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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Curiosidades da Bíblia: A história do Êxodo

Sagrada Escritura (Vatican News)

O êxodo começa com a partida dos israelitas em direção à Terra Prometida, liderados por Moisés e seus continuadores, numa longa jornada pelo deserto que duraria 40 anos.

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

O Livro do êxodo e um dos mais conhecidos do Antigo ou Primeiro Testamento e a história da caminhada do Povo de Deus pelo deserto é um dos eventos centrais da narrativa bíblica porque marcou não apenas a libertação dos hebreus da escravidão no Egito, liderados por Moisés, mas passou a ter um simbolismo muito grande na vida do povo e na história de cada pessoa, por que a nossa vida nesse mundo -e identificada como o nosso êxodo particular em busca da eternidade.

De tão importante o Êxodo se transformou em temas de filmes, novelas e séries da TV, e mesmo na atualidade continua inquietando as pessoas que, muitas vezes, não sabem interpretar o seu real significado.

De acordo com o seu relato os israelitas, após terem vivido e se multiplicado por várias gerações no Egito, passaram a ser oprimidos e escravizados pelos faraós que, temendo o crescimento populacional dos hebreus, impôs a eles trabalhos forçados e buscou controlar o seu aumento, chegando a ordenar a morte dos recém-nascidos do sexo masculino.

O êxodo se transformou no “mito fundador dos israelitas”, que também existe em outras nações, a exemplo de Roma, que tem a versão histórica e a versão lendária de sua fundação. Para os escritores sagrados não importante se e como aconteceu, mas o evento simboliza não apenas a passagem da escravidão para a liberdade, mas funciona como uma escola de pedagogia necessária para a construção da nação sob a orientação divina. Êxodo se confunde também com a história do próprio povo.

São estes, pois, os nomes dos filhos de Israel que entraram com Jacó no Egito, cada um com a sua respectiva família: Rúben, Simeão, Levi e Judá; Issacar, Zebulom e Benjamim; Dã, Naftali, Gade e Aser. Ao todo, os descendentes de Jacó eram setenta; José, porém, já se encontrava no Egito.

Ora, morreram José, todos os seus irmãos e toda aquela geração. Os israelitas, porém, eram férteis, proliferaram, tornaram-se numerosos e fortaleceram-se muito, tanto que encheram o país. Então subiu ao trono do Egito um novo rei, que nada sabia sobre José. Disse ele ao seu povo: "Vejam! O povo israelita é agora numeroso e mais forte que nós. Temos de agir com astúcia, para que não se tornem ainda mais numerosos e, no caso de guerra, aliem-se aos nossos inimigos, lutem contra nós e fujam do país".

Estabeleceram, pois, sobre eles chefes de trabalhos forçados, para os oprimir com tarefas pesadas. E assim os israelitas construíram para o faraó as cidades-celeiros de Pitom e Ramessés. Todavia, quanto mais eram oprimidos, mais numerosos se tornavam e mais se espalhavam. Por isso os egípcios passaram a temer os israelitas,

e os sujeitaram a cruel escravidão.  (Êx 1,1-13).

Moisés e a libertação do povo

Segundo as narrativas históricas os hebreus foram ao Egito em busca de terras férteis, fugindo da fome e da escassez de alimentos, que atingiram a região de Canaã por volta de 1750 a.C, porque o Egito, conhecido na antiguidade como "celeiro do Oriente", por causa das terras férteis banhadas pela água abundante das cheias do Nilo, era o local ideal para uma população que dependia da agricultura e pecuária viver.

É possível que a chegada dos hebreus ao Egito tenha ocorrido durante a invasão dos Hicsos, povo de origem semita, conhecido como “Povo do Mar” que dominou o Egito numa época de desorganização. Com a expulsão dos invasores os hebreus foram transformados em escravos por cerca de 400 anos.

No contexto de opressão nasce Moisés, salvo da morte pela filha do faraó e criado na corte egípcia que, ao conhecer a real situação dos hebreus, se transformaria no libertador de seu povo.

Disse Deus ainda a Moisés: "Eu sou o Senhor. Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como o Deus Todo-poderoso, mas pelo meu nome, o Senhor, não me revelei a eles. Depois estabeleci com eles a minha aliança para dar-lhes a terra de Canaã, terra onde viveram como estrangeiros. E agora ouvi o lamento dos israelitas, a quem os egípcios mantêm escravos, e lembrei-me da minha aliança.

Por isso, diga aos israelitas: Eu sou o Senhor. Eu os livrarei do trabalho imposto pelos egípcios. Eu os libertarei da escravidão e os resgatarei com braço forte e com poderosos atos de juízo. Eu os farei meu povo e serei o Deus de vocês. Então vocês saberão que eu sou o Senhor, o Deus de vocês, que os livra do trabalho imposto pelos egípcios. E os farei entrar na terra que, com mão levantada, jurei que daria a Abraão, a Isaque e a Jacó. Eu a darei a vocês como propriedade. Eu sou o Senhor". (Êx 6,2-8(

Por que o deserto?

O êxodo começa com a partida dos israelitas em direção à Terra Prometida, liderados por Moisés e seus continuadores, numa longa jornada pelo deserto que duraria 40 anos.

A distância do Egito até a Terra de Canaã era apenas 200 km, existindo um caminho conhecido como “Estrada Real” que ligava as duas regiões com segurança. Até hoje as pesquisas arqueológicas não encontraram nenhum vestígio da caminhada do povo pelo deserto. As estimativas mais exageradas chegam a falar de 600 mil pessoas e durante a caminhada os israelitas enfrentam dificuldades e provações.

O percurso mais curto e direto para a Terra Prometida foi evitado por Deus, e o povo, debilitado pelo cativeiro e sem experiência em guerra, sentiu medo e desejo de voltar ao Egito. Deus optou por um caminho mais longo para preparar o povo para os desafios futuros.

A leitura do Êxodo mostra que não se trata apenas da libertação física da escravidão, mas do momento da consumação da aliança entre Deus e o povo. Durante a caminhada pelo deserto, os israelitas aprenderiam a confiar em Deus, recebendo as instruções para viver como um povo consagrado a Ele

O Êxodo se torna o evento fundante do povo de Israel, marcando o início de sua história como nação sob a orientação direta de Deus. A história do Êxodo também influenciou inúmeras outras tradições religiosas e tem sido uma fonte de inspiração para movimentos de libertação ao longo da história.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Está se sentindo estressado? Aqui estão cinco maneiras de lidar melhor com isso

Crédito: Getty Images | BBC

Está se sentindo estressado? Aqui estão cinco maneiras de lidar melhor com isso.

10/09/2025

Dr. Xand van Tulleken especialista do Morning Live

O verão acabou, as férias parecem uma lembrança distante e, de repente, o mundo volta a todo vapor.

E essa energia de retorno ao normal pode fazer com que muitos de nós nos sintamos sobrecarregados.

O estresse, em pequenas doses, pode nos ajudar a ficar alertas, mas, se não for controlado, pode prejudicar nossa saúde, humor e relacionamentos.

O cortisol, frequentemente rotulado como o hormônio do estresse, se tornou um termo da moda em termos de bem-estar, mas vale lembrar que ele não é o inimigo: é o que nos ajuda a acordar, ficar alertas e lidar com desafios.

O truque é mantê-lo em equilíbrio, não eliminá-lo.

Aqui estão cinco maneiras simples e comprovadas pela ciência para gerenciar o estresse e retomar o controle.

1. Pare de se estressar com isso

Crédito: Getty Images | BBC

Ironicamente, preocupar-se com os efeitos do estresse pode piorá-lo.

Quanto mais falamos sobre os danos que o estresse causa, começamos a pensar "Ah, agora estou estressado e sei que isso está me fazendo muito mal", então tente não se preocupar com como você está se sentindo.

O estresse é uma parte normal da vida e é inevitável, especialmente durante grandes desafios como o luto, cuidar de entes queridos, cuidar de crianças pequenas ou lidar com incertezas no trabalho.

Em vez de entrar em pânico por estar estressado, aceite que isso acontece e lembre-se de que não vai durar para sempre.

2. Mova seu corpo

Crédito: Getty Images | BBC

A melhor maneira de controlar fisicamente o estresse é se exercitar.

O exercício faz com seu corpo a mesma coisa que o estresse: ele aumenta sua frequência cardíaca, sua pressão arterial, faz você respirar mais rápido e libera adrenalina e cortisol.

Ao se exercitar, seu corpo aprende a controlar os picos de cortisol e a lidar com esses surtos, para que você esteja melhor equipado para lidar com os maiores estresses da vida.

Se você está estressado pensando em qual exercício vai fazer ou em qual academia se inscrever, lembre-se de que qualquer forma de exercício é ótima.

Não precisa ser nada que exija muito tempo ou muita pressão: uma simples caminhada, corrida leve ou qualquer atividade que você goste resolverá o problema.

3. Priorize o sono

Crédito: Getty Images | BBC

Tente ir para a cama mais cedo e acordar mais ou menos no mesmo horário pela manhã para que seu corpo entre em uma rotina.

Se você se pega revirando na cama à noite e não consegue dormir, não se preocupe.

Ocasionalmente, seu corpo pode funcionar dormindo menos e, com o tempo, seus ritmos naturais serão recalibrados.

4. Concentre-se em si mesmo

Crédito: Getty Images | BBC

Gerenciar o estresse não é apenas evitar os aspectos negativos, é também fortalecer-se ativamente.

Certifique-se de que você está se alimentando bem, com muitas frutas, vegetais, alimentos integrais e proteínas de boa qualidade para abastecer seu corpo.

Tente também reservar algum tempo de qualidade sozinho, para relaxar e recarregar as energias.

A atenção plena também pode ajudar: não se trata de usar um aplicativo de meditação ou ficar sentado em silêncio, mas de ser intencional na maneira como você aborda sua vida.

Reserve alguns minutos para pensar sobre o dia ou a semana que tem pela frente, o que pode ser desafiador e como você pode controlar seu ritmo.

Para mim, o importante é planejar com antecedência o preparo de alimentos em grandes quantidades, pois isso pode aliviar um pouco o estresse à noite, depois do trabalho.

5. Converse sobre isso

Crédito: Getty Images | BBC

Fico terrivelmente ansioso com todo tipo de coisa e todo mundo se preocupa com dinheiro, emprego e família.

Essas preocupações podem aumentar rapidamente quando mantidas reprimidas, então compartilhar suas preocupações com alguém em quem você confia alivia a carga e dá perspectiva, mesmo que essa pessoa não possa resolver o problema para você.

Às vezes, apenas dizer isso em voz alta faz com que o problema pareça mais administrável.

  • Descubra mais dicas sobre como lidar com o estresse no Morning Live .

Reportagem adicional de Yasmin Rufo

Fonte: https://www.bbc.com/news/articles/cg42zq7nqxwo

TIMOR LESTE: "Eles nos ajudarão do céu." (Parte 2/2)

Um grupo de refugiados nas freiras canossianas em Baucau em uma foto de 5 de setembro de 1999 | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 10 - 1999

MISSÕES. A longa presença das monjas canossianas na ilha

"Eles nos ajudarão do céu."

O testemunho da Irmã Clementina, missionária em Díli por sessenta anos (foi forçada a fugir em setembro passado), ajuda-nos a compreender a situação neste país atormentado. O trabalho das Irmãs Canossianas de assistência aos pobres, as suas escolas, o seu ensino do Catecismo de São Pio X. A simpatia do povo pelas missionárias num país onde os católicos se tornaram maioria sob o governo muçulmano de Jacarta, em vez de sob o de Portugal. Depois vieram a destruição, os massacres, o assassinato de freiras... Entrevista

por Paolo Mattei

"As crianças nos guiaram."

Aconteça o que acontecer, as missões estavam lá e continuaram seu trabalho. Irmã Clementina relembra sua vida com o povo de Timor-Leste, seu trabalho como professora de crianças pobres, o catecismo e os encontros com famílias, muitas das quais viviam nas montanhas, onde era difícil alcançá-las: "O cotidiano era muito simples. Estávamos na escola com as crianças e lhes ensinávamos o catecismo usando o livreto de São Pio X. E ensinar o catecismo era a experiência mais bonita de cada dia. Também porque as crianças eram o elo mais imediato que tínhamos com a realidade circundante. Eram elas que nos mantinham informados sobre as coisas mais significativas que estavam acontecendo entre o povo; eram elas que nos diziam se havia alguém em dificuldade, alguém que precisava de ajuda. Por meio delas, estávamos presentes onde quer que fôssemos necessários... As crianças nos guiavam no dia a dia."

Mesmo então, na década de 1950, o destino da Irmã Clementina de permanecer estabelecida não estava nos planos. Ela se viu novamente em movimento, primeiro dentro de Timor, em Ainaro, nas montanhas a sudoeste de Díli, onde permaneceu de 1954 a 1960; depois, mudando de hemisfério, novamente em direção à Itália, em Vimercate, onde viveu por nove anos, trabalhando como madre mestra de noviças que se preparavam para partir em missões ao redor do mundo. Mais tarde, ela viajou novamente, para longe, para a Argentina. Mas no coração desta pequena freira, o desejo de retornar ao seu lar, em Timor Leste, sempre viveu. Regressei para lá em 1973, três anos antes da independência da ilha de Portugal. Lembro-me da formação de três partidos — portadores de diferentes hipóteses para uma solução institucional para a iminente transição para a independência — que se digladiavam constantemente entre si. O partido mais moderado, a Fretilin , transformou-se, após a ocupação indonésia, numa organização armada pela independência. Posteriormente, de 1975 a 1977, vivi fora de Timor-Leste por mais dois anos. Regressei definitivamente a 17 de fevereiro de 1977. Parei em Díli. A memória vívida da Irmã Clementina parece incapaz de apagar até os detalhes mais subtis, aqueles que um "aproximadamente" poderia facilmente resumir. Ela recorda os dias, os nomes das irmãs, os lugares e todas as circunstâncias que, no seu caso, podemos ter a certeza, são inúmeras e espalhadas por todo o planeta. 

Seguras depois da tempestade.

Em 1977, éramos cinco em Díli, eu e outras quatro irmãs. Até maio, ficámos alojadas na casa do bispo. As pessoas nos receberam calorosamente. Éramos como amigos reunidos, seguros depois de uma tempestade. Então, todos começaram a nos ajudar a recomeçar, mais uma vez. Recebemos setecentos pedidos de matrícula na escola que, entre outras coisas, não existia mais. Todos queriam a escola das Mães Canossianas. Somando-se à dificuldade representada pela multidão de crianças que queriam estudar conosco, havia o problema da língua: um novo governo, uma nova língua. Tínhamos que ensinar em indonésio. Eu tive que aprender essa língua, que era completamente diferente de Tetuão.

Timorenses. Havia também os muitos órfãos e viúvas que toda guerra inevitavelmente abandona em desespero. Conseguimos juntar algum dinheiro para construir casas de madeira para eles morarem. É natural questionar se os cristãos e missionários sofreram perseguição por parte dos novos ocupantes indonésios. "Nestes vinte e cinco anos, não sofremos nenhuma perseguição religiosa. Agora, alguns, mesmo na Europa, dizem que apoiamos ativamente a causa da independência da Indonésia. Na realidade, nunca discutimos política. Devo dizer que, quando tivemos problemas com a escola, o governo indonésio sempre nos ajudou. É claro que não podemos compartilhar sua filosofia de vida. No entanto, pelo que vivenciei nestes anos, posso dizer que a Igreja tem sido livre. Basta dizer que em Díli há quatro paróquias onde as missas dominicais são lotadas... Em 1975, em Timor-Leste, éramos cinco freiras da Congregação. Agora, entre noviças e freiras professas, somos noventa, das quais apenas seis são italianas." Noventa freiras que se viram envolvidas em um terrível desastre... "Não esperávamos algo assim, jamais teríamos imaginado. É claro que houve tensões... Os jovens foram votar no referendo com mochilas nos ombros, com a intenção de fugir logo em seguida... Mas isso levaria a tanto derramamento de sangue e destruição..." Estas são as últimas horas da estadia da Irmã Clementina em Timor-Leste, com a guerra pairando sobre suas casas, com massacres ensanguentando a terra. 

As últimas horas em Timor-Leste

"Nas últimas noites, não conseguimos dormir. Podíamos ouvir a milícia se aproximando, que eles estavam chegando. Na manhã de segunda-feira, 6 de setembro, às seis horas, fomos à missa com o bispo Belo. No dia anterior, domingo, 5, havia muito menos pessoas do que o habitual na missa do bispo. Normalmente, há milhares de fiéis, mas não naquele dia. Naquela segunda-feira, durante a missa, percebemos que eles estavam chegando. O bispo estava hospedando mil refugiados; nós estávamos acolhendo cerca de quinhentas mulheres e crianças. Então, nos escondemos. Eu me escondi no armário de vassouras. Ouvimos barulhos ensurdecedores. Era o estrondo de vidro quebrando com pedras. Os milicianos também entraram na casa do bispo. Disseram-me que Belo queria se apresentar a eles, mas os jovens da diocese o impediram... Os milicianos incendiaram a capela. Em determinado momento, a polícia apareceu e levou Belo embora. Fugimos. Os milicianos entraram em nossa casa e nos expulsaram. Vi um rio de pessoas caminhando com as mãos levantadas em direção a O mar... E nós também... Então, o motorista do bispo de Baucau nos levou de van até a delegacia central de Díli. Lá, nos encontramos com outros padres. Esperávamos encontrar Belo também, mas ele não estava lá. Naquela noite, dormimos no chão ou em cadeiras. Estávamos convencidos de que tudo acabaria rápido, que voltaríamos para casa. E, em vez disso, após mais um dia de espera, em 8 de setembro, um helicóptero nos levou para longe de Timor-Leste. A Irmã Clementina interrompe sua história aqui e, após um momento de silêncio, em poucas palavras, lembra-se da Irmã Ermínia, com quem viveu por quatro anos em Díli, falando de sua incansável generosidade para com o povo de Timor-Leste. E ela se lembra da reserva e da bondade da Irmã Celeste, com quem compartilhou quinze anos de sua vida diariamente. "Eles nos ajudarão do céu", ela sussurra. O que a Irmã Clementina fará agora? "A vontade de Deus", ela responde. Esta freira de oitenta e três anos acena em despedida e vai embora. Seus olhos se estreitam em um sorriso, e é um sorriso de criança. sorriso.

Fonte: https://www.30giorni.it/

2 mães que assistiram à canonização de seus filhos

Antonia Salzano Acutis et son fils Carlo.
Avec la permission de Antonia Salzano Acutis.

Philip Kosloski - publicado em 11/09/25

Não é muito comum que os pais, em especial as mães, possam estar presentes na cerimônia de canonização de um de seus filhos…

Pais e mães sempre desejam o melhor para seus filhos, esperando e rezando para que levem uma vida boa e santa. Podem até alimentar uma pequena esperança de que um dia cheguem ao Céu — sem sequer imaginar uma canonização.

Na maioria das vezes, são os pais que morrem primeiro. Mas, em alguns casos, são os filhos que partem antes, o que pode ser trágico e doloroso.

No entanto, o que pode consolar um pai — e de modo especial uma mãe, que sente intensamente a ausência do filho — é a confirmação de que ele agora está no Céu com Deus.

Pouquíssimos casos conhecidos

Isso acontece toda vez que uma mãe está presente em uma cerimônia de canonização, quando o próprio Papa anuncia ao mundo inteiro que seu filho é considerado um “santo”. É algo raro, sobretudo porque o processo de canonização pode levar décadas ou até séculos para ser concluído.

A primeira mãe conhecida que viveu o suficiente para — quase — assistir à cerimônia de beatificação de seu filho foi a mãe de São Luís Gonzaga. Ele foi beatificado em 19 de outubro de 1605, mas sua mãe, Dona Marta Tana di Santena, faleceu em 26 de abril do mesmo ano, poucos meses antes da cerimônia.

É possível que tenham existido alguns casos antes de a canonização se tornar um processo formal, mas não há dados históricos suficientes para confirmar.

Pelo que sabemos, apenas duas vezes na história moderna da Igreja uma mãe esteve presente na canonização de seu filho:

A mãe de São Carlo Acutis

Os pais de São Carlo Acutis, Antonia Salzano e Andrea Acutis, estiveram presentes na cerimônia de canonização do filho, celebrada em 7 de setembro. Antonia, em especial, tem sido uma das maiores defensoras da santidade de Carlo e até escreveu um livro sobre sua vida e testemunho.

A mãe de Santa Maria Goretti

Assunta Carlini Goretti esteve presente na canonização de sua filha, Santa Maria Goretti, em 24 de junho de 1950. Seu marido não compareceu, pois havia falecido em 1900.

Dependendo de como avançarem algumas causas de canonização nas próximas décadas, essa experiência pode se tornar mais comum, especialmente em relação a crianças que faleceram ainda muito jovens.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/09/11/2-maes-que-assistiram-a-canonizacao-de-seus-filhos/

Leão XIV: na tribulação, ouvir a mensagem de esperança da Criação

Logotipo do congresso (Vatican News)

Em mensagem assinada pelo secretário de Estado Vaticano, cardeal Parolin, o Papa abençoa os trabalhos do XII Congresso Latino-americano de Ciência e Religião, "As Linguagens da Criação. A hermenêutica científica, filosófica e teológica do Livro da Natureza como caminho de esperança", atualmente em andamento na Universidade Regina Apostolorum. O Pontífice, citando Santo Agostinho, exorta a "buscar caminhos que permitam ao ser humano transcender tudo o que pode ser medido".

Vatican News

Santo Agostinho inspirou a orientação que Leão XIV, em mensagem assinada pelo secretário de Estado Vaticano, cardeal Pietro Parolin, enviou aos participantes do XII Congresso Latino-americano de Ciência e Religião. Intitulada "As linguagens da Criação. A hermenêutica científica, filosófica e teológica do 'Livro da natureza' como Caminho de Esperança", a iniciativa está em andamento no Ateneu Regina Apostolorum, em Roma, desde quarta-feira, 10 de setembro, e prossegue até o dia 12.

Na tribulação, escutar a esperança que vem de Deus

O convite do Papa, dirigido ao reitor do instituto, padre José Enrique Oyarzún, L.C., aos organizadores e participantes, é para "buscar caminhos que permitam ao ser humano transcender tudo o que pode ser medido, contemplar a Medida sem medida, ir além de tudo o que pode ser numerado, contemplar o Número sem número, transcender tudo o que pode ser pecado, contemplar o Peso sem peso". A citação é retirada de "De Genesi ad litteram", do Bispo de Hipona.

Desta forma, continua o Pontífice, abençoando o compromisso dos congressistas durante estes dias, a obra de Deus proclamará a glória do seu Criador, e a humanidade poderá ouvir a sua mensagem de esperança não só no esplendor dos dias luminosos da sua existência, mas também nas noites de angústia e tribulação que são típicas da condição humana.

Um espaço interdisciplinar entre Teologia e IA

Organizada em colaboração com a Fundação Diálogo entre Ciência e Religião (DeCyR), o Movimento Laudato si' – Capítulo Argentina e a Universidade Popular Autônoma do Estado de Puebla (UPAEP), o congresso pretende ser um espaço de reflexão interdisciplinar entre ciências naturais, filosofia e teologia, sobre o rico simbolismo do "Livro da natureza" e sua relevância para a busca de sentido e esperança.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

TIMOR LESTE: "Eles nos ajudarão do céu." (Parte 1/2)

A vida das Irmãs Canossianas em Timor-Leste. A Irmã Ermínia Cazzaniga, a freira assassinada em 26 de setembro de 1999, durante seu longo apostolado na ilha, é reconhecível. Na foto, a Irmã Ermínia está sentada entre duas meninas | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 10 - 1999

MISSÕES. A longa presença das monjas canossianas na ilha

"Eles nos ajudarão do céu."

O testemunho da Irmã Clementina, missionária em Díli por sessenta anos (foi forçada a fugir em setembro passado), ajuda-nos a compreender a situação neste país atormentado. O trabalho das Irmãs Canossianas de assistência aos pobres, as suas escolas, o seu ensino do Catecismo de São Pio X. A simpatia do povo pelas missionárias num país onde os católicos se tornaram maioria sob o governo muçulmano de Jacarta, em vez de sob o de Portugal. Depois vieram a destruição, os massacres, o assassinato de freiras... Entrevista

por Paolo Mattei

A Irmã Clementina Vassena gostaria de voltar a Díli. Provavelmente teria dificuldade em reconhecê-la agora. Uma cidade devastada, um rosto desfigurado. Mas é uma cidade que ela ama e da qual foi forçada a fugir no último dia 8 de setembro. Ela gostaria de voltar, diz ela, e você fica um pouco surpreso com esta freira de oitenta e três anos a quem, dado tudo o que aconteceu em sua vida, você daria anos de merecido descanso, se fosse possível. Ela os recusaria, como seus olhos vivos, estreitados em um sorriso infantil, revelam, sua figura esguia e gentil, mas, você percebe, repleta de força e determinação extraordinárias. Ela está agora em Roma, na Cúria Geral das Irmãs Canossianas, a Congregação à qual pertence Irmã Clementina, fundada em 1808 por Santa Madalena de Canossa, e presente em Timor com suas missionárias desde 1879. Irmã Clementina, nascida em 1916 em Malgrate, na província de Lecco, partiu em missão para Timor-Leste há cinquenta e nove anos, em 1940. E desde então, sua vida seguiu um caminho "centrípeto", por assim dizer, gravitacional em torno de Timor, repleto de chegadas e partidas da ilha. Mas a cada partida, ela se despedia daquela terra com um "até logo", nunca com um adeus. O mesmo aconteceu há dois meses, quando ela e outras irmãs foram forçadas a deixar a ilha. Poucos dias depois, em 26 de setembro, um domingo, duas freiras canossianas, Irmã Ermínia Cazzaniga e Irmã Celeste de Carvalho Pinto, foram mortas ali.

Em Timor-Leste pela primeira vez : "Fui em missão a Timor-Leste em 1940, há cinquenta e nove anos. Em Díli, havia apenas algumas casas. Havia a catedral, a casa do governador... Todas as outras moradias eram cabanas. Na época, a Congregação tinha apenas uma pequena casa em Manatuto, sessenta quilômetros a leste de Díli, e outra em Soibada, no interior da ilha, a sudeste da capital. Em dezembro do ano seguinte, já havia guerra e os australianos entraram em Timor. Em 1942, os japoneses invadiram a ilha para lutar contra os australianos e os portugueses. Certa manhã, às cinco horas da manhã de dezembro, o bispo de Díli enviou seu secretário para levar as mulheres e crianças. Primeiro, nos transferiram para um hospital e depois partimos para a Austrália." Foi a primeira partida da Irmã Clementina e, como ela mesma relata, foi ousada e dramaticamente cômica: "Os australianos, instados pelo bispo, vieram nos buscar em grandes navios de guerra. Lembro-me de que, para embarcar em um deles, em parte pela pressa e em parte pela dificuldade — não era um navio de cruzeiro e eram três da manhã —, tendo que me agarrar a um corrimão de corda, perdi tudo o que havia trazido comigo..." A freira então fala de sua estadia na Austrália, quando ela e suas dez colegas foram levadas para um campo de concentração onde viveram com trezentos deslocados timorenses, portugueses e indianos, dormindo em colchões de palha, em tendas ou em barracos de madeira. Ela menciona, rindo modestamente, as cenas de camaradagem que testemunhou durante aqueles meses de coabitação forçada. O dela, no entanto, é um conto leve, do qual emergem os elementos mais dramáticos, que, poderíamos imaginar, estariam longe de ser hiperbólicos em um relato um pouco mais detalhado dos eventos. Com a mesma leveza, ela descreve os três meses passados ​​na floresta, as emboscadas da malária, a visita do delegado apostólico, a mudança para Sydney em busca de melhores acomodações, o retorno ao campo de concentração... Tudo isso enquanto aguardava seu retorno a Timor. Tudo isso enquanto dava aulas de catecismo e ensinava as crianças que estavam com ela e suas colegas freiras. 

Cristãos em Timor-Leste

Em 8 de dezembro de 1945, festa da Imaculada Conceição de Maria, retornamos a Timor. Manatuto havia sido destruída pela guerra. Até Soibada, o centro original do cristianismo em Timor-Leste, estava em péssimas condições. Instalamo-nos lá. Os japoneses haviam partido. Os soldados portugueses estavam lá; permaneceram lá por algum tempo. Tivemos que recomeçar tudo, construir novas casas, reorganizar a escola, contatar os sobreviventes, os evacuados que retornavam... Em 1946, tive que partir para Hong Kong, onde ficava nosso centro missionário, nossa primeira fundação no exterior datando de 1860. Professei meus votos perpétuos lá.

A Irmã Clementina retornou a Timor-Leste em 1948. Fui para Ermera, que fica nas montanhas do interior da ilha, a sudoeste de Díli. Não tínhamos casa própria; éramos hóspedes em casas de outras pessoas. Começamos a escola com crianças do ensino fundamental, a quem eu ensinava na língua delas, o tétum , e em português, que eu havia aprendido anos antes em Lisboa. Nossa congregação não tinha escola própria na época. Estávamos em uma instituição administrada por padres seculares e controlada pelo governo colonial. Em 1950, mudei-me para Díli. Precisavam de nós lá; pediram que fôssemos organizar a escola. Mas não podiam nos fornecer nada além de acomodações temporárias. Então, nos instalamos em uma pequena casa e começamos a partir dali.

Neste ponto, a freira canossiana faz uma pausa para refletir sobre as pessoas que conheceu, quase todas pobres e quase todas não cristãs: "Os timorenses eram pobres. Os ricos eram uma pequena minoria, e quase todos vinham de Portugal. Eles eram donos das terras que as pessoas trabalhavam. Cultivavam café, arroz, milho e cacau. Afinal, as mesmas culturas de hoje. Na época, na década de 1950, os cristãos eram poucos, cerca de vinte por cento de uma população composta majoritariamente por animistas. Essa porcentagem permaneceu praticamente inalterada até a segunda metade da década de 1970. Basta dizer que, na década de 1950, havia apenas uma paróquia em todo o Timor-Leste, em Díli. A presença cristã era em grande parte confiada às missões. Só anos depois foi estabelecida outra paróquia, em Baucau." No entanto, o conhecimento infelizmente escasso e fragmentado deste país que circula no Ocidente dá a impressão de um cristianismo forte; Os jornais fornecem percentuais muito diferentes, diametralmente opostos... "Certamente, hoje a situação mudou; os católicos são a maioria. Mas as proporções só se inverteram repentinamente na época da invasão indonésia, em meados da década de 1970. O governo de Jacarta também impôs aos timorenses a legislação que regulamentava a filiação religiosa no Estado indonésio. Impôs a pancasila , um acordo entre cinco filosofias de vida, que estão relacionadas a cinco religiões específicas: catolicismo, protestantismo, islamismo, budismo e hinduísmo. Dessa gama de diferentes confissões, onde se era forçado a fazer uma escolha, os timorenses optaram em massa pelo catolicismo. Foi certamente uma preferência inspirada pela sua simpatia pelo catolicismo, simpatia também despertada pela presença missionária. Mas só então foram batizados em massa, somente após a imposição da pancasila . Quase um paradoxo, então. Pode-se dizer que não foi a colonização portuguesa "muito católica" que esteve na origem do elevado número de timorenses. convertidos, mas sim a invasão de um povo, os indonésios, que certamente não eram reconhecíveis como católicos...

"Paradoxalmente, é assim. De fato, em Timor, a colonização portuguesa, pelo menos nos anos de que tenho conhecimento direto, foi, desse ponto de vista, muito discreta. Os portugueses sempre foram muito respeitosos com a vida e o trabalho das missões, mas não despenderam muita energia em promovê-las. "

Fonte: https://www.30giorni.it/

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NÃO PASSE À FRENTE

09/09/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

“Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Nesta sentença breve, o Evangelho concentra uma gramática inteira do seguimento que tem a cruz como condição e a posição do discípulo como alguém que vem “atrás”. O grego sublinha o caráter continuado do gesto (bastázei, “carrega”, no presente durativo) e a relação espacial e existencial do seguimento (érchetai opíso mou, “vem atrás de mim”). Trata-se de uma forma de vida moldada passo a passo no ritmo de Cristo. A correção dirigida a Pedro: “Vai para trás de mim” (Mt 16,23) torna explícita essa disposição. O erro do apóstolo não foi apenas doutrinário, foi posicional.

Ao tentar afastar a cruz, Pedro passou à frente do Senhor, e a voz de Jesus, mais que refutar um argumento, recoloca o discípulo em seu lugar. O problema do coração humano, porém, é que não nasce pronto para aceitar esse lugar. O livro da Sabedoria enuncia com lucidez: “o corpo corruptível torna pesada a alma, e a tenda de barro oprime a mente preocupada com muitas coisas” (Sb 9,15). A frase grega acentua tanto a precariedade (phthartón sōma, corpo corruptível) quanto a gravidade que se abate sobre a alma (barynei psychēn, pesa a alma). Não é um desprezo do corpo, mas do reconhecimento de que a condição mortal, quando deixada a si mesma, multiplica cuidados, dispersa o desejo, puxa a vida para baixo. Paulo retoma a imagem da tenda (2Cor 5,1-4) para falar do provisório que geme em nós; e, Romanos 7, descreve a tensão de uma vontade dividida, na qual o bem reconhecido não se realiza com facilidade. Aqui insere-se a exegese espiritual do “peso”. Não apenas a fadiga física, mas a densidade de amores desordenados que nos inclinam a “chegar antes” de Deus.

Orígenes, ao comentar a corrida da alma atrás do Esposo no Cântico, percebe esse arrasto como apego que retarda o desejo; só o Espírito, diz ele, sustenta a alma para que corra sem se esgotar.

O amor curvado sobre si arrasta para baixo; a caridade, orientada para Deus, dá à alma uma nova gravidade que a eleva. O Evangelho assume esse drama e o transfigura com a forma pascal. “Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23). É um convite a recusar a pretensão de ditar os termos do caminho. O Cristo que “se esvaziou” e “fez-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-11) revela essa obediência filial como a verdade da liberdade.

Em Cristo, a finitude humana, descrita por Rahner como a condição transcendental que nos abre ao Mistério, torna-se um “sim” radical ao Pai. A cruz, lugar em que toda autossuficiência se cala, é também o lugar onde a liberdade finita é dilatada pela graça numa obediência que personaliza. Por isso, o jugo de Cristo se manifesta paradoxalmente “suave” e seu fardo “leve” (Mt 11,30).

Sob o regime da caridade, o peso muda de qualidade

Se perguntamos, então, o que de fato impede o seguimento, a resposta já não é “a cruz em si”, mas o impulso de evitá-la; não é o peso do madeiro, mas o peso da de se colocar à frente. O orgulho que prefere mandar a obedecer; a ansiedade que confunde missão com eficiência; a ideologização que usa o nome de Jesus para selar agendas; o apego à reputação que recusa a humilhação evangélica (1Cor 1,23); a impaciência que não suporta o tempo do Reino (Mc 4,26-29). Tudo isso nos desloca do lugar “atrás” para a vã pretensão de ir à frente.

O antídoto bíblico é uma purificação do olhar e do passo: “deixemos de lado tudo que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição… com os olhos fixos em Jesus, que vai a frente da nossa fé… [e] Em vista da alegria que o esperava, suportou a cruz” (Hb 12,1-2).

Fixar o olhar naquele que vai à frente nos restitui a posição do discípulo; e, restituída a posição, a cruz torna-se praticável. A Eucaristia é a escola terna e severa dessa disposição, pois ali não somos protagonistas, seguimos o Cordeiro (cf. Ap 14,4), aprendendo o ritmo da graça que nos dessubjetiva sem nos despersonalizar, porque nos centra no amor. Na vida concreta, essa pedagogia se traduz em exercícios discretos da obedientia fidei que nos corrige e produz a sobriedade que integra o corpo como aliado, a caridade paciente que ajusta o passo ao dos pequenos (Mt 25), desaprendendo a pressa que nos fazia correr à frente.

Se em Sabedoria o “peso” aparece como obstáculo, em Paulo ele é surpreendentemente transfigurado em promessa, pois, “com efeito, o momentâneo, leve peso de nossa aflição, produz para nós, uma glória incomensurável e eterna” (2Cor 4,17).

O que operou a virada? Não foi a subtração da cruz, mas a reposição do discípulo em seu lugar. Atrás de Jesus, o peso que puxava para o chão torna-se gravidade de glória; o fardo que o orgulho tornara insuportável converte-se em algo novo que leva para o alto. A existência passa do horizonte anônimo do Mistério para o consentimento explícito ao Deus de Jesus Cristo.

No fim, permanece o discernimento simples e decisivo: estou atrás ou à frente? A teologia se complica onde este critério se obscurece; e a espiritualidade se desvia onde o discípulo, encantado consigo mesmo, abdica da posição de seguidor. O maior peso, então, não é a cruz, mas é a obstinação de guiar o Guia.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Papa: aprendamos com Jesus o grito da esperança que não desiste

Audiência Geral, 10/09/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

A catequese de Leão XIV foi centrada na experiência de Jesus crucificado. "Na cruz, Jesus não morre em silêncio", disse o Papa. Ele "deixa a sua vida com um grito" e "este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega", sublinhou o Pontífice.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

A morte de Jesus na cruz foi o centro da catequese do Papa Leão XIV na Audiência Geral, desta quarta-feira (10/09), realizada na Praça São Pedro.

Não obstante o dia nublado e chuvoso, milhares de fiéis e peregrinos participaram deste encontro semanal com o Pontífice.

"Os Evangelhos atestam um pormenor preciosíssimo, que merece ser contemplado com a inteligência da fé: na cruz, Jesus não morre em silêncio. Ele não se apaga lentamente, como uma luz que se consuma, mas deixa a sua vida com um grito: «Então Jesus, soltando um forte grito, expirou». Este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega", disse o Papa Leão.

Grito de confiança

"O grito de Jesus é precedido de uma pergunta, uma das mais pungentes que se pode proferir: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». É o primeiro versículo do Salmo 22, mas nos lábios de Jesus assume um peso singular", frisou o Pontífice, acrescentando:

“O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta agora o silêncio, a ausência, o abismo. Não é uma crise de fé, mas a etapa final de um amor que se entrega completamente. O grito de Jesus não é de desespero, mas de sinceridade, de verdade levada ao limite, de confiança que perdura mesmo quando tudo é silêncio.”

"Deus já não habita atrás de um véu; o seu rosto é agora totalmente visível no Crucifixo. É ali, naquele homem atormentado, que se revela o maior amor", sublinhou o Papa, ressaltando que o centurião, que era um pagão, compreendeu, mas não "porque ouviu um discurso, mas porque viu Jesus morrer daquela maneira". Ele disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!».

“É a primeira profissão de fé após a morte de Jesus. É o fruto de um grito que não se perdeu no vento, mas tocou um coração. Por vezes, o que não conseguimos expressar com palavras, expressamos com a voz. Quando o coração está cheio, clama. E isso nem sempre é sinal de fraqueza; pode ser um profundo ato de humanidade.”

Gritar, um gesto espiritual

De acordo com o Papa, "o Evangelho dá ao nosso clamor um imenso valor, lembrando-nos que pode ser uma invocação, um protesto, um desejo, uma entrega. De fato, pode ser a forma suprema da oração, quando já não nos restam mais palavras. Naquele grito, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança".

"Uma esperança que não desiste. Gritamos quando acreditamos que alguém ainda pode ouvir. Clamamos não por desespero, mas por desejo. Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Mesmo em silêncio, estava convencido de que o Pai estava ali. E assim nos mostrou que a nossa esperança pode gritar, mesmo quando tudo parece perdido", disse ainda o Pontífice.

“Gritar torna-se então um gesto espiritual. Não é apenas o primeiro ato do nosso nascimento — quando viemos ao mundo chorando — é também uma forma de nos mantermos vivos. Gritamos quando sofremos, mas também quando amamos, chamamos, invocamos. Gritar é dizer que estamos aqui, que não queremos nos esvair em silêncio, que ainda temos algo para oferecer.”

Grito da esperança

O Papa recordou que existem momentos na vida "em que guardar tudo dentro de nós pode consumir-nos lentamente. Jesus nos ensina a não ter medo do clamor, desde que seja sincero, humilde e dirigido ao Pai. Um clamor nunca é em vão, se vier do amor. Nunca é ignorado, se for entregue a Deus. É uma forma de evitar ceder ao cinismo, de continuar acreditando que outro mundo é possível".

Leão XIV concluiu, convidando a aprender com Jesus "o grito da esperança quando chega a hora da provação extrema. Não para magoar, mas para confiar. Não para gritar contra ninguém, mas para abrir o coração. Se o nosso grito for verdadeiro, pode ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento. Como foi para Jesus: quando tudo parecia terminado, a salvação estava, na verdade, prestes a começar. Se expressada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz angustiada da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se fonte de esperança para nós e para os que nos rodeiam".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 9 de setembro de 2025

PIO XII: Quando os fatos não escrevem a história

Uma imagem do filme Amém | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2002

Quando os fatos não escrevem a história

O filme de Costa Gavras e um novo livro da Kaos Edizioni reacenderam as acusações contra o Papa Pacelli de cumplicidade com o fascismo e o nazismo. Essas acusações, se se aplicam a Pio XII, também deveriam ser dirigidas a figuras como Winston Churchill. Mas, na realidade, os acusadores se recusam a permitir que documentos e evidências históricas falem por si.

por Fabio Silvestri

O controverso tema histórico-político da relação entre o Papa Pio XII e o nazismo de Hitler foi recentemente trazido à atenção do público em geral por um filme controverso do diretor grego Costantin Costa Gavras. Intitulado Amém , o filme , inspirado na peça de grande sucesso, O Deputado , de Rolf Hochhuth, reconta, através do olhar desorientado de um prelado alto, embora jovem, de uma família aristocrática de diplomatas com laços com a Santa Sé, a tragédia do Holocausto, vista da perspectiva da posição da Santa Sé sobre o "extermínio dos judeus".

Em particular, Amém busca revisitar a questão do comportamento de Pio XII não apenas em relação à trágica questão judaica, mas, de forma mais geral, em relação à Alemanha nazista, acusando, mais ou menos explicitamente, se não a conivência do Papa, pelo menos seu silêncio culpável.

Os temas da controvérsia suscitada por este filme sobre a política do Vaticano durante a Segunda Guerra Mundial e a nascente Guerra Fria são revisitados, numa veia ainda mais explicitamente acusatória, num livro recente publicado pela Kaos, intitulado "Deus está conosco!" , que, coerente com a linha editorial claramente anticlerical, defende a substancial cumplicidade da Santa Sé tanto com o fascismo quanto com o nazismo. As origens mais remotas dessa cumplicidade remontam à nunciatura apostólica de Eugenio Pacelli na Alemanha, durante a qual o futuro Papa demonstrou claramente tendências antissemitas e antibolcheviques e, sob esta perspectiva, uma atitude de facto favorável ao nascente nazismo. O ensaio, bastante contundente, reconstitui todos os momentos-chave da carreira histórica de Eugenio Pacelli, procurando destacar, com evidente intenção acusatória, tanto as suas ações como Secretário de Estado quanto como Pontífice. "uma atitude radicalmente hostil ao liberalismo, à democracia e à modernidade", baseada numa concepção substancialmente "temporalista" do papel da Igreja Católica, ou melhor, do papado, a cujos interesses ele estava disposto a "subordinar os imperativos morais e espirituais da religião", e enfatizando "as fortes tendências antijudaicas" de um feroz oponente do demônio comunista, assombrado pelo espectro de uma ameaça judaico-bolchevique capaz de destruir o cristianismo. Deve-se enfatizar aqui que, por exemplo, as acusações de hostilidade ao liberalismo, à democracia e à modernidade são acusações assertivas sem documentação séria. Deve-se enfatizar também que este volume busca criticar a parcialidade e a escassez de documentação histórica, em sua opinião, disponibilizada aos estudiosos pela Santa Sé.

Mas este ensaio busca atribuir outras responsabilidades importantes ao pontificado de Pio XII. Afirma que o Vaticano estava perfeitamente ciente "do que acontecia nos campos de concentração alemães e nos territórios ocupados pelos exércitos de Hitler" e que, diante desse conhecimento, o Papa não conseguiu ir além de uma mensagem genérica e elusiva divulgada no Natal de 1942. Quanto à ação humanitária do Vaticano, ela também é considerada fruto do acaso e de uma generosidade episódica, e certamente não o resultado de uma estratégia precisa concebida e adotada pela Santa Sé.

Além disso, as posições daqueles que consideraram a prudência de Pio XII uma expressão de "realpolitik" destinada a evitar o pior também são atacadas, argumentando que precauções semelhantes nunca foram adotadas pelo Papa diante do "perigo letal" representado pelo ateísmo comunista. De fato, o apoio público que ele expressou durante a brutal Guerra Civil Espanhola às forças lideradas por Francisco Franco, e abertamente apoiadas, política e militarmente, por Hitler e Mussolini, revelaria uma posição muito específica por parte do Papa.

Sobre um tema tão delicado, que voltou com força ao primeiro plano do debate historiográfico, devemos buscar clareza partindo de duas considerações de origens distintas: uma mais ligada ao conteúdo histórico, a outra, metodológica. Não há dúvida de que o Papa Pio XII, e com razão, na sua perspectiva de Vigário de Cristo na Terra e símbolo da religião católica, se opôs tenazmente à ideologia comunista . Isso se devia, aliás, às raízes claramente ateístas e antirreligiosas dessa ideologia e, mais concretamente, às perseguições e extermínios perpetrados pelo regime stalinista, não apenas contra os católicos, mas contra qualquer adversário em geral.

Pio XII recebe em audiência os representantes das comunidades judaicas provenientes dos campos de concentração da Alemanha | 30Giorni

Com base nisso, também é possível que ele tenha inicialmente visto, não apenas Mussolini, mas também o nazismo nascente como a última e mais extrema barreira erguida contra a disseminação do stalinismo (e os eventos na Espanha também devem ser vistos sob essa luz). Mas isso certamente não significa que ele tenha abençoado completamente a política, muito menos a visão de mundo fascista e até nazista. Porque, se fosse esse o caso, as mesmas acusações também teriam que ser feitas a uma figura como Winston Churchill, que, apesar de ter visto, por um longo período da década de 1930, Hitler e Mussolini como um sólido baluarte contra a disseminação do comunismo, então personificado por Stalin — cuja visão econômica minou os próprios fundamentos das chamadas democracias liberais — foi um dos principais adversários do nazismo e arquitetos de sua derrota. Até mesmo os Estados Unidos mantiveram uma posição semelhante por um tempo.

Além disso, ainda no plano político, devemos ter muito cuidado em equiparar a cumplicidade ou a conivência explícita do Papa aos seus silêncios, que poderiam advir, como muitos corretamente destacaram, dos dilemas e incertezas daqueles que, naquela particular contingência histórica, se sentiam presos entre dois males, o menor dos quais não era tão fácil de escolher, ou da necessidade de abrir, por trás do véu da prudência diplomática, um espaço de ação contra os horrores desencadeados pela Segunda Guerra Mundial.

A consideração metodológica aborda diretamente o problema de como chegar a uma interpretação cientificamente correta e, portanto, mais objetiva, de um acontecimento histórico. Benedetto Croce disse que a história não se faz "nem com 'ses' nem com 'mas'", mas sim com base nos testemunhos concretos oferecidos pelos documentos históricos. Isso exige a obrigação, antes de formular qualquer hipótese interpretativa, de considerar todas as fontes e testemunhos disponíveis, e não apenas uma parte deles. Uma prova do que temos dito, extraída das últimas notícias, é fornecida por um documentário recentemente exibido na televisão estatal, especificamente dedicado às "profissões do nazismo". Este documentário relatava que se dizia amplamente que Pio XII tinha tanto medo, num nível estritamente religioso, do nazismo que chegou a recorrer ao exorcismo contra a figura demoníaca de Hitler!

Também não faltam testemunhos, hoje amplamente reconhecidos e amplamente reconhecidos pelos historiadores, relativos às especificidades da relação do Papa com os judeus. Esses testemunhos oferecem uma resposta importante (também porque vêm de figuras proeminentes do próprio mundo judaico) para aqueles que acreditam que uma condenação dramática por Pio XII poderia ter provocado, ou mesmo provocado, o fim do Holocausto. A partir desses testemunhos, ao contrário, fica claro que qualquer intervenção pública e oficial da Santa Sé contra o nazismo teria acelerado as operações de extermínio, colocando também em perigo grande parte do mundo católico, e que o caminho da prudência representava a única opção que restava ao Papa para salvar mais vidas humanas.

Outro testemunho significativo, também do lado judaico e relatado pelo autor deste volume com grande evidência documental, ainda que de forma polêmica, diz respeito a um testemunho dado, novamente a respeito da relação entre Pio XII e o Holocausto, pelo rabino David Dalin , que credita ao próprio Pio XII ter providenciado a salvação de pelo menos 700.000 judeus. Sem se deter nessa afirmação, Dalin vai muito além, argumentando que o Pontífice estava, de fato, extremamente próximo dos judeus justamente no momento em que eles mais precisavam de apoio e assistência, plenamente ciente do ditado talmúdico de que "quem salva uma vida salva o mundo inteiro".

Mas as fontes documentais relativas à controversa relação de Pio XII com a ideologia nazifascista também abordam o que foi descrito como seu anticomunismo visceral, ao qual todas as outras considerações estavam subordinadas. Ora, falar de uma atitude visceralmente anticomunista sem jamais enfatizar as tragédias do stalinismo e as perseguições em nível nacional e internacional, e, em vez disso, negar a complexa relação que Pio XII teve na Itália com as ações dos comunistas, particularmente na resistência, significa deixar de empreender uma análise histórica séria. Deve-se lembrar que, durante a resistência, os católicos na Itália trabalharam em estreita colaboração com os comunistas, e que há evidências claras não apenas do apoio da Santa Sé à resistência de várias maneiras, mas também de sua ação decisiva, concreta e eficaz. disseminada em defesa dos judeus. Há circunstâncias hoje bem conhecidas, como a que envolveu o Papa, nos meses imediatamente anteriores a 25 de julho de 1943, intercedendo, por meio do Cardeal Maglione, junto ao próprio líder do fascismo, Benito Mussolini, para solicitar a libertação de Adriano Ossicini, então detido na prisão de Regina Coeli, como figura de destaque do movimento político de esquerda cristã. Ossicini, embora rejeitasse firmemente a ideologia comunista nos níveis teórico e religioso, colaborou ativamente com os comunistas na luta contra o nazismo.

Deve-se lembrar que De Gasperi e os democratas-cristãos, por um período considerável, colaboraram com os comunistas, mesmo no governo, e certamente sem o veto do Papa. Isso não significa, é claro, uma defesa oficial da conduta do Papa, cuja profunda natureza de diplomata astuto e sutil jamais deve ser esquecida. Mas significa deixar que os próprios documentos históricos falem, considerados naturalmente em sua totalidade e abertos à interpretação legítima de cada indivíduo, desde que isso não signifique distorcer ou explorar seu conteúdo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dom Vital: A hospitalidade na Regra beneditina e em São Leão Magno

Oração e mãos (Vatican News)

São Bento em sua regra afirmava que na saudação, aos hóspedes, quando se aproximassem ou mesmo quando partissem da sua residência, fosse dada das pessoas que acolhessem os estrangeiros, a atitude de humildade pela presença do Senhor Jesus que foi acolhido.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

A hospitalidade é uma atitude bíblica que coloca a presença de Deus na vida da pessoa que vem de longe ou de perto para a residência humana para pedir ajuda, consolo, uma palavra de esperança e de amor. No dia do juízo é bem presente a palavra de Jesus: “Eu era peregrino e me acolhestes em casa” ( Mt 25, 35). O Senhor Jesus se fará presente nas pessoas que nós acolhermos em nossas vidas. Diante de um mundo de tantas pessoas que se deslocam por causa das mudanças climáticas, guerras, perseguições, violência, é fundamental a acolhida, a hospitalidade das pessoas, dos pobres. Veremos a seguir como esta atitude esteve presente na regra beneditina, séculos V e VI e em São Leão Magno, papa no século V.

A presença de Jesus Cristo

A regra de São Bento recomendava a todos os seus seguidores que os hóspedes que se achegassem às suas casas, fossem acolhidos como Cristo Jesus porque Ele disse: “Fui hóspede e vós me tendes acolhido” (Mt 25,35). É a honra devida para ser dada, seja aos irmãos na fé, seja aos estrangeiros, peregrinos[1]. Ao anúncio de um hóspede, o superior e os irmãos iriam ao seu encontro com todas as considerações da caridade. Haja a oração em comum e depois haja o abraço da paz[2].

A humildade

São Bento em sua regra afirmava que na saudação, aos hóspedes, quando se aproximassem ou mesmo quando partissem da sua residência, fosse dada das pessoas que acolhessem os estrangeiros, a atitude de humildade pela presença do Senhor Jesus que foi acolhido[3]. Haja a leitura divina em vista da edificação da pessoa e se ofereça toda a atenção humana. Em seguida também se faça a limpeza das mãos e dos pés e todas as pessoas digam em voz alta que acolheram o Senhor Deus, na pessoa dos estrangeiros, a sua misericórdia em meio ao seu templo (cfr. Sl 47 (48), 10)[4].

A ajuda aos pobres

O Papa Leão Magno afirmou a atitude da compaixão com os pobres. Os fiéis sejam generosos na doação da comida para eles, aqueles que desejam fazer parte da comunidade dos bem-aventurados. O fato é que um ser humano não apareça desprezado por outra pessoa, que o Criador do universo fez como sua[5]. É impossível a pessoa recusar outra que sofre alguma coisa o que é de toda a pessoa, pois é o próprio Cristo Jesus que está sendo visto, doado. É ajudada uma pessoa de serviço e é o Senhor que é presente, dando-lhe graças[6].

O preço do Reino dos céus

O Papa Leão dizia que o alimento do pobre é o preço do Reino celeste e a pessoa que doa os bens terrenos torna-se herdeiro de bens celestes. A medida das obras é valorizada sobre a balança da caridade, porque quando o ser humano ama aquilo que Deus privilegia, sobe o ser humano no Reino dos céus; É dada a honra ao Senhor que se tornou próximo das pessoas e assumiu a nossa natureza (cfr. Jo 1,14). O bispo de Roma exortava para que os fiéis trouxessem de casa bens, alimentos em vista das obras de misericórdia para merecer a bem-aventurança da qual gozará para a eternidade aquele que discerne o necessitado e o pobre (cfr. Sl 40,(41), 2. Desta forma é reconhecida no necessitado e no pobre a “Pessoa do Senhor nosso Jesus Cristo, o qual de rico que era, como disse São Paulo fez-se pobre, para enriquecer-nos com a sua pobreza” (2 Cor 8,9) [7].

A natureza humana é igual para todas as pessoas

Uma vez que Deus é o Criador do ser humano, São Leão Magno afirmou que a natureza humana é igual para todas as pessoas. Desta forma a nossa natureza mortal mutável é reconhecida em todo o ser humano e por motivo desta condição humana, cada pessoa é chamada a alimentar um sentimento de solidariedade em relação a todas as pessoas de sua espécie: chorar com as pessoas que choram, unir-se com aquelas que sofrem, ajudar aquelas necessitadas, ter presente os doentes que estão em seus leitos, prover alimentos com as pessoas famintas, doar roupas para aquelas pessoas que estão na nudez ou passam frio[8].

A misericórdia dada

O Papa São Leão exortava os fiéis para que as coisas poupadas através do jejum tornar-se-iam alimento para os pobres numa reta intenção de misericórdia dada com amor aos mais necessitados. Os fiéis eram chamados a empenhar-se na defesa das viúvas, dos órfãos, dos sofredores, a fazer paz com aqueles que lutam, brigam entre si[9]. Desta forma acolha-se o estrangeiro, ajuda-se o oprimido, veste-se o nu, seja dada a atenção à pessoa doente, de modo que a oferenda de tais coisas dadas com amor a Deus, autor de todo o bem, seja concedida por graça divina a sua recompensa celeste[10].

O evangelho de Jesus Cristo era bem vivido na pessoa dos santos padres, no povo de Deus e hoje é dado para nós, em vista da conversão de vida que o Senhor Jesus tanto pede de cada um de nós. As pessoas pobres, necessitadas de ajuda estão presentes na vida de todos os seguidores, seguidoras de Jesus Cristo e de sua Igreja. Nós somos chamados a viver o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, para um dia participar do Reino dos céus.

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[1] Cfr. Regola di Benedetto 53,1-24. In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pg. 198.

[2] Cfr. Idem, pg 198.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 198-199.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 199.

[5] Cfr. Discorso sulle collete 9, 2-3. In: Idem, pg. 207.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 207.

[7] Cfr. Ibidem, Discorso sulle collette, 9, 2-3, pgs. 207-209.

[8] Cfr. Ibidem, 11,1-2, pg. 209.

[9] Cfr. Ibidem, Discorso sul digiuno del decimo mese 13, pg 211.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 211.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF