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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

EXPOSIÇÕES: Degas, a magia dos pastéis

Três bailarinas na aula de dança , Edgar Degas, Brisbane, Queensland Art Gallery | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11 - 2004

Degas, a magia dos pastéis

Cento e setenta obras do artista francês em exposição em Roma, no Complexo Vittoriano, de 2 de outubro de 2004 a 1º de fevereiro de 2005.

por Carlo Montarsolo

Uma exposição de Edgar Degas está em andamento no Vittoriano, em Roma, com mais de 170 obras, incluindo óleos, pastéis, esculturas e fotografias. Esta série de prestigiosas exposições com obras dos mais famosos e significativos pintores contemporâneos continua na capital, dentro dos espaços do histórico complexo monumental. Depois de Cézanne e Klee, surge Degas, o artista francês cuja fama se deve aos seus temas favoritos: bailarinas e cavalos de corrida. Seus biógrafos mais eminentes o descrevem como um homem de temperamento terrível, sarcástico e insolente. Ele tinha pouca ligação com os outros impressionistas, tanto que era considerado fora do movimento. Um de seus alvos era Monet, com seus "nenúfares". Degas disse que a visão repetida daquelas folhas apodrecendo na água "machucava seus olhos" (ele morreu cego em 1917). Ele detestava a pintura ao ar livre, que envolvia pintar objetos parados ao ar livre, e se refugiava nas sombras suaves de seu estúdio, onde, por meio de testes extenuantes com modelos ocasionais, pintou "A Lição de Dança" , que veio de Washington, e "A Aula de Dança", que veio da Filadélfia. Apaixonado por cavalos, ele às vezes ia ao hipódromo, e sua famosa pintura a óleo " Antes da Partida", emprestada à exposição de Roma por uma galeria de arte particular em Zurique, é imperdível. As 73 esculturas em exposição no Museu de Arte de São Paulo, Brasil, valem a pena ser vistas. Exibidas juntas em uma vitrine em uma sala com vista para o Fórum Romano, elas testemunham o gênio multifacetado de Degas.

Além disso, em seus últimos anos, ele experimentou a fotografia, comprando uma câmera de filme com a qual retratou camponeses e amigos, e até mesmo tirou um autorretrato parodiando a Apoteose de Homero, de Ingres. Degas também era, como diziam seus contemporâneos, um "brincalhão brilhante" que adorava zombar de si mesmo.

Ele alcançou níveis extraordinários de maestria na técnica do pastel. Justamente por sua constante e obsessiva experimentação com métodos para "molhar" e "fixar" pastéis em cartões especiais que ele mesmo preparava com vernizes e colas especiais, pode-se dizer que Degas inventou a técnica e foi o maior artista de pastel da pintura moderna. Lembro-me de que, no início da minha carreira de pintor, aprendi a usar pastéis com um rico cavalheiro do Vesúvio, que me permitiu usar a coleção de pastéis que ele havia comprado da famosa firma Lefranc, em Paris. Degas apreciava esses pastéis muito compactos, apesar da natureza frágil do giz colorido.

Deixe-me tentar explicar o que são pastéis. São pequenos cilindros arredondados, verdadeiros pedaços de giz, disponíveis em centenas de tons e cores diferentes: do branco ao preto, tons de terra queimados e naturais, cinzas, ocres, verde esmeralda e veronese, índigo e azul ultramarino. Ao contrário dos pastéis a óleo posteriores, Degas pintava exclusivamente com pastéis de giz, pressionando-os com os dedos sobre o papelão e misturando-os com a mão ou um pano macio. Com essa técnica, ele alcançou resultados pictóricos surpreendentes, especialmente ao representar a pele de modelos nuas (veja a Jovem na Banheira ou Secando o Cabelo ). Dotado de uma síntese impecável no desenho, ele reproduziu na pintura a graça suave e aveludada dos rostos, ombros e braços de figuras femininas, superando até mesmo os tons de pele pintados a óleo de Renoir com pastéis. Talvez nenhum pintor renascentista jamais tenha alcançado uma representação pictórica tão elevada e realista da pele, aquela cor rosada e vibrante de uma pessoa jovem e saudável. Peço aos visitantes da exposição que se detenham nas obras em pastel, felizmente intactas ao longo do tempo, apesar do reboco precário e empoeirado. As pinturas foram adequadamente protegidas por fixação, vitrines e iluminação especial. Contrastados com o mármore do Vittoriano e a pedra polida dos Fóruns Imperiais, os pastéis de Edgar Degas parecem mágicos e também brilham com a eternidade.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Proclamar ao mundo o perfume suave e agradável da esperança

(©AFP/Tiziana Fabi)  (AFP or licensors)

"A tarefa que temos pela frente já não é defender e justificar a esperança filosófica e teologicamente, mas simplesmente anunciá-la, mostrá-la, oferecê-la a um mundo que perdeu o sentido da esperança e por isso enfraquece espiritualmente”, como diz Cantalamessa[2]. Nesse contexto, a esperança não é um tratado teórico, mas um testemunho profético de vida que brota da fé pascal".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

A esperança, em sua essência, é como um perfume suave que não se explica, mas se sente e se compartilha. Diante de um mundo marcado pela incerteza, pelo medo e pelo cansaço espiritual, a missão de cada cristão já não se limita a defender ou justificar racionalmente esse dom, mas a torná-lo visível e acessível a todos. Mais do que conceitos filosóficos ou argumentos teológicos, a esperança precisa ser testemunhada na vida concreta, como um sinal que ilumina os que caminham na escuridão e fortalece aqueles que, fragilizados, buscam razões para continuar. Proclamar a esperança, portanto, é oferecer ao mundo um sopro de renovação capaz de despertar corações adormecidos e devolver sentido às jornadas humanas.

No contexto deste Ano Jubilar, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Proclamar ao mundo o perfume suave e agradável da esperança":

"O tratado da Esperança, fé e caridade de Zenão de Verona, um antigo padre, diz assim: “Tire a Esperança, e toda a humanidade se entorpece. Tire a Esperança e todas as artes e virtudes desaparecerão. Tire a esperança e tudo perece”.

Há um gesto na Vigília Pascal significativo que destacamos em nossa reflexão sobre a Esperança. Do fogo Novo abençoado no Sábado de Aleluia, se acende a chama do Círio Pascal, devidamente incensado e preparado para a noite das noites. As brasas acesas do fogo Novo simbolizam as pedras do túmulo de Cristo que se rompem para que a luz do ressuscitado brilhe. Da chama do Círio Pascal aceso nessa noite Santa de Vigília, se acendem as velas do povo. Os fiéis acendem a própria vela por meio de outra vela e assim a esperança da luz se alastra. Nessa analogia, vemos que a esperança é transmitida por contágio. Não é transmitida porque alguém a estuda, discute ou explica, mas porque a possui e passa adiante. Assim, os cristãos devem passar de pai para filho, de mão em mão, de geração em geração, numa tradição vivida e testemunhada, uma divina transmissão salutar, a grande virtude da esperança.

Se há meios para se contagiar com a esperança é a alegria e a paz interior. São Paulo, na Carta aos Romanos, expressa esse desejo: “Que o Deus da esperança os encha de toda a alegria na fé” (Rm 15,13). A alegria revela a presença da esperança assim como o perfume revela a presença de uma flor. O perfume da esperança precisa ser exalado ao mundo inodoro. A fragrância da esperança precisa preencher nossos espaços e ambientes.

Reza assim também o salmista: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” (Sl 32).  A ressurreição de Cristo nos faz “renascer para uma esperança viva”, como vemos na primeira Carta de Pedro (1Pdr 1,3). Hoje, mais do que nunca no mundo, precisamos de um “renascimento da Esperança, se quisermos iniciar uma nova evangelização. Nada se faz sem esperança. As pessoas vão onde se respiram o ar de esperança e fogem onde não a sentem presente. A esperança é o que dá coragem aos jovens para formarem uma família ou seguir em uma vocação religiosa; é o que os mantém afastado das drogas e de semelhantes deslizes ao desespero. De certo modo em comparação com algumas décadas atrás, estamos hoje numa situação mais vantajosa em relação à esperança. Já não precisamos passar a maior parte de nosso tempo defendendo a esperança Cristã dos ataques externos; podemos fazer a coisa mais útil e frutífera que é proclamá-la, oferecê-la e disseminá-la no mundo, não tanto com um discurso apologético, mas assim querigmático”[1].  

Precisamos proclamar alto e em bom tom a esperança que não decepciona jamais. Jesus Ressuscitou, razão de nossa esperança, de nossa fé e nosso combate diário. O mundo de hoje precisa desse anúncio da Esperança. Há tantas pessoas desanimadas, desencorajadas, esmorecidas na fé, caídas no pessimismo e baixa estima e questão caídas à beira do caminho. Não peregrinam, não caminham, não progridem. É preciso querigmatizar a esperança, fazer dela um anúncio corajoso e constante. Em cada anúncio, em cada mensagem, em cada homilia, em cada pregação, precisamos proclamar de viva voz a esperança.

A esperança das pessoas foi afetada pelas ideologias e pelos falsos profetas: Feuerbach, Marx, Nietzsche, Hegel, Freud e outros. A vida eterna para muitos desses filósofos foi vista como uma esperança ilusória, como o ópio dos povos. A esperança foi vista com maus olhos, como um descompromisso com o tempo presente e como fuga da atuação do cristão na sociedade. Pois depois de destruir com a esperança cristã, a cultura ateia marxista, não tardou em perceber que não se podia deixar as pessoas sem esperança. Por isso, inventou o “princípio da esperança”. A esperança, nessa teoria filosófica, seria apenas um princípio, e não uma virtude teologal, como a Igreja proclama. Nesse princípio, a manifestação de Jesus Cristo é substituída pela manifestação do homem, a “parusia” é substituída pela “utopia”. A esperança passaria não simplesmente para uma virtude da graça, mas uma conquista de esforço humano no desejo de superação. A pátria celeste torna-se aqui uma pátria de identidade, não onde o homem vê Deus face a face, mas onde o homem vê simplesmente como ele é. “A tarefa que temos pela frente já não é defender e justificar a esperança filosófica e teologicamente, mas simplesmente anunciá-la, mostrá-la, oferecê-la a um mundo que perdeu o sentido da esperança e por isso enfraquece espiritualmente”, como diz Cantalamessa[2]. Nesse contexto, a esperança não é um tratado teórico, mas um testemunho profético de vida que brota da fé pascal".

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_____________

[1] CANTALAMESSA, RANIERO. “Fé, esperança e caridade – as três graças do Cristianismo”, Ed. Paulus, 2024, p. 111.
[2] Idem, 113.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Princípio Antrópico – o universo podia ser diferente?

Princípio Antrópico (HypeScience)

Alexandre Zabot - publicado em 22/01/16

Dizem que Einstein defendia que a grande questão era se Deus teve ou não escolha ao criar o universo.

No artigo Princípio Antrópico – um universo sob medida, mostrei algumas evidências que a ciência vem descobrindo e acumulando nas últimas décadas sobre como o universo parece se encaixar perfeitamente à vida. Não digo vida humana, mas vida em geral. É incrível que apesar da vida ser tão frágil, a Terra abrigue todas as condições para o surgimento e a manutenção dos seres vivos. Como tentei mostrar na última coluna, estas condições de que dispomos aqui na Terra são realmente muito especiais no sentido de que dependem fortemente das leis físicas. Se estas fossem ligeiramente diferentes do que são, não seria possível haver vida aqui ou em qualquer outra parte do Universo. Aliás, haver vida em outro lugar do universo é algo tão provável quanto haver vida aqui, ou seja, é algo certo. Que tipo de vida, não sabemos. Mas hoje as evidências de que o universo abriga inúmeros locais bons para a vida vêm se acumulando com muita rapidez.

A constatação de que as leis físicas são como que “ajustadas” para a vida no universo é o chamado “ajuste fino” das leis da natureza. A partir dele alguns cientistas, filósofos e teólogos defendem a existência de um “Princípio Antrópico”. Como também falei na última coluna, há vários tipos de formulações para o Princípio Antrópico. Porém, duas formas são as mais comuns, são as chamadas “Forma Suave” (ou Fraca) e “Forma Forte”. Quero discutir estas formas com mais detalhes e também as críticas e defesas delas. No fundo, esta questão não passa da velha discussão sobre acaso e necessidade nas leis físicas.

Como há muitas formulações diferentes para o Princípio Antrópico, vou usar as definições de um livro famoso sobre o assunto: “The Anthropic Cosmological Principle”  de John Barrow e Frank Tipler. Eles definem as duas versões do Princípio assim:

Princípio Antrópico Suave (ou fraco) (PAS):  Os valores observados de todas as quantidades físicas e cosmológicas não são equiprováveis, mas assumem valores restritos pela exigência de que existem locais onde a vida baseada em carbono pode evoluir e também pela exigência de que o Universo é antigo o bastante para que isso já tenha acontecido.

Princípio Antrópico Forte (PAF): O universo deve, obrigatoriamente, ter as propriedades necessárias para permitir o desenvolvimento da vida em algum estágio de sua história.

Há pelo menos outras duas formulações alternativas bem conhecidas, mas estas duas que apresentei são as mais famosas e também mais discutidas. Alguns críticos com tendências à ironia dizem que o PAS não passa de dizer que “o universo é como é porque é!”. A ironia não é falsa, mas como toda ironia, descarta aspectos interessantes com muita facilidade. Uma história famosa vai ajudar a explicar o que quero dizer.

Por volta de 1950 a Mecânica Quântica e a Física Nuclear estavam em alta e pela primeira vez começava-se a vislumbrar os mecanismos que geram a energia das estrelas. Sabia-se que a responsável pela energia era a fusão nuclear, mas ainda não se compreendia bem quais eram os mecanismos. Uma reação nuclear chamada de triplo-alfa era invocada como parte da explicação. Nela, três núcleos de Hélio (partículas alfa) colidem e formam um núcleo de Carbono. O problema é que esta reação teria baixa probabilidade e portanto não poderia formar todo o Carbono observado no Universo. Fred Hoyle, um dos maiores Astrofísicos que já houve (aliás, foi quem cunhou o termo “Big Bang”), raciocinou por meio do Princípio Antrópico: se há Carbono do universo, então esta reação deve ser favorecida de algum modo. Ele previu que este favorecimento se dava por meio de uma ressonância do Carbono e estimou a energia. Acertou na mosca!

Ou seja, o PAS pode ser um tanto óbvio por dizer que já que vemos vida no universo, as leis físicas devem permitir que haja a vida, porém, é possível fazer previsões a partir desta simples constatação. Afirmações simples podem encerrar verdades muito profundas! Basta ler o Evangelho para se convencer disto. Na verdade, as críticas ao PAS não passam de ironias porque no fundo ele é uma simples constatação. Embora, para seus defensores, seja uma constatação muito importante.

A grande discussão acontece em torno do Princípio Antrópico Forte (PAF). À primeira vista ele nem parece ser uma afirmação forte e ao que tudo indica, se encaixa muito bem na visão cristã do universo. Porém, ele comete dois erros graves: inverte a lógica causa-efeito e é um tipo disfarçado de Design Inteligente. Por estes dois erros, eu penso que o PAF não pode ser aceito, tanto por uma perspectiva científica quanto teológica, pois o Design Inteligente não passa de uma espécie de teoria de Deus das Lacunas que subjuga nosso Deus a um mero reparador de uma Criação barata e mal feita. O que, evidentemente, Ele não é!

No primeiro artigo sobre o Princípio Antrópico, iniciei citando o paleontólogo Stephen Jay Gould, me permitam citá-lo novamente para explicar por que o PAF inverte a lógica causa-efeito. Para Gould, o PAF é como dizer que as salsichas de cachorro quente foram feitas finas e longas para se adaptarem ao pão de cachorro quente! É verdade, a crítica tem fundamento porque na realidade, é a vida que se adaptou ao universo e não o contrário. Mesmo dentro de uma perspectiva cristã, onde Deus criou o universo e desde sempre quis a vida e o ser humano, é muito limitante dizer que o universo é consequência da vida. Na minha opinião, a visão correta é que Deus, na sua imensa sabedoria e poder, criou o universo e as leis físicas capazes de gerar vida. Mas esta é consequência, e não causa. Desta forma, penso eu, elevamos Deus a posição de Criador. Dizem que Einstein defendia que a grande questão era se Deus teve ou não escolha ao criar o universo. Para os cristãos, é evidente que Deus teve escolha. Ele nos escolheu, nos quis! O PAF deixa Deus sem escolha, o que é um absurdo.

Mas inverter a lógica causa-efeito não é o maior problema do PAF e sim o fato dele ser uma forma disfarçada de Design Inteligente. Ou seja, para os defensores do PAF existem leis físicas que só podem ser explicadas por uma questão de finalidade. Dizer que uma lei da natureza é de tal forma porque assim permite que haja vida e os seres humanos é declarar uma enorme falta de capacidade de entender a natureza. Não precisamos usar Deus para explicar a forma das leis da natureza, Ele a criou cognoscível. Para mim, esta é uma das melhores provas da existência de Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2016/01/22/principio-antropico-o-universo-podia-ser-diferente/

Minha prioridade é o Evangelho, não resolver os problemas do mundo, diz Leão XIV

O papa Leão XIV na audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 17 de setembro de 2025. | Crédito: Vatican Media.

Por Hannah Brockhaus*

19 de set de 2025

O papa Leão XIV disse que seu papel principal como líder da Igreja é confirmar os católicos na fé e compartilhar o Evangelho com o mundo, não resolver crises globais.

A fala do papa à correspondente do Crux em Roma, Elise Ann Allen, foi a primeira entrevista formal de Leão XIV como papa. Ela foi incluída no livro Leão XIV: Cidadão do Mundo, Missionário do Século XXI, publicado ontem (18) em espanhol pela editora Penguin, no Peru. Edições em inglês e português estão previstas para o início de 2026.

Leão XIV disse que está "tentando não continuar polarizando ou promovendo a polarização na Igreja".

"Eu não vejo meu papel principal como o de tentar resolver os problemas do mundo. Na verdade, não vejo meu papel como tal, embora eu ache que a Igreja tem uma voz, uma mensagem que precisa continuar sendo pregada, dita e falada em voz alta", disse ele.

Temas polêmicos

O papa Leão XIV disse estar ciente de que a doutrina da Igreja sobre moral sexual é um tema altamente polarizador na Igreja.

Sinalizando sua intenção de dar continuidade à abordagem de seu predecessor, o papa Francisco, ele disse que "todos são convidados, mas eu não convido uma pessoa por ela ser ou não de uma identidade específica".

"As pessoas querem que a doutrina da Igreja mude, querem que as atitudes mudem. Eu acho que precisamos mudar as atitudes antes mesmo de pensar em mudar o que a Igreja diz sobre qualquer pergunta dada", disse ele.

“Parece-me muito improvável, certamente num futuro próximo, que a doutrina da Igreja mude em termos do que ensina sobre sexualidade e matrimônio”, disse ele.

“Os indivíduos serão aceitos e acolhidos”, acrescentou o papa, reiterando a importância de respeitar e aceitar pessoas que fazem escolhas diferentes em suas vidas.

“Já falei sobre o matrimônio, assim como o papa Francisco fez quando era papa, sobre a família ser composta por um homem e uma mulher em compromisso solene, abençoados no sacramento do matrimônio”, continuou.

O “papel da família na sociedade, que por vezes sofreu nas últimas décadas, precisa ser novamente reconhecido e fortalecido”, disse Leão XIV.

Ele também criticou a publicação de rituais que abençoam “pessoas que se amam” em países do norte da Europa, dizendo que violam as diretrizes do papa Francisco na declaração Fiducia supplicans, publicada pelo Dicastério da Doutrina da Fé em 18 de dezembro de 2023, que concedeu permissão para bênçãos não litúrgicas de uniões homossexuais.

“Acredito que o ensinamento da Igreja continuará como está, e é isso que tenho a dizer sobre isso por enquanto”, disse ele.

Outra mudança que o papa disse que não fará no momento é permitir a ordenação de mulheres diaconisas.

“Espero continuar os passos de Francisco, inclusive nomeando mulheres para alguns cargos de liderança em diferentes níveis da vida da Igreja”, disse. “Acredito que há algumas questões prévias que precisam ser levantadas. ... Por que falaríamos sobre ordenar mulheres ao diaconato se o próprio diaconato ainda não é devidamente compreendido, desenvolvido e promovido dentro da Igreja?”.

Ele disse que há um grupo de estudo, no contexto do Sínodo da Sinodalidade, dedicado especificamente a examinar a questão dos ministérios na Igreja, incluindo a possibilidade do diaconato feminino.

“Talvez haja muitas coisas que precisam ser analisadas e desenvolvidas neste momento antes que possamos realmente nos concentrar em fazer outras perguntas. … Vamos caminhar com isso e ver o que acontece”, disse ele.

O papa Leão XIV descreveu a sinodalidade, o programa de Francisco para uma consulta mais ampla sobre a governança e a doutrina da Igreja além da hierarquia, como “uma atitude, uma abertura, uma disposição para compreender” e um processo “de diálogo e respeito mútuo” que pode assumir diferentes formas.

“Acho que há grande esperança se pudermos continuar a construir sobre a experiência dos últimos dois anos e encontrar maneiras de sermos Igreja juntos”, disse ele. “Não tentar transformar a Igreja em algum tipo de governo democrático, que, se olharmos para muitos países ao redor do mundo hoje, a democracia não é necessariamente uma solução perfeita para tudo".

Ele manifestou ao longo da entrevista sua disposição de sentar e ouvir o ponto de vista de qualquer pessoa, inclusive dos defensores da missa tradicional em latim, embora ainda não tenha decidido como resolver as tensões em torno de sua celebração.

“Isso se tornou um tipo de questão tão polarizada que as pessoas, muitas vezes, não estão dispostas a ouvir umas às outras. … Isso é um problema em si. Significa que agora estamos na ideologia, não estamos mais na experiência da comunhão da Igreja. Esse é um dos temas em pauta”, disse ele.

“Entre a missa tridentina e a missa do Vaticano II, a missa de Paulo VI, não tenho certeza de onde isso vai dar. É obviamente muito complicado”, acrescentou. “Tornou-se uma ferramenta política, e isso é muito lamentável.”

Ele disse que em breve terá uma oportunidade de falar com pessoas que defendem o que ele chamou de rito tridentino da missa, uma possível referência a uma peregrinação anual de devotos da missa em latim que ocorrerá em Roma no final de outubro.

A missão da Igreja

O papa disse que outro tema prioritário em pauta são as relações internas no Vaticano. Ele lamentou que, atualmente, os dicastérios trabalhem de forma muito "isolada".

Ele elogiou o foco renovado na evangelização promovido pela reforma da Cúria Romana feita pelo papa Francisco, por meio da constituição apostólica Praedicate Evangelium, mas disse que ainda há muito trabalho a ser feito.

"A falta de diálogo, de instrumentos de comunicação, entre os diferentes dicastérios tem sido, em certos momentos, uma grande limitação e um prejuízo para o governo da Igreja", disse ele.

"Então, acho que há um problema aí - alguém usou a expressão 'mentalidade de silo'. ... Precisamos encontrar uma forma de reunir as pessoas para conversar sobre isso”.

Um dos problemas que a cúria enfrenta é a crise dos abusos sexuais clericais. Leão disse que, embora ele permaneça sem solução, não pode ser o único foco da Igreja.

Ele disse que é um desafio equilibrar o apoio e a justiça às vítimas com o respeito aos direitos dos acusados. “Estamos meio que em um impasse aí.”

Leão contextualizou o problema dos abusos dentro de sua visão sobre o papel mais amplo da Igreja no mundo: “Não podemos fazer com que toda a Igreja se concentre exclusivamente nesse tema, porque isso não seria uma resposta autêntica ao que o mundo busca em termos da missão da Igreja”.

O papa disse que essa abordagem à missão da Igreja também influenciará sua interação com judeus, muçulmanos e budistas. Ele disse ser importante respeitar aqueles com crenças diferentes, mas “eu acredito profundamente em Jesus Cristo e acredito que essa é minha prioridade, porque sou bispo de Roma e sucessor de Pedro, e o papa precisa ajudar as pessoas a entender, especialmente os cristãos e católicos, que isso é quem somos. E eu acho que essa é uma bela missão”.

Durante encontros com representantes de outras religiões, ele disse: “Não tenho medo de dizer que acredito em Jesus Cristo e que ele morreu na cruz e ressuscitou dos mortos, e que juntos somos chamados a compartilhar essa mensagem”.

Ele também manifestou satisfação com o que considera uma melhora nas relações com a comunidade judaica. Sob o governo de Francisco, o relacionamento sofreu com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 e a subsequente guerra de Israel em Gaza, baseada no forte apoio de Francisco à Palestina.

"Posso ser muito presunçoso", disse Leão XIV, "mas ouso dizer que já nos primeiros meses o relacionamento com a comunidade judaica melhorou um pouco".

*Hannah Brockhaus é jornalista correspondente da CNA em Roma (Itália). Ela cresceu em Omaha, no estado americano de Nebraska e é formada em Inglês pela Truman State University no Missouri (EUA).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64623/minha-prioridade-e-o-evangelho-nao-resolver-os-problemas-do-mundo-diz-leao-xiv

São Mateus Apóstolo

São Mateus Apóstolo (Vatican News)

SÃO MATEUS APÓSTOLO

21/09/2025

Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Vem e Segue-me! (Mt 19,21)

O dia 21 de setembro seria o dia da festa litúrgica de São Mateus, apóstolo e evangelista. Como neste ano, o dia de São Mateus cai em um domingo; o Dia do Senhor tem precedência e celebraremos a liturgia dominical. Mesmo assim, recordemos com carinho de São Mateus nesse dia.

São Mateus tem um papel importante na história da Igreja, assim como os demais apóstolos. Mateus era cobrador de impostos, um trabalho visto de forma negativa pela sociedade. Pedro e André, por exemplo, eram pescadores e foram chamados à beira do mar. Já para chamar Mateus, Jesus foi até a coletoria de impostos e o convidou a segui-lo.

Jesus não escolheu pessoas santas, letradas ou ricas para segui-lo; pelo contrário, sua missão era ir ao encontro dos pobres e pecadores. Ele veio para curar as ovelhas perdidas da casa de Israel, sempre na contramão da mentalidade da época. Após a sua morte e ressurreição, os apóstolos seguiram o mesmo caminho, aproximando-se justamente daqueles que eram considerados excluídos pela sociedade. Jesus escolheu os simples para que agissem como Ele agiu, inclusive com eles mesmos.

Assim como chamou Mateus e os outros apóstolos, Jesus continua a nos chamar hoje, conforme o versículo citado: “Vem e segue-me” (Mt 19,21). Ele nos chama através da oração e, à medida que cultivamos intimidade com o Senhor, podemos responder “sim” ao seu chamado, como fizeram os apóstolos.

Desde o nosso batismo somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus, sal da terra e luz do mundo. Somos convidados a direcionar nossa vida segundo o Espírito Santo que recebemos no batismo e a trilhar o caminho da santidade. Assim como os apóstolos foram convidados a deixar a vida de pecado para viver na graça de Deus, também nós somos chamados à conversão.

São Mateus é mártir, ou seja, doou a própria vida em favor do Reino de Deus, como os demais apóstolos. Por isso, a cor litúrgica predominante em sua festa é o vermelho. Além de apóstolo, Mateus escreveu o Evangelho que leva o seu nome, um dos três evangelhos sinóticos. Seu objetivo foi registrar aquilo que viu e ouviu de Jesus.

O nome de batismo de Mateus era “Levi”. Tornou-se Mateus após aceitar o chamado de Jesus e se tornar apóstolo. Como cobrador de impostos, era considerado pecador público, pois, na época, muitos cobradores eram acusados de reter parte do dinheiro destinado ao Império Romano.

A principal característica de seu evangelho é a apresentação de Jesus como o Filho de Deus e o Messias prometido. Mateus, ao narrar sua experiência, deixa claro que acreditava que Jesus era o Cristo esperado. Seu evangelho quer despertar essa mesma fé nos leitores, mostrando que Maria gerou Jesus, o Filho de Deus, o Salvador que viria ao mundo.

O Evangelho de Mateus foi escrito por volta do ano 60 d.C., sendo seguido pelos demais evangelhos. O Novo Testamento inicia-se com os evangelhos sinóticos — Mateus, Marcos e Lucas — e, posteriormente, com o de João. No ciclo litúrgico, proclamamos principalmente o Evangelho de Mateus no Ano A, o de Marcos no Ano B e o de Lucas no Ano C.

Em sua obra, Mateus ressalta que Jesus é o Messias que cumpre as promessas do Antigo Testamento, revelando o rosto misericordioso de Deus. Os evangelistas, cada um a seu modo, buscam mostrar que Jesus veio para toda a humanidade, não apenas para um povo. A salvação é oferecida a todos que se abrem, de coração sincero, à misericórdia divina e ao arrependimento dos pecados. O próprio Mateus é testemunho vivo dessa misericórdia.

Outro aspecto importante de seu evangelho é o alerta sobre a tentação das riquezas. Jesus o chamou para deixar de servir ao dinheiro e começar a servir a Deus. Por isso, Mateus insiste em seu evangelho que os bens materiais nunca devem estar acima de Deus: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).

Depois da ressurreição de Jesus, Mateus evangelizou na região da Arábia e da Pérsia, iniciando comunidades cristãs. Contudo, enfrentou forte perseguição dos sacerdotes locais, que mandaram arrancar-lhe os olhos e o prenderam para sacrificá-lo aos deuses. Deus, porém, enviou um anjo que o curou e libertou. Mateus seguiu, então, para a Etiópia, onde novamente foi perseguido, desta vez por feiticeiros contrários à evangelização. Ocorreu, porém, que o príncipe herdeiro faleceu, e Mateus foi chamado ao palácio. Pela graça de Deus, ele o ressuscitou, causando grande espanto e convertendo muitos, tornando a Igreja da Etiópia uma das mais importantes dos tempos apostólicos.

Não se sabe ao certo como morreu o apóstolo, mas algumas fontes indicam que teria falecido na Etiópia. Suas relíquias se encontram hoje na cripta da Catedral de Salerno, onde, no dia 21 de setembro, é realizada uma grande procissão em sua honra.

São Mateus é considerado padroeiro de banqueiros, alfandegários, cambistas, contadores, consultores tributários e cobradores de dívidas. Em 10 de abril de 1934, o Papa Pio XII reconheceu oficialmente o seu patrocínio sobre essas categorias.

Celebremos com alegria a festa do apóstolo São Mateus. Ainda que neste ano a data coincida com o domingo, recordemos seu exemplo de fé e dedicação. Que, assim como ele, sigamos o Senhor mais de perto, fiéis até as últimas consequências no amor a Deus. O nome “Mateus” significa “Dom de Deus”. Que também nós sejamos dom de Deus para todos aqueles que encontrarmos em nossa caminhada.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

domingo, 21 de setembro de 2025

Leão XIII e Leão XIV, semelhanças e diferenças

Leão XIII | Public Domain via Wikimedia

Paulo Teixeira - publicado em 19/09/25

Um olhar dos Papas sobre as coisas novas ao longo dos tempos.

Corria o ano de 1891 quando o Papa Leão XIII publicou uma encíclica intitulada Rerum Novarum, que quer dizer, sobre as coisas novas. Nela, fez uma espécie de compêndio da Doutrina Social da Igreja, que são as diretrizes para a ação do católico na sociedade.  

O mundo passava por grandes transformações naquela década que concluía o século XIX. Para ter uma noção, no mesmo ano da Encíclica Rerum Novarum houve a primeira revolta contra a monarquia portuguesa e a eleição e renúncia do primeiro presidente brasileiro.  

No horizonte do Papa surgia um tema importante de ser debatido: a condição dos operários. A revolução industrial estava incidindo de maneira forte na produção, comércio e consumo de diversos bens, mas também mudava de maneira impactante a vida das pessoas com novas relações, expansão das cidades e a inserção ampla dos cidadãos nas dinâmicas de produção e consumo.  

Atualidade

É um pouco curioso que nesse novo milênio um Papa retome o nome de Leão, que teve o primeiro no século V. Mas o Papa Prevost explicou que escolheu esse nome justamente por causa de Leão XIII e sua abordagem sobre o tema social de sua época. Segundo o atual Papa Leão, a Igreja deve "responder a uma nova revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho". 

O jornalista Amadeo Lomonaco explica que, de fato, alguns trechos da encíclica de 134 anos atrás, cabem bem para os tempos atuais. “Na encíclica Rerum Novarum, é destacado o bom ou o mau uso dos bens. Esse critério é igualmente válido para a abordagem a ser seguida hoje no uso das tecnologias digitais”, destaca Lomonaco. 

Tem destaque, na Rerum Novarum, as condições dos operários nas fábricas: “Não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso da fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo” (25). No nosso tempo, assim como no final do século XIX, o mundo do trabalho é um dos pilares que sustentam o tecido social. Relendo a encíclica do Papa Leão XIII, focada nas condições das massas operárias, e inserindo essas reflexões no contexto atual, podemos projetar uma espécie de "Rerum digitalium", uma releitura sobre as "coisas digitais". Seguindo o caminho traçado por Leão XIII, é possível considerar a questão do trabalho e os direitos dos trabalhadores à luz das profundas mudanças causadas pelas novas tecnologias.

O caminho dos papas

A releitura, reinterpretação, atualização do Papa Leão XIV sobre esse tema social se liga à constante atualização que os papas fazem do tema. O Papa Pio XI publicou em 1931, a Encíclica Quadragesimo anno recordando a s quatro décadas da publicação da Encíclica Rerum Novarum. Nela destaca como o Evangelho pode aperfeiçoar a ordem social.  É um texto marcado pela crise econômica de 1929 que além de reforçar o que foi indicado por Leão XIII, abordou de forma forte a questão da desigualdade.  

Mais uma década adiante, em 1941, o Papa Pio XII se dirigiu aos fiéis por meio de uma rádio mensagem para recordar, em meio à Segunda Guerra Mundial, a necessidade de um “espírito social forte, sincero e desinteressado”, como ensinado na Rerum Novarum.  

O Papa João XXIII, em 1961, também pelo rádio, indica aos fiéis o estudo da Rerum Novarum como uma “luz nova e apropriada às modernas circunstâncias do mundo”.  

Em 1971 o Papa Paulo VI publicou  Octogésima Adveniens na qual atualiza os ensinamentos de Leão XII para os desafios daquele período que iam do crescimento das cidades até o desemprego.  

O Papa João Paulo II, na recorrência dos 90 anos da Rerum Novarum, publicou Laborem Exercens sobre o trabalho humano; em 1991 para o centenário da Encíclica do Papa Leão XIII publicou Centesimus annus. O contexto era o fim do comunismo e a realidade do capitalismo de mercado. Nela, João Paulo II reforça que o trabalho não é mercadoria, que o bem-estar social é um direito e um dever, e que a propriedade privada é um direito fundamental que contém uma hipoteca social, ou seja, serve ao bem comum.  

Por que temas sociais?

Podemos nos perguntar isso sempre, porque às vezes achamos que a fé não tem ligação com a sociedade. E por que repetir uma encíclica de um outro contexto social? O Papa Paulo VI respondeu seus contemporâneos e pode nos responder hoje: “A Igreja e o próprio Papa já haviam denunciado outras vezes os erros sociais, especialmente de ideias, que vinham gerando graves inconvenientes nos novos tempos, precisamente os do trabalho industrial; mas, daquela vez, a palavra foi mais forte, mais clara, mais direta; hoje, podemos dizer que foi libertadora e profética" 

O Papa Bento XVI também tratou das questões sociais na Encíclica Caritas in Veritatem na qual acrescenta os desafios humanos de construir uma vida coerente em meio aos desafios do mundo do trabalho. 

O Papa Francisco tratou da questão da dignidade do trabalho em Fratelli Tutti e acrescentou o contexto da pandemia em que tantas certezas foram desfeitas.  

Cabe ao novo Papa e aos fiéis reler, compreender e dar sua contribuição para nosso tempo sobre a ação dos católicos na sociedade, sobretudo no contexto digital. Entre os riscos associados às novas tecnologias, e em particular à inteligência artificial, estão os de novas formas de escravidão e exploração. Além das sombras, também há muitas luzes relacionadas às oportunidades que esta era digital pode oferecer a toda a família humana e, em particular, às novas gerações. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/09/19/leao-xiii-e-leao-xiv-semelhancas-e-diferencas/

Papa: a riqueza escraviza; não sejamos indiferentes à violência que extermina os povos

Sabta Missa presidida pelo Papa Leão XIX (Vatican News)

Para o Pontífice, o Evangelho deste domingo nos desafia a examinar atentamente a nossa relação com o Senhor e, portanto, entre nós. Ao dizer que não podemos servir a Deus e ao dinheiro, Jesus pede a nós para assumir uma posição clara e coerente. É preciso decidir por um verdadeiro estilo de vida.

https://youtu.be/oLfsG2HcHyI

Vatican News

O Papa Leão presidiu à missa na paróquia de Santa Ana, considerada uma paróquia “de fronteira” por se encontrar exatamente no ponto em que o território italiano dá lugar ao território pontifício, em um dos acessos ao Vaticano, ao lado da Praça São Pedro. Instituída em 1929, foi confiada à Ordem Agostiniana, a mesma de Leão XIV.

O Papa, portanto, se sentiu em casa e saudou especialmente o pároco, Pe. Mario Millardi, bem como o novo Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho, Padre Joseph Farrell. Pe. Robert Francis Prevost era o Prior quando o Papa Francisco celebrou nesta paróquia poucos dias depois de eleito, em 17 de março de 2013. Entre os concelebrantes, havia também o padre Gioele Schiavella, a quem o Santo Padre saudou com afeto pelos seus 103 anos há pouco completados.

A saudação ao padre Gioele   (@Vatican Media)

Servir a Deus ou ao dinheiro é decidir por um estilo de vida

Em sua homilia, o Pontífice comentou o Evangelho do dia, em que Jesus afirma que “nenhum servo pode servir a dois senhores”, portanto, “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (cf. Lc 16,13). Este trecho nos desafia a examinar atentamente a nossa relação com o Senhor e, portanto, entre nós, disse o Papa. Jesus coloca uma alternativa muito clara entre Deus e a riqueza, pedindo a nós para assumir uma posição clara e coerente. Não se trata de uma escolha contingente nem de uma opção que pode ser revista no decorrer do tempo. É preciso decidir por um verdadeiro estilo de vida. 

A sede de riqueza leva ao risco de substituir Deus quando consideramos que é ela a salvar a nossa vida. A tentação, advertiu, é pensar que sem Deus podemos viver bem, enquanto sem riquezas estaríamos tristes e aflitos. Esses pensamentos transformam o próximo em um concorrente. Mas a palavra do Senhor, explicou Leão, não contrapõe os homens em classes rivais, mas impele todos a uma revolução interior, a uma conversão. Nossas mentes foram feitas para planejar uma sociedade melhor, não para buscar negócios ao melhor preço.

“Hoje, em particular, a Igreja reza para que os governantes das nações sejam libertados da tentação de usar a riqueza contra o homem, transformando-a em armas que destroem os povos e em monopólios que humilham os trabalhadores. Quem serve a Deus liberta-se da riqueza, mas quem serve a riqueza permanece escravo dela! Quem busca a justiça transforma a riqueza em bem comum; quem busca o domínio transforma o bem comum em presa da própria ganância.”

A saudação aos fiéis fora da paróquia   (@Vatican Media)

O anúncio da Boa Nova diante da "despudorada indiferença"

O Pontífice encorajou os paroquianos a perseverarem com esperança num tempo seriamente ameaçado pela guerra. "Povos inteiros são hoje esmagados pela violência e, mais ainda, por uma despudorada indiferença, que os abandona a um destino de miséria. Diante desses dramas, não queremos ser submissos, mas proclamar com a palavra e com as obras que Jesus é o Salvador do mundo".

"Que o seu Espírito converta nossos corações para que, nutridos pela Eucaristia, tesouro supremo da Igreja, possamos nos tornar testemunhas da caridade e da paz", foram os votos finais do Papa Leão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

SACERDÓCIO: As poucas coisas simples na vida de um padre (Parte 2/2)

O átrio da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, na década de 1950 | 30Giorni.

Arquivo 30Dias 12 - 2003

As poucas coisas simples na vida de um padre

O Bispo de Civitavecchia-Tarquinia relembra seus cinquenta anos de sacerdócio. Os encontros que moldaram sua vida cristã, a importância da oração, dos sacramentos e da obediência.

por Girolamo Grillo

Meus Anos no Seminário:

Não tive dificuldade com o primeiro chamado do Senhor; depois, já adolescente, tive que enfrentar todos os problemas que vêm com a idade. Felizmente, tive alguns diretores espirituais muito bons. Um diretor espiritual desempenha um papel fundamental na vida de cada um de nós. Eu tinha acabado de sair do ensino médio, e ele queria testar minha vocação desta forma: um dia, enquanto conversava com ele, ele me disse: "Escute, você tem que deixar tudo para trás; o Senhor quer um teste de você." "Que teste?", perguntei. "Você tem uma bela coleção de selos; você tem sete mil selos; enviaremos o dinheiro da venda desta coleção para as missões." Comecei a chorar no início, porque gostava muito da minha coleção, mas quase imediatamente disse: "Tudo bem, Padre!" E ele respondeu: "Este é o teste da sua vocação; você se desligou da coisa mais linda que você tem."

Mesmo durante meus anos em Roma, tive dois grandes diretores espirituais. Todos conhecem um deles: Padre Felice Cappello. Tive a sorte, porque frequentei a Gregoriana naqueles anos, de ter contato direto com ele. Ele foi meu confessor e meu conselheiro espiritual. O Padre Cappello permaneceu verdadeiramente em meu coração. Ele é verdadeiramente um santo.

Mais tarde, após a morte do Padre Cappello, tive como diretor espiritual o padre jesuíta Boyer, um francês, e ocasionalmente o padre Dezza, que mais tarde também conheci na Secretaria de Estado. Assim, tive grandes homens ao meu lado, pelos quais não rezei como deveria naqueles anos.

Tendo também experiência na área jurídica, em Roma trabalhei tanto no Vicariato quanto na Congregação para os Sacramentos, lidando especialmente com casos de "ratio, mas não consumação". No Vicariato, também fui juiz por muito tempo. Do que me lembro? Adquiri uma experiência incrível na área do matrimônio porque, mesmo não sendo juiz de instrução, tinha que preparar as sentenças. Então, tive que estudar tudo, para a sentença e para o meu voto. É por isso que tenho alguma experiência nesta área; adquiri-a através da experiência direta ao longo de pelo menos uma década no Tribunal Eclesiástico de Roma. 

A devoção a Nossa Senhora

Maria, como Mãe de Deus, faz parte da minha vida desde a minha infância. Provavelmente eram as canções de ninar marianas com que a minha mãe me embalava para dormir, abraçando-me ao peito. Eu também, durante os meus anos de seminário, como padre e como bispo, sempre tive uma forte marca cristocêntrica, mas nunca esqueci o recurso Àquela que, aos pés da cruz, também me confiou.

Desde menino, sempre a invoquei nos momentos de alegria e tristeza, sob o título de Nossa Senhora de Portosalvo (a protetora da minha cidade: Parghelia, na província de Vibo Valentia). Mais tarde, eu a gravaria para sempre em minha alma como Nossa Senhora da Romênia, a cujos pés recebi o crisma sacerdotal na catedral normanda de Tropea, das mãos de Sua Excelência Monsenhor Enrico Nicodemo.

Sempre fui fascinado pela discrição e pelo silêncio de Maria, com os quais ela escolheu eclipsar-se diante de seu Filho, como a lua diante do sol divino.
No entanto, tenho sido mais do que relutante em enfrentar as posições quase racionalistas de alguns teólogos e clérigos, bem como dos chamados professores que, com sua atitude altiva e às vezes arrogante, acabaram congelando qualquer sentimento mariano autêntico em muitos fiéis.

Sentimento não é, de fato, sentimentalismo, mas o enquadramento perfeito da Virgem Mãe, como um instrumento maravilhoso que nos introduz a Cristo Senhor.

Sem Maria, minha fé certamente teria permanecido árida e intelectual, nem eu teria tido forças para reviver pessoalmente aquelas palavras de Jesus, que não teve medo de afirmar: "Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi da tua vontade" ( Lc 10,21).

Por isso, sempre evitei ser simplista e crédulo diante de acontecimentos sensacionais, exercendo cautela e sabedoria com todas as minhas energias até ter provas pessoais deles, sem me entregar a avaliações precipitadas.

Com Maria, porém, descobri a linguagem do coração, o que não é pouca coisa. Por fim, não nego que, às vezes, ao recitar o terço, que nunca omiti, acabo adormecendo, como muitas vezes me acontecia nos braços de minha mãe, quando ela me cantava a Ave-Maria e a Virgem dos Anjos , enquanto me sentia envolvido naquele mistério reconfortante causado pelo balanço da minha alma nas ondas da oração.

Os anos como bispo

Nunca pensei que me tornaria bispo. Claro, eu tinha meus próprios planos, como todo mundo, mas eles estavam ligados à minha Calábria, da qual sempre sinto falta. Encontrei muitas dificuldades e mal-entendidos naquela época, e foi por isso que quase fui forçado a deixar a Calábria. Eu nunca teria saído. Eu havia frequentado universidades romanas justamente para isso: para poder trabalhar melhor na minha terra natal. Mas tudo isso foi por água abaixo, certamente não por minha culpa. Não posso dizer muito mais do que isso. Até me ofereceram a chance de me tornar professor universitário. Mas essa ideia também fracassou devido a vários obstáculos. Em cinquenta anos de sacerdócio, há espaço para muitas coisas, incluindo muitas decepções, fracassos e planos frustrados. Mas também, e acima de tudo, para as muitas graças que choveram sobre mim do alto, e não estou falando apenas do evento real que aconteceu em minhas mãos: as lágrimas da Madona de Civitavecchia. De fato, sobre as lágrimas de Nossa Senhora, como não sou o protagonista desta história, prefiro sempre não falar. Um dia, meus diários, onde registrei tudo, contarão a história. Aquele acontecimento foi um grande trauma, um choque para mim, especialmente porque, no ano anterior (1994), eu havia pedido expressamente para deixar Civitavecchia, após mais de dez anos de serviço pastoral. De fato, me ofereceram outra Igreja particular. Eu já havia aceitado, mas tudo isso também se desfez em fumaça.

A ordenação sacerdotal de Girolamo Grillo em 25 de abril de 1953 | 30Giorni.

Oração

Não sei se é um fato psicológico que cada um de nós vivencia, que não importa o quanto se reze, nunca se reza tanto quanto, por exemplo, meus diretores espirituais e tantas outras almas que conheço rezaram.

Há, porém, outro fato: tendo sido membro do "plenário" das Causas dos Santos por vinte anos, conheço bastante sobre a vida de muitos homens de Deus e de tantas mulheres maravilhosas. Isso é chocante. Fico impressionado, por exemplo, com a forma como eles foram capazes de aceitar calúnias, como foram capazes de suportar perseguições, até mesmo da Igreja, como foram capazes de aceitar tantas dificuldades; como foram capazes de sofrer. É natural, portanto, que sempre me venha à mente uma pergunta: o que sou eu comparado a eles? 

Confissão

Minha experiência no confessionário tem sido maravilhosa. Durante meus anos em Roma (morei em Roma por vinte e cinco anos), comecei primeiro com crianças (porque essa era a prática na época), depois com homens, depois com "extramoenia" (que significa "fora dos muros" da cidade, portanto, nos arredores) e, finalmente, na própria cidade de Roma. No confessionário, pude conhecer muitas almas bonitas, que certamente estão no Céu. Passei horas e horas no confessionário; adorava ouvir e sofrer com pessoas que acreditam no perdão de Deus. Meu diretor espiritual calabrês, Dom Mottola, havia me recomendado: "Se você quer ser salvo em Roma, ame o confessionário, onde poderá encontrar muitas almas que sofrem mais do que você; pelas quais você será forçado a rezar e chorar." É verdade! A década de 1960, especialmente, foi a mais turbulenta. Tive milhares de filhos; hoje eles são mães e pais, mas ainda me ligam para falar sobre os problemas dos filhos. Viver em Roma durante 1968, como eu vivi, não foi fácil. Ainda choro quando penso que algumas daquelas crianças acabaram nas Brigadas Vermelhas.

Choro! Porque foi uma experiência dramática. Depois, vieram os anos 1970, quando Aldo Moro foi assassinado; eu estava lá. Essa experiência também foi amarga para mim. Saí de Roma em 1979, quando fui consagrado bispo por este Papa, que veio pessoalmente ao meu quarto para me dizer: "Basta! Você trabalhou durante todo o pontificado de Paulo VI e desempenhou um papel muito importante na Secretaria de Estado. Então, aceite ser pastor."

Então, não tive escolha a não ser obedecer, mesmo sendo tão difícil. Gostaria de encerrar, então, lembrando-me de uma pequena grande santa que sempre esteve no meu coração: Teresa do Menino Jesus. Apaixonei-me por ela aos quatro anos de idade, porque ela também, naquela idade, sentiu o fascínio da consagração ao Senhor, e também porque ela, como eu, sentiu a dor de perder quatro irmãozinhos durante a infância. A figura de Teresa me seguiu e ainda me segue... a pequena grande Teresa de Lisieux.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Angelus: justiça e responsabilidade na gestão dos bens para não espalhar o "veneno" dos conflitos

Angelus, 21/09/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Após celebrar a missa na paróquia de Santa Ana, na "fronteira" entre Vaticano e Itália, o Papa assomou à janela de seu escritório para o tradicional Angelus dominical.

Vatican News

Leão XIV rezou a oração do Angelus com os milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro. Em sua alocução, comentou a parábola contida no Evangelho (Lc 16, 1-13) deste domingo, que propõe uma reflexão sobre o uso dos bens materiais e, de um modo geral, sobre como temos administrado o bem mais precioso de todos, que é a nossa própria vida.

Na narração, um administrador é chamado pelo seu senhor a "prestar contas". O mesmo acontecerá a nós, recordou o Papa, que um dia seremos chamados a prestar contas do modo como administramos a nossa vida, os nossos bens e os recursos da terra, tanto perante Deus como perante os seres humanos, a sociedade e, sobretudo, aqueles que virão depois de nós.

A parábola prossegue com o administrador que, mesmo na gestão da riqueza desonesta deste mundo, consegue encontrar uma maneira de fazer amigos, saindo da solidão do seu egoísmo. Mas nós, adverte o Pontífice, que somos discípulos e vivemos à luz do Evangelho, devemos usar os bens do mundo e a nossa própria vida pensando na verdadeira riqueza, que é a amizade com o Senhor e com os irmãos.

Para o Papa, a parábola é um convite a nos questionar como estamos administrando os bens materiais, os recursos da terra e a vida que Deus nos confiou.

“Podemos seguir o critério do egoísmo, colocando a riqueza em primeiro lugar e pensando apenas em nós mesmos; mas isto isola-nos dos outros e espalha o veneno de uma competição que muitas vezes gera conflitos. Ou podemos reconhecer tudo o que temos como um dom de Deus a ser administrado, e usá-lo como instrumento de partilha para criar redes de amizade e solidariedade, para edificar o bem, para construir um mundo mais justo, equitativo e fraterno.”

"Rezemos à Santíssima Virgem, para que interceda por nós e nos ajude a administrar bem o que o Senhor nos confia, com justiça e responsabilidade", concluiu o Pontífice.

O Angelus com o Papa Leão:

https://youtu.be/p0dus8mYGlQ

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

15 curiosidades sobre o Calendário Gregoriano: uma mudança que, literalmente, marcou época

Cirilo I, patriarca ortodoxo russo|
Nikolay Androsov | Shutterstock

Aleteia Brasil - publicado em 22/02/15 - atualizado em 19/09/25

Em 1582, o papa Gregório XIII implantou o calendário do jeito que o conhecemos hoje.

O calendário que usamos atualmente foi implantado por um papa há quase 450 anos. Confira 15 curiosidades sobre o calendário gregoriano:

O CALENDÁRIO GREGORIANO

1 - Até o ano 46 antes de Cristo, vigorava em Roma um calendário dividido em 355 dias, distribuídos em 12 meses. Essa estrutura do ano civil sofria um sério desajuste ao longo do tempo: as estações do ano passavam a ocorrer em datas diferentes, porque o calendário não correspondia ao ano solar.

2 - Em 46 a.C., Júlio César, o ditador da República Romana, decidiu reformar o calendário para readequá-lo ao tempo natural. A reforma juliana teve duas etapas: na primeira, estabeleceu-se que o ano de 46 a.C. teria 15 meses e um total de 455 dias para compensar a defasagem (aquele ficou conhecido pelos romanos, e com toda a razão, como o "ano da confusão"). A segunda etapa da reforma consistiu em adotar, a partir de 45 a.C., um ano composto por 365 dias e 6 horas, divididos em 12 meses. Para compensar as 6 horas excedentes de cada ano, seria incluído um dia a mais em fevereiro a cada 4 anos.

3 - A reforma juliana melhorou a situação, mas a defasagem entre o ano do calendário e o ano natural permanecia, em consequência do movimento de elipse que a Terra faz ao redor do Sol. No século XV, por exemplo, o calendário juliano já estava atrasado cerca de uma semana em relação ao Sol. O equinócio da primavera no Hemisfério Norte caía por volta de 12 de março, em vez do dia 21.

4 - Em 1545, o Concílio de Trento determinou a realização de alterações no calendário da Igreja. Após décadas de estudos e cálculos astronômicos, o papa Gregório XIII instituiria o novo calendário em 1582, mediante a bula "Inter gravíssimas", a fim de adequar a data da Páscoa ao equinócio da primavera no Hemisfério Norte. É em homenagem ao papa Gregório XIII que o novo calendário foi chamado de gregoriano.

5 - Este ajuste implicou a supressão de 10 dias do mês de outubro daquele ano: do dia 4 de outubro de 1582, saltou-se para o dia 15 de outubro.

6 - Além disso, os dias bissextos que caíssem nos anos centenários (aqueles terminados em 00, como 1700, por exemplo) passariam a ser ignorados, a menos que fossem divisíveis de modo exato por 400 (como 1600 e 2000). Essa regra suprimia três anos bissextos a cada quatro séculos, deixando o calendário gregoriano suficientemente preciso e eliminando o atraso de três dias a cada 400 anos, que ocorria no calendário juliano.

7 - Apesar do ajuste nos anos bissextos, o ano do calendário gregoriano ainda tem cerca de 26 segundos a mais que o período orbital da Terra. Esta falha, no entanto, só acumula um dia a mais a cada 3.323 anos.

8 - Países católicos como a Itália, a Espanha, Portugal e a Polônia adotaram a mudança imediatamente, assim como a porção católica dos Países Baixos. Na França, Henrique III decretou o ajuste no mesmo ano, mas em dezembro.

9 - Os países de maioria protestante, porém, rejeitaram a alteração. As partes protestantes da Alemanha e dos Países Baixos só adotaram o novo calendário em 1700. A Grã-Bretanha demorou mais ainda: até 1752. O astrônomo Johannes Kepler chegou a observar que esses países preferiram "ficar em desacordo com o Sol a ficar de acordo com o papa".

10 - Os países ortodoxos adotaram o calendário gregoriano somente no início do século XX. Na Rússia, por exemplo, a recém-criada União Soviética implantou o novo calendário em 1918. É por isso que a chamada "Revolução de Outubro", de 1917, na verdade aconteceu em novembro, segundo o calendário gregoriano.

11 - Na Europa, os últimos países que adotaram o calendário gregoriano foram a Grécia, em 1923, e a Turquia, em 1926. Antes, como parte do Império Otomano, seguia-se nessas regiões o calendário muçulmano, que tem base lunar.

12 - A adoção progressiva do calendário gregoriano pelos diversos países, mesmo dentro do mundo cristão, provoca certa confusão na datação dos eventos históricos ocorridos entre os séculos XVI e XX.

13 - Por praticidade, o calendário gregoriano é hoje adotado como convenção para demarcar o ano civil em praticamente todo o planeta. Essa unificação, que facilita o relacionamento entre os países, se deve em grande parte à exportação histórica dos padrões europeus para o resto do mundo.

14 - Alguns povos, no entanto, conservam em paralelo outros calendários para usos religiosos ou por questões de tradição. O ano de 2015 no calendário gregoriano corresponde, por exemplo, ao ano de 2559 no calendário budista; a 5775–5776 no calendário hebraico; a 2071–2072 no calendário hindu Vikram Samvat; a 1937–1938 no calendário hindu Shaka Samvat; a 5116–5117 no calendário hindu Kali Yuga; a 1393–1394 no calendário iraniano e a 1436–1437 no calendário islâmico.

15 - Até hoje, as Igrejas ortodoxas do Oriente utilizam o calendário juliano para determinar a data da Páscoa, que, por essa razão, quase nunca corresponde à data da Páscoa católica.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2015/02/22/15-curiosidades-sobre-o-calendario-gregoriano-uma-mudanca-que-literalmente-marcou-epoca/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF