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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Minha prioridade é o Evangelho, não resolver os problemas do mundo, diz Leão XIV

O papa Leão XIV na audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 17 de setembro de 2025. | Crédito: Vatican Media.

Por Hannah Brockhaus*

19 de set de 2025

O papa Leão XIV disse que seu papel principal como líder da Igreja é confirmar os católicos na fé e compartilhar o Evangelho com o mundo, não resolver crises globais.

A fala do papa à correspondente do Crux em Roma, Elise Ann Allen, foi a primeira entrevista formal de Leão XIV como papa. Ela foi incluída no livro Leão XIV: Cidadão do Mundo, Missionário do Século XXI, publicado ontem (18) em espanhol pela editora Penguin, no Peru. Edições em inglês e português estão previstas para o início de 2026.

Leão XIV disse que está "tentando não continuar polarizando ou promovendo a polarização na Igreja".

"Eu não vejo meu papel principal como o de tentar resolver os problemas do mundo. Na verdade, não vejo meu papel como tal, embora eu ache que a Igreja tem uma voz, uma mensagem que precisa continuar sendo pregada, dita e falada em voz alta", disse ele.

Temas polêmicos

O papa Leão XIV disse estar ciente de que a doutrina da Igreja sobre moral sexual é um tema altamente polarizador na Igreja.

Sinalizando sua intenção de dar continuidade à abordagem de seu predecessor, o papa Francisco, ele disse que "todos são convidados, mas eu não convido uma pessoa por ela ser ou não de uma identidade específica".

"As pessoas querem que a doutrina da Igreja mude, querem que as atitudes mudem. Eu acho que precisamos mudar as atitudes antes mesmo de pensar em mudar o que a Igreja diz sobre qualquer pergunta dada", disse ele.

“Parece-me muito improvável, certamente num futuro próximo, que a doutrina da Igreja mude em termos do que ensina sobre sexualidade e matrimônio”, disse ele.

“Os indivíduos serão aceitos e acolhidos”, acrescentou o papa, reiterando a importância de respeitar e aceitar pessoas que fazem escolhas diferentes em suas vidas.

“Já falei sobre o matrimônio, assim como o papa Francisco fez quando era papa, sobre a família ser composta por um homem e uma mulher em compromisso solene, abençoados no sacramento do matrimônio”, continuou.

O “papel da família na sociedade, que por vezes sofreu nas últimas décadas, precisa ser novamente reconhecido e fortalecido”, disse Leão XIV.

Ele também criticou a publicação de rituais que abençoam “pessoas que se amam” em países do norte da Europa, dizendo que violam as diretrizes do papa Francisco na declaração Fiducia supplicans, publicada pelo Dicastério da Doutrina da Fé em 18 de dezembro de 2023, que concedeu permissão para bênçãos não litúrgicas de uniões homossexuais.

“Acredito que o ensinamento da Igreja continuará como está, e é isso que tenho a dizer sobre isso por enquanto”, disse ele.

Outra mudança que o papa disse que não fará no momento é permitir a ordenação de mulheres diaconisas.

“Espero continuar os passos de Francisco, inclusive nomeando mulheres para alguns cargos de liderança em diferentes níveis da vida da Igreja”, disse. “Acredito que há algumas questões prévias que precisam ser levantadas. ... Por que falaríamos sobre ordenar mulheres ao diaconato se o próprio diaconato ainda não é devidamente compreendido, desenvolvido e promovido dentro da Igreja?”.

Ele disse que há um grupo de estudo, no contexto do Sínodo da Sinodalidade, dedicado especificamente a examinar a questão dos ministérios na Igreja, incluindo a possibilidade do diaconato feminino.

“Talvez haja muitas coisas que precisam ser analisadas e desenvolvidas neste momento antes que possamos realmente nos concentrar em fazer outras perguntas. … Vamos caminhar com isso e ver o que acontece”, disse ele.

O papa Leão XIV descreveu a sinodalidade, o programa de Francisco para uma consulta mais ampla sobre a governança e a doutrina da Igreja além da hierarquia, como “uma atitude, uma abertura, uma disposição para compreender” e um processo “de diálogo e respeito mútuo” que pode assumir diferentes formas.

“Acho que há grande esperança se pudermos continuar a construir sobre a experiência dos últimos dois anos e encontrar maneiras de sermos Igreja juntos”, disse ele. “Não tentar transformar a Igreja em algum tipo de governo democrático, que, se olharmos para muitos países ao redor do mundo hoje, a democracia não é necessariamente uma solução perfeita para tudo".

Ele manifestou ao longo da entrevista sua disposição de sentar e ouvir o ponto de vista de qualquer pessoa, inclusive dos defensores da missa tradicional em latim, embora ainda não tenha decidido como resolver as tensões em torno de sua celebração.

“Isso se tornou um tipo de questão tão polarizada que as pessoas, muitas vezes, não estão dispostas a ouvir umas às outras. … Isso é um problema em si. Significa que agora estamos na ideologia, não estamos mais na experiência da comunhão da Igreja. Esse é um dos temas em pauta”, disse ele.

“Entre a missa tridentina e a missa do Vaticano II, a missa de Paulo VI, não tenho certeza de onde isso vai dar. É obviamente muito complicado”, acrescentou. “Tornou-se uma ferramenta política, e isso é muito lamentável.”

Ele disse que em breve terá uma oportunidade de falar com pessoas que defendem o que ele chamou de rito tridentino da missa, uma possível referência a uma peregrinação anual de devotos da missa em latim que ocorrerá em Roma no final de outubro.

A missão da Igreja

O papa disse que outro tema prioritário em pauta são as relações internas no Vaticano. Ele lamentou que, atualmente, os dicastérios trabalhem de forma muito "isolada".

Ele elogiou o foco renovado na evangelização promovido pela reforma da Cúria Romana feita pelo papa Francisco, por meio da constituição apostólica Praedicate Evangelium, mas disse que ainda há muito trabalho a ser feito.

"A falta de diálogo, de instrumentos de comunicação, entre os diferentes dicastérios tem sido, em certos momentos, uma grande limitação e um prejuízo para o governo da Igreja", disse ele.

"Então, acho que há um problema aí - alguém usou a expressão 'mentalidade de silo'. ... Precisamos encontrar uma forma de reunir as pessoas para conversar sobre isso”.

Um dos problemas que a cúria enfrenta é a crise dos abusos sexuais clericais. Leão disse que, embora ele permaneça sem solução, não pode ser o único foco da Igreja.

Ele disse que é um desafio equilibrar o apoio e a justiça às vítimas com o respeito aos direitos dos acusados. “Estamos meio que em um impasse aí.”

Leão contextualizou o problema dos abusos dentro de sua visão sobre o papel mais amplo da Igreja no mundo: “Não podemos fazer com que toda a Igreja se concentre exclusivamente nesse tema, porque isso não seria uma resposta autêntica ao que o mundo busca em termos da missão da Igreja”.

O papa disse que essa abordagem à missão da Igreja também influenciará sua interação com judeus, muçulmanos e budistas. Ele disse ser importante respeitar aqueles com crenças diferentes, mas “eu acredito profundamente em Jesus Cristo e acredito que essa é minha prioridade, porque sou bispo de Roma e sucessor de Pedro, e o papa precisa ajudar as pessoas a entender, especialmente os cristãos e católicos, que isso é quem somos. E eu acho que essa é uma bela missão”.

Durante encontros com representantes de outras religiões, ele disse: “Não tenho medo de dizer que acredito em Jesus Cristo e que ele morreu na cruz e ressuscitou dos mortos, e que juntos somos chamados a compartilhar essa mensagem”.

Ele também manifestou satisfação com o que considera uma melhora nas relações com a comunidade judaica. Sob o governo de Francisco, o relacionamento sofreu com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 e a subsequente guerra de Israel em Gaza, baseada no forte apoio de Francisco à Palestina.

"Posso ser muito presunçoso", disse Leão XIV, "mas ouso dizer que já nos primeiros meses o relacionamento com a comunidade judaica melhorou um pouco".

*Hannah Brockhaus é jornalista correspondente da CNA em Roma (Itália). Ela cresceu em Omaha, no estado americano de Nebraska e é formada em Inglês pela Truman State University no Missouri (EUA).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64623/minha-prioridade-e-o-evangelho-nao-resolver-os-problemas-do-mundo-diz-leao-xiv

São Mateus Apóstolo

São Mateus Apóstolo (Vatican News)

SÃO MATEUS APÓSTOLO

21/09/2025

Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Vem e Segue-me! (Mt 19,21)

O dia 21 de setembro seria o dia da festa litúrgica de São Mateus, apóstolo e evangelista. Como neste ano, o dia de São Mateus cai em um domingo; o Dia do Senhor tem precedência e celebraremos a liturgia dominical. Mesmo assim, recordemos com carinho de São Mateus nesse dia.

São Mateus tem um papel importante na história da Igreja, assim como os demais apóstolos. Mateus era cobrador de impostos, um trabalho visto de forma negativa pela sociedade. Pedro e André, por exemplo, eram pescadores e foram chamados à beira do mar. Já para chamar Mateus, Jesus foi até a coletoria de impostos e o convidou a segui-lo.

Jesus não escolheu pessoas santas, letradas ou ricas para segui-lo; pelo contrário, sua missão era ir ao encontro dos pobres e pecadores. Ele veio para curar as ovelhas perdidas da casa de Israel, sempre na contramão da mentalidade da época. Após a sua morte e ressurreição, os apóstolos seguiram o mesmo caminho, aproximando-se justamente daqueles que eram considerados excluídos pela sociedade. Jesus escolheu os simples para que agissem como Ele agiu, inclusive com eles mesmos.

Assim como chamou Mateus e os outros apóstolos, Jesus continua a nos chamar hoje, conforme o versículo citado: “Vem e segue-me” (Mt 19,21). Ele nos chama através da oração e, à medida que cultivamos intimidade com o Senhor, podemos responder “sim” ao seu chamado, como fizeram os apóstolos.

Desde o nosso batismo somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus, sal da terra e luz do mundo. Somos convidados a direcionar nossa vida segundo o Espírito Santo que recebemos no batismo e a trilhar o caminho da santidade. Assim como os apóstolos foram convidados a deixar a vida de pecado para viver na graça de Deus, também nós somos chamados à conversão.

São Mateus é mártir, ou seja, doou a própria vida em favor do Reino de Deus, como os demais apóstolos. Por isso, a cor litúrgica predominante em sua festa é o vermelho. Além de apóstolo, Mateus escreveu o Evangelho que leva o seu nome, um dos três evangelhos sinóticos. Seu objetivo foi registrar aquilo que viu e ouviu de Jesus.

O nome de batismo de Mateus era “Levi”. Tornou-se Mateus após aceitar o chamado de Jesus e se tornar apóstolo. Como cobrador de impostos, era considerado pecador público, pois, na época, muitos cobradores eram acusados de reter parte do dinheiro destinado ao Império Romano.

A principal característica de seu evangelho é a apresentação de Jesus como o Filho de Deus e o Messias prometido. Mateus, ao narrar sua experiência, deixa claro que acreditava que Jesus era o Cristo esperado. Seu evangelho quer despertar essa mesma fé nos leitores, mostrando que Maria gerou Jesus, o Filho de Deus, o Salvador que viria ao mundo.

O Evangelho de Mateus foi escrito por volta do ano 60 d.C., sendo seguido pelos demais evangelhos. O Novo Testamento inicia-se com os evangelhos sinóticos — Mateus, Marcos e Lucas — e, posteriormente, com o de João. No ciclo litúrgico, proclamamos principalmente o Evangelho de Mateus no Ano A, o de Marcos no Ano B e o de Lucas no Ano C.

Em sua obra, Mateus ressalta que Jesus é o Messias que cumpre as promessas do Antigo Testamento, revelando o rosto misericordioso de Deus. Os evangelistas, cada um a seu modo, buscam mostrar que Jesus veio para toda a humanidade, não apenas para um povo. A salvação é oferecida a todos que se abrem, de coração sincero, à misericórdia divina e ao arrependimento dos pecados. O próprio Mateus é testemunho vivo dessa misericórdia.

Outro aspecto importante de seu evangelho é o alerta sobre a tentação das riquezas. Jesus o chamou para deixar de servir ao dinheiro e começar a servir a Deus. Por isso, Mateus insiste em seu evangelho que os bens materiais nunca devem estar acima de Deus: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).

Depois da ressurreição de Jesus, Mateus evangelizou na região da Arábia e da Pérsia, iniciando comunidades cristãs. Contudo, enfrentou forte perseguição dos sacerdotes locais, que mandaram arrancar-lhe os olhos e o prenderam para sacrificá-lo aos deuses. Deus, porém, enviou um anjo que o curou e libertou. Mateus seguiu, então, para a Etiópia, onde novamente foi perseguido, desta vez por feiticeiros contrários à evangelização. Ocorreu, porém, que o príncipe herdeiro faleceu, e Mateus foi chamado ao palácio. Pela graça de Deus, ele o ressuscitou, causando grande espanto e convertendo muitos, tornando a Igreja da Etiópia uma das mais importantes dos tempos apostólicos.

Não se sabe ao certo como morreu o apóstolo, mas algumas fontes indicam que teria falecido na Etiópia. Suas relíquias se encontram hoje na cripta da Catedral de Salerno, onde, no dia 21 de setembro, é realizada uma grande procissão em sua honra.

São Mateus é considerado padroeiro de banqueiros, alfandegários, cambistas, contadores, consultores tributários e cobradores de dívidas. Em 10 de abril de 1934, o Papa Pio XII reconheceu oficialmente o seu patrocínio sobre essas categorias.

Celebremos com alegria a festa do apóstolo São Mateus. Ainda que neste ano a data coincida com o domingo, recordemos seu exemplo de fé e dedicação. Que, assim como ele, sigamos o Senhor mais de perto, fiéis até as últimas consequências no amor a Deus. O nome “Mateus” significa “Dom de Deus”. Que também nós sejamos dom de Deus para todos aqueles que encontrarmos em nossa caminhada.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

domingo, 21 de setembro de 2025

Leão XIII e Leão XIV, semelhanças e diferenças

Leão XIII | Public Domain via Wikimedia

Paulo Teixeira - publicado em 19/09/25

Um olhar dos Papas sobre as coisas novas ao longo dos tempos.

Corria o ano de 1891 quando o Papa Leão XIII publicou uma encíclica intitulada Rerum Novarum, que quer dizer, sobre as coisas novas. Nela, fez uma espécie de compêndio da Doutrina Social da Igreja, que são as diretrizes para a ação do católico na sociedade.  

O mundo passava por grandes transformações naquela década que concluía o século XIX. Para ter uma noção, no mesmo ano da Encíclica Rerum Novarum houve a primeira revolta contra a monarquia portuguesa e a eleição e renúncia do primeiro presidente brasileiro.  

No horizonte do Papa surgia um tema importante de ser debatido: a condição dos operários. A revolução industrial estava incidindo de maneira forte na produção, comércio e consumo de diversos bens, mas também mudava de maneira impactante a vida das pessoas com novas relações, expansão das cidades e a inserção ampla dos cidadãos nas dinâmicas de produção e consumo.  

Atualidade

É um pouco curioso que nesse novo milênio um Papa retome o nome de Leão, que teve o primeiro no século V. Mas o Papa Prevost explicou que escolheu esse nome justamente por causa de Leão XIII e sua abordagem sobre o tema social de sua época. Segundo o atual Papa Leão, a Igreja deve "responder a uma nova revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho". 

O jornalista Amadeo Lomonaco explica que, de fato, alguns trechos da encíclica de 134 anos atrás, cabem bem para os tempos atuais. “Na encíclica Rerum Novarum, é destacado o bom ou o mau uso dos bens. Esse critério é igualmente válido para a abordagem a ser seguida hoje no uso das tecnologias digitais”, destaca Lomonaco. 

Tem destaque, na Rerum Novarum, as condições dos operários nas fábricas: “Não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso da fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo” (25). No nosso tempo, assim como no final do século XIX, o mundo do trabalho é um dos pilares que sustentam o tecido social. Relendo a encíclica do Papa Leão XIII, focada nas condições das massas operárias, e inserindo essas reflexões no contexto atual, podemos projetar uma espécie de "Rerum digitalium", uma releitura sobre as "coisas digitais". Seguindo o caminho traçado por Leão XIII, é possível considerar a questão do trabalho e os direitos dos trabalhadores à luz das profundas mudanças causadas pelas novas tecnologias.

O caminho dos papas

A releitura, reinterpretação, atualização do Papa Leão XIV sobre esse tema social se liga à constante atualização que os papas fazem do tema. O Papa Pio XI publicou em 1931, a Encíclica Quadragesimo anno recordando a s quatro décadas da publicação da Encíclica Rerum Novarum. Nela destaca como o Evangelho pode aperfeiçoar a ordem social.  É um texto marcado pela crise econômica de 1929 que além de reforçar o que foi indicado por Leão XIII, abordou de forma forte a questão da desigualdade.  

Mais uma década adiante, em 1941, o Papa Pio XII se dirigiu aos fiéis por meio de uma rádio mensagem para recordar, em meio à Segunda Guerra Mundial, a necessidade de um “espírito social forte, sincero e desinteressado”, como ensinado na Rerum Novarum.  

O Papa João XXIII, em 1961, também pelo rádio, indica aos fiéis o estudo da Rerum Novarum como uma “luz nova e apropriada às modernas circunstâncias do mundo”.  

Em 1971 o Papa Paulo VI publicou  Octogésima Adveniens na qual atualiza os ensinamentos de Leão XII para os desafios daquele período que iam do crescimento das cidades até o desemprego.  

O Papa João Paulo II, na recorrência dos 90 anos da Rerum Novarum, publicou Laborem Exercens sobre o trabalho humano; em 1991 para o centenário da Encíclica do Papa Leão XIII publicou Centesimus annus. O contexto era o fim do comunismo e a realidade do capitalismo de mercado. Nela, João Paulo II reforça que o trabalho não é mercadoria, que o bem-estar social é um direito e um dever, e que a propriedade privada é um direito fundamental que contém uma hipoteca social, ou seja, serve ao bem comum.  

Por que temas sociais?

Podemos nos perguntar isso sempre, porque às vezes achamos que a fé não tem ligação com a sociedade. E por que repetir uma encíclica de um outro contexto social? O Papa Paulo VI respondeu seus contemporâneos e pode nos responder hoje: “A Igreja e o próprio Papa já haviam denunciado outras vezes os erros sociais, especialmente de ideias, que vinham gerando graves inconvenientes nos novos tempos, precisamente os do trabalho industrial; mas, daquela vez, a palavra foi mais forte, mais clara, mais direta; hoje, podemos dizer que foi libertadora e profética" 

O Papa Bento XVI também tratou das questões sociais na Encíclica Caritas in Veritatem na qual acrescenta os desafios humanos de construir uma vida coerente em meio aos desafios do mundo do trabalho. 

O Papa Francisco tratou da questão da dignidade do trabalho em Fratelli Tutti e acrescentou o contexto da pandemia em que tantas certezas foram desfeitas.  

Cabe ao novo Papa e aos fiéis reler, compreender e dar sua contribuição para nosso tempo sobre a ação dos católicos na sociedade, sobretudo no contexto digital. Entre os riscos associados às novas tecnologias, e em particular à inteligência artificial, estão os de novas formas de escravidão e exploração. Além das sombras, também há muitas luzes relacionadas às oportunidades que esta era digital pode oferecer a toda a família humana e, em particular, às novas gerações. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/09/19/leao-xiii-e-leao-xiv-semelhancas-e-diferencas/

Papa: a riqueza escraviza; não sejamos indiferentes à violência que extermina os povos

Sabta Missa presidida pelo Papa Leão XIX (Vatican News)

Para o Pontífice, o Evangelho deste domingo nos desafia a examinar atentamente a nossa relação com o Senhor e, portanto, entre nós. Ao dizer que não podemos servir a Deus e ao dinheiro, Jesus pede a nós para assumir uma posição clara e coerente. É preciso decidir por um verdadeiro estilo de vida.

https://youtu.be/oLfsG2HcHyI

Vatican News

O Papa Leão presidiu à missa na paróquia de Santa Ana, considerada uma paróquia “de fronteira” por se encontrar exatamente no ponto em que o território italiano dá lugar ao território pontifício, em um dos acessos ao Vaticano, ao lado da Praça São Pedro. Instituída em 1929, foi confiada à Ordem Agostiniana, a mesma de Leão XIV.

O Papa, portanto, se sentiu em casa e saudou especialmente o pároco, Pe. Mario Millardi, bem como o novo Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho, Padre Joseph Farrell. Pe. Robert Francis Prevost era o Prior quando o Papa Francisco celebrou nesta paróquia poucos dias depois de eleito, em 17 de março de 2013. Entre os concelebrantes, havia também o padre Gioele Schiavella, a quem o Santo Padre saudou com afeto pelos seus 103 anos há pouco completados.

A saudação ao padre Gioele   (@Vatican Media)

Servir a Deus ou ao dinheiro é decidir por um estilo de vida

Em sua homilia, o Pontífice comentou o Evangelho do dia, em que Jesus afirma que “nenhum servo pode servir a dois senhores”, portanto, “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (cf. Lc 16,13). Este trecho nos desafia a examinar atentamente a nossa relação com o Senhor e, portanto, entre nós, disse o Papa. Jesus coloca uma alternativa muito clara entre Deus e a riqueza, pedindo a nós para assumir uma posição clara e coerente. Não se trata de uma escolha contingente nem de uma opção que pode ser revista no decorrer do tempo. É preciso decidir por um verdadeiro estilo de vida. 

A sede de riqueza leva ao risco de substituir Deus quando consideramos que é ela a salvar a nossa vida. A tentação, advertiu, é pensar que sem Deus podemos viver bem, enquanto sem riquezas estaríamos tristes e aflitos. Esses pensamentos transformam o próximo em um concorrente. Mas a palavra do Senhor, explicou Leão, não contrapõe os homens em classes rivais, mas impele todos a uma revolução interior, a uma conversão. Nossas mentes foram feitas para planejar uma sociedade melhor, não para buscar negócios ao melhor preço.

“Hoje, em particular, a Igreja reza para que os governantes das nações sejam libertados da tentação de usar a riqueza contra o homem, transformando-a em armas que destroem os povos e em monopólios que humilham os trabalhadores. Quem serve a Deus liberta-se da riqueza, mas quem serve a riqueza permanece escravo dela! Quem busca a justiça transforma a riqueza em bem comum; quem busca o domínio transforma o bem comum em presa da própria ganância.”

A saudação aos fiéis fora da paróquia   (@Vatican Media)

O anúncio da Boa Nova diante da "despudorada indiferença"

O Pontífice encorajou os paroquianos a perseverarem com esperança num tempo seriamente ameaçado pela guerra. "Povos inteiros são hoje esmagados pela violência e, mais ainda, por uma despudorada indiferença, que os abandona a um destino de miséria. Diante desses dramas, não queremos ser submissos, mas proclamar com a palavra e com as obras que Jesus é o Salvador do mundo".

"Que o seu Espírito converta nossos corações para que, nutridos pela Eucaristia, tesouro supremo da Igreja, possamos nos tornar testemunhas da caridade e da paz", foram os votos finais do Papa Leão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

SACERDÓCIO: As poucas coisas simples na vida de um padre (Parte 2/2)

O átrio da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, na década de 1950 | 30Giorni.

Arquivo 30Dias 12 - 2003

As poucas coisas simples na vida de um padre

O Bispo de Civitavecchia-Tarquinia relembra seus cinquenta anos de sacerdócio. Os encontros que moldaram sua vida cristã, a importância da oração, dos sacramentos e da obediência.

por Girolamo Grillo

Meus Anos no Seminário:

Não tive dificuldade com o primeiro chamado do Senhor; depois, já adolescente, tive que enfrentar todos os problemas que vêm com a idade. Felizmente, tive alguns diretores espirituais muito bons. Um diretor espiritual desempenha um papel fundamental na vida de cada um de nós. Eu tinha acabado de sair do ensino médio, e ele queria testar minha vocação desta forma: um dia, enquanto conversava com ele, ele me disse: "Escute, você tem que deixar tudo para trás; o Senhor quer um teste de você." "Que teste?", perguntei. "Você tem uma bela coleção de selos; você tem sete mil selos; enviaremos o dinheiro da venda desta coleção para as missões." Comecei a chorar no início, porque gostava muito da minha coleção, mas quase imediatamente disse: "Tudo bem, Padre!" E ele respondeu: "Este é o teste da sua vocação; você se desligou da coisa mais linda que você tem."

Mesmo durante meus anos em Roma, tive dois grandes diretores espirituais. Todos conhecem um deles: Padre Felice Cappello. Tive a sorte, porque frequentei a Gregoriana naqueles anos, de ter contato direto com ele. Ele foi meu confessor e meu conselheiro espiritual. O Padre Cappello permaneceu verdadeiramente em meu coração. Ele é verdadeiramente um santo.

Mais tarde, após a morte do Padre Cappello, tive como diretor espiritual o padre jesuíta Boyer, um francês, e ocasionalmente o padre Dezza, que mais tarde também conheci na Secretaria de Estado. Assim, tive grandes homens ao meu lado, pelos quais não rezei como deveria naqueles anos.

Tendo também experiência na área jurídica, em Roma trabalhei tanto no Vicariato quanto na Congregação para os Sacramentos, lidando especialmente com casos de "ratio, mas não consumação". No Vicariato, também fui juiz por muito tempo. Do que me lembro? Adquiri uma experiência incrível na área do matrimônio porque, mesmo não sendo juiz de instrução, tinha que preparar as sentenças. Então, tive que estudar tudo, para a sentença e para o meu voto. É por isso que tenho alguma experiência nesta área; adquiri-a através da experiência direta ao longo de pelo menos uma década no Tribunal Eclesiástico de Roma. 

A devoção a Nossa Senhora

Maria, como Mãe de Deus, faz parte da minha vida desde a minha infância. Provavelmente eram as canções de ninar marianas com que a minha mãe me embalava para dormir, abraçando-me ao peito. Eu também, durante os meus anos de seminário, como padre e como bispo, sempre tive uma forte marca cristocêntrica, mas nunca esqueci o recurso Àquela que, aos pés da cruz, também me confiou.

Desde menino, sempre a invoquei nos momentos de alegria e tristeza, sob o título de Nossa Senhora de Portosalvo (a protetora da minha cidade: Parghelia, na província de Vibo Valentia). Mais tarde, eu a gravaria para sempre em minha alma como Nossa Senhora da Romênia, a cujos pés recebi o crisma sacerdotal na catedral normanda de Tropea, das mãos de Sua Excelência Monsenhor Enrico Nicodemo.

Sempre fui fascinado pela discrição e pelo silêncio de Maria, com os quais ela escolheu eclipsar-se diante de seu Filho, como a lua diante do sol divino.
No entanto, tenho sido mais do que relutante em enfrentar as posições quase racionalistas de alguns teólogos e clérigos, bem como dos chamados professores que, com sua atitude altiva e às vezes arrogante, acabaram congelando qualquer sentimento mariano autêntico em muitos fiéis.

Sentimento não é, de fato, sentimentalismo, mas o enquadramento perfeito da Virgem Mãe, como um instrumento maravilhoso que nos introduz a Cristo Senhor.

Sem Maria, minha fé certamente teria permanecido árida e intelectual, nem eu teria tido forças para reviver pessoalmente aquelas palavras de Jesus, que não teve medo de afirmar: "Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi da tua vontade" ( Lc 10,21).

Por isso, sempre evitei ser simplista e crédulo diante de acontecimentos sensacionais, exercendo cautela e sabedoria com todas as minhas energias até ter provas pessoais deles, sem me entregar a avaliações precipitadas.

Com Maria, porém, descobri a linguagem do coração, o que não é pouca coisa. Por fim, não nego que, às vezes, ao recitar o terço, que nunca omiti, acabo adormecendo, como muitas vezes me acontecia nos braços de minha mãe, quando ela me cantava a Ave-Maria e a Virgem dos Anjos , enquanto me sentia envolvido naquele mistério reconfortante causado pelo balanço da minha alma nas ondas da oração.

Os anos como bispo

Nunca pensei que me tornaria bispo. Claro, eu tinha meus próprios planos, como todo mundo, mas eles estavam ligados à minha Calábria, da qual sempre sinto falta. Encontrei muitas dificuldades e mal-entendidos naquela época, e foi por isso que quase fui forçado a deixar a Calábria. Eu nunca teria saído. Eu havia frequentado universidades romanas justamente para isso: para poder trabalhar melhor na minha terra natal. Mas tudo isso foi por água abaixo, certamente não por minha culpa. Não posso dizer muito mais do que isso. Até me ofereceram a chance de me tornar professor universitário. Mas essa ideia também fracassou devido a vários obstáculos. Em cinquenta anos de sacerdócio, há espaço para muitas coisas, incluindo muitas decepções, fracassos e planos frustrados. Mas também, e acima de tudo, para as muitas graças que choveram sobre mim do alto, e não estou falando apenas do evento real que aconteceu em minhas mãos: as lágrimas da Madona de Civitavecchia. De fato, sobre as lágrimas de Nossa Senhora, como não sou o protagonista desta história, prefiro sempre não falar. Um dia, meus diários, onde registrei tudo, contarão a história. Aquele acontecimento foi um grande trauma, um choque para mim, especialmente porque, no ano anterior (1994), eu havia pedido expressamente para deixar Civitavecchia, após mais de dez anos de serviço pastoral. De fato, me ofereceram outra Igreja particular. Eu já havia aceitado, mas tudo isso também se desfez em fumaça.

A ordenação sacerdotal de Girolamo Grillo em 25 de abril de 1953 | 30Giorni.

Oração

Não sei se é um fato psicológico que cada um de nós vivencia, que não importa o quanto se reze, nunca se reza tanto quanto, por exemplo, meus diretores espirituais e tantas outras almas que conheço rezaram.

Há, porém, outro fato: tendo sido membro do "plenário" das Causas dos Santos por vinte anos, conheço bastante sobre a vida de muitos homens de Deus e de tantas mulheres maravilhosas. Isso é chocante. Fico impressionado, por exemplo, com a forma como eles foram capazes de aceitar calúnias, como foram capazes de suportar perseguições, até mesmo da Igreja, como foram capazes de aceitar tantas dificuldades; como foram capazes de sofrer. É natural, portanto, que sempre me venha à mente uma pergunta: o que sou eu comparado a eles? 

Confissão

Minha experiência no confessionário tem sido maravilhosa. Durante meus anos em Roma (morei em Roma por vinte e cinco anos), comecei primeiro com crianças (porque essa era a prática na época), depois com homens, depois com "extramoenia" (que significa "fora dos muros" da cidade, portanto, nos arredores) e, finalmente, na própria cidade de Roma. No confessionário, pude conhecer muitas almas bonitas, que certamente estão no Céu. Passei horas e horas no confessionário; adorava ouvir e sofrer com pessoas que acreditam no perdão de Deus. Meu diretor espiritual calabrês, Dom Mottola, havia me recomendado: "Se você quer ser salvo em Roma, ame o confessionário, onde poderá encontrar muitas almas que sofrem mais do que você; pelas quais você será forçado a rezar e chorar." É verdade! A década de 1960, especialmente, foi a mais turbulenta. Tive milhares de filhos; hoje eles são mães e pais, mas ainda me ligam para falar sobre os problemas dos filhos. Viver em Roma durante 1968, como eu vivi, não foi fácil. Ainda choro quando penso que algumas daquelas crianças acabaram nas Brigadas Vermelhas.

Choro! Porque foi uma experiência dramática. Depois, vieram os anos 1970, quando Aldo Moro foi assassinado; eu estava lá. Essa experiência também foi amarga para mim. Saí de Roma em 1979, quando fui consagrado bispo por este Papa, que veio pessoalmente ao meu quarto para me dizer: "Basta! Você trabalhou durante todo o pontificado de Paulo VI e desempenhou um papel muito importante na Secretaria de Estado. Então, aceite ser pastor."

Então, não tive escolha a não ser obedecer, mesmo sendo tão difícil. Gostaria de encerrar, então, lembrando-me de uma pequena grande santa que sempre esteve no meu coração: Teresa do Menino Jesus. Apaixonei-me por ela aos quatro anos de idade, porque ela também, naquela idade, sentiu o fascínio da consagração ao Senhor, e também porque ela, como eu, sentiu a dor de perder quatro irmãozinhos durante a infância. A figura de Teresa me seguiu e ainda me segue... a pequena grande Teresa de Lisieux.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Angelus: justiça e responsabilidade na gestão dos bens para não espalhar o "veneno" dos conflitos

Angelus, 21/09/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Após celebrar a missa na paróquia de Santa Ana, na "fronteira" entre Vaticano e Itália, o Papa assomou à janela de seu escritório para o tradicional Angelus dominical.

Vatican News

Leão XIV rezou a oração do Angelus com os milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro. Em sua alocução, comentou a parábola contida no Evangelho (Lc 16, 1-13) deste domingo, que propõe uma reflexão sobre o uso dos bens materiais e, de um modo geral, sobre como temos administrado o bem mais precioso de todos, que é a nossa própria vida.

Na narração, um administrador é chamado pelo seu senhor a "prestar contas". O mesmo acontecerá a nós, recordou o Papa, que um dia seremos chamados a prestar contas do modo como administramos a nossa vida, os nossos bens e os recursos da terra, tanto perante Deus como perante os seres humanos, a sociedade e, sobretudo, aqueles que virão depois de nós.

A parábola prossegue com o administrador que, mesmo na gestão da riqueza desonesta deste mundo, consegue encontrar uma maneira de fazer amigos, saindo da solidão do seu egoísmo. Mas nós, adverte o Pontífice, que somos discípulos e vivemos à luz do Evangelho, devemos usar os bens do mundo e a nossa própria vida pensando na verdadeira riqueza, que é a amizade com o Senhor e com os irmãos.

Para o Papa, a parábola é um convite a nos questionar como estamos administrando os bens materiais, os recursos da terra e a vida que Deus nos confiou.

“Podemos seguir o critério do egoísmo, colocando a riqueza em primeiro lugar e pensando apenas em nós mesmos; mas isto isola-nos dos outros e espalha o veneno de uma competição que muitas vezes gera conflitos. Ou podemos reconhecer tudo o que temos como um dom de Deus a ser administrado, e usá-lo como instrumento de partilha para criar redes de amizade e solidariedade, para edificar o bem, para construir um mundo mais justo, equitativo e fraterno.”

"Rezemos à Santíssima Virgem, para que interceda por nós e nos ajude a administrar bem o que o Senhor nos confia, com justiça e responsabilidade", concluiu o Pontífice.

O Angelus com o Papa Leão:

https://youtu.be/p0dus8mYGlQ

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

15 curiosidades sobre o Calendário Gregoriano: uma mudança que, literalmente, marcou época

Cirilo I, patriarca ortodoxo russo|
Nikolay Androsov | Shutterstock

Aleteia Brasil - publicado em 22/02/15 - atualizado em 19/09/25

Em 1582, o papa Gregório XIII implantou o calendário do jeito que o conhecemos hoje.

O calendário que usamos atualmente foi implantado por um papa há quase 450 anos. Confira 15 curiosidades sobre o calendário gregoriano:

O CALENDÁRIO GREGORIANO

1 - Até o ano 46 antes de Cristo, vigorava em Roma um calendário dividido em 355 dias, distribuídos em 12 meses. Essa estrutura do ano civil sofria um sério desajuste ao longo do tempo: as estações do ano passavam a ocorrer em datas diferentes, porque o calendário não correspondia ao ano solar.

2 - Em 46 a.C., Júlio César, o ditador da República Romana, decidiu reformar o calendário para readequá-lo ao tempo natural. A reforma juliana teve duas etapas: na primeira, estabeleceu-se que o ano de 46 a.C. teria 15 meses e um total de 455 dias para compensar a defasagem (aquele ficou conhecido pelos romanos, e com toda a razão, como o "ano da confusão"). A segunda etapa da reforma consistiu em adotar, a partir de 45 a.C., um ano composto por 365 dias e 6 horas, divididos em 12 meses. Para compensar as 6 horas excedentes de cada ano, seria incluído um dia a mais em fevereiro a cada 4 anos.

3 - A reforma juliana melhorou a situação, mas a defasagem entre o ano do calendário e o ano natural permanecia, em consequência do movimento de elipse que a Terra faz ao redor do Sol. No século XV, por exemplo, o calendário juliano já estava atrasado cerca de uma semana em relação ao Sol. O equinócio da primavera no Hemisfério Norte caía por volta de 12 de março, em vez do dia 21.

4 - Em 1545, o Concílio de Trento determinou a realização de alterações no calendário da Igreja. Após décadas de estudos e cálculos astronômicos, o papa Gregório XIII instituiria o novo calendário em 1582, mediante a bula "Inter gravíssimas", a fim de adequar a data da Páscoa ao equinócio da primavera no Hemisfério Norte. É em homenagem ao papa Gregório XIII que o novo calendário foi chamado de gregoriano.

5 - Este ajuste implicou a supressão de 10 dias do mês de outubro daquele ano: do dia 4 de outubro de 1582, saltou-se para o dia 15 de outubro.

6 - Além disso, os dias bissextos que caíssem nos anos centenários (aqueles terminados em 00, como 1700, por exemplo) passariam a ser ignorados, a menos que fossem divisíveis de modo exato por 400 (como 1600 e 2000). Essa regra suprimia três anos bissextos a cada quatro séculos, deixando o calendário gregoriano suficientemente preciso e eliminando o atraso de três dias a cada 400 anos, que ocorria no calendário juliano.

7 - Apesar do ajuste nos anos bissextos, o ano do calendário gregoriano ainda tem cerca de 26 segundos a mais que o período orbital da Terra. Esta falha, no entanto, só acumula um dia a mais a cada 3.323 anos.

8 - Países católicos como a Itália, a Espanha, Portugal e a Polônia adotaram a mudança imediatamente, assim como a porção católica dos Países Baixos. Na França, Henrique III decretou o ajuste no mesmo ano, mas em dezembro.

9 - Os países de maioria protestante, porém, rejeitaram a alteração. As partes protestantes da Alemanha e dos Países Baixos só adotaram o novo calendário em 1700. A Grã-Bretanha demorou mais ainda: até 1752. O astrônomo Johannes Kepler chegou a observar que esses países preferiram "ficar em desacordo com o Sol a ficar de acordo com o papa".

10 - Os países ortodoxos adotaram o calendário gregoriano somente no início do século XX. Na Rússia, por exemplo, a recém-criada União Soviética implantou o novo calendário em 1918. É por isso que a chamada "Revolução de Outubro", de 1917, na verdade aconteceu em novembro, segundo o calendário gregoriano.

11 - Na Europa, os últimos países que adotaram o calendário gregoriano foram a Grécia, em 1923, e a Turquia, em 1926. Antes, como parte do Império Otomano, seguia-se nessas regiões o calendário muçulmano, que tem base lunar.

12 - A adoção progressiva do calendário gregoriano pelos diversos países, mesmo dentro do mundo cristão, provoca certa confusão na datação dos eventos históricos ocorridos entre os séculos XVI e XX.

13 - Por praticidade, o calendário gregoriano é hoje adotado como convenção para demarcar o ano civil em praticamente todo o planeta. Essa unificação, que facilita o relacionamento entre os países, se deve em grande parte à exportação histórica dos padrões europeus para o resto do mundo.

14 - Alguns povos, no entanto, conservam em paralelo outros calendários para usos religiosos ou por questões de tradição. O ano de 2015 no calendário gregoriano corresponde, por exemplo, ao ano de 2559 no calendário budista; a 5775–5776 no calendário hebraico; a 2071–2072 no calendário hindu Vikram Samvat; a 1937–1938 no calendário hindu Shaka Samvat; a 5116–5117 no calendário hindu Kali Yuga; a 1393–1394 no calendário iraniano e a 1436–1437 no calendário islâmico.

15 - Até hoje, as Igrejas ortodoxas do Oriente utilizam o calendário juliano para determinar a data da Páscoa, que, por essa razão, quase nunca corresponde à data da Páscoa católica.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2015/02/22/15-curiosidades-sobre-o-calendario-gregoriano-uma-mudanca-que-literalmente-marcou-epoca/

Hoje é celebrada santa Efigênia, protetora contra incêndios

Santa Efigênia | ACI Digital

Por Redação central*

21 de set de 2025

A Igreja celebra hoje (21) santa Efigênia, uma princesa que se converteu ao cristianismo e ajudou a difundi-lo na Etiópia, nordeste da África. A santa é celebrada no mesmo dia de são Mateus Evangelista, que foi o responsável por sua conversão.

Efigênia, ou Ifigênia, era filha de Égipo e Eufenisa, reis da Núbia. Tinha um irmão chamado Efrônio.

Oito anos depois da ascensão de Jesus, o apóstolo Mateus e outros discípulos foram evangelizar na região da Núbia, mas não foram bem acolhidos. Somente Efigênia ouviu o que Mateus dizia e se converteu, rejeitando o paganismo.

Entretanto, sacerdotes pagãos convenceram o rei a oferecer Efigênia em sacrifício aos seus deuses, em uma fogueira. Enquanto aguardava, a princesa se consagrou a Deus e foi encorajada por Mateus. Quando as chamas da fogueira subiam, Efigênia invocou em alta voz o nome de Jesus. Então, um anjo desceu do céu e a tirou das chamas, livrando-a de seus inimigos.

Depois disso, Efigênia se esforçou mais pela conversão de toda a Núbia.

Com a morte do rei Égipo, o irmão dele, Hirtaco, ocupou o trono e decidiu se casar com sua sobrinha Efigênia, que rejeitou a proposta.

Hirtaco, então, tentou fazer com que Mateus convencesse Efigênia a se casar com ele, quebrando o voto de castidade que ela tinha feito. Mateus não aceitou e, enraivecido, o rei mantou matar Mateus.

Hirtaco ainda mandou atear fogo na casa em que Efigênia morava com outras jovens consagradas. Elas pediram ajuda a Deus e, milagrosamente, o fogo se extinguiu.

Hirtaco fugiu e Efrônio foi proclamado rei da Núbia.

Mais tarde, Efigênia, ao sentir que se aproximava sua morte, recebeu os sacramentos e esperou com serenidade e paz.

Santa Efigênia é invocada como protetora contra incêndios, padroeira dos militares e auxiliadora de quem precisa da casa própria.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64625/hoje-e-celebrada-santa-efigenia-protetora-contra-incendios

Reflexão para o XXV Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Quem quer rezar bem, deve ter um bom relacionamento com o outro, só assim poderá falar com o Outro.

Vatican News

Neste domingo nosso relacionamento com Deus é analisado para que possa crescer em maturidade e intensidade.

Com certeza interferirá de modo muito forte nosso relacionamento com o irmão. Deus, como o Pai, tem como muito importante para que nossa relação com Ele “vá de vento em popa” nossa relação com o irmão, principalmente com aquele que é carente de algum dom para que tenha uma vida feliz. Estar bem com Deus, supõe estar bem com o irmão. Egoísmo, egocentrismo não encontra espaço no relacionamento com o Senhor. Já quando os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a rezar, lhes deu como modelo a oração do Pai-Nosso. Portanto quem quer rezar bem, deve ter um bom relacionamento com o outro, só assim poderá falar com o Outro.

A leitura da Profecia de Amós critica severamente aquele que maltrata o irmão, que olha a vida com olhos oportunistas para tirar proveito da situação adversa em que está o carente.

O Evangelho mostra a esperteza de um administrador corrupto que ao soube agir de modo previdente quando foi informado da chegada do momento de prestação de contas ao proprietário. Ele não se desculpa com o patrão, mas age de modo inteligente para com os devedores. Na verdade, todos são devedores em relação ao patrão. Tanto as pessoas que haviam feito empréstimos, como o administrador que não correspondeu às promessas da contratação. Ele teve para com os devedores uma atitude amiga e envolvente que os tornassem gratos á sua ação.

Jesus o elogia porque ele soube agir de modo excelente com os bens materiais e não ficar na “rua da amargura” quando chegasse a hora de prestar contas.

Todos nós somos esse mau administrador, que não fomos fiéis às promessas batismais, especialmente ao amor a Deus e ao Próximo. Sabendo chegar nosso fim – mais cedo ou mais tarde nos encontraremos diante do Senhor e deveremos prestar contas de nossa vida, de tudo de bom que tivemos e nos foi proporcionado – tenhamos feito amigos com o que não nos pertence, ou seja, todos os bens são dons de Deus. Se usarmos esses bens em favor do carente, estaremos transformando aquilo que é material em espiritual e além da “gratidão” de Deus porque “fizemos o bem ao menor de seus irmãos”, teremos esses carentes, gratos, rogando ao Senhor que perdoe nossas faltas. E o primeiro a rogar a Deus por nós, para que nos perdoe, será o próprio Jesus, o Filho de Deus que se fez irmão de todos os homens, especialmente dos carentes.  

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 20 de setembro de 2025

SACERDÓCIO: As poucas coisas simples na vida de um padre (Parte 1/2)

Monsenhor Girolamo Grillo, Bispo de Civitavecchia-Tarquinia | 30Giorni.

Arquivo 30Dias 12 - 2003

As poucas coisas simples na vida de um padre

O Bispo de Civitavecchia-Tarquinia relembra seus cinquenta anos de sacerdócio. Os encontros que moldaram sua vida cristã, a importância da oração, dos sacramentos e da obediência.

por Girolamo Grillo

Em 25 de abril de 1953, com apenas 22 anos e meio, fui ordenado sacerdote.

Devo dizer, antes de tudo, que, apesar das dificuldades naturais de todo menino e adolescente, minha resposta inicial ao chamado de Deus à consagração como seu sacerdote não foi difícil. De fato, verdadeiras dificuldades sempre surgem ao longo da jornada subsequente, especialmente quando olhamos para trás, sob a perspectiva da vida. É justamente então que acontece (mas creio que algo semelhante acontece com todos, não apenas com as almas consagradas) que, às vezes, embora permaneçamos alegres e sem arrependimentos, os erros, os cansaços, as derrotas, os fracassos dos muitos planos humanos – quase sempre anulados pelos divinos –, bem como o desgaste do tempo, pesam sobre a alma de cada apóstolo do Senhor.

Cinquenta anos atrás, eu, como se costuma dizer, decolei de cabeça: "Vou te mostrar como se faz", pensei. "Eles, os velhos, nunca entenderam nada." Mas um dia (e hoje, para dizer a verdade, isso me acontece todos os dias), como o profeta Elias, recolhendo-me em mim mesmo e colocando-me diante do Senhor, me vi murmurando: "Basta, Senhor! Tira-me a vida, pois não sou melhor do que meus pais" ( 1 Reis 19:4).

Para ser honesto, devo dizer que, na minha vida sacerdotal, o que aconteceu com Elias aconteceu e continua acontecendo: minha verdadeira resposta e meu verdadeiro compromisso só vieram depois. Não há nada de estranho em tudo isso, no entanto. Não se trata, de fato, de uma contraindicação; antes, sou a descoberta ardente da minha incapacidade fundamental, da minha presunção de ser capaz de agir apenas com minhas capacidades intelectuais e morais. Não posso esconder o fato de que comecei esta jornada a cavalo, mas, depois de um longo galope, descobri que mesmo meu andar brilhante, em muitos aspectos, escondia uma grande fragilidade.

Da minha ordenação sacerdotal aos 22 anos e meio (precisava da mais rigorosa dispensa canônica, porque antes dos 24, mesmo naquela época, não era possível ser padre), lembro-me também de que, antes de dizer sim, eu tinha muito medo. E meus diretores espirituais (eu tinha dois na época: um no seminário, um jesuíta, sobrinho de Bartolo Longo, e depois meu querido Padre Francesco Mottola), quando lhes falei e disse: "Mas não vou conseguir", responderam: "Não duvidem, olhem sempre para a frente".

Hoje, meio século depois, devo dizer que, considerando tudo, eu realmente consegui, mesmo que às vezes com grande dificuldade, mas consegui. Não só isso, mas sempre conservei uma grande alegria no coração. E se eu tivesse dito não naquela época, certamente já teria sentido um grande remorso.

Meu cinquentenário não pretende ser uma celebração, mas simplesmente um lembrete dos meus deveres negligenciados, especialmente para pedir perdão pelas inúmeras omissões destes anos. Entre estas, a que mais me consterna é a falta de uma lembrança orante e adequada daqueles que, ao longo destas décadas, me amaram e me enriqueceram com o seu exemplo: os meus pais, os meus mestres, os meus companheiros, os meus superiores e, especialmente, os meus diretores espirituais, as muitas almas maravilhosas que o Senhor espalhou pelo meu caminho, os meus sacerdotes, que, com o seu exemplo, sempre procuraram atenuar as minhas deficiências.

Há uma voz na minha vida que ecoa continuamente dentro de mim, com uma pergunta incessante: "Por que não rezaste? Como deverias ter rezado? Deverias ter rezado por aqueles que rezam e por aqueles que não rezam, mas em vez disso não o fizeste." Peço-te perdão, portanto, ó Senhor, porque a oração nem sempre foi uma fonte de luz para mim no meu apostolado, pela conversão dos pecadores, pelas almas mais perfeitas no caminho de Deus.

Peço-te perdão porque não fui um verdadeiro guia na oração (todo sacerdote deve ser um homem de oração e um homem que guia na oração), porque nem sempre ajudei aqueles que me confiaram suas dores a se libertarem das ilusões do amor-próprio.

Peço-te perdão, Senhor, porque, nestes cinquenta anos, não fui de modo algum o sal da terra, a luz do mundo, o olho que ilumina o corpo da tua Igreja e a boca que pronuncia corajosamente a Palavra de Deus. Peço-te perdão, enfim, por todas as promessas quebradas. Não posso enumerá-las; são infinitas.

Ainda haverá tempo para reparar as muitas coisas deixadas por fazer ou mal feitas? Não sei, mas tenho grande esperança na ajuda de Maria, que, ao longo dos anos, nunca me abandonou. Muitas vezes a invoco como a invoco neste momento: Mater mea, fiducia mea!

Monsenhor Girolamo Grillo com seus pais na década de 1950 | 30Giorni.

Minha primeira mestra na fé foi minha mãe

Pode-se dizer que, do colo dela, aprendi a conhecer o Senhor. Fiz minha Primeira Comunhão aos cinco anos e meio, preparada por minha mãe. Incrível! Eu sabia ler e escrever, e um dia, vendo que minha mãe comungava quase diariamente, aproximei-me do corrimão do altar com ela e gritei: "Por que não eu?". Foi assim que meu pároco permitiu que minha mãe me deixasse comer Jesus, como eu havia lhe dito.

Minha mãe foi minha primeira catequista e ela mesma me apresentou ao meu primeiro pároco (que morreu muito jovem), quando eu tinha apenas quatro anos. Ele era um padre que, segundo minha mãe, tinha um buraco na mão; isto é, dava tudo aos pobres. Ele adorava brincar com crianças. Com ele — ainda me lembro — eu amassava barro para construir casinhas. Ele morreu repentinamente.

Ainda vejo seu caixão. Ele queria ser carregado para o cemitério por todas as pessoas em um caixão feito de quatro tábuas sem polimento, como as dos nossos abrigos contra terremotos. Um caixão de madeira rústica, sobre o qual havia uma grande palmeira. Aquele padre me conquistou; ele era um modelo poderoso. E, de fato, perguntei imediatamente à minha mãe: "O que devo fazer para me tornar como aquele padre?" É como a conversa de uma criança com sua mãe. Minha mãe respondeu: "Só há uma coisa a fazer." "O quê?", perguntei. E ela disse: "Reze. Você deve rezar muito, e eu rezarei por você." Ela me falava muito sobre Nossa Senhora, pois era uma grande devota de Maria; foi ela quem me incutiu esse amor por Nossa Senhora. Então, para mim, não foi difícil ouvir o primeiro chamado, porque imediatamente tive um grande modelo; eu queria ser como aquele padre.

Talvez a vocação tenha nascido no coração da minha mãe. Acho que ela deve ter rezado muito. Sejamos claros: ela sempre me deixou livre. Só uma vez ela chorou, quando perdi meu olho esquerdo, e pensou que, por causa disso, eu nunca seria aceito no seminário. Ela também rezava naquela época.
Mamãe tinha apenas uns quarenta anos quando fui ordenado padre. Tanto que o bispo que impôs as mãos sobre mim para me ordenar, quando lhe apresentaram mamãe, insistiu que ela era minha irmã. Mas na Calábria, onde nasci, as pessoas se casavam cedo naquela época. E eu fui o primeiro de dez filhos, dos quais apenas cinco chegaram à idade adulta. Até meu pai, que por muitos anos tentou me convencer a desistir da minha jornada rumo ao sacerdócio, estava feliz naquele dia.

Meu pai trabalhou na América como imigrante por muitos anos. Ele estava lá quando eu nasci. Hoje, sempre me emociono ao ver tantos imigrantes lavando janelas nas ruas, porque meu pai deve ter sido um pouco como eles. Quando, muitos anos depois, viajei para a América, fiquei comovido com a visita à fábrica, agora fechada e em ruínas, onde meu pai, trabalhando entre as peças de ferro fundido, contraiu a grave doença que o levaria à morte.
É assim que me lembro dos meus pais, por quem talvez eu não tenha rezado e não rezo o suficiente. Tenho certeza, porém, de que eles rezam por mim. De fato, converso frequentemente com eles, recorro a eles constantemente nos momentos difíceis, porque, como eles já são parte de mim no Eterno, me sinto muito próximo deles.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF