Translate

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Tristeza nos tempos difíceis e a esperança de dias melhores

Shutterstock I fizkes

Talita Rodrigues - publicado em 07/10/25

A vida é marcada por ciclos. Há momentos em que tudo parece florescer: as portas se abrem, os relacionamentos caminham em harmonia e o coração pulsa em paz. Mas também existem períodos em que a dor, a perda e a incerteza parecem tomar conta de tudo. É nesses tempos difíceis que a tristeza se apresenta como uma presença inevitável.

Na psicologia, a tristeza não é vista apenas como algo negativo, mas como uma emoção essencial. Ela nos ajuda a elaborar perdas, a processar decepções e a reconhecer nossos limites. Sentir tristeza não é fraqueza; é humanidade. Permitir-se chorar, silenciar e olhar para dentro pode ser o primeiro passo para encontrar sentido e força, mesmo em meio à escuridão.

No entanto, o que sustenta o coração diante da dor é a esperança. Ela não é uma negação da realidade, mas uma escolha de acreditar que a vida não se resume ao que estamos vivendo agora. A esperança aponta para o futuro, mas também nos ajuda a suportar o presente. Ela nos lembra que as feridas podem cicatrizar, que os invernos dão espaço à primavera e que sempre existe a possibilidade de um recomeço.

Do ponto de vista espiritual, a esperança se torna ainda mais profunda. Ela é a confiança de que não caminhamos sozinhos, de que existe uma luz maior que nos guia mesmo quando tudo parece escuro. Essa fé nos lembra que a dor não é o fim da história, mas um capítulo que pode nos fortalecer e nos tornar mais sensíveis à vida e ao outro.

Por isso, em tempos de tristeza, o convite é duplo: cuidar de si com compaixão, acolhendo o que dói, e ao mesmo tempo alimentar a chama da esperança. Dias melhores podem não chegar no tempo que desejamos, mas eles chegam. A alma humana é resiliente, e a vida sempre encontra um jeito de renascer.

E se o peso for grande demais, é importante lembrar: buscar ajuda psicológica pode fazer toda a diferença. A psicoterapia oferece um espaço de acolhimento, reflexão e fortalecimento, ajudando a compreender a própria dor e a encontrar caminhos possíveis de superação. Ninguém precisa enfrentar sozinho os dias difíceis — estender a mão para receber apoio é também um gesto de coragem e de cuidado com a própria vida.

Assim, mesmo quando as lágrimas ainda caem, é possível guardar no coração a certeza de que o amanhã pode trazer um novo sol — e que, com apoio, fé e esperança, cada pessoa tem em si a força necessária para atravessar qualquer tempestade.

Gostou do artigo? Então clique aqui e siga a psicóloga católica Talita rodrigues no instagram

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/07/tristeza-nos-tempos-dificeis-e-a-esperanca-de-dias-melhores/

Opção não basta: os pobres e o Reino

Felizes os pobres...o reino lhes pertence (Comunidade Católica Shalom)

OPÇÃO NÃO BASTA: OS POBRES E O REINO

08/10/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Chamar o cuidado com os pobres de “opção” soa civilizado, mas trai a realidade. Uma opção oferece alternativas, admite que possamos escolher outra coisa. O Evangelho não nos deixa essa saída. Os pobres e os últimos não têm quem os ajude, e por isso não pedem apenas simpatia, mas reclamam responsabilidade.  

A tradição bíblica encontrou uma palavra para esse vínculo que não depende do gosto. Chama-segoel, o resgatador, o parente que, por direito e por amor, se interpõe entre a miséria e a pessoa ferida. 

Quando a terra era perdida, ogoela recomprava ou redimia (Lv 25,23-28.47-55; Rt 2–4). Quando a honra era pisada, ele se punha diante (Nm 35). Era dever, não cortesia! 

Havia ainda um último recurso, reservado a quem não tinha parente nem voz – o de poder recorrer diretamente autoridade máxima, como fez a sunamita que pediu ao rei a devolução de sua casa e seus campos (2Rs 8,3-6). O trono, em Israel, existia para julgar a causa do pobre e do aflito, não para ornamentar banquetes (Sl 72,1-4.12-14; Pr 31,8-9). Nesse horizonte, dizer que “preferimos” o pobre é pouco. 

No pacto de Deus com o seu povo, o pobre não entra como preferência, mas como prioridade. 

Os profetas repetiram que o Senhor se apresenta comogoeldo órfão, da viúva, do estrangeiro (Dt 10,18-19; Is 41,14; 43,1; 54,5). Não o faz porque eles são moralmente superiores, mas porque não têm defesa. Quando todos os vínculos falham, Deus se declara parente deles. É por isso que a Escritura atrela a justiça à forma como tratamos quem não tem com quem contar: “Não maltratarás a viúva nem o órfão” (Ex 22,21).  

O critério é fidelidade à aliança, não filantropia. Jesus assume essa herança e a leva mais alto. Em Nazaré, ao proclamar o cumprimento de Isaías — “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres” (Lc 4,18; cf. Is 61,1), — Ele se apresenta como o grandegoel. Devolve a vista, levanta quem está caído, perdoa dívidas que acorrentavam. No Calvário, paga com a própria vida o preço que estava além de nossas posses. A Igreja recebeu essa herança jurídica e afetiva ao se propor de ser, na história, o corpo do Ressuscitado que continua a obra dogoel

A literatura compreendeu isso antes de muitos tratados teológicos. Dostoiévski, emCrime e Castigo(1866), apresenta em Sônia Marmieládova essa mesma gravidade do amor. Uma jovem que escolhe os últimos para permanecer junto deles quando todos recuam, e essa permanência revela o que o Evangelho chama de misericórdia. 

Shakespeare, noRei Lear(1606), pôs nos lábios do rei, já moribundo, a intuição tardia de que não cuidara dos “pobres desprovidos” e que o poder, sem essa justiça, é vento (Ato III, Cena 4). Dickens repete, em romances comoOliver Twist (1838) eBleak House(1853), que a caridade anônima e distante é uma ficção benigna. 

Muda o destino dos pequenos quem entra na casa, aprende o nome e interrompe o inevitável curso da ruína. Em todos esses mundos, o pobre não é causa para adeptos, é vínculo que interpela, como parente de sangue. 

Ogoelage por direito; e o rei, quando é digno da coroa, torna-se o últimogoeldo seu povo (Sl 72,12-14). A Bíblia ama retratar Deus como esse rei acessível. Jesus acolhe esse critério e o inscreve no coração de sua autoridade: “Tudo o que fizestes a um destes pequeninos, meus irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). 

Não é só opção. Há a construção de uma identidade, onde tocar o pobre é tocar o próprio Cristo. A Igreja herdou esse ministério dogoel para que a terra, a liberdade e a honra dos últimos não permaneçam entregues à sorte. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

RATZINGER: Fé, verdade, tolerância (Parte 1/2)

Capa do livro do Cardeal Joseph Ratzinger, Fé, Verdade, Tolerância , publicado pela Cantagalli, cuja tradução italiana foi contribuída pelos nossos editores Silvia Kritzenberger e Lorenzo Cappelletti | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11 - 2003

Fé, verdade, tolerância

O Presidente Emérito da República, Francesco Cossiga, apresentou o último livro do Cardeal Joseph Ratzinger no Encontro de Rimini. Publicamos seu discurso.

por Francesco Cossiga

1,A honra de ser convidado para falar sobre o livro de Joseph Ratzinger , Fé, Verdade, Tolerância : Cristianismo e as Religiões do Mundo, me impôs a tremenda responsabilidade de dialogar com os participantes do Encontro para a Amizade entre os Povos em uma coletânea excepcionalmente rica e oportuna de escritos, antigos e novos, alguns muito novos, mas todos igualmente oportunos, do grande teólogo. Esses escritos abordam temas clássicos e modernos da teologia cristã, que se cruzam e são interseccionados por problemas antigos e novos na filosofia e na história da religião, na antropologia cultural e até mesmo na política — todos eles de grande, e eu diria até trágica, modernidade!

Este livro nos remete ao clima fervoroso dos estudos teológicos que caracterizou o século XX. É o exemplo de uma teologia que oferece uma visão abrangente da realidade: por isso, Joseph Ratzinger, como o igualmente grande pensador Romano Guardini, certamente poderia também ocupar uma cátedra em Katholische Weltanschauung , cátedra que, na época em que foi instituída, certamente parecia bastante estranha e naturalmente contestada pela "academia", talvez também porque poucos teriam podido vê-la concedida a eles. Hoje, há de fato uma grande necessidade de visões desse tipo, que nos permitam compreender o fenômeno da existência cristã em termos contemporâneos e modernos, mas fiéis à tradição e, portanto, à verdade, e, ao mesmo tempo, restaurar a essa existência uma unidade que foi amplamente privada dela pela chamada cultura moderna.

Frequentemente nos deparamos com elaborações teológicas que, embora talvez valiosas de um ponto de vista puramente e, em parte, exclusivamente especializado, não têm valor sintético. Aqui também vem à tona o antigo adágio filosófico alemão: muitos veem as árvores, mas poucos veem a floresta!

2. Por que fui chamado a participar do encontro e, além disso, incumbido desta difícil tarefa no âmbito do fervoroso Encontro da Amizade entre os Povos, fruto precioso da inteligência e do coração de Comunhão e Libertação?

Por duas razões fortes e uma fraca . A razão fraca : uma certa reputação de leitor, apenas leitor e, além disso, amador de teologia, e, além disso, uma reputação para a qual, verdade seja dita, o próprio Joseph Ratzinger contribuiu sem culpa! Mas também por duas razões fortes : a sua amizade e a amizade recente, mas já muito forte, porque é alimentada pela minha grande admiração e por esperanças intelectuais partilhadas, com o muito corajoso e ao digno editor Cantagalli, a quem devemos a publicação deste livro.

3. Este livro, que discutirei, é um livro difícil, mas claro; fiel à verdadeira e firme tradição e, ao mesmo tempo, extremamente moderno, como o pensamento de Joseph Ratzinger sempre foi, e sempre foi, um livro. É um livro para ser lido não em uma poltrona, mas em uma mesa, com um lápis e um bloco de notas à mão.

Hoje, há a necessidade de ajudar a todos, mas especialmente aos mais jovens, com o que Hegel exemplarmente chamou de "trabalho do conceito": isto é, o trabalho de pensar, de construir com a mente, isto é, de construir o raciocínio.

Com muita frequência, um certo sentimentalismo — às vezes disfarçado de espiritualidade ou mesmo de misticismo — vem substituir o que é inescapável do horizonte do cristão crente: o uso da razão. Quase parece que, ao passar pela razão, a mensagem é quase fria, isto é, incapaz de atingir o coração. Como se o coração residisse num corpo desprovido de intelecto e dele estivesse separado! Assim como o intelecto, num corpo dotado de coração, não pode ser separado dele. Não deve ser assim, porque não é! Não seria má ideia, de vez em quando, reler um pouco de Tomás de Aquino, Agostinho e Pascal!

Francesco Cossiga durante a apresentação do livro de Joseph Ratzinger, Fé, Verdade, Tolerância: Cristianismo e as Religiões do Mundo, no Meeting de Rimini | 30Giorni.

4. Este é também um livro de extrema e dramaticamente atual relevância, e que considero mais do que necessário, providencial, especialmente diante de certos "modernismos pós-conciliares" que — por simplificação excessiva ou talvez até por excessiva "caridade" não nutrida por doutrina suficiente ou não "medida" pela virtude cardeal da prudência — deram origem a caminhos teóricos e práticos confusos que confundiram... E certos caminhos podem levar à confusão, por exemplo em questões de "ecumenismo", "diálogo entre religiões", relação entre filosofia e fé, entre fé e religião, entre religião e conhecimento humano, entre monoculturalismo, interculturalismo e pluriculturalismo, se não nos sentirmos ancorados na tradição, no ensinamento da Igreja, no pensamento cristão dos Padres da Igreja, nos contemporâneos John Henry Newman e Antonio Rosmini. 

5. Esses problemas, na verdade, surgiram também de algumas "assembleias de oração comum" mal compreendidas, embora generosas e entusiasmadas, e de algumas reações sentimentais despercebidas a documentos como Fides et Ratio , Dominus Iesus, o documento sobre os deveres morais dos católicos na política e, por fim, o documento sobre a Eucaristia. 

6. O livro de Joseph Ratzinger também lança luz sobre um problema que uma leitura superficial e, talvez, míope e linguisticamente desatenta dos documentos conciliares sobre ecumenismo, tolerância e salvação universal criou, quase em contradição com o mandato missionário apostólico dado à Igreja por Cristo, corretamente baseado na exclusividade e exaustividade da Revelação e de sua figura redentora: Jesus de Nazaré.


Alguns vitrais da Catedral de Regensburg (século XII) na Baviera, Alemanha; acima, a Adoração dos Magos, abaixo, a Fuga para o Egito | 30Giorni.

7. Católico, como costumavam chamar de "progressista" na minha juventude, "conciliarista raivoso", perguntei-me então, talvez temerariamente, admito!, se — certamente sem prejuízo do seu valor "providencial" — a cultura filosófica e teológica, não só dos leigos, mas especialmente do clero, estava pronta para acolher as mensagens, mesmo proféticas, do Concílio Vaticano II, sem perigosos mal-entendidos e aventureiros "saltos à frente". Pensemos na "teologia da libertação" e, nos campos litúrgico e ecumênico, em certas interpretações errôneas, distorções, descuidos e superficialidades.

Há, de fato, um erro compartilhado pela teologia da libertação e por uma certa teologia litúrgica, que tende a dar precedência à assembleia dos fiéis, clero e leigos, sobre a função pessoal e vicária de Cristo. Esta função, sendo precisamente pessoal e vicária, não pode ser substituída por nenhum sujeito, mesmo no caso de uma assembleia, mesmo que seja um cantor com bateria e violão!

O mesmo ocorre na teologia da libertação, onde o projeto histórico e, por vezes, político prevalece ou se identifica – o que é pior! – com a figura e a realidade do Reino de Deus.

Todas essas abordagens quase repetem o erro do pelagianismo: o de considerar o homem capaz de realizar sua própria salvação sozinho, por meio de suas próprias forças. Esses medos devem ser superados de duas maneiras: uma sólida teologia da graça gratuita e uma aceitação igualmente sólida, por parte do fiel católico, de sua própria responsabilidade mundana , como exige do "cristão adulto" a lição de um grande mártir protestante, o pastor luterano Dietrich Bonhoeffer.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O que significa para um cristão ser um “cidadão do Céu”?

Jaclyne Ortiz | Shutterstock

Mónica Muñoz - publicado em 07/10/25

A Bíblia frequentemente se refere à cidadania daqueles que creem em Cristo. E, como escreve São Paulo, nossa verdadeira pátria está no céu, com Deus.

Toda criança aprende desde muito cedo, por meio das aulas de geografia, que o mundo é composto de continentes, nações e países, com povos que os habitam e que forjam sua identidade de acordo com suas próprias culturas e costumes, fomentando assim o amor à sua pátria terrena. Mas todo cristão também deve compreender que está apenas de passagem, e que sua pátria, seu reino, está no céu, para poder viver no paraíso com Deus.

É claro que é justo amar a nação em que se nasceu. O quarto mandamento, que se refere ao amor e ao respeito aos pais, também inclui deveres para com a pátria, como se pode ler no Catecismo da Igreja Católica: "O amor e o serviço à pátria fazem parte do dever de gratidão e da ordem da caridade." (CIC 2239). Mas, em sua Carta aos Hebreus, São Paulo insiste que "a fé é um modo de possuir o que se espera, um meio de conhecer realidades que não se veem" (11,1). Ele então quer fazer os cristãos compreenderem que todos os esforços dos Antigos foram motivados pelas promessas de Deus. Assim, ele lembra que Abel ofereceu a Deus um sacrifício maior que o de Caim, que Enoque ascendeu ao céu sem morrer, que Noé construiu a arca, que Abraão deixou sua terra natal, que Sara, em sua velhice, concebeu um filho. E embora não conhecessem o cumprimento das promessas, "eles o tinham visto e o acolheram de longe, dizendo que, na terra, eram estrangeiros e peregrinos". E São Paulo acrescenta: "De fato, eles ansiavam por uma pátria melhor, a dos céus. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado seu Deus, pois preparou uma cidade para eles" (Hebreus 11,13-16).

Cidadãos do céu

Assim, se estivermos cientes de que a realidade em que vivemos hoje mudará no momento menos esperado – não sabemos a hora nem o dia –, podemos nos preparar para habitar a pátria definitiva. E a advertência de São Paulo aos Filipenses é clara: "Irmãos, imitai-me e considerai cuidadosamente aqueles que andam conforme o exemplo que vos damos. Pois muitas vezes vos disse, e agora repito com lágrimas: muitos se comportam como inimigos da cruz de Cristo e caminham para a perdição. O deus deles é o ventre, e gloriam-se naquilo que é para sua vergonha; só pensam nas coisas terrenas." (Filipenses 3,17)Mas, felizmente, se nos esforçarmos para seguir o Evangelho, receberemos a recompensa daqueles que creem em Jesus: "Mas temos a nossa cidadania nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará os nossos pobres corpos à imagem do seu corpo glorioso, pelo poder ativo do seu poder de sujeitar também todas as coisas" (Filipenses 3, 20-21). Que esta prometida cidadania do céu nos ajude a perseverar a cada dia em nossas resoluções de santidade.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/07/o-que-significa-para-um-cristao-ser-um-cidadao-do-ceu/

“Dilexi te”, Leão XIV: não se pode separar a fé do amor pelos pobres (Parte 1/2)

“Dilexi te”, Leão XIV: não se pode separar a fé do amor pelos pobres (Vatican Media)

Publicada a primeira exortação apostólica de Robert Prevost, um trabalho iniciado por Francisco sobre o tema do serviço aos pobres, em cujo rosto encontramos “o sofrimento dos inocentes”. O Papa denuncia a economia que mata, a falta de equidade, a violência contra as mulheres, a desnutrição, a emergência educacional. Ele faz seu o apelo de Bergoglio pelos migrantes e pede aos fiéis que façam ouvir “uma voz que denuncie”, porque “as estruturas da injustiça devem ser destruídas com a força do bem"

Salvatore Cernuzio – Vatican News

Dilexi te, “Eu te amei”. O amor de Cristo que se encarna no amor aos pobres, entendido como cuidado dos doentes; luta contra a escravidão; defesa das mulheres que sofrem exclusão e violência; direito à educação; acompanhamento aos migrantes; esmola que “é justiça restabelecida, não um gesto de paternalismo”; equidade, cuja falta é “a raiz de todos os males sociais”. Leão XIV assina sua primeira exortação apostólica, Dilexi te, texto em 121 pontos que brota do Evangelho do Filho de Deus que se tornou pobre desde sua entrada no mundo e que relança o Magistério da Igreja sobre os pobres nos últimos cento e cinquenta anos. “Uma verdadeira mina de ensinamentos”.

LEIA AQUI O TEXTO INTEGRAL DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA LEÃO XIV

Seguindo os passos dos seus antecessores

Com este documento assinado a 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, o Pontífice agostiniano segue assim os passos dos seus antecessores: João XXIII com o apelo aos países ricos na Mater et Magistra para que não permaneçam indiferentes perante os países oprimidos pela fome e pela miséria (83); Paulo VI, com a Populorum progressio e o discurso na ONU “como advogado dos povos pobres”; João Paulo II, que consolidou doutrinariamente “a relação preferencial da Igreja com os pobres”; Bento XIV e a Caritas in Veritate, com sua leitura “mais marcadamente política” das crises do terceiro milênio. Por fim, Francisco, que fez do cuidado “pelos pobres” e “com os pobres” um dos pilares do seu pontificado.

Um trabalho iniciado por Francisco e relançado por Leão

Foi o próprio Francisco que, nos meses que antecederam sua morte, iniciou o trabalho sobre a exortação apostólica. Assim como aconteceu com a Lumen Fidei, de Bento XVI, recolhida em 2013 por Jorge Mario Bergoglio, também desta vez é o sucessor que completa a obra, que representa uma continuação da Dilexit Nos, a última encíclica do Papa argentino sobre o Coração de Jesus. Porque é forte a “ligação” entre o amor de Deus e o amor pelos pobres: através deles, Deus “ainda tem algo a nos dizer”, afirma o Papa Leão. E ele retoma o tema da “opção preferencial” pelos pobres, expressão nascida na América Latina (16) não para indicar “um exclusivismo ou uma discriminação em relação a outros grupos”, mas “a ação de Deus” que se move por compaixão pela fraqueza da humanidade.

No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo (9)

A exortação de Leão XIV: um texto que propõe os fundamentos da Revelação cristã e da tradição da Igreja

Os “rostos” da pobreza

São numerosos os pontos para reflexão, numerosas as motivações para a ação na exortação de Robert Francis Prevost, na qual são analisados os “rostos” da pobreza. A pobreza daqueles que “não têm meios de subsistência material”, de “quem é marginalizado socialmente e não possui instrumentos para dar voz à sua dignidade e suas capacidades”; a pobreza “moral”, “espiritual”, “cultural”; a pobreza “de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade” (9).

Novas formas de pobreza e falta de equidade

Diante desse cenário, o Papa considera “insuficiente” o compromisso de eliminar as causas estruturais da pobreza em sociedades marcadas por “numerosas desigualdades”, pelo surgimento de novas formas de pobreza “mais sutis e perigosas” (10) e por regras econômicas que aumentaram a riqueza, “mas sem equidade”.

A falta de equidade é a raiz dos males sociais (94)

A ditadura de uma economia que mata

“Quando dizem que o mundo moderno reduziu a pobreza, fazem-no medindo-a com critérios doutros tempos não comparáveis à realidade atual”, afirma Leão XIV (13). Deste ponto de vista, ele saúda “com satisfação” o fato de que “as Nações Unidas tenham colocado a erradicação da pobreza como um dos objetivos do Milênio”. No entanto, o caminho é longo, especialmente numa época em que continua a vigorar a “ditadura de uma economia que mata”, em que os ganhos de poucos “crescem exponencialmente”, enquanto os da maioria estão “cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz” e em que se difundem “ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira” (92).

Cultura do descarte, liberdade de mercado, pastoral das elites

Tudo isso é sinal de que ainda persiste – “por vezes bem disfarçada” – uma cultura do descarte que “tolera com indiferença que milhões de pessoas morram de fome ou sobrevivam em condições indignas do ser humano” (11). O Papa condena então os “critérios pseudocientíficos” segundo os quais será “a liberdade do mercado” a levar à “solução” do problema da pobreza, bem como a “pastoral das chamadas elites”, segundo a qual “em vez de perder tempo com os pobres, é melhor cuidar dos ricos, dos poderosos e dos profissionais” (114).

Realmente, os direitos humanos não são iguais para todos (94)

Mudar a mentalidade

O que o Papa invoca é, portanto, uma “mudança de mentalidade”, libertando-se antes de tudo da “ilusão de uma felicidade que deriva de uma vida confortável”. Isso leva muitas pessoas a uma visão da existência centrada na riqueza e no sucesso “a todo custo”, mesmo em detrimento dos outros e por meio de “sistemas político-econômicos injustos” (11).

A dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada já agora, não só amanhã (92)

Em cada migrante rejeitado está Cristo batendo à porta

Leão XIV dedica um amplo espaço ao tema das migrações. Para ilustrar suas palavras, ele usa a imagem do pequeno Alan Kurdi, o menino sírio de 3 anos que se tornou, em 2015, símbolo da crise europeia dos migrantes com a foto de seu corpinho sem vida em uma praia. “Infelizmente, à parte de alguma momentânea comoção, acontecimentos semelhantes estão a tornar-se cada vez mais irrelevantes, como notícias secundárias” (11), constata o Pontífice.

Ao mesmo tempo, ele lembra a obra secular da Igreja em favor daqueles que são forçados a abandonar suas terras, expressa em centros de acolhimento, missões de fronteira, esforços da Caritas Internacional e outras instituições (75).

A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes. Pois sabe que o Evangelho só é crível quando se traduz em gestos de proximidade e de acolhimento; e que em cada migrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate às portas da comunidade (75)

Ainda sobre o tema das migrações, Robert Prevost faz seus os famosos “quatro verbos” do Papa Francisco: “Acolher, proteger, promover e integrar”. E do Papa Francisco ele também toma emprestada a definição dos pobres não apenas como objeto de nossa compaixão, mas como “mestres do Evangelho”.

Servir aos pobres não é um gesto a ser feito “de cima para baixo”, mas um encontro entre iguais... A Igreja, portanto, quando se curva para cuidar dos pobres, assume sua postura mais elevada (79)

Mulheres vítimas de violência e exclusão

O Sucessor de Pedro olha então para a atualidade marcada por milhares de pessoas que morrem todos os dias “por causas relacionadas com a desnutrição” (12). “Duplamente pobres”, acrescenta, são “as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque frequentemente têm menos possibilidades de defender os seus direitos” (12).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Hoje são celebradas as santas Tais e Pelágia, libertadas da escravidão da carne

Santa Taís e Pelágia. | ACI Digital.

Por Redação central*

8 de out de 2025 às 00:01

Hoje (8) a Igreja Católica celebra as santas mulheres que viveram entre os séculos IV e V, Tais e Pelágia. Embora não tenham se conhecido, a tradição as uniu pelas semelhanças entre suas histórias, até porque ambas mudaram completamente de vida após o encontro com Cristo. Santa Tais viveu em Alexandria, Egito, e santa Pelágia em Antioquia, atual Turquia.

Tais e Pelágia, ainda muito jovens, foram seduzidas pela devassidão e pela força da cultura pagã de sua época. Porém, ao receberem o anúncio de Cristo, deixaram tudo para segui-lo, reparar os danos que causaram a si mesmas e viver em busca da santidade. Tais era uma prostituta famosa e Pelágia uma dançarina da corte.

Resgatada da prostituição

Santa Tais recebeu formação cristã, mas abandonou a fé e se distanciou completamente de Deus, atraída pelas riquezas, pelo luxo e pelos prazeres carnais. O seu distanciamento era tal que era impossível reconhecê-la como cristã, dada a desfiguração da sua alma. Felizmente, isso não significa que Deus não continuou a vê-la como sua filha ou parou de procurá-la como uma ovelha perdida.

Segundo o testemunho atribuído ao bispo são Pafnúcio - o santo do deserto de Tebaida -, Tais conseguiu redescobrir a sua fé. O santo conta como, depois de ter vivido entre a perdição e o escândalo, e de ter envergonhado os seus irmãos cristãos, Tais cedeu ao seu insistente anúncio e deixou que o bom Jesus tocasse o seu coração. Arrependida, a jovem implorou perdão e mudou de vida.

Mais tarde, santa Tais passou cerca de três anos numa cela de um mosteiro, isolada, em penitência e dedicada à oração. Depois desse período, integrou-se na vida do mosteiro, embora não por muito tempo: morreu duas semanas depois, finalmente em paz e reconciliada com o seu Criador. Isso aconteceu por volta do ano 348.

Santa Tais é considerada nas Menologias Ortodoxas e as Igrejas Orientais Católicas honram a sua memória até hoje. Ela é a padroeira de Alexandria e costuma ser representada vestida com sedas ricas e coloridas, espelho - símbolo de vaidade - e colar de pérolas, como representação da futilidade daquilo que se adquire longe de Deus.

Livre de uma vida de luxo

Pelágia nasceu e cresceu como pagã e sua conversão ao cristianismo ocorreu por mediação do bispo de Antioquia, Nonus, anacoreta de Tabenas. Bastou que a santa o ouvisse pregar para que Deus movesse seu coração a uma conversão sincera. Ela pediu o batismo e trocou danças, máscaras e colares por penitência e oração.

Uma vez batizada, mudou-se para Jerusalém, onde viveu num mosteiro perto do Monte das Oliveiras. Ela morreu por volta do ano 468. É a padroeira dos comediantes e dos arrependidos.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/56345/hoje-sao-celebradas-as-santas-tais-e-pelagia-libertadas-da-escravidao-da-carne

Dia do Nascituro

DIA DO NASCITURO: PASTORAL FAMILIAR REITERA, EM NOTA, O VALOR E A DIGNIDADE DA VIDA HUMANA DESDE A CONCEPÇÃO

08/10/2025

A Pastoral Familiar divulgou nesta quarta-feira, 8, uma nota em celebração ao Dia do Nascituro, com o tema “A vida é sempre um bem”. A data, segundo o texto, é uma oportunidade privilegiada para refletir sobre o valor e a dignidade da vida humana desde a concepção.

Na mensagem, a Pastoral recorda que, para os cristãos, a valorização da vida é um princípio fundamental, pois toda pessoa, desde o ventre materno, é portadora da dignidade sagrada criada por Deus. Citando o Salmo 139  , o texto ressalta que a vida é dom divino, inviolável e digno de respeito e proteção.

A nota também alerta para o desafio contemporâneo de proteger a vida diante de ameaças como o aborto, que, segundo o documento, “fere a dignidade e o valor da vida humana”. A Pastoral destaca que a defesa da vida nascente é uma missão urgente da Igreja, e convida as famílias a se tornarem ardentes defensoras da vida e da dignidade humana, especialmente dos mais vulneráveis e indefesos.

A Pastoral Familiar lembra que existem alternativas ao aborto, como a adoção e o apoio integral às mães em situação de vulnerabilidade. Ao final, a mensagem convida todos os fieis a renovarem o compromisso com a promoção da vida e a resistirem às pressões culturais que banalizam sua sacralidade.

Leia, abaixo, a nota na íntegra:

NOTA SOBRE O DIA DO NASCITURO

A vida é sempre um bem

O Dia do Nascituro, celebrado nesta quarta-feira (8), é uma oportunidade privilegiada para refletirmos sobre o valor e a dignidade da vida humana desde a concepção. Para nós, cristãos, a valorização da vida é um princípio fundamental, pois reconhecemos que toda pessoa, desde o ventre materno, é portadora da dignidade sagrada criada por Deus. O salmista nos recorda: “Foste tu que formaste meus rins e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te dou graças, pois fui plasmado de modo maravilhoso; admiráveis são as tuas obras, minha alma o reconhece plenamente” (Sl 139[138],13-14). Este mistério da criação revela que a vida é dom divino, inviolável e digno de respeito e proteção.

O aborto, ao contrário, fere a dignidade e o valor da vida humana. Por isso, a defesa da vida nascente é uma missão urgente da Igreja no mundo contemporâneo. Hoje e sempre, a Pastoral Familiar do Brasil, com todos os seus agentes, conclama as famílias a serem ardentes defensoras da vida e da dignidade humana, especialmente dos mais vulneráveis e indefesos.

Existem alternativas ao aborto, como a adoção e o apoio integral às mães. Como cristãos, somos chamados a defender a vida e a dignidade de cada ser humano, desde a concepção até a morte natural. Esse compromisso passa também pelo acolhimento concreto: oferecer amor, compaixão e recursos às mulheres e famílias em situação de dificuldade. Assim, podemos colaborar na construção de uma autêntica cultura da vida, que reconheça e valorize toda pessoa humana.

Neste Dia do Nascituro, somos convocados a renovar nosso compromisso com a promoção da vida, resistindo às pressões sociais e culturais que banalizam sua sacralidade. Como comunidade de fé, seguimos firmes na certeza da vitória da vida em Jesus Cristo, que nos chama a escolher sempre a luz e a esperança. Que possamos proclamar, com coragem e amor, que a vida humana é a mais preciosa dádiva de Deus, merecedora de proteção, cuidado e acolhimento desde seu início até seu fim natural.

Pastoral Familiar do Brasil

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Papa: não há história que não possa ser visitada pela esperança

Audiência Geral, 08/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Na catequese da Audiência Geral, Leão XIV se deteve na "humildade" de Jesus, um aspecto surpreendente de sua ressurreição. O Pontífice disse que a ressurreição de Cristo "é uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano". "Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus", sublinhou.

https://youtu.be/FkqXHj8xIug

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (08/10), realizada na Praça São Pedro, o Papa Leão XIV refletiu sobre "um aspecto surpreendente da Ressurreição de Cristo: a sua humildade".

Segundo os Evangelhos, "o Senhor ressuscitado não faz nada de espetacular para conquistar a fé dos seus discípulos. Não aparece rodeado de um exército de anjos, não realiza gestos dramáticos, não profere discursos solenes para revelar os segredos do universo", mas "se aproxima discretamente, como um viajante qualquer, como um faminto que pede para partilhar um pouco de pão".

Ressurreição, transformação silenciosa

Maria Madalena confunde Jesus "com um jardineiro. Os discípulos de Emaús consideram-no um forasteiro. Pedro e os outros pescadores consideram-no apenas mais um transeunte". "Nós teríamos esperado efeitos especiais, sinais de poder, provas contundentes. Mas o Senhor não procura isso: Ele prefere a linguagem da proximidade, da normalidade, da mesa partilhada", frisou o Papa.

“Irmãos e irmãs, há aqui uma mensagem preciosa: a Ressurreição não é uma reviravolta dramática, é uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano. Jesus ressuscitado come um pedaço de peixe diante dos seus discípulos: não é um pormenor marginal, é a confirmação de que o nosso corpo, a nossa história, as nossas relações não são uma embalagem a ser descartada. Estão destinados à plenitude da vida. ”

Portanto, "ressurreição não significa tornarmo-nos espíritos evanescentes, mas entrar numa comunhão mais profunda com Deus e com os nossos irmãos e irmãs, numa humanidade transfigurada pelo amor", disse ainda o Papa.

A dor não é a negação da promessa

“Na Páscoa de Cristo, tudo se pode tornar graça. Até as coisas mais comuns: comer, trabalhar, esperar, cuidar da casa, ajudar um amigo. A Ressurreição não tira a vida ao tempo e ao esforço, mas muda o seu sentido e o seu “sabor”. Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus.”

Segundo o Papa, "existe um obstáculo, no entanto, que muitas vezes nos impede de reconhecer esta presença de Cristo na nossa vida quotidiana: a pretensão de que a alegria deve ser isenta de feridas. Os discípulos de Emaús caminham tristes porque esperavam um final diferente, um Messias que não conhecesse a cruz. Mesmo sabendo que o túmulo estava vazio, não conseguem sorrir. Mas Jesus está ao lado deles e, pacientemente, os ajuda a compreender que a dor não é a negação da promessa, mas o caminho pelo qual Deus manifestou a medida do seu amor".

Nenhuma queda é definitiva

Quando eles "se sentam à mesa com Ele e partem o pão, os seus olhos se abrem, e percebem que os seus corações já estavam ardendo, mesmo sem saber. Esta é a maior surpresa: descobrir que, sob as cinzas da desilusão e do cansaço, há sempre uma brasa viva, à espera de ser reacendida".

“Irmãos e irmãs, a ressurreição de Cristo nos ensina que nenhuma história é tão marcada pela desilusão ou pelo pecado que não possa ser visitada pela esperança. Nenhuma queda é definitiva, nenhuma noite é eterna, nenhuma ferida está destinada a permanecer aberta para sempre. Por mais distantes, perdidos ou indignos que nos sintamos, não há distância que possa extinguir a força infalível do amor de Deus.”

Leão XIV disse ainda que "por vezes, pensamos que o Senhor nos vem visitar apenas nos momentos de meditação ou de fervor espiritual, quando nos sentimos dispostos, quando as nossas vidas parecem ordenadas e luminosas".

“No entanto, o Ressuscitado aproxima-se precisamente nos lugares mais sombrios: nos nossos fracassos, nas relações desgastadas, nas fadigas quotidianas que nos pesam, nas dúvidas que nos desanimam. Nada do que somos, nenhum fragmento da nossa existência lhe é estranho.”

O Senhor está vivo, caminha conosco

"Hoje, o Senhor ressuscitado está ao lado de cada um de nós, enquanto percorremos os nossos próprios caminhos – o do trabalho e o do compromisso, mas também o do sofrimento e o da solidão – e, com infinita delicadeza, pede-nos que deixemos aquecer os nossos corações. Não se impõe em voz alta, não exige reconhecimento imediato. Aguarda pacientemente o momento em que os nossos olhos se abrirão para vislumbrar o seu rosto amigo, capaz de transformar a desilusão em expectativa confiante, a tristeza em gratidão, a resignação em esperança", disse ainda o Papa, convidando a pedir a Deus "a graça de reconhecer a sua presença humilde e discreta, de não esperar uma vida sem provações, de descobrir que cada dor, se habitada pelo amor, pode tornar-se lugar de comunhão".

“Assim como os discípulos de Emaús, nós também voltamos para casa com o coração ardendo de alegria. Uma alegria simples, que não apaga as feridas, mas as ilumina. Uma alegria que nasce da certeza de que o Senhor está vivo, caminha conosco e nos dá a cada momento a possibilidade de recomeçar.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CIÊNCIA: O livro da Natureza, quase um “antigo testamento” (Parte 2/2)

Riccardo Giacconi no Laboratório Nacional de Brookhaven, Upton (NY) | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11/12 - 2002

O livro da Natureza, quase um “antigo testamento”

O Bispo de Civitavecchia entrevista um jovem astrofísico sobre o Prêmio Nobel de Física concedido a Riccardo Giacconi.

por Girolamo Grillo

Então, de onde vêm esses raios X descobertos pelo nosso ganhador do Prêmio Nobel?

Eles são emitidos principalmente por objetos compactos, como remanescentes estelares que sobreviveram à fase final da vida de uma estrela devido ao esgotamento de seu combustível nuclear: pulsares (estrelas de nêutrons), restos de estrelas com massa várias vezes maior que a do Sol; e buracos negros, restos de estrelas mais massivas, até 50 vezes maiores que a do Sol.

Não é fácil ver pulsares, e é completamente impossível ver diretamente buracos negros, que não podem emitir luz: sua atração gravitacional é tal que nem mesmo a luz consegue escapar deles. A primeira evidência da existência de buracos negros foi, portanto, obtida pela observação da matéria caindo nesses poços cósmicos "vorazes". Caindo em grande velocidade, esse material é enormemente aquecido por uma série de processos que essencialmente convertem energia gravitacional em radiação de altíssima energia (até raios X), um processo que certamente está entre os mais eficientes do universo, cem vezes mais eficiente do que a fusão nuclear estelar.

Algo semelhante acontece no caso de um par de estrelas muito próximas, uma das quais é muito compacta — como um pulsar — ​​que atrai gravitacionalmente a matéria da outra.

Portanto, não há ninguém que não perceba a importância de seus insights...

Para entender o enorme significado do trabalho de Giacconi, basta considerar o fato de que o céu, visto em raios X, é diferente do céu que vemos à noite, que é o céu visto através da luz óptica. Se nossos olhos percebessem raios X e não luz óptica, de fato, veríamos um céu diferente, irreconhecível, com objetos muito brilhantes onde não os esperaríamos e luzes muito fracas — ou nenhuma — onde estamos acostumados a ver as estrelas mais brilhantes.

A mera ideia da descoberta de um "outro céu" certamente faz com que todos entendam o significado do resultado. Quem não é astrônomo provavelmente pode achar estranha a ideia de um céu noturno com uma aparência completamente diferente...

Existem também "outros céus" observáveis ​​em outras faixas de luz, no infravermelho, nas micro-ondas ou nos raios gama... Todos campos de estudo, quero destacar, nos quais a contribuição da ciência italiana é importante.

É claro que se trata de uma personalidade excepcional.

Sua estatura é evidente quando se considera que ele foi escolhido para liderar o projeto Hubble. Estamos falando de alguém considerado pela comunidade científica como a melhor escolha possível no mundo para liderar o projeto mais ambicioso do momento. Eles também o consideraram o melhor quando o nomearam chefe da AUI (Associated Universities Inc.), a organização que supervisiona os principais observatórios norte-americanos: Giacconi está agora entre os desenvolvedores do novo grande projeto ALMA para observações de rádio.

Ouvi falar dele pela primeira vez quando era chefe do Hubble e imediatamente tive a sensação de que era um dos maiores cientistas vivos. Como se tudo isso não bastasse, também fiquei impressionado com a amplitude de seus interesses culturais. Um verdadeiro homem renascentista, como ele gosta de se autodenominar. Um homem que personifica o melhor da cultura italiana em todos os sentidos da palavra e, infelizmente, teve que trazê-la para fora da Itália para que ela se desenvolvesse plenamente.

Que reflexões lhe vêm à mente considerando a emigração forçada de Giacconi? A Itália não está mais à altura do bem que pode produzir?

Felizmente, Giacconi manteve contato com a pesquisa italiana, embora certamente não na medida em que seria útil. Altamente respeitado nos círculos das Universidades de Milão e La Sapienza, em Roma, para citar duas, ele foi recentemente cofundador do ICRA (Centro Internacional de Astrofísica Relativística) em Pescara. Ele seria um enorme recurso para a ciência italiana, se as condições fossem adequadas.

Estas são considerações expressas nos últimos dias por vozes muito mais qualificadas do que a minha, pelo próprio Giacconi. Marconi emigrou após suas primeiras descobertas, Fermi o fez no meio de sua carreira científica... Outros grandes nomes de outras áreas estão agora trabalhando no exterior, como Faggin, inventor do microchip. Outros, após anos de pesquisa em contato com os maiores cientistas do mundo, retornaram ou estão tentando fazê-lo, talvez aceitando alguns sacrifícios. Mas a situação não é cor-de-rosa, e isso já é verdade há algum tempo.

É preciso dizer que, na Itália e na Europa, o enorme impulso dado à ciência pelo financiamento militar, como é o caso dos EUA, não ocorreu e não poderia ter ocorrido; que, no exterior, a privatização das universidades, que administram os fundos, ajuda e, se bem feita, pode ajudar aqui também; e que a transferência de tecnologia, ou "spin-offs", a aplicação de resultados de pesquisas ao mundo empresarial, também é de grande ajuda.

Nesta última área, por exemplo, o governo parece estar demonstrando bastante sensibilidade; em relação a outras decisões decorrentes dos tempos difíceis atuais — situações que, acredito, também refletem as falhas de governos anteriores (e até mesmo de oposições) —, limitar-me-ei a dizer que muitos na área as veem de forma bastante negativa.

No entanto, em comparação com outros países europeus, temos mais jovens saindo das universidades cheios de problemas. As pessoas se formam (é preciso dizer que nossos programas são excelentes) levando, em média, mais tempo para concluir seus estudos (veremos se a reforma dos cursos de três anos trará resultados positivos). Depois da formatura, as perspectivas são poucas e pode-se perder um tempo ainda mais precioso; muitas vezes, as oportunidades nunca aparecem, e é preciso emigrar para países mais astutos, que, portanto, aproveitam os esforços do sistema italiano para formar acadêmicos dignos. É precisamente o caso de Giacconi, "formado" em alto nível por universidades italianas. Uma pura e simples doação de recursos humanos a outros países em áreas estrategicamente cruciais. E o próprio Giacconi, no final, viu-se cercado nos Estados Unidos por outros italianos dignos, que jocosamente se autodenominavam "garibaldianos".

Pelo que ele me conta, transparece um desejo pessoal indisfarçável. O quê?

O de poder pesquisar, à minha maneira. Não é uma vida fácil, mas oferece satisfações difíceis de explicar. Para os mais capazes entre nós, é simplesmente uma questão de continuar a fazer o que mais gostamos na vida. Talvez este seja o segredo para se manter motivado e enfrentar bem uma disciplina bastante rigorosa. Mas já vi muitos dos meus colegas saírem por falta de oportunidades no nosso país.

Sair não seria um problema; o problema é que há demasiados investigadores italianos no estrangeiro que não regressam e, em vez de um intercâmbio que enriqueça a todos, corremos o risco, em última análise, de uma perda de capacidade, planeamento e competitividade do sistema italiano.

Tem alguma esperança de que alguém na Itália note a existência de tantos jovens como você que aspiram a ingressar na área da investigação em astrofísica?

Espero continuar neste caminho com dignidade e não desistirei facilmente. Se fosse para o estrangeiro, tentaria regressar. Afinal, de todos os pontos da superfície da Terra, a distância até ao céu é mais ou menos a mesma...

Mas a investigação é realmente uma busca para toda a vida e um desafio fascinante. É como abrir um livro maravilhoso – diria talvez Galileu –, O Livro da Natureza , escrito pelo próprio Deus em termos matemáticos como se fosse um “antigo testamento”, e olhar para contemplar, cheio de admiração e ânsia de conhecer, a lógica profunda da criação.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Por que a mão dos seres humanos é especial — e o maior desafio para robôs 'perfeitos' (Parte 2/2)

Até mesmo os braços robóticos mais avançados têm dificuldade de igualar a destreza e a adaptabilidade das mãos humanas (Crédito: Getty Images)

Por que a mão dos seres humanos é especial — e o maior desafio para robôs 'perfeitos'

Autor: Claudia Baxter

De BBC Future

27 janeiro 2025

A ascensão dos robôs

Há muito tempo, os roboticistas sonham com autômatos com destreza antropomórfica suficientemente boa para realizar tarefas indesejáveis, perigosas ou repetitivas.

Rustam Stolkin, professor de robótica da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, lidera um projeto para desenvolver robôs controlados por inteligência artificial altamente hábeis, capazes de lidar com resíduos nucleares do setor de energia, por exemplo. Embora esse trabalho normalmente use robôs controlados remotamente, Stolkin está desenvolvendo robôs autônomos guiados por visão que podem ir a locais onde é muito perigoso para os seres humanos se aventurarem.

Talvez o exemplo mais conhecido de um androide do mundo real seja o robô humanoide Atlas, da Boston Dynamics, que cativou o mundo em 2013 com suas capacidades atléticas. A versão mais recente do Atlas foi revelada no fim de 2024, e combina visão computacional com uma forma de inteligência artificial conhecida como aprendizado por reforço, na qual o feedback ajuda os sistemas de IA a se tornarem melhores no que fazem. De acordo com a Boston Dynamics, isso permite que o robô execute tarefas complexas, como empacotar ou organizar objetos nas prateleiras.

Mas as habilidades necessárias para realizar muitas das tarefas em setores liderados por seres humanos, nos quais robôs como o Atlas poderiam se destacar, como manufatura, construção e saúde, representam um desafio especial, de acordo com Du.

"Isso acontece porque a maioria das ações motoras manuais nesses setores exige não apenas movimentos precisos, mas também respostas adaptativas a variáveis imprevisíveis, como formas irregulares de objetos, texturas variadas e condições ambientais dinâmicas", diz ele.

Du e seus colegas estão trabalhando em robôs de construção altamente habilidosos que usam inteligência artificial integrada para aprender habilidades motoras por meio da interação com o mundo real.

Atualmente, a maioria dos robôs é treinada para tarefas específicas, uma de cada vez, o que significa que eles têm dificuldade para se adaptar a situações novas ou imprevisíveis. Isso limita suas aplicações. Mas Du argumenta que isso está mudando.

"Avanços recentes sugerem que os robôs podem, em algum momento, aprender habilidades versáteis e adaptáveis que permitam a eles lidar com uma variedade de tarefas sem treinamento específico prévio", ele afirma.

A Tesla também deu ao seu próprio robô humanoide Optimus uma nova mão no fim de 2024. A empresa divulgou um vídeo do robô pegando uma bola de tênis em pleno ar. Mas ele foi teleoperado por controle remoto manual — em vez de ser autônomo, de acordo com os engenheiros por trás dele. A mão tem 25 eixos de movimento, segundo eles.

Mas enquanto alguns inovadores tentaram recriar mãos e braços humanos em forma de máquina, outros optaram por abordagens muito diferentes em relação à destreza. A empresa de robótica Dogtooth Technologies, com base em Cambridge, criou robôs de colheita de frutas macias, com braços altamente hábeis e pinças de precisão capazes de colher e embalar frutas delicadas, como morangos e framboesas, na mesma velocidade que os trabalhadores humanos.

O cofundador e CEO da Dogtooth Technologies, Duncan Robertson, teve a ideia dos robôs colhedores de frutas enquanto estava deitado em uma praia no Marrocos. Com experiência em aprendizado de máquina (machine learning) e visão computacional, Robertson queria aplicar suas habilidades para ajudar a limpar o lixo na praia, criando um robô de baixo custo que pudesse identificar, classificar e remover detritos. Quando voltou para casa, ele aplicou a mesma lógica ao cultivo de frutas macias.

Os robôs que ele desenvolveu junto à equipe da Dogtooth usam modelos de aprendizado de máquina para implementar algumas das habilidades que nós, seres humanos, possuímos instintivamente. Cada um dos dois braços do robô possui duas câmeras coloridas, muito parecidas com olhos, que permitem identificar o grau de amadurecimento das frutas e determinar a profundidade de cada uma das frutas-alvo a partir de seu "efetor" final, ou dispositivo de preensão.

Os robôs mapeiam a dispersão e a disposição das frutas maduras no pé e transformam isso em uma sequência de ações, com um planejamento preciso da rota necessária para guiar o braço do colhedor até o caule da fruta para fazer um corte.

Cada um dos braços do robô da Dogtooth tem sete eixos de movimento, o mesmo que o braço humano, o que significa que esses apêndices podem manobrar bem o suficiente para encontrar o ângulo ideal para alcançar cada fruta sem danificar as outras que ainda estão no pé. O dispositivo de preensão agarra, então, suavemente a fruta pelo caule, passando-a para uma câmara de inspeção antes de colocá-la cuidadosamente em uma caixinha para distribuição. Outro sistema de colheita de morangos, criado pela Octinion, usa garras flexíveis para agarrar a fruta enquanto a transfere do pé para a cesta.

Milhares de receptores de toque e terminações nervosas ajudam nossas mãos a distinguir entre diferentes texturas e a ajustar a pegada de acordo com o atrito (Crédito: Getty Images)

Embora muitos de nós saibamos instintivamente quanta força é necessária para manusear um morango sem esmagá-lo, foram necessárias décadas de pesquisa e desenvolvimento para que os robôs alcançassem a mesma destreza. Robertson faz questão de enfatizar que os robôs da sua empresa não substituem os trabalhadores humanos, mas que podem ajudar a solucionar a escassez de mão de obra enfrentada em muitas áreas do setor agrícola, permitindo que pessoas e máquinas façam a colheita juntas.

Robôs capazes de lidar com algumas das tarefas mais delicadas atualmente executadas por seres humanos poderiam proporcionar um importante impulso a vários setores industriais, observa Pulkit Agrawal, professor do departamento de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA.

"Somente no setor de manufatura dos EUA, algumas estimativas preveem [uma] escassez de mais de 2 milhões de trabalhadores", diz Agrawal, que está desenvolvendo máquinas capazes de manipular objetos.

"Seja em aplicações industriais, busca e salvamento, exploração espacial ou para ajudar a população idosa, o impacto da robótica alimentada por inteligência artificial vai ser transformador — muito mais do que o ChatGPT, na minha opinião."

No entanto, ao longo de um dia, as mãos humanas realizam milhares de tarefas diferentes, se adaptando para lidar com uma variedade de formas, tamanhos e materiais diferentes. E a robótica ainda tem um longo caminho pela frente para competir com isso. Um teste recente de uma mão robótica usando componentes de código aberto que custam menos de US$ 5 mil descobriu que ela poderia ser treinada para reorientar objetos no ar. Porém, quando confrontado com um objeto desafiador — um pato de borracha de brinquedo — o robô se atrapalhou, e deixou o pato de borracha cair em cerca de 56% das vezes.

Próteses que preveem

Mas, talvez, a aplicação definitiva da destreza robótica seja nas próteses —substituindo uma mão humana perdida em decorrência de um acidente ou doença, por exemplo. As pioneiras próteses mioelétricas de mão e braço que Sarah de Lagarde recebeu dão algumas dicas do que pode ser possível no futuro.

Uma colaboração entre várias empresas de software e hardware, seu braço usa reconhecimento de padrão mioelétrico, ou decodificação de intenção neurológica, que é uma forma de aprendizado de máquina que permite que sua mão aprenda seus movimentos e faça previsões com base em comportamentos anteriores. Isso significa que De Lagarde é capaz de mover a mão de forma mais instintiva.

"Uma peça de hardware integrada na prótese do braço de Sarah registra os sinais musculares na superfície de sua pele quando ela visualiza um movimento específico", diz Blair Lock, CEO da Coapt, desenvolvedora do algoritmo de inteligência artificial que impulsiona os movimentos do braço de De Lagarde. Esse hardware decodifica esses sinais musculares para adivinhar que ação De Lagarde pretende fazer com a mão.

"O modelo de reconhecimento de padrões pode detectar a intensidade de determinada ação, a velocidade e a intensidade. Ele é capaz de executar os comandos em menos de 25 milissegundos", acrescenta Lock.

De Lagarde compara o processo ao uso de um controle de videogame, no qual você pressiona uma sequência de botões para solicitar uma resposta específica do seu avatar na tela. No início, ela achava difícil realizar multitarefas, pois todos os seus pensamentos se concentravam em contrair a sequência certa de fibras musculares no ombro. Mas, por fim, os algoritmos de inteligência artificial se tornaram hábeis em prever suas intenções, o que significa que agora ela pode realizar multitarefas com muito mais facilidade.

"Posso instruí-la a ter um toque muito leve para que eu possa pegar um ovo sem esmagá-lo", diz De Lagarde.

"Mas, ao mesmo tempo, posso intensificar a pegada e torná-la muito mais forte para que eu possa realmente esmagar uma lata de Coca-Cola."

A inteligência artificial também está integrada ao aplicativo acoplado ao braço, que faz sugestões sobre como usar o braço de forma mais otimizada, com base no uso anterior. Embora seja uma grande melhoria, a prótese nunca será tão boa quanto o braço original de De Lagarde, diz ela. Ela é pesada, fica suada nos meses de verão e precisa ser carregada uma vez por dia. Além disso, ainda tem alguns obstáculos a superar em termos de funcionalidade.

Os mecanismos de feedback háptico da prótese ainda são bastante rudimentares, e De Lagarde depende principalmente da visão para manusear objetos. Periodicamente, ela se esquece de que está segurando algo e solta a pegada, deixando cair no chão.

A destreza robótica pode ser aplicada nas próteses (Crédito: Getty Images)

As mãos humanas, em comparação, usam as redes de receptores de toque em nossos dedos e palmas para sentir onde algo está, determinar a força com que precisamos agarrar para pegar um objeto, e perceber se o atrito começa a mudar.

A inteligência artificial integrada está claramente levando a robôs e próteses cada vez mais hábeis. Por enquanto, no entanto, está claro que a tecnologia ainda tem um caminho a percorrer antes de se equiparar ou superar completamente o incrível design do corpo humano. De acordo com Agrawal, os desafios permanecem no hardware robótico físico e no software.

"Embora tenhamos feito avanços significativos nos últimos anos, e a destreza semelhante à humana pareça viável, estamos a pelo menos cinco anos de distância, se não mais", diz ele.

Mesmo com o aprimoramento da destreza, há outros aspectos a serem considerados, observa Du.

"A segurança é fundamental", diz ele.

"Isso abrange tanto a segurança física, garantindo que os sistemas robóticos possam operar sem causar danos aos colegas de trabalho humanos, quanto a segurança do sistema, envolvendo proteções robustas contra falhas e redundâncias nos algoritmos de inteligência artificial para evitar mau funcionamento ou ações não intencionais."

Du também cita considerações éticas, como o impacto sobre os empregos.

Para De Lagarde, as melhorias na destreza das mãos robóticas trouxeram de volta habilidades que ela achava ter perdido — tarefas simples, como servir um copo de água e dar um abraço nos filhos com os dois braços.

Quando pergunto a De Lagarde onde ela gostaria de ver a tecnologia no futuro, ela imagina um futuro em que a ampliação robótica do corpo não se limite apenas àqueles com diferenças nos membros ou deficiência, mas possa ajudar idosos a permanecerem ativos em seus últimos anos de vida, por exemplo.

Embora ela não tenha escolhido ser uma embaixadora da inteligência artificial integrada, a disposição de De Lagarde em adotar a tecnologia também oferece um vislumbre do que pode ser possível.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce8y137mz3xo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF