pelas provações, e a sua espiritualidade que tem o perfume do mistério divino podem beneficiar a sede de Deus latente, mas presente no Ocidente."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Almas de Oração (Parte 1/2)

Almas de Oração | Opus Dei

Almas de Oração

Assim como Jesus Cristo frequentemente se retirava sozinho para falar com seu Pai Deus, nós também precisamos de algum tempo diário dedicado a falar com Deus. Esses momentos de silêncio são onde nossa amizade com Jesus Cristo se desenvolve e cresce, por meio de conversas simples, nas quais abrimos nossas almas para Ele.

03/07/2025

Todos guardamos em nosso interior, como algo íntimo e familiar, uma série de recordações inesquecíveis. Ainda que o tempo passe, e deixemos de olhar para dentro, elas estão lá, e virão à tona no momento mais inesperado. Talvez entre essas recordações tenhamos a sorte de encontrar momentos de confidência de uma mãe, um irmão ou uma avó, que compartilhavam conosco parte de seu tesouro particular. É possível que tenha sido esse o cenário da primeira vez que nos lembramos de ter nos dirigido a Deus, com as palavras que nos emprestaram. Ou, talvez, tenha sido anos depois, quando um amigo, ou uma circunstância inesperada nos abriu a porta para o diálogo íntimo com Deus.

Seja qual for esse momento, por acaso não nos surpreendeu quando – pela primeira vez – percebemos que é possível falar pessoalmente com Deus? E mais ainda... ouvi-Lo! Provavelmente, então, pensávamos que uma relação pessoal próxima com Deus era algo reservado para pessoas VIP, de uma categoria especial dentro da Igreja, ainda que nos tenham dito o contrário... talvez até ainda pensemos assim. Mas essa possibilidade nos atraiu, sabendo que não pode haver amizade como a d'Ele, que Ele é o primeiro interessado em manter essa relação e que só Deus pode preencher o anseio de plenitude do nosso coração.

O Evangelho nos conta que, uma vez, os apóstolos, atraídos talvez pelo modo de rezar de seu mestre, pediram a Jesus: “ensina-nos a orar”[1]. Não é difícil supor que, ao ouvir o Pai Nosso pela primeira vez, se deslumbraram diante da possibilidade de se dirigir a seu Pai Deus com essa confiança, já que antes não se consideravam dignos de pronunciar seu nome, pela profunda reverência que os bons judeus tinham a Deus.

Compartilhar a vida com Cristo

Séculos depois, nos começos da Obra, São Josemaria também rompeu esquemas ao recordar, com o Evangelho, a chamada à vida contemplativa por meio da vida cotidiana. Assim, abria horizontes para aqueles que se aproximavam de seu apostolado, enchendo de bons desejos os primeiros de São Rafael, convidando-os a serem almas de oração: "Ao oferecer-te aquela História de Jesus, pus como dedicatória: ‘Que procures Cristo. Que encontres Cristo. Que ames a Cristo’. São três etapas claríssimas. Tentaste, pelo menos, viver a primeira?”[2]. Muitos seguiram esse convite, percorrendo o caminho de sua vida cristã no meio do mundo, procurando permanecer sempre em diálogo com o Senhor.

Desde então, muitas pessoas nos aproximamos do espírito da Obra atraídas por esta mensagem, querendo dar a cada instante da nossa vida seu sentido mais pleno, vivendo-a com Deus. Pessoas de todas as condições, com um profundo desejo de viver uma vida plena, autêntica, muitas já desde a juventude[3], recorrem aos meios de formação cristã que se oferecem na Obra, buscando guia e alimento para sua vida interior. “Com o bom aproveitamento dos meios da obra de São Rafael, recebem uma sólida formação doutrinal, aprendem a ser almas de oração, a viver na presença de Deus no meio dos afazeres cotidianos de cada dia, a dar sentido cristão ao seu trabalho – intelectual ou manual – e a ter espírito de sacrifício”[4].

Assim, ao longo do dia procuramos compartilhar com o Senhor o que temos pela frente, nossas ocupações, nossos projetos e inquietações, oferecendo-Lhe o que temos e pedindo-Lhe que ilumine nossas ações com sua inspiração e com sua ajuda[5], para sermos, ao mesmo tempo, testemunhas da luz de Cristo entre as pessoas que nos rodeiam. Procuramos ser conscientes de que Deus está sempre atento a nós, e corresponder ao seu Amor, dando-Lhe graças muitas vezes ao dia, pedindo-Lhe perdão quando nos esquecemos d'Ele ou de quem somos para Ele, cultivando, deste modo, a presença de Deus.

Um diálogo autêntico

Assim como o próprio Jesus Cristo se retirava com frequência a sós para falar com seu Pai Deus, nós também necessitamos de “momentos de colóquio sem ruído de palavras, junto do Sacrário sempre que possível, para agradecer ao Senhor por essa espera – como está só! – de vinte séculos”[6]. Estes momentos de quietude são “o lugar” em que se desenvolve e cresce nossa amizade com Jesus Cristo, através de uma conversa sincera, na qual abrimos a alma de par em par, sem medos, sabendo que estamos diante de quem mais nos ama, e sendo conscientes de que Ele já está em nosso interior para alentar, iluminar e infundir sua graça em cada momento. Nesses tempos de oração, podemos experimentar essa proximidade de Jesus Cristo e descobrir que é Ele mesmo quem busca preencher cada vez mais nosso coração, para derramar nele todo o seu amor, e para dilatá-lo e colocar nele muitas pessoas.

Infelizmente, sabemos que não é tão fácil fazer oração e, estejamos no princípio do caminho ou tenhamos percorrido certo trajeto, sempre temos o desejo de aprender a fazê-la. Talvez nos ajude parar e refletir sobre o modo como fazemos oração, ou como gostaríamos que fossem essas conversas de amizade com Ele.

Um bom ponto de partida pode ser pensar em algum tema que ocupe nosso coração nesse momento. Assim, falamos da nossa vida: o que nos alegra, o que nos preocupa, o que temos entre mãos. Pode ser que em alguns períodos tenhamos algo que nos corrói por dentro e, em vez disso, falamos com Ele “sobre pássaros e flores”, talvez porque nos falte confiança de que realmente Deus se importa com tudo o que é nosso, ou por medo de enfrentar a complexidade da própria vida. Pode ser que não saibamos como dialogar com o Senhor sobre essa ou outras coisas. Pode nos servir considerar que Deus sempre está do nosso lado e que sempre se importa com o que é nosso. Por isso, podemos dizer com simplicidade: Senhor, o que me preocupa é isto, o que fazemos? Onde Você está, Senhor?; ou então contar o que aconteceu conosco, as pequenas dificuldades que vamos encontrando e como as estamos enfrentando, perguntando, ao mesmo tempo, o que Ele nos diz de tudo isso ou do que virá pela frente, tratando de ver tudo desde o olhar de Deus.

O Senhor nos fala através da Sagrada Escritura, dos ensinamentos dos pastores da Igreja e dos santos, e também através dos acontecimentos de cada dia. Por isso, em cada momento de oração, é importante que estejamos atentos, abertos para ouvir a Deus e compreender sua ação em nossa vida, dispostos a “complicar” a vida pensando em como enfrentar a realidade de um modo mais cristão, de acordo com a nossa própria identidade de filhos de Deus. No Evangelho, o Senhor nos convida a ser audazes e valentes, e a oração é um bom lugar para iniciar esta transformação da mente e dos sentidos. Fala-se assim do “combate da oração” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2726), pois nesses momentos – com a graça de Deus – podemos nos atrever a ouvir, a descobrir e entrar com mais profundidade no coração de Deus, onde encontraremos “seus sonhos” para nós e conosco. E não de modo teórico ou abstrato, mas real, comprometendo-nos com Ele a lutar em um ponto concreto que sabemos que temos que mudar, algo pequeno que Ele espera que entreguemos ou que sabemos que fará bem a nós ou a quem temos por perto, sabendo que, como Pai, acompanha-nos, dá-nos sua força e nos olha com compreensão e carinho.

Pode nos ajudar olhar o exemplo de Nossa Mãe: quando o Evangelho recolhe que “conservava todas estas coisas, meditando-as em seu coração”[7], diz que estaria habituada a perguntar-se o que significavam as coisas que aconteciam com ela, como podiam aproximá-la de Deus, o que Deus lhe pedia através dessas circunstâncias nas quais se encontrava. Podemos, pois, aprender com ela a cultivar essa disposição habitual de ouvir, de descobrir o sentido das coisas, o modo de colaborar com os planos de Deus, e tudo isso com uma escuta ativa e com o desejo profundo de aproveitar todas as oportunidades de amar, de dizer sim a Deus com confiança.


[1] Cfr. Lc 11,1

[2] São Josemaria, Caminho, 382.

[3] Cfr. Francisco, Audiência geral, 13/06/2018.

[4] São Josemaria, Cartas II, Carta nº7, n.5.

[5] Oração tradicional recolhida na oração coleta da Missa da Quinta-Feira depois das Cinzas; são Josemaria a incorporou nas preces da Obra.

[6] São Josemaria, É Cristo que passa, 119.

[7] Lc 2, 19.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/almas-de-oracao/

Observatório Astronômico: quando a matemática cria ponte entre dois universos

Uma vista do buraco negro supermassivo da Via Láctea Sagittarius A* em luz polarizada (Vatican News)

Dois pesquisadores do Observatório Astronômico do Vaticano, também conhecido como Specola Vaticana, revelaram a existência de duas maneiras diferentes de descrever a gravidade na presença de um campo adicional que, usando os instrumentos matemáticos certos, não só descrevem a mesma física, mas podem até criar novas soluções para as equações de Einstein.

Vatican News

Dois pesquisadores do Observatório Astronômico, também conhecido como Specola Vaticana, Pe. Gabriele Gionti e Pe. Matteo Galaverni, revelaram um resultado surpreendente: existem duas maneiras diferentes de descrever a gravidade na presença de um campo adicional (o “campo escalar”) - o “frame de Jordan” e o “frame de Einstein” que, usando os instrumentos matemáticos certos, não só descrevem a mesma física, mas podem até criar novas soluções para as equações de Einstein (que descrevem o universo em grande escala) e que descrevem cenários do universo fisicamente diferentes.

Para demonstrar isso, os dois cientistas aplicaram o formalismo ADM-hamiltoniano, que se revelou essencial porque, através de um procedimento preciso e rigoroso, demonstra que os dois “frames” são equivalentes, desde que se “fixem” condições específicas. Sem essas condições, a correspondência permanece oculta. Os resultados dessa pesquisa foram publicados no European Journal of Physics C.

Equações completas e corretas

Um grande ponto de virada em seu trabalho diz respeito aos termos de borda, aqueles termos “nas margens” das superfícies espaço-temporais que são considerados para obter as equações dinâmicas. Como explicam os pesquisadores: “é preciso considerar bem os termos de borda. Só assim se obtêm as equações de movimento corretas. Os resultados anteriores eram incompletos”. Ignorando esses termos cruciais, obtinham-se equações parciais e limitadas. Graças a Gionti e Galaverni, hoje finalmente temos as equações completas e corretas em ambos os “frames”.

O resultado mais extraordinário surge ao estudar o que acontece quando se passa de um “frame” para outro usando a transformação canônica. Se a transformação é regular, a equivalência é mantida: cada solução no “frame de Jordan” corresponde a uma no quadro de Einstein. Mas se a transformação se torna singular, então a matemática faz o milagre: surgem novas soluções gravitacionais, como buracos negros ou singularidades “nuas”. Em outras palavras: a singularidade da transformação não apenas rompe o vínculo entre os dois “frames”, mas gera novos universos teóricos inteiros - cenários nunca antes vistos.

Essa descoberta não é apenas um resultado técnico: ela demonstra que a escolha da linguagem matemática pode mudar o que percebemos como realidade. É um passo fundamental para compreender melhor os buracos negros, o início do universo e para nos aproximarmos do difícil objetivo de unificar a gravidade e a mecânica.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O túmulo dos apóstolos: Santo André

Santo André | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 12 - 2008

O túmulo dos apóstolos

Santo André

O primeiro dos apóstolos a ser chamado.

de Lorenzo Bianchi

André, irmão de Pedro, é o apóstolo dos gregos. Depois do Pentecostes, sua pregação se desenvolve no Oriente, na Sícia, região entre os rios Danúbio e Dão. Essa notícia é dada por Orígenes (185-225 aprox.) e transcrita por Eusébio de Cesareia (História eclesiástica, III, 1): “Quanto aos apóstolos e aos discípulos de nosso Salvador dispersos por toda a terra, a tradição diz que Tomé teve como destino a Pártia, André, a Sícia, e João, que viveu e morreu em Éfeso, a Ásia”. Mas em seguida André teve de passar para a província de Acaia, onde de modo particular, como diz Jerônimo, realizou sua pregação e se tornou bispo de Patras. Os Atos Apócrifos de André (que podem ser datados entre o final do século II e o início do século III, mas foram modificados por numerosas reelaborações posteriores, e que Eusébio de Cesareia rejeita decididamente como heréticos) atribuem a André também, antes da definitiva permanência em Acaia, a pregação no Épiro e na Trácia; ali, segundo uma tradição bizantina, teria sido o primeiro bispo de Bizâncio, cidade que, sob Constantino, se transformará na nova capital do Império Romano, Constantinopla.

Paixão de André, antigo relato do início do século VI, narra a morte de André em Patras, martirizado por volta do ano 60 (o martírio, na realidade, talvez tenha acontecido alguns anos mais tarde), sob o procônsul romano Egeias, que o condena ao suplício da crucificação. Analogamente ao irmão Pedro, André, segundo o relato, pede a crucificação numa cruz diferente da de Jesus: uma cruz decussada, em forma de “X”, que será a partir de então a característica principal na iconografia do apóstolo. Também nesse caso, como no de Pedro, a tradição traz muito provavelmente um dado histórico real: essa era realmente uma forma de suplício conhecida no mundo romano.

A tradição antiga é unânime também em indicar Patras como local da sepultura de André. De lá, como sabemos primeiro por Jerônimo (Os homens ilustres, III, 7, 6) e depois pelo Chronicon Paschale da primeira metade do século VII, no ano de 357 o corpo de André foi trasladado pelo imperador Constâncio II para Constantinopla, com o do evangelista Lucas, e posto no Apostoleion, a basílica dedicada aos apóstolos, para onde, no ano anterior, tinha sido trasladado também o corpo de Timóteo. Por fontes posteriores, podemos deduzir que talvez não tenha sido todo o corpo de André que chegou a Constantinopla, pois quase toda a cabeça pode ter ficado em Patras. A esse momento cronológico está ligada a notícia legendária da trasladação de parte das relíquias de André para a Escócia (nação que fez dele seu padroeiro e adotou a cruz de seu martírio como emblema em sua bandeira). As relíquias teriam sido levadas para a cidade de Kilrymont (hoje Saint Andrews), por obra de São Régulo, segundo uma tradição que provavelmente nasceu depois da evangelização iniciada em 597, por impulso do papa Gregório Magno e obra do monge Agostinho (Santo Agostinho de Canterbury). Preservadas, segundo a tradição, na Catedral de Santo André, em Edimburgo, essas relíquias desapareceram depois da destruição do interior do edifício, por obra dos protestantes, em 14 de junho de 1559.

Catedral de Santo André Apóstolo, Amálfi | 30Giorni

No início do século XIII, as relíquias de André chegaram à Itália. Quem as levou para Amálfi foi o cardeal Pietro Capuano, legado pontifício de Inocêncio III, depois da expedição da Quarta Cruzada, que, em vez de se dirigir à Terra Santa, passou antes por Zara e por Constantinopla, assaltada e saqueada em abril de 1204. Pietro Capuano voltou ao Ocidente em 1206 e talvez tenha depositado temporariamente as relíquias em Conca dei Marini; mandou então construir a cripta da Catedral de Amálfi, especialmente para ali depositar, com todas as honras, o corpo de André em 8 de maio de 1208 (como nos dizem fontes de meados do século XIII – em particular a Translatio Corporis sancti Andree de Constantinopoli in Amalphiam, de Matteo de Gariofalo – e como estudos recentes confirmaram). Nessa ocasião, provavelmente foi separada do núcleo das relíquias uma parte do crânio, encontrada primeiramente em 1603, durante a reforma da cripta, e mais tarde, mais uma vez, em 1846, quando foi depositada num relicário ainda hoje exposto à visitação.

Já a parte da cabeça preservada em Patras, correndo o risco de acabar nas mãos dos turcos, que avançavam na conquista de Acaia, foi transportada com solene cerimônia para Roma, em 1462, levada para lá a pedido do papa Pio II por Tomás Paleólogo, déspota de Moreia em fuga, e preservada em São Pedro (no chamado pilar de Santo André) até junho de 1964, quando, por vontade de Paulo VI, foi restituída, em sinal de amizade pela Igreja Ortodoxa, ao bispo metropolita de Patras, onde hoje repousa na igreja dedicada a André, erigida no lugar que a tradição indica como o de seu martírio. O mesmo Paulo VI doou, em 1969, uma relíquia de André à Catedral de Santa Maria, em Edimburgo, onde é venerada com uma outra doada pelo arcebispo de Amálfi em 1879, depois do restabelecimento da hierarquia católica na Escócia.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF